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DEPARTAMENTO DE DOCUMENTAÇÃO,
JURISPRUDÊNCIA E DIVULGAÇAO
SERVIÇO DE DIVULGAÇÃO
REVISTA
TRIMESTRAL
DE
JURISPRUDÊNCIA
Serviço de Divulgação:
Diretora: Maria do Socorro da Costa Alencar
Divisão de Edições:
Diretora: Almeria Machado Godoi
Trimestral.
1. Jurisprudência - Periódico. 2. Direito-Jurisprudên-
cia. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal.
CDD 340.6
Distribuição:
Imprensa Nacional
SIG, Quadra 6, lote 800
70.604-900, Brasília-DF
Fone: (061): 313-9400
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Primeira Turma
Ministro José Carlos MOREIRA ALVES, Presidente
Ministro SYDNEY SANCHES
Ministro Luiz OCTAVIO Pires e Albuquerque GALLOTTI
Ministro José CELSO DE MELLO Filho
Ministro ILMAR Nascimento GALVÃO
Segunda Turma
Pág.
ACÓRDÃOS 1
ÍNDICE ALFABÉTICO I
ÍNDICE NUMÉRICO XXI
ACÓRDÃOS
RECLAMAÇÃO N° 374 — SC
(Tribunal Pleno)
não se precisando cogitar, nessa hipóte- Não cria direito, cujo exercício dependa
se, sobre se o autor da ação tem ou não de atividade normativa regulamenta-
legitimidade ativa para a propositura, dora.
nem sobre se os réus têm ou não legiti- E o mandado de injunção, mesmo em
midade passiva, para, nessa qualidade, a tese, só pode ser concedido, se «a falta
ela se sujeitarem no processo. de norma regulamentadora» tornar in-
Na verdade, o pedido é, a meu ver, viável o exercício dos direitos e liberda-
juridicamente impossível, pois, se não de constitucionais e das prerrogativas
pode ser formulado pelo autor (Conse- inerentes à nacionalidade, à soberania e
lho Nacional de Técnicos em Radiolo- à cidadania», como estabelece o inciso
gia), também não pode ser apresentado, LXXI do art. 5° da Constituição Federal.
por outrem, ou seja, por quaisquer ser- Ora, se o que falta, no caso, não é
vidores, inclusive os próprios TécnicoF a norma regulamentadora do exercício
em Radiologia. Ou por outras pessoas. de um direito já criado, mas, sim, a
Com efeito, dispõe o art. 40 da própria norma criadora do direito, já que
Constituição Federal: o § 1° do art. 40 apenas a permitiu,
facultativamente, ou melhor, não impôs,
«Art. 40 — O servidor será apo-
então o mandado de injunção, como im-
sentado:
petrado, não tem possibilidade jurídica,
•-• não só para o autor, como para os pró-
III — voluntariamente: prios Técnicos em Radiologia, ou para
quaisquer servidores, mesmo os que já
a) — aos trinta e cinco anos de ser- exerçam «atividades consideradas pe-
viço, se homem, e aos trinta, se mulher, nosas, insalubres ou perigosas».
com proventos integrais;
A esse propósito, assinalou, com
propriedade, o parecer da Procuradoria-
c) — aos trinta anos de serviço, se Geral da República, às fls. 245/246,
homem, e aos vinte e cinco, se mulher, itens 15, 16 e 17:
com proventos proporcionais a esse «15. No caso, nem mesmo os Técni-
tempo; cos em Radiologia e Auxiliares detêm
legitimidade ativa para o mandado de
injunção, pelo fato de também não se-
E o § 1° acrescenta: «Lei Comple- rem titulares de direito constitucional-
mentar poderá estabelecer exceções mente assegurado, cujo exercício se tor-
ao disposto no inciso III, a e c, no caso na inviável pela falta de norma regula-
de exercício de atividades consideradas mentadora.
penosas, insalubres ou perigosas.»
16. Isto porque, tratando-se de nor-
5. Já se vê, pois, que o § 1° do art. 40 ma constitucional facultativa, a contida
da Constituição Federal não cria, desde no § 1° do artigo 40 da Constituição
logo, qualquer direito para os servidores Federal, não impõe a mesma uma obri-
que exerçam «atividades consideradas gação. Como bem assevera José Afonso
penosas, insalubres ou perigosas.» da Silva, em sua obra «Aplicabilidade
Apenas permite que a Lei Comple- das Normas Constitucionais», RT,
mentar o faça. Faculta a atuação discri- Edição, 1982, página 117, as normas
cionária do legislador. Não a impõe. facultativas ou permissivas «limitam-se
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a dar ao legislador ordinário a possibili- tão ora suscitada na presente sede injuncio-
dade de instituir ou regular a situação nal.
nelas delineadas.» As razões que fundamentaram a minha
17. Assim, a iniciativa da lei de que decisão permitem-me acompanhar, sem
se trata está vinculada ao poder discri- ressalvas, o pronunciamento do Relator,
cionário do legislador.» Min. Sydney Sanches.
Acrescento que, em situação asse- A norma constitucional em questão pos-
melhada, o eminente Ministro Celso de sui o seguinte conteúdo material, verbis:
Meio, negou trânsito ao Mandado de «Art. 40 — O servidor será apo-
Injunção n° 463-3/MG, impetrado por sentado:
servidor público já aposentado, visando
à edição da mesma Lei Complementar
aqui reclamada, a fim de que lhe pudesse III — voluntariamente:
ser concedida aposentadoria especial,
pelo desempenho de atividade insalu- a) aos trinta e cinco anos de serviço,
bre. se homem, e aos trinta, se mulher, com
proventos integrais;
Isto posto, acolhendo, desde logo,
a 1' preliminar do parecer da Procurado-
ria-Geral da República não conheço do c) aos trinta anos de serviço, se ho-
pedido de mandado de injunção, por mem, e aos vinte e cinco, se mulher, com
falta de possibilidade jurídica do pedi- proventos proporcionais a esse tempo;
do, no caso.»
No caso dos autos não se trata de § 1° Lei Complementar poderá es-
técnicos em radiologia, mas de servidores tabelecer exceções ao disposto no inciso
da Escola Superior de Agricultura — III, a e c, no caso de exercício de ativi-
ESAL (autarquia federal sediada em La- dades consideradas penosas, insalubres
vras, Minas Gerais), que alegam exercer ou perigosas.» (grifei)
atividades insalubres.
O preceito inscrito no art. 40, § 1°, da
De qualquer maneira a conclusão há de Carta Política não consubstancia ordem de
ser a mesma, pois também se trata de inter- legislar. Contempla, meramente, simples
pretar o disposto no art. 40, § 1°, da Cons- faculdade deferida ao legislador comum,
tituição Federal, em face do que estabelece que, em função de um juizo de oportunida-
o inciso LXXI do art. 5°, ao tratar do man- de e conveniência que lhe é privativo, po-
dado de injunção. derá estabelecer exceções ao regime geral
Isto posto, adotando os fundamentos das aposentadorias previsto no art. 40,
deduzidos no mencionado precedente de da Constituição. Nesse sentido é o magis-
hoje, também aqui não conheço do pedido, tério de Maria Sylvia Zanella Di Pietro
por falta de possibilidade jurídica. («Direito Administrativo», pág. 325,
1990, Atlas).
VOTO Essa norma, destinada exclusivamente
aos órgãos estatais incumbidos da forma-
O Sr. Ministro Celso de Meio: Ao ção das leis, permite-lhes, a partir de uma
proferir decisão, como Relator, no MI n° atividade discricionária, o estabeleci-
463-MG, tive o ensejo de apreciar a ques- mento de derrogações ao regime jurídico da
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aposentação, sem que nela se contenha a texto constitucional, não lhes assiste pre-
veiculação de qualquer direito instituído tensão alguma de ver realizada pelo Estado
em favor daqueles que exerçam atividades a prestação legislativa que ora postulam.
penosas, insalubres ou perigosas. Ademais, é preciso ter presente que o
Na realidade, e tal como precedente- direito à legislação só pode ser invocado
mente salientado, o conteúdo dessa norma pelo particular quando também existir,
e a finalidade a que ela se destina permitem correlatamente imposta pelo próprio
afirmar a impossibilidade de invocação da texto constitucional, a previsão do dever
tutela jurisdicional pela via do mandado de estatal de emanar normas legais. Isso signi-
injunção, que só tem pertinência e aplica- fica que o direito individual à atividade
bilidade nas hipóteses em que o preceito da legislativa do Estado apenas se evidencia
Constituição outorga, desde logo, o pró- naquelas estritas hipóteses em que o de-
prio direito material que vem a ser vindica- sempenho da função instauradora da ordem
do pelos impetrantes. normativa reflete, por efeito de determi-
Não constitui demasia assinalar — na nação constitucional, uma obrigação jurí-
dica indeclinável.
linha da orientação jurisprudencial desta
Corte (RTJ 134/15, Rel. Min. Sepúlveda Torna-se essencial, desse modo, para
Pertence; MI 200, Rel. Min. Octavio Gal- que possa atuar a norma pertinente à figura
lotti; MI 245, Rel. MM. Sepúlveda Per- do mandado de injunção, que se estabeleça
tence) — que só dispõe de legitimidade a necessária correlação entre a imposição
ativa ad causam, para efeito de impetração constitucional de legislar e o direito pú-
do mandado de injunção, aquele a quem blico subjetivo à legislação, de tal forma
houver sido atribuída in abstracto, pela que, ausente a obrigação jurídica de emanar
própria Constituição, a titularidade de di- provimentos legislativos — o que se dá
reitos, garantias e prerrogativas cujo exer- quando a Constituição contempla, como no
cício esteja sendo causalmente obstado por caso, mera faculdade discricionária de le-
uma situação de vacum juris, imputável gislar —, não se toma possível imputar
ao Estado e objetivamente configurada pela comportamento moroso ao Estado.
ausência de norma regulamentadora (RTJ A eventual inércia do Poder Público,
140/339-340, Rel. MM Celso de Mello). que deixa de exercer a faculdade de legis-
No caso presente, constata-se que a lar, não o faz incidir em situação configu-
Constituição não conferiu originariamente radora de inadimplemento de uma presta-
a nenhum servidor público o direito à apo- ção legislativa cuja concretização sequer
sentadoria especial pelo exercício de ativi- lhe foi exigida. Sem imposição constitucio-
dades perigosas, insalubres ou penosas. O nal legiferante, toma-se inviável qualquer
preceito invocado pelos impetrantes limi- cogitação em tomo da mora estatal no de-
tou-se, simplesmente, a autorizar o legisla- sempenho do encargo de legislar.
dor comum a estabelecer, querendo, as O que, no entanto, apresenta-se como
hipóteses de concessão desse benefício juridicamente relevante na espécie é a cir-
funcional, não havendo como reconhecer cunstância de que a norma inscrita no art.
ao servidor público a titularidade do direito 40, § 1°, da Constituição não assegurou ao
reclamado. servidor público, ainda que exercente de
Não titularizando os impetrantes qual- atividades perigosas, insalubres ou peno-
quer situação subjetiva de vantagem, que sas, qualquer direito público subjetivo à
possa ser inferida diretamente do próprio obtenção da aposentadoria especial. Esse
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ACÓRDÃO RELATÓRIO
Vistos, relatados e discutidos estes au- O Sr. Ministro Néri da Silveira (Rela-
tos, acordam os Ministros do Supremo Tri- tor): Trata-se de ação direta de inconstitu-
bunal Federal, por seu Tribunal Pleno, na cionalidade, com pedido de medida caute-
conformidade da ata do julgamento e das lar, ajuizada, com fundamento no art. 103,
notas taquigráficas, por maioria de votos, item V, da Constituição, pelo Governador
em julgar procedente, em parte, a ação, para do Estado da Paraíba, argüindo a inconsti-
declarar a inconstitucionalidade do art. tucionalidade dos arts. 32, parágrafo único,
136, item VII, da Constituição do Estado e 136, item VII, ambos da Constituição do
da Paraíba, bem como das Leis Comple-
aludido Estado, bem assim das Leis Com-
mentares n°s 4 e 5, ambas de 8-1-91, do
plementares es 4 e 5, ambas de 8-1-1991,
mesmo Estado, vencidos os Ministros Re-
arts. 1° e seguintes, «que estabeleceram
lator, Francisco Rezek, Marco Aurélio e
Carlos Velloso, que a julgavam «in totum» vinculação e isonomia de vencimentos en-
improcedente. Votou o Presidente. tre as carreiras do Ministério Público e dos
Advogados de Ofício, integrantes do Gru-
Brasília, 17 de junho de 1993 — Octa- po Assistência Judiciária (LC n° 4) e do
vio Gallotti, Presidente — limar Gaivão, Ministério Público e Procuradores do Esta-
Relator p/o acórdão do (LC 05).»
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fixe o entendimento das normas consti- ele ser concedido na ausência da norma
tucionais em torno das denominadas complementar regulamentadora, que a
carreiras jurídicas, a que se refere o art. clareza bem explícita dos seus conceitos
135 da Constituição Federal, em con- retire do arbítrio tão comum aos exege-
fronto com os preceitos dos arts. 39, tas de ocasião a interpretação interessei-
parágrafo 1°, e 37, XIII, da mesma Carta ra da regra inovadora, suscetível de, por
Maior. Medida liminar deferida para demagógica aplicação, ferir de morte a
suspender, até o julgamento final da capacidade remuneratória do Estado.
ação, a vigência dos dispositivos indica- São estas, Excelência, as informa-
dos da Constituição do Estado da Paraí- ções que o Governo do Estado da Paraí-
ba. Quanto ao art. 32, parágrafo único, ba tem a emitir sobre o assunto, supli-
da Carta Política paraibana, objeto da cando que, afinal, Vossa Excelência e o
inicial, corresponde a norma da Consti- Colendo Supremo Tribunal Federal
tuição Federal (art. 39, parágrafo 1°), o declarem a inconstitucionalidade das
que não autoriza sua suspensão.» leis complementares referidas e do inci-
Solicitadas informações às autoridades so VII, do artigo 136, da Constituição da
requeridas, prestou-as, apenas, o Senhor Paraíba, como requerido na petição
Governador do Estado da Paraíba, por in- preambular.»
termédio da Procuradoria-Geral do Estado Não vindo aos autos as informações so-
(fls. 53/54), nas quais, após tecer conside- licitadas pelo Ofício n° 49/P, de 15-5-1991,
rações acerca da situação financeira em que à Assembléia Legislativa do Estado da Pa-
se encontra aquela Unidade da Federação, raíba, foi o processo com vistas aos Drs.
asseverou (fl. 54): Advogado-Geral da União e Procurador-
«Assim, dentro desse quadro de difi- Geral da República.
culdades imensas, Senhor Ministro, é No parecer de fls. 57/63, manifestou-se
natural que o atual governo da Paraíba o Dr. Advogado-Geral da União no sentido
discorde da isonomia adotada — fórmu- de que fosse julgada improcedente a ADIn.
la justa de homogeneização salarial em À sua vez, opinou a Procuradoria-Geral da
países de economia equilibrada e prós- República, no parecer de fls. 64/76, pela
pera. Mas, não no Brasil atual. Não em parcial procedência da ação, declarando-se
Estados como a Paraíba, em situação a «inconstitucionalidade do inciso VII do
espasmódica de decomposição econô- art. 136 da Constituição do Estado da Pa-
mica e ruína financeira iminente. raíba, bem como dos dispositivos das Leis
Além do mais, a isonomia concedida Complementares Estaduais n°s 4 e 5, am-
nas leis impugnadas fere no âmago — bas de 8 de janeiro de 1991.
segundo nos parece — a compreensão É o relatório, do qual a Secretaria distri-
do que seja «igualdade» ou «semelhan- buirá cópia aos Senhores Ministros.
ça» de atividades ou exercício no servi-
ço público, como exatamente impõe o VOTO
art. 37, parágrafo único, da vigente carta
constitucional. O Sr. Ministro Néri da Silveira (Rela-
De fato, referindo-se o caput do dis- tor): Quanto ao art. 32, parágrafo único, da
positivo citado à obrigatoriedade da Constituição paraibana, a ação não proce-
«existência de lei» («a lei assegurará») de, como bem anotou o parecer da Procu-
propiciadora de tal benefício, não pode radoria-Geral da República, à fl. 69, «pois,
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«Não se sabe, ainda, qual a colo- Pública (CF, art. 131, § 1°, e parágrafo
ração que assumirá a Defensoria Pú- único, do art. 134).
blica nos Estados, pois que a matéria
depende do que vier a ser estipulado De outra parte, é certo, as três procu-
pelas normas gerais a que se refere o raturas «não defendem interesses hie-
parágrafo único do art. 134. rarquizados entre si», anotando, com in-
teira propriedade, o ilustre Professor
O que é certo é que se excluem Diogo de Figueiredo Moreira Neto, no
outras modalidades de assistência ju- trabalho citado, pág. 26: «Nenhum inte-
rídica aos necessitados que não seja resse tem supremacia absoluta sobre os
a da própria defensoria pública. demais: a prevalência de um interesse
qualquer, público, difuso, coletivo ou
Esta detém, com exclusividade, a mesmo individual, depende da natureza
função de orientar juridicamente e de de cada relação. Não se justifica, tam-
defender, em todos os graus, os ne- pouco, sob essa óptica, nem que se dis-
cessitados. Impõe-se, portanto, a crimine, em termos de prerrogativas e
criação da defensoria pública, tanto garantias, seja a advocacia privada da
no âmbito federal, quanto no esta- advocacia pública e, nesta, que se discri-
dual» (op. cit., págs. 245/246). mine funcionalmente qualquer das pro-
curaturas públicas. Ao contrário: o aper-
No que respeita à organização das feiçoamento institucional das funções
Defensorias Públicas, compreendo, por essenciais à justiça há de seguir a linha
igual, que devem ser entidades com au- apontada pelos princípios dessumidos
tonomia, em relação ao Ministério Pú- do ordenamento constitucional, de
blico e à Procuradoria-Geral do Estado, modo a que se obtenha o máximo de
ambas instituições também essenciais à prestância na afirmação de um Estado
função jurisdicional, nos termos da de Justiça». Em outro passo, dentre os
Constituição, cada qual, todavia, com princípios comuns às funções essenciais
atribuições específicas. A Defensoria à Justiça que entende resultarem do tex-
Pública, no patrocínio de direitos de ne- to constitucional, aponta o Professor
cessitados, poderá, ad exemplum, mo- Diogo de Figueiredo a igualdade, que
ver ação contra o Estado, intervindo, «decorre da inexistência de hierarquia
então, a Procuradoria respectiva, na de- entre os interesses cometidos a cada
fesa da pessoa jurídica de direito públi- uma das funções essenciais à Justiça; a
co. Pode a Defensoria Pública defender igual importância das funções determi-
réu em ação cível movida pelo Estado, na a igualdade constitucional das procu-
ou em ações penais patrocinadas pelo raturas que as desempenham» (op. cit.,
Ministério Público. Distintos os domí- pág. 27).
nios de sua atuação, convém sejam ór-
gãos, entre si, não dependentes, na pers- Compreendo, da mesma maneira,
pectiva da hierarquia administrativa. que as carreiras constitucionalmente
Exato é que ambas, a Procuradoria e a previstas, a que incumbe o desempenho
Defensoria, hão de ter, nos Estados, su- das funções essenciais à Justiça, estão,
bordinação hierárquica ao Chefe do Po- de igual modo, abrangidas na norma do
der Executivo, tal como se desenha o art. 135, da Constituição, que se inseriu
modelo federal, no que concerne à Ad- no fecho do Capítulo IV de seu Título
vocacia-Geral da União e à Defensoria IV, com esta redação:
22 R.T.J. — 158
37, XIII, fé-lo de modo direto e claro, Veja-se que, quanto aos membros do
como é exemplo patente a norma do art. Ministério Público, sequer lhes esten-
73, § 3°, que estendeu aos Ministros do deu a Constituição o regime de remune-
Tribunal de Contas da União «as mes- ração dos magistrados, previsto no refe-
mas garantias, prerrogativas, impedi- rido art. 93, V, embora o tivesse feito no
mentos, vencimentos e vantagens dos respeitante aos regimes de promoção
Ministros do Superior Tribunal de Jus- (inc. II) e de aposentadoria (VI), confor-
tiça», não bastando, pois, argumentar me previsto no art. 129, § 4°.
com a remissão que o art. 135 faz ao art. A mesma coisa é de dizer-se relativa-
39, par. 1°, para concluir-se que as car- mente à norma do art. 241, que dispõe,
reiras mencionadas no primeiro tiveram verbis:
seus vencimentos equiparados.
Tendo em vista a óbvia subordinação «Art. 241. Aos delegados de
lógica do § 1°, em questão, à norma do polícia de carreira aplica-se o princí-
caput do art. 39, que — inserido em pio do art. 39, § 1°, correspondente às
outro Título (o III, que trata da Organi- carreiras disciplinadas no art. 135
zação do Estado), em seção específica desta Constituição.»
dedicada aos «Servidores Públicos Com efeito, se resultou demonstra-
—, ordena a instituição, pelos entes do, pelo raciocínio acima desenvolvido,
políticos, de «regime jurídico único e que, do texto do art. 135, não se pode
planos de carreira para os servidores da recolher a interpretação de haverem sido
administração pública», quis o legisla- equiparadas as carreiras nele indicadas,
dor, tão-somente, deixar estreme de dú- é curial que, pela mesma razão, não há
vida, que as carreiras disciplinadas na vislumbrar-se equiparação automática
própria Carta, também elas, estão jungi- dos integrantes da carreira de Delegados
das aos princípios da paridade, parago- de Polícia com os Magistrados, Mem-
nada pela remuneração paga pelo Poder bros do Ministério Público, Procurado-
Executivo, e da isonomia propriamente res Judiciais, inclusive os da União, e
dita. Não há ver, aí, qualquer redundân- Defensores Públicos. O entendimento
cia capaz de afastar essa interpretação, que, aqui, de igual modo, se impõe, é o
porquanto, uma coisa é a Constituição de que aos Delegados de Polícia tam-
mandar organizar planos de carreira bém se aplicam os princípios da parida-
pata os servidores da administração pú- de e da isonomia previstos no referido
blica, com observância dos princípios art. 39, § 1°, observadas, obviamente, no
da paridade e da isonomia; outra coisa é que couberem, as regras aplicáveis às
a própria Carta organizar carreiras fun- carreiras apontadas no art. 135. Reforça
cionais, quando também lhe era dado o entendimento exposto, a circunstância
dispor especificamente sobre os respec- de a carreira de Delegados de Polícia
tivos regimes de remuneração, faculda- não haver sido sequer incluída entre
de de que, todavia, não se utilizou, senão aquelas cujas funções foram considera-
no concernente à carreira de magistra- das «essenciais à Justiça», inexistindo
dos (art. 93, V), remetendo as demais razão para que, por via de interpretação
para o regime do referido art. 39, § 1°, abrangente, de todo descabida na espé-
próprio dos servidores públicos em ge- cie, se retire do mencionado art. 241
ral, cujos planos de carreira foram con- uma equiparação ainda mais esdrúxula
fiados ao legislador ordinário. e desafinada.
26 R.T.J. — 158
No art. 39, § 1°, como já restou assen- acima alvitrado, ao elaborar os disposi-
tado, está consagrada a isonomia geral, tivos impugnados na inicial, a partir do
consubstanciadora de princípio em ra- art. 273 da Constituição mineira. Reme-
zão do qual deverão ser contemplados, more-se-lhe o texto:
com a mesma remuneração, os cargos de «Art. 273. Para cumprimento
atribuições iguais e os cargos asse- do disposto no art. 131, é assegurada
melhados. isonomia de remuneração entre os
Trata-se de norma dirigida ao legis- cargos finais das carreiras do Minis-
lador, como declarado em seu próprio tério Público, de Procurador do Esta-
texto. Serve-lhe de baliza, na missão que do, de Procurador da Fazenda Esta-
é de sua exclusividade, de eleger os cri- dual, de Defensor Público e de Dele-
térios identificadores dos cargos de atri- gado de Policia, observada a diferen-
buições iguais e dos cargos assemelha- ça não excedente a dez por cento de
dos, para fins de remuneração. Age ele, uma para outra classe das respectivas
nesse mister, com inteira discricionarie- carreiras.»
dade.
Conquanto faça menção à isonomia,
Conforme adverte o eminente Minis- o que estabeleceu o dispositivo sob en-
tro Xavier de Albuquerque, no valioso foque foi uma equiparação das carreiras
memorial oferecido, tais critérios são indicadas, aliada a uma vinculação dos
virtualmente inumeráveis, não havendo respectivos cargos, como não deixa dú-
rol, que deles se faça, que se possa con- vida a instituição de uma gradação per-
siderar completo e exauriente. centual de salários por categoria funcio-
Por isso, encontra-se o Poder Judi- nal.
ciário, em princípio, tolhido de subme- Registre-se que a Assembléia Legis-
ter a seu controle os critérios que o le- lativa, para elaborar a Carta estadual,
gislador utilizou, para convencer-se de não foi investida senão de poder consti-
que determinado cargo atende aos pres- tuinte derivado, a ser exercido, no caso
supostos do tratamento isonômico. Res- específico em tela, nos estritos limites
salvam-se, apenas, eventuais situações da delegação contida no art. 11 do
em que se veja diante de quadro nítido ADCT/88, como já reiteradamente as-
de ultrapassagem dos limites da discri- sentado pelo STF, vale dizer, com ob-
cionariedade e de flagrante invasão dos servância dos princípios da Constitui-
domínios do arbítrio com configuração ção Federal delegante, entre os quais se
de hipótese de equiparação pura e sim- insere, como já reiteradamente assenta-
ples, onde o descabimento de isonomia do nesta Corte, o da proibição das vin-
se mostra patente. culações e equiparações de cargos pú-
Daí ser imperioso ao legislador agir blicos, para fim de remuneração.
de molde a deixar bem claro que não foi Mas, se assim não fosse, bastaria,
movido pelo propósito de equiparar ou para a declaração de invalidade do texto
de vincular cargos, mas de dispensar- apreciado a circunstância de regular ele
lhes tratamento igualitário ou partidário, matéria inteiramente estranha ao texto
em face da identidade de atribuições ou da Constituição. Na verdade a Consti-
de sua assemelhação. tuição «institui as vigas mestras do Es-
Um exame dos autos demonstra não tado, efetua a repartição das funções
haver o legislador procedido do modo estatais entre os Poderes, proclama os
R.T.J. — 158 27
no, realizada em 2 de maio de 1991 (Ata n° Barata, que limitavam os cálculos aos
8), que determinou... valores necessários ao pagamento das
liminares.» (fls. 2/3).
«o pagamento, a partir de janeiro
de 1992, do reajuste de 84,32%, rela- Ressalta, o Requerente, o caráter norma-
tivo à variação do IPC de março de tivo do ato impugnado e a sua incompatibi-
1990, extinto pela Medida Provisória lidade com o disposto nos artigos 37, X e
n° 154, de 15-3-90, convertida na Lei 96, II, b, e ainda nos artigos 5°, XXXVI, 37,
n° 8.030, de 12-4-90, com a inclusão XV e 95, III, todos da Constituição Fe-
do cálculo dos recursos suficientes a deral.
esse pagamento na Proposta Orça- Examinando questão de ordem suscita-
mentária relativa ao exercício de da pelo então Relator, eminente Ministro
1992» (transcrito da inicial à fl. 2). Sepillveda Pertence, bem como a liminar
requerida pelo Procurador-Geral da Repú-
Eis o teor da citada Decisão Administra- blica, este Plenário, por votação unânime,
tiva: em sessão de 18 de setembro de 1991:
«Posteriormente, o Senhor Presiden- não conheceu da ação, no ponto
te pronunciou-se a respeito do percen- em que impugna a determinação do Tri-
tual de 84,32%, objeto de Medidas Li- bunal Regional Federal da 2' Região, no
minares deferidas por Juízes Federais sentido do cumprimento de medidas li-
vinculados ao Tribunal, matéria já sub- minares já deferidas;
metida à apreciação do Conselho de Ad-
ministração em 30-11-90, quando deter- conheceu da ação, quanto ao
minou-se o encaminhamento dos pro- mais;
cessos administrativos dessa natureza c) deferiu a medida cautelar para
ao Egrégio Conselho da Justiça Federal, suspender a norma contida na ordem
solicitando abertura de crédito especial genérica de «pagamento do percentual
ou suplementar para o atendimento das de 84,32% a todos os servidores da Jus-
requisições. Informou, ainda, estarem
retornando ao Tribunal os processos que
r
tiça Federal da Região, inclusive Juí-
zes e Desembargadores». Votou o pre-
haviam sido remetidos àquele Órgão, sidente.» (fl. 30).
sob a alegação de não haver verba. Em
seguida, propôs que se incluísse, na pre- As informações de fls. 39/40 sustentam
visão orçamentária para o exercício de que o Tribunal Regional não concedeu o
1992, a ser levada a efeito no mês de aumento de 84,32%. Limitou-se à previsão
maio, o pagamento das liminares conce- administrativa, necessária ao atendimento
didas. Após discussão do assunto, o Tri- de futura decisão que viesse a reconhecer o
bunal decidiu, por maioria, determinar a direito questionado.
inclusão, na Proposta Orçamentária, do Às fls. 59/66, por atribuir, à decisão
cálculo referente a recursos suficientes impugnada, a índole de ato concreto (não
ao pagamento do percentual de 84,32%, de ato normativo), pede o ilustre Subprocu-
a todos os servidores da Justiça Federal rador-Geral da República, então no exercí-
da 2' Região, inclusive Juízes e Desem- cio da função prevista no § 3° do art. 103
bargadores, a ser efetuado a partir de da Constituição, «seja declarada a inadmis-
janeiro de 1992. Vencidos os Desem- sibilidade da ação direta formulada tendo
bargadores Federais Ney Valadares, em vista a notória inidoneidade do objeto»
Clelio Erthal, Valmir Peçanha e Paulo (fls. 65/6).
R.T.J. — 158 31
município — com a União e o Estado- de agir na ação direta sempre que haja uma
membro a que pertencem. lei, uma norma existente, e vigente — ou,
Assim, pela generalidade dos efeitos segundo o máximo da concessão a que
normativos que irradia, a criação do muni- chegou a jurisprudência do Tribunal, que,
cípio não é ato que se esgote em si mesmo, embora não vigente, tenha produzido efei-
mas dado inovador, com força prospectiva, tos: se há essa realidade jurídica, para des-
de todo o complexo normativo em que se fazê-la por vício de inconstitucionalidade,
insere. há sempre utilidade e necessidade da ação
direta, no que se consubstancia o interesse
Com essas breves considerações — que processual.
procurei desenvolver em outra oportunida-
de —, rejeito, pois, a primeira preliminar. Rejeito as preliminares de inépcia e de
falta de interesse de agir.
VOTO
VOTO
(S/prel. de inépcia da inicial
e de falta de interesse de agir) O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence
(Relator): Sr. Presidente, no mérito, as in-
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence formações e arrazoados produzidos não
(Relator): Rejeito igualmente as prelimina- abalaram a convicção que formara, à pri-
res aventadas pelas informações da Procu- meira delibação da causa, expressa no voto
radoria-Geral do Estado, encaminhadas condutor do acórdão sobre o pedido cau-
pelo Senhor Governador, que, de resto, no telar.
que têm de inteligíveis, confundem-se com
o mérito. Improcedem os dois fundamentos co-
muns da pretendida inconstitucionalidade
A petição inicial realmente não é inepta. de ambas as leis impugnadas. Disse naque-
Saber se procede ou não a inconstituciona- la oportunidade, a propósito da alegada
lidade argüida não diz com a higidez lógica. ofensa ao art. 16 da Constituição:
da petição — que afirma a inconstituciona-
lidade e lhe pede a declaração —, mas, sim, «Segundo o art. 16 da Constituição
com a procedência do pedido. Federal, 'a lei que alterar o processo
eleitoral só entrará em vigor um ano
De sua vez, interesse processual de agir, após a sua promulgação'».
se é categoria a que se queira atribuir qual-
quer pertinência ao processo objetivo do Nada tem o preceito a ver com a
controle abstrato de normas, nele há de criação de municípios.
reduzir-se à existência e à vigência, ou, O surgimento de novos municípios,
pelo menos, à subsistência de efeitos da lei na medida em que acarreta a realização
questionada. E tudo isso, no caso, é incon- nele de eleições municipais próprias, in-
testável. terfere no processo eleitoral, enquanto
Em longa dissertação, sustenta-se que fato histórico em desenvolvimento.
só estão em jogo interesses políticos das Por isso, a lei que o regula preocu-
comunidades envolvidas, com reflexos pou-se de evitar que a superveniência de
eleitorais, e que não haveria nenhum inte- novos municípios, quando já em curso
resse jurídico a proteger, etc. Mas, se se o processo eleitoral deste ano viesse a
quer transpor, para o processo objetivo do tumultuar o calendário, fazendo-o cami-
controle abstrato, as categorias das condi- nhar para trás, reabrindo fases supera-
ções de ação do processo civil, há interesse das. Nesse sentido, depois de fixar em
R.T.J. — 158 41
O segundo fundamento diz com a pre- sentido de que a população a ser consultada
tendida necessidade de que a consulta às era a da área desmembranda, da área cuja
populações interessadas, determinada no população aspira a autonomia municipal.
art. 18, § 4°, como pressuposto à criação de Lembro o caso em que o tema foi enfren-
municípios, deveria abranger não apenas o tado, especificamente: a RP n° 1.269, de 30
eleitorado da área a desmembrar, mas, tam- de outubro de 1985, relator o eminente
bém, o da área do território remanescente Ministro Néri da Silveira, com a seguinte
do Município-mãe, segundo o hermafrodi- ementa:
tismo constitucional, que se consagrou.
«Representação. Argüição de in-
Ao repelir a relevância da tese no julga- constitucionalidade da Lei n° 839, de
mento cautelar, limitei-me a anotar: 13-5-1985, do Estado do Rio de Janeiro,
«Segue-se, na fundamentação da de- que criou o município de Arraial do
manda, a alegação de que, por força do Cabo, desmembrando-o do município
art. 18, § 4°, CF, a consulta prévia às de Cabo Frio, RJ. Constituição Federal,
populações interessadas, que ali se de- art. 14. Lei Complementar n° 1, de 1967,
termina para a criação de municípios, modificada pela Lei Complementar n°
teria de compreender não apenas a das 32, de 1977, arts. 3° e 5°. Não se reserva
áreas emancipandas, mas também a do qualquer espaço à legislação estadual
território remanescente do Município- para dispor sobre a consulta plebiscitá-
mãe. ria. Nela não se incluem as populações
A tese — não obstante o respaldo de do Município-mãe, residentes fora da
autores de tomo —, já foi repelida pelo respectiva área a desmembrar-se. Tam-
Tribunal, sob a ordem constitucional vi- bém não se exige consulta prévia à Câ-
gente, ao menos como bastante a reco- mara Municipal do município de ori-
mendar a suspensão cautelar das leis gem, ou sua aprovação, para criar, com
estaduais em contrário (ADIn 478, Vel- área dele desmembrada, o novo municí-
loso — vencido — 9-5-91), que tem por pio. No caso concreto, não há inconsti-
si a jurisprudência assentada do Tribu- tucionalidade da Lei impugnada, em
nal Superior Eleitoral (v.g., MS 1.479, virtude de a consulta plebiscitária não se
Boda, 14-5-91).» haver estendido à população de todo o
Município de Cabo Frio, mas, apenas, à
Agora, no julgamento definitivo, Sr. do Distrito de Arraial do Cabo, que
Presidente, embora a urgência solicitada constituía a área emancipanda. Tam-
pelas partes, com razão, não me haja per- bém, não invalida a Lei estadual citada
mitido desenvolver melhor o meu raciocí- o fato de a Câmara Municipal de Cabo
nio, entendo que é de manter-se a orienta- Frio não ter sido consultada, em termos
ção firmada sob a ordem constitucional de aprovação da criação do novo Muni-
anterior. cípio. Quanto ao art. 7°, da Lei flumi-
É certo que o art. 18, § 4°, deu alento aos nense n° 839/1985, a representação é de
defensores da tese contrária, quando se re- ser tida como prejudicada, em face de
fere a «populações diretamente interes- sua revogação pela Lei n° 876/1985, do
sadas». Essa forma verbal, no entanto, já mesmo Estado, sem que do dispositivo
era utilizada, não na Constituição, mas na remanescesse qualquer efeito. Inconsti-
Lei Complementar n° 1, e, não obstante, a tucional é, entretanto, o art. 4°, da Lei
jurisprudência do Tribunal, sob a vigência estadual n° 839/1985, em face do art.
da Carta de 69, manteve-se invariável no 144, § 5°, da Constituição Federal, por
R.T.J. — 158 43
30. No meu voto-vista, contudo, que pode opor-se — e nessa linha parece
compôs a maioria, tive a oportunidade situar-se o raciocínio de sustentação do
de sustentar que a apuração conjunta ato impugnado —, que o distrito, mera
não era a mais adequada à concretização divisão administrativa do município,
dos ditames do art. 18, § 4°, da Consti- não tem personalidade jurídica, de
tuição Federal. modo a que ao seu eleitorado se pudesse
31.. Assinalei, então. reconhecer identidade política própria
«A Lei Fundamental, art. 18, § 4°, Esto modus in rebus. Enquanto in-
exige «consulta prévia, mediante plebis- tegrado ao município a criatura dele
cito, às populações diretamente interes- (CF, art. 30, IV), é certo que o distrito é
sadas » não apenas para a criação stricto mera circunscrição territorial para fins
sensu de municípios, pela chamada administrativos e o seu eleitorado não
emancipação de distritos, mas também, passa de parcela, juridicamente indistin-
além de qualquer modalidade de des- ta, do eleitorado municipal.
membramento, para a fusão ou a incor- A mim me parece, contudo, que, no
poração de municípios preexistentes. processo de criação de município, quan-
E, para todas essas hipóteses, impõe do a área do distrito sirva de demarcação
«consulta às populações diretamente in- da área emancipanda, não o distrito, mas
teressadas»: assim, no plural, forma ver- o eleitorado distrital se diferencia e ga-
bal que tem gerado inconclusa polêmica nha identidade própria como órgão co-
doutrinária sobre a necessidade ou não letivo de manifestação da vontade da
de consulta à população de todo o mu- população diretamente interessada.
nicípio-mãe, em caso de criação de mu- Se assim é, quando se trata de eman-
nicípio novo por desmembramento par- cipação de um único distrito, não vejo
cial do seu território (v.g., pela resposta como negar a mesma identidade política
afirmativa, Geraldo Ataliba, RDP 75/62 à população de cada um deles, quando
e RDP 98/102; em sentido contrário, se cuida de somá-los para a formação do
José Nilo de Castro, Direito Municipal território de um município novo.
Positivo, Del Rey, pág. 46). Ademais, em tema onde a Constitui-
O que é incontroverso, no entanto, e ção Federal primou por dar relevo à
a ninguém ocorreria sustentar o contrá- manifestação plebiscitária, dissolver,
rio nas hipóteses flagrantes da fusão de em um único eleitorado, os cidadãos de
municípios diversos ou da incorporação distritos diversos, de modo a impor à
de um município a outro, que a consulta população de um a vontade do outro, é
às distintas «populações diretamente in- artifício que, freqüentemente, dissimu-
teressadas» há de fazer-se separadamen- lará fraude às inspirações de democracia
te, guardando cada qual, no plebiscito a direta a que, no particular, se rendeu a
sua identidade política em relação às Constituição.
demais, sob pena de dissimular-se, sob De fato. Na formação de município
as formas constitucionais admissíveis, a novo pela junção de distritos diversos, o
inadmissível anexação de um município caráter de verdadeira emancipação polí-
pela vontade unilateral da população de tica, na realidade, só se ajusta à popula-
outro. ção daquele em que se situará a futura
À aplicação do mesmo critério a hi- sede municipal; para o outro ou os de-
pótese de distritos diversos, é certo, mais o de que realmente se trata é de
46 R.T.J. — 158
Certo, se não se entende, como entendo tra lei que apontou o prazo, em si, para essa
eu, que a exigência de apuração isolada em criação, se não me falha a memória, a Lei
cada distrito dimana da própria Constitui- n° 1.991.
ção Federal, a questão se reduziria à inter-
pretação do direito local. Isso não impede,
Sr. Ministro Sepúlveda Pertence:
Consideraria o problema, se essencial à
porém, que a decisão a respeito incumba à
conclusão do meu voto. Nesse ponto, que é
Justiça Eleitoral. Nada impede, no sistema
comum à impugnação de ambas as leis,
brasileiro, que uma Justiça federal aplique
realmente, a defesa da Assembléia Legisla-
direito local ou vice-versa.
tiva percebeu a questão e a suscitou, de que
Se errou, no caso, o TRE — o que supo- então inconstitucional seria a lei comple-
nho para argumentar — na interpretação da mentar e não a leis de criação dos municí-
lei complementar mineira sobre o tema, é pios. De todo o modo, contudo, subsistiria
problema a ser decidido pela Justiça Elei- ainda, comum às duas leis criadoras ques-
toral mesma. E, como demonstrado, quan- tionadas, outro fundamento, o que não in-
do se repeliu a representação, a matéria se duziria, portanto, à inépcia da petição ini-
tomou preclusa no âmbito da Justiça Elei- cial: ainda que se desprezasse, pois, esse
toral. Ora, preclusa a matéria do resultado segundo fundamento, o outro — que não
de determinado plebiscito, creio que é do houve a consulta à população do Municí-
próprio sistema constitucional que resulta pio-mãe — também atingiria ambos diplo-
a impossibilidade de a Assembléia impor, mas.
neste ponto, o seu juízo ao do Tribunal
Regional Eleitoral. Sr. Ministro Marco Aurélio: De
qualquer forma, o Tribunal já assentou que
Compreendo a angústia dos grupos in- estamos diante de atos normativos.
teressados nas emancipações, aos quais
atendi, hoje, com esse voto atropelado, ape- Sr. Ministro Sepúlveda Pertence:
nas para não deixar inconcluso este proces- Existindo, ou não, a lei complementar, se-
so, o que importaria impedir as eleições do gundo a tese da petição inicial, a criação de
corrente ano, ainda que o Plenário viesse a município neste ano afetaria o art. 16 da
decidir contrário a minha opinião. Constituição.
