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limite para o prazo previsto no art . 146 do 10.

Data da Sessão: 14/08/1996 - Ordiná-


Regimento Interno e o dia 3 \.07.96 para tér- ria.
mino do prazo previsto no arl. 147 do mesmo li. Especificação do quorum:
regimento; 11.1. Ministros presentes: Marcos Vinicios
8.2 - alertar ao Ministério do Exército para Rodrigues Vilaça (Presidente), Adhemar Pa-
a obrigatoriedade de cumprimento dos prazos ladini Ghisi, Carlos Átila Álvares da Silva,
estabelecidos no Regimento Interno do TCU, Homero dos Santos, Paulo Affonso Martins
tendo em vista a inexistência de disposições de Oliveira (Relator), Humberto Guimarães
desta Corte que acolham o entendimento fir- Souto, Bento José Bugarin e os Ministros-
mado pela Advocacia-Geral da União em seu Substitutos José Antônio Barreto de Macedo
parecer n2 GO - 20, de 22.06.94; e Lincoln Magalhães da Rocha.
8.3 - arquivar o presente processo. MARCOS VINICIOS VILAÇA, Presidente
9. Ata n2 32196 - Plenário PAULO AFFONSO MARTINS DE OLI-
VEIRA, Ministro-Relator

TRIBUNAL DE CONTAS - FISCALIZAÇÃO - SIGILO FISCAL

- O sigilo bancário, de que trata o art. 38 da Lei n. 4.595/64 não se


aplica às ações de fiscalização do Tribunal de Contas da União.

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO


Proc. TC 3315/96

realizadas por esta Corte de Contas, emface


GRUPO I - CLASSE vrr - PLENÁRIO das normas constitucionais e legais em vigor
TC-003.315/96-7 (art. 70, caput e 71, incisos e parágrafos da
Natureza: Representação Constituição Federal, art. 42 da Lei nl!.
Interessada: 511 SECEX 8.443/92 e art. 54 da Lei nl!. 3.470/58), sob
Órgão: Secretaria da Receita Federal pena das sanções previstas em Lei (§§ lI!. e
Ementa: Representação da 511 SECEX tra- 21!., do art. 42, c/c art. 58, incisos IV e Ve art.
tando do Pedido de Reexame da Decisão n2 44 da Lei nI!.8.443/92);"
222196 - TCU - Plenário, formulada pelo constituiu equipe destinada a dar prossegui-
Titular da Secretaria da Receita Federal mento ao Levantamento de Auditoria" obje-
O Secretário da 511 SECEX em respeito à tivando conhecer o processo administrativo
Decisão n2 670/95, proposta pelo eminente de determinação e exigência dos créditos tri-
Ministro Adhemar Paladini Ghisi, que firma: butários da União, seus procedimentos de co-
"entendimento de que o sigilo fiscal de que brança e parcelamento, bem como a estrutura
trata o art. 198 da Lei nl!. 5.172/66 (Código funcional-administrativa vinculada, e o nível
Tributário Nacional) não se aplica às ações de informatização e dados estatísticos ineren-
de fiscalização do Tribunal de Contas da tes ao processo" .
União, sendo, portanto, inadmissível a sone- 2. Em razão do não cumprimento dessa de-
gação de quaisquer processos, documentos terminação o E. Tribunal, mediante a Decisão
ou informações solicitados no exercício das n2 222196-Plenário, fixou prazo de quinze
diversas espécies de inspeções ou auditorias dias para que o ilustre Secretário da Receita

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Federal cumprisse o decidido. sob pena de anexar a este Relatório o citado parecer. em
aplicação das sanções previstas nos arts. 44 e razão de seus lúcidos argumentos.
58, inciso VI, da Lei n!.! 8.443/92, c/c o inciso É o Relatório.
VI do art. 220 do seu Regimento Interno.
3. Não conformado com aquela Decisão, o
Sr. Secretário da Receita Federal formulou VOTO
pedido de reexame. com fundamento no ar!.
233, combinado com o art. 230 da Lei Interna 7. A matéria objeto do presente processo
desta Corte. Juntou, em favor da tese que tem sido reiteradamente apreciada pelo ple-
defende, pareceres da Procuradoria-Geral da nário do Tribunal em diversas ocasiões, tendo
Fazenda Nacional, subscrito pelo Dr. Luiz este Relator sempre se manifestado pela com-
Carlos Sturzenegger e dos eminentes juristas petência da Corte no exame de tais assuntos.
Drs. Saulo Ramos e Ives Gandra da Silva Transcrevo do Voto que proferi:
Martins. A tese, exposta pela Procuradoria- "14. Seria um contra-senso a Constituição
Geral da Fazenda Nacional, e adotada pelo Federal dotar, expressamente, o TCU da
Sr. Secretário da Receita Federal, assim se competência para 'realizar por iniciativa
apresenta: própria, da Câmara dos Deputados, do Se-
" ... em que pese a decisão do Tribunal de nado Federal (... ), inspeções e auditorias de
Contas da União, o Sr. Secretário da Receita natureza contábil, financeira, orçamentária,
Federal não lhe pode fornecer informações operacional e patrimonial, nas unidades ad-
resguardadas pelo sigilo fiscal nem permitir ministrativas dos Poderes Legislativo, Execu-
acesso a elas servidores do Tribunal, sob tivo e Judiciário e demais entidades referidas
pena de infringência, além da legislação cri- na inciso 11' (art. 7/, inciso IV), impondo-lhe
minal, ao art. /98 do Código Tributário Na- restrições intransponíveis ao exercício pleno
cional, sujeitando-se autoridade fazendária, dessa competência." (Decisão n2 224/94-
em caso de atendimento à Corte de Contas, TCU-Plenário - Ata n2 12, de 13.04.1994,
a sanções administrativas, civis e penais . .. Anexo I1I).
4. Ambos os pareceres sustentam que dispo- Ainda daquela Decisão:
sitivos da Lei n2 8.443, de 16 dejulho de 1992 "8.5 - comunicar ao Banco Central do
(Lei Orgânica do Tribunal), contrariam nor- Brasil que o entendimento firmado por este
mas do Código Tributário Nacional que, re- tribunal, com relação ao TC-00/.202/93-6, é
cepcionado pela atual Constituição (art. 145, que o sigilo bancário do que trata o art. 38,
§ 12) com status da Lei Complementar, não da Lei nl!. 4.595/64, não se aplica às ações de
admite interpretação diversa, pois lei ordinária fiscalização do Tribunal de Contas da União,
não pode se sobrepor à lei complementar. Em sendo, portanto inadmissível a sonegação de
razão disso, argumentam que o sigilo fiscal quaisquer processos documentos ou informa-
tem a garantia do art. 52, incisos X e XII e art. ções solicitados no exercício das diversas es-
145, § 12 da Carta Magna, trazendo citações pécies de inspeções ou auditorias realizadas
do eminente Ministro Marco Aurélio, do STF, pelo TCU, em face das normas constitucio-
no Mandado de Segurança 21.729-4/DF. nais e legais em vigor (art. 70 caput e 7/,
5. A 51 SECEX, manifestando-se sobre o incisos e parágrafos da Constituição Federal
pedido de reexame, ratifica os argumentos e art. 42 da Lei nl!. 8.443/92) sob pena das
apresentados anteriormente, inclusive ressal- sanções previstas em lei (§§ /I!. e 21!. do art
tando a jurisprudência desta Corte a respeito. 42 da Leí nl!. 8.443/92 c/c o art. 58, inciso /V
6. Solicitei a audiência do Ministério Públi- da mesma lei), mantendo-se o referido sigi-
co junto ao TCU, dada a relevância da maté- lo; ..
ria. Aquele órgão, em parecer bem fundamen- 8. Em verdade, a matéria sobre sigilo ban-
tado, sustenta a competência da Corte em pro- cário e fiscal, tem sido objeto de amplo debate
ceder exames de papéis na administração pú- entre os Juristas, inclusive decisões dos Tri-
blica, ainda que considerados sigilosos. Faço bunais Superiores. As chamadas garantias in-