Mas, Sr. Presidente, não vejo alternativa O Sr. Ministro Moreira Alves: Mas aí
senão — na linha, de certo modo preanun- teríamos que declarar inconstitucional inci-
ciada no voto liminar —, a de julgar proce- dentemente a lei complementar.
dente, em parte, a ação direta, para declarar
inconstitucional a Lei n° 10.703: é o meu Sr. Ministro Sepúlveda Pertence:
voto. Como a criação tem forma de lei, suposta a
procedência de invocação do art. 16, ela
VOTO seria inconstitucional, independente da
existência ou não da lei complementar. De
O Sr. Ministro Marco Aurélio: A esta qualquer maneira, a certo, repito, é que a
altura, Senhor Presidente, tenho até mesmo preliminar suscitada não levaria a resulta-
dúvidas, muito embora já haja ocorrido a dos diversos, porque, ainda com relação à
proclamação quanto à viabilidade da ação impugnação global das duas leis, subsisti-
direta de inconstitucionalidade, no que ata- ria sempre um fundamento, esse inequivo-
ca apenas as leis que criaram os municí- camente de inconstitucionalidade direta e
pios, isto por não se proceder, nesta ação, suficiente, que é a tese da consulta ao Mu-
de idêntica forma, relativamente àquela ou- nicípio-mãe.
48 R.T.J. — 158
O Sr. Ministro Moreira Alves: A de- atacados conflitam como que se contém no
claração seria incidente, e só seria feita, art. 16 da Lei Básica Federal.
mesmo em ação in abstrato, quando neces- A matéria seguinte, relativa à consulta
sária. às populações interessadas, cheguei a en-
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: frentá-la em determinado processo em que
No mérito, o terceiro, fundamento, que é se questionava a concessão, ou não, de
exclusivo da Lei n° 10.703, é que me parece cautelar. Creio que é a primeira vez que
decisivo. voto no julgamento de fundo de uma ação
direta de inconstitucionalidade. Devo evo-
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor luir, Senhor Presidente, porque convencido
Presidente, muito embora a matéria já este- do contrário do que assentara anterior-
ja suplantada, vejo que não me fiz entender. mente.
A dúvida que me assaltou diz respeito à
natureza, em si, dos atos atacados nesta O § 4° do artigo 18, dispõe:
ação direta de inconstitucionalidade. Se são «A criação, a incorporação, a fusão e
atos realmente normativos, a partir da cir- o desmembramento de Municípios pre-
cunstância de se ter a respaldar esses atos a servarão a continuidade e a unidade his-
própria lei complementar, no que autorizou tórico-cultural do ambiente urbano, far-
a criação dos municípios. Contudo, esta se-ão por lei estadual, obedecidos os
questão está superada, porque houve a pro- requisitos previstos em lei complemen-
clamação, e aderi ao voto do Ministro-Re- tar estadual, e dependerão — vem a
lator, tendo em vista até mesmo a jurispru- parte que está em questão — de consulta
dência da Corte. prévia, mediante plebiscito, — e aí te-
mos uma expressão com sentido pró-
Na hipótese, houve, no ano alusivo às prio, com alcance próprio — às popula-
eleições, a criação, por desmembramento, ções diretamente interessadas.»
de municípios. Indaga-se: essa criação não
repercute no processo eleitoral, que nor- Indaga-se: a população da área que, uma
malmente ocorreria caso permanecessent vez feito o desmembramento, será a área
os municípios com a área geográfica primi- remanescente, não é diretamente interessa-
tiva e com os próprios eleitores? Senhor da nesse desmembramento? A meu ver,
Presidente, confiro ao art. 16 da Constitui- sim. Não se tem como população interessa-
ção Federal, no que preceitua que «a lei que da apenas a da área a ser desmembrada,
alterar o processo eleitoral só entrará em devendo-se considerar, também, a popula-
vigor um ano após sua promulgação», um ção que remanescerá.
alcance maior. Tenho a lei referida no arti- Peço vênia, Senhor Presidente, para, no
go como qualquer diploma que, de alguma caso, concluir de forma diversa do voto do
forma, repercuta no processo eleitoral. E, nobre Ministro-Relator. A consulta há de
no caso, se ocorre o desmembramento de se fazer, consideradas as populações das
determinado município, a meu ver, aí, ten- áreas envolvidas e não apenas à população
do em vista esse sentido lato, a repercussão da área a ser desmembrada. Este é o senti-
é evidente. Considerados não só os eleito- do, no meu ponto de vista, do § 4° do artigo
res, em si, como também os candidatos e a 18 da Constituição Federal, e tenho presen-
performance desses candidatos frente aos te que o objetivo maior do preceito não é
mesmos eleitores, há uma repercussão. pulverizar os municípios, não é incentivar
Nesta parte, peço vênia ao nobre Ministro- a multiplicação de municípios, mas atender
Relator, para concluir que os dois diplomas à vontade soberana dos eleitores, das popu-
— 158 49
Registro: «da população diretamente in- ambiente urbano são pressupostos da ad-
teressada.» missibilidade da consulta prévia e, conse-
No que toca à criação de Municípios, a qüentemente, à validade mesma do plebis-
Constituição dispôs diferentemente, no pa- cito. Se a emancipação projetada afeta a
rág. 4° do mesmo artigo 18: continuidade geográfica ou mesmo a uni-
dade histórico-cultural, o Município-mãe
«Parág. 4° — A criação, a incorpo- pode se opor por todas as vias processuais
ração, a fusão e o desmembramento de adequadas à própria realização do plebisci-
Municípios preservarão a continuidade to ou, realizado este, à sua validade. Mas,
e a unidade histórico-cultural do am- uma vez demonstrada pela comunidade,
biente urbano, far-se-ão por lei estadual, que se quer emancipar, que reúne os pres-
obedecidos os requisitos previstos em supostos positivos estabelecidos na lei
lei complementar estadual, e depende- complementar e que não se lhe pode opor
rão de consulta prévia, mediante plebis- esses impeditivos da emancipação, então,
cito, às populações diretamente interes- «população diretamente interessada» já
sadas.»
não o será a do Município-mãe: aí, admis-
Verifica-se, portanto, que a Constitui- sível em tese, a criação do município, con-
ção deu tratamento diferenciado à criação tra, ou a favor dela, se manifestará aquela
de Estados e à criação de Municípios. É população que diretamente será atingida,
que, no tocante à criação de Municípios, a porque deixará de ser integrada a um deter-
Constituição deixa expresso que hão de ser minado município para vincular-se àquele
preservadas «a continuidade e a unidade a ser criado. Só assina, de resto, se explica
histórico-cultural do ambiente urbano». a existência do interesse direto, inovação
Daí a necessidade de ser consultada a po- da Constituição de 88.
pulação de todo o Município e não apenas O Sr. Ministro Carlos Venoso: O ar-
a população da área a ser desmembrada. gumento de V.Exa., Sr. Ministro Sepúlve-
Bem por isso a Constituição deixou expres- da Pertence, é respeitabilíssimo, é consis-
so, no parág. 4°, do art. 18, que a consulta, tente. O voto de V.Exa. contém uma densi-
mediante plebiscito, seria feita «às popula- dade de argumentos jurídicos impressio-
ções diretamente interessadas» e não, como nante, mas me permito perseverar no enten-
fez, referentemente à criação de Estados, à dimento; e vou acrescentar um outro argu-
«população diretamente interessada.» mento: sou homem do interior de Minas.
Quer dizer, no parág. 3°, população está no No meu Município natal, quando houve
singular, já no parág. 4°. lemos «popula- desmembramento, sentimos na carne o pro-
ções.» blema. Dou um argumento a mais: investi-
mentos são feitos nos distritos com o im-
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence posto arrecadado de todos os munícipes. É
(Relator): V. Exa me permite, apenas para natural, portanto, que esses munícipes se-
enfatizar o ponto em que já toquei no meu jam chamados a opinar no plebiscito.
voto, oue tive de improvisar pelas razões de
urgência que expliquei. Sr. Presidente, com essas brevíssimas
considerações, peço licença ao Sr. Ministro
O argumento de V.Exa. é inteligente. Relator para dar pela inconstitucionalida-
Parece-me, porém, que, no contexto do pa- de, também, da Lei n° 10.704. No que toca
rág. 4° do art. 18, essa preservação da con- à Lei n° 10.703, já deixei expresso que
tinuidade e da unidade histórico-cultural do acompanho S. Exa., o Sr. Ministro Relator.
R.T.J. — 158 51
para criar, com área dele desmembra- Com estas considerações, e tendo pre-
da, o novo município.» (Rp n° 1.269-7- sentes os fundamentos do erudito voto pro-
RJ, Rel. Min Néri da Silveira, DJ de ferido pelo eminente Relator, acompanho
18-12-87). S. Exa., para declarar a inconstitucionalida-
de, tão-somente, da Lei n° 10.703/92 do
Outro aspecto de sumo relevo envolve o
Estado de Minas Gerais.
reconhecimento de que não compete à As-
sembléia Legislativa impor a sua vontade à É o meu voto.
Justiça Eleitoral na direção, supervisão e
proclamação dos resultados emergentes da VOTO
consulta plebiscitária. O Sr. Ministro Octavio Gallotti: Sr.
O plebiscito — enquanto instrumento Presidente, quando vigorava o art. 14 da
de participação popular no processo de ins- Constituição de 1967, que já mencionava
titucionalização dos Municípios — traduz no plural essa palavra «populações», sem
matéria intimamente vinculada à prática da que ali se contivessem o adjetivo e o advér-
cidadania e ao exercício dos direitos políti- bio, «diretamente interessadas» (art. 18, §
cos, que configuram categorias temáticas 4°, da Carta de 1988), já considerava, a
constitucionalmente reservadas à discipli- jurisprudência do Supremo Tribunal Fede-
na normativa da União, afetas, no âmbito ral, que só a população do distrito desmem-
dessa pessoa estatal, e no que concerne ao brado deveria ser convocada ao plebiscito.
processo de sua concretização, à competên- Com a nova Constituição, que acrescen-
cia exclusiva da Justiça Eleitoral. tou essa expressão «diretamente interessa-
das», parece-me, Sr. Presidente, que o acer-
Não cabe à Assembléia Legislativa, nes- to dessa jurisprudência ficou ainda mais
se contexto, superpor-se ou substituir-se à evidente, porque população diretamente in-
própria Justiça Eleitoral, para, com eviden- teressada só pode ser, penso eu, aquela do
te usurpação da competência constitucio- distrito, de cujo desmembramento se cogi-
nal desse órgão do Poder Judiciário da ta. Indiretamente interessada seria a do mu-
União, reconhecer, como satisfatórios, re- nicípio matriz.
sultados emergentes da consulta plebiscitá-
ria que, por não haverem alcançado o quo- Então, com essas considerações, em vir-
rum imposto pela lei, deixaram de ser ho- tude das quais já votei no mesmo sentido
mologados pela única instituição estatal do eminente Relator, quando juiz do Tribu-
investida dessa prerrogativa — a Justiça nal Superior Eleitoral, acompanho o voto
Eleitoral. de S. Exa.
Eleitoral continuava com competência para se vem repetindo no Rio Grande do Sul: a
presidir ao plebiscito destinado à criação de disputa, pela emancipação de Ana Rech, com
município e, também, para decidir a respei- Caxias do Sul. Em Ana Rech, ocorreu a mani-
to dos resultados do plebiscito. Recordo festação de quase 90% da população, em ple-
que se tratava de ação direta de inconstitu- biscito, no sentido da emancipação desse dis-
cionalidade de lei do Estado do Rio de trito importante, que possui todas as condições
Janeiro, em que se criava forma de controle para constituir um município, sem dúvida
do plebiscito, por via diversa da prevista na alguma. Por último, tem sido invocado esse
Lei Complementar n° 1. Assim sendo, aspecto novo, qual seja, resultaria com o
acompanho o Senhor Ministro Relator na município de Ana Rech uma descontinui-
declaração de inconstitucionalidade da Lei dade no ambiente urbano, inclusive porque
10.703, que cria 13 municípios e desatende o próprio transporte urbano de Caxias do
à decisão do Tribunal Regional Eleitoral. Sul deveria cortar área territorial do novo
Por igual, acompanho o ilustre Ministro município, em ordem a atingir outros distri-
Relator na parte em que S. Exa. afirma que tos que continuariam integrados a Caxias do
a consulta plebiscitaria há de se fazer ape- Sul. De outra parte, aquele núcleo urbano
nas às populações das áreas que, em princí- estaria intimamente ligado à história e à
pio, deverão compor o novo município. Essas cultura da região que compõe o município
são as populações interessadas no desmem- de Caxias do Sul.
bramento e não a população de todo o muni- Portanto, cuida-se, aí, de questão distin-
cípio. Imagine-se situação em que se preten- ta, que nada tem a ver com o plebiscito e
da —como já ocorreu, não faz muito, no Rio pode ser considerada, autonomamente, em
de Janeiro e também em Porto Alegre, — relação à consulta plebiscitaria. Cabe, mes-
desmembramento de área urbana para com- mo depois de se realizar o plebiscito, com
por um novo município e toda a população resultado favorável, à Assembléia Legisla-
da capital haja de se pronunciar. O que se faz tiva decidir, definitivamente, se cria, ou
mister é que a área desmembranda seja per- não, o município. Se deliberar, positivamen-
feitamente delimitada; isso é imprescindível. te, promulga a lei de criação do Município.
Então, a população que se compreende nessa Certo está que essa lei pode ser impugnada
área, que está para se desmembrar, é a popu- em ação direta de inconstitucionalidade, exa-
lação interessada no desmembramento. tamente porque o novo município não aten-
O requisito novo — que não constava da deu a esse pressuposto constitucional da
legislação anterior —, quanto a ser resguar- preservação da continuidade e da unidade
dada a identidade, ut art. 18, § 4°, da CF, histórico-cultural do ambiente urbano.
com a preservação da «continuidade e da Dessa maneira, também, recordando
unidade histórico-cultural do ambiente ur- precedentes da Corte, na Representação n°
bano», é, sem dúvida, com a devida vênia, 1.269 e na ADIn 478, acompanho o voto do
requisito de ordem objetiva, pressuposto eminente Ministro Relator.
objetivo que deve ser considerado pela As-
sembléia Legislativa, no momento em que VOTO
delibera sobre a autorização, ou não, para o O Sr. Ministro Moreira Alves: Sr. Pre-
plebiscito com vistas à criação do municí- sidente, com a devida vênia dos que enten-
pio. Ela pode, preliminarmente, entender dem em contrário, acompanho o eminente
que não está satisfeito esse requisito para Relator, também dando pela procedência
os efeitos do desmembramento da área. parcial da ação direta de inconstitucionali-
Isto, aliás, tem sido invocado num caso que dade.
54 R.T.J. — 158
a qualidade de objeto idôneo para o contro- belecidos na lei a que as espécies regula-
le normativo abstrato perante o Supremo mentares se referem, verbis:
Tribunal Federal. «A jurisprudência do Supremo Tri-
A ação direta de inconstitucionalidade bunal Federal tem-se orientado no sen-
não se revela instrumento hábil ao controle tido de repelir a possibilidade de con-
da validade de atos normativos de caráter trole jurisdicional de constitucionalida-
infralegal, quando cotejados estes em face de, por via de ação, nas situações em que
da lei sob cuja égide foram editados, ainda a impugnação in abstracto incide sobre
que, num desdobramento ulterior, se esta- atos que, inobstante veiculadores de
beleça, mediante prévia aferição da inob- conteúdo normativo, ostentam caráter
servância dessa mesma lei, o confronto meramente ancilar ou secundário, em
conseqüente com a Constituição Federal. função das leis (...) a que aderem e cujo
texto pretendem regulamentar. Em tais
O desrespeito à lei não pode funda- casos, o eventual extravasamento dos
mentar, pois, um juízo de inconstitucio- limites impostos pela lei (...) caracteri-
nalidade. A inconstitucionalidade que au- zará situação de mera ilegalidade, ina-
toriza o exercício do controle concentrado preciável em sede de controle concen-
é apenas aquela decorrente da incompatibi- trado de constitucionalidade.
lidade frontal e direta com o Texto Maior.
Assim é que esta Corte, já no ordenamento Crises de legalidade, que irrompem
constitucional anterior, proclamava, ver- no âmbito do sistema de direito positivo,
bis: caracterizadas por inobservância, pela
autoridade administrativa, do seu dever
«Representação de inconstitucio- jurídico de subordinação normativa à
nalidade. Conflito entre o Regulamento lei, revelam-se, por sua natureza mes-
e a Lei. Descabimento. ma, insuscetíveis do controle jurisdicio-
(...) conflito entre disposições do de- nal concentrado, cuja finalidade exclu-
creto com essas leis não se alça ao nível siva restringe-o, tão-somente, à aferição
da violação a normas da Constituição, de situações configuradoras de incons-
configurando apenas ilegalidade, a ser titucionalidade. » (ADIn 365-DF-
examinada nos casos concretos e não na AgRg, Rel. Min. Celso de Mello)
via da ação direta de declaração de in- No mesmo sentido, cf., ainda as deci-
constitucionalidade de leis. sões proferidas por este Supremo Tribunal
Representação não conhecida.» Federal na ADIn 311, Rel. Min. Carlos
Velloso; na ADIn 531-AgRg, Rel. Min.
Celso de Mello; e na ADIn 536, Rel. Min.
(RF' 1.266-DF, Rel. Min. Carlos Velloso, v.g.
Carlos Madeira)
Se a interpretação administrativa da lei,
Sob a égide da vigente Constituição de que vier a consubstanciar-se em decreto
1988, esta Corte — reiterando a sua executivo, divergir do sentido e do conteú-
orientação jurisprudencial — tem recu- do da norma legal que o ato secundário
sado a instauração do controle normativo pretendeu regulamentar, quer porque tenha
abstrato de atos de índole infralegal cujo este se projetado ultra legem, quer porque
alegado vício de inconstitucionalidade re- tenha permanecido citra legem, quer, ain-
clame a prévia e necessária verificação do da, porque tenha investido contra legem, a
extravasamento dos limites jurídicos esta- questão caracterizará, sempre, típica crise
58 R.T.J. — 158
mentar, mas, sim, se for o caso, da lei em ou técnica porventura nela existentes,
si mesma considerada. sendo plenamente legítimas as regras
Tenho para mim que o Presidente da destinadas à consecução dos objetivos
República, ao editar o regulamento em visados pelo legislador. Essa é uma exi-
questão, pretendeu conferir maior efetivi- gência conatural à atividade administra-
dade aos mandamentos inscritos nas Leis tiva, e correspondente à dinâmica do
nos 8.078/90 e 8.656/93, disciplinando, me- Direito.»
diante regramento específico, fundado nas O eventual extravasamento, pelo ato re-
normas gerais consubstanciadas nos diplo- gulamentar, dos limites a que materialmen-
mas legislativos referidos, o sistema de de- te deve estar adstrito poderá configurar in-
fesa e proteção dos direitos do consumidor. subordinação executiva aos comandos da
É preciso ter presente, neste ponto, que, lei. Mesmo que, a partir desse vício jurídi-
não obstante a função regulamentar esteja co, se possa vislumbrar, num desdobra-
sujeita aos condicionamentos normativos mento ulterior, uma potencial violação da
impostos imediatamente pela lei, o Poder Carta Magna, ainda assim estar-se-á em
Executivo, ao desempenhar concretamente face de uma situação de inconstitucionali-
a sua competência regulamentar, não se dade reflexa ou oblíqua, cuja apreciação
reduz à condição de mero órgão de repro- não se revela possível em sede jurisdicional
dução do conteúdo material do ato legisla- concentrada.
tivo a que se vincula. Sendo assim, não há como admitir a
Há que se reconhecer ao Executivo, des- instauração da jurisdição constitucional
se modo, um círculo de livre regramento da concentrada quando o objeto da impugna-
matéria, não obstante sujeite-se o exercício ção in abstracto não constituir, como na
da competência regulamentar atribuída ao hipótese destes autos, ato normativo reves-
Chefe desse Poder às imposições subordi- tido da qualificação exigida, para o controle
nantes da lei. concentrado de constitucionalidade, pela ju-
risprudência do Supremo Tribunal Federal
Daí, a advertência do saudoso Ministro (RTJ 138/436, Rel. Min. Celso de Mello).
Carlos Medeiros Silva, no sentido de que,
verbis: Tendo presentes as razões expostas, não
conheço desta ação direta, restando preju-
«A função do Regulamento não é dicada, em conseqüência, a apreciação da
reproduzir, copiando-os literalmente, os medida liminar.
termos da lei. Seria um ato inútil, se
É o meu voto.
assim fosse entendido. Deve, ao contrá-
rio, evidenciar e tornar explícito tudo EXTRATO DA ATA
aquilo que a lei encerra. Assim, se uma
faculdade, ou atribuição, está implícita ADIn 996 (Medida Cautelar) — DF —
no texto legal, o regulamento não exor- Rel.: Min. Celso de Mello. Reqte.: Gover-
bitará se lhe der forma articulada e ex- nador do Estado de São Paulo. Reqdo.:
plícita.» (RDA 33/457) Presidente da República.
Igual orientação perfilha o eminente Decisão: Apresentado o feito em mesa,
professor Miguel Reale, para quem: o julgamento foi adiado em virtude do
«Os regulamentos têm por fim tornar adiantado da hora. Plenário, 3-3-94.
possível a execução ou aplicação da lei, Decisão: Por votação unânime, o Tribu-
preenchendo lacunas de ordem prática nal não conheceu da ação, ficando, em con-
60 R.T.J. — 158
Mercadorias em Trânsito, muito embora o calização dos tributos estaduais, bem como
ingresso em cada uma delas tenha sido prejuízos de incerta reparação ao erário
efetivado através de concursos distintos; público, o autor requer a sua suspensão
está em desacordo com o Manual de liminar.
Especificação e Descrição de Cargos, apro- É o relatório.
vado pelo Decreto n° 27.950/85, o qual
dispõe que o «Fiscal de Tributos Estaduais VOTO
desempenha atividade de nível superior,
de natureza técnico-contábil, envolvendo O Sr. Ministro Carlos Velloso (Rela-
serviços de fiscalização dos tributos esta- tor): Segundo sustenta o Procurador-Geral
duais. Já os Fiscais de Mercadorias em da República, as normas impugnadas, além
Trânsito exercem atividade de nível médio, de classificar Escrivães de Exatoria e Fis-
de natureza operacional, abrangendo servi- cais de Mercadorias em Trânsito em níveis
ços específicos de fiscalização e controle e referências salariais referentes a carreiras
de mercadorias em trânsito. E, finalmen- de nível superior, atribuem aos Fiscais de
te, o Escrivão de Exatoria desempenha Mercadorias em Trânsito funções privati-
também atividade de nível médio, de natu- vas dos Fiscais de Tributos Estaduais, e aos
reza operacional, compreendendo serviços Escrivães de Exatoria, funções privativas
específicos de escrituração da receita e des- dos Fiscais de Mercadorias em Trânsito.
pesa da arrecadação tributária do Estado»; Todavia, o ingresso em cada uma daquelas
promove unificação de carreiras que, carreiras efetivou-se mediante concursos
embora se reconheça que a tendência legis- distintos, que exigiram conhecimentos es-
lativa atual seja nesse sentido, na prática, pecíficos e níveis de escolaridade diversos:
porém, as funções de fiscalização de tribu- o Fiscal de Tributos Estaduais desempenha
tos, fiscalização e controle de mercadorias atividade de nível superior, enquanto os
em trânsito e escrituração não podem ser Fiscais de Mercadorias em Trânsito exer-
agrupadas em uma só carreira, por exigi- cem atividade de nível médio. Finalmente,
rem escolaridade e qualificação técnica o Escrivão de Exatoria desempenha tam-
bém atividade de nível médio. Assim, os
diversas;
dispositivos impugnados, agrupando,
fere o art. 37, II, da Constituição Fe- numa só carreira, as carreiras mencionadas,
deral, que subordina a investidura em cargo violaram o art. 37, II, da Constituição, que
público, à aprovação em concurso público, subordina a investidura em cargo público à
vedada a transposição de cargos que, na aprovação em concurso público. No caso,
opinião de Celso Antônio Bandeira de Mel- estaria havendo investidura mediante
lo, «corresponde a uma burla manifesta do transformação de carreiras de nível médio
concurso público»; em carreiras de nível superior, com altera-
contraria a jurisprudência da Supre- ção das atribuições.
ma Corte que, na ADIn n° 231-RJ, Relator Posta assim a questão, forçoso é reco-
o eminente Ministro Moreira Alves, firmou nhecer a relevância do fundamento da ini-
o entendimento de que não é mais possível cial, a indicar a conveniência da suspensão
o provimento de cargos públicos por meio dos dispositivos impugnados, tendo em
de ascensão, transferência ou aproveita- vista o decidido por esta Corte na ADIn
mento. 231-RJ, Relator o Sr. Ministro Moreira Al-
Considerando que as normas atacadas ves. É que as normas impugnadas, a meu
estão criando transtornos ao sistema de fis- ver, pelo menos ao primeiro exame, estabe-
R.T.J. — 158 63
ciário para organizar os seus serviços ção de Rondônia, «por tornar privado o
auxiliares». exercício de serventias, sem observância
5. Para a decisão liminar requerida, tra- do requisito temporal do art. 32 do
go o feito à Mesa do Plenário. ADCT da República...» (Lex 169/48).
É o relatório. De igual modo, nos incisos II e III, a
organização de um Colégio Notarial e Re-
VOTO gistral — corporação de classe erigida em
serviço público desvinculado da estrutura
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence dos poderes do Estado — com amplos po-
(Relator): É inequívoca a relevância, sob deres de provimento, disciplina e fiscaliza-
vários prismas, da argüição de inconstitu- ção das serventias, à primeira vista, nem se
cionalidade deduzida. conforma à natureza pública dos serviços
notariais e de registro — não afetada, mas,
De início, a disposição transitória
antes, confirmada pela previsão constitu-
pretende reger a matéria «até que entre em
cional de sua delegação (cf. STF, RE
vigor a lei de que trata o art. 236 da 141.347, 1° Turma, 11-2-92, Pertence, Lex
Constituição Federal»: sucede que o tema 168/344) — nem se afina com a outorga ao
— atinente aos registros públicos (CF, art.
Poder Judiciário, no art. 236, § 1°, da Cons-
22, XXV) e às atividades e ao regime e
tituição, do poder de fiscalização das suas
fiscalização dos serviços notariais e de re- atividades.
gistro (CF, art. 236, § 1°) —, parece incluir-
se no âmbito da competência legislativa Finalmente, o preceito do inciso V —
reservada privativamente à União, o que, se que reconhece a «condição de delegados
é correto, elidiria a pretensão de o Estado, do Poder Público, para fins do exercício
na falta da lei federal, dispor provisoria- das funções notariais e registrais, a
mente a respeito, poder supletivo que só se quantos as estejam interinamente de-
legitima no campo da competência concor- sempenhando há pelo menos três anos e,
rente (CF, art. 24, § 3°). na vacância, aos atuais notários e regis-
De sua vez, o inciso I da disposição
tradores substitutos» vale pela investidu-
ra dos seus beneficiários, sem concurso
transitória atacada — no qual se determina público, na titularidade das serventias. Su-
a «manutenção das atuais serventias no- cede que normas locais similares têm sido
tariais e de registro existentes no Estado declaradas inconstitucionais em decisão
com a denominação de 'serviços nota- definitiva (ADIn 126, 29-8-91, Gallotti,
riais e de registro', exercidas, em caráter Lex 169/48, sobre o art. 236, in tine, da
privado, por delegação do Poder Execu- Constituição de Rondônia) ou cautelar-
tivo» — é de conciliação difícil, ao menos mente suspensa (v.g., ADIn 552 — RJ,
no que tange às serventias anteriormente 15-8-91, Gallotti, referendando despacho
oficializadas, com o art. 32 do ADCT fede- do em. Ministro Marco Aurélio, RTJ
ral, que as exclui do regime de exercício 137/590; ADIn 690, 26-2-92, Gallotti, RTJ
«em caráter privado, por delegação do 141/82), em confronto com a regra geral do
Poder Público», previsto no art. 236 da art. 37, II, e a disposição específica do art.
Constituição da República. 236, § 3°, da Constituição Federal, onde se
4. Daí que na ADIn 126, 29-9-91, sob preceitua que «o ingresso na atividade
a relatoria de V. Exa., Sr. Presidente Gal- notarial e do registro depende de concur-
lotti, o Tribunal, por unanimidade, decla- so público de provas e títulos» e, para
rou inconstitucional o art. 266 da Constitui- evitar protelações, não permite «que qual-
66 R.T.J. — 158
quer serventia fique vaga, sem abertura direta, a vigência do art. 30 do Ato das
de concurso de provimento ou de remo- Disposições Transitórias do Estado de Ala-
ção, por mais de seis meses». goas: é o meu voto.
Restam os incisos IV e VI do ques-
tionado art. 30 das Disposições Transitó- EXTRATO DA ATA
rias de Alagoas, contra os quais, isolada-
mente, não se divisam sinais de invalidez. ADIn 1.047 (Medida Cautelar) — AL
Mas, o inciso IV — que preserva o — Rel.: Min. Sepúlveda Pertence. Reqte.:
direito à nomeação dos candidatos aprova- Procurador-Geral da República. Reqda.:
dos no concurso público realizado pelo Po- Assembléia Legislativa do Estado de Ala-
der Judiciário para a titularidade das ser- goas.
ventias —, perde sua razão na medida em
que se suspenda a vigência do inciso II, que Decisão: Por votação unânime, o Tribu-
transfere ao Colégio Notarial e Registrai o nal deferiu o pedido de medida liminar,
poder de provimento delas. para suspender, até a decisão final da ação,
a eficácia do art. 30 e seus incisos, do Ato
Também o inciso VI — que delega das Disposições Constitucionais Transitó-
ao seu regimento a disciplina da organiza- rias da Constituição do Estado de Alagoas.
ção e do funcionamento do Colégio —, se Votou o Presidente.
toma sem sentido, se suspensa a norma de
instituição do organismo corporativo. Presidência do Senhor Ministro Octavio
À patente plausibilidade desta ar- Gallotti. Presentes à Sessão os Senhores
güição de ilegitimidade constitucional, Ministros Moreira Alves, Néri da Silveira,
soma-se, para aconselhar a medida caute- Paulo Brossard, Sepúlveda Pertence, Celso
lar, a prova de que o Governo do Estado se de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio,
tem servido dos preceitos questionados, limar Gaivão e Francisco Rezek. Ausente,
particularmente, para privatizar serventias justificadamente, o Ministro Sydney San-
oficializadas (fl. 26) ou efetivar interinos, ches. Procurador-Geral da República, Dr.
na titularidade delas. Aristides Junqueira Alvarenga.
11. Defiro, pois, a cautelar requerida e Brasília, 25 de março de 1994 — Luiz
suspendo, até decisão definitiva da ação Tomimatsu, Secretário.
O conteúdo dessa norma faz instaurar a concessão da medida cautelar ora pos-
uma anômala situação funcional que, por tulada.
referir-se a cargos de provimento em ca- Isto posto, defiro a suspensão de eficá-
ráter efetivo, estaria a transgredir o pos- cia da norma inscrita no art. 3° da Lei n°
tulado constitucional do concurso públi- 11.816, de 26-1-95, do Estado de Minas
co, na medida em que permite que servi- Gerais, até final julgamento da presente
dores administrativos meramente coloca- ação direta.
dos à disposição do Tribunal de Contas
do Estado venham, mediante ato de sua É o meu voto.
própria vontade, a integrar-se, definiti-
EXTRATO DA ATA
vamente, no Quadro Especial de Pessoal
daquele órgão de controle externo da ati- ADIn 1251 (Medida Cautelar) — MG
vidade financeira e orçamentária do Po- — Rel.: Min. Celso de Mello. Reqte.: Pro-
der Público. curador-Geral da República. Reqdos.: Go-
A aplicação da regra consubstanciada vernador do Estado de Minas Gerais e As-
no art. 3° da Lei em questão ensejaria, sembléia Legislativa do Estado de Minas
desse modo, o ingresso, nos quadros admi- Gerais
nistrativos do Tribunal de Contas do Esta- Decisão: Apresentado o feito em mesa,
do, de servidores públicos não concursa- julgamento foi adiado em virtude do
dos. adiantado da hora. Plenário, 8-6-95.
É de ressaltar que a jurisprudência do Decisão: Apresentado o feito em mesa,
Supremo Tribunal Federal não tem transi- julgamento foi adiado em virtude do
gido quanto à necessidade de observância, adiantado da hora. Plenário, 29-6-95.
sempre indeclinável, do postulado consti- Decisão: Por votação unânime, o Tribu-
tucional do concurso público (ADIn nal deferiu o pedido de medida liminar para
181-RS, Rel. Min. Celso de Mello; ADIn suspender, até a decisão final da ação, a
289-CE, Rel. Min. Sepúlveda Pertence; eficácia do art. 3° da Lei n° 11.816, de
ADIn 362-AL, Rel. Min. Célio Boda; 26-1-95, do Estado de Minas Gerais. Votou
ADIn 766, Rel. Min. Celso de Mello; Presidente. Ausente, ocasionalmente, o
ADIn 837, Rel. Min. Moreira Alves; Ministro Moreira Alves.
ADIn 1.203-PI, Rel. Min. Celso de Mello;
ADIn 1.222-AL, Rel. Min. Sydney San- Presidência do Senhor Ministro Sepúlve-
ches; ADIn 1.230-DF, Rel. Min. limar da Pertence. Presentes à Sessão os Senhores
Ministros Moreira Alves, Sydney Sanches,
Gaivão, v.g.).
Octavio Gallotti, Celso de Meio, Carlos
Concorrem, na espécie, os pressupostos Velloso, Marco Aurélio, Ilmar Gaivão,
inerentes à plausibilidade jurídica do pedi- Francisco Rezek e Maurício Corrêa. Au-
do e à ocorrência do periculum in mora, sente, justificadamente, o Senhor Ministro
circunstâncias estas que, associadas a Néri da Silveira. Procurador-Geral da Re-
razões de conveniência fundadas na ne- pública, Dr. Geraldo Brindeiro.
cessidade de preservar a ordem jurídi- Brasília, 30 de junho de 1995 — Luiz
co-administrativa local, bem justificam Tomimatsu, Secretário.
72 R.T.J. — 158
Postulam, por fim, a concessão da segu- ventias do foro judicial, mandou respei-
rança «para garantir aos impetrantes o di- tar os direitos de seus servidores.
reito de executarem as explorações flores-
tais de acordo com as licenças já deferi- III
das e concedidas pela administração Pú-
blica...». Tomando a Mata Atlântica — entre
outras grandes florestas — patrimônio
Sem liminar, foram solicitadas informa- nacional, a Constituição deu sentido
ções ao Exmo. Sr. Presidente da República, novo ao Código Florestal. Este, inter-
que as prestou às fls. 107/109, esclare- pretado conforme àquela, faculta ao Po-
cendo: der Público proibir a exploração da
«De início, releva notar que as licen- Mata Atlântica, já tão perigosamente re-
ças obtidas pelas impetrantes são ante- duzida.
riores à Constituição de 1988, e regidos Deste Código — Lei n°4.771, a rigor
por um Código Florestal que falava em — repontam proibições de índole vária,
florestas privadas. cuja compreensão sistemática avaliza o
A nova Constituição, todavia, cons- decreto sob discussão.
titui a Mata Atlântica como patrimônio Como exemplo, o parágrafo único do
nacional — contra que, logicamente, artigo 5°, que proíbe qualquer forma de
não faz sentido algum evocar tal ou qual exploração dos recursos naturais nos
direito adquirido, já que essa categoria Parques Nacionais, Estaduais e Munici-
jurídica jamais prevalece, quando coli- pais, combinado com o artigo 14 — a,
dente com a Lei Maior. que permite ao Poder Público prescrever
normas que atendam às peculiaridades
Daí não haver, data venia, definiti- locais.
vidade na licença que a Administração
concedeu, de modo idôneo —como idô- Proibindo a exploração por tempo
nea também era, logicamente, a explo- indeterminado, o decreto atualizou o
ração feita pelas empresas —, visto que Código Florestal à vista da Constitui-
significativa mudança jurídica suce- ção. Esta, ao falar de utilização na forma
deu após tal outorga, conducente à ne- da lei, permitiu a recepção daquele Es-
gação do direito de propriedade sobre tatuto — que, por imprevisão dessa me-
uma floresta que, agora, é patrimônio dida constitucional protetora da Mata
nacional. Atlântica, há de ser recebido com esse
cuidado, mas cuja interpretação siste-
Óbvio que, nesse rumo, tampouco mática termina por alcançar os propó-
operaria efeito o argumento do ato jurí- sitos tutelares que a Constituição deu
dico perfeito, pois este também não en- às florestas arroladas no seu artigo 225
contra resguardo ante a aparição de Tex- — 4°.
to Constitucional que se revele contrário
ao ali estatuído. IV
Se, frente a um tema novo, a Consti-
tuição resolvesse salvaguardar qualquer De resto, o argumento de que a Cons-
situação subjetiva, o faria expressamen- tituição permite a utilização das flores-
te, como no artigo 31 do ADCT, que, tas na forma da lei é um desvio de pers-
determinando sejam estatizadas as ser- pectiva.
74 R.T.J. —158
do com o Artigo 105, II, b, da Constitui- dado de segurança proferida em única ins-
ção Federal. Agravo regimental impro- tância pelo Superior Tribunal de Justiça.
vido.» (Agravo Regimental no Agravo
de Instrumento n° 144.895-SE, relatado O que deve ser observado, na conversão,
perante a Primeira Turma, pelo Ministro é se o recurso foi apresentado no prazo do
limar Gaivão, cuja decisão, unânime, recurso a ser substituído, do recurso pró-
foi publicada no Diário da Justiça de prio. Se isso ocorreu, não me parece razoá-
20 de novembro de 1992). vel deixar de efetivar a conversão. O con-
«— Licitação. Concessão de Man- trário é que não seria possível, vale dizer,
dado de Segurança. Recurso Ordinário. não seria possível a conversão de um recur-
so ordinário em recurso extraordinário. É
— Tendo sido deferido o mandado que este tem pressupostos outros, certo que
de segurança, não cabe o Recurso Ordi- o pressuposto do recurso ordinário é apenas
nário a que alude o Artigo 102, II, a, da a sucumbência. Bem por isto, a conversão
Constituição Federal, o qual só é admis- do extraordinário em ordinário é perfeita-
sível quando denegatória a decisão
mente possível.
proferida no Mandado.
Por outro lado, não há que se preten- Não se pode perder de vista, Sr. Presi-
der, no caso, a fungibilidade do Recurso dente, o caráter instrumental do processo.
Ordinário em Extraordinário, não só
pela evidente ocorrência de erro grossei- Por outro lado, creio que não seria pos-
ro na interposição de um pelo outro, mas sível a afirmativa da ocorrência de erro
também porque o Recurso Ordinário in- grosseiro. Essa conceituação, aliás, é muito
terposto se limita as questões infracons- subjetiva e deveria ser evitada. No caso,
titucionais que estão fora do âmbito do certo é que o recurso ordinário foi criado
Recurso Extraordinário, que é adstrito a pela Constituição de 1988. Quando inter-
questões constitucionais. posto o recurso, em 1990, a Constituição
tinha menos de dois anos de vigência.
Recurso Ordinário não conhecido.»
Recurso em Mandado de Segurinça O que penso, Sr. Presidente, é que os
n° 21.079, relatado perante o Plenário Tribunais deveriam abandonar, na conver-
pelo Ministro Moreira Alves, cuja de- são dos recursos, o requisito do erro gros-
cisão, unânime, foi publicada no Diário seiro, tendo em vista, conforme falamos,
da Justiça de 25 de maio de 1990). que o conceito de erro grosseiro é muito
É o meu voto. subjetivo. O que deve ser considerado é se
foram atendidos os pressupostos próprios
do recurso e este foi interposto no prazo
VOTO
legal. Isto tendo ocorrido, em obséquio ao
caráter instrumental do processo, faça-se a
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Sr. Pre- conversão. O mais, nada mais é senão a
sidente, peço licença para divergir. Tenho intelectualização do processo, com prejuí-
sustentado a possibilidade da conversão do zo para a Justiça, da qual o processo é mero
recurso extraordinário em recurso ordiná- instrumento.
rio. Na verdade, a Constituição Federal, no
art. 102, II, a, estabelece que, no caso, o Com essas breves considerações, com a
recurso cabível é o recurso ordinário, dado vênia do eminente Relator, admito a con-
que se trata de decisão denegatória de man- versão do extraordinário em ordinário.
R.T.J. — 158 81
ACÓRDÃO RELATÓRIO
«Trata-se de mandado de segurança são. Diz que aquele Ministro relator «ex-
impetrado contra ato do Ministro de Es- cluiu o Senhor Presidente da República da
tado da Agricultura e Reforma Agrária, relação processual sem verificar que o Sr.
que, segundo o impetrante, o demitiu, Ministro (da Agricultura) era, nada mais
sem justa causa. A segurança foi impe- que delegado do Mandatário Supremo da
trado perante o Egrégio Superior Tribu- Nação...» e que aquele Ministro relator que
nal de Justiça, que dela não conheceu, veio a ser nomeado para o cargo de Minis-
por entender que o writ foi ajuizado tro de Estado da Justiça, «amigo que era do
após transcorrido o prazo do art. 18 da Exmo. Sr. Pres. da Rep. conforme preceitua
Lei n° 1.533/51 (decadência do direito à o artigo 135, caput, incisos: I, IV e V do
impetração). Inconformado com a deci- CPC não se valeu oportunamente do parág.
são, o impetrante, em causa própria, in- ún. do mesmo artigo retrocitado, tal suspei-
terpôs recurso ordinário para esta Corte, ção alcança, sem dúvidas a turma toda por
que negou provimento ao apelo (fls. ter havido votos em separados». Depois de
150/158). O Supremo Tribunal Federal, dizer que «o relator, DD., ex-Ministro desta
portanto, não decidiu a causa originaria- Corte Suprema: no que tange ao MS n°
mente, dado que a competência originá- 21.224-1 incidiu em suspeição é nulo o
ria, neste caso, é do Superior Tribunal aresto...» e que «a Súmula 430 está preju-
de Justiça. No STJ, repita-se, o writ foi dicada pela 346, 429 e 510 do STF», requer
aforado. O STJ não conheceu da segu- seja dado provimento ao presente recurso,
rança, porque foi ela aforada após o para ver «reconhecida incompetência desta
transcurso do prazo de 120 dias do art. Excelsa Corte conhecer do mérito mas tão-
18 da Lei n° 1.533/51. Interposto o re- somente a tempestividade, c/consta dos
curso ordinário constitucional para o Embargos Declaratórios».
STF (CF, art. 102, II, a), foi o apelo É o relatório.
improvido.
Posta assim a questão, verifica-se VOTO
que a «exceção de incompetência»
oposta não passa de um despautério. O Sr. Ministro Carlos Venoso (Rela-
tor): A decisão que originou o presente
Do exposto, indefiro o requerido. Pu- agravo regimental, às fls. 182/183, tem o
blique-se. Após, julgado o recurso de seguinte teor:
embargos de declaração.»
«Vistos. Publicado o acórdão que ne-
Publicada a decisão, interpôs Paulo de gou provimento ao recurso ordinário in-
Tarso dos Santos Siqueira agravo regimen-
terposto pelo impetrante, Paulo de Tarso
tal (fls. 186/190), afirmando que pretende,
dos Santos Siqueira, este, pela petição
com a interposição desse recurso, levar o
de fls. 160/161, interpõe «exceção de
feito ao Plenário desta Corte, «visto que a
incompetência» do Supremo Tribunal
incompetência é do Tribunal e não turma
Federal «para se pronunciar sobre qual-
ou órgão qualquer...».
quer matéria de mérito no feito», ao
Em petição confusa, em que o recorrente tempo em que interpõe embargos de
se reporta ao Mandado de Segurança n° declaração. Sustenta que o Supremo
21.224-1, impetrado anteriormente, de que Tribunal não é competente para conhe-
foi relator o então Ministro Célio Borja, cer e julgar «no mérito Mandado de
afirma que esse mandamus foi requerido Segurança contra ato de Ministros de
116 dias após a publicação do ato de demis- Estado». (Sic). Ressalta que o Supremo
86 R.T.J. — 158
160/161, da decisão de fls. 182/183, das Santos Siqueira (Adv.: Alcibiades Siquei-
ralhes de fls. 186/190, da petição de fl. 194, ra). Agdo.: Ministro da Agricultura e Re-
e dos documentos de fls. 195/196, deverão forma Agrária.
ser encaminhadas à Ordem dos Advogados Decisão: Por unanimidade, a Turma ne-
do Brasil, Seção do Distrito Federal, para gou provimento ao agravo regimental, nos
os devidos fins. termos do voto do Ministro Relator.
Do exposto, nego provimento ao agravo Presidência do Senhor Ministro Néri da
regimental, determinando que sejam reme- Silveira. Presentes à Sessão os Senhores
tidas, ao Sr. Presidente da OAB, Seção do Ministros Paulo Brossard, Carlos Velloso,
Distrito Federal, as cópias acima indicadas. Marco Aurélio e Francisco Rezek. Subpro-
EXTRATO DA ATA curador-Geral da República, o Dr. Cláudio
Lemos Fonteles.
RMS 21.491 (AgRg) — DF — Rel.: Mia Brasília, 8 de fevereiro de 1994 —José
Carlos Velloso. Agte.: Paulo de Tarso dos Wilson Aragão, Secretário.
Vistos, relatados e discutidos estes autos, O Sr. Ministro Carlos Velloso: Trata-
acordam os Ministros do Supremo Tribunal se de mandado de segurança impetrado
Federal, em Sessão Plenária, na conformida- por João Lopes Filho, contra ato do Se-
de da ata do julgamento e das notas taquigrá- nhor Presidente da República, que o demi-
ficas, por decisão unânime, indeferir o pedido tiu do cargo de Médico Veterinário do
de mandado de segurança. Ausente, ocasio- Ministério da Agricultura e Reforma
nalmente, o Ministro Binar Gaivão. Agrária por ter-se valido do cargo em pro-
veito de terceiros, em detrimento da digni-
Brasília, 10 de fevereiro de 1994 — dade da função pública, com fundamento
Octavio Gallotti, Presidente — Carlos no art. 132, MIL c/c art. 117, IX, da Lei n°
Velloso, Relator. 8.112/90.
88 R.T.J. — 158
Alega o impetrante que, funcionário fe- não era favorável à demissão do acusa-
deral há 23 anos, foi intimado a responder do/impetrante».
a um processo administrativo, instaurado Requer, por fim, seja reintegrado no car-
para apurar várias irregularidades que teria go de que foi demitido, até que lhe seja
praticado no exercício da função de Diretor assegurada ampla defesa no processo ad-
Federal do Ministério da Agricultura, pe- ministrativo disciplinar, e que lhe seja for-
rante a Diretoria, para o qual havia sido necida cópia autêntica do referido pro-
nomeado há menos de cinco meses. Diz cesso.
que as acusações que pesavam contra ele
eram infundadas, feitas por pessoas que Sem liminar, as declarações foram pres-
tinham contra ele ressentimento, em razão tadas às fls. 34/42, em que se ressalta que
de sua atuação no sentido de moralizar o «o processo disciplinar foi submetido à
Serviço de Inspeção Federal. A instauração apreciação do Departamento de Recursos
do processo administrativo foi precedido Humanos da Secretaria da Administração
de uma sindicância, em que pessoas foram Federal, que emitiu parecer favorável às
ouvidas e diligências foram feitas, sem a conclusões do relatório supra citado», e
participação do ora impetrante ou de seu que, «da mesma forma manifestou-se a
advogado, com ofensa ao princípio do con- Consultoria Jurídica do Ministério, antes
da edição do ato de demissão do impetran-
traditório. Argüiu, por isso, a suspeição dos
te». Salientam, ainda, as informações que,
membros da comissão, o que não foi apre-
contrariamente ao que afama o impetrante,
ciado em.nenhuma instância da tramitação
foi-lhe «concedido o mais amplo direito de
do processo, por entender que as provas defesa e ao contraditório, conforme faz
colhidas na fase da sindicância deveriam prova as cópias das principais peças do
ser repetidas no processo com a sua pre- processo administrativo, fornecidas pelo
sença ou de seu advogado. Sustenta ter Ministério da Agricultura, do Abasteci-
ocorrido cerceamento de defesa, já que na mento e da Reforma Agrária...».
defesa que apresentou no processo admi-
nistrativo requereu várias providências, O Ministério Público Federal oficiou às
não atendidas, como sejam: a) nova 'histo- fls. 111/113, opinando pela denegação da
ria nos matadouros, feita por outra comis- segurança, por entender que «não há nos
são; b) audiência das testemunhas ouvidas autos prova nenhuma do alegado cercea-
na sindicância, agora com a sua presença mento de defesa, caracterizado por não te-
ou de seu advogado; c) audiência de pelo rem sido repetidas as provas colhidas no
menos uma das duas testemunhas que indi- curso da sindicância», mesmo porque não
cou, exatamente o atual diretor que o subs- existe previsão quanto a essa repetição (Lei
tituiu, Luiz Gonzaga de Matos Oliveira n° 8.112/90, art. 154, caput) nem o impe-
Filho; d) cópia de peças do processo. trante fez prova de que a requereu e que o
indeferimento fora imotivado. No tocante à
Ressalta o impetrante que nunca sofreu argüição de suspeição da Comissão, o im-
qualquer punição em sua vida funcional e petrante atribui a ela a competência de jul-
que «um dos membros da mencionada co- gar, que ela não tem. Também nesse caso,
missão, em voto em separado, discordando o impetrante não apresentou prova de que
dos outros membros deixava bem claro que a Comissão não se tenha conduzido com
as possíveis irregularidades (em verdade independência e imparcialidade. Lembra o
inexistentes) não eram de culpa do impe- parecer que a sindicância não tem caráter
trante, e sim que era muito antigas, e que contraditório, «não se justificando a parti-
R.T.J. — 158 89
cipação do acusado, figura que ainda não tivo disciplinar (Lei n° 8.112/90, art. 143).
surgiu». Não tem, por isso, o impetrante Quer dizer, a sindicância tem por escopo
direito liquido e certo «à reiteração dos atos confirmar a ocorrência da irregularidade, o
desse procedimento, precedida da reinte- seu autor, se isto se confirmar, instaura-se,
gração no cargo do qual foi demitido». então, o processo administrativo discipli-
No tocante à requisição de cópia dos nar, (Lei nc. 8.112/90, art. 145, III), certo
autos do processo, entende que a postula- que da sindicância poderá resultar o arqui-
ção não se justifica, por não ter o impetrante vamento do processo — na verdade a sua
feito prova da impossibilidade «de acesso não instauração (Lei n° 8.112/90, art. 145,
aos autos por motivo imputável à Adminis- I) — ou a aplicação de penalidade de ad-
tração Pública (art. 6°, parágrafo único, da vertência ou suspensão de até trinta dias
Lei n° 1.533, de 31 de dezembro de 1951); (Lei n's 8.112/90, art. 145, II). No caso, da
pelo contrário, os documentos de fls. sindicância resultou a instauração do
104/106 demonstram que tal acesso lhe foi processo disciplinar (Lei 8.112/90, art.
facultado, por extração das peças que dese- 145, lin.
jasse». Não há, na lei, a exigência de serem
É o relatório. repetidas, no procedimento administrativo
disciplinar, as provas colhidas na sindicân-
VOTO cia. O que a lei estabelece é que os autos da
sindicância integrarão o procedimento dis-
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Rela- ciplinar, como peça informativa da instru-
tor): A impetração visa a nulidade do ato do ção, nada mais (Lei na 8.112/90, art. 154).
Sr. Presidente da República que demitiu o O fato, portanto, de não terem sido repeti-
impetrante do serviço público, por valer-se das, no procedimento administrativo, as
do cargo para lograr proveito de outrem, em provas colhidas na sindicância, não carac-
detrimento da dignidade da função públi- terizaria cerceamento de defesa, convindo
ca, ato praticado com base no art. 132, XIII, registrar, de outro lado, que o impetrante
c.c. com o art. 117, IX, da Lei n" 8.112, de não trouxe para os autos qualquer prova no
11-12-90. sentido de que requerera a repetição das
Sustenta ter ocorrido, no procedimento provas e que a Comissão indeferira, imoti-
administrativo disciplinar, cerceamento de vadamente, a sua pretensão. No ponto, as
sua defesa, cerceamento de defesa que se informações esclarecem que o impetrante
caracterizaria: a) por não terem sido repe- defendeu-se amplamente, tendo produzido
tidas as provas colhidas no curso da sindi- provas, inclusive prova testemunhal (fl. 37,
cância, sem sua presença nem a de seu fl. 42, fl. 51, fls. 54/72).
advogado (fls. 5/6); b) pela falta de exame
da alegada suspeição da Comissão que con- A alegada suspeição da Comissão, por
duziu o procedimento disciplinar. motivo de parcialidade, não tem, na verda-
de, a extensão preconizada. Escreve, a pro-
Abrindo o debate, registro que o proce- pósito, a Subprocuradora-Geral afilia da
dimento administrativo disciplinar instau- Luz Oliveira, no parecer que ofereceu pela
ra-se de regra, após realização de sindicân- Procuradoria-Geral da República:
cia. Esta é, na verdade, um procedimento
preparatório daquele. A autoridade, tendo «Quanto à alegada suspeição da Co-
ciência de irregularidade no serviço públi- missão, por motivo de parcialidade, é
co, promove a sua apuração imediata, me- certo que o impetrante atribui a esse
diante sindicância ou processo administra- órgão uma competência que não tem: a
90 R.T.I. — 158
de julgar. É verdade que lhe cabe con- existe parcialidade; é mera fantasia de
duzir o procedimento com independên- defesa;
cia e imparcialidade (art. 150 da Lei n° d) Nada procede, enfim das alega-
8.112, de 11 de dezembro de 1990), mas ções formuladas, de ordem processual.»
nada se prova em contrário, no caso. (fls. 61/62)
Também é certo que a Comissão, à qual
a defesa é dirigida, ainda que o julga- Ressalvo ao impetrante, no que toca ao
mento não seja atribuição sua, exami- tema do cerceamento de defesa, entretanto,
nou a questão suscitada pelo impetrante as vias ordinárias, onde poderá fazer prova
(fls. 61/62).» (fl. 112). do que alega.
No ponto, houve alegação de parcialida- Do exposto, com a ressalva acima, inde-
de da Comissão, mera alegação com base firo o writ.
em elementos subjetivos, pelo fato de a VOTO
Comissão, certamente pelo que apurou na
sindicância, ter feito certas afirmativas em O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor
detrimento do impetrante (fls. 48/49). A Presidente, vou retratar o que percebi do
Comissão, no seu relatório, deu resposta à caso, para não incidir em equívoco
alegação: Pelas premissas lançadas pelo nobre Re-
«Em princípio, pode-se reportar o lator, houve a sindicância e as provas nela
leitor às mesmas considerações de or- colhidas não foram repetidas, quando do
dem processual tecidas por esta Comis- processo administrativo disciplinar pro-
são quando da análise da defesa de Ade- priamente dito. Por sua vez, o envolvido
mar da Rocha Torres, entretanto, cum- também não requereu essa repetição. Ocor-
pre, ainda, mais algumas observações: re que se chegou a um parecer positivo
quanto à transgressão disciplinar não com
A Comissão não julga, apenas base naqueles elementos contidos no pro-
apura, conclui e propõe a autoridade cesso de sindicância,mas com esteio em
instauradora-julgadora; logo, quem não prova feita pela Administração Pública,
julga não tem como prejulgar; relativamente à participação dos Impe-
A indicação, em seus termos, trantes.
constitui o que a Comissão apurou e Corretas estas premissas, acompanho o
concluiu pelo até então apurado, é peça voto do Senhor Ministro Relator, indeferin-
acusatória, e, como tal, deve acusar; o do o mandado de segurança, porque, se o
patrono do indiciado confunde acusa- pronunciamento que deu ensejo à punição
ção com julgamento; estivesse fundamentado apenas nas provas
colhidas unilateralmente, não teria a menor
c) Não se verifica a parcialidade da
dúvida em declarar o vício do processo
Comissão, como alega a defesa. Na ver-
administrativo disciplinar.
dade, todos os atos da Comissão segui-
ram as formalidades legais. A Comissão VOTO
acusou (indicação — confundida pela
Parte com julgamento), abriu prazo re- O Sr. Ministro Moreira Alves: Sr. Pre-
gular para defesa, atendeu solicitações sidente, também acompanho o Sr. Ministro
da parte, garantiu o exercício do direito Relator, porque, à semelhança do que
de defesa em toda sua amplitude; onde ocorre no processo penal com referência à
está a parcialidade? na acusação? não investigação policial, o mesmo sucede, em
R.T.J. — 158 91
para fazer esse ajuste, não está ela atuando jurídica do ato, a evitar a medida
como mera executadora material das reco- radical da recusa de registro da apo-
mendações do Tribunal de Contas, mas, sentadoria concedida.
sim, é a autoridade que responde pela prá- Mais do que mero poder implíci-
tica do ato administrativo de ajuste. Conse- to, essa atribuição decorre de norma
qüentemente, a autoridade coatora não é o expressa de competência que, inscri-
Tribunal de Contas, mas a autoridade ad- ta no artigo 71, IX, da Constituição,
ministrativa, razão por que aquele não tem autoriza o Tribunal de Contas da
legitimidade passiva para figurar como União a 'assinar prazo para que o
coator em mandado de segurança contra o órgão ou entidade adote as providên-
ato de ajuste por parte da autoridade admi- cias necessárias ao exato cumpri-
nistrativa, que, esta sim, tem tal legitimida- mento da lei, se verificada a ilegali-
de passiva ad causam. dade'.
No voto que proferi no julgamento desse Se, no entanto, o órgão de que
Mandado de Segurança 21.462, e que se proveio o ato juridicamente viciado
tornou vencedor, salientei: — agindo nos limites de sua esfera
«Examinando a questão preliminar de competência — recusar-se a dar
de saber se pode, ou não, o Tribunal de execução à diligência ordenada pelo
Contas da União converter em diligên- Tribunal de Contas da União, reafir-
cia o julgamento, para fins de registro, mando, desse modo, o seu entendi-
da legalidade da concessão, a fim de mento quanto à plena legalidade da
determinar que o órgão concedente da concessão da aposentadoria, ensejar-
aposentadoria a altere em um ou em se-á, então, à Corte de Contas, o exer-
alguns pontos, o eminente relator, acen- cício de sua competência constitu-
tuando que a atual Constituição ampliou cional, cabendo-lhe ordenar, ou não,
os poderes do referido Tribunal, susten- o registro do ato de inativação'.
ta que essa conversão do julgamento em Com a devida vênia, não me parece
diligência é possível, embora possa o que essa colocação se coadune com o
órgão administrativo a que tal determi- texto constitucional.
nação se dirige recusar-se a cumpri-la.
A propósito, diz o eminente relator: Observo, em primeiro lugar, que, no
tocante à apreciação, para fins de regis-
'Nada impede, contudo, que o tro, da legalidade da concessão de apo-
Tribunal de Contas da União — es- sentadoria, não houve nenhuma modifi-
pecialmente ante a ampliação do es- cação nos poderes do Tribunal de Con-
paço institucional de sua atuação fis- tas da União, tendo em vista a Emenda
calizadora — determine, em consta- Constitucional n° 1/69 (com a modifica-
tando a ocorrência de vício de legali- ção introduzida pela Emenda Constitu-
dade no ato concessivo da aposenta- cional n° 7/77) e a atual Constituição.
doria, que se proceda à correção do Com efeito, já o parágrafo 5° do artigo
defeito jurídico verificado. 72 da Emenda Constitucional n° 1/69
Essa providência, ordenada pelo preceituava:
Tribunal de Contas da União, desti- `§ 5°. O Tribunal, de ofício ou
na-se, a partir da possibilidade que se mediante provocação do Ministério
enseje ao órgão administrativo de sa- Público ou das auditorias financeiras
nar os vícios que infirmam a validade e orçamentárias e demais órgãos au-
R.T.J. — 158 95
Sem embargo da plausibilidade da fica como ato em tese, eis que dele derivam
fundamentação de mérito, a via proces- efeitos concretos e imediatos, aptos a pro-
sual e o pedido são, data venia, de ma- vocarem lesão ao direito dos ora recorren-
nifesta inadequação. tes.
Sabidamente, não se presta o manda- Ouvida, a douta Procuradoria-Geral da
do de segurança para impugnar a valida- República pronunciou-se pelo bnprovi-
de de normas abstratas, salvo quando, mento do presente agravo, em parecer as-
por si só, a vigência delas alcançar direta sim ementado (fl. 108), verbis:
e imediatamente o pretendido direito «Ementa: Súmula 266: adequada se
subjetivo do impetrante, sem necessida- faz sua invocação, para considerar im-
de da intermediação de ato concreto que própria a via processual eleita, em se
as aplica. tratando de Mandado de Segurança im-
Daí, a jurisprudência consolidada na petrado contra o Decreto n° 1.007/93,
Súmula 266 — 'Não cabe mandado de que regulamentou a Lei n° 8.706/93, se
segurança contra lei em tese' — que, a instituição dos 'procedimentos ope-
como já se notou, é um corolário inafas- racionais para arrecadar as contri-
tável da inserção do interesse processual buições devidas' fez-se através de Or-
do autor entre as condições da ação. dem de Serviço, de n° 105/94, baixada
pela Diretora de Arrecadação e Fiscali-
Ora, no caso, o que se impugna — zação do Instituto Nacional do Seguro
como se se tratasse de verdadeira ação Social — INSS. Incompetência originá-
direta de ilegalidade de regulamento — ria do STF: art. 102, I, d, da CF. Agravo
é a validade de normas abstratas, que só Regimental insuscetível de provimen-
prejudicarão os impetrantes na medida to.»
em que o INSS deixe de entregar-lhes
as contribuições questionadas para des- Não me havendo convencido das razões
tiná-las aos novos serviços criados pela deduzidas pelos ora agravantes (fls.
Confederação Nacional dos Transpor- 95/102), submeto o presente recurso à apre-
tes. ciação do Pleno deste Tribunal.
Por outro lado, não incumbindo a É o relatório.
entrega do produto da arrecadação das
contribuições ao Presidente da Repúbli- VOTO
ca, mas ao INSS, jamais incumbiria ao
O Sr. Ministro Celso de Mello (Rela-
Supremo Tribunal Federal o conheci- tor): Os ora recorrentes impetraram o writ
mento originário de pedido preventivo mandamental contra o Decreto n° 1.007/93
destinado a obstar a execução dos pre- que, editado pelo Presidente da República,
ceitos cuja validade se contesta. teve por finalidade regulamentar a Lei n°
Por tudo isso, reputando inequívoca 8.706/93, que dispôs sobre a criação do
a carência da ação, nego seguimento ao Serviço Social do Transporte-SEST e do
mandado de segurança e julgo prejudi- Serviço Nacional de Aprendizagem do
cado o requerimento liminar.» Transporte-SENAT (fl. 81).
Os impetrantes, inconformados com Tenho para mim, na linha da decisão
esse ato decisório, interpuseram o presente proferida pelo em. Ministro Sepúlveda
recurso de agravo, sustentando, em essên- Pertence, que o ato questionado na presen-
cia, que o decreto impugnado não se quali- te sede mandamental subsume-se, em seu
R.T.J. — 158 105
patente. O prejuízo que para o acionista e entendeu que, sendo a companhia consti-
pode resultar de um fenômeno como o que tuída no Canadá, e tendo, enquanto pessoa
os autos espelham é também algo irrecusá- jurídica de direito privado, a regência do
vel. A questão, todavia, é outra. E quero, direito canadense, não havia legitimidade
neste ponto, valorizar o núcleo do acórdão postulatória em seus acionistas belgas (em-
recorrido: a tese de que aqueles direitos bora fossem eles, todos, capitalistas bel-
concedidos pela lei ao acionista individual- gas).
mente considerado — ao acionista minori-
tário, sobretudo — são direitos exercitáveis VOTO (VISTA)
contra a sociedade. É aquilo em nome de
quê ele tem ação contra a sociedade se por O Sr. Ministro Maurício Corrêa: Sr.
ela, de algum modo, em virtude de uma de- Presidente, a mim me parece estranho que
cisão majoritária qualquer, se sente lesado. um sócio minoritário não tenha legitimida-
O que se pretende aqui é exercer contra de para postular em juízo, ainda mais quan-
o governo, contra a autoridade pública e seu do se sabe que esse acionista já ocupara o
ato de intervenção, essa ação em nome de cargo de direção da empresa e em decorrên-
um direito não da sociedade, mas do acio- cia teve seus bens bloqueados. Só por isso
nista minoritário, daquele que detém ações parece-me abrir-se espaço para o reconhe-
da companhia cuja liquidação extrajudicial cimento dessa legitimidade.
foi decretada. Contudo, vou preferir pedir vista para
O que pensa a companhia, não se sabe. um exame mais apurado.
Qual a reação coletiva, não se sabe. Qual a
reação majoritária, não se tem como ava- EXTRATO DA ATA
liar. Não estão excluídas do horizonte do
possível, em situações assim, aquelas hipó- RMS 21.960 — DF — Rel.: MM. Fran-
teses em que, por algum singular motivo, a cisco Rezek. Recte.: Raul de Souza Silveira
companhia posta em liquidação judicial (Advs.: Sergio Ferraz e outros). Recda.:
não estima que deva reagir contra a decisão União Federal (Adv.: Advogado-Geral da
governamental. Pergunto-me, nesse caso, União).
como se poderia justificar para o sócio mi-
noritário a prerrogativa do protesto em juí- Decisão: Após o voto do Sr. Ministro
zo, com mandado de segurança, contra Relator negando provimento ao Recurso
aquilo a que a própria sociedade liqüidanda em Mandado de Segurança, o julgamento
não alvitrou reação. foi adiado em virtude do pedido de vista
formulado pelo Ministro Maurício Corrêa.
Penso, de outro lado, que alguns ele- Falou pela recorrente o Dr. Sérgio Ferraz.
mentos da teoria geral do direito nos im- Impedido o Sr. Ministro Carlos Velloso.
põem essa distinção que o acórdão recorri-
do patrocinou, entre a pessoa jurídica de Presidência do Senhor Ministro Néri da
direito privado, a sociedade por ações, e a Silveira. Presentes à Sessão os Senhores
pessoa de cada um dos seus acionistas. Ministros Carlos Velloso, Marco Aurélio,
Temos até no contencioso internacional Francisco Rezek e Maurício Corrêa. Sub-
exemplos conhecidos de ênfase sobre essa procurador-Geral da República, o Dr. Mar-
distinção. No romper da década de 70 a dem Costa Pinto.
Corte Internacional de Justiça julgou o caso Brasília, 4 de abril de 1995 — Wagner
da «Barcelona Traction Light and Power» Amorim Madoz, Secretário.
R.T.J. — 158 111
este enfoque não conheceu o Tribunal o processuais para o ajuizamento de sua irre-
remédio heróico, evidentemente sem aden- signação, cuja premissa não é correta,
trar o mérito. como exsurge daquela mencionada nor-
Reconheça-se, desde já, haver-se lavra- ma.
do equívoco quanto à conclusão a que se A pergunta lógica que daí se obtém é a
destinou o mencionado acórdão. Em ne- de que o ato — que indiscutivelmente é
nhum momento, quer na petição inicial, traumático e excepcional, da dissolução de
quer nas outras intervenções do recorrente, uma sociedade como a que integra o recor-
em momento algum, deixou ele de afirmar rente —, jamais poderá ser discutido em
a natureza concreta da res deducta, ou seja, juízo, prevalecendo o certo ou errado da
de que se valia do Judiciário para questio- potestatividade da decisão ministerial.
nar a inconstitucionalidade e ilegalidade da
portaria ministerial para ensejar o restabe- Sim, pois hoje, quem tem lekithnidade
lecimento da patente da seguradora, pois se processual para questionar o ato, será exa-
inquinado de vício ou erro o edito governa- tamente o emissário do Ministro de Estado,
mental, como sustenta, reativada a socieda- que acumulando a qualificação de Minis-
de, e em condições de pleno funcionamen- tro, também preside o Conselho Nacional
to, restar-lhe-ia a participação em seus di- de Seguros Privados — CNSP, que indica-
videndos, que é o que estimula organiza= ra para gerenciar a liquidação, pessoa de
rem-se as pessoas entre si, para que em se sua estreita confiança, aliás funcionário
agrupando de modo associativo em um aposentado da Susep! Jamais vai desobede-
mesmo negócio, e cujo objetivo subjacente cer a ordem de quem o nomeou, sob pena
é o lucro, se espera advenha do capital de perder o bom salário que recebe dos
empregado. cofres da empresa, como liquidante oficial,
e que se constata dos autos.
Da leitura atenta que fiz, quer da Lei n°
6.404, de 15 de dezembro de 1976 — que Com todas as vênias que me merece a
dispõe sobre as sociedades por ações —, decisão atacada, parece-me falsa a premis-
quer no Decreto-Lei n° 73/76, que trata da sa concludente em que se ateve. A questão
política de seguros —, nada encontrei, ab- de fundo, básica, nodal, não é a de saber se
solutamente nada encontrei, inclusive em o recorrente é detentor ou não dos pressu-
suas modificações, algo que dissesse que o postos para o processo, com supedâneo na
acionista minoritário não possa recorrer à ausência de norma positiva das leis que
justiça, fora dos limites de seu artigo 109 regulam a matéria, para legitimar o pleito
(Lei n° 6.404/76) e de sua exegese que nele do recorrente. A meu ver, segundo a siste-
se define, na defesa dos direitos do acionis- mática de nosso ordenamento constitucio-
ta, segundo os quais, nessas hipóteses, pode nal, nada impede, senão encoraja quem, em
ele se valer legitimamente da prestação ju- situação como a que retrata os autos, veja-
risdicional a que tem direito. se impedido de pleitear a reparação de um
E se norma, nesse sentido existisse, es- ato, que ele, somente ele o acionista, tem
taria contaminada com o vício da inconsti- condições de exercitar.
tucionalidade. E mais do que isto, sendo o Presidente
A interpretação, a meu ver, desse enun- da Diretoria e Presidente do Conselho de
ciado de classificação dos direitos do acio- Administração, por ocasião da intervenção,
nista, impõe-se ao evidente resultado de não é admissivel que, com tudo isso, este
que o recorrente não reúne os pressupostos acionista, na plenitude de seus direitos de
116 R.T.J. — 158
—isto tanto na liquidação judicial como na O recorrente não pode ter as portas do
extrajudicial ou na voluntária proposta pela Judiciário fechadas. Na petição arrolam vá-
Assembléia de Acionistas ou quanto à ori- rias inconstitucionalidades que teriam
ginária de ato oficial — dentre elas a de ocorrido em virtude da portaria ministerial.
ajuizar ações executivas para o cumpri- Não sei se procede ou não procedeo mérito.
mento de obrigação de subscrições de Cuido-me apenas da preliminar de conhe-
ações. Obrigação, inclusive, como antes cimento. E o faço seguro de que, se lei
salientei, decorrente também do Decreto- houvesse que impedisse o requerente de
Lei n° 73/76, que o liquidante promoverá buscar a reparação de um direito perante o
contra o recorrente, caso não tenha integra- Poder Judiciário, no mínimo esta lei seria
lizado as suas ações. inconstitucional. A Constituição Federal,
que a despeito de seus defeitos, mereceu do
Este diploma, que autoriza a liquidação
mundo civilizado os maiores elogios na
e de que se valeu o Ministro de Estado para
parte relativa aos direitos e garantias in-
o seu ato, curiosamente é o mesmo que
determina ao liquidante que cobre do acio-
dividuais, inexoravelmente, em seu inciso
XXXV, do artigo 5°, não marginaliza o
nista que não integralizou as suas ações,
recorrente ao sagrado direito de ver a sua
que o faça. Confira-se:
pretensão examinada.
«Art. 99 — Além dos poderes ge- As duas primeiras Constituições repu-
rais de administração, a Susep ficará blicanas não explicitaram as garantias indi-
investida de poderes especiais para re- viduais, o que teria levado Rui Barbosa a
presentar a Sociedade Seguradora liqui- extrair da teoria da separação dos Poderes,
danda, ativa e passivamente, em juízo a afirmação de que
ou fora dele, podendo:
«na ordem jurídica de nossos tempos
a) propor e contestar ações, inclusi- não se há mister de para cada hipótese,
ve para integralização de capital pelos encontrarmos especificamente consa-
acionistas (...).» grada a faculdade legal de manter o di-
reito mediante ações judiciárias adequa-
Observe-se que brutal paradoxo. A lei das. A toda violação de um direito res-
exige que o liquidante execute o acionista ponde sempre uma ação correlativa, in-
que não integralizou o seu capital em ações, dependentemente de lei especial que a
mas ao contrário, o acionista não tem direi- outorgue» (In o direito do Amazonas,
to a nada, nem mesmo sequer a perguntar vol. 1, pág. 377, citado por Alcino Pinto
aos juízes se a cassação do funcionamento Falcão em «Comentários à Constitui-
da sociedade de que faça parte, se tem ele ção», 1° vol., Ed. Jur. Freitas Bastos,
ou não direito a questioná-la, porque senão pág. 253).
ele, ninguém o faria!
Somente a partir da Constituição de
Que se dirá do enunciado de Ulpiano, 1946, foi insculpida a regra do artigo 141,
«se quid universitati debetur, singulis § 4°, assecuratória de que a lei não poderá
non debetur, nec quod debet universita- excluir qualquer lesão de direito individual,
tis, singuli debent» (In Digesto, 3, 4, 7, § como prerrogativa do judiciário. Enuncia-
1°), ou seja, se alguma coisa é devida à do novo no nosso ordenamento constitu-
liquidação, não o é aos acionistas, e o que cional, uma vez que a Constituição de
a sociedade deve, não é devido pelos acio- 1937, evidentemente, ao tema nada se refe-
nistas. riu e parcimoniosamente, por incrível que
118 R.T.J. —158
pareça, somente a do Império o fez, estabe- Sampaio Dória, também em seu livro
lecendo o seu artigo 179, n° XII que «será «Direito Constitucional», 3° edição, 1°
mantida a independência do Poder Judi- Tomo, da Companhia Editora Nacional,
cial. Nenhuma autoridade poderá evo- pág. 109, não é menos contundente:
car as causas pendentes, sustá-las ou fa- «O mesmo, na sociedade de capitais.
zer reviver os processos findos». Acionista nenhum pode ter o direito ex-
Comentando o artigo 141, § 4°, da Cons- clusivo, só porque tal se presuma, de
tituição de 1946, o Ministro Temístocles impor sua vontade aos co-associados.
Cavalcante, na sua «Constituição Federal Os lucros da empresa, ou a falência so-
Comentada», vol. III, José Konfino Editor, cial interessam o patrimônio de todos os
pág. 76, adverte: acionistas: ou vão eles embolsar divi-
dendos, ou perder as ações. Uma ou
«Mas essa intervenção judicial, na outra conseqüência, à parte a sorte, ou o
proteção dos direitos e garantias indivi- azar dependerá dos diretores que a so-
duais, não exclui o juiz da obrigação de ciedade tiver. Logo, a todos os acionis-
considerar também as razões e os moti- tas há de caber a organização, direção e
vos dos atos, reconhecendo assim, im- administração da empresa, através, em-
plicitamente a necessidade do uso do bora, dos representantes que elejam. Im-
poder discricionário, por motivo de in- por um deles sua vontade onipotente aos
teresse público. outros seria contra as leis naturais da
associação, e, pois, ato ilegítimo. Seria
É que também o exercício desse po- receber uns as conseqüências dos que
der se verifica ou se legitima em benefí- outros tenham feito, e, pois, violação à
cio da proteção dos direitos, a fim de lei necessária da responsabilidade.»
manter-se o seu justo equilíbrio.
Dissertando sobre o inciso XXXV, do
Não há, portanto, muitas vezes, vio- artigo 5°, da atual Constituição, salienta
lação ao direito pelo fato do uso do Alcino Pinto Falcão,
poder discricionário porque o seu exer- «de minha parte, sustento que o inciso
cício legítimo e adequado se concilia, em comentário não apenas veda a exclu-
perfeitamente, com a proteção daqueles são da apreciação da lesão de direito
direitos. pelo Poder Judiciário, mas também lei
que implique numa procrastinação arbi-
A questão apresenta mais complexa, trária da apreciação; uma ou outra serão
quando o ato é daqueles que se avizi- inconstitucionais. Em princípio não há
nham das questões políticas, isto é, das diferença entre justitia denegata vel
questões atribuídas especificamente a protracta, raciocínio que mais se refor-
qualquer dos poderes. E assim que, mes- ça se se atentar em que basta, pelo inciso
mo os atos políticos em sua natureza, a ameaça ao direito (postulação preven-
podem ser corrigidos pelo poder judi- tiva, pois, que ficará empachada, se to-
ciário, naquilo que possa atingir, em leradas dilações ao recurso via judiciá-
seus efeitos, direitos individuais; será ria)». (Ob. cit. págs. 255)
menos o ato, em si, que os efeitos atin-
gidos pelo exame judicial. E o poder Aduz, ainda o comentarista, salientando
judiciário não deve temer em assegurar que
essa proteção, sob pena de renunciar à «o texto atual tem uma redação digna de
sua função específica.» encômios e corrigiu uma indevida res-
R.T.J. — 158 119
trição (protelatória), que injunção auto- sob dois prismas: (1) como interdição ao
ritária fizera inserir no § 4°, do art. 153 juiz de fazer distinção entre situações
da Constituição em vigor durante o re- iguais, ao aplicar a lei; (2) como interdi-
gime castrense, exigindo que fossem, ção ao legislador de editar leis que pos-
previamente exauridas as vias adminis- sibilitem tratamento desigual a situa-
trativas. Pelo atual inciso, essa corrup- ções iguais ou tratamento igual a situa-
ção do princípio do livre acesso ao Po- ções desiguais por parte da justiça;»
derJudiciário não mais subsiste e trouxe e mais adiante, à pág. 223, agrega:
novidade: basta a plausibilidade da
ameaça ao direito, não mais se exigindo «A outra forma de Inconstitucionali-
a ocorrência da lesão consumada. E pro- dade revela-se em se impor obrigação,
teção não só para o indivíduo, pessoa dever, ônus, sanção ou qualquer sacrifí-
física, como para a pessoa jurídica, de cio a pessoas ou grupos de pessoas, dis-
que faça parte, como parece evidente, já criminando-se em face de outros na
que os direitos subjetivos tanto podem mesma situação que, assim, permanece-
ter como titular aquele ou esta, não ha- ram em condições mais favoráveis. O
vendo motivo honesto e sério para dar o ato é inconstitucional por fazer discrimi-
recurso a um e negar o outro.» (Ob. cit. nação não autorizada entre pessoas em
págs. 255/256) situação de igualdade. Mas aqui, ao con-
trário, a solução da desigualdade de tra-
José Afonso da Silva, no seu consagrado
tamento não está em estender a situação
«Curso de Direito Constitucional Positi-
jurídica detrimentosa a todos, pois não
vo», Malheiros Editores, 10° edição, 1994,
é constitucionalmente admissível impor
pág. 213, esclarece:
constrangimentos por essa via. Aqui a
«A concepção de que o princípio da solução está na declaração de inconsti-
igualdade perante a lei se dirige prima- tucionalidade do ato discriminatório em
riamente ao legislador avulta a impor- relação a quantos solicitarem ao Poder
tância da igualdade jurisdicional. Pois, Judiciário, cabendo também a ação dire-
se o princípio se dirigisse apenas ao ta de inconstitucionalidade por qualquer
aplicador da lei, bastaria a este repetir o das pessoas indicadas no art. 103.»
princípio da legalidade; o da igualdade
estaria também salvo. No sentido da Em magnífica monografia sob o título
concepção exposta, que é a correta e «O Direito Constitucional à Jurisdição»,
pacificamente aceita, o princípio da publicada em as Garantias do Cidadão
igualdade consubstancia uma limitação na Justiça», Editora Saraiva, 1993, págs.
ao legislador, que, sendo violada, im- 31/51, Cármen Lúcia Antunes Rocha, de-
porta na inconstitucionalidade da lei, em senvolve admirável avaliação sobre o tema,
termos que especificaremos mais adian- que transcrevo, da página 33, o seguinte
te. Constitui, por outro lado, uma regra trecho:
de interpretação para o juiz, que deverá «Sem o controle jurisdicional, todos
sempre dar à lei o entendimento que não os agravos às liberdades permanecem
crie condições. A igualdade perante o no limbo político e jurídico das impuni-
juiz decorre, pois, da igualdade perante dades. Todas as manifestações da liber-
a lei, como garantia constitucional in- dade, todas as formas de seu exercício
dissoluvelmente ligada à democracia. O asseguradas de nada valem sem o res-
princípio da igualdade jurisdicional ou pectivo controle jurisdicional. A liber-
perante o juiz apresenta-se, portanto, dade sem a garantia do pleno exercício
120 R.T.I. — 158
lando o preceito que eles responderão soli- sentando a legitimidade ad causam do im-
dariamente — e, portanto, relativamente à petrante Raul de Souza Silveira e, com isso,
dívida única, sendo responsáveis pela tota- reformando o acórdão proferido pelo Supe-
lidade — é isso que significa a solidarieda- rior Tribunal de Justiça, para que, retoman-
de — pelos prejuízos causados a terceiros, do os autos, prossiga na apreciação do man-
inclusive aos seus acionistas, em conse- dado de segurança, afastado o óbice indi-
qüência do descumprimento de leis, nor- cado.
mas e instruções referentes às operações de
VOTO
seguro, co-seguro, resseguro ou retroces-
são, e em especial, pela falta de constitui- O Sr. Ministro Néri da Silveira (Pre-
ção das reservas obrigatórias. sidente): Dúvida efetivamente poderia sub-
Indago: diante desse contexto normati- sistir, quanto à legitimidade de outro qual-
vo, como afastar, como fez a Corte de ori- quer acionista, que não detivesse na empre-
gem, o interesse jurídico do Impetrante-ad- sa submetida à liquidação a posição de
ministrador, já que poderá ter os bens al- comando mantida pelo impetrante, na
cançados para satisfação de possíveis cre- oportunidade, presidente da Seguradora e
dores e também acionistas? Não vejo também de seu Conselho de Administra-
como, Senhor Presidente, caminhar-se nes- ção. Com o decreto de liquidação da enti-
se sentido. Para mim, com a devida vênia dade, sua administração passou a fazer-se
do Ministro-Relator que nega provimento pela SUSEP, nos termos do art. 99 do
ao ordinário, é olvidar o devido processo Decreto-Lei 7.366, vale dizer, afastados
legal. É deixar a parte que, em tese, está foram os administradores da empresa. A
prejudicada — não estou analisando o tema impugnação a esse ato de intervenção do
de fundo — sem o acesso ao Judiciário. É Estado na entidade, e, ainda, ao decreto de
colocar em plano secundário as garantias sua liquidação, somente poderia ser efeti-
constitucionais dos incisos XXXV e LV do vamente realizada por quem vinha repre-
artigo 5° da Carta de 1988. sentando os interesses da empresa atingida
pelo ato do Estado; do contrário, o ato de
Não trouxe voto escrito, porque a parte liquidação ficaria, em linha de princípio,
doutrinária foi muito bem explorada pelo insusceptível de ser trazido ao controle ju-
Ministro Maurício Corrêa, no tocante à tese dicial. Dir-se-á que a administração era rui-
que também sustento, como também foi nosa e por isso a liquidação se fez necessá-
muito bem explorada pelo Ministro Fran- ria. Mas precisamente isso é que os admi-
cisco Rezek, ao referendar, ao endossar a nistradores, não conformes com o ato ofi-
decisão do Superior Tribunal de Justiça que cial, querem ver discutido em Juízo.
resultou na declaração da carência da ação
mandamental. Apenas procurei realçar, Compreendo, assim, que o mandado de
para uma reflexão, o teor do Decreto-Lei segurança, impetrado contra o ato de liqui-
que rege o assunto, no que revela, clara- dação pelo então presidente da empresa e
mente, a responsabilidade dos diretores, de seu Conselho de Administração, foi re-
administradores e gerentes. E o Impetrante querido por quem estava para tanto legiti-
era Presidente da Seguradora e também do mado. Em primeiro lugar, porque afastado
Conselho de Administração. da gestão da empresa; em segundo lugar,
porque o decreto de liquidação o atinge,
Voto, com a vênia do Ministro Francis- bem como a todos os administradores, de
co Rezek, no sentido do pronunciamento uma forma direta, no que conceme, inclu-
do Ministro Maurício Corrêa, ou seja, as- sive, a seus bens, que ficam indisponíveis
R.T.J. — 158 123
Para o fim explicitado, meu voto é no dos brasileiros que foram seduzidos por
sentido de deferir parcialmente a liminar uma tese forjada, oportunista e demagó-
requerida. gica.