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dividuais representam garantia a pessoa física 13. O Egrégio Supremo Tribunal Federal
ou jurídica. mas não se estendem a órgãos tem-se pronunciado reiteradamente sobre este
públicos integrantes do Estado. Estes têm de- assunto. Na sua decisão de 05.10.95 relativa
veres com a sociedade e devem proceder de ao Mandato de Segurança nl! 21. 729-4-DF
maneira clara e ostensiva. O sigilo, quer ban- (citada pelo eminente jurista Saulo Ramos em
cário, quer fiscal, visa proteger cidadãos ou resposta à Consulta formulada pelo Sr. Secre-
pessoas jurídicas que agem corretamente, nos tário da Receita Federal, quando reproduz
termos da Lei e da ética. Ao contrário não se voto vencido), o eminente Ministro Francisco
destina a proteger aqueles que violam leis ou Rezek, Relator do acórdão vencedor, ratificou
causam dano à sociedade e ao Estado. em sua manifestação a jurisprudência desta
9. O Conselheiro João Feder exprime bem Egrégia Corte:
essa situação: " ... a questão trazida à Corte neste Man-
"A ser imposto como parece ser o desejo dado de Segurança não tem estatura consti-
da tecnocracia, o sigilo bancário acabaria tucional. Tudo quanto se estampa na própria
por fazer surgir um novo direito fundamental Carta de 1988 são normas que abrem espaço
indevido, anti-social e, além disso, sobrepon- ao tratamento de determinados temas pela
do-se a direitos incontestáveis ". (in" O Esta- legislação complementar. É neste terreno,
do e a Sobrevida da Corrupção", Tribunal de pois, e não naquele da Constituição da Re-
Contas do Estado do Paraná, Curitiba, 1994, pública, que se consagra o instituto do sigilo
p.87). bancário - do qual já se repetiu ad nauseum,
10. Se aceita a interpretação que alguns ad- neste país e noutros, que não tem caráter ab-
ministradores públicos querem imprimir aos soluto."
E mais:
arts. 511, incisos X e XII, e 145, § 111, da Cons-
..... lei de 31 de dezembro de 1964, sede
tituição Federal: art. 38 da Lei nll 4.575, de
explícita do sigilo bancário, disciplina no seu
31.12.1964; arts. 197 e 198 da Lei nll 5.172,
artigo 38 exceções, no interesse não só da
de 25.10.1966 (Código Tributário Nacional),
justiça, mas também no do parlamento e mes-
nada mais seria apurado neste país em relação
mo no de repartições do próprio governo. "
àqueles que praticam atos ilegais e, por vezes, Ainda:
até criminosos, pois estariam protegidos pelo "A troca de informações (comunicação)
manto de uma verdadeira impunidade, o sigilo privativa é que não pode ser violada por su-
bancário e fiscal. jeito estranho à comunicação. Doutro modo,
11. Ademais, tais interpretações inviabili- se alguém, não por razões profissionais, fi-
zariam a execução de leis, como as que defi- casse sabendo legitimamente de dados incri-
nem crime de sonegação fiscal (Lei nIl 4.729, minadores relativos a uma pessoa, ficaria im-
de 14.07.65); crime contra o sistema financei- pedido de cumprir o seu dever de denunciá-
ro nacional (Lei nll 7.492, de 16.06.1986); los" .
crime contra a ordem tributária, econômica e 14. Este tem sido o entendimento do Supre-
contra as relações de consumo (Lei nIl 8.137, mo Tribunal Federal em decisões reiteradas.
de 27.12.90); e outras. Basta ler o voto do eminente Ministro Carlos
12. O jornal "Folha de São Paulo" publi- Venoso na Petição nll 577 - (Questão de
cou, em 29.06.96, matéria segunda a qual o Ordem) - DF (Tribunal Pleno), em 25 de
Governo Federal pretende encaminhar ao março de 1992:
Congresso Nacional projeto de Código do "Não é ele ... sigilo bancário... um direito
Processo Administrativo Tributário, com vis- absoluto, devendo ceder, é certo, diante do
tas a unificar a legislação sobre crimes fiscais, interesse público, do interesse da justiça, do
e afirmo que tal proposta não atingirá o seu interesse social, conforme, aliás, tem decidi-
objetivo se a própria administração se encas- do esta Corte ".
telar na interpretação genérica e ampla do
sigilo bancário e fiscal.

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"Esse caráTer não absolllTO do segredo PARECER
bancário. qlle consTirui regra em direito com-
parado. no sentido de que ele deve cederdian-
Te do interesse público. é reconhecido pela
maioria dos doutrinadores ". Em atenção à audiência regimental que nos
15. A Lei nl! 8.443, de 16 de junho de 1992, propicia o eminente Ministro-Relator PAU-
que dispõe sobre o Tribunal de Contas da LO AFFONSO M. DE OLIVEIRA, o Minis-
União e dá outras providências, estabelece no tério Público manifesta-se como se segue.
seu ar!. 42: 2. Cuidam estes autos de Representação
"Nenhum processo, documento ou informa- oriunda da Si SECEX relativa à Decisão nl!
ção poderá ser sonegado ao Tribunal em suas 670/95-TCU-Plenário.
inspeções ou auditorias, sob qualquer pretex- 3. Por meio da citada Decisão, este Tribunal
to... (o grifo não é do original). firmou entendimento de que o sigilo fiscal de
De outro lado esta Corte tem resguardado que trata o art. 198 da Lei nl! 5.172/66 (Código
Tributário Nacional) não se aplica às ações
o princípio do sigilo previsto no § Il! do art.
de fiscalização do Tribunal de Contas da
38 da Lei nl! 4.595 de 31/l2l64, pois o art. 86
União, sendo, portanto, inadmissível a sone-
da Lei Orgânica do Tribunal impõe obriga-
gação de quaisquer processos, documentos ou
ções ao servidor que exerce função de contro-
informações solicitados no exercício das di-
le externo. Diz o inciso IV daquela Lei:
versas espécies de inspeções ou auditorias
"IV - guardar sigilo sobre dados e infor- realizadas por esta Corte de Contas, em face
mações obtidos em decorrência do exercício das normas constitucionais e legais em vigor
de suasfonções e pertinentes aos assuntos sob (art. 70, caput, e 71, incisos e parágrafos da
sua fiscalização, utilizando-os, exclusivamen- Constituição Federal, art. 42 da Lei nl!
te, para a elaboração de pareceres destinados 8.443/92 e art. 54 da Lei nl! 3.470/58), sob
a chefia imediata." pena das sanções previstas em lei (§§ 1l! e 2l!
16. A considerar a interpretação que o Sr. do art. 42 c/c art. 58, incisos IV e V e art. 44
Secretário da Receita Federal empresta aos da Lei nl! 8.443/92).
diversos dispositivos citados, ficaria o Tribu- 4. Na mesma assentada, foi autorizado à 5i
nal de Contas da União impossibilitado de Secretaria de Controle Externo dar continui-
atender às solicitações do Congresso Nacio- dade aos trabalhos de auditoria, interrompi-
nal, o qual é órgão máximo da função cons- dos em 12.6.95, no âmbito da Secretaria da
titucional de controle externo (Constituição Receita Federal.
Federal, arts. 70 e 71, incisos IV a Vil). 5. Retomados os trabalhos, novamente a
17. Por todas as razões expostas, e conside- equipe teve negado, por parte da Receita Fe-
rando que o Tribunal de Contas da União, pela deral, o atendimento à solicitação de entrega
sua competência constitucional e legal, exa- de documentos necessários à execução da au-
mina e fiscaliza assuntos de interessepúblico, ditoria em curso, sob a argumentação de que
portanto, da Nação e não do cidadão isolada- o acesso a tais documentos configuraria vio-
mente, os argumentos trazidos à colação não lação do instituto do sigilo fiscal, a despeito
me convenceram a mudar o entendimento que de o assunto já haver sido discutido à exaustão
expus na Sessão Plenária de 13.04.1994, no Relatório e Voto que fundamentaram a v.
quando da aprovação da Decisão nl! 224/94. Decisão nl! 670/95, ora em foco.
6. Em face da resistência dos dirigentes do
Nestes termos proponho que o Tribunal
Órgão auditado, em Sessão de 24/4/96, o Ple-
adote a Decisão que ora apresento.
nário deste Tribunal proferiu a Decisão nl!
Sala das Sessões, em II de setembro de 222/96, por meio da qual fixou o prazo im-
1996. prorrogável de 15 (quinze) dias para que o Sr.
PAULO AFFONSO MARTINS DE OLI- Secretário da Receita Federal, Dr. Everardo
VEIRA, Ministro-Relator Maciel apresentasse ou determinasse a apre-

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sentação dos documentos solicitados através 9. O titular da 5i! SECEX, analisando as
da Requisição n2 03/96, de procedência da peças em comento, tece judiciosas considera-
Equipe de Levantamento de Auditoria desig- ções e conclui por ser defeso à Secretaria da
nada pela Portaria n2 002/96-5 a SECEX, de Receita Federal invocou o art. 52 e incisos da
26. 1.96, sendo-lhe alertado de que o não cum- CF/88 para salvaguardar o sigilo fiscal de
primento da determinação poderia sujeitá-lo pessoas jurídicas de direito público interno e
às sanções do art. 44 e art. 58, inciso VI, todos de direito privado, e, alfim, destaca merecer
da Lei n2 8.443/92, c/c o inciso VI do art. 220 análise, do ponto de vista da legalidade e da
do Regimento Interno. economicidade, a forma pela qual o Sr. Se-
7. Irresignada, a autoridade - destinatária cretário da Receita Federal obteve os parece-
da determinação deste Tribunal, tempestiva- res que faz acompanhar seu pedido de reexa-
mente, apresentou Pedido de Reexame da De- me de Decisão, sugerindo, assim, após o "de-
cisão n2 222/96-TCU-Plenário, acostando aos sate da questão central sob apreciação", a
autos, em suporte Pareceres da Procuradoria realização de diligência junto à SRF com vis-
Geral da Fazenda Nacional (PGFN/N2 tas à obtenção de respostas para as questões
495/96) e dos juristas SAULO RAMOS e por ele postas.
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, por 10. O Sr. Ministro-Relator do Pedido, en-
meio dos quais procura demonstrar a impos- tendendo ser relevante a matéria, não só em
sibilidade legal de atendimento a pretensão razão da competência do Tribunal de Contas
desta Corte. da União (CF. art. 71), bem assim o art. 52 da
8. Quanto aos pareceres, cabe uma primeira Constituição Federal e a legislação ordinária,
observação no sentido de que o da Procura- submete estes autos à manifestação deste Mi-
doria Geral da Fazenda Nacional já fora ob- nistério Público (fi. 117).
jeto de apreciação por parte do Sr. Ministro-
Relator ADHEMAR PALADINI GHISI, em
seu Voto fundamentador da Decisão atacada, TI
oportunidade em que asseverou: "os argu-
mentos apresentados, de uma forma ou de 11. Quanto à admissibilidade do Pedido, em
outra, já foram analisados anteriormente à face do disposto no art. 233 do RITCU, por
prefalada Decisão. A tese de que o direito à ser tempestivo, merece acolhida.
intimidade das pessoas, previsto no art. 511. 12. No mérito, em princípio, as razões apre-
inciso X, da Constituição, seria ofendido, já sentadas no Parecer PGFNIN2 495/96, por já
que se constitui a base do sigilo fiscal também terem sido objeto de deliberação por este Tri-
não pode prosperar, pois como já foi anali- bunal, dado que foram abordadas no Voto do
sado, esse não é absoluto, devendo quedar-se Sr. Ministro-Relator quando da Decisão n2
frente ao interesse coletivo, em prol das exi- 222/96, e não atacada por Embargos de De-
gências impostas pela vida em sociedade claração (art. 235, caput e §§ do RITCU),
sempre em evolução, conforme se inclina, sa- carecem de justificativa para nova análise.
biamente, a interpretação dada pela doutrina 13. Já quanto ao Parecer do Jurista IVES
moderna acerca do citado direito. Ademais, GANDRA DA SILVA MARTINS, a que o
se o entendimento finnado por este Tribunal autor nomina de "opinião legal" , em essên-
é o de que não se aplica o preceito do sigilo cia, nenhum fato novo traz a lume, e mesmo
fiscal às suas ações de fiscalização, não há as questões de direito ali discutidas já foram
que se falar em violação ao referido disposi- objetadas no citado Parecer PGFNIN2 495/96.
tivo constitucional", e conclui: "Assim, não ou foram igualmente abordadas, com maior
vislumbro qualquer argumento, no citado Pa- amplitude na manifestação do jurista SAULO
recer, que já não tivesse sido examinado por RAMOS, que discutiremos em minudência.
esta Corte. Mantenho, desta forma, a posi- 14. Em referência as considerações do ju-
ção inicialmente adotada quanto à questão rista SAULO RAMOS, entendemos merece-
ora discutida nestes autos ". rem análise não apenas por emulação despi-

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cienda. mas pelo princípio maior da ampla As pertinentes objeções feitas pelo mestre
defesa. pois não se tratam de meras opiniões, da Universidade Federal de Pernambuco cada
mas de argumentos jurídicos tendentes a in- um dos argumentos supra são irretocáveis.
fluir no julgamento do pedido, motivo por Antes, porém, de examiná-Ias, cabe. para
que, alçadas à condição de razões de justifi- orientar o seguimento da análise, registrar o
cativas, serão tratadas no tópico seguinte. sentido exato do termo hierarquia.
A relação de hierarquia supõe que uma nor-
ma 'retira a sua validade da conformação com
III outra norma. Diz-se então que a primeira é
uma norma subordinada ou de grau inferior e
15. Em suas considerações preliminares, o a segunda, uma norma subordinante, ou de
jurista afirma não haver incompatibilidade, na grau superior' (cf. Fernando Fortes in Eficá-
questão particular do sigilo fiscal, entre a Lei cia da lei complementar no Sistema Consti-
nl! 8.443/92 e o Código Tributário Nacional. tucional, 1()iI ed., Malheiros, 1993, p. 140).
O que estaria ocorrendo seria uma inconstitu- Esta noção de hierarquia, proveniente da
cionalidade na interpretação dada a alguns de construção soberba de Hans Kelsen, implica
seus artigos e não no texto em si. Antes hou- que esta somente 'existe entre determinadas
vera concordado com a observação feita pela normas nas hipóteses em que for detectada a
PGFN, no sentido de que o Código Tributário relação de suprasubordinação" (cf. Fernando
Nacional foi recebido pela nova ordem cons- Fortes, op. cit., pág. 19).
titucional como lei complementar, e qualquer Superada essa preliminar, vejamos as con-
dispositivo da Lei Orgânica do Tribunal de siderações de Souto Borges.
Contas da União, lei ordinária, não poderá No pertinente ao primeiro argumento, pon-
prevalecer contra os comandos da norma hie- dera o autor que a da topografia dos disposi-
rarquicamente superior. tivos, no rol do então art. 46 da Carta Magna
16. Quanto à questão da inconstitucionali- de 1967 (atual art. 59 da Lei Maior 1988), não
dade na interpretação dos dispositivos da Lei se segue que a lei ordinária retira a sua vali-
citada, trata-se de avaliação subjetiva, e, ade- dade da conformação com a Lei Complemen-
mais, este não é o foro adequado para sua tar. Ademais, de direito, é sabido que a vali-
discussão. Entretanto, no que se refere à pre- dade da lei ordinária decorre de sua confor-
tensa hierarquia das leis, a posição externada midade com a Constituição.
malgrado a respeitabilidade dos conhecimen- Na mesma linha de pensamento, acrescenta
tos jurídicos do parecerista, é anacrônica, des- Celso Ribeiro Bastos (apud Fernando Fortes,
compassada da moderna tendência doutriná- op. cit., p. 21) que 'concluir pela supremacia
ria e jurisprudencial, conforme abordagem hierárquica da lei complementar, porque está
efetuada por este Ministério Público quando ela situada na enunciação das categorias le-
do exame do TC-O 12. 940/94-1, que culminou gislativas pelo art. 46 (atual artigo 59), logo
na Decisão nl! 046/95 - TCU - Plenário abaixo das emendas constitucionais, é tão
(Sessão 15/2195, Ata nl! 06/95): . descabido quanto sustentar que as leis dele-
"Até a publicação da valiosa obra de José gadas (item IV) ........ (omissis) ............ , por-
Souto Maior Borges (cf. Lei Complementar que situadas abaixo das leis ordinárias (item
Tributada, Ed. Revista dos Tribunais, bem III), estão hierarquicamente numa posição in-
como o trabalho doutrinário eficácia e Hierar- ferior a estas'.
quia da Lei Complementar, RDP nl! 25/93), Quanto ao segundo argumento, procede o
inclinava-se a abalizada doutrina brasileira entendimento de que a lei ordinária não pode
em reconhecer a superioridade hierárquica da revogar a lei complementar. Contudo, não se
lei complementar sobre a lei ordinária, com pode inferir dessa afirmação a superioridade
fulcro nos seguintes argumentos: hierárquica da lei complementar, visto que,
............................. omissis .............................. . como suscita Souto Borges (op. cit., p. 98),
"a recíproca é igualmente verdadeira: a lei