VOTO A raridade do caso se manifesta até em
detalhes singulares como, em contraste
O Sr. Ministro Francisco Rezek: So- com a importância que a decisão tem para
bre o aspecto de bom direito da tese que o governo, a ausência de qualquer repre-
embasa o pedido de segurança, pouco há sentante do Poder Executivo nesta sala...
que dizer. O relator acaba de nos lembrar Perguntei-me se a raridade destas cir-
as circunstâncias, a natureza e o conteúdo cunstâncias e os aspectos gravíssimos da
do aparato normativo que está agora em situação criada justificariam, acaso, uma
mesa.
reforma da jurisprudência do Tribunal, no
Sabemos, entretanto, que os pressupos- sentido de que diferenças salariais contro-
tos da concessão, ainda que parcial, de me- vertidas não se devem pagar liminarmente,
dida cautelar, são dois: com o aspecto de visto que dinheiros salariais têm natureza
bom direito da tese há de coexistir a con- alimentar e, uma vez pagos, são irrecuperá-
vicção de que algo deve fazer-se desde logo veis.
para que depois, no desfecho do mandado
de segurança, não se veja consolidado um Concluí que o desfecho a ser dado ao
quadro irremediável. juízo liminar é aquele que agora propõe o
Ministro Relator. Não temos como contes-
Neste particular, estamos diante de cir- tar a firmeza do aspecto de bom direito da
cunstâncias raras. Estamos diante de um tese da impetração Não deveríamos, con-
caso absolutamente único na história da tudo, a meu sentir, romper com velha juris-
República; na história da convivência entre prudência indicativa de que dinheiros as-
as instituições republicanas. sim contestados não devem liminarmente
Aquilo que o mandado de segurança traz ser pagos.
à mesa do Supremo e à sua análise, em juízo O relator, entretanto, lembra o fator in-
liminar, é o desdobramento de um fenôme- flacionário; lembra que tais valores, de na-
no que não conhece precedentes; de um tureza salarial, deveriam ser garantidos
oceano de equívocos, determinados no mí- contra os efeitos da inflação. E preconiza
nimo pela inadvertência, quando não pelo não o pagamento, mas a preservação de tais
propósito premeditado de causar desgaste somas em contas remuneradas, sob a res-
injusto e grosseiro à instituição judiciária. ponsabilidade das instituições públicas que
Criou-se, com leviandade e perfídia, os detinham antes que um gesto extraordi-
uma situação de equívoco que só a partir da nário do Executivo dali os deslocasse.
última quarta-feira começa a sofrer coneti-
Um dia, outros aspectos desta questão
vo. A verdade transparece nos últimos dias,
e aflora com grande evidência nas publica- jurídica e de tudo que a circunda hão de
aflorar na sua integralidade, e os conhece-
ções semanais do dia de ontem, sobretudo.
Mas quem expõe aos brasileiros a verdade rão todos.
é, neste momento ainda, tão-só a imprensa Penso que o mais penoso, na sessão de
escrita, quando o engodo foi levado aos hoje, é o fantástico esforço que se impõe
ares do país pela comunicação televisiva. O para nos convencermos de que não é este,
número daqueles que agora percebem a ainda, o momento de dizer, à margem da
verdade real é bem mais estreito do que o estrita questão jurídica considerada, todas
R.T.J. — 158 127
ja, relativamente às datas, a conversão do terial no que concerne aos lançamentos fei-
vencimento em Unidade Real de Valor. tos.
Não cabe aqui, especialmente, na aprecia- Relativamente ao alcance da medida a
ção preliminar deste mandado de seguran-
ser deferida, tenho que a natureza jurídica
ça, quando se analisa a necessidade da con- da liminar, no mandado de segurança, é
cessão, ou não, de liminar, definir-se o acauteladora. Visa a evitar prejuízos maio-
acerto ou desacerto dos enfoques que têm res para o Impetrante. Todavia, essa liminar
sido veiculados pela imprensa escrita e fa- difere substancialmente das passíveis de
lada. A questão que se coloca ao exame do serem deferidas em demandas cautelares,
Tribunal é única. É saber-se da intangibili- porque, a teor do próprio artigo 7° da Lei n°
dade das contas correntes dos substituídos
1.533/51, embora sujeita a uma condição
pelo Sindicato-impetrante.
resolutiva — a denegação da segurança —
Quanto não ao sinal do bom direito, mas tem caráter satisfatório e, para usar uma
ao bom direito em si, subscrevo os enfo- expressão do Desembargador Hamilton de
ques já dados à matéria pelos eminentes Moraes e Barros, caráter «satisfativo». O
que ocorre segundo a melhor doutrina —
Ministros limar Gaivão e Francisco Rezek.
Calmon de Passos, Celso Agrícola Barbi e
Não houve correção de um erro material Coqueijo Costa — é que, com a liminar,
notado quando dos créditos dos valores, antecipa-se, provisoriamente, a entrega da
mas um estorno ocorrido por instrução. prestação jurisdicional.
Indaga-se: instrução daquele que tinha em
patrimônio, tinha na respectiva conta cor- Senhor Presidente, a atividade jurisdi-
rente, o crédito como devidamente realiza- cional há de ser necessária, há de ser útil.
do? Não! Estorno que decorreu de instru- Presente a extensão conferida à liminar
ção de terceiro. O inciso LIV do artigo 5° pelo nobre Ministro Relator, transferindo
da Constituição Federal é categórico ao da conta do Tesouro Nacional para uma
revelar que ninguém será privado da liber- conta, também no Banco do Brasil, os va-
dade ou de seus bens sem o devido processo lores estornados — conta que passaria a
estar à disposição do Juízo competente para
legal. O que houve foi a retirada de contas
julgamento deste mandado de segurança,
correntes — inobservando-se a intangibili- que é inegavelmente o Supremo Tribunal
dade dessas contas e considerado ato de Federal —, não vislumbro os dois predica-
terceiro — de um crédito já efetuado. Em dos inerentes à atuação judicante. Ainda
relação ao risco, temos que atentar para a que se despreze o fato de o mandado de
origem desses valores, que estão ligados ao segurança não ter contornos preparatórios,
campo alimentar. Presumem-se que sejam ao reverso do que acontece normalmente
indispensáveis à subsistência própria dos com a demanda cautelar, não me parece que
correntistas substituídos pelo Sindicato- haja risco maior em deixar-se o total dos
impetrante e das respectivas famílias. Sob valores estornados onde ele hoje está: não
o ângulo individual e, também, sob o cole- acredito que se possa, a esta altura, cogitar
tivo, presentes os interesses da sociedade, de uma segurança maior para o Impetrante,
a segurança jurídica que é um dos apaná- mais precisamente para os substituídos
gios da vida gregária, tenho como existente pelo Impetrante, para os correntistas, com
o risco. Foi olvidada, repito, a intangibili- a mera transferência desses valores, do erá-
dade das contas correntes no que não pode- rio, para uma conta especial. Não receio a
riam ser tocadas, a menos que se estivesse quebra da União; não posso receá-la e nin-
diante de um erro, um flagrante erro ma- guém melhor do que a União para vir,
R.T.J. — 158 129
País, que o Poder Judiciário não está sujeito obstante os efeitos perversos e as gravfssi-
aos desígnios daqueles que, insistindo em mas conseqüências que desse comporta-
submeter o império da Constituição à von- mento emergem.
tade unipessoal do Presidente da Repúbli-
ca, expressa em simples medida provisória, Aqueles que, há 30 anos atrás, golpea-
pretendem ser, por um gesto irrefletido de ram as instituições em 1964, derrubaram
autoproclamação política, os curadores do um governo legitimamente escolhido pelo
regime, sem que, para tanto, lhes assista, voto popular e, em assim procedendo, in-
nesse anômalo sistema de condomínio de terromperam arbitrariamente o processo
poder, qualquer parcela de legitimidade ju- constitucional no Brasil devem saber, onde
rídico-institucional. quer que hoje se encontrem, que essa nódoa
destaca, ad perpetuam rei memoriam, a
Os magistrados devem obediência ex- sua responsabilidade histórica na instaura-
clusiva à Constituição. Sendo assim, torna- ção e na sustentação de um nefando regime
se inaceitável qualquer tentativa de sub- autoritário que institucionalizou, a partir de
missão da Magistratura — enquanto legíti- 1968, com fundamento no AI-5 — verda-
ma expressão do poder civil — a uma nova deiro codinome do arbítrio ilimitado — um
forma de estratocracia que parece pulsar sistema político que tomou viáveis práticas
nas linhas e entrelinhas das mensagens e brutais que vieram a ser rejeitadas pela
declarações ameaçadoras que, há uma se- consciência ético-jurídica do Povo brasilei-
mana atrás, foram divulgadas pelos meios ro e das nações civilizadas.
de comunicação social.
É preciso ressaltar que a experiência
O Brasil não aceita modelos políticos de concreta a que se submeteu o Brasil no
inspiração autoritária, qualquer que seja a período de vigência do regime de exceção
denominação que se lhes dê: regime cívi- (1964/1985) constitui, para esta e para as
co-militar, ou regime de arbítrio, ou regime próximas gerações, marcante advertência
de exceção, eis que todos, sem distinção, que não pode ser ignorada: as intervenções
constituindo sistemas marginais de poder, pretorianas ou militares no domínio políti-
igualam-se nos gestos de atrevimento, de co-institucional — do pretorianismo oli-
insolência oficial e de sistemático desres- gárquico ao pretorianismo de massas, pas-
peito às liberdades e ao postulado essencial sando pelo pretorianismo radical — têm
da legitimidade democrática. representado momentos de grave inflexão
As crises políticas devem solucionar-se no processo de desenvolvimento e de con-
dentro do quadro normativo delineado pelo solidação das liberdades. Pronunciamentos
ordenamento constitucional, com os instru- militares, quando efetivados e tomados vi-
mentos jurídicos nele previstos e com fun- toriosos, tendem, necessariamente, na lógi-
damento exclusivo na rule of law. ca do regime supressor das liberdades que
se lhes segue, a diminuir (ou a virtualmente
Preconizar a dissolução do Congresso
eliminar) o espaço institucional reservado
Nacional, ou a antecipação das eleições
ao dissenso, limitando, desse modo, com
parlamentares ou, ainda, a destituição dos danos irreversíveis ao sistema democráti-
Ministros do Supremo Tribunal Federal,
co, a possibilidade de expansão da ativida-
tudo isso exprime uma clara incitação à de política e livre da cidadania.
desordem civil, que traduz o gesto acintoso
daqueles para quem a destruição do sistema As notas, declarações e manifestos que
constitucional representa o exercício banal foram divulgados apresentam-se, dentro
de,um ato de inconseqüente rebeldia, não desse contexto, como graves sinais premo-
132 R.T.J. — 158
nitórios que devem estimular, com o uso Mais sério do que isso, pretender impor
responsável dos instrumentos propiciados a vontade presidencial, negando prepoten-
pelo sistema jurídico em vigor, a imediata temente ao Judiciário, a partir de interpre-
reação do corpo social, com o objetivo de tações abstrusas e equivocadas, a possibili-
evitar que, erigindo-se membros de deter- dade de aplicar postulados da mais elevada
minado estamento corporativo, à condição estatura normativa, que encontram funda-
de guardiães exclusivos da ordem, venham mento na própria Constituição da Repúbli-
eles, no desempenho de um papel que lhes ca, significa praticar, na dimensão em que
têm recusado as formações sociais demo- se projeta o nosso sistema de direito posi-
cráticas, a atuar como árbitros únicos dos tivo, um ilícito constitucional, com grave
conflitos políticos, sociais e institucionais. subversão da hierarquia jurídica.
O texto constitucional, Sr. Presidente, Somente pessoas desatentas ao fato de
não deve expor-se a manipulações exegéti- que vivemos sob um regime constitucional
cas que somente visem a propiciar interpre- de poderes limitados, que se mostrem in-
tações jurídicas destinadas a satisfazer a fensas a qualquer compromisso com a or-
conveniência dos planos e dos projetos do dem jurídica consagrada pela Constituição
Poder Executivo. A Constituição não é — que representa, no seio das sociedades
mera lex privata. O Estado não pode inter- politicamente organizadas, o único parâ-
pretá-la somente pro domo sua. Ela repre- metro subordinante de todas as ações esta-
senta, na abrangência do seu subordinante tais — seriam capazes de desrespeitar os
domínio normativo, o instrumento de defi- fundamentos em que se assenta, com toda
nição das relações institucionais entre os a plenitude de sua legitimidade, o Estado
Poderes da República e o manto protetor democrático de direito.
das liberdades públicas em face do caráter
expansivo da atuação do poder estatal. Pretensões remuneratórias não podem e
não devem ser utilizadas por quaisquer cor-
Interpretações facciosas da Constitui- porações como instrumento de pressão so-
ção, que somente considerem, como pers- bre o poder civil, especialmente quando
pectiva única do intérprete, a visão dos acompanhadas de ensaios explícitos de do-
interesses institucionais do Poder Executi- loso confronto institucional.
vo, deslegitimam-se por si próprias, em
face da natureza de que se reveste o texto A interpretação de uma medida provisó-
constitucional, vocacionado — enquanto ria não pode limitar-se à análise isolada e
obra de compromisso resultante do consen- gramatical do seu texto. A hermenêutica —
so da comunhão nacional — a tornar efeti- a boa e competente hermenêutica — impõe
vos, na prática concreta das instituições, os que a exegese dos atos do Poder Público
postulados do pluralismo político, da livre seja feita de modo sistêmico. A interpreta-
circulação de idéias, das liberdades públi- ção compatibilizadora de uma medida pro-
cas e da divisão funcional do Poder. visória, que tenha por finalidade ajustar o
sentido desse ato legislativo à positividade
Recusar a supremacia da Constituição, subordinante do modelo consagrado pela
para, sobre ela, fazer prevalecer o direito própria Constituição, representa um dos
ordinário (como as normas constantes de momentos mais expressivos da experiência
lei ou de medida provisória), significa rom- jurídica, na medida em que busca preservar
per a normalidade jurídica do Estado demo- a espécie legislativa inferior a partir de uma
crático de direito. leitura que confira precedência, sempre
R.T.J. — 158 133
Que a conversão, na data do efetivo cruzeiros reais, para um novo acerto ex-
pagamento, no caso dos servidores do Po- presso em URV.
der Legislativo, considerado o art. 168 da
A regra básica que se está propondo
Constituição, decorre do sistema global da
é a da conversão usando a média dos
Medida Provisória n° 434, de 27-2-94, a
valores reais dos salários que são defi-
mim me bastaria que seja esse o conteúdo
nidos pelo efetivo recebimento nos últi-
da decisão que, embora no âmbito próprio
de sua administração, o Supremo Tribunal mos quatro meses, no objetivo de man-
Federal tomou: esse corpo de cidadãos que ter o poder de compra médio do salário
somos nós, a quem já se disse tocar a dolo- do trabalhador. O poder de compra do
rosa responsabilidade de, se for o caso, salário é de fato aquele que o salário tem
errar por último, ainda cabe — e queiram no momento em que é recebido e em que
as Parcas que continue a tocar — a respon- pode efetivamente ser gasto. Por isso se
sabilidade de interpretar definitivamente a está definindo como base para a conver-
Constituição e as leis desta República. são dos salários de cruzeiros reais para
URV, a média aritmética dos valores
Mas não me furto à tentação de docu- dos salários na data dos quatro últimos
mentar que essa leitura sistemática da Me- pagamentos, convertidos cada um deles
dida Provisória n°434, subjacente à decisão em URV pelo valor de conversão nesta
administrativa do Supremo Tribunal e das data. Desta forma fica assegurada a ma-
Casas do Congresso Nacional, é também a nutenção do poder de compra dos salá-
inteligência que dela extraíram os Minis- rios para todos.
tros de Estado que encaminharam o texto à
edição do Senhor Presidente da República. A conversão dos salários para URV
Como têm notado diversos e ilustres parla- será efetiva, tanto para os trabalhadores
mentares, isso é o que decorre nitidamente com regime salarial ditado pela CLT,
dos §§ 46 e 48, da Exposição de Motivos quanto para os funcionários públicos. A
com a qual os Senhores Ministros da Fa- conversão para URV dos salários do
zenda, do Trabalho, do Estado Maior das funcionalismo contribuirá para a estabi-
Forças Armadas, da Justiça, da Previdência lização da folha de pagamentos e do
Social, da Secretaria da Administração Fe- poder de compra dos servidores, redu-
deral e da Secretaria de Planejamento, Or- zindo, conseqüentemente, as oscilações
çamento e Coordenação da Presidência da nos recursos de caixa do tesouro nacio-
República propuseram ao Presidente da nal».
República a edição da Medida Provisória. Creio que o momento não exige outros
Leio-os: comentários. O que está em causa, verda-
«A fase que se está inaugurando a deiramente, e já se enfatizou bastante o
partir desta Medida Provisória, se desti- ponto, é o ato coator, a ordem presidencial
na a implementar uma reforma monetá- transmitida pelo Senhor Ministro da Fazen-
ria e não uma mudança no regime sala- da para retirar numerário já creditado na
rial. Todas as alterações que estamos conta corrente dos servidores, de parcela
propondo neste campo se restringem a que se entende indevida, em razão de dis-
regular a mudança do padrão monetário cordância quanto à data da conversão ado-
e deve ser neutro no tocante à renda. tada. E esse exercício menu própria, das
Trata-se, portanto, de estabelecer as próprias razões, creio que a ordem jurídica
condições básicas para a conversão dos não suporta. Tal a verdade, de fato espan-
salários que até hoje estão pactuados em tosa, não ficaria longe de chegar à solução
138 R.T.J. —158
dido mais de uma vez, e desses agravos Avizinha-se o dia em que, por força de
guarda cicatrizes inapagáveis. A 10 de lei, terei de deixar esta Casa ilustre. Não
agosto de 1893, o então Vice-Presidente no imaginava, até ontem, que antes de despe-
exercício da presidência informava ao Tri- dir-me dela, teria o dissabor que experi-
bunal, por meio de seu Ministro da Guerra, mento. Tenho me recordado de fato ocorri-
que deixaria de cumprir parte da ordem de do ao tempo em que a desordem institucio-
habeas corpus, concedida pelo STF, a des- nal degradava o Brasil; pelo Professor Paul
peito de ameaçado de dissolução; e a 25 de B astid, da Faculdade de Direito da Univer-
julho do ano seguinte, desta vez por inter- sidade de Paris, fora convidado para expor
médio do Ministro da Justiça; dava notícia a evolução constitucional de nosso país,
semelhante a propósito de outro habeas bem como as linhas fundamentais da Cons-
corpus. A 24 de fevereiro de 1911, no tituição Brasileira, como preâmbulo ao seu
quadriênio que haveria de celebrizar-se, texto no Corpus Constitutionnelle, que se
entre outras façanhas, pelo bombardeio da editava em Bruxelas, com as constituições
Bahia e de Manaus, pelo morticínio da Ilha de todos os países que as têm, na língua
das Cobras e pelos honores do «Satélite», original e em francês. Depois de ter aceito
o Ministro da Justiça comunicava ao STF o honroso convite, dele declinei, para não
que o governo não daria cumprimento à ter de exibir a indecência dos chamados
ordem de habeas corpus que aquele emi- atos institucionais, e desse modo não vi
tira em favor do Conselho Municipal do meu nome associado ao magno empreendi-
Rio de Janeiro. Com o andar do tempo, na mento em obra de circulação universal. De
evolução do país e de suas instituições, certa forma, o fato se repete. Daqui a dois
esses fatos se converteram em obscenida- dias, na quarta-feira, deveria encontrar-me
des históricas. Foi preciso que chegasse o com outros colegas desta Casa e do Institu-
ano de 1939 para que, a 5 de setembro, to Internacional de Direito Público e Em-
quando a guerra começava a incendiar o presarial com o Presidente da Suprema
mundo, um Decreto-Lei, de n° 1.564, cas- Corte dos Estados Unidos da América, em
sasse um acórdão unânime do STF. Jamais Washington. Seria um encontro particu-
se vira isto; nunca mais se viu isto; mas, é larmente interessante. O pudor me fez
de convir-se, os que praticaram essa infâ- cancelar a viagem para não sofrer a humi-
mia eram os mesmos que demitiam, aposen- lhação de ver e ser visto pelo Chief-Jus-
tavam, exilavam, prendiam, torturavam e tice de uma nação que se orgulha de ter
matavam em seus cárceres. Antes, em 1931, dado ao mundo o modelo da sua Cone
o poder de fato instituído confiscou seis dos Suprema, intérprete final dos direitos do
ministros do STF e em 1968 três foram dele homem e o juiz definitivo dos conflitos
excomungados; ainda bem que, eri ambas as entre os poderes.
ocasiões, em 31 e em 68, os agentes da vio-
lência estavam divorciados da ordem jurídica É com profundo desgosto e tristeza ain-
e investidos do arbítrio sem peias. da maior que enfrento o presente MS. A
situação que o motivou não tem anteceden-
Por isto, o mais chocante está no fato de tes em nossa história judiciária; a liminar,
os lamentáveis sucessos de 1994 terem ocor- que venha a ser concedida, em nada conflita
rido em plena normalidade e pouco depois de com anteriores decisões denegatórias de
vencido o longo período de anomalia institu- cautelar, por esta ou aquela razão pela
cional, que custou sangue e lágrimas, peno- simples razão de que o quadro que se abre
sos e ingentes esforços no sentido da recu- à apreciação do STF difere de quanto até
peração da dignidade nacional. hoje se lhe deparou.
140 R.T.J. — 158
ementa, no ponto que aqui interessa (fl. É certo que o julgado do Superior
137): Tribunal de Justiça foi proferido em recur-
«Constitucional e Penal. Tráfico so especial interposto pelo co-réu José
ilícito de substância entorpecente com Antonio Ferreira de Macedo, e não
implicações internacionais. Fato não pelo ora paciente, que se conformou com o
acontecido em comarca que não é indeferimento do que interpusera, deixando
sede de Vara da Justiça Federal e nem de agravar de instrumento (fls. 189, 191 e
onde os réus tinham domicílio. Com- 193).
petência da Justiça Federal. De qualquer maneira, a decisão do Su-
perior Tribunal de Justiça afeta a todos os
L Denúncia fincada nos arts. 12, 14 co-réus, pois manteve a competência da
e 18, I, da Lei n° 6.368/76 relativa a Vara da Justiça Federal de Belém, que a
apreensão de um barco, em águas terri- todos condenou. Inclusive o ora paciente.
toriais brasileiras, transportando apre-
ciável quantidade de cocaína com pas- Sendo assim, o aresto que deve ser
sagem pelo Suriname e destinada aos impugnado com a impetração de habeas
Estados Unidos da América do Norte e corpus, perante esta Corte, não é mais o do
países da Europa, com prisões em fla- Tribunal Regional Federal da 1' Região,
grante de estrangeiro e brasileiros, re- mas, sim, o do Superior Tribunal de Justiça,
clama a competência da Justiça Federal no julgamento do Recurso Especial n°
porque os réus não residiam na comarca 31.059, que, aliás, transitou em julgado (v.
de onde partiu a embarcação e por tra- fls. 137/143 e 134).
tar-se de crime previsto em Convenção 7. Isto posto, não conheço do pedido,
Internacional (CF, art. 109, V, e IX c/c ressalvando ao paciente a possibilidade de
o § 3°), sem vez o disposto no art. 27 da renovar a impetração, perante esta Corte,
chamada Lei de Tóxicos. mas impugnando o acórdão do Superior
Divergência jurisprudencial não Tribunal de Justiça.
provada, pois o recorrente não demons- VOTO (RETIFICAÇÃO
trou as circunstâncias que assemelham
S/PRFLEMINAR)
ou identificam os casos confrontados.
Recurso especial não conheci- O Sr. Ministro Sydney Banhes (Rela-
do.» tor): Sr. Presidente, pareceu-me, de início,
que, tendo o Superior Tribunal de Justiça
Há apenas uma imprecisão na emen- mantido, em recurso especial, o acórdão
ta, ao dizer «fato não acontecido», quando do Tribunal Regional Federal da 1' Região
o certo é «fato acontecido em comarca que (ora impugnado), que considerara compe-
não é sede de Vara da Justiça Federal» (fl. tente a Justiça Federal para o processo e
137). julgamento da ação penal, cuja sentença
Mas, como se vê da ementa e do condenatória confirmou, essa decisão (do
próprio teor do julgado, o Superior Tribu- STJ) afetava o co-réu, ora paciente, pro-
nal de Justiça, doze dias depois da impetra- cessado e julgado pela mesma Justiça e
ção de habeas corpus perante esta Corte, condenado pela mesma sentença.
examinou a questão aqui suscitada e man- E por isso votei, preliminarmente, pelo
teve o acórdão do Tribunal Regional Fe- não conhecimento do habeas corpus, já
deral da 1' Região, que é o ora impugnado que atacado deveria ter sido, então, não
(v. fls. 137, 2 e 8). mais o acórdão regional, mas, sim, o do
R.T.J. — 158 151
Superior Tribunal de Justiça. Até porque bia, trazida com a ajuda de um colom-
havia o risco, em tese, de o Supremo Tri- biano, Ramiro Cruz Mina e seria levada
bunal Federal reconhecer a competência da para o Suriname e de lá para os Estados
Justiça estadual e, então, conceder o ha- Unidos e Europa, o que demonstra a
beas corpus, anulando o acórdão regional competência da Justiça Federal.
e a sentença que confirmou, subsistindo, Ademais, nesta atividade de trafi-
por outro lado, .o acórdão do STJ, negando cância internacional, ressalte-se a im-
essa anulação, por considerar competente a portância do uso do barco «O Vence-
Justiça Federal. dor», de propriedade do paciente.
Após os votos dos eminentes Ministros Com aquele barco, apanharam a
Sepalveda Pertence e Ihnar Gaivão con- cocaína em Santarém-PA, onde chegara
venci-me do desacerto de minha posição em uma embarcação conhecida na re-
inicial. gião por «voadeira», e zarparam com
Como salientou o primeiro, «o caso, é destino ao Suriname.
certo, gera alguma perplexidade, derivada
A substância foi apreendida na-
da alternativa, que a orientação jurispru- quele barco, bem escondida entre duas
dencial consagrou, entre o habeas corpus paredes de madeira habilmente cons-
para o STF ou o recurso especial para o truídas para despistar policiais menos
STJ, contra a mesma decisão. Mas, a opção atentos.
de um co-réu pelo recurso especial, que lhe
resultou desfavorável, não pode obstar a O crime foi consumado a bordo
utilização pelo outro da via do habeas cor- de um navio, o que também define a
pus, sobretudo, enquanto se reputar que competência da Justiça Federal para
este último é da competência do Tribunal processar e julgar o feito, nos termos do
da mais alta hierarquia». art. 109, inciso IX, da Constituição Fe-
deral.
Na mesma linha foi o voto do eminente
Ministro limar Gaivão, que focalizou o 13. Vicente Greco Filho, in «Tóxi-
art. 580 do CPP e convenceu-me de que o cos, Prevenção-Repressão», Ed. Sarai-
acórdão do STJ, desfavorável ao co-réu, va, 1987, pág. 83, comentando o art. 12
não poderia afetar o ora paciente. da Lei n° 6.338/76, preleciona:
Reconsiderando, pois, meu voto preli- «Ação física: São 18 os verbos do
minar, conheço, agora, do pedido. caput que exprimem as formas de
conduta punível e que são os núcleos
VOTO (S/MÉRITO) do tipo, algumas permanentes, como
guardar, ter em depósito, trazer con-
O Sr- Ministro Sydney Sanches (Rela- sigo e expor a venda, e as demais
tor): 1. Superada a questão preliminar, no instantâneas».
mérito, indefiro o pedido.
2. Quanto a esse ponto, é esta a funda- E, na pág. 88, explica:
mentação contida no parecer do Ministério «Consumação e tentativa. Como
Público Federal, a partir de fls. 122, item 8, vimos, consuma-se o delito com a
a fls. 126, item 25, inclusive, in verbis: prática de uma das ações previstas no
«8. Os autos trazem a prova indubi- tipo. Alguns atos de execução, even-
tável de que se tratava de «tráfico inter- tualmente caracterizadores de tenta-
nacional», pois a droga veio da Coram- tiva são, por si mesmos, condutas
152 R.T.J. — 158
Quando oportuno, fundamentarei me- so, posto que a decisão em causa, do Supe-
lhor o meu voto, mas, no caso, com a vênia rior Tribunal de Justiça, sem trazer qual-
do eminente Relator, de logo, conheço do quer benefício ao paciente, na verdade, só
habeas corpus. o pode prejudicar, como, v.g., no impossi-
VOTO (VISTA) bilitar a obtenção, em revisão criminal, de
novo pronunciamento do Tribunal Regio-
O Sr. Ministro Limar Gaivão: Trata- nal Federal, por sua vez impugnável peran-
se de habeas corpus impetrado em favor te o mesmo Superior Tribunal de Justiça,
de Ricardo Antônio Diniz da Conceição, por meio de recurso especial.
contra acórdão do Tribunal Regional Fe- Incide, aí, o princípio ne reformado in
deral da P Região, confirmatório de sen-
peius que resguarda o acusado de qualquer
tença do Juiz Federal do Estado do Pará,
gravame em seu status libertada, não resul-
que condenou o paciente pelos crimes de
tante de iniciativa do órgão acusador, exceto
tráfico internacional de drogas e associa-
nas hipóteses expressamente previstas em lei,
ção para tal fim, não obstante ocorrido o
donde haver o Supremo Tribunal Federal
crime em local que não é sede de Vara da
assentado, na Súmula n° 160, ser «nula a
Justiça Federal, onde é competente para o
decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu,
feito o Juiz estadual da respectiva Comar-
nulidade não argüida no recurso de acusação,
ca, como previsto no art. 27 da Lei n°
ressalvados os casos de recurso de oficio.»
6.368/76.
Essa orientação, aliás, foi decisiva
O eminente Relator, Ministro Sydney
Sanches, votou pelo não-conhecimento, para a concessão de habeas corpus, em
recentes julgamentos, em que esta Tur-
tendo em vista haver a referida Corte nega-
ma em sede de recurso da defesa, anulou
do provimento a recurso especial impetra-
prisão preventiva decretada em substitui-
do, pelo mesmo fundamento, por um dos
ção a prisão em flagrante maculada pelo
co-réus, contra a decisão impugnada pelo
excesso de prazo (HC 70.308, Relator
impetrante.
Ministro Sepúlveda Pertence e HC
Dele discordou, entretanto, o eminente 70.632, Relator Ministro limar Gaivão).
Ministro Sepúlveda Pertence, que conhe-
ceu do pedido, ao entendimento de não ser A situação não é diferente, em se tratan-
possível considerar estendidos ao paciente do, como se trata, de matéria de competên-
os efeitos da decisão do Superior Tribunal cia, mormente no presente caso, em que se
de Justiça. está diante de questão de competência me-
ramente territorial (lugar da infração), em
Face à relevância da matéria, pedi vista que o Juiz estadual concorrente aparece ao
dos autos. lado do Juiz Federal investido, por igual,
Com a vênia do eminente Relator uma em competência federal, nos termos do art.
das condicionantes da aplicação da norma 109, § 3°, da CF/88.
do art. 580 do CPP, no entendimento do Assim, com a devida vênia do eminente
Supremo Tribunal Federal, é que, obvia- Relator, meu voto acompanha o do eminen-
mente, a decisão relativa a um dos co-réus te Ministro Sepúlveda Pertence.
repercuta favoravelmente na situação jurí-
dica do outro (HC n° 69.013, Relator Mi- EXTRATO DA ATA
nistro Celso de Mello). HC 70.627 — PA — Rei.: Min. Sydney
No caso em tela, esse pressuposto está Sanches. Pacte.: Ricardo Antonio Diniz da
ausente, verificando-se, na verdade, o aves- Conceição. Impte.: Guaracy da Silva Frei-
— 158 155
lidade suscitada pelo paciente — erro na sua filha menor foi ouvida sem a
aplicação da pena—já foi apreciada pelo presença de curador e teria sido induzida
HC 78.323-3, impetrado perante o Tribunal pelo juiz a depor contra o ora paciente;
de Justiça do Estado de São Paulo, pelo
a defesa teria agido com displicência;
que, contra tal decisão, caberia recurso or-
dinário em habeas corpos para o Superior f) seu pedido de revisão teria sido pre-
Tribunal de Justiça (CF, art. 105, II, a). judicado porque três desembargadores que
No que toca à afirmação de que seriam participaram anteriormente do julgamento
suspeitos os desembargadores que julga- de habeas corpus por ele impetrados pe-
ram a revisão criminal, ela é totalmente rante o Tribunal de Justiça, votaram tam-
improcedente, uma vez que os desembar- bém no pedido de revisão.
gadores que participaram do julgamento de O Ministério Público Federal opina pelo
alguns habeas corpus não estão impedidos não conhecimento do pedido: a uma, por-
de julgar outros recursos apresentados pelo que, conforme consta das informações (fl.
réu. 48), a nulidade alegada pelo réu em razão
Conclui o parecer que as demais alega- de erro na fixação da pena, foi apreciada
ções do ora paciente não foram enfrentadas pelo Tribunal de Justiça do Estado de São
pelo Tribunal estadual, o que torna a Supre- Paulo e, nos termos do estatuído no art.
ma Corte incompetente para apreciá-las, 105, II, a, da Constituição, contra tal deci-
sob pena de supressão de instância. são caberia recurso ordinário para o Supe-
rior Tribunal de Justiça. A duas, porque a
É o relatório. afirmação de que os desembargadores que
julgaram a revisão são suspeitos, por terem
VOTO julgado, antes, habeas corpus impetrados
pelo réu, é totalmente improcedente, dado
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Rela- que se confunde suspeição e impedimento
tor): O réu encontra-se preso por ter sido e que a situação descrita nos autos não é a
condenado a três anos de reclusão e multa, mesma prevista no art. 252, II e IR, do CPP.
pelo Juízo da Terceira Vara Criminal da A três, porque as demais alegações ainda
Capital de São Paulo, pelo crime de tráfico não foram enfrentadas pelo Tribunal de
de drogas (Lei n° 6.368/76, art. 12). Justiça, pelo que o Supremo Tribunal é
Além de desejar que esta Corte reexami- incompetente para apreciá-las, sob pena de
ne a prova, alega que o processo apresenta supressão de instância.
inúmeras irregularidades. Pleiteia, por isso, Está correto o entendimento.
a anulação da ação penal que resultou na
sua condenação. As questões novas, que não foram pos-
tas ao exame do Tribunal de Justiça do
Tais irregularidades teriam sido as se- Estado de São Paulo — a folha de antece-
guintes: dentes não foi juntada aos autos, o juiz teria
Inexistência da folha de seus antece- ofendido as testemunhas, a filha menor do
dentes criminais nos autos do processo; paciente teria prestado declarações sem que
estivesse presente o curador e que o juiz a
erro na fixação da pena, já que era
teria induzido a depor contra o pai e, final-
reincidente e o juiz o apenou como se pri-
mente, que houve negligência da defesa —
mário fosse; não poderão ser conhecidas, agora, sob
c) o juiz ofendeu as testemunhas; pena de supressão de uma instância. Foi
158 R.T.J. — 158
nesse sentido o decidido por esta Turma no assim, na parte em que postula o reexame
HC 68.857-SP, por mim relatado. da prova.
Nesta parte, portanto, os autos deverão Determino a remessa dos autos ao Eg.
ser remetidos ao Tribunal de Justiça de São Superior Tribunal de Justiça, para aprecia-
Paulo. ção e julgamento da alegação referente a
Consta das informações (fls. 46/51) que erro na aplicação da pena. Após, os autos
a 2' Câmara Criminal do Tribunal de Justi- deverão ser encaminhados ao Eg. Tribunal
ça de São Paulo, apreciando o HC 78.323, de Justiça do Estado de São Paulo, para
impetrado pelo ora paciente, em que este apreciação e julgamento das questões no-
sustentou a existência de erro na fixação da vas.
pena, denegou a ordem. É o voto.
Contra tal decisão, poderia o paciente
interpor recurso ordinário para o Superior VOTO
Tribunal de Justiça (CF, art. 105, II, a).
Tem-se, no ponto, pois, impetração origi- O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor
nária substitutiva de recurso ordinário. Presidente, em primeiro plano, ressalvo o
Quer dizer, a competência para o julgamen- entendimento pessoal quanto à competên-
to deste habeas corpus, nesta parte, é do cia para julgar as matérias indicadas pelo
Egrégio Superior Tribunal de Justiça. nobre Relator. Os integrantes dos Tribunais
Examinamos, agora, as questões que de Justiça estão submetidos, como desem-
bargadores, à jurisdição direta, nos crimes
podemos conhecer.
comuns e de responsabilidade, do Superior
Sustenta o paciente que o seu pedido de Tribunal de Justiça, o que atrai a pertinên-
revisão foi prejudicado porque três desem- cia da alínea c do inciso Ido artigo 105 da.
bargadores que participaram do julgamen- Carta de 1988. Todavia, este não é o enfo- •
to de habeas corpus por ele impetrados, que predominante na Corte, razão pela
anteriormente, votaram no processo de re- qual, diante do que decidido na reclamação
visão, sem se declarar suspeitos. n° 314, do Distrito Federal, relatada pelo
Não procede o alegado. Ministro Moreira Alves, em que fiquei ven-
cido, juntamente com os Ministros Carlos
Confunde-se, na verdade, bem registra Velloso, limar Gaivão e Celso de Mello,
o parecer da Procuradoria-Geral da Repú- conheço, na parte indicada por S. Exa., o
blica, suspeição e impedimento, certo, en- pedido formulado.
tretanto, que o caso de que tratani estes
autos não configura nenhuma das situações No mais, acompanho-o não só denegan-
previstas no art. 252, II e III, CPP. do a segurança, nessa parte, como também
determinando a remessa dos autos ao Supe-
A outra alegação —o pretendido reexa- rior Tribunal de Justiça, para que proceda
me da prova — não é possível nos estreitos ao julgamento do pedido, considerando o
limites do habeas corpus, conforme temos que já apreciado pelo Tribunal de Justiça
decidido, iterativamente. no âmbito de medida de idêntica natureza,
Do exposto, indefiro o writ na parte em no âmbito de habeas corpus, e, posterior-
que o impetrante sustenta a nulidade do mente, a baixa dos autos ao Tribunal de
processo, por terem três desembargadores, Justiça, a fim de que examine a matéria que
que votaram nos pedidos de habeas cor- se mostra nova e empolgada, pela vez pri-
pus, votado na revisão criminal e, bem meira, em benefício do Paciente.