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complementar não pode revogar lei ordiná- 18. Assim, demonstrada a falácia da preten-
ria" . sa hierarquia entre a lei complementar e a lei
E não o pode porque os campos legislativos ordinária. resta examinar a harmonização
da lei complementar e da lei ordinária, em possível entre os dois comandos. Isso não é
princípio, não se interpenetram, numa decor- de difícil mister se não nos olvidarmos do §
rência da técnica constitucional de distribui- 22 , do art. 22 , do Decreto-lei no 4.657, de 4
ção ratione materiae de competências legis- de setembro de 1942, com as alterações in-
lativas. troduzidas pela Lei n2 3.238, de 12 de agosto
Complementando, discorre ainda Souto de 1957: "Alei nova, que estabeleça dispo-
Borges (cf. op. cit., p. 98), verbis: sições gerais ou especiais a par das já exis-
'Se não é constitucionalmente viável a in- tentes, não revoga nem modifica a lei ante-
terpenetração dos campos privativos de legis- rior".
lação, não é possível a legislação cumulativa, 19. As disposições do Código Tributário
assim entendido o concurso simultâneo de Nacional são gerais. As da Lei nl! 8.443/92
atos legislativos, emanados de fontes diversas são especiais, pois dizem respeito à estrutura
e disciplinando idênticas matérias no mesmo e ao funcionamento do Tribunal de Contas da
âmbito espacial de validez. Portanto, o prin- União. Assim, as disposições desta, embora
cípio da competência, nos termos em que está não revogando nem modificando as disposi-
constitucionalmente estruturado, implica a ções daquela, prevalecem, em razão da espe-
conclusão de que o problema da possibilidade cificidade, nas situações ali contempladas.
de ser a lei complementar revogada por lei 20. No segundo tópico do parecer ora dis-
ordinária - e vice-versa - não passa de um cutido, ao discorrer sobre a tutela constitucio-
falso problema. nal e garantia de inviolabilidade dos sigilos
Não se coloca o problema da revogação das bancário e fiscal, em determinada passagem,
leis quando estamos diante de campos legis- o autor afirma que" o poder de fiscalização,
lativos distintos'. que a Lei Complementar na. 75/93 instituiu em
No tocante ao quorum especial da lei com- favor do Ministério Público, é muito mais
plementar, argumenta o mesmo autor que é abrangente do que aquele deferido, por nor-
tão-somente requisito de existência da lei ma ordinária, ao Tribunal de Contas da
complementar, não lhe acrescentando eficá- União. Mas cessa diante da reserva legal dos
cia, pois que regula tão-só o modo de se a sigilos, exceção quanto ao segredo bancário,
produzir. aberta para a investigação de recursos públi-
Ante o exposto, pode-se concluir que não cos, sempre sujeita ao controle judicial".
há, como havíamos aventado, superioridade 21. Tal ilação louva-se em votos do Minis-
hierárquica entre a lei complementar e a lei tro-Relator Marco Aurélio e do Ministro
ordinária." Maurício Corrêa, quando do julgamento do
17. De igual forma, a Excelsa Corte assim Mandado de Segurança nl! 21.729-4-DF. En-
se manifestou no acórdão do julgamento da tretanto, por ser conveniente para sua argu-
Ação Direta de Inconstitucionalidade nl! 789- mentação, olvidou-se o 'parecerista de citar
l-DF, em que se questionava a regulação do que o voto condutor da tese vencedora não
Ministério Público junto ao TCU, por meio foi o daquele Ministro-Relator, mas sim a do
da Lei nl! 8.443/92: .. Só cabe lei complemen- Ministro Francisco Rezek, do qual transcre-
tar, no sistema de direito positivo brasileiro, vemos alguns trechos em reforço ao que já
quando formalmente reclamada a sua edição foi defendido, à saciedade, por nós, pelos Mi-
por norma constitucional explícita". Dessa nistros deste Tribunal, por boa parte da mais
forma, ficou decidido, por unanimidade, que respeitável doutrina, e mesmo pela Corte Su-
o fato de o Ministério Público Comum ser prema, ou seja, da relatividade do sigilos ban-
regulado pela Lei Complementar nl! 75/93 não cário e fiscal:
invalida a regulação especial deste Parquet Parece-me, antes de qualquer outra coisa,
junto a este TCU pela lei ordinária guerreada. que a questão jurídica trazida à corte neste

341
mandado de segurança não tem estatura cons- dos contribuintes assalariados. Não sei a que
titucional. Tudo quanto se estampa na própria espécie de interesse serviria a mística do si-
Carta de 1988 são normas que abrem espaço gilo bancário, a menos que se presuma falsos
ao tratamento de determinados temas pela le- os dados em registro numa dessas duas órbi-
gislação complementar. É neste terreno, pois, tas, ou em ambas, e por isso não coincidentes
e não naquele da Constituição da República, o cadastro fiscal e o cadastro bancário das
que se consagra o instituto do sigilo bancário pessoas e empresas.
- do qual já se repetiu ad nauseam, neste Ainda sob o enfoque metajurídico, haveria
país e noutros; que não tem caráter absoluto. de perguntar-se por que não quis o constituin-
Cuida-se de instituto que protege certo domí- te, seguido pelo legislador complementar (e
nio - de resto nada transcendental, mas bas- vozes ilustres neste plenário, a quem rendo
tante prosaico - da vida das pessoas e das homenagem, estimam que quiseram ambos),
empresas, contra a curiosidade gratuita, acaso dar ao cadastro bancário proteção igual à das
malévola, de outros particulares, e sempre até comunicações telefônicas, só devassáveis
o exato ponto onde alguma de interesse pú- mediante endosso judiciário à autoridade exe-
blico reclame sua justificada prevalência. cutiva investigante. Quer parecer-me, desde
logo, que a comunicação telefônica cobre na
mais das vezes aquela estrita privacidade pes-
o inciso X do rol de direitos fala assim soal de cuja importância já falara o inciso X
numa intimidade onde a meu ver seria ex- do rol de garantias, distinguindo-se nesse
traordinário agasalhar a contabilidade, mes- ponto da relação contábil entre uma casa ban-
mo a das pessoas naturais, e por melhor razão cária e seus clientes.
a das empresas. Observa, a propósito, o pare-
cer do Vice-Procurador-Geral:
............................. omissis .............................. . Nesse quadro, e com todas as homenagens
aos votos até agora proferidos, o meu e no
Do inciso XII; por seu turno, é de ciência sentido de indeferir a segurança. Não vejo
corrente que ele se refere ao terreno das comu- inconstitucionalidade alguma no § 22 do art
nicações: a correspondência comum, as men- 82 da Lei Complementar 75, cujo texto só faz
sagens telegráficas, a comunicação de dados, ampliar, dentro da prerrogativa legítima do
e a comunicação telefônica. Sobre o disparate legislador, o escopo da exceção já aberta ao
que resultaria do entendimento de que, fora do sigilo bancário no texto da lei originalmente
domínio das comunicações, os dados em geral comum que o disciplinou nos anos 60. E o
- e a seu reboque o cadastro bancário - são faz em nome de irrecusável interesse público,
invioláveis, não há o que dizer. O funciona- adotando um mecanismo operacional que em
mento mesmo do Estado e do setor privado nada arranha direitos, ou sequer constrange a
enfrentaria um bloqueio. A imprensa, destaca- discrição com que se portam os bancos idô-
damente, perderia sua razão de existir. neos e as pessoas de bem." (Mandado de
Segurança n2 21.729 4-DF - Relator para o
Acórdão Ministro Francisco Rezek - Plená-
Numa reflexão extralegal, observo que a rio, Sessão de 05.10.95).
vida financeira das empresas e das pessoas 22. No terceiro tópico, parecerista, em in-
naturais não teria mesmo por que enclausu- terpretação restritiva, procura minimizar a
rar-se ao conhecimento da autoridade legíti- importância deste Tribunal e o alcance de
ma - não a justiça tão-só, mas também o suas decisões, em face da disposição consti-
parlamento, o Ministério Público, a adminis- tucional que atribui ao Congresso Nacional o
tração executiva, já que esta última reclama, poder de fiscalização contábil, financeira, or-
pela voz da autoridade fiscal, o inteiro conhe- çamentária operacional e patrimonial da
cimento do patrimônio, dos rendimentos, dos União, ressaltando que o Controle Externo
créditos e débitos até mesmo do mais discreto será exercido com o auxílio deste Tribunal de

342
Contas da União, e, para ele, obviamente, "o Tribunais do Júri e Varas das Justiças Comum
órgão auxiliar não poderá ter maior compe- e Especial). De se incluir, ainda, nesta classe
tência do que a instituição auxiliada, isto é, o Ministério Público federal e estadual e os
do que o titular originário da competência Tribunais de Contas da União, dos Estados-
constitucional para tais atribuições." membros e Municípios, os quais são órgãos
23. Neste tópico, mais uma vez patenteia-se funcionalmente independentes e seus mem-
descompasso entre a opinião do respeitável bros integram a categoria de agentes políticos,
parecerista e a prática jurisprudencial e dou- inconfundíveis com os servidores das respec-
trinária. tivas instituições." (cf. HEL Y LOPES MEI-
24. Tribunal de Contas da União tem o de- RELLES, in: Direito Administrativo Brasilei-
ver constitucional de auxiliar o Congresso ro, 2()l1 ed., Malheiros, 1995, p. 6617).
Nacional no mister do controle externo, mas 25. Na mesma linha, é a lição de MARCE-
é certo também ser detentor de competências LO CAETANO, acerca de autonomia admi-
próprias atribuídas pela Carta, conforme se nistrativa, cujo conceito se aplica integral-
verifica de simples leitura do art. 71, incisos merte a este TCU:
e parágrafos (CF), podendo auditar mesmo as .. Quanto a autonomia administrativa, a ex-
Casas Legislativas que compõem aquele Con- pressão é manifestamente empregada nas leis
gresso. Assim, de plano, pode-se considerá- para excluir a submissão da entidade autôno-
lo, no mínimo, órgão autônomo, porém é mais ma aos deveres da hierarquia. Uma entidade
do que isso, é órgão independente, consoante autônoma administrativamente é aquela que
classificação do sempre festejado HEL Y LO- possui poderes para tomar decisões executó-
PES MEIRELLES, de quem transcrevemos a rias sem ter de acatar ondens superiores nem
seguinte lição: estar sujeita à superintendência, e à disciplina
"Órgãos independentes são os originários de outra entidade administrativa." (MARCE-
da Constituição e representativos dos Poderes LO CAETANO, Princípios Fundamentais do
de Estado - Legislativo. Executivo e Judi- Direito Administrativo, FORENSE, 1977, p.
ciário - colocados no ápice da pirâmide go- 88).
vernamental, sem qualquer subordinação hie- 26. Já CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE
rárquica ou funcional, e só sujeitos aos con- MELO define hierarquia da seguinte forma:
troles constitucionais de um poder pelo outro. .. Hierarquia pode ser definida como o vín-
Por isso, são também chamados órgãos pri- culo de autoridade que une órgãos e agentes,
mários do Estado. Esses órgãos detêm e exer- através de escalões sucessivos, numa relação
cem precipuamente as funções políticas, judi- de autoridade, de superior a inferior, de hie-
ciais e quase-judiciais outorgadas diretamente rarca a subalterno. Os poderes do hierarca
pela Constituição, para serem desempenhadas conferem-lhe uma contínua e permanente au-
pessoalmente por seus membros (agentes po- toridade sobre toda a atividade administrativa
líticos, distintos de seus' servidores, que são dos subordinados.
agentes administrativos), segundo normas es- Tais poderes consistem no (a) poder de co-
peciais e regimentais. mando, que o autoriza a expedir determina-
Nessa Categoria encontram-se as Corpora- ções gerais (instruções), ou específicas a um
ções Legislativas (Congresso Nacional, Câ- dado subalterno (ordens), sobre o modo de
mara dos Deputados, Senado Federal, Assem- efetuar os serviços; (b) poder de fiscalização,
bléias Legislativas, Câmaras de Vereadores), graças ao qual inspeciona as atividades dos
as Chefias de Executivo (Presidente da Repú- órgãos e agentes que lhe estão subordinados;
blica, Governadorias dos Estados e do Distrito (c) poder de revisão, que lhe permite, dentro
Federal, Prefeituras Municipais), os Tribunais dos limites legais, alterar ou suprimir as de-
Judiciários e os Juízes singulares (Supremo cisões dos inferiores, mediante revogação,
Tribunal Federal, Tribunais Superiores Fede- quando inconveniente ou inoportuno o ato
rais, Tribunais Regionais Federais, Tribunais praticado, ou mediante anulação, quando se
de Justiça e de Alçada dos Estados-membros, ressentir de vício jurídico; (d) poder de punir,