R.T.J. — 158 159
derais processar e julgar as infrações penais ilegalidade da condenação, por ter sido jul-
em detrimento de bens, serviços ou interes- gado por juízo incompetente, dado que, nos
ses da União ou de entidades autárquicas termos do art. 109, IV, da Constituição, com-
ou empresas públicas. pete à Justiça Federal processar e julgar as
Transcreve o impetrante jurisprudência infrações penais em detrimento de bens, ser-
dos Tribunais Superiores sobre as questões viços ou interesses da União ou de suas enti-
debatidas na inicial, afirmando que o pa- dades autárquicas ou empresas públicas.
ciente está sofrendo constrangimento ilegal Não tem razão o paciente.
porque está na iminência de ser preso em É que o Banco do Brasil é uma socieda-
razão de uma sentença condenatória nula, de de economia mista e, como tal, o proces-
pelo que pede a concessão da ordem, para so e o julgamento dos crimes contra ele
que seja expedido em favor do paciente praticados são da competência da Justiça
«um salvo-conduto, para que ele não seja comum estadual, de acordo com a jurispru-
preso em virtude dos fatos aqui narrados». dência da Suprema Corte (Embargos de
Oficiando às fls. 43/44, o Ministério Divergência no RE 77.721-PR, RTJ
Público Federal, pelo parecer do ilustre 74/447, e CJ 4.853-PB, RTJ 49/78).
Subprocurador-Geral Mudem Costa Pin- Do exposto, indefiro o writ.
to, opina no sentido do conhecimento e
denegação da ordem, ao argumento de que, EXTRATO DA ATA
de acordo com a jurisprudência desta Cor- HC 70.808 —RS — ReL: Min. Carlos Vel-
te (RTJ 74/447 e 49/78), por ser o Banco loso. Pacte.: Arildo Antônio Berté. Impte.:
do Brasil uma sociedade de economia mis- João Gheller Neto. Coator: Tribunal de Al-
ta, não há falar-se em ofensa a bens, servi- çada do Estado do Rio Grande do Sul.
ços ou interesses da União Federal. Decisão: Por unanimidade, a Turma in-
É o relatório. deferiu o «habeas corpus».
VOTO Presidência do Senhor Ministro Néri da
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Rela- Silveira. Presentes à Sessão os Senhores
tor): O réu, condenado pelo Juízo da Co- Ministros Carlos Velloso e Marco Aurélio.
marca de Tenente Portela —RS, a seis-anos Ausentes, justificadamente, os Senhores
e nove meses de reclusão e multa, como Ministros Paulo Brossard e Francisco Re-
incurso nas penas do art. 157, § 2°, I, II e zek. Subprocurador-Geral da República, o
UI, do Código Penal, decisão que foi man- Dr. Francisco José Teixeira de Oliveira.
tida pelo Tribunal de Alçada Criminal do Brasília, 23 de novembro de 1993 —
Estado do Rio Grande do Sul, sustenta a José Wilson Aragão, Secretário.
Bons antecedentes.
I. Não basta a tempestividade da apelação, para que esta
seja admitida, se o beneficio de apelar em liberdade foi denegado na
sentença condenatória, com base no art. 594 do C. P. Penal, e o apelante
não se apresentou à prisão, no prazo legal de interposição do recurso.
Se o réu, além de indiciado em vários inquéritos policiais
e denunciado em processos criminais, com desfecho favorável (arquiva-
mento, absolvição, extinção de punibilidade), já sofreu condenação (an-
terior ao novo delito) por crime contra o patrimônio (receptação), com
trânsito em julgado, não pode ser considerado como de bons anteceden-
tes, para o efeito do beneficio de apelar em liberdade.
HC indeferido.
o réu, durante o prazo recursal, estivesse 7.4. Inquérito Policial n° 26/87, da De-
recolhido à prisão.» legacia de Polícia Federal de São José do
O MM. Juiz recusou ao réu o benefí- Rio Preto, iniciado a 26-1-1987, por fato
cio de apelar em liberdade, com base no ocorrido a 27-1-87, consistente em crime
próprio art. 594 do Código de Processo previsto no art. 334 do Código Penal (con-
Penal, que o prevê, quando aquele for pri- trabando ou descaminho) (fl. 79). Esse in-
mário e de bons antecedentes, assim reco- quérito deu causa ao Processo n°10.752/87
nhecido na sentença condenatória. (ou 8277192), da 3° Vara da Justiça Federal
de São Paulo, no qual foi condenado a três
Quanto aos antecedentes, referiu-se, anos de reclusão, sem direito de apelar em
como desabonadores, aos documentos de liberdade, exatamente na sentença im-
fls. 79/81 (v. fl. 150). pugnada pela apelação, que, coma presente
impetração, se pretende ver julgada (fls. 79
Tais documentos referem-se aos se- e 80 dos autos principais, e fls. 2/166,
guintes Inquéritos Policiais e Processos 224/244, destes autos de Habeas Corpos).
Criminais:
7.5. Inquérito Policial n° 182/87, da
7.1. Inquérito n° 36/77, da Delegacia Delegacia de Polícia Federal de São José
de Polícia de São Carlos-SP, iniciado a do Rio Preto, iniciado a 25-9-1987, por fato
1-2-1977, por fato ocorrido a 9-1-1977, e ocorrido a 9-6-1987, consistente em crime
relativo a crime previsto no art. 331 do previsto no art. 334 do Código Penal (con-
Código Penal (desacato) (fl. 79). Esse in- trabando ou descaminho) (fato posterior ao
quérito deu causa ao Processo n°340/77, da que agora se encontra sub judice) (fl. 80).
Vara Criminal e de Menores de São Carlos, Com relação ao desfecho desse inquérito e
no qual foi absolvido, em data de 2-10- de eventual Processo, não há notícia nos
1978, com trânsito em julgado (v. fl. 80). autos, exceto uma informação do próprio
7.2. Inquérito 63/80, da Delegacia paciente, ainda nos autos do Inquérito Po-
de Polícia de São Carlos, iniciado a licial 26/87 (fl. 55 v°), datada 30-6-1987,
21-3-1980, relativo a fato ocorrido a no sentido de que estava sendo processado
1°-12-1979, sendo vítima F. Monteiro (fl. perante a Justiça Federal (fl. 55 v°). É pro-
79). Esse inquérito deu causa ao Processo vável que, por isso, o MM. Juiz, na senten-
n° 543/80, da Vara Criminal e de Menores ça ora indiretamente impugnada, se referiu
de São Carlos, no qual foi condenado, por à «persistência delituosa do descaminho»,
sentença de 30-6-1983, por crime previs- quando aludiu aos antecedentes do réu (fl.
to no art. 180 do C. Penal (receptação) 150).
(fl. 81). 7.6. Inquérito Policial n° 22/88, da De-
legacia de Polícia Federal de São José do
7.3. Inquérito 65/86, da 2' Delegacia de
Rio Preto, iniciado a 26-2-1988, por fato
Polícia de São Carlos, iniciado a 26.2.1987,
ocorrido a 15-1-1988, consistente emaime
por fato ocorrido a 3-1-1986, consistente
de contrabando ou descaminho (art. 334 do
em crime previsto no art. 129 do Código Código Penal), posterior, igualmente, ao
Penal (lesão corporal dolosa), praticado
que redundou na condenação ora sub judi-
contra Eloi Bernardes do Amaral (fl. 79). ce, e a respeito do qual também não há
Esse inquérito deu causa ao Processo
referência sobre o desfecho (fl. 80).
514/86, da Vara Criminal e de Menores de
São Carlos, no qual foi absolvido em data 7.7. Inquérito Policial n° 19/81, de que
de 11.6.1987 (fl. 81). resultou o Processo n° 948/82, da 2' Vara
166 R.T.J. — 158
mesmo, condenações criminais ainda su- Sempre considerei que vários inquéritos
jeitas a recurso não podem ser considera- policiais já demonstram que a pessoa não
dos, enquanto episódios processuais susce- tem bons antecedentes, como esta Corte já
tíveis de pronunciamento judicial absolu- decidiu várias vezes.
tório, como elementos evidenciadores dos Ademais, neste caso, o eminente Relator
maus antecedentes do réu. salientou que há uma condenação. Assim,
É por essa razão que o Supremo Tribu- acompanho S. Exa.
nal Federal, por esta Colenda Primeira EXTRATO DA ATA
Turma, já decidiu, por unãnime votação,
que «Não podem repercutir contra o réu HC 70.847 — SP — Rel.: Min. Sydney
situações jurídico-processuais ainda não Sanches. Pacte.: Sérgio Antonio Piovesan.
definidas por decisão irrecorrível do Poder Impte.: Alberto Zacharias Toron. Coator:
Judiciário, especialmente naquelas hipóte- Superior Tribunal de Justiça.
ses de inexistência de título penal condena- Decisão: Por maioria de votos, a Turma
tório definitivamente constituído» (RTJ indeferiu o pedido de «habeas corpus» e
139/885, Rel. Min. Celso de Mello). determinou a devolução dos autos à ori-
Assim sendo, com estas considerações, gem. Vencidos os Srs. Ministros Sepúlveda
concedo ao ora paciente, de ofício, a ordem Pertence e Celso de Mello que o deferiam,
de habeas corpus, reconhecendo-lhe o di- de ofício. Falou pelo paciente o Dr. Alberto
reito à prestação da fiança criminal, para que, Zacharias Toron.
em sendo ela regularmente prestada, possa o Presidência do Senhor Ministro Morei-
réu condenado recorrer em liberdade. ra Alves. Presentes à Sessão os Senhores
É o meu voto. Ministros Sydney Sanches, Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello e Ilmar Gaivão.
VOTO Subprocurador-Geral da República, Dr.
Geraldo Brindeiro.
O Sr. Ministro Moreira Alves (Presiden- Brasília, 29 de novembro de 1994 —
te): Com a devida vênia, indefiro o pedido. Ricardo Dias Duarte, Secretário.
Registra, por último, o parecer que «a paciente e, a teor do art. 563 do CPP, «ne-
intenção do paciente de iludir o magistrado nhum ato será declarado nulo, se da nulida-
com a juntada de acórdão falso nos autos de de não resultou prejuízo para a acusação ou
Processo de Execução restou devidamente para a defesa».
comprovada», sendo irrelevante se esse do- A esse propósito, Ada Pellegrini Grino-
cumento está ou não autenticado nos autos. ver, Antônio Scarance Fernandes e Antô-
É o relatório. nio Magalhães Gomes Filho, no livro «As
VOTO Nulidades no Processo Penal», fl. 24, res-
saltam, ao analisar a teoria do prejuízo, «a
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Rela- viga-mestra do sistema de nulidades»:
tor): O ora paciente foi condenado a quatro
anos de reclusão pelo Juízo da 12' Vara «A decretação da nulidade implica
Criminal da Capital de São Paulo, como perda da atividade processual já realizada,
incurso nas penas do art. 297 do Código transtornos ao juiz e demora na prestação
Penal. Alega, no entanto, que o processo é jurisdicional almejada, não sendo razoá-
nulo, por ter sido juntada aos autos docu- vel, dessa forma, que a simples possibili-
mentação não autenticada, inclusive o do- dade de prejuízo dê lugar à aplicação da
cumento apontado como falso e que origi- sanção; o dano deve ser concreto e efeti-
nou a ação penal, afirmando, ainda, que não vamente demonstrado em cada situação,»
poderia ser condenado, porque havia sido Também irrelevante a circunstância de
absolvido em casos semelhantes. haver sido o ora paciente absolvido em outros
A sentença foi confirmada pela Terceira casos semelhantes, visto que, como se pode
Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do verificar da sentença de fls. 68/78 e do acór-
Estado de São Paulo. dão de fls. 86/92, está definida sua participa-
ção no crime de que tratam estes autos.
O writ é de ser indeferido, como bem
opina o Ministério Público. Do exposto, indefiro o writ.
É que, conforme acentuou o acórdão EXTRATO DA ATA
impugnado, «a juntada de xerocópias não HC 70.860 — SP — Rel.: Min. Car-
autenticadas de declarações e documentos los Velloso. Pacte.: Loudegar Scavuzzi.
relativos a outros processos, não caracteri- Impte.: Neuza dos Santos. Coator: Tribu-
zou, de forma alguma, cerceamento de de- nal de Justiça do Estado de São Paulo.
fesa, mesmo porque, também aqui, nada
argüiu qualquer deles nem comprovou a Decisão: Por unanimidade, a Turma in-
ilegitimidade de referidos documentos». deferiu o «habeas corpus».
Atento ao disposto no art. 145 do CPP, Presidência do Senhor Ministro Néri da
deveria o paciente, no momento processual Silveira. Presentes à Sessão os Senhores
adequado, ter argüido a falsidade dos docu- Ministros Paulo Brossard, Carlos Venoso
mentos questionados, demonstrando a e Marco Aurélio. Ausente, justificadamen-
existência de prejuízo para a defesa. O pa- te, o Senhor Ministro Francisco Rezek.
ciente, todavia, assim não procedeu. Subprocurador-Geral da República, o Dr.
Francisco José Teixeira de Oliveira.
É evidente, pelo exame dos autos, que a
não autenticação dos documentos juntados, Brasília, 14 de dezembro de 1993 —
por cópia, não implicou prejuízo para o José Wilson Aragão, Secretário.
170 R.T.J. — 158
Maria das Graças Gomes Ramos, Nil- argüida, absolvê-lo, eis que o delito em
cea de Azevedo, Mario Kazunori Ta- que foi lesado Alcino Pereira da Silva,
bata, bacio Tavares Araripe, Ernes- processado separadamente, ocorreu em
to Felipe de Mello, Gilson Batista 15-6-87, ou seja, no mesmo período em
Friandi e Maria José de Mello Corte, que ocorreram os praticados contra os
recebendo desta última um aparelho tele- demais (entre maio e agosto de 1987), o
fônico e dos demais diversas importâncias que o colocaria dentre os abrangidos pelo
em dinheiro, sem, entretanto providenciar concurso ideal já apenado no outro feito.
a respectiva instalação e transferência. Apreciando requerimentos for-
2. No feito distribuído à 4' Vara Cri- mulados pelo ilustre impetrante, de ex-
minal foram condenados a 2 (dois) anos tensão, ao paciente, do referido julgado,
de reclusão e multa de 24 (vinte e qua- proferido em embargos de declaração, e
tro) dias-multa, negado o sursis (senten- pedido de reconsideração, assim despa-
ça de 15-7-91) e naquele em curso na 5° chou o lustrado Juiz Jorge Uchoa, Pre-
Vara Criminal receberam, fixado o regi- sidente do Órgão Julgador referido e
me fechado para ambos: Relator, em virtude de redistribuição:
o paciente: 2 (dois) anos, 1 (um) (Não há o que deferir, posto que
mês e 15 (quinze) dias de reclusão e 18 a decisão transitou em julgado, defe-
(dezoito) dias-multa de menor valor ridos ao réu outros caminhos para
unitário; alcançar seu objetivo, como por
Cauby: 2 (dois) anos e 6 (seis) exemplo o habeas corpusx. (fl. 229);
meses de reclusão e 22 (vinte e dois) e «Não existe na sistemática proces-
dias-multa de menor valor unitário (sen- sual a pretendida revisão de decisão
tença de 2-11-88). e o recurso possível seria o de embar-
gos de declaração, não interposto. A
3. Apelou Cauby Guedes Pinheiro e, extensão requerida também não pode
julgando a Apelação n° 38.542 (Proc. da ser dada pelo Relator, que não tem
5' Vara Criminal), a Egrégia Terceira poder para alterar as decisões do Ór-
Câmara desta Corte, à unanimidade, gão julgador» (fl. 232).
sendo Relator o douto hoje Desembar-
gador Weber Martins Batista, confir- Seguem em anexo cópias das
mou a sentença com a qual conforma-se mais significativas peças do processado,
o paciente (acórdão de 28-11-89); e, a permanecendo o signatário atento a pos-
Colenda Primeira Câmara, também por síveis ulteriores determinações.»
votação uniforme, em cresto relatado 2. O douto Subprocurador-Geral da Re-
pelo ilustrado Juiz Franklin Belfort de pública, em exercício, Edson Oliveira de
Oliveira Neto, de igual modo, negou Almeida, no parecer de fls. 93/95, opinou
provimento ao recurso do ora paciente, pelo deferimento do pedido.
não havendo Cauby recorrido dessa É o relatório.
condenação — processo da 4' Vara Cri-
minal (acórdão de 16-9-92). VOTO
4. A mesma E. Primeira Câmara, O Sr. Ministro Sydney Sanches (Rela-
julgando embargos opostos pelo co-réu tor): 1. É este o inteiro teor do parecer do
Cauby, acolheu-os unanimemente, para Ministério Público Federal (flb. 93/95):
julgando procedente a exceção de coisa <<1. Carlos Roberto Ramos, ora pa-
julgada autuada em apenso e por ele ciente, e Cauby Guedes Pinheiro fo-
172 R.T.J. — 158
ram condenados nas 4' e 5' Varas Cri- não fazer parte do acórdão a exceção
minais de Niterói como incursos no art. de coisa julgada.» (Fl. 61).
171 do Código Penal (Processos n°s Diante disso, a defesa do ora
11.474 e 4.421, respectivamente). paciente protocolou pedido de exten-
A sentença da 5° Vara Criminal, são, a fim de ser reconhecida a coisa
da qual recorreu apenas Cauby Guedes julgada também em favor de Carlos
Pinheiro, foi confirmada em 28-11-89 Roberto Ramos (fls. 62/3).
pela eg. Terceira Câmara Criminal do
Tribunal de Alçada do Estado do Rio de Esse requerimento foi indefe-
Janeiro (fl. 83). rido pelo Juiz Relator, que também
negou pedido de reconsideração, in
Por outro lado, a eg. Primeira Câ- verbis:
mara, em 16-9-92, negou provimento ao
apelo de Carlos Roberto Ramos contra «Não há o que deferir, posto que
a sentença da 4° Vara Criminal (fl. 56). a decisão transitou em julgado, defe-
4. Entretanto, a mesma Primeira Câ- ridos ao réu outros caminhos para
mara do Tribunal de Alçada Criminal do alcançar seu objetivo, como por
RJ acolheu os embargos de declaração exemplo o habeas corpos.» (Fl. 66)
opostos pelo co-réu Cauby Guedes Pi- «Não existe na sistemática pro-
nheiro, reconhecendo a coisa julgada em cessual a pretendida revisão de deci-
favor deste, ao argumento de que, pelos são e o recurso possível seria o de
mesmos fatos, o embargante já fora con- embargos de declaração, não inter-
denado anteriormente na 5' Vara Criminal posto. A extensão requerida também
de Niterói (Processo n° 4.421): não pode ser dada pelo Relator, que
«Damos acolhimentos aos embar- não tem poder para alterar as deci-
gos, eis que de fato, como se verifica sões do órgão Julgador.» (Fl. 69)
pela exceção de coisa julgada em A coação, como se vê, é do pró-
apenso, o aludido Processo 4.421 prio colegiado e não apenas decorrente
versa sobre a venda pela Joventur dos despachos do relator. Com efeito,
Intercâmbio e Viagens Ltda., a diver- idênticas as situações dos cá-réus, a co-
sos lesados no período de maio a lenda Câmara julgadora, ao acolher a
agosto de 1987, em que o embargante exceção de coisa julgada formulada por
foi condenado por infringência do um deles, deveria ter estendido essa de-
art. 171 c/c o art. 71, do C. Penal, cisão ao outro. Não o fazendo negou
enquanto que a venda realizada pela vigência ao art. 580 do Código de Pro-
mesma empresa ao queixoso Alcino cesso Penal.
Pereira da Silva Neto foi feita dentro Pelo exposto, opino pelo deferi-
do mesmo período, ou seja, em 15-6- mento da ordem para estender ao pa-
87, conforme documento de fls. 7/10. ciente a decisão tomada nos Embargos
Somos, por isto, pelo acolhimento de Declaração na Apelação Criminal n°
dos presentes embargos para, corri- 45.266/92.»
gindo a omissão verificada no pro- 2. Acolho o parecer do Ministério Pú-
cesso, alterar a conclusão do acór- blico Federal, em face dos documentos tra-
dão, para o fim de absolver o embar- zidos para os autos, seja com a impetração,
gante, por manifesto erro material em seja com as informações do ilustre Presi-
R.T.J. — 158 173
rimento da ordem, nos seguintes termos zão dos péssimos antecedentes do pa-
(fls. 62/3): ciente e, em seguida, estabelecer novo
«Jairo de Souza, juntamente com ou- aumento em virtude da reincidência es-
tras pessoas, após prisão em flagrante e pecífica, que é uma das agravantes pre-
o devido processo, foi condenado a cin- vistas no art. 61, inciso I, em obediência
co anos de reclusão e multa, pela MM" às regras do art. 68, ambos do código já
Juíza da Comarca de Suzano-SP, por citado.
infração ao art. 12, caput, da Lei n° Aquilo que seria erro do mencionado
6.368/76. Tribunal, em não computar a dupla cir-
O egrégio Tribunal de Justiça de São cunstância, e que ensejaria um duplo
Paulo houve por bem acolher em parte aumento, converteu-se em vantagem
sua apelação, reduzindo a apenação para para o paciente, que teve a pena-base
quatro anos de reclusão. fixada no mínimo legal, apesar dos
maus antecedentes, seguindo-se apenas
Insatisfeito, o paciente impetrou em o regular aumento em face da reincidên-
seu próprio favor o presente habeas cia, não podendo assim falar em cons-
corpus, alegando vício na fixação da trangimento ilegal a ser sanado pela via
pena, porque, segundo ele, a pena-base do habeas corpos».
foi fixada em três anos, aumentada de
um terço, «considerando-se os antece- É o relatório.
dentes e a reincidência num s6 momen- VOTO
to» (sic, fl. 9).
Diz que «a lei é clara e específica O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence
nesse sentido de que não pode haver (Relator): Não obstante a inteligência com
uma mesclagem posto que os antece- que deduzida, a argumentação do parecer
dentes compõem o art. 59 e a reincidên- do Ministério Público não pode ser aco-
cia faz parte do art. 61, portanto, total- lhida.
mente distintos. Por tal motivo não pode É certo que a pena-base foi fixada no
o julgador distinguir onde a própria lei mínimo legal do art. 12 da Lei de Entorpe-
não distingue» (fl. 3). centes, quando poderia ter sido exacerbada
Aguarda a concessão do mandamos à consideração dos maus antecedentes do
com a declaração de nulidade da senten- paciente.
ça, para que outra seja proferida de acor- Sucede que, no ponto, à falta de re-
do com as determinações legais. curso da acusação, a fixação da pena-base
Entendemos que o presente habeas ficou coberta pela preclusão.
corpus deve ser conhecido, mas dene- O que se devolveu, portanto, ao juízo
gada a ordem. da apelação, no ponto, foi o que se somara
É certo que o Tribunal englobou os à pena-base, no momento da incidência de
aspectos da reincidência específica e circunstâncias agravantes.
maus antecedentes para aumentar a Certo, o Tribunal reduziu o acrésci-
pena-base, mas o equívoco redundou mo, que a sentença fixara em dois, para um
em vantagem para o paciente (fl. 57). ano de reclusão.
Com efeito, se tivesse observado o 6. Ao fazê-lo, porém, o acórdão, na
disposto no art. 59 do Código Penal, mesma linha da sentença, imputou a exa-
teria que aumentar a pena-base, em ra- cerbação, a um só tempo, à reincidência (fl.
R.T.J. — 158 175
heróico do babas corpus, como tem en- Juízo, negando qualquer participação nos
tendido a Suprema Corte. fatos, e atribuiu a acusação à perseguição
Oficiando às fls. 62/69, a Procuradoria- dos funcionários da Penitenciária. Afirmou
Geral da República, pelo parecer do ilustre que os depoimentos das testemunhas de
Subprocurador-Geral Edson Oliveira de acusação apresentam divergências, sendo
Almeida, opina pelo indeferimento da or- certo que uma delas é mal vista entre a
dem. Argumenta que, ao contrário do que população carcerária.
afirma o paciente, «de acordo com a reda- Ingressou, ainda, com pedido de revisão
ção correta da lei, a majorante incide nos criminal, em que pleiteava a absolvição em
crimes praticados nas imediações ou no razão da deficiência de provas quanto à
interior de estabelecimentos penais, sem existência do crime. Também por votação
distinção de áreas». Conforme consta do unânime, o Terceiro Grupo de Câmaras
acórdão da apelação, «o paciente foi apena- Criminais indeferiu o pedido.
do com brandura, tendo sido inclusive be-
neficiado por um pequeno erro de técnica», No presente habeas corpus, pede o pa-
certo que a pena final deveria ser de quatro ciente a concessão da ordem para obter a
anos, um mês e dez dias e não de quatro declaração da nulidade da sentença, porque
anos e um mês. Inexiste, por outro lado, não cabe, no caso, a aplicação da majorante
nulidade, por ter o relator da apelação par- do item IV do art. 18 da Lei n° 6.368/76;
ticipado do julgamento da revisão criminal, que a testemunha Manoel Alves dos Santos
como vogal. Observa, finalmente, o pare- deveria ter sido inquirida com cautela e
cer, que o paciente, levantando a suspeição advertida sobre as conseqüências do falso
do testemunho de Manoel Alves dos Santos testemunho; que teria havido erro na fixa-
pretende o reexame de prova, inviável em ção da pena-base e no critério utilizado para
sede de habeas corpus. fixar o montante da pena e que o relator da
apelação não poderia ter participado do
É o relatório. julgamento da revisão criminal.
VOTO Oficiando nos autos, assim se manifes-
tou a Procuradoria-Geral da República no
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Rela- parecer lavrado pelo ilustre Subprocura-
tor): O paciente foi condenado a quatro
dor-Geral Edson Oliveira de Almeida:
anos e um mês de reclusão e multa pelo
Juízo da 14' Vara Criminal da Capital de
São Paulo, por infração ao art. 12, caput,
c/c art. 18, IV, da Lei n° 6.368/76. O delito O pedido não procede.
foi cometido no interior da Penitenciária do A impetração, pretende excluir a
Estado de São Paulo, onde o paciente cum- figura qualificada do artigo 18, IV, da
pre pena em virtude de condenação em Lei n°6.368/76, apega-se a um erro na
processos criminais diversos. Preso quan- publicação da referida lei, consistente
do acabava de vender certa quantidade de na supressão de uma vírgula, o qual
substância entorpecente a um agente de conduziria à conclusão de que a majo-
segurança penitenciária, no interior de sua rante só teria incidência nos crimes
cela, foi autuado em flagrante, juntamente «praticados em locais de trabalho cole-
com o funcionário. tivo de estabelecimentos penais», ex-
Inconformado, recorreu da sentença cluindo conseqüentemente os crimes
condenatória, alegando que se retratara em ocorridos no interior das celas.
180 R.T.J. — 158
Todavia, esse erro foi corrigido com '0 peticionário estava recolhido,
republicação da lei e a inclusão da vír- no dia, hora e local indicados na de-
gula faltante (Diário Oficial de 29-11-76). núncia, à Casa de Detenção, cum-
Assim, de acordo com a redação correta prindo penas que lhe haviam sido
da lei, a majorante incide nos crimes aplicadas, em processos criminais di-
praticados nas imediações ou no interior versos, quando adentraram seu xa-
de estabelecimentos penais, sem distin- drez, dentro do qual se encontrava
ção de áreas. Eduardo Aparecido Machado da Sil-
va, agente de segurança penitenciá-
Como observa o acórdão da ape- ria, alguns funcionários da seguran-
lação o paciente foi apenado com bran- ça, que terão encontrado com o cole-
dura, sendo inclusive beneficiado por ga um papelote contendo cocaína e
pequeno lapso de técnica. A pena-base com o ora peticionário outros oito (8)
foi fixada no mínimo do art. 12, três (3) papelotes iguais, com a mesma dro-
anos e agravada de um (1) mês pela ga, além de uma porção da erva co-
reincidência. A majorante do art. 18, IV, nhecida por maconha.
também fixada no mínimo de 1/3, inci-
diu sobre a pena mínima do delito, sem Sabendo-se, no ato, que ele ven-
que fosse considerado aumento de um dera ao agente Eduardo Aparecido
mês. Assim, a pena final ficou em quatro aquele invólucro que estava em suas
(4) anos e um (1) mês, e não quatro (4) mãos e que os demais estavam desti-
anos, um (1) mês e dez (10) dias, como nados ao comércio, os dois foram de
seria o correto. pronto levados à presença da autori-
dade competente, que ordenou a au-
Por outro lado, não há nulidade no tuação em flagrante dos dois envol-
fato de o relator da apelação ter partici- vidos. E os dois, no ato, prestaram
pado da votação da revisão criminal, na confissões indisfarçadas. O agente,
condição de vogal. Segundo o art. 625 dizendo-se adquirente de um 'pape-
do CPP, os desembargadores que atua- lote' e ele, peticionário, o vendedor,
ram na apelação estão impedidos de pelo que iriam responder a processo
concorrer à distribuição para relator, por, respectivamente, porte para uso
não ficando, porém, impedidos de parti- próprio e tráfico, assim sendo no fi-
ciparem do julgamento da revisão cri- nal condenados.
minal.
Em juízo, disseram-se inocentes,
6. Finalmente o habeas corpus não ajuntando o peticionário que a con-
é o meio apropriado para proceder o fissão extrajudicial fora produzida
reexame da prova, por conta de uma mediante castigos físicos e que o au-
suposta suspeição do testemunho de xiliar de chefia Manoel Alves dos
Manoel Alves dos Santos. Segundo a Santos, por ele conhecido como
tese da defesa, Manoel Alves dos San- `Mané Galinha', o perseguia.
tos, Chefe da Segurança, teria forjado a
apreensão do entorpecente para perse- Este, por seu turno, vindo a juízo,
guir o paciente. Essa tese não tem apoio confirmou o quanto dissera à primei-
na prova dos autos, como bem examina- ra hora, para deixar claro que não
do na revisão criminal, cuja conclusões, inventara os fatos.
a seguir transcrita, não podem ser rea- Entre o que disse em juízo, meses
preciadas neste writ: depois de depor no auto de prisão em
R.T.J. — 158 181
que não está arrolada entre as a que alude o artigo 105,1, a, da Consti-
tuição Federal, outra solução não há, para manter-se a coerência do
sistema de competência concernente ao habeas corpus, senão a de, por
construção, atribuir-se, também nessa hipótese, competência ao Supe-
rior Tribunal de Justiça para o processamento e julgamento originários
de habeas corpus em que figure como coator juiz de Tribunal de Alçada.
Habeas corpus que não se conhece por ser esta Corte incom-
petente para julgá-lo, determinando-se a remessa dos autos ao Superior
Tribunal de Justiça que é o competente.
Superior Tribunal de Justiça (art. 105, pus, senão a de, por construção, atribuir-se,
I, a e c, da Constituição Federal). também nessa hipótese, competência ao
Habeas corpus não conhecido, Superior Tribunal de Justiça para o proces-
determinando-se a remessa dos autos samento e julgamento originários de ha-
ao Superior Tribunal de Justiça.» beas corpus em que figure como coator
(HC 70.465-4/SP, Rel. Min. Morei- juiz de Tribunal de Alçada.
ra Alves, DJ 24-9-93, pág. 19557). 2. Em face do exposto, não conheço do
Pelo exposto, somos pelo não conhe- presente habeas corpus, por ser esta Corte
cimento da ordem e remessa dos autos incompetente para julgá-lo, e determino a
ao Superior Tribunal de Justiça. remessa dos autos ao Superior Tribunal de
Justiça que é o competente.
É o parecer.» (fls. 33/35)
EXTRATO DA ATA
É o relatório.
VOTO HC 71.050 —PR —Rel.: Min. Moreira
Alves. Pacte.: Luiz Oliveira da Silva. Imp-
O Sr. Ministro Moreira Alves (Rela- te.: O mesmo. Coator: Tribunal de Alçada
tor): 1. Como bem salienta o parecer da do Estado do Paraná.
Procuradoria-Geral da República, se coa-
ção existe, parte ela da decisão do Vice- Decisão: A Turma não conheceu do pe-
Presidente do Tribunal de Alçada que inde- dido de «habeas corpus», determinando a
feriu o pedido formulado pelo paciente-im- remessa dos autos ao Superior Tribunal de
petrante. Justiça. Unânime.
Ora, como decidiu esta Primeira Turma Presidência do Senhor Ministro Moreira
no Habeas Corpus 68.655, de que fui Alves. Presentes à Sessão os Senhores Mi-
relator, «apesar de o juiz de Tribunal de nistros Sydney Sanches, Sepúlveda Perten-
Alçada ser autoridade que não está arrolada ce, Celso de Mello e filmar Gaivão. Subpro-
entre as a que alude o artigo 105, I, a, da curador-Geral da República, Dr. Arthur de
Constituição Federal, outra solução não há, Castilho Neto.
para manter-se a coerência do sistema de Brasília, 15 de março de 1994 — Ri-
competência concernente ao habeas cor- cardo Dias Duarte, Secretário.
nas privativas de liberdade, sem di- omissão do acórdão pode ser sana-
reito a recurso em liberdade. Apela- da mediante petição do interessado
ram Dercídio e Carlindo. A Egrégia ao órgão julgador, não gerando pre-
Primeira Câmara Criminal deste Tri- clusão contra quem não é parte no
bunal proveu em partes os recursos recurso a falta de embargos declara-
para, em relação ao primeiro, anular tórios.
o processo a partir da denúncia, in- 2. De qualquer sorte, recusando-
clusive, e, no tocante ao segundo, se o Tribunal a quo a supri-la, por
para absolvê-lo do crime do art. 228, entender cessada a jurisdição, con-
do Código Penal, ficando as suas pe- ceder-se habeas corpus, para defe-
nas reduzidas a dois anos e seis meses rir a extensão, fazendo cessar a ile-
de reclusão e treze dias-multa, mantido galidade substantivado na omissão
o regime fechado, nos termos do v. denunciada e não corrigida.» (v.:
acórdão cuja cópia segue inclusa. HC 69.402-1-RI, Rel. Min. Sepúlve-
A prisão preventiva do paciente e da Pertence, DJ, 21-8-92, pág. 12785
dos demais denunciados foi decreta- — grifamos)
da quando do recebimento da denún- Como se vê, o TI/SP não pode ser
cia. O paciente não foi localizado e, tido como autoridade coatora eis que o
por isso, citado por edital, correu o ora paciente não formulou perante
feito à sua revelia. Uma vez proferida aquela Corte pedido de extensão do jul-
a sentença condenatória, determinou gamento.
o MM. Juiz o desmembramento do
processo em relação ao paciente e Bem demonstrado, na decisão do
aos co-réus Vander e Antônio Car- C. Supremo Tribunal Federal, que o
los, que não se recolheram à prisão constrangimento ilegal só ocorre diante
para apelar, e a intimação de todos da recusa do Tribunal em promover a
por edital. A sentença condenatória extensão do julgamento da apelação a
transitou em julgado para o paciente, co-réu não recorrente, o que não se tem
Vander e Antônio Carlos. na espécie, como acima esclarecido.
Não há, pois, ato de ilegal cons-
trangimento que propicie a concessão da
Cumpre esclarecer que o paciente ordem.
não peticionou a este Tribunal pedin- Do exposto, opina o MPF pelo
do a extensão do julgado.» (v.: fls. não conhecimento do pedido, devendo
39/40) o paciente formular o pedido de exten-
5. A Suprema Corte já enfrentou são do julgamento diretamente ao E.
tema análogo, tendo a E. I' Turma, em TJ/SP.»
votação unânime, decidido aí, verbis: É o relatório.
«Ementa: Recurso criminal: ex- VOTO
tensão da decisão favorável ao co-réu
não recorrente (C. Pr. Penal, art. O Sr. Ministro Sydney Sambes (Mo-
580): procedimento. tor): 1. Acolho o parecer do Ministério
1. Reunidos os pressupostos da Público Federal.
extensão ao não apelante do provi- 2. Na verdade, a alegada omissão do
mento da apelação do co-réu, a acórdão pode ser sanada pelo próprio órgão
190 R.T.J. —158
judiciário que o proferiu, mediante simples Impte.: Frederico Cesar Chama. Coator:
petição do interessado, requisitando-se os Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
autos principais, se ainda não se encontra-
rem no Tribunal (o julgado é datado de Decisão: A Turma não conheceu do pe-
4-4-1994). (Fl. 80). dido de «habeas corpus». Unânime.
3. Isto posto, não conheço do pedido de
habeas corpus, mas ressalvo ao paciente a Presidência do Senhor Ministro Moreira
possibilidade de requerer à 1' Câmara Cri- Alves. Presentes à Sessão os Senhores Mi-
minal do Tribunal de Justiça do Estado de nistros Sydney Sanches, Sepúlveda Perten-
São Paulo, prolatora do acórdão impugna- ce, Celso de Mello e limar Gaivão. Subpro-
do, a extensão do benefício pleiteado. curador-Geral da República, o Dr. Geraldo
Brindeiro.
EXTRATO DA ATA
HC 71.905 — SP — Rel.: Min. Syd- Brasília, 22 de novembro de 1994 —
ney Sanches. Pacte.: Luiz Paulo Tucci. Ricardo Dias Duarte, Secretário.
nal de São Paulo, ao prestar as informações unânime, deu parcial provimento, tão-
de fls. 31/32, esclareceu: somente, para afastar a sanção pecuniá-
«Alega o impetrante e paciente, em ria (Doc. n° 11). O ven. acórdão restou
síntese, estar sofrendo constrangimento irrecorrido (Doc. n° 12).
ilegal, em virtude de ter sido condenado Informo, finalmente, que o impetrante e
por sentença manifestamente nula. Ar- paciente aforou, nesta Corte, a Revisão Cri-
güi, para tanto, a insuficiente fundamen- minal n° 227.056/1, indeferida, sem discre-
tação e errônea dosimetria da pena que pância de votos, pelo E. Quarto Grupo de
lhe fora aplicada (Ação Penal n°229/85, Câmara (Doc. n° 13).»
da E. Segunda Vara Criminal da Comar- 2. O Ministério Público Federal, em pa-
ca de Andradina). Aduz, ainda, o fato recer do ilustre Subprocurador-Geral da
desta Corte não ter reconhecido tal eiva República Dr. Claudio Lemos Fonteles,
quando do julgamento da Revisão Cri- opinou pelo indeferimento do pedido, fi-
minal n° 227.056/1. cando sua manifestação assim resumida na
Cabe-me, a propósito e em atenção ementa de fl. 165:
ao ofício de Vossa Excelência, transmi- «Ementa:
tir os esclarecimentos que seguem.
Decisão colegiada devidamente
Por fatos ocorridos em 25 de agosto fundamentada quanto aos critérios da
de 1984, foram o impetrante e paciente condenação e da dosimetria da pena.
e outro co-réu denunciados, perante o
Pelo indeferimento.»
MM. Juízo da E. Segunda Vara Crimi-
nal da Comarca de Andradina, como É o relatório.
incursos no art. 171, caput, c.c. o art. 29,
VOTO
ambos do Código Penal (Doc. n°1), com
base nos elementos colhidos na fase in- O Sr. Ministro Sydney Sanches (Rela-
diciária (Doc. n° 2). tor): 1. É este o inteiro teor do parecer do
Recebida a denúncia (Doc. n°3), vie- Ministério Público Federal (fls. 165/168):
ram aos autos as certidões criminais e a «1. Cuida-se de habeas corpus im-
folha de antecedentes do impetrante e petrado, em benefício próprio, por José
paciente (Doc. n" 4), procedendo-se, en- Antônio Doná alegando, em síntese, que
tão, ao seu interrogatório (Doc. n° 5). a decisão condenatória de 1° grau é nula
Realizada a instrução, decretou-se a eis que insuficiente a sua fundamenta-
revelia do impetrante e paciente (Doc. ção e errônea a dosimetria da pena.
n° 6), sendo, a seguir, oferecidas as ale- Aduz, ainda, o fato do TA-
gações finais (Doc. n° 7). CRIM/SP não ter reconhecido tais nuli-
Em 7 de março de 1989, sobreveio dades quando do julgamento da Apela-
sentença condenatória, que apenou o ção n° 613.763/5 e da Revisão n°
impetrante e paciente a 2 anos e 6 meses 227.056/1.
de reclusão e 15 dias-multa, por infrin- Sem razão o impetrante.
gência ao art. 171, caput, c.c. o art. 29, 4. A decisão de 1° grau, já superada
ambos do Código Penal (Doc. n° 9). pelas decisões de fls. 139/142 e
Inconformada, interpôs a defesa ape- 156/161, embasou-se no farto conjunto
lação (Doc. n° 10), que a E. Terceira probatório constante dos autos e a fixa-
Câmara deste Tribunal, por votação ção da pena levou em consideração os
192 R.T.J. — 158
maus antecedentes do ora paciente (v.: Apenas a multa é que deve ser
fls. 120/124). revista, pois deve prevalecer a lei
5. O E. Tribunal de Alçada Criminal vigente à época dos fatos. Assim,
do Estado de São Paulo, no julgamento José deve receber Cr$ 5.000,00 por
da apelação criminal interposta pelos sua personalidade e Antônio Cr$
réus, decidiu, verbis: 1.000,00 por ser primário.