343
isto é, de aplicar as sanções estabelecidas em nossos - (Resp. n~ 8.970, STJ, Min. Gomes
lei aos subalternos faltosos: (e) poder de diri- de Barros - RDA vol. 188, 172-3).
mir controvérsias de competência, solvendo .. - Pode o Poder Legislativo estabelecer
os contlitos positivos (quando mais de um em lei a obrigação de o Tribunal de Contas
órgão se reputa competente) ou negativos prestar contas à Assembléia Legislativa.
(quando nenhum deles se reconhece compe- O Tribunal de Contas, embora autônomo,
tente); e (f) poder de delegar competências ou integra no sistema constitucional o Poder Le-
de avocar, exercitáveis nos termos da lei." gislativo sem ser, contudo, órgão. preposto.
(CELSO ANTONIO BANDERA DE MEL- Ação direta julgada procedente em parte,
LO, in Elementos de Direito Administrativo, para declarar inconstitucional a expressão 'ór-
3il ed. revista e ampliada, Malheiros, 1992, p. gão preposto do Legislativo' inserida no art.
74). 2~ da Lei n~ 3.564, de junho de 1983". (STF,
27. Do texto constitucional e da doutrina RDA vol. 158, 196 - Representação n~ 1.179
exposta, força é convir que a condição de - Relator Min. Alfredo Buzaid. Procurador-
órgão auxiliar do Tribunal de Contas da Geral da República versus Assembléia Legis-
União, não importa subordinação ao Congres- lativa do Estado do Espírito Santo).
so Nacional, máxime em face das competên- 29. Do voto do Sr. Ministro Gomes de Bar-
cias privativas conferidas a esta Corte e de ros, de cujo acórdão transcrevemos partes aci-
não se acharem postos, na Carta, preceitos ma, extraímos o excerto abaixo, em reforço à
indicadores de vínculo hierárquico entre esses demonstração da tese acerca da natureza das
órgãos autônomos e independentes. Ademais, decisões desta Corte (embora o Julgado do
o dever de prestar auxílio não implica neces- STJ se reportasse a atos de Tribunal de Contas
sariamente sujeição absoluta à vontade do au- Estadual, é igualmente válido para o TCU,
xiliado. porquanto de mesmo fundamento constitucio-
nal):
28. Aliás, a posição jurisprudencial também
é no sentido do que ora expusemos, na exata "Sustentam os recorrentes, ser impossível
medida em que reconhece a independência a reapreciação judicial de atos administrati-
vos, cuja regularidade foi atestada pelo Tri-
deste Tribunal e a competência exclusiva que
lhe é conferida pela Constituição, como já o bunal de Contas.
foi nas Cartas anteriores: Trazem, em socorro de sua tese, afirmação
"AÇÃO POPULAR - DECISÃO DO de que o acórdão recorrido destoa dajurispru-
dência tradicionalmente consagrada no Su-
TRIBUNAL DE CONTAS - DESVIO DE
FINALIDADE premo Tribunal Federal.
Como paradigma, citam o acórdão relativo
- Ação popular - Litisconsortes passivos
ao MS n2 7.280, do qual foi Relator o saudoso
necessários - Donatários - Integrantes do
Min. Henrique D' Á vila, resumido nesta
Tribunal de Contas - Ato aprovado pelo Tri-
ementa:
bunal de Contas - Possibilidade de descons-
'Tribunal de Contas. Apuração de alcance
tituição - Desvio de finalidade ~ Restrição
dos responsáveis pelos dinheiros públicos.
contida em norma posterior ao ato impugnado Ato insuscetível de revisão perante a Justiça
- Indenização feita sem o devido procedi- comum. Mandado de segurança não conheci-
mento - Nulidade processual. do.
- Ao apurar o alcance dos responsáveis
pelos dinheiros públicos, o Tribunal de Con-
É logicamente impossível desconstituir ato tas pratica ato insuscetível de revisão na via
administrativo aprovado pelo Tribunal de judicial a não ser quanto ao seu aspecto for-
Contas, sem rescindir a decisão do colegiado maI ou tisna de ilegalidade manifesta.' (fi.
que o aprovou; e para rescindi-la, é necessá- 3.881 ).
rio que nela se constatem irregularidades/ar- Em seu relatório, o saudoso Ministro trans-
mais ou ilegalidades manifestas." - grifos creveu o parecer do então Procurador Geral

344
da República - o igualmente saudoso Minis- Tribunal de Contas: julgamento das contas
tro Carlos Medeiros da Silva, in verbis: de responsáveis por haveres públicos. Com-
'Conforme decidiu o Pretório Excelso, no petência exclusiva, salvo nulidade por irregu-
Mandado de Segurança nU 6.960 (sessão de laridade formal grave (MS n2 6.960, 1959),
31 de julho de 1959, decisão unânime, relator ou manifesta ilegalidade aparente (MS n2
o Sr. Ministro Ribeiro da Costa), não cabe 7.280,1960)' (RTJ 43/151).
mandado de segurança contra decisão do Tri- Merece destaque, neste aresto, a manifesta-
bunal de Contas que julgou contas de respon- ção do saudoso Ministro Barros Monteiro,
sáveis por dinheiros públicos. nestas palavras:
Disse, então, o Sr. Min. Ribeiro da Costa: 'A segunda questão, de serem preclusivas
'a decisão sobre a tomada de contas de gastos e insuscetíveis de apreciação pelo Judiciário
de dinheiros públicos, constituindo ato espe- as decisões do Tribunal de Contas, eu acolho
cífico do Tribunal de Contas da União ex vi com reservas, diante do preceito do art 150,
do disposto no art. 77, 11, da Constituição § 42 da CF, que reproduziu o dispositivo da
Federal, é insuscetível de impugnação pelo Constituição anterior, segundo o qual não se
mandado de segurança, no concernente ao pode subtrair da apreciação do poder Judiciá-
próprio mérito do alcance apurado contra o rio qualquer lesão do direito individual. Mas
responsável, de vez que não cabe concluir de feita essa ressalva, estou de pleno acordo em
plano, sobre a ilegalidade desse ato, salvo se que não se pode chegar a outra conclusão
formalmente eivado de nulidade substancial, senão àquela do acórdão mencionado pelo
o que, na espécie, não é objeto de controvér- eminente Ministro Victor Nunes, do qual foi
sia' (fl. 3.968) Relator o Ministro Henrique O' Ávila: e que
No voto, com que conduziu o Tribunal Ple- exprime o pensamento deste Tribunal. As de-
no, o Ministro Henrique O'ávila observou: cisões do Tribunal de Contas não podem ser
'Na realidade o Tribunal de Contas quando revistas pelo Poder Judiciário, a não ser quan-
da tomada de contas dos responsáveis por to ao seu aspecto formal' (RTJ 43/157).
dinheiros públicos, pratica ato insuscetível Destes pronunciamentos resta clara uma
de impugnação na via judicial, a não ser constatação: impossível desconstituir o ato
quanto ao seu aspecto formal ou ilegalidade administrativo ungido pela aprovação do Tri-
manifesta. bunal de Contas, sem rescindir a Decisão des-
Na espécie o que o impetrante impugna é o se colegiado, e para rescindi-Ia, é necessário
mérito da decisão do Tribunal de Contas. En- que nela se apontem irregularidades formais
tende ele que não existia o alcance apontado, graves ou ilegalidades manifestas.
ou seria menor do que o apurado. Declarar nulo ato administrativo, sem agre-
O assunto, é evidente que não pode ser tra- dir a Decisão do Tribunal de Contas que o
tado através do processo expedito do manda- aprovou é atitude tão absurda quanto a de este
do de segurança. Só pelos meios normais re- Tribunal reformar a sentença de primeiro
gulares é que poderá o impetrante demonstrar grau, ao tempo em que não conhece do acór-
o contrário, ou 'invalidar a apuração feita pelo dão que a confirmou.
Tribunal de Contas da União' (fls. 3.968-9). O acórdão recorrido não faz qualquer refe-
Como se percebe, o Supremo Tribunal Fe- rência ao conteúdo ou à forma do aresto da
deral não reconhece na decisão do Tribunal Corte de Contas. Limita-se em afirmar que
de Contas a força da coisa julgada material. ele não imuniza o ato administrativo, de ser
A Corte admite se reveja acórdão de Tribu- reexaminado pelo Judiciário.
nal de Contas, 'em seu aspecto formal' ou em Na parte, o acórdão também merece refor-
caso de 'ilegalidade manifesta'. ma." (in RDA vol. 188, 182-3).
Esta velha jurisprudência veio a ser confir- 30. Todas essas posições doutrinárias e ju-
mada em acórdão conduzido pelo saudoso risprudenciais, que apresentamos em debate,
Ministro Vitor Nunes Leal, e reduzido a têm por escopo demonstrar o que, em rigor,
ementa nestes termos: prescinde de demonstração, dado estar inscul-

345
pida. de forma cristalina, no seio da Carta identificar, respeitados os direitos indivi-
Magna, a autonomia e independência deste duais e IIOS termos da lei, o patrimônio. os
Tribunal em relação ao Congresso Nacional. rendimentos e as atividades econômicas do
bem como a exclusividade da competência contribllinte. .. (grifo nosso).
que o Texto Maior lhe conferiu no art. 71, a 35. Entre os direitos individuais que devem
despeito da posição do parecerista ora em ser respeitados, conforme o mandamento
pugna. transcrito, está a inviolabilidade da vida pri-
31. Por fim, aponta, o jurista Saulo Ramos, vada. Mas, há que se questionar o que vem a
inconstitucionalidade do art. 44, da Lei Orgâ- ser, dentro do espírito da Constituição, priva-
nica desta Corte, por violar o princípio maior cidade.
da separação dos poderes, sugerindo, em ar- 36. A respeito desse tema, discorreu o Vice-
remate, que este Tribunal jamais se utilize Procurador-Geral, em parecer de sua lavra
daquela faculdade, sob pena de derrota na transcrito no voto do Ministro Francisco Re-
seara judicial. zek (de quem já nos socorremos em tópicos
32. Quanto a este último tópico, obviamente deste trabalho), o qual a inteligência do Ma-
que não cabe a este Tribunal deliberar acerca gistrado reputa como uma das peças mais con-
da Constitucionalidade ou não do artículo in- sistentes e de maior brilho, que o Ministério
digitado; o que se deve ressaltar, isto sim, é Público tem produzido em feitos de compe-
a importância desse instrumento, votado pelo tência do Supremo Tribunal Federal:
Parlamento, para esta Instituição, na medida "Não obstante essa repercussão mais am-
em que possibilita a remoção em tempo hábil pla, o núcleo da 'privacy' situa-se na esfera
de pessoas empenhadas em obstaculizar a nor- das convicções íntimas do indivíduo, como
mal realização dos trabalhos, consoante a as religiosas e políticas, nas relações de con-
competência constitucionalmente reservada a vivência familiar e afetiva, nos costumes se-
esta Casa. xuais, hábitos, dados clínicos, enfim, naquele
reduto que não se exteriorize no âmbito da
vida pública. Refere Zacharias Toron que
IV Georges Duby, prefaciando a Obra Histórica
da Vida Privada, chama a atenção para a cir-
33. Analisado o teor dos pareceres colacio- cunstância de que a locução 'vida privada'
nados, forçoso é, como demonstrado, concluir sempre exprimia o contraste claramente de-
que os argumentos jurídicos apresentados não tectado pelo senso comum, que opõe o priva-
encerram razões suficientes para ensejar a do ao público, e que se agrega a um conjunto
mudança do posicionamento até aqui adotado constituído em torno da idéia de família, de
por este Tribunal, no sentido de que, ao sigilo casa de interior.
fiscal, não pode ser irrogada a condição de É possível que os dados bancários, em cer-
casamata impenetrável, capaz de obstaculizar tos casos, deixem entrever aspectos da vida
o desempenho das atribuições constitucional- privada, como ocorreria, por exemplo, na re-
mente deferidas a esta Corte. Mesmo porque velação de gastos com especialidades médi-
há de se indagar se esse místico sigilo fiscal cas de certas enfermidades ou de despesas
tem guarida constitucional explícita, ou se com pessoas das relações afetivas íntimas,
decorre de interpretação, em qualquer de suas que o cliente queira manter em segredo. Isso,
modalidades, da Carta, ou se se encontra pre- contudo, é exceção, porque, em regra, as ope-
visto apenas na norma infraconstitucional. rações e serviços bancários não podem ser
34. O § 12 , do art. 145, da CF reza: "§ lI!. referidos a privacidade, no sentido em que é
Sempre que possível, os impostos terão cará- protegido no inciso X do art. 52 da Constitui-
ter pessoal e serão graduados segundo a ca- ção. Assim, os dados bancários concernentes
pacidade econômica do contribuinte,faculta- a pagamentos de compra de imóveis, os fi-
do à administração tributária, especialmente nanciamentos para aquisição de casa própria
para conferir efetividade a esses objetivos, ou os financiamentos públicos para o desen-

346
volvimento de atividades produtivas são al- mos aqui algumas posições doutrinárias. para
guns dos exemplos de informações que não melhor explicitá-los.
se inserem no núcleo irredutível da privaci- 42. Para A. LOPES DE SÁ, Auditoria é:
dade". 'Revisão, perícia. intervenção ou exame de
37. De igual forma, também o sigilo fiscal, contas ou de toda uma escrita, periódica ou
admitida a lição acima, dada a similaridade constantemente, eventual ou definidamente."
com o bancário, não pode estar na órbita da 43. E mais ainda, segundo aquele autor:
privacidade inviolável garantida pela Carta. .. O termo auditoria pode, todavia, ser ob-
Entretanto, sua previsão em lei que no caso servado sob prismas diversos:
do Código Tributário Nacional é recepciona- 1- exame de documentos antes de escri-
do como lei complementar por força, princi- turados (pré-auditoria);
palmente, do art. 146 da Constituição Federal, 2 - exame sistemático, feito dentro da pró-
é perfeitamente harmônica com o ordenamen- pria empresa, de todos os fatos;
to constitucional, mas, de toda sorte, não dei- 3 - inspeção através de relatórios, incluin-
xa de ser previsão infraconstitucional, como, do análises, demonstrações, provas;
aliás, também o entendeu o Ministro Francis- 4 - exame para efeito de aprovação de
co Rezek ao iniciar o voto aqui multi citado. contas, realizado anualmente ou semestral-
38. Já o art. 71, c.F., ao estabelecer a com- mente;
petência deste Tribunal, como já repetido à 5 - exame eventual, pedido para efeito de
exaustão, em seu inciso IV, dispõe: retificações ou verificação de exatidão de pro-
.. Art. 71. O controle externo, a cargo do cedimentos de uma administração etc.' (A.
Congresso Nacional, será exercício com o au- Lopes De Sá. Dicionário de Contabilidade, 8i
xílio do Tribunal de Contas da União, ao qual ed., Atlas, São Paulo, 1990 - pp. 35/36).
compete: 44. Por sua vez, subscrevendo um capítulo
............................... omissis ............................ . denominado .. AUDITORIA DE RENDI-
IV - realizar, por iniciativa própria, da MENTO EFECTIVO EN GOBIERNO" , do
Câmara dos Deputados, do Senado Federal, livra .. AUDITORIA OPERACIONAL" , edi-
de comissão técnica ou de inquérito, inspe- tado pela Asociacion de Contadores Guber-
ções e auditorias de natureza contábil,finan- namentales, o norte-americano FRANKLIN
ceira, orçamentária, operacional e patrimo- C. PINKELMAN disse:
nial, nas unidades administrativas dos Pode- .. La materia de auditoria tiene tres aspectos:
res Legislativo, Executivo e Judiciário, e de- Primero, la auditoria debe discutir el grado de
mais entidades referidas no inciso lI;" (grifos suficiencia de control gerencial y los procesos
nossos). y sistemas dei contrai interno.
39. Disso se conclui que a competência des- Segundo, la auditoria debe conducirse y el
te Tribunal deriva da própria Constituição, informe redactar-se con el fin de informar ai
não havendo qualquer inovação, ou extrapo- gobernador, los legisladores y cualquier otro
lação no texto da Lei Orgânica. lector sobre la confiabilidad de la informaci6n
40. Assim, dizer-se que o sigilo fiscal pode producida por la entidad auditada. Esto in-
prevalecer, em oposição ao normal desenvol- c1uye datos financieros e información estadís-
vimento dos trabalhos desta Corte, é admitir tica relacionado ai problema que la entidad
a hipótese absurda de superação de uma prer- trata de resolver, y la información cuantitativa
rogativa constitucional por uma norma infra- de insumo-producto relacionada a actividad
constitucional. Isto porque, entre outras atri- de la entidad. Además, debe proporcionar in-
buições, ao Tribunal é deferida a prerrogativa formación sobre la confiabilidad de la infor-
de realizar, inclusive por iniciativa própria, mación cualitativa relacionada a la actividad
inspeções e auditorias em todas as unidades de la entidad y sus objetos.
dos três poderes da República, sem exceção. EI tercer aspecto de información debe estar
41. Os conceito e objetivo de uma auditoria relacionado ai proceso de la toma de decisio-
são por demais cediços, não obstante, traze- nes ai nível legislativo o ejectivo más alto.