«A condenação não pode ser afas- Estabelecidos estes montantes, há
tada, eis que é robusta a prova de que se reconhecer inexeqüibilidade
responsabilidade dos apelantes. por falta de padrão monetário em ra-
zão das sucessivas reformas econô-
O veículo adquirido mediante o micas.
meio fraudulento foi apreendido em
poder de José (fl. 7), o qual não ex- O regime fixado para cumpri-
plicou na primeira oportunidade em mento de pena carcerária de José
que foi ouvido o motivo de estar na está adequado às demais condena-
posse do carro, já que teria sido mero ções que lhe foram impostas.
corretor (fls. 33 e 96v°). Acordam, pelo exposto, em Ter-
Antônio, por sua vez admitiu a ceira Câmara do Tribunal de Alçada,
participação no golpe (fls. 11 e em período de férias forenses, por
104v°). votação unânime, dar provimento
parcial aos apelos de José Antônio
'O laudo grafotécnico de fls. 42/44 Doná e Antônio Jesus Vioto para o
deita por terra a versão de José. fun de afastar as penas pecuniárias
Já a testemunha ouvida a fls. 120 que lhe foram impostas.» (v.: fls.
atesta a presença de Antônio no dia 140/142 — grifamos)
do acontecido, inclusive entregando Como se vê, os fundamentos pos-
seu cheque para a realização do pseu- tos da presente impetração foram exaus-
do-negócio. tivamente analisados pelo acórdão retro
Por fim, a vítima relata a partici- transcrito.
pação ativa dos dois agentes, bem Com a formulação posterior de
como a recuperação de seu bem sem pedido revisional, a Corte Estadual en-
o toca-fitas e com dois pneus troca- frentou novamente tais fundamentos.
dos (fl. 121). Leia-se, verbis:
Diante de tal contexto, a conde- «4. Não é exato que a r. sentença,
nação era de rigor. embora de concisão pouco recomen-
Não se pode falar em pequeno dável, esteja desprovida de funda-
prejuízo diante do estado em que foi mentação.
recuperado o bem, inclusive pela fal- Erro crasso é confundir uma coisa
ta de seus documentos originais. com a outra, não se perdendo de vista
O réu José ostenta nove conde- que o v. acórdão contém detalhada
nações definitivas (fls. 223, 246v° e análise de todo o contexto probató-
302/303) o que ampara o aumento rio.
adotado pelo magistrado de pri- Nem mesmo quanto à pena, cuja
meiro grau, ou seja, de 2 meses por exacerbação foi justificada pelos
condenação, o que é bem razoável. péssimos antecedentes do peticiona-
R.T.J. — 158 193
Esta decisão foi confirmada pelo Tri- exigências do art. 112, da LEI', eis que o
bunal coator em toda a sua extensão, o qual requisito subjetivo — relativo ao mereci-
fez alguns acréscimos, além do já citado no mento — e sujeito à livre apreciação do
parecer do Ministério Público Federal, in Juiz, não foi reconhecido em decisão que
verbis (fls. 32/34): está motivada na forma da lei.
«É certo que o agravante já cumpriu, 4.1 Segue-se que o rito especial e sumá-
com bom comportamento, em regime rio do habeas corpus não se compadece
fechado, mais de um sexto da pena de com o exame do mérito do sentenciado, para
42 anos de reclusão, que lhe foi imposta, o efeito de promoção de regime prisional.
por crimes de latrocínio, roubo qualifi- Isto posto e acolhendo o parecer do
cado e homicídio, sendo-lhe favorável o Ministério Público Federal, conheço do pe-
exame criminológico. dido, mas indefiro a ordem impetrada.
Todavia, o agravante praticou crimes Por se tratar de paciente preso e sem
que encontram natural repulsa no seio advogado constituído nos autos, determino
da sociedade, estando o término da pena à Secretaria que se lhe envie cópia desta
previsto para setembro de 2016. decisão.
... em se tratando de sentenciado que EXTRATO DA ATA
cometeu crimes graves, recomendável
maior dose de cautela quanto à inclusão em HC 72.578 — SP — Rel.: Min. Maurí-
sistemas mais brandos, principalmente cio Corrêa. Pacte.: Eudécio Benedito Zum-
em regime semi-aberto, onde as restrições bianchi. Impte.: o mesmo. Coator: Tribunal
à liberdade corporal são mais fracas do de Justiça do Estado de São Paulo.
que aquelas econtradas no atual regime.
Decisão: Por unanimidade, a Turma in-
deferiu o «habeas corpus».
Nestas condições, ao menos por ora, Presidência do Senhor Ministro Néri da
deve permanecer em regime mais seve- Silveira. Presentes à Sessão os Ministros Car-
ro; nenhum reparo comportando a deci- los Velloso, Marco Aurélio, Francisco Rezek
são guerreada, fica mantida por seus pró- e Maurício Corres Subprocurador-Geral da
prios e bem deduzidos fundamentos.» República, o Dr. Mardem Costa Pinto.
Verifico que, contrariamente ao que Brasília, 19 de setembro de 1995 —
alega o paciente, não foram atendidas todas Wagner Amorim Madoz, Secretário.
ação delitiva como meio de vida, não configuram crime continuado para
efeito de unificação das penas.
2. Habeas Corpus indeferido.
cujos ferimentos foram identificados pelo Por tais razões, conheço do presente ha-
laudo de exame de corpo de delito como beas corpus, mas o indefiro.
provenientes de instrumento contundente».
Como se vê, até aqui, há mais do que VOTO
fundamento para a abertura da ação penal.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor
Como salientado pelo MPF «a tese do Presidente, pelo menos em duas oportuni-
impetrante não se coaduna com a natureza dades, o Tribunal, defrontando-se com a
subjetivamente complexa do ato de arqui- regra inserta no artigo 498 do Código de
vamento de inquéritos na Justiça Militar» Processo Penal Militar, assentou que a re-
(Código de Processo Penal Militar, art. presentação nele prevista aplica-se também
498, b; Lei n° 8.457/92 — Organização no âmbito dos tribunais militares estaduais.
Judiciária Militar — art. 14, I, c). Refiro-me ao Habeas Corpus n° 61.301,
Senhor Presidente, esta Corte já apre- relatado pelo Ministro Alfredo Buzaid, e ao
ciou a matéria, sendo paradigmas da hipó- Habeas Corpus n° 61.416, da relatoria do
tese dos autos, dentre outros, os arestos Senhor Ministro Francisco Rezek.
relatados pelo Mim Sepúlveda Pertence Portanto, há interpretação da Corte
nos HC 68.739-DF (DJU 25-10-91, pág. quanto aos preceitos dos artigos 397 e 498
15029) e HC 68.739-3 (EDEc1)-DF (DJU do Código de Processo Penal Miltiar.
7-2-92, pág. 73718), resultando este último
no seguinte: Concluiu-se que a representação é pos-
sível, ainda que não se trate de processo da
«Inquérito policial militar: arquiva- competência originária do Superior Tribu-
mento: aplicação da Súmula 524, que nal Militar.
pressupõe prévia adequação dos seus
termos ao C. Pr. Penal Militar. Voto em sentido harmônico com esse
entendimento.
O arquivamento do inquérito, na lei
processual militar, só se aperfeiçoa de- Se é certo que, em face ao teor do artigo
pois de exaurido o prazo para a apresen- 397, proposto o arquivamento do inquérito,
tação do Corregedor (CPPM, art. 498, § pode o juiz com ele concordar, ou não,
1°) ou, oferecida essa, com a decisão do sendo que, em caso negativo, deve remeter
STM que a indeferir ou com o novo os autos ao Procurador-Geral, e, em caso
despacho do Juiz que, insistindo o Pro- positivo, deve proceder ao arquivamento,
curador-Geral, determinar o arquiva- não menos correto é que essa norma é com-
mento: só a partir daí caberá cogitar, plementada, na dicção da própria Corte,
segundo a orientação da Súmula 524, pelo texto da alínea b do artigo 498, inseri-
da exigência de novas provas para auto- do no mesmo Código,
rizar a ação penal.» Quanto ao que articulado na petição de
Nada justifica, por hora, trancar-se a habeas corpus, tenho como impossível o
ação penal antes da conclusão do exame exame. O que se aponta é que não teria
instrutório que possibilitará elucidar, atra- ocorrido o arquivamento do inquérito sem
vés do conjunto probatório, a inocência ou uma justificativa plausível. O tema exige a
não, se agiu, ou não, no estrito cumprimen- análise de prova, o que é inviável na via
to de seu dever legal o paciente. É, pois, eleita.
prematura qualquer deliberação que vise Por isso, acompanho o Relator, dene-
obstaculizar o andamento do processo. gando a ordem.
202 R.T.J. —158
clamada pelo art. 5°, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito
de propriedade em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente
à compensação financeira devida pelo Poder Público ao proprietário
atingido por atos imputáveis à atividade estatal.
O preceito consubstanciado no art. 225, 4°, da Carta da
República, além de não haver convertido em bens públicos os imóveis
particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas
(Mata Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também
não impede a utilização,pelos próprios particulares, dos recursos naturais
existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio privado, desde
que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessá-
rias à preservação ambiental.
A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito
de propriedade (CF/88, art. 5°, XXII). Essa proteção outorgada pela Lei
Fundamental da República estende-se, na abrangência normativa de sua
incidência tutelar, ao reconhecimento, em favor do dominus, da garantia
de compensação financeira, sempre que o Estado, mediante atividade que
lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de propriedade em seu
conteúdo econômico, ainda que o imóvel particular afetado pela ação do
Poder Público esteja localizado em qualquer das áreas referidas no art.
225, 4°, da Constituição.
Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado: a
consagração constitucional de um típico direito de terceira geração (CF,
art. 225, caput).
`Ficou bem elucidado que a inde- Por todos esses motivos é mantido o
nizabilidade, na hipótese, transmu- valor indenizatório contido na sentença
daria a mera restrição administrativa,
consubstanciada na proibição de
derrubada de mata, em verdadeiro
confisco, gerando servidão pública A afirmativa da ré impugnante, no
de caráter negativo, o que é inadmis- sentido de a nova Constituição da Repú-
sível. Isso porque, nada obstante blica, ao tratar da proteção ambiental,
aquela restrição, o certo é que o ter introduzido profundas alterações no
aproveitamento econômico dessa direito positivo, de tal forma que procla-
mata, com outras finalidades, não é mou a inexigibilidade de qualquer inde-
vedado. nização pelos atos administrativos de
intervenção na propriedade privada com
É induvidoso, ademais, que a pro- objetivos ecológicos, na verdade não
teção dispensada pela lei a essas ma- encontra ressonância na própria Lei
tas, no que concerne à sua preserva- Maior, a qual, como suas antecessoras,
ção, reflete, diretamente, a utilidade continua a dar proteção ao direito de
de que se revestem, com evidente propriedade, atendida a sua função so-
expressão econômica, que se acres- cial e, nos casos de desapropriação, res-
centa ao valor da terra nua guardada a justa e prévia indenização
em dinheiro, ressalvados os casos pre-
vistos constitucionalmente (incisos
Daí, ser iniludível que a terra que
XXII, XXIII e XXIV).
possua esse acessório (art. 43, inciso
I, do CC) terá um valor bem maior do E a citação do art. 225, de seu § 1°,
que aquelas outras que não o osten- inciso VIII, e de seu § 4°, para justificar
tem, pelo que, inquestionavelmente, que as terras situadas na Serra do Mar,
se impõe a respectiva indenização, na por constituírem patrimônio nacional,
hipótese de ocorrer o ato expropria- não podem ser indenizadas, é inócua e
tório.' sem fundamento, pois que tais preceitos
não dizem, em absoluto, tal coisa, bas-
tando, para que assim se conclua, a sim-
Apenas e em síntese, pode-se asseve- ples leitura dos respectivos trechos.
rar que, da análise do Código Florestal, Realmente, depois de afirmar, em
feita com todo o cuidado pela sentença, seu caput, que todos têm direito ao meio
depreende-se que os autores jamais po- ambiente ecologicamente equilibrado,
deriam abater todas as árvores ao mes- prescreve o citado art. 225, em seu pa-
mo tempo, ainda que em zona de incli- rágrafo único e inciso VII, que incumbe
nação inferior a 25 graus, só podendo ao Poder Público, para assegurar a efe-
fazê-lo na base de 50%, sendo obrigados tividade desse direito, 'proteger a fauna
a manter íntegra a outra metade. Não e a flora, vedadas, na forma da lei, as
podendo cortar toda a vegetação, mas, práticas que coloquem em risco sua fun-
apenas, metade dela, é óbvio que seu ção ecológica, provoquem a extinção de
lucro não seria nunca total, isto é, cor- espécies ou submetam os animais a
respondente à totalidade das matas, au- crueldade'. E, em seu parágrafo 4° dis-
ferindo, tão-somente, o referente a 50%, põe que 'A Floresta Amazônica brasilei-
no máximo. ra, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
208 R.T.J. — 158
achar-se «abrangida pela Estação Ecológi- Daí, ser iniludível que a terra que
ca de Juréia-Itatins» (fl. 51). possua esse acessório (art. 43, inciso
Com tal deliberação administrativa, I, do CC) terá um valor bem maior do
frustrou-se, por completo, a possibilidade que aquelas outras que não o osten-
da adequada exploração econômica dos re- tem, pelo que, inquestionavelmente,
cursos naturais existentes na propriedade se impõe a respectiva indenização, na
dos ora recorridos. hipótese de ocorrer o ato expropria-
tório.'
O Eg. Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo, ao manter a sentença que con- No Decisório em questão, foram fei-
denou o Estado de São Paulo a ressarcir os tas referências a outros Arestos proferi-
prejuízos causados aos ora recorridos, dei- dos nesta Casa de Justiça, todos seguin-
xou consignado, em acórdão de que foi do a mesma orientação. Assim, por
Relator o eminente Desembargador Mariz exemplo, o da 10* Câmara Civil, prola-
de Oliveira, que (fls. 879/885), verbis: tado nos Embargos Infringentes n°
29.066-2/SP, do qual foi Relator o Emi-
«Inicialmente, deve ser examinada a
nente Desembargador Carlos Ortiz, hoje
primeira questão que emerge dos ele-
com assento nesta 12' Câmara. Também
mentos contidos nestes autos, qual seja
aqueles relatados pelo Ilustre Desem-
a da indenizabilidade ou não das matas
bargador Álvaro Lazzarini (Apelação
que recobrem a área apossada pela Fa-
Cível 63.491 e RT 522/151). A eles
zenda do Estado.
são acrescidos os aludidos neste proces-
O Relator deste Acórdão já teve a so, igualmente na esteira da diretriz ju-
oportunidade de manifestar-se a respei- risprudencial acima indicada.
to do problema, quando relatou outro
julgado, como integrante da E. 16' Câ-
mara Civil, desta Corte (RJTJESP, vol. Apenas e em síntese, pode-se asseverar
90/196), asseverando, então: que, da análise do Código Florestal, feita
com todo o cuidado pela sentença, depreen-
`Ficou bem elucidado que a inde- de-se que os autores jamais poderiam aba-
nizabilidade, na hipótese, transmu- ter todas as árvores ao mesmo tempo, ainda
daria, a mera restrição administrati- que em zona de inclinação inferior a 25
va, consubstanciada na proibição de graus, só podendo fazê-lo na base de 50%,
derrubada de mata, em verdadeiro sendo obrigados a manter íntegra a outra
confisco, gerando servidão pública metade. Não podendo cortar toda a vegeta-
de caráter negativo, o que é inadmis- ção, mas, apenas, metade dela, é óbvio que
sível. Isso porque, nada obstante seu lucro não seria nunca total, isto é, cor-
aquela restrição, o certo é que o apro- respondente à totalidade das matas, auferi-
veitamento econômico dessa mata, do, tão-somente, o referente a 50%, no má-
com outras finalidades, não é vedado. ximo.
É induvidoso, ademais, que a pro- Por todos esses motivos é mantido o
teção dispensada pela lei a essas ma- valor indenizatório contido na sentença
tas, no que concerne à sua preserva-
ção, reflete, diretamente, a utilidade
de que se revestem, com evidente
expressão econômica, que se acres- A afirmativa da ré impugnante, no
centa ao valor da terra nua. sentido de a nova Constituição da Repú-
R.T.J. — 158 211
com inteira fidelidade à garantia constitu- deiras na área sujeita à sua titularidade do-
cional que protege o direito de propriedade, minial.
a plena indenizabilidade das matas que A circunstância de o Código Florestal
recobrem áreas dominiais privadas objeto (Lei n° 4.771/65) definir como bens de
de apossamento estatal ou sujeitas a res- interesse comum tanto as florestas existen-
trições administrativas impostas pelo Po- tes no território nacional quanto as demais
der Público: formas úteis de vegetação que revestem as
4..) a inindenizabilidade, na hipóte- áreas por elas ocupadas não impede que se
se, transmudaria a mera restrição admi- reconheça a obrigação de o Poder Público
nistrativa, consubstanciada na proibição indenizar o proprietário do solo naquelas
de derrubada de mata, em verdadeiro hipóteses em que as limitações administra-
confisco, gerando servidão pública de tivas, suprimindo ou reduzindo a possibili-
caráter negativo, o que é inadmissível. dade de exploração dos recursos naturais da
Isso porque, nada obstante aquela restri- terra, venham a virtualmente esterilizar, em
ção, o certo é que o aproveitamento eco- seu conteúdo essencial, o direito de pro-
nômico dessa mata, com outras finalida- priedade.
de, não é vedado. Daí porque, e como já precedentemente
É induvidoso, ademais, que a prote- enfatizado, não há como aceitar, na linha
ção dispensada pela lei a essas matas, no do magistério jurisprudencial desta Supre-
que concerne à sua preservação, reflete, ma Corte (RTJ 108/1314, Rel. MM. Fran-
diretamente, a utilidade de que se reves- cisco Rezek), o reconhecimento de que as
tem, com evidente expressão econômi- coberturas florestais e os revestimentos ve-
ca, que se acrescenta ao valor da terra getais qualifiquem-se como fatores econo-
nua. micamente neutros na definição do justo
valor da indenização patrimonial devida
Daí, ser iniludível que a terra que
pelo Estado.
possua esse acessório (art. 43, inciso I,
do CC) terá um valor bem maior do que Não se pode desconhecer que a cobertu-
aquelas outras que não o ostentem, pelo ra florestal que reveste os imóveis possui
que, inquestionavelmente, se impõe a indiscutível expressão econômica, impon-
respectiva indenização, na hipótese de do ao Poder Público, em conseqüência,
ocorrer o ato expropriatório.» (fls. sempre que da atividade administrativa re-
879/880) sultar afetada a possibilidade de exploração
racional das matas, o dever de indenizar o
O acórdão impugnado na presente sede
dominus quanto ao valor patrimonial por
recursal extraordinária ajusta-se, no ponto,
estas representado (RT 431/141 — RT
à jurisprudência do Supremo Tribunal Fe-
583/278 — RT 590/106 — RT 591/96).
deral que, em sucessivos pronunciamen-
tos, firmou orientação no sentido de reco- A circunstância de o Estado dispor de
nhecer, sempre em obséquio ao postula- competência para criar reservas florestais
do constitucional que tutela o direito de não lhe confere, só por si — considerando-
propriedade, a plena ressarcibilidade dos se os princípios que, em nosso sistema nor-
prejuízos materiais decorrentes das limita- mativo, tutelam o direito de propriedade —
ções administrativas que, por efeito causal a prerrogativa de subtrair-se ao pagamento
direto, impeçam — tal como no caso de indenização patrimonial ao particular,
ocorreu — a atividade econômica do par- quando a atividade pública, decorrente do
ticular, inibido de explorar o corte de ma- exercício de atribuições em tema de direito
R.T.J. — 158 213
florestal, impedir ou afetar a válida e racio- págs. 131/132, 1988, Companhia das Le-
nal exploração econômica do imóvel por tras).
seu proprietário.
A proteção da flora e a conseqüente
Daí o pronunciamento irrepreensível do vedação de práticas que coloquem em risco
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo a sua função ecológica projetam-se como
nesta matéria, acentuando que «Não se fornias instrumentais destinadas a conferir
nega ao Estado o direito de constituir reser- efetividade ao direito em questão.
vas florestais em seu território. Deve negar-
se, todavia, o poder de constituí-las gratui- O dever que constitucionalmente in-
tamente, à custa da propriedade particular cumbe ao Poder Público de fazer respeitar
de alguns proprietários» (RT 522/151). a integridade do patrimônio ambiental não
o dispensa, contudo, quando necessária a
O Estado de São Paulo sustenta, ainda, intervenção administrativa na esfera domi-
a partir das regras inscritas no art. 225, § 1°, nial privada, de ressarcir os prejuízos ma-
inciso VII, e § 4°, da Carta Política, que o teriais que, derivando de eventual esvazia-
novo ordenamento constitucional promul- mento do conteúdo econômico do direito
gado em 1988 introduziu profundas altera- de propriedade, afetem a situação jurídica
ções no sistema de direito positivo brasilei- de terceiros.
ro, consagrando a inexigibilidade de qual-
quer indenização pelos atos administrati- É certo que a Serra do Mar — local em
vos de intervenção estatal na esfera domi- que situado o imóvel pertencente aos ora
nial privada, desde que, praticados com recorridos — constitui patrimônio nacio-
finalidade de proteção ambiental, venham nal, devendo a sua utilização fazer-se, na
a incidir em imóveis situados na Serra do forma da lei, consoante prescreve o art.
Mar (fl. 900). 225, § 4° da Carta Política, dentro de
condições que assegurem a preservação do
Não assiste, também neste ponto, qual- meio ambiente, notamente quanto ao uso
quer razão ao recorrente, eis que o acolhi- dos recursos naturais.
mento da tese ora sustentada implicaria
virtual nulificação do direito de proprieda- A norma constitucional em questão,
de, com todas as graves conseqüências ju- além de não haver operado em favor do
rídicas que desse fato adviriam. Poder Público qualquer transmissão domi-
nial dos imóveis localizados nas áreas nela
Os preceitos inscritos no art. 225 da referidas, também não impede, desde que
Carta Política traduzem a consagração observadas as prescrições fixadas em lei e
constitucional, em nosso sistema de direito respeitadas as condições necessárias à pre-
positivo, de uma das mais expressivas prer- servação ambiental, a utilização, pelos
rogativas asseguradas às formações sociais particulares, dos recursos naturais exis-
contemporâneas. tentes nos imóveis sujeitos ao domínio pri-
Essa prerrogativa consiste no reconhe- vado, não obstante estejam estes situados
cimento de que todos têm direito ao meio na Serra do Mar, ou na Floresta Amazônica
ambiente ecologicamente equilibrado. Brasileira, ou na Mata Atlântica, ou no
Pantanal Mato-Grossense, ou, ainda, na
Trata-se de um típico direito de terceira
Zona Costeira.
geração que assiste, de modo subjetiva-
mente indeterminado, a todos os que Cumpre ter presente, bem por isso, o
compõem o grupo social (Celso Lafer, «A sempre douto magistério expendido pelo
reconstrução dos Direitos Humanos», Prof. Miguel Reale sobre a matéria em
214 R.T.J. — 158
ciais ao imóvel abrangido pela área de pro- gação de indenizar o proprietário do bem
teção ambiental, não pode justificar a re- atingido pela ação do Poder Público.
cusa do Estado ao pagamento de justa Esse entendimento tem prevalecido,
compensação patrimonial pelos danos re-
por exemplo, quando se analisam as con-
sultantes do esvaziamento econômico ou da seqüências eventualmente lesivas à pro-
depreciação do valor econômico do bem. priedade privada decorrentes da utilização
A criação de reservas florestais, como estatal do instituto jurídico-constitucional
instrumento de preservação do meio am- do tombamento (Celso Antônio Bandeira
biente, ainda que motivada pela inafastável de Mello, «Curso de Direito Administra-
função social que se revela inerente à pro- tivo», pág. 363, item n° 35, Q ed., 1993,
priedade, não pode e nem deve ser vista Malheiros; Ruy Cime Lima, Revista de
como efeito de uma ação administrativa Direito Público, vol. 5/26; José Cretella
arbitrária ou inconseqüente. Pelo contrário, Júnior, «Tratado do Domínio Público»,
a ação do Poder Público, no domínio da pág. 451, item n° 208, 1984, Forense; Hely
proteção ecológica, há de ser compreendi- Lopes Meirelles, «Direito Administrati-
da como um meio essencial à tutela de vo Brasileiro», pág. 485, 17* ed., 1992,
valores maiores, de transcendência social, Malheiros; Diógenes Gasparini, «Direito
destinados a favorecer, em última análise, os Administrativo», pág. 298, 1989, Saraiva;
superiores interesses da própria coletividade. Pinto Ferreira, «Comentários à Consti-
Essa asserção — ao menos enquanto tuição Brasileira», vol. 7/172, 1995, Sa-
subsistir o sistema consagrado em nosso raiva; Paulo Affonso Leme Machado,
texto constitucional —impõe que se repu- «Ação Civil Pública e Tombamento»,
die qualquer solução que, tal como a preco- pág. 68, 1986, RT; Maria Sylvia Zanella
nizada pelo Estado ora recorrente, importe Di Pietro, «Direito Administrativo», pág.
em negação ou em injusto sacrifício do 114, 1990, Atlas; Lúcia Valle Figueiredo,
«Curso de Direito Administrativo», pág.
direito de propriedade.
Sendo assim, a criação de reservas flo-
r
200, item n° 6, ed., 1995, Malheiros;
Fernando Andrade Oliveira, «Limita-
restais e a inclusão, nelas, de imóveis sujei- ções Administrativas à Propriedade Pri-
tos à esfera dominial privada não poridem vada Imobiliária», pág. 236, item n° 32.1,
revestir-se de caráter confiscatório, impon- 1982, Forense; Caio Mário da Silva Pe-
do-se reconhecer, em conseqüência, mas reira, RDA 65/315; Carlos Medeiros Sil-
essencialmente em obséquio ao princípio va, RDA 67/248).
constitucional que tutela o direito de pro-
priedade, o dever estatal de proceder a uma Impõe-se registrar, finalmente, a abso-
necessária e justa compensação reparatória luta soberania do pronunciamento jurisdi-
dos danos ocasionados. cional impugnado nesta sede recursal ex-
traordinária, no ponto em que examinou a
Impende ressaltar, bem por isso, que a matéria de fato subjacente às conclusões
doutrina e a jurisprudência dos Tribunais que levaram o Tribunal a quo a proferir o
têm sempre enfatizado que a instituição de acórdão em questão, reconhecendo a ocor-
limitações administrativas, quando inci- rência de sensível esvaziamento econômi-
dam sobre as diversas faculdades jurídicas co do direito de propriedade dos particula-
em que se pluraliza o domínio, comprome- res ora recorridos.
tendo e afetando a própria substância
econômica do direito de propriedade, Essa circunstância — que assume indis-
impõe ao poder estatal a ineliminável obri- cutível relevo de ordem jurídico-proces-
R.T.J. — 158 217
suai — impede que se insinue, na via do juge (Advs.: Juvenal Campos de Azevedo
apelo extremo, qualquer ensaio de redis- Canto, José Marcelo Braga Nascimento e
cussão em torno das premissas fáticas em outro).
que se apoiou a decisão emanada do Tribu- Decisão: A Turma não conheceu do re-
nal de Justiça do Estado de São Paulo (Sú- curso extraordinário. Unânime. Falou pe-
mula 279/STF). los recorridos o Dr. Juvenal Campos de
Sendo assim, e tendo presentes as razões Azevedo Canto.
que venho de expor, não conheço do pre-
sente recurso. Presidência do Senhor Ministro Moreira
Alves. Presentes à Sessão os Senhores Mi-
É o meu voto. nistros Sydney Sanches, Octavio Gallotti e
Celso de Mello. Ausente, justificadamente,
EXTRATO DA ATA o Sr. Ministro limar Gaivão. Subprocura-
RE 134.297 — SP — Rel.: Min. Celso dor-Geral da República, Dr. Miguel Frau-
de Mello. Recte.: Estado de São Paulo. zino Pereira.
(Advs.: Maria José Vieira Gonçalves e ou- Brasília, 13 de junho de 1995 — Ricar-
tros). Recdos.: Paulo Ferreira Ramos e cón- do Dias Duarte, Secretário.
mente, o Senhor Ministro Sepúlveda Per- ce, Celso de Mello e limar Gaivão. Subpro-
tence. curador-Geral da República, Dr. Miguel
Frauzino Pereira.
Presidência do Senhor Ministro Moreira
Alves. Presentes à Sessão os Senhores Mi- Brasília, 13 de setembro de 1994 —
nistros Sydney Sanches, Sepúlveda Perten- Ricardo Dias Duarte, Secretário.
quer quanto à exigência do preparo, quer <4. A meu ver, tem razão o Sr.
quanto ao prazo para sua efetivação, para Ministro Octavio Gallotti ao obser-
deslinde da questão há de se aplicar, tam- var que, tendo havido revogação ex-
bém por analogia, como ocorreu na hipóte- pressa dos artigos 541 a 546 do Có-
se da exigência do preparo (art. 107, digo de Processo Civil pela parte fi-
RISTF), o disposto no art. 59, § 3°, do nal do artigo 44 da Lei n° 8.038/90,
RISTF, que preceitua: não há que indagar-se da incompati-
«No Supremo Tribunal Federal, a bilidade, ou não, entre aqueles dispo-
conta será feita no prazo improrrogável sitivos e os desta Lei.
de três dias, pela Secretaria, correndo, 2. Sucede porém, que, quanto ao
da intimação, o prazo para preparo.» preparo do recurso extraordinário —
que é a questão versada neste proces-
Assim, o preparo do recurso há de ser
so administrativo —, decorre ele do
efetivado no prazo de 10 dias, contados da
princípio geral contido no artigo 19
intimação da conta, e não do despacho que
admite o extraordinário, sendo desnecessá- do CPC que continua em vigor, esta-
rio que dela conste o valor das despesas belecendo o artigo 545 da mesma
processuais, vez que a tabela de custas do codificação apenas as normas para a
sua realização, no que dizia respeito
STF contém valores fixos.
ao Tribunal perante o qual seria ele
Não consta dos autos tenham sido as feito (o Tribunal a quo), ao prazo em
embargadas intimadas para o preparo. que deveria realizar-se (10 dias) e à
Logo, quanto à deserção, tenho-a por não abrangência das custas devidas.
configurada. Ao tempo da interposição do Ora, essas normas — com exce-
recurso extraordinário, o preparo somente ção da relativa ao prazo de 10 dias —
era feito mediante a intimação da parte para se encontram também no parágrafo
a prática desse ato, fluindo, a partir de único do artigo 57 (que dispõe sobre
então, o prazo de 10 (dez) dias para sua a abrangência do preparo) e no inciso
efetivação. Aliás, no que diz respeito ao I do artigo 59 (o Tribunal perante o
prazo para efetuar o preparo e a necessida- qual será ele feito) do Regimento
de de intimação da parte para cumprir seu Interno desta Corte, que, tendo força
mister, o eminente Ministro Octavio Gal- de lei pelo sistema constitucional an-
lotti, relator do Agravo Regimental n° terior à atual Carta Magna, foi por
148.475-SP (RTJ 147/1010-1012), assim esta recebido com tal força, ainda que
dirimiu a questão: tenha perdido o Supremo Tribunal
«O prazo para o preparo de recurso Federal sua competência para legis-
extraordinário não é matéria a ser regu- lar sobre o processo dos feitos que
lada pelo Tribunal a quo, mas pela lei lhe competiam julgar. Por outro lado,
processual e pelo Regimento Interno do não foram elas expressamente revo-
Supremo Tribunal, cujo art. 107 está gadas, nem o foram tacitamente, um-
merecer aplicação analógica à espécie vez que não são incompatíveis con
em julgamento. E o que demonstra o as novas normas sobre recurso ex-
parecer emitido pelo eminente Ministro traordinário, as quais, de outra parte,
Moreira Alves, na qualidade de Presi- não são exaurientes da disciplina
dente da Comissão de Regimento e deste, já que se omitem quanto ao
aprovado pelo Presidente do Supremo pagamento das despesas dele decor-
Tribunal, em 26 de novembro de 1990: rentes, e que devem ser providas pelo
R.T.J. — 158 227
mas apenas estabeleceu que aquele reajuste não seria aplicado nos
referidos meses), os funcionários têm direito apenas ao reajuste, calcu-
lado pelo sistema do artigo 8°, § 1°, do Decreto-Lei n° 2.335, com relação
aos dias do mês de abril anteriores ao da publicação desse Decreto-Lei
(ou seja, os sete primeiros dias do mês de abril de 1988, uma vez que o
referido artigo 1°, caput, entrou em vigor no dia oito de abril de 1988,
data em que foi publicada, pois não sofreu alteração na republicação feita
no dia onze do mesmo mês), bem como ao de igual valor, não cumulati-
vamente, no mês de maio seguinte.
Recurso extraordinário conhecido e, em parte, provido.
ACÓRDÃO A sentença de fls. 41/52 julgou proce-
dente o pedido.
Vistos, relatados e discutidos estes au-
tos, acordam os Ministros do Supremo Tri- A Segunda Turma do Tribunal Regional
bunal Federal, em Sessão Plenária, na con- Federal da 1' Região, por unanimidade,
formidade da ata do julgamento e das notas negou provimento à apelação da União
taquigráficas, por unanimidade de votos, Federal e à remessa oficial, em acórdão
em conhecer do recurso extraordinário e, assim ementado:
por maioria de votos, lhe dar provimento Constitucional e administrativo.
em parte, para julgar em parte procedente a Suspensão das URPs de abril e maio
ação, nos termos do voto proferido pelo de 1988. Decreto-Lei n° 2.425/88. In-
Ministro Moreira Alves. Vencidos os Mi- constitucionalidade.
nistros Relator e Marco Aurélio, que tam-
bém conheciam do recurso, mas lhe nega- I. O Plenário desta Corte, na assenta-
vam provimento. da de 16-5-91, declarou inconstitucional
o Decreto-Lei n° 2.425, de 7-4-88, que
Brasília, 24 de fevereiro de 1994 — suspendeu o pagamento das URPs nos
Octavio Gallotti, Presidente — Moreira meses de abril e maio de 1988, à consi-
Alves, Relator p/ o acórdão. deração de que não poderia fazê-lo,
àquela data, porque o direito a tais
RELATÓRIO reajustes já se incorporara ao patrimô-
nio dos servidores, desde 1°-3-1988, em
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Aladia decorrência do término do trimestre
Ribeiro e outros ajuizaram ação ordinária aquisitivo (dezembro de 1987, janeiro
contra a União Federal, pleiteando a apli- e fevereiro de 1988), ocorrido em
cação do Decreto-Lei n° 2.335/87, que as- 29-2-1988.
segurou aos trabalhadores, a título de ante-
cipação, reajuste mensal dos salários em H. Apelação e Remessa Oficial des-
proporção idêntica à variação da Unidade providas.»
de Referência de Preços — URP. Susten- O inteiro teor da citada decisão plenária
tam ser inconstitucional o Decreto-Lei n°
foi juntada nos autos.
2.425/88 e requerem a condenação da ré ao
pagamento dos prejuízos causados com a Inconformada, a União Federal inter-
suspensão da incidência da URP nos meses põe recurso extraordinário, fundado no art.
de abril e de maio, com juros e correção 102, III, a e b, da Constituição Federal.
monetária. Alega, em síntese, que:
230 R.T.J. — 158
reposição do valor real de 1988, que fora mir o pagamento da parcela de recom-
previamente assegurada, para incidir em posição salarial, no mês de fevereiro de
fevereiro de 1989. Suprimindo a referi- 1989. Deveria respeitar o valor real do
da parcela de reposição, violou o direito salário ou vencimento. Com proprieda-
adquirido e reduziu vencimentos dos de, escreveu o Ministro Dias Trindade,
servidores, praticando ofensa, de uma só do Superior Tribunal de Justiça, no voto
vez, a dois princípios constitucionais: o que proferiu a respeito do tema, naquela
do direito adquirido, inscrito no art. 5°, Corte, por cópia às fls. 34/36:
XXXVI, e o da irredutibilidade dos ven- «Ç..)
cimentos, consagrado no art. 37, XV, da
Constituição. Ora essa norma de congelamento
não poderia abstrair a parcela de re-
Sustenta a Procuradoria-Geral da Re- posição do valor real de 1988, previa-
pública, no parecer de fls. 70/78, que, mente assegurada, para incidir em
«na espécie, o direito ao reajuste de fevereiro de 1989, antes, ao contrá-
26,05%, no mês de fevereiro, só se cons- rio, recomenda à preservação desse
tituiria se o Dec.-Lei n° 2.335, de 1987, mesmo valor real.
ainda subsistisse no próprio mês de fe-
vereiro de 1989.» E tanto é assim, que lei de dezem-
bro de 1989, que possibilitou a incor-
Equivoca-se, data venia, o parecer. poração da URP, segundo o cálculo
O direito à reposição surgiu com a do trimestre setembro/novembro de
ocorrência da inflação no trimestre rela- 1988, embutido no reajustamento
tivo aos meses de setembro, outubro e previsto para novembro de 1989,
novembro/88, vale dizer, com a perda para o pessoal do Poder Executivo,
salarial ocorrida no citado trimestre, fa- implicitamente admitiu a supressão
zendo-se a reposição no trimestre se- irregular do pagamento da parcela na
guinte, dezembro/88 a fevereiro/89. Es- remuneração de fevereiro de 1989.
tando o servidor trabalhando em feve- Essa Lei n° 7.923, de 12 de de-
reiro de 1989, deveria receber a recom- zembro de 1989, diz com todas as
posição. Trabalhar no mês de feverei- letras que o percentual indicado inci-
ro/89 não é condição de nascimento do diria, a partir de novembro desse ano,
direito, mas condição de recebimento da «a título de reposição salarial», como
recomposição, que viria com o seu salá- tal adquirida desde a edição do ato
rio de fevereiro/89. O parecer, data ve- que definiu a média da variação do
nia, confunde condição de nascimento IPC, no trimestre mencionado — se-
do direito à reposição com condição de tembro/novembro de 1988 — e para
recebimento dessa mesma recomposi- aplicação no seguinte — dezembro
ção 0 fato criador do direito, assim o de 1988/fevereiro de 1989.
fato jurígeno, foi a perda salarial ocorri-
da no trimestre mencionado, relativo Só que dita reposição se fez ape-
aos meses setembro, outubro e novem- nas a partir de novembro de 1989,
bro/88. A lei nova foi editada quando já sem considerar a sua incidência des-
ocorrido o fato jurígeno, foi editada de fevereiro, como devido.»
quando ocorriam os pagamentos da re- No julgamento do MS n° 21.216-DF,
composição salarial. A norma de conge- em 5-12-90, Relator o Ministro Octa-
lamento não poderia, na verdade, supri- vio Gallotti, a propósito do reajuste de
R.T.J. — 158 235
A lei nova, Lei n° 7.730, de 31-1-89, direito adquirido que a Constituição preté-
é violadora, portanto, do princípio cons- rita consagrava no art. 153, § 3°, e que a
titucional do direito adquirido inscrito Constituição promulgada a 5 de outubro de
no art. 5°, XXXVI, da Constituição. 1988 inscreve no seu art. 5°, XXXVI.
Há mais. Do exposto, não conheço do recurso.
A lei nova, Lei n° 7.730, de 31-1-89, EXTRATO DA ATA
viola, também, o princípio constitucio-
nal da irredutibilidade de vencimentos RE 146.749 — DF — Rel.: Min. Carlos
dos servidores consagrado no art. 37, Venoso. Arrete.: União Federal. Recdos.:
XV, da Lei Maior. Aladia Ribeiro e outros (Adv.: Benedito
É que o vencimento do servidor, em Oliveira Brauna).
dezembro de 1988 e janeiro de 1989, Decisão: Depois do voto cio Relator, não
estava fixado, por lei, com a recomposi- conhecendo do recurso, o julgamento foi
ção salarial. Suprimida, a partir de feve- adiado em virtude do pedido de vista dos
reiro/89, a dita recomposição salarial, autos, formulado pelo Ministro Moreira
houve, inegavelmente, redução de ven- Alves.
cimentos. Exemplifiquemos com os Presidência do Senhor Ministro Octavio
vencimentos dos magistrados, que são, Gallotti. Presentes à Sessão os Senhores
também, irredutíveis: o salário do ma- Ministros Moreira Alves, Néri da Silveira,
gistrado, em julho/93 é de cinqüenta mil Sydney Sanches, Sepúlveda Pertence, Car-
cruzeiros reais. Se o magistrado conti- los Velloso, Marco Aurélio, limar Gaivão
nuar no exercício do seu cargo nos me-
e Francisco Rezelc Ausentes, justificada-
ses seguintes, não poderá receber menos mente, os Senhores Ministros Paulo Bros-
do que recebeu em julho/93. O mesmo sard e Celso de Mello. Procurador-Geral da
exemplo pode ser figurado em relação República, Dr. Aristides Junqueira Alva-
aos vencimentos dos membros do Mi-
renga.
nistério Público Federal, como em rela-
ção aos vencimentos de qualquer servi- Brasília, 6 de outubro de 1993 — Luiz
dor público. Lei nenhuma poderá redu- Tomimatsu, Secretário.
zir esse vencimento, não sendo compa- VOTO (EM PEDIDO DE VISTA)
tível com a Constituição o argumento no
sentido de que uma lei poderia reduzir O Sr. Ministro Moreira Alves: I. A
esse vencimento para o futuro. questão jurídica concernente à presente
Do exposto, com a vênia do eminente ação diz respeito a saber-se se está, ou não,
Ministro Relator, meu voto é no sentido correta a declaração de inconstitucionalida-
de julgar improcedente a ação direta de de, incidenter tantum, do artigo 1°, caput,
inconstitucionalidade. do Decreto-Lei n° 2.425/88, reconhecida
Aqui, não há falar no princípio da irre- pelo Plenário do Tribunal Regional Federal
dutibilidade de vencimentos, dado que essa da 1° Região, com base na seguinte funda-
garantia, que era concedida aos magistra- mentação:
dos, somente foi estendida aos servidores, «Quando o art. 1°, caput, do Decreto
de modo geral, com a Constituição de 1988, n° 2.425/88, suspendeu, em 7-4-1988,
art. 37, XV. No caso, a suspensão do paga- os reajustes, pela Unidade de Referência
mento do URP deu-se em abril de 1988. A de Preços — URP, dos vencimentos de
suspensão violou, no caso, o princípio do abril e maio de 1988, não mais poderia
R.T.I. — 158 237
fazê-lo porque o direito a tais reajustes Abreu), 24.362 (1' Turma, 2-12-54, Min.
já se incorporara ao patrimônio do fun- Ribeiro da Costa), 130.213 (1' Turma,
cionário público (direito adquirido) des- 23-4-93, Min. limar Gaivão), 116.683 (1'
de 1°-3-1988 em decorrência do término Turma, 13-3-92, Min. Celso de Mello) e
do trimestre aquisitivo (dezembro de MS 21.086 (Plenário, 30-10-92, Min. Mo-
1987, janeiro e fevereiro de 1988) ocor- reira Alves).
rido em 29-2-1988, sendo ato jurídico Conseqüentemente, diploma legal
perfeito». novo, que reduza vencimentos (inclusive
O eminente relator, em seu voto, não vantagens), se aplica de imediato, ainda
conhece do presente recurso extraordiná- que no mês em curso, pois alcança o perío-
rio, por entender que o acórdão recorrido do de tempo posterior à sua vigência, dado
corretamente deu pela inconstitucionalida- que não há direito adquirido a vencimentos,
de acima referida. nem direito adquirido a regime jurídico de
constituição de vencimentos. Em se tratan-
2. Com a devida vênia, divirjo do en- do de aplicação imediata da norma legal,
tendimento de S. Exa. não alcança ela, evidentemente, os venci-
É jurisprudência antiga desta corte a de mentos já pagos, ou os devidos pro labore
que não há direito adquirido a vencimentos facto.
de funcionários públicos (no caso, trata-se Por outro lado, não há como sustentar-se
de funcionários estatutários), nem direito que esses princípios se aplicam ao direito a
adquirido a regime jurídico instituído por vencimentos e não ao direito a reajuste
lei. Quanto à inexistência de direito adqui- decorrente de correção monetária. Reajuste
rido a vencimentos de funcionários públi- por causa de correção monetária nada mais
cos — que, por isso mesmo, antes que a é do que a atualização da expressão mone-
atual Constituição lhes estendesse a garan- tária dos vencimentos, e, se estes podem ser
tia da irredutibilidade, podiam ser reduzi- reduzidos para o futuro é óbvio que podem
dos a qualquer tempo —, cito, a título me- sê-lo com a sua expressão monetária atua-
ramente exemplificativo, os julgamentos lizada ou não.
proferidos nos RREE 59.389 (RTJ 43,
Ademais, inexistindo direito adquirido
543/544, Min. Cândido Mota Filho),
também a regime jurídico, o pretendido
66.989 (RTJ 52, 128/129, Min. Eloy da
direito ao reajuste com base no regime es-
Rocha), 73.644 (RTJ 67, 779/780, Mim
tabelecido pelo Decreto-Lei n° 2.335/87,
Djaci Falcão), 76.402 (RTJ 71, 786/789,
para que se aplique a todo o mês de abril e
Min. Barros Monteiro), 79.725 (RTJ 81,
ao mês de maio de 1988, importa em pre-
115/118) e RE 81.509 (RTJ 81, 131/136).
tender a existência — que esta Corte não
E, no tocante à inexistência de direito ad-
admite — de direito adquirido ao regime
quirido a regime jurídico instituído por lei,
invoco, também a título ilustrativo, as de- jurídico desse reajuste.
cisões prolatadas nos RREE 99.955 (2° No caso, sendo de aplicação imediata o
Turma, 7-2-86, Min. Carlos Madeira), RE artigo 1°, caput, do Decreto-Lei n°
99.594 (2* Turma, 9-12-83, Min. Francisco 2.425/88, e estabelecendo ele, apenas, que
Rezek), RE 99.522 (2° Turma, 20-5-83, o reajuste mensal previsto no artigo 8° do
Min. Moreira Alves), 92.638 (2' Turma, Decreto-Lei n° 2.335/87 não se aplicaria
12-8-80, Min. Moreira Alves), 92.566 (2° nos meses de abril e maio de 1988 (o que
Turma, 12-8-80, Min. Moreira Alves), implica dizer que ele não determinou a
90.781 (2' turma, 16-9-80, Min. Leitão de redução dos vencimentos a que os servido-
238 R.T.J. - 158
res já faziam jus, mas apenas estabeleceu ver direito adquirido ao reajuste relativo
que aquele reajuste não seria aplicado nos aos dias do mês de abril, transcorridos
referidos meses), os funcionários têm direi- antes da data da publicação do Decreto-
to apenas ao reajuste, calculado pelo siste- Lei n° 2.425, de 7-4-1988. Ficaram ven-
ma do artigo 8°, § 1°, do Decreto-Lei n° cidos os Ministros Ilmar Gaivão, Carlos
2.335, com relação aos dias do mês de abril Velloso e Celso de Mello, que reconhe-
anteriores ao da publicação desse Decreto- ciam a existência de direito adquirido ao
Lei (ou seja, os sete primeiros dias do mês reajuste relativo a todo o mês de abril, o
de abril de 1988, uma vez que o referido art. qual se incorporaria aos vencimentos
caput, entrou em vigor no dia oito de dos meses de maio, junho e julho se-
abril de 1988, data em que foi publicada, guintes. Quanto ao reajuste de venci-
pois não sofreu alteração na republicação mentos dos Ministros da Corte, pela
feita no dia onze do mesmo mês), bem aplicação da URP, no mesmo período, o
como ao de igual valor, não cumulativa- Tribunal, por votação unânime, consi-
mente, no mês de maio seguinte. derou-o indevido, em face do disposto
Nesse sentido, aliás, esta Corte — usan- no art. 4°, do mesmo diploma.»
do impropriamente a expressão direito ad- 3. Em face do exposto, conheço do pre-
quirido (na verdade, trata-se de incidência sente recurso pela letra b do inciso III do
da lei anterior antes da entrada em vigor da artigo 102 da Constituição, e lhe dou pro-
lei nova de aplicação imediata) e não se vimento em parte, para julgar procedente,
tendo dado conta de que o Decreto-Lei n° em parte a ação ordinária proposta, uma
2.425, embora datado de 7-4-1988, foi pu- vez que os ora recorridos, não obstante
blicado a 11 do citado mês — decidiu em afastada a declaração de inconstitucionali-
sessão administrativa de 14 de outubro de dade do artigo 1°, caput, do Decreto-Lei n°
1991, como consta da ata que transcrevo na 2.425/88, fazem jus às parcelas devidas nos
parte que importa a este caso: termos deste voto, nos meses de abril e de
aos quatorze dias do mês de outu- maio de 1988, não cumulativamente, mas
bro de 1991, em sessão administrativa, corrigidos monetariamente desde a data em
presentes os Ministros Sydney Sanches que eram devidos até o seu efetivo paga-
(Presidente), Moreira Alves, Néri da mento. Havendo sucumbência recíproca e
Silveira, Octavio Gallotti, Célio Borja, aproximada, as custas serão divididas entre
Paulo Brossard, Sepúlveda Pertence, o ora recorrente e os ora recorridos, caben-
Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco do a um e outros o pagamento dos honorá-
Aurélio e Ilmar Gaivão, e, havendo o rios de seus advogados.
Ministro Marco Aurélio declarado sus-
peição, o Tribunal, apreciando o Proces- VOTO (CONFIRMAÇÃO)
so n° 014995-1, deliberou autorizar o
pagamento, aos servidores do Quadro O Sr. Ministro Carlos Venoso (Rela-
Permanente da Secretaria, pela aplica- tor): Sr. Presidente, o que verificamos é que
ção da URP, do valor correspondente a a lei estabeleceu um período ou um certo
7/30 (sete-trinta avos) de 16,19% sobre espaço de tempo no qual, se ocorrente in-
os vencimentos dos meses de abril, flação, nasceria para o servidor o direito à
maio, junho e julho de 1988, não cumu- recomposição das perdas dela decorrentes.
lativamente, corrigidos monetariamente Para isto, o Ministro de Estado da Fazenda,
desde a data em que devidos, até o efe- mediante portaria, fixaria o percentual que
tivo pagamento. A maioria entendeu ha- recomporia as tais perdas.
R.T.J. — 158 239
cogitar, quanto a uma mesma situação jurí- resguardar-se determinado direito indivi-
dica, do reajuste dos primeiros sete dias do dual protegido por pouco mais que a lei da
mês, portanto, sete dias que não teriam sido inércia, pouco mais que a assertiva de que
apanhados pela Lei Nova, e a ausência des- algo deve subsistir porque preexistia.
se mesmo reajuste no tocante aos demais Não tenho simpatia alguma por regimes
dias, a revelarem, ambos, um vencimento autoritários. Mas sempre estimei que den-
mensal. tre as propostas da escola socialista — aca-
Acompanho S. Exa. votando no sentido so compartilhadas pelos juristas que deram
do conhecimento do recurso, mas lhe ne- apoio filosófico ao fascismo —, a da pros-
gando provimento. crição do direito adquirido, em nome do
interesse comum, que o Estado deve pre-
VOTO servar e patrocinar, figura entre as menos
O Sr. Ministro Francisco Rezek: Se- abomináveis.
rei, como de hábito, muito breve, mas que- Mas tudo isso não tem diretamente a ver
ro introduzir meu voto com um brevíssimo com a questão que está em jogo, e que
comentário sobre o chamado princípio do acaba de ser enriquecida com esse amplo
direito adquirido, como visto um pouco debate.
além do domínio da nossa ordem jurídica.
Sou sensível — diante da lástima que
Durante muitos anos —entre as décadas costuma ser a realidade retributiva da fun-
de 20 e de 70 praticamente —, sempre que ção pública — aos argumentos que o Mi-
se mencionava no plano internacional o nistro relator desenvolveu com brilho. Mas
princípio do direito adquirido, no empenho tenho o dever de ser coerente com algo que
de deduzir os princípios gerais do Direito se sedimentou na jurisprudência desta
das Gentes à base da convergência de prin- Casa, a um tempo em que eu aqui já estava,
cípios admitidos pelos diversos sistemas e que continua a parecer-me perfeitamen-
nacionais, era a escola soviética que protes- te razoável.
tava com maior veemência, por estimar que
não fazia sentido, fora de contextos estrita- O direito adquirido entre nós tem esta-
mente capitalistas, brandir-se semelhante tura constitucional, no sentido de que é o
norma e pretender-se consagrá-la como constituinte quem não quer que o legislador
princípio geral. ordinário o desconsidere. Esta questão, po-
rém, é de todo estranha à outra: a de saber
É certo que os regimes totalitários de o que constitui, para nós, direito adquirido.
direita, na Europa da primeira metade do
século, assumiram — embora com menor Assentamos, ao longo de anos, que na
energia e mais discreto embasamento dou- relação entre o Estado —regente da função
trinário — posição idêntica. pública — e aqueles que a exercem não é
possível invocar a regra do direito adquiri-
São inúmeros os pecados filosóficos e
do no que concerne ao regime de trabalho.
operacionais dos regimes totalitários, mas
Não tenho agora como admitir que, antes
confesso que a mim não me parece que este que a Constituição de 1988 alterasse par-
seja um deles, ou um dos mais graves.
cialmente o quadro normativo pertinente,
Como idéia, não me parece odiosa, não me
parece grosseiramente absurda a de que o
seja possível identificar direito adquirido
àquilo que na espécie se pretende.
interesse coletivo, traduzido pelo Estado
legislador, não deveria deixar de impor-se Vou pedir vênia, nessas circunstâncias,
de modo completo, sob o argumento de para retomar aquilo que tive ocasião de
R.TJ. — 158 241
so, deixei claro que não o fundava no prin- trabalho; basta pensar no aumento intercor-
cípio do direito adquirido, e sim no da rente desses vencimentos, na exoneração
irredutibilidade de vencimentos que a ou na demissão do servidor, onde o cálculo
Constituição de 88 estendera a todos os dos vencimentos devido se fará pro rata,
servidores públicos. em razão dos dias trabalhados.
Entendia, então, que o momento da in- Por isso, lamento não poder acompa-
cidência do princípio da irredutibilidade de nhar os votos dos eminentes Relatores e,
vencimentos é aquele da fixação do venci- persistindo na opinião que sustentou o meu
mento, pouco importando que esta fixação voto da sessão administrativa, acompanho
se faça mediante expressão nominal de uma o do Senhor Ministro Moreira Alves.
quantia monetária ou pela incidência de
regra de reajuste automático, conforme a VOTO
inflação apurada em determinado período.
Sr. Ministro Paulo Brossard: Se-
Disso, com todas as vênias, continuo con- nhor Presidente, com a vênia dos Ministros
vencido. Marco Aurélio e Carlos Velloso, acompa-
Sucede que o caso concreto há de ser nho o voto do eminente Ministro Moreira
visto à luz do regime constitucional decaí- Alves e dos que o seguiram.
do: o da Carta de 69, onde essa irredutibi- VOTO
lidade de vencimentos não era assegurada
aos servidores públicos. Sr. Ministro Sydney Sanches: Sr.
Por isso, na sessão administrativa de 14 Presidente, não está em discussão, neste
de outubro de 1991, a diferença entre o meu prorpcso, o princípio da irredutibilidade de
voto caso indêntico ao presente, porque vencimentos dos funcionários públicos, es-
também atinente ao Decreto-Lei n° 2.425 tabelecido pela Constituição de 1988, por-
de 88 — no qual votei com a maioria, que a lei em questão é anterior a ela. De
porque inexistente, então, o princípio cons- acordo com a jurisprudência do Supremo
titucional da irredutibilidade de vencimen- Tribunal Federal, não se reconhecia e nem
tos dos servidores em geral — no caso se reconhece, até hoje, direito adquirido a
subseqüente relativo ao chamado «Plano vencimentos futuros ou a futuros reajustes
Verão», de janeiro de 1989, quando já vi- de vencimentos ou, ainda, a regime jurídico
gente a irredutibilidade de vencimentos. futuro.
Explicito, assim, apenas as razões do Atento a essa jurisprudência e principal-
meu voto na decisão administrativa que, mente ao que ficou deliberado na decisão
com todas as vênias, não tenho motivos administrativa referida no voto do Sr. Mi-
novos para alterar agora. nistro Moreira Alves, acompanho o voto
de S. Exa. e dos que o seguiram, com a
Impressionou-me, é certo, o argumento devida vênia dos que dissentem.
hoje trazido pelo eminente Ministro Marco
Aurélio no sentido de ser o salário mensal VOTO
e não diário; mas, salvo engano meu, o
argumento não tem a força pretendida. Há Sr. Ministro Néri da Silveira: Sr.
várias situações em que, embora fixado, em Presidente. Os debates que se desenvolve-
regra, como mensal, o vencimento sofre as ram nesta assentada não são diversos dos
conseqüências da alteração da lei que os que a Corte enfrentou em sessão adminis-
regula, no curso de um período mensal de trativa de 14 de outubro de 1991, quando,
R.T.J. — 158 243
1991, data do início dos efeitos da Lei n° 1991, cujos efeitos pecuniários retroagiram
8.213/91 (folhas 59 a 64). a 5 de abril daquele ano. Daí a cabível
O Recorrido não apresentou razões de reforma do que decidido para fixar-se,
contrariedade — certidão de folha 66. como termo inicial da aposentadoria, a data
de 5 de abril de 1991.
Às folhas 68 e 69 está a decisão do Juízo
É o relatório.
primeiro de admissibilidade que implicou
determinação do processamento do ex-
VOTO
traordinário. Nela, alude-se aos artigos
195, § 5°, da Constituição Federal e 59 do
Ato das Disposições Constitucionais Tran- O Sr. Ministro Marco Aurélio (Rela-
sitórias. tar): Os pressupostos gerais de recorribili-
dade foram atendidos pela Autarquia. O
Os autos foram remetidos em 2 de junho
acórdão que se pretende alvejar mediante
de 1992 à Procuradoria Geral da República.
este extraordinário foi publicado no Diário
O Recorrido requereu expedição de carta
de sentença, razão pela qual foram requisi- de 29 de outubro de 1991 — terça-feira
tados. Retornando ao Orgão, mereceu o (folha 58) — sendo que a pmtocolação do
pronunciamento de folhas 77 e 78 que, em recurso ocorreu em 22 de novembro de
síntese, é no sentido de que o § 2° do artigo 1991 — sexta-feira (folha 590) — e, por-
202 da Lei Máxima não autoriza a conta- tanto, dentro do prazo em dobro a que tem
gem recíproca do tempo de contribuição jus a Autarquia. Quanto à representação
em atividade privada urbana e rural, mas processual, o recurso ora em fase de apre-
apenas o tempo de contribuição no serviço ciação está subscrito por Procurador Autár-
público de um lado e, de outro, o de em quico. Cabe o exame do pressuposto de
atividade privada urbana ou rural. Segundo recorribilidade específico — o mau trato à
a óptica da Subprocuradora-Geral da Repú- Carta, no que formulado pedido no sentido
blica, Dra. Odflia Ferreira da Luz Oliveira, de declarar-se a improcedência do que rei-
a hipótese é diversa, pois admitiu-se o so- vindicado pelo Recorrido ou, se assim não
matório do tempo de contribuição como se concluir, de fixar-se o benefício previ-
trabalhador rural e como trabalhador urba- denciário considerado, como termo inicial,
no, para efeito de aposentadoria em ativi- a data de 5 de abril de 1991, prevista no
dade privada. A Autarquia não teria atenta- artigo 145 da Lei n° 8.213/91.
do para este dado. Argumenta-se, mais, que
a norma do artigo 59 do Ato das Disposi- Realmente, não se pode assentar que o
ções Constitucionais Transitórias é estra- § 2° do artigo 202 do Diploma Maior en-
nha à controvérsia, mas que, pela infringên- cerra, em si, a contagem recíproca do tem-
cia ao § 5° do artigo 195 da Carta, o recurso po de serviço na atividade privada rural e
merece conhecimento. Consoante o pare- urbana O que preceitua o citado parágrafo
cer, no regime pretérito, a previdência ur- é a comunicação do tempo de contribuição
bana e rural consubstanciavam sistemas es- na administração pública e na atividade
tanques. A unificação decorreu do preceito privada, pouco importando que nessa jun-
do artigo 194, inciso II, e do artigo 202, ção e no tocante a esta última haja a duali-
inciso II, da Carta que, no entanto, remetem dade do tempo de contribuição — rural e
à lei. A vantagem está sujeita à fonte de urbana. O dispositivo constitucional disci-
custeio, que somente veio a ser criado com plina, ao remeter à lei no que concerne à
a edição da Lei n° 8.213, de 24 de julho de compensação financeira dos sistemas, a
246 R.T.J. — 158
que envolvidas uma dessas pessoas men- Voto, em primeiro lugar, neste último
cionadas no preceito. sentido, para que tenhamos já o recurso
O segundo dispositivo consagra a exce- extraordinário e, aí sim, o deslocarmos para
ção, a correr à conta do julgamento de o Plenário.
processos que digam respeito a «falência», VOTO
«acidentes de trabalho», a envolver re-
pito — «acidentes de trabalho», ou seja, o O Sr. Ministro Néri da Silveira (Pre-
evento que é o nexo de causalidade, a sidente): Também tenho entendido que a
desaguar em um benefício, bem como as matéria relativa à competência da Justiça
sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Comum para as causas acidentárias com-
Trabalho. preende, não só o julgamento do pleito em
Indaga-se: se não está em questão aci- que se alega a existência de acidente de
dente, em si, de trabalho, a discussão sobre trabalho, mas, por igual, todas as conse-
o nexo de causalidade, sobre um acidente qüências dessa decisão, qual seja, a fixação
ou uma doença profissional, mas a simples do benefício e seus reajustamentos futuros.
indexação de um beneficio já reconhecido Ao julgar procedente a causa acidentária, a
Justiça estadual fixa, desde logo, o valor do
por provimento judicial da Justiça compe-
benefício.
tente, cabe à Justiça Comum o julgamento
dessa lide? Ao primeiro exame, Senhor Pois bem, quando se vem a discutir so-
Presidente, penso que não; de início, enten- bre o reajuste desse benefício, acerca de
do que não se faz presente, na espécie, uma critério ou base de cálculo, penso que a
lide a abranger acidente de trabalho, que questão não refoge, também, do domínio da
seria, como é pacífico, da competência da Justiça Comum; não se desloca para o âm-
Justiça Comum. O que temos, na verdade, bito da Justiça Federal. A Constituição quis
é um benefício, muito embora decorrente excluir da competência da Justiça Federal
de acidente de trabalho, em relação ao qual as demandas acidentárias. Compreendo
se discute a reposição do poder aquisitivo que, na espécie, se cuida de demanda aci-
da moeda. A competência, portanto, mere- dentária, pois o reajuste do benefício pende
ce ser melhor discutida no bojo de um de considerações em tomo de aspectos da
recurso extraordinário, com audição da própria causa levados à fixação do bene-
Procuradoria-Geral da República. fício.
O nobre Relator apontou que há uma Compreendo que a decisão monocrática
decisão monocrática do Ministro Carlos ora agravada segue uma linha que, segundo
Velloso. Na primeira vez que me defrontei os termos da Constituição, é a correta; e,
com a matéria, fiz uma pesquisa para saber assim, meu voto é no sentido de negar
Oa existência de pronunciamento de Cole- provimento ao agravo regimental.
giado desta Corte, e confesso, talvez por
VOTO (Aditamento ao Pedido
falha própria, que não encontrei precedente de Remessa dos Autos ao Pleno)
a respeito. Como são inúmeros os proces-
sos versando sobre o tema, creio ser acon- O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor
selhável o deslocamento destes autos para Presidente, o precedente mencionado, da
o Plenário, a fim de que edite o precedente lavra também do Ministro Carlos Velloso,
a ser observado pelas Turmas ou, então, a meu ver versou sobre o tema que seria a
que seja dado provimento ao agravo inter- recorribilidade não para o Tribunal de Jus-
posto para a subida do extraordinário. tiça, mas para o Tribunal Regional Federal,
252 R.T.J. — 158
muito embora julgado em primeiro grau a vino Fernandes (Adv.: Sérgio Mendonça
lide acidentária — aqui sim acidentária — Costa).
pela Justiça comum, pelo Juízo Comum.
Então, a meu ver, esses são os primeiros Decisão: Por maioria de votos, a Turma
negou provimento ao agravo regimental.
agravos específicos sobre a controvérsia
que enfrentamos e, repito, não levantei pre- Vencido o Ministro Marco Aurélio que
dava provimento, para processar o recurso
cedente do Tribunal, nem mesmo no campo
monocrático, sobre a questão. Por isso é extraordinário. Também, por maioria, con-
tra o voto do Ministro Marco Aurélio, a
que ousei pretender sobrecarregar um pou-
Turma recusou proposta no sentido de afe-
co mais o Pleno com a proposta de remessa
do processo, pois há matéria que precisa ser tar a matéria ao exame do Plenário.
elucidada, de uma vez por todas, pelo Co- Presidência do Senhor Ministro Néri da
legiado Maior. Silveira. Presentes à Sessão os Senhores
EXTRATO DA ATA Ministros Paulo Brossard, Carlos Velloso,
Marco Aurélio e Francisco Rezek. Subpro-
Ag 150.654 (AgRg) — SC — Rel.: Má curador-Geral da República, o Dr. Francis-
Paulo Brossard. Agte.: Ministério Públi- co José Teixeira de Oliveira.
co Federal. P Agdo.: Instituto Nacional de
Seguro Social —INSS (Advs.: Ruy R. P. Brasília, 22 de fevereiro de 1994 —José
da Cunha e outros). 2° Agdo.: José Sil- Wilson Aragão, Secretário.
cesso Civil de 1973 — o Código Buzaid. O negar trânsito a esse recurso em duas li-
parágrafo único desse artigo preceituava, nhas, dizendo da extemporaneidade, da ul-
quanto aos agravos da competência, tam- trapassagem do prazo de quinze dias ou do
bém, do Supremo Tribunal Federal, que prazo em dobro, assinado à Fazenda Públi-
«serão obrigatoriamente trasladadas a deci- ca, Ministério Público, e pessoas jurídicas
são agravada, a certidão da respectiva inti- de direito público que gozam dessa prerro-
mação» • para conhecimento da decisão gativa. Não posso enquadrar a peça como
atacada na via do agravo, ou seja, indispen- obrigatória, diante do disposto no parágra-
sável à definição da oportunidade do agra- fo único do artigo 523 do Código de Pro-
vo, e não do recurso extraordinário — «e a cesso Civil, e, menos ainda, como essencial
procuração outorgada ao advogado do a dirimir-se qualquer questão. Ao apreciar
agravante». Esse rol não pode ser enqua- o agravo, o Relator não julga o recurso
drado como exaustivo, pois controvérsias a exatraordinário, que sequer subiu a esta
que esteja ligada peça diversa pode vir con- Corte. O exame do agravo de instrumento
duzida no agravo de instrumento. é uma fase que precede a análise e o julga-
Por isso mesmo, esta Corte editou o ver- mento, propriamente ditos, do recurso ex-
bete de n° 288, com o seguinte teor, com- traordinário. Provendo-se o agravo, então é
pondo a Súmula da jurisprudência predo- possível, reautuando-se o processo, julgar-
minante: se o recurso nos próprios autos.
«Nega-se provimento a agravo para A reforma introduzida há pouco e que
subida de recurso extraordinário, quan- passou viger a partir de 13 de fevereiro de
do faltar no traslado o despacho agrava- 1995, implicou o elastecimento do rol das
do...» peças a serem trasladadas. Mediante o § 1°
do artigo 544 — reintroduzido no Código
— também exigido pelo parágrafo de Processo Civil pela Lei n° 8.950, de 13
único do artigo 523 do Código de Processo de dezembro de 1994 —, tem-se que, sob
Civil — pena de não-conhecimento do agravo, é
«...a decisão recorrida, a petição de preciso constar do instrumento «cópia do
recurso extraordinário ou qualquer peça acórdão recorrido, da petição de interposi-
essencial à compreensão da controvér- ção do recurso denegado (...)», ou seja,
sia.» cópia do recurso extraordinário, «das con-
tra-razões (...)». Quer dizer, o agravante
Teríamos, no caso, como que um adita- tem de providenciar a formação do instru-
mento decorrente de uma interpretação te- mento com peças que interessam ao agra-
leológica do parágrafo único do citado ar- vo. E continua, em seu rigor, esse parágra-
tigo. fo: «da decisão agravada, da certidão da
Ora, se não está em questão a oportuni- respectiva intimação (...)», isto é, para ciên-
dade do recurso extraordinário, podemos cia da decisão atacada mediante o agravo
assentar que a certidão de intimação para a de instrumento, «das procurações outorga-
ciência do acórdão atacado mediante esse das aos advogados do agravante e do agra-
recurso é uma peça, a vir no agravo de vado».
instrumento, essencial à compreensão da Houve aumento do prazo para interpo-
lide, se ela é inexistente, e se milita, a favor sição do agravo de instrumento — de cinco
do agravante, a presunção de tempestivida- para dez dias. A fim de evitar a problemá-
de do recurso extraordinário? Seria muito tica concernente à responsabilidade, pela
fácil, ao Presidente da Corte de origem, deficiência do instrumento, pela ausência
260 R.T.J. — 158
regimental, vencidos os Srs. Ministros Car- Francisco Rezek e Maurício Corrêa. Sub-
los Velloso e Marco Aurélio. procurador-Geral da República, o Dr. Mar-
dem Costa Pinto.
Presidência do Senhor Ministro Néri da
Silveira. Presentes à Sessão os Senhores Brasília, 20 de junho de 1995 — Wag-
Ministros Carlos Velloso, Marco Aurélio, ner Amorim Madoz, Secretário.
8. Pelo exposto, opinamos pelo im- cuidar dos seus filhos, entretanto, não
provimento do presente agravo regi- quer dizer que quando os pais não têm
mental.» as qualidades necessárias para cumprir
Adoto os fundamentos da decisão suas obrigações, não possa o poder com-
agravada (fls. 271/272) e desse parecer do petente, observada a legislação infra-
Ministério Público federal (317/319), para constitucional, retirar-lhes a guarda,
negar provimento ao agravo regimental. dando a ascendente em melhores con-
dições de assistir, criar e educar as
Apenas acrescento que os agravantes crianças.»
também não comprovaram o teor de sua
apelação e dos embargos infringentes, de Por fim, o que fez o acórdão recorri-
modo a permitir que se saiba se o tema do foi interpretar legislação infraconstitu-
constitucional do art. 229 (da Constituição cional (principalmente o Estatuto da Crian-
Federal) havia sido abordado em qualquer ça e do Adolescente).
desses recursos. Ou seja, de modo a se E não admite pacífica jurisprudência
poder verificar se havia omissão, mesmo, desta Corte a alegação de ofensa indireta à
dos acórdãos que os julgaram, pois se a Constituição Federal, por má interpretação
omissão foi da própria parte, ao não venti- de legislação infraconstitucional.
lar a questão, então nem os embargos de-
Por todas essas razões e pelo mais
claratórios se prestariam a sua reparação
que ficou dito na decisão ora agravada e no
(Súmula 288).
parecer do Ministério Público federal, nego
E, mesmo tendo apresentado embar- provimento ao agravo regimental.
gos declaratórios, cujo teor somente veio
para os presentes autos, quando se encon- EXTRATO DA ATA
travam nesta instância, já com parecer da Ag 158.180 (AgRg) —RO —Rel.: Min.
Procuradoria Geral da República (fls. Sydney Sanches. Agtes.: Mário Fernando
260/264) e, além disso, tardiamente susci- Emanoel Borla Gonçalves Braga e cônjuge
tando questões constitucionais (artigos (Adv.: Francisco das Chagas Aragão). Agda.:
226, § 4°, e 229 da Constituição Federal), Borla Bianca Ferdinanda Vincen7a Brasili-
acabaram se conformando com o não se- na (Advs.: Pedro Soares Vieira e outro).
guimento dos embargos, por decisão do Decisão: Preliminarmente, a Turma in-
relator (fls. 258 e 284), de sorte que tam- deferiu o requerimento do recorrente no
bém não há acórdão sobre eles. sentido de ser intimado do julgamento do
Não se trata, pois, de decisão de última agravo e de ser assegurado, nele, a susten-
instância, contra a qual, sim, se admite re- tação oral. No mérito, negou provimento ao
curso extraordinário para esta Corte (art. agravo. Unânime.
102, BI, da Constituição Federal). Presidência do Senhor Ministro Moreira
De resto, como salientou a decisão Alves. Presentes à Sessão os Senhores Mi-
presidencial, que indeferiu o processamen- nistros Sydney Sanches, Sepúlveda Perten-
to do RE (fl. 217): ce, Celso de Mello e Limar Gaivão. Subpro-
«O recorrente não demonstrou de curador-Geral da República, Dr. Miguel
que forma o acórdão local dissentiu da Frauzino Pereira.
Constituição. O que esta estabelece é Brasília, 3 de março de 1995 —Ricardo
que os pais têm o dever e obrigação de Dias Duarte, Secretário.
280 R.T.J. — 158
pelas cartas estaduais, pois inexistente a mento ou, se conhecido, pelo não provi-
necessária simetria. mento do recurso.
Diversa é a conclusão com relação É o relatório.
aos crimes de responsabilidade, onde, aí
sim, o juízo da acusação e o juízo da VOTO
causa estão afetados à Assembléia Le-
gislativa. O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence
No caso concreto, porém, trata-se de (Relator): Dispõe o art. 54, 1, da Constitui-
ação penal por crime comum, em curso ção da Paraíba competir à Assembléia Le-
no Superior Tribunal de Justiça. gislativa «autorizar, por maioria absoluta,
a instauração de processo contra o Gover-
A respeito vale transcrever o seguin- nador, o Vice-Governador e os Secretários
te trecho do parecer do ilustre Subpro- de Estado».
curador-Geral da República Cláudio
Lemos Fonteles: Por sua vez, prescreve o seu art. 88, a,
que, «admitida a acusação contra o Gover-
«Condição de procedibilidade nador do Estado, por maioria absoluta da
não é princípio, mormente porque o Assembléia Legislativa, ressalvada a com-
constituinte de 1988 erigiu expressa- petência do Superior Tribunal Militar, nos
mente o Superior Tribunal de Justiça casos que configurem crime militar, será
como juízo natural dos Governado- ele submetido a julgamento (...) nas infra-
res Estaduais, sem limitações proce- ções penais comuns, perante o Superior
dimentais, de sorte que condicionar, Tribunal de Justiça».
por norma da Constituição Estadual, Ao propor a ADIn 978 contra os §§ 3° e
que tal só se desenvolva após positi- 4° desse art. 88 da mesma Constituição
va deliberação da Assembléia Legis- paraibana, o em. Procurador-Geral da Re-
lativa Estadual é chancelar no Esta- pública — na passagem em que agora se
do-membro a iniciativa em norma de apóia o parecer —, para justificar porque
conteúdo processual, até extrapolan- excluía de argüição o referido art. 88, a,
do os limites do restrito interesse es- valeu-se de passagem do voto que proferi
tadual». na A. Pen 303 (QO), na qual aduzi (RTJ
144/361, 371):
Cita, na mesma linha, voto vencido, em
caso anterior, do em. Ministro Nilson Na- «De minha parte, aceito a premissa
ves e conclui 4ue a decisão recorrida, além da necessidade de autorização (no que
de julgar válidos os arts. 54, 1, e 86, da creio dissentir do em. Ministro Celso de
Constituição da Paraíba, «que conflitam Mello, que, em aparte ao Ministro Mo-
frontalmente com o art. 105, I, da Cons- reira Alves, invocou a opinião de José
tituição», violou ainda os arts. 25, 51, I e Afonso da Silva (Curso Dir. Constitu-
86, da mesma Lei Fundamental. cional Positivo, 5' ed., 1989, pág. 530),
para quem não mais parece possível, nos
Admitido (v. 3/fl. 97), o RE subiu, sem crimes comuns, «definir na Constitui-
contra-razões. ção estadual que a admissibilidade do
Aqui, o parecer do il. Subprocurador- processo depende da autorização da As-
Geral Haroldo da Nóbrega — na trilha de sembléia Legislativa, visto como não é
considerações do em. Procurador-Geral, ao mais um órgão judiciário estadual — o
propor a ADIn 978 — é pelo não conheci- Tribunal de Justiça, como antes — que
R.T.J. — 158 283
do Tribunal de Contas do Estado do Ama- tal formalidade nem sequer fora cogitada
zonas, impetraram mandado de segurança pelo julgado, que se limitara a validar mera
contra o referido Órgão por haver suspen- decisão administrativa do Tribunal de Con-
dido a aplicação do reajuste pago no mês tas. Aduziu que, na realidade, a pretensão é
de fevereiro de 1991, no percentual de de vinculação de vencimentos, vedada ex-
81%, decorrente da isonomia de vencimen- pressamente pelo art. 37, XIII, da Lei
tos concedida por decisão administrativa, Maior. Por fim, asseverou que o Supremo
que redundou na paridade de seus venci- Tribunal Federal, em ação direta de incons-
mentos com os dos auditores adjuntos, em titucionalidade, tem concedido liminar re-
10% de diferença a menor. Basearam o futando vinculação dessa espécie.
pedido no princípio da irredutibilidade de Admitidos, na origem, subiram os autos
vencimentos, estendido ao funcionalismo a esta Corte.
pelo art. 37, XV, da Constituição.
A Procuradoria-Geral da República, em
A segurança foi concedida, por maioria parecer do Subprocurador-Geral Dr.
de votos, pelo Tribunal de Justiça, em acór- Arthur de Castilho Neto, opinou pelo pro-
dão sintetizado na ementa seguinte (fl. vimento do recurso, nestes termos (fls.
230): 304/305):
o— Mandado de segurança. «A questão constitucional relativa aos
Retirada de percentual remu- ares. 39, § 1° e 37, XIII, CF, foi suscitada
nerátório concedido a servidor públi- nas informações e nos embargos de de-
co, somente pode ser efetuada depois claração, e a relativa ao due process of
de percorrido o due process of law. law, somente nos embargos, porque so-
mente surgiu com a decisão recorrida.
Segurança deferida, por maio-
ria.» Entendo, pois, que houve o indispen-
sável preqüestionamento.
Os embargos de declaração foram rejei-
tados. Auditores Assistentes do Tribunal de
Contas do Estado requereram a conces-
O Estado do Amazonas interpôs recurso são de isonomia de vencimentos com os
extraordinário, com fundamento no art. auditores assistentes do Tribunal de
102, III, a e c, da Constituição. Sustentou Contas dos Municípios, o que foi conce-
que o acórdão recorrido aplicara equivoca- dido por decisão de fl. 86.
damente os incs. LIV e LV do art. 5° da
Carta Federal, tendo em vista que a anula- Posteriormente essa decisão foi sus-
ção dos atos ilegais pela administração não pensa por outra (fls. 92/93). A motiva-
é precedida de um devido processo legal, ção dessa última, pelo que se lê, teria
com contraditório e ampla defesa, tendo sido a de falta de recursos financeiros
agido a autoridade impetrada nos limites da por parte do Estado e a intenção da Corte
Súmula 473 do Supremo Tribunal Federal. de Contas em colaborar com a conten-
Em outra linha de argumentação, alegou ção de despesas.
que inexiste direito líquido e certo dos re- Creio eu que poderia fazê-lo, porque
corridos, posto que a isonomia referida no a decisão anterior era totalmente nula.
art. 39, § 1°, da Constituição Federal, que Primeiro, porque aumentou vencimen-
serviu de fundamento ao pedido, é norma tos sem lei formal exigida para tanto
de eficácia limitada, destituída de auto- (art. 61, § 1°, II, letra a, in fine, CF) e,
aplicabilidade, pois depende de lei, e que depois, porque estabeleceu equipara-
R.T.J. — 158 289
ção vedada pela CF (art. 37, XIII). E mentos dos Auditores Assistentes aos dos
poderia fazê-lo sem processo adminis- Auditores Adjuntos — vedada expressa-
trativo. mente pelo art. 37, inc. XIII, da Constitui-
Nem se diga, como se disse na deci- ção Federal e repelida veementemente pela
são recorrida, que houve ofensa ao due jurisprudência desta Casa — ou se foi ela
process of law. Tanto não houve que a concebida de forma afrontosa ao § 1° do art.
Justiça está examinando a pretensão dos 39 da Carta Federal, que prevê que «a lei
recorridos. Por outro lado, na esfera ad- assegurará... isonomia de vencimentos para
ministrativa nada impedia à Adminis- cargos de atribuições iguais ou assemelha-
tração reconhecer a imperiosa necessi- das do mesmo Poder, ou entre servidores
dade de desconstituir seu ato, indepen- dos Poderes Executivo, Legislativo e Judi-
dentemente de processo administrativo, ciário».
particularmente no caso, como o destes Aliás, o aresto atacado não abarcou tais
autos, onde ocorreu flagrante nulidade questões, limitando-se ao argumento de
(Súmula 473 —STF). que o ato de revogação questionado não
Reconhecendo, como reconheceu a fora precedido de processo legal, com con-
decisão recorrida a afronta à cláusula do traditório e ampla defesa, embora não abor-
due process of law, data venia, inter- dado na impetração, a qual se ateve, exclu-
pretou equivocamente e aplicou mal o sivamente, à tese da irredutibilidade de
art. 5°, incisos LIV e LV da CF.» vencimentos. Instado a manifestar-se sobre
as referidas questões, nos embargos de de-
É o relatório. claração, preferiu a Corte rejeitá-los ,apro-
veitando para reforçar, mais uma vez, o
VOTO
fundamento da negativa de vigência dos
O Sr. Ministro limar Gaivão (Rela- incisos LIV e LV do art. 5° da Constituição.
tor): O ato considerado abusivo ao direito No tocante à controvérsia constante dos
dos impetrantes consistiu na suspensão da autos, cumpre notar que a decisão recorri-
«aplicação do reajuste de 81% pago em da, ao asseverar que somente mediante pro-
fevereiro último às categorias de Auditor cesso administrativo, no qual seja assegu-
Adjunto, Auditor Assistente e Procurador rada a defesa dos interessados, seria possí-
Adjunto, isso diante da grave situação fi- vel a anulação ou revogação do reajuste
nanceira do Estado e do objetivo desta Cor- aplicado por vinculação de vencimentos,
te de Contas de colaborar com as medidas vedou à Administração a faculdade de in-
de contenção de despesas da atual adminis- validar seus próprios atos, quando eivados
tração», conforme expressa o ofício dirigi- de nulidade, poder esse que o recorrente diz
do pelo Presidente do Tribunal de Contas coarctado pelo decistun.
ao Secretário de Estado da Economia
(fl. 93). A conclusão do acórdão impugnado, em
relação ao due process of law, carece de
O de que tratou o ato impugnado foi da sustentação, nos termos da Súmula 473,
suspensão dos efeitos da isonomia quanto fundamento do recurso extraordinário.
aos vencimentos dos Auditores Assistentes
e Auditores Adjuntos. Assiste razão ao recorrente em sua pos-
tulação.