347
Así, se debe proporcionar información que em que se encontra inserido, a legalidade dos
ayudará ai gobernador o legislador en sus de- atos de seus dirigentes, a economicidade de
cisiones sobre prioridades en el uso de recur- suas operações, dentre outros fatores.
sos. 48. Dito isto. analisemos a hipótese absurda
Hablemos claro. EI mejor benefício poten- de à Receita Federal, por causa do pretenso
cial en la auditoría es el de contribuir a un sigilo fiscal. ser lícito negar-se a prestar in-
mejor proceso de tomar decisiones. Algunos formações ou entregar documentos para exa-
efectos secundarios que no deben confundirse me por parte dos técnicos deste Tribunal.
con el principal son el atribuir la culpa de Caso isso ocorresse, teríamos, na prática, uma
maios manejos o malas decisiones y frecuen- exceção à ação fiscalizadora desta Corte, que
temente sirve de defensa contra abusos en a Constituição não apóia, uma vez que, como
gerencia u operaciones de programa." (Aso- enfatizado, esta autorizou a realização de au-
ditorias e inspeções em todos os órgãos e
ciacion de Contadores Gubernamentales. Au-
unidades dos três poderes, e, para a realização
ditoria Operacional, 2a edición, Ed. DINTEL,
de tal mister, imprescindível se faz o exame
Bogotá, 1981- p. 67).
de todos os documentos e informações rele-
45. Dentre as diversas modalidades de au-
vantes para um exato juízo da realidade vi-
ditoria que a Constituição autoriza ao TCU venciada pelo auditado.
realizar, destacamos, por sua abrangência, a
auditoria operacional. Esta, segundo A. Lopes
de Sá é: v
"Auditoria Operacional: auditoria que ve-
rifica o 'desempenho' ou 'forma de operar'
49. Dessarte, dúvidas não há de que a com-
dos diversos órgãos e funções de uma empre-
petência deste TCU decorre diretamente da
sa. Tal auditoria testa 'como funcionam' os
Constituição Federal, e o sigilo fiscal, de nor-
diversos setores, visando, principalmente, à
ma infraconstitucional. Logo, num possível
eficiência, à segurança no controle Interno e
conflito entre os dois, mesmo aos olhos de
à obtenção correta dos objetivos" (A. Lopes
um leigo, a solução óbvia é a imposição da
De Sá, opus cit., p. 38).
norma constitucional.
46. E ainda, segundo JOÃO MAURÍCIO
50. Ademais, há de ficar claro que ao soli-
MOTTA:
citar, por meio de seus técnicos, documentos
"Na Auditoria Operacional, o auditor ser-
e informações à Secretaria da Receita Federal,
vir-se-á dos registros contábeis para penetrar
este Tribunal, além de exercer uma prerroga-
no mecanismo de um escolhido departamen-
tiva constitucional, em verdade não tem em
to, passando em cada setor, etapa por etapa,
mira a quebra do sigilo fiscal em si mesmo,
do início até o fim, seguindo todas as fases
uma vez que o objeto do exame não é, como
das operações desse Departamento, julgando,
j~ frisado nestes autos, perscrutar-se a priva-
criticando, avaliando cada fase das operações
cIdade do contribuinte, mas sim aferir a lega-
geradoras de despesas ou de rendas, procu-
lidade, moralidade e economicidade dos atos
rando solucionar as dificuldades encontradas
dos agentes do órgão Fazendário no relacio-
ou trazendo melhorias." (João Mauríci~ Mot-
namento com aqueles contribuintes.
ta, Auditoria, Princípios e Técnicas, 211 ed.,
51. Assim, admitir-se hermetismo aos da-
Atlas, São Paulo, 1992 - p. 19).
dos de contribuites, em Poder do órgão Fa-
47. Dos conceitos acima expostos, dedutí-
vel é que, para o mister da auditoria o acesso zendário, é admitir-se uma casa à parte de
a todas e quaisquer informações, ~onfide~­ órgão público, imune à ação fiscalizadora
ciais ou não, é condição essencial, pois, em desta Casa; é franquear-se a alguns agentes
c?ntrário, principalmente na auditora opera- públicos a possibilidade da prática de atos que
Cional, tornar-se-á impossível ao auditor con- poderão afetar o interesse público (por causa
cluir pelo normal funcionamento ou não do da imunidade ao controle), o que obviamente
órgão auditado, sem conhecer sua dinâmica é absurdo, em face do ordenamento constitu-
interna em minúcias, sua sintonia com o meio cional vigente, máxime do artigo 71 da Carta.

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52. Por fim, quanto à diligência proposta 7. Unidade Técnica: 5i! SECEX
pelo titular da zelosa 5i! SECEX (fi. 117), 8. Decisão: O Tribunal Pleno, diante das
entendemos que tal providência caberia à Se- razões expostas pelo Relator, DECIDE:
cretaria em cuja clientela se insere a Secreta- 8.1. Deixar de acolher o Recurso de Reexa-
ria da Receita Federal, para o que sugerimos me apresentado pelo Sr. Everardo de Almeida
a formação de apartado de folhas deste Pro- Maciel, Secretário da Receita Federal (fls.
cesso (fls. 70171 e 79/117). 70171 ).
53. Em face do exposto, o Ministério Pú- 8.2. Manter, em todos os seus termos, as
blico opina no sentido de que seja conhecido Decisões n2 670/95-TCU - Plenário (fls. 20)
o presente Pedido de Reexame; para, no mé- e 222/96-TCU-Plenário (fi. 65);
rito, negar-lhe provimento, mantendo-se ínte- 8.3. Encaminhar cópia da presente Decisão,
gro o teor da Decisão n2 222/96-TCU - Ple- bem assim do RelatórioNoto que a embasam,
nário. ao Sr. Ministro de Estado da Fazenda e ao Sr.
Ministério Público, em 30 de julho de 1996. Secretário da Receita Federal.
CRISTINA MACHADO DA COSTA E 9. Ata n2 36/96 - Plenário
SILVA, Procuradora 10. Data da Sessão: 11/09/1996 - Ordiná-
ria.
11. Especificação do quorum:
DECISÃO N2 577 /96-TCU-PLENÁRIO 11. I. Ministros presentes: Marcos Vinicios
Rodrigues Vilaça (Presidente), Adhemar Pa-
I. Processo n2 TC-003.315/96-7 ladini Ghisi, Carlos Átila Álvares da Silva,
2. Classe de Assunto: (VII) Representação Homero dos Santos, Paulo Affonso Martins
de Reexame da Decisão n2 222/96 - TCU- de Oliveira (Relator), Humberto Guimarães
Plenário Souto, Bento José Bugarin e os Ministros-
3. Interessada: 5i! SECEX Substitutos José Antonio Barreto de Macedo
4. Órgão: Secretaria da Receita Federal e Lincoln Magalhães da Rocha.
5. Relator: Ministro Paulo Affonso Martins MARCOS VINICIOS VILAÇA, Presiden-
de Oliveira te
6. Representante do Ministério Público: PAULO AFFONSO MARTINS DE OLI-
Cristina Machado da Costa e Silva VEIRA, Ministro-Relator

PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE - HOSPITAIS - FUNÇÃO DE CONFIANÇA

- Violação do princípio de razoabilidade administrativa evidenciada


pela impossibilidade fática de gerenciamento da rede de hospitais públicos
por um único dirigente.

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO


TC-575.215/93
TC-575.202/94

GRUPO 11 - CLASSE VII - PLENÁRIO Entidade: Centro Psiquiátrico D. Pedro


TC 575.215/93-3 (SIGILOSO) II/CPP-II
TC 575.202/94-7 Interessado: Cícero Alves Bahia
Natureza: Denúncia Ementa: - CPP-lI. Denúncia de irregula-

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