Portanto, não cabe aqui apreciar se a
concessão administrativa da isonomia sig- Conheço do recurso e lhe dou provi-
nificou, ou não, uma vinculação de venci- mento.
290 R.T.J. —158
nulidade da decisão concessiva da fala- sua anulação houver sido infração da lei.
da isonomia, sob o pálio dos seguintes Pelo contrário, afirmou ser exata a premis-
fundamentos: 1) inexistência de lei que sa. Todavia, no caso, os motivos determi-
a autorizasse, nos termos da exigência nantes do ato questionado no mandado de
contida no art. 39, parágrafo primeiro e segurança denunciavam hipótese de revo-
art. 169, parágrafo único, II, da Consti- gação e, em tal quadro, era irrelevante in-
tuição Federal; 2) estabelecimento de vestigar a correção jurídica do ato revoga-
vinculação de vencimentos, vedada pela do.
Constituição, em seu art. 37, XIII. O voto do Ministro Sepúlveda Pertence,
Ora, o que mais se debateu tanto no nos embargos declaratórios, bem demons-
Mandado de Segurança, como nos em- tra a fidelidade da decisão às duas proposi-
bargos de declaração e no recurso ex- ções da Súmula 473:
traordinário, foi exato a questão da nu- «O voto que proferi, de improviso, é
lidade da decisão administrativa do Tri- que, acompanhado pela maioria de Tur-
bunal de Contas do Estado concessiva ma, converteu-se na fundamentação do
da equiparação legitima dos Auditores acórdão, peca efetivamente pela conci-
Assistentes deste Tribunal com os Au- são.
ditores Assistentes do Tribunal de Con-
tas dos Municípios e o aumento de ven- Nele não ficou explícito a sua base
cimentos concedidos aos Auditores Ad- teórica, qual seja, a vinculação do ato
juntos daquele Tribunal, sem lei autori- administrativo ao seu motivo determi-
zativa, como, então, a final, decidir esse nante.
Egrégio Tribunal que se trata de mera No caso, como fielmente informado
`revogação de ato administrativo, que pelo relator originário do recurso, o em.
não pode desconstituir situações jurídi- Ministro limar Gaivão, o ato do Tribu-
cas geradas pelo ato revogado.' Como nal de Contas do Estado, questionado no
admitir-se que de um ato reconhecida- mandado de segurança, não se fundou
mente nulo, sob todos os aspectos, possa na nulidade da decisão anterior, restabe-
exsurgir direitos subjetivos? lecida pelo acórdão recorrido, mas, sim,
O Judiciário, in casu, na esteira do em explícitas razões de conveniência.
entendimento esposado, no acórdão tra- Documentou-as, com efeito, o ofício do
zido à colação, deveria pronunciar-se, já Presidente do Tribunal de Contas ao
que foi provocado, sobre a legalidade do Secretário de Economia, Fazenda e Tu-
ato revogador, dizendo sempre a palavra rismo do Estado, nos termos seguintes
final e estendendo seu exame ao ato (fl. 93):
revogado.». Por fim, informamos a V. Exa.
É o relatório. que este Tribunal, em Sessão desta
data, decidiu, mesmo diante da pos-
VOTO sibilidade de recurso por parte dos
interessados na área judicial, suspen-
O Sn Ministro Francisco Rezek (Re- der a aplicação do reajuste de 81%
lator): Preservo o entendimento de que a pago em fevereiro último às catego-
divergência não ficou demonstrada. Em rias de Auditor Adjunto, Auditor As-
momento algum o acórdão da Primeira sistente e Procurador Adjunto, isso
Turma considerou impróprio aferir a vali- diante da grave situação financeira
dade do ato revogado, quando o motivo de do Estado e do objetivo desta Corte
R.T.J.— 158 293
res públicos os valores pagos aos servi- De outra parte, invalidando o cha-
dores do Poder Executivo, o que afasta, mado direito adquirido (artigo 17, do
por completo, a alegação de inconstitu- Ato das Disposições Constitucionais
cionalidade do art. 6° da Lei Estadual n° Transitórias), nada estabeleceu a Lei
9.196/90. Maior quanto a coisa julgada (artigo
4. Todavia, a constitucionalidade do 5°, XXXVI), que dá segurança e cer-
dispositivo questionado, ora reconheci- teza às relações jurídicas e proscreve
da, não retira dos impetrantes o direito a a retroatividade das leis, de sorte a
percepção de vantagens pessoais, con- permitir o direito de percepção das
forme bem destacou o ilustrado parecer verbas obtidas pela via judicial e,
da douta Procuradoria-Geral da Justiça. pois, não abarcadas pelo referido li-
mitador.
Quanto a este aspecto da postulação,
cabe invocar recente decisão deste Co- Mandamus concedido, em par-
lendo Órgão Especial no Mandado de te.»
Segurança n° 11.539-5, relatado pelo Muito embora não tenham os impe-
eminente Desembargador Oto Spo- trantes destacado, na inicial, pedido es-
nholz, cujo acórdão, datado de 7 de pecífico de concessão da ordem para
fevereiro de 1991, contém a seguinte ressalva das vantagens pessoais afeta-
ementa: das pelo redutor de vencimentos a que
se encontram submetidos, entendo estar
«A regra do artigo 37, inciso XI, tal pretensão contida no pedido maior,
da Constituição da República Fede- tal seja, de total eliminação da incidên-
rativa do Brasil, consagra o princípio cia do referido redutor sobre seus pro-
da paridade de remuneração dos ser- ventos de inatividade (fl. 10, n° 15, a).
vidores públicos, estabelecendo o li-
mite dentro de cada um dos Poderes 5. Isso posto, e adotando os funda-
do Estado, assim como a do artigo mentos do precedente deste Egrégio Ór-
39, parágrafo 1°, assegura a isonomia gão Especial, acima transcrito, voto pela
retributiva para cargos de atribuições concessão parcial da segurança, para o
iguais ou assemelhados do mesmo fim de assegurar aos impetrantes, nos
Poder ou entre servidores de todos os termos dos respectivos atos de aposen-
Poderes. tadoria: a) a percepção dos adicionais
por tempo de serviço, sem a limitação
De conseqüência, lícito é ao Esta- contida no inciso IV do art. 2° da Lei n°
do do Paraná, através da Lei n°9.105, 9.105/90; b) a percepção da gratificação
de 23 de outubro de 1989, modifica- sobre cargo em comissão que tenham
da pela Lei n° 9.361, de 12 de setem- exercido; e c) a percepção de gratifica-
bro de 1990, estabelecer o nominado ção de representação de gabinete a que
limitador de proventos e vencimen- façam jus.
tos, na área do Poder Executivo, o Excluo da concessão a gratificação
qual, por evidente, não pode atingir de serviço extraordinário, pois, como foi
as vantagens de caráter individual e destacado pelo venerando aresto invo-
as relativas à natureza do trabalho, cado como paradigma, tais benefícios
como: os adicionais por tempo de não se enquadram no disposto pela parte
serviço, a gratificação de função de final do § 1° do art. 39 da Constituição
chefia e a representação de gabinete. Federal, «porque não se constituem em
298 R.T.J. —158
mos pecuniários) para cargos (só fala nas o direito adquirido e não a res
em cargo, mas vale também para em- judicata, que há de ser respeitada,
prego e função) de atribuições iguais portanto.»
ou assemelhadas do mesmo Poder ou Há quem sustente, como faz, Celso
entre servidores dos Poderes Execu- Antonio (op. cit. pág. 96/97), que a coi-
tivo, Legislativo e Judiciário, ressal- sa julgada anterior a 1988 não impede a
vadas as vantagens de caráter indivi- redução prevista no art. 17 do ADCT:
dual e as relativas à natureza ou ao
local de trabalho. «Salário-família», «Averbe-se, finalmente, que o art.
p. ex., é vantagem individual, pois é 17 das Disposições Constitucionais
concedido em função de situação fa- Transitórias consigna o seguinte pre-
miliar de cada indivíduo; «gratifica- ceito: «Os vencimentos, a remunera-
ção de representação de gabinete» é ção, as vantagens e os adicionais,
vantagem relativa à natureza do tra- bem como os proventos de aposenta-
balho, «gratificação» a servidor por doria que estejam sendo percebidos
prestar serviço em local afastado de em desacordo com a Constituição se-
sua sede é, como se nota, vantagem rão imediatamente reduzidos aos li-
relativa ao local de trabalho.» mites dela decorrentes, não se admi-
Com relação ao último ponto, ou tindo, neste caso, a invocação de
seja, à alegada afronta ao art. 17 do direito adquirido ou percepção de ex-
ADCT, discute-se, na realidade, se a cesso a qualquer título».
decisão recorrida poderia conceder a or-
Note-se que não será prestante,
dem para assegurar a gratificação de
para tentar reter este plus, quando
serviço extraordinário a quem a tivesse
efetivamente signifique superação
obtido por decisão judicial.
indevida dos aludidos limites consti-
Neste ponto, aliás, assim se pronun- tucionais (avaliada segundo o crité-
ciou o voto condutor: rio retro indicado), a invocação de
direito adquirido ou de outro «qual-
«Excluo da concessão a gratifica- quer título», como o ato jurídico per-
ção de serviço extraordinário, pois, feito ou coisa julgada anteriores à
como foi destacado pelo venerando Constituição de 1988.»
aresto invocado como paradigma,
tais benefícios não se enquadram no Creio eu porém, que em nome da
disposto pela parte final do § P do segurança e da estabilidade jurídica a
art. 39 da Constituição Federal, «por- coisa julgada visa a preservar, que não
que não se constituem em 'vantagens deva ela ser ultrapassada pela redução
de caráter individual' ou 'relativas à prevista naquele dispositivo. Mesmo
natureza do trabalho', eis que se in- porque, a regra geral prevista no Capí-
tegram ao próprio vencimento». Tal tulo I, do Título II, da CF, que enumera
qual o apontado aresto, porém, res- os «Direitos e Garantias Individuais»,
salvo a concessão da ordem aos im- protege a coisa julgada (art. 5°, inciso
petrantes que tenham obtido tal gra- XXXVI) e, assim, qualquer exceção que
tificação por decisão judicial, de vez venha limitar esse exercício deve ser
que o art. 17 do Ato das Disposições estabelecida expressamente no próprio
Constitucionais Transitórias da Car- corpo da Constituição, sob pena de
ta Federal deixou a descoberto ape- ofensa a uma cláusula pétrea (art. 60, §
R.T.J. — 158 303
4°, inciso IV, CF). Com razão, pois, Decisão: Por unanimidade, a Turma não
nesse ponto, o acórdão recorrido.» conheceu do recurso, nos termos do voto
Do exposto, não conheço do recurso do Relator.
extraordinário. Presidência do Senhor Ministro Néri da
Silveira. Presentes à Sessão os Senhores
EXTRATO DA ATA
Ministros Carlos Velloso e Maurício Cor-
rêa. Ausentes, justificadamente, os Senho-
RE 160.860 —PR —Rel.: Min. Néri da
res Ministros Marco Aurélio e Francisco
Silveira Recte.: Estado do Paraná (Advs.:
Rezek. Subprocurador-Geral da República,
Carlos Frederico Mares de Souza Filho e
o Dr. Cláudio Lemos Fonteles.
outros). Recdos.: Zanarto Levorato Lins e
outros (Adv.: Mauro João Sales de Albu- Brasília, 11 de abril de 1995 — Wagner
querque Maranhão). de Amorim Madoz, Secretário.
mercadorias — artigo 1°, inciso III e, 1988, concluiu de forma favorável ao Esta-
diante da notória dificuldade em sepa- do. Eis a ementa do acórdão:
rar-se os valores correspondentes aos
«Tributário. ICMS. Acórdão do Tri-
serviços, dispõe que «o fornecimento de bunal de Justiça do Estado de São Paulo
mercadorias com prestação de serviços que considerou legítima a exigência do
não especificados na lista fica sujeito ao tributo na operação de fornecimento de
imposto sobre circulação de mercado- alimentos e bebidas consumidas no pró-
rias» — § 2° do artigo 8°. A lista citada prio estabelecimento do contribuinte, de
não contempla a hipótese, o que revela conformidade com a Lei n° 6.374, de 1°
que a Lei Estadual n° 5.886 está em de março de 1989. Alegada afronta aos
harmonia com o preceituado, sendo que arts. 34, §§ 5° e 8°, do ADCT/88; 146,
o benefício alcançado pelos Estados e, III; 150, I; 155, I, B e § 2°, IX e XII; e
assim mesmo, de forma parcial, por- 156, IV, do texto permanente da Carta
quanto os Municípios contam com vinte de 1988.
e cinco por cento do que arrecadado a
título de Imposto sobre Circulação de Alegações improcedentes.
Mercadorias (artigo 158, inciso IV, da Os dispositivos do inc. I, b e do § 2°,
Carta atual), é contrabalançado pelo sis- inc. IX, do art. 155 da CF/88 delimitam
tema legal da reciprocidade. Em relação o campo de incidência do ICMS: opera-
aos serviços constantes da lista, ainda ções relativas à circulação de mercado-
que a envolver fornecimento de merca- rias, como tais também consideradas
dorias, tem-se, tão-só, a incidência do aquelas em que mercadorias forem for-
Imposto sobre Serviços — § 1° do artigo necidas com serviços não compreendi-
8° do Decreto-Lei n° 406/68. O equilí- dos na competência tributária dos Mu-
brio é perfeito e, na verdade, possui nicípios (caso em que o tributo incidirá
contornos práticos. Somente à mercê de sobre o valor total da operação).
inúmeras inconveniências poder-se-ia Já o art. 156, IV, reservou à compe-
implementar a separação do que pago a tência dos Municípios o Imposto sobre
ambos os títulos — serviços e forneci- Serviços de qualquer natureza, (ISS),
mento. não compreendidos no art. 155, I, b,
A prevalecer o enfoque da Recorren- definidos em lei complementar.
te, alcançada será cômoda situação. Pelo Conseqüentemente, o ISS incidirá
fornecimento de alimentação e bebidas, tão-somente sobre serviços de qualquer
ficarão os integrantes da categoria eco- natureza que estejam relacionados na lei
nômica isentos do pagamento quer do complementar, ao passo que o ICMS,
Imposto sobre Circulação de Mercado- além dos serviços de transporte, interes-
rias, quer do Imposto sobre Serviços, tadual e intermunicipal, e de comunica-
face à ausência de previsão na lista do ções, terá por objeto operações relativas
Decreto-Lei mencionado. à circulação de mercadorias, ainda que
as mercadorias sejam acompanhadas de
Recentemente, em 19 de outubro de prestação de serviço, salvo quando o
1993, a egrégia Primeira Turma, defrontan- serviço esteja relacionado em lei com-
do-se com hipótese que versava já então plementar como sujeito a ISS.
sobre a Lei n° 6.374, de 1° de março de Critério de separação de competên-
1989, e respectiva conformação à Carta de cias que não apresenta inovação, por-
308 R.T.J. — 158
ICMS. O que se afigura impossível é enten- com o que dispuser lei estadual, no caso
der que, excetuados os serviços menciona- dos territórios, lei federal».
dos na alínea b do inciso I do artigo 155,
Por tudo, já agora com o precedente da
mostra-se impertinente a cobrança do
Primeira Turma, reafirmo o convencimen-
ICMS no tocante a qualquer outro negócio
to a que cheguei quando, sob a égide da lei
jurídico no que envolva, além de mercado-
anterior do Estado de São Paulo — Lei n°
rias, a própria prestação de serviços. E que
5.886/87, disse da incidência do ICMS —
a norma somente cuida de hipóteses em que
Recurso Extraordinário n° 129.877, cuja
os valores em jogo dizem respeito apenas a
ementa foi publicada no Diário de 27 de
serviços, não englobando, como no caso de
novembro de 1992.
alimentação e bebidas, mercadorias e ser-
viços. O caso revela situação típica de con- Destarte, no que a Corte de origem as-
flito entre Estados e Município, abrindo-se sentou a impropriedade constitucional da
ensejo à definição que, na espécie, ocorreu cobrança, vulnerou a Constituição Federal.
com supremacia da circulação, em si, das Conheço deste recurso e o provejo para,
mercadorias, talvez mesmo por envolver o reformando o acórdão proferido, assentar a
valor preponderante. O que não se pode improcedência do pedido formulado pela
agasalhar é a tendência de concluir-se pela Recorrida, ficando restabelecidos os ônus
necessidade de separação dos quantitati- da sucumbência previstos na sentença de
vos, sob pena de bares, restaurantes e esta- folhas 54 a 64.
belecimentos similares, uma vez que não É como voto.
ocorrida a separação, estarem desobrigados
do ICMS e do ISS. Frise-se, mais uma vez, EXTRATO DA ATA
que o referido serviço de fornecimento não
está compreendido no rol daqueles mencio-
nados no Decreto-Lei Federal n° 406/68 RE 160.871 — SP — Rel.: Min. Marco
como ensejadores da incidência do ISS. Tal Aurélio. flecte.: Estado de São Paulo
fato não implica a ausência de participação (Adv.: Eli Roberto Costa Neves Buchala).
dos Municípios. É que, a teor do inciso IV Recdo.: Eduardo's Park Hotel Limitada
do artigo 158 da Constituição Federal, per- (Advs.: Afonso da Costa Manso Filho e
tencem aos Municípios vinte e cinco por outro).
cento do produto da arrecadação do impos- Decisão: Por unanimidade, a Turma co-
to do Estado sobre operação alusivas à cir- nheceu do recurso e lhe deu provimento,
culação de mercadorias e sobre prestações nos termos do voto do Relator.
de serviços de transporte interestadual e Presidência do Senhor Ministro Néri da
intermunicipal e de comunicações, haven- Silveira. Presentes à Sessão os Senhores
do o crédito consoante definido no parágra- Ministros Carlos Velloso e Marco Aurélio.
fo único naquele artigo: Ausente, justificadamente, o Senhor Mi-
«três quartos no mínimo na propor- nistro Francisco Rezek. Subprocurador-
ção do valor adicionado nas operações Geral da República, o Dr. Antonio Fernan-
relativas às operações de mercadorias e do Barros e Silva de Souza.
nas prestações de serviços realizada em Brasília, 31 de outubro de 1994 — José
seus territórios e um quarto de acordo Wilson Aragão, Secretário.
310 R.T.I. — 158
RELATÓRIO VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Rela-
O Sr. Ministro Marco Aurélio: A Cor- tor): Na interposição do recurso foram
te de origem assentou que a primeira parte atendidos os pressupostos de recorribilida-
do artigo 100 da Constituição Federal ex- de que lhe são inerentes. Está subscrito por
cetua do sistema dos precatórios a satisfa- Procurador Autárquico, não se podendo co-
ção dos créditos de natureza alimentícia. gitar de preparo, em face à norma inserta
Concluiu, assim, que, uma vez procedido no artigo 511 do Código de Processo Civil.
o enquadramento como tal, cabe a satis- Quanto à oportunidade, a peça recursal foi
fação imediata. protocolada no prazo legal.
O Instituto, com a peça de folhas 109 a Relativamente à matéria de fundo, o Ple-
113, subscrita por Procurador Autárquico, nário desta Corte, ao julgar a Ação Direta
procura demonstrar que tal entendimento de Inconstitucionalidade n° 47-1, concluiu
conflito com o preceito constitucional, que também os créditos de natureza ali-
transcrevendo precedentes em abono à mentícia estão sujeitos ao pagamento pela
tese. via do precatório. Na ocasião, fiquei venci-
R.T.J. — 158 311
Cível n° 176.971-1/4, «nada mais fez do cálculo da gratificação por tempo de servi-
que se colocar em harmonia com os dispo- ço de acordo com a legislação pretérita.
sitivos da Constituição Federal e Estadual Acompanho V. Exa. no voto que profe-
de São Paulo no que pertine à sistemática riu. Configurado o cálculo cumulativo da
de cálculo da remuneração do funcionalis- parcela, bem andou a Corte de origem ao
mo, a salvo de qualquer alegação de direito glosá-lo.
adquirido e sem embargo da redutibilidade
dos vencimentos, não tendo, dentro de tal EXTRATO DA ATA
quadro, pertinência alguma a asserção da
impossibilidade de leis complementares RE 161.311 — SP — Rel.: Min. Néri da
serem modificadas por lei de hierarquia Silveira. Rectes.: Maria Angela da Silva
inferior. Sordi Marchi e outros (Advs.: Brasil do
Do exposto, não conheço do recurso Pinhal Pereira Salomão e outros). Recdo.:
extraordinário. Estado de São Paulo (Advs.: Fernando
Wagner Fernandes Marinho e outros).
VOTO (PRELIMINAR)
Decisão: Por unanimidade, a Turma não
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor conheceu do recurso extraordinário.
Presidente, só tive uma dúvida quanto ao
Presidência do Senhor Ministro Néri da
objetivo visado, porque há uma situação no
Silveira. Presentes à Sessão os Senhores
Estado de São Paulo em que se versa pro-
Ministros Carlos Velloso, Marco Aurélio,
moção, e se pretende considerar, justamen-
Francisco Rezek e Maurício Corrêa. Sub-
te, o patamar alcançado e mantido pelo
procurador-Geral da República, o Dr. Mar-
Estado, como um direito adquirido, para
dem Costa Pinto.
chegar-se a ela. Todavia, V. Exa. explicita
que não é essa a hipótese dos autos. O que Brasília, 26 de junho de 1995 — Wag-
se pleiteia, realmente, é a continuidade do ner Amorim Madoz, Secretário.
ção de situações, o que não ocorre na hipó- Decisão: Por unanimidade, a Turma ne-
tese dos autos no que, à época em que gou provimento ao agravo regimental.
transferidos para a inatividade, os Agrava-
dos contavam com a citada gratificação, Presidência do Senhor Ministro Néri da
extinta posteriormente. Por tais razões, Silveira. Presente à Sessão o Senhor Minis-
nego provimento a este agravo regimental. tro Marco Aurélio. Ausentes, justificada-
É o meu voto. mente, os Senhores Ministros Carlos Vel-
loso e Francisco Rezek. Compareceu, para
EXTRATO DA ATA complementar o «quorum'», o Senhor Mi-
nistro limar Gaivão. Subprocurador-Geral
Ag 161.523 (AgRg) — CE —Rel.: Min. da República, o Dr. Cláudio Lemos Fonte-
Marco Aurélio. Agte.: Estado do Ceará les.
(Adv.: Stelio Lopes Mendonça Júnior).
Agdos.: José dos Santos e outros (Adv.: Brasília, 14 de novembro de 1994 —
Mauro Carmélio Santos Costa Júnior). José Wilson Aragão, Secretário.
tuição (art. 8°, § 1° do ADCT) e nada, Demonstrado, como foi, pelo im-
mais, bastando citar apenas os Manda- petrante, que colegas seus, mais mo-
dos de Segurança Ws 428 do qual fui dernos, obtiveram, antes daquela
relator e 327, 309, 264, 240 e 246 dos data, a promoção, por antiguidade, ao
quais fui relator para os acórdãos. Con- posto de Coronel, não há como dei-
clui-se estar a digna autoridade coatora xar de reconhecer-lhe direito a tal
com razão, ao levantar as dúvidas de fls. promoção que, fatalmente, teria tam-
124/127. O venerando acórdão exe- bém alcançado, pela mesma via, se
qüendo assegurou ao autor apenas a pro- houvesse permanecido em ativida-
moção ao posto de Coronel e os efeitos des».
financeiros desta promoção a partir de O meu voto é no sentido de acompa-
5-10-88 (ADCT, art. 8°, § 1°). nhar o Sr. Ministro Relator.» (fls.
Por isso, 175/179)
Acolho o incidente da execução para Interpostos embargos de declaração, e
deixar claro que ao impetrante foi asse- por maioria de votos, vencidos os Ministros
gurado apenas a promoção na inativida- Garcia Vieira (relator) e Hélio Mosimann
de ao posto de Coronel e os efeitos fi- (voto em pedido de vista), foram eles co-
nanceiros desta, a partir da promulgação nhecidos e recebidos «para anular o acór-
da vigente Constituição Federal. dão proferido no julgamento do incidente
de execução suscitado nos autos, manten-
O &ou° Sr. Ministro Peçonha Mar- do-se, em sua Íntegra, a decisão proferida
fins: Senhor Presidente, neste caso, por no julgamento do mandado de segurança»
se tratar de incidente de execução, voto (fl. 299). Para esclarecimento do alcance da
com o Sr. Ministro-Relator. decisão, transcrevo o relatório desse aresto,
o voto do relator vencido, o voto do relator
O Senhor Ministro Antônio de Pá- para o acórdão — Ministro Peçanha Mar-
duo Ribeiro: Sr. Presidente, estava exa- fins —, o voto do Ministro Demócrito
minando exatamente o voto do Sr. Mi- Reinaldo e a adesão a ele pelo Ministro
nistro-Relator limar Gabião e, real- Peçanha Martins:
mente, o voto de S. Ex• conclui no sen-
tido de conceder a segurança, mas, an- «O Sr. Ministro Garcia Vieira:
tes, deixou explicitado que o fazia, se- Hjalmar Luiz de Carvalho Tufversson
gundo se depreende, diante dos termos embarga de declaração, alegando a exis-
do art. 8° do Ato das Disposições Cons- tência de obscuridade, dúvida, contradi-
titucionais Transitórias. O texto de seu ção e omissão.
voto é expresso: Entende o embargante que no inci-
dente de execução revogou-se a coisa
«Com efeito, havendo o art. 8° do julgada, o ato jurídico perfeito e o direito
ADCT/88 ampliado, no tempo, os adquirido.
efeitos da anistia da EC 26/85, não há O incidente de execução tem origem
como negar-se ao militar beneficiado no Aviso 228/91 do Exmo. Sr. Ministro
por esta, as vantagens acrescentadas do Exército solicitando o reexame do
por aquele, entre estas compreendi- assunto por não aceitar e discordar da
das as promoções ao posto a que teria decisão já transitada, entende haver sur-
direito o militar se estivessem na ati- gido um Tribunal de Exceção em desa-
va em outubro/88. fio ao STJ e ao texto constitucional.
330 RT.J. — 158
E se é certo que nesta Seção, interpre- Federal. Se não posso aqui, neste instan-
tando o dispositivo constitucional, te- te, individuar os casos, me comprometo
mos reconhecido os mais amplos efeitos com V. Exas. a enumerá-los, ao menos
à anistia — recordo-me termos dito que dez, de acórdãos do Supremo Tribunal
a anistia se fez a mais ampla—com base Federal dando tal efeito modificativo
nesta amplitude deferi mandado de se- aos embargos de declaração.
gurança requerido por praças da Mari- O Exmo Sr. Ministro Hélio Mosi-
nha que teriam sido punidos por meios mann (aparte): Eu lhe dispensaria de
regulares, embora, em verdade, porque trazer essas decisões. Conheço várias
participaram da célebre reunião coman- delas. O Supremo Tribunal Federal,
dada pelo Cabo Anselmo. realmente, tem emprestado efeito modi-
A Seção tem proclamado que o man- ficativo de julgado em casos excepcio-
dado de segurança defere a promoção do nalíssimos, pois representa a Corte
requerente ao posto de Coronel com as Maior, a última palavra. Então, se a Su-
vantagens dentre as quais indiscutivel- prema Corte constata um erro grave,
mente está a do tempo de serviço, até evidente, sobre o qual não haja qualquer
porque sabemos que os vencimentos dúvida, ela mesma deve corrigi-lo atra-
base no Brasil, correspondem, não raro, vés desses embargos. O Supremo Tribu-
a apenas uma parcela insignificante da nal Federal só tem conferido efeito mo-
remuneração, mormente quando se trata dificativo em casos excepcionais para
de soldo. Se dermos ao requerente ape- corrigir erro material e diante do equí-
nas os vencimentos do posto, estaremos voco manifesto, o que, no meu entendi-
fazendo não uma isonomia, como deter- mento, data venia, não é o caso.
mina o art. 8°, mas, ao contrário, dando- O Exmo. Sr. Ministre Peçanha
lhe apenas um título que não correspon- Martins: Agradeço o aparte, mas quero
derá à remuneração que vence o seu dizer ao Eminente Ministro Mosimann
paradigma. que este Tribunal tem a última palavra
Votamos à unanimidade um inciden- também no que diz respeito à materia
te de execução. Discutia-se nele o que infraconstitucional. Não posso deixar de
houvéramos decidido no mandado de julgar de acordo com a minha consciên-
segurança, ou seja, na ação, e decidi- cia e, no caso, com o relevo que ele
mos, inclusive com o meu voto, contra merece. Não se trata aqui da decisão de
a coisa julgada. Então, indago aos meus um direito deferido por lei ordinária, de
Eminentes pares: sendo indiscutíveis o um direito consagrado na própria Cons-
direito do requerente e o erro da Seção, tituição, por consenso do povo brasilei-
deveremos mantê-lo obrigando o reque- ro. Em função desse consenso continua-
rente à rescisão dessa decisão? Sem dú- mos a viver em harmonia neste País,
vida nenhuma são inúmeros os casos em fazendo com que os interesses, ainda
que o Supremo Tribunal Federal, em que contrariados, possam ser harmoni-
admitindo erro, tem dado efeito modifi- zados nos Tribunais. É o que estamos
cativo aos embargos de declaração. Er- fazendo e o que fizemos com o reque-
ramos contra nossa própria decisão, en- rente, aplicando-lhe a lei constitucional
tendo eu. Por isso, não vejo porque não no perdão de atos cometidos em passado
possamos emendar esse erro, ainda que recente. Anistiamos vencidos e vence-
em embargos de declaração, com base dores, e ele foi um dos prejudicados.
na jurisprudência do Supremo Tribunal Indago diante da excepcionalidade da
R.T.J. — 158 333
situação pode-se permitir que este Tri- O Exmo. Sr. Ministro Peçanha
bunal, valendo-se inclusive, da jurispru- Martins: Eminente Ministro Mosi-
dência do mais alto Pretório, não possa mann, tive o prazer e a ventura de ler
corrigir o seu erro, ainda que em embar- Voltaire. Confesso que, embora no que
gos? Entendo que sim e, porque assim diz respeito à conduta ética e moral sem-
entendo, corrijo o meu erro anterior, pre a tivesse mantido invariável, no pla-
para, no particular, conhecer dos embar- no do pensamento, no plano das idéias,
gos e modificar o julgado, dentro da estou sempre pronto a aprender e a mo-
melhor interpretação da lei processual, dificar para melhor. E, no caso, não es-
que é exátamente a interpretação que lhe tou rejulgando a causa, mas corrigindo
dá o Tribunal Maior. um erro cometido num incidente de exe-
O Exmo. Sr. Ministro Hélio Mosi- cução do julgado que cumpre manter.
mann: V. Exa. acaba de dizer que houve
ofensa à coisa julgada? Voto
(Esclarecimento)
Exmo. Sr. Ministro Peçanha
Martins: Não. O que disse é que, neste O Sr. Ministro Demócrito Reinal-
caso, sem dúvida nenhuma, chegamos do: Sr. Presidente, gostaria de fazer um
até a ofender o julgado. esclarecimento que é importantíssimo
para salvaguardar o direito da parte im-
O Exmo. Sr. Ministro Hélio Mosi- petrante. E que se continuarmos insis-
mann: Não concordo. Mas, se ofensa tindo nesta decisão e ela transitar em
houve, a forma de reparar é a ação res- julgado a parte ficará prejudicada e não
cisório. poderá promover outra ação reivindi-
Exmo. Sr. Ministro Peçanha cando seu direito. Enquanto que, se
Marfins: Por entender que tenha havido afastarmos esse incidente em seu todo,
erro na execução do julgado, corrijo-o e se amanhã se vier a compreender que
nos embargos, para evitar que, nesta esta questão de tempo de serviço não
situação excepcional, de negação do di- está embutida na decisão primitiva do
reito antes reconhecido, tenha o reque- mandado de segurança, a parte poderá
rente que fazê-lo em outra ação. requerer outro mandado de segurança e
ser beneficiada em relação a este aspec-
O Exmo. Sr. Ministro Hélio Mosi- to, ou promover a ação adequada para
mann: V. Exa. repara com um novo efeito da contagem do seu tempo de
julgamento? serviço.
Exmo. Sr. Ministro Peçanha É como voto.
Marfins: Recebo os embargos sob esses
argumentos que expendi e lhe dou efeito O Exmo. Sr. Ministro Peçanha
modificativo, com amparo na jurispru- Martins (aparte): Adiro inteiramente à
dência do Supremo Tribunal Federal. solução proposta pelo Eminente Minis-
tro Demócrito Reinaldo, porque, inclu-
O Ermo. Sr. Ministro Hélio Mosi- sive, concede todas as honras ao proces-
mann: Decidimos aqui no dia 19 de so. Mas, como é indubitável, do nosso
dezembro último, por unanimidade, o erro no julgamento do incidente de exe-
seguinte: «em sede de embargos decla- cução não há como fugir, e a solução
ratórios não pode haver novo julgamen- arbitrada, sem dúvida, é a processual-
to da causa». mente mais correta: recebermos esses
334 R.T.J. — 158
ADCT, que só cuida de promoções, ex- para proceder à sua transcrição, reiteran-
travasando os limites do Mandado de do as conclusões ali consignadas:
Segurança, imposto pelo art. 5°, LXIX,
`A controvérsia teve origem, ou se
da Constituição Federal. Afirma, ainda, delineou mais claramente, com o ofício
que as outras vantagens concedidas po-
trasladado para as fls. 47/50, onde o
derão ser objeto de ação própria, ade-
Exm° Ministro de Estado do Exército,
quada para a ampla discussão do as- dirigindo-se ao Exm° Sr. Min. Pedro
sunto. Acioli, então Presidente da 1° Seção do
Tais alegações não podem prosperar, Superior Tribunal de Justiça, ao opor-se
pois os embargos de declaração no inci- ao cumprimento do v. acórdão (fls.
dente de execução foram recebidos por- 33/45) prolatado no Mandado de Segu-
que a decisão relativa ao incidente res- rança n° 287-DF (registro n° 89.131.48-
tringia o alcance da segurança já conce- 6), nos termos pretendidos pelo impe-
dida e transitada em julgado. Esta, a sua trante e ora recorrido, Hjahnar Luiz de
vez, deferiu ao requerente a promoção Carvalho Tufvesson, suscitou dúvidas
pleiteada, com os consectários dessa quanto à extensão do referido julgado.
promoção e com todos os adicionais a Tal iniciativa resultou no r. despacho
que fazia jus.
que se encontra às fls. 51, pelo qual o
Portanto, ausente qualquer violação ilustre Ministro Pedro Acioli suscitou o
do texto constitucional, não admito o «incidente de execução» que, relatado
recurso pelo Exm° Sr. Min. Garcia Vieira, pro-
piciou a prolação do r. acórdão reprodu-
Publique-se.» zido às fls. 62/69, assim ementado:
O recurso, porém, subiu a esta Corte, em «Matéria — ADCT — art. 8° —
virtude do provimento de agravo. incidente na execução — contagem de
A fls. 342 a 346, assim se manifesta a tempo de serviço.
Procuradoria-Geral da República, em pare- O dispositivo constitucional só asse-
cer do Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas: gurou aos anistiados as promoções, na
«1. Trata-se de recurso extraordiná- atividade, ao cargo, emprego, posto ou
rio, processado por força de provimento graduação a que teriam direito se esti-
de agravo (v. autos em apenso), que a vessem em serviço ativo. A contagem
União Federal, com fundamento na alí- de tempo de serviço e suas consequên-
nea a do permissivo constitucional, for- cias não foi contemplada no texto.
malizou contra o v. acórdão de fls. Acolhido o incidente de execução
271/303, deduzindo alegação de contra- para reconhecer ao impetrante a promo-
riedade aos incisos XXXVI e LXIX do ção na inatividade ao posto de Coronel
art. 5° da Carta Magna em vigor e ao art. e os efeitos financeiros deste.»
8° do respectivo ADCT.
E daí a oposição de embargos decla-
2. No parecer (n° 1.684/93-BL) exa- ratórios pelo ora agravado (fls. 71/85),
rado nos autos do agravo de instrumen- cujo julgamento pela E. Primeira Seção
to, o próprio mérito do RE foi examina- do Superior Tribunal de Justiça deu en-
do, e supõe-se que o foi em termos ade- sejo ao aresto hostilizado pela União
quados, de modo a dispensar considera- Federal através do recurso extraordiná-
ções adicionais. Por isto, pede-se vênia rio denegado. Em síntese, o referido ór-
336 R.T.J. — 158
parte do impetrante, era recorrido —, o que acórdão recorrido, faltando-lhe, pois, o in-
se discutiu, nos embargos declaratório com dispensável prequestionamento (Sumula
efeitos modificativos, foi o limite objetivo 282), e isso porque o que se discutiu foi o
da coisa julgada, concluindo-se, por maio- limite objetivo da coisa julgada em concre-
ria devotos —e não importa, agora, se bem to, e não os aspectos materiais e formais
ou mal —, que ela tinha a extensão maior relativos ao mandado de segurança origina-
defendida pelo impetrante da segurança. riamente julgado.
Ora, interpretação de acórdão para a fi- 3. Em face do exposto, não conheço do
xação dos limites objetivos da coisa julga- presente recurso extraordinário.
da, a não ser quando manifestamente con-
trária ao decidido, é questão que não se alça EXTRATO DA ATA
ao plano constitucional do desrespeito ao
princípio de observância da coisa julgada, RE 170.906 — DF —Rel.: Min. Morei-
mas se restringe ao plano infraconstitucio- ra Alves. Recte.: União Federal (Adv.:
nal, configurando-se, no máximo, ofensa AGU-Arthur de Castilho Neto). Recdo.:
reflexa à Constituição, o que não dá mar- Hjalmar Luiz de Carvalho Tufvesson
gem a recurso extraordinário. (Advs.: Inemar Batista Pema Marinho e
outros).
Ademais, no caso, como se verifica do
voto vencedor — e o mesmo ocorre com Decisão: A Turma não conheceu do re-
relação aos demais votos —, essa questão curso extraordinário. Unânime. Impedido o
não foi sequer discutida sob a perspectiva Sr. Ministro limar Gaivão.
do texto constitucional a ela pertinente (ar- Presidência do Senhor Ministro Moreira
tigo 5", XXXVI, da Constitucional Fe- Alves. Presentes à Sessão os Senhores Mi-
deral). nistros Sydney Sanches, Sepúlveda Perten-
2. Observo, por outro lado, que, no to- ce, Celso de Mello e Binar Gaivão. Subpro-
cante à alegação de ofensa ao artigo 8° do curador-Geral da República, Dr. Arthur de
ADCT bem como ao artigo 5°, LXIX, am- Castilho Neto.
bos da Constituição Federal, não foram as Brasília, 15 de março de 1994 —Ricar-
questões a eles atinentes ventiladas no do Dias Duarte, Secretário.
Vistos, relatados e discutidos estes au- O Sr. Ministro Celso de Mello (Rela-
tos, acordam os Ministros do Supremo Tri- tor): A questão que se coloca nestes autos,
bunal Federal, em Primeira Turma, na con- que não é nova nesta Corte, concerne à
formidade da ata do julgamento e das notas validade jurídico-constitucional da Lei n°
taquigráficas, por unanimidade de votos, 6.374/89, do Estado de São Paulo, no ponto
em conhecer do recurso e lhe dar provi- em que dispôs sobre a incidência do ICMS
mento. sobre operações referentes ao fornecimen-
Brasília, 9 de maio de 1995 — Moreira to de alimentação, bebidas e outras merca-
Alves, Presidente — Celso de Meio, Re- dorias por qualquer estabelecimento, in-
lator. cluídos os serviços que lhe sejam inerentes.
O Plenário do Supremo Tribunal Fede-
RELATÓRIO ral, ao julgar o RE 160.007-SP, rel. Min.
Marco Aurélio (DJU de 3-11-94), procla-
O Sr. Ministro Celso de Mello: O Es- mou, na hipótese em questão, a plena
tado de São Paulo recorre extraordinaria- validade constitucional da Lei paulista n°
mente do acórdão do Superior Tribunal 6.374/89, e, desse modo, reconheceu como
de Justiça que, adotando o entendimento legítima a incidência da exação em causa.
de que não é lícito o lançamento do ICMS O Convênio ICM n° 66/88, não obstante
sobre o fornecimento de refeições em bares a provisoriedade do regramento normativo
e restaurantes, deu provimento ao recurso
que veicula, qualifica-se, nos termos do art.
especial da empresa contribuinte nos se- 34, § 8°, do ADCT, como sucedâneo cons-
guintes termos: titucional da lei complementar exigida
«Tributário —ICMS — Forneci- pelo art. 146, III, a, da Carta Política. Daí,
mento de alimentação em bares e res- a exata observação de Hugo de Brito Ma-
taurantes — Competência. chado («Curso de Direito Tributário», pág.
253, 7' ed., 1993, Malheiros), no sentido de
O fornecimento de refeições em ba- que o constituinte federal substituiu a
res e restaurantes, por constituir serviço
lei complementar pelo convênio interesta-
não compreendido no Art. 155, I, b, da
Constituição, está livre de tributação es- dual, para o fim específico de viabilizar a
instituição do ICMS» (grifei).
tadual.» (fl.151)
O presente recurso extraordinário, que O Convênio em questão, enquanto ins-
foi devidamente admitido e processado, trumento normativo de regência provi-
tem por fundamento a alegada violação do
sória da matéria pertinente ao ICMS,
empresta o necessário suporte jurídico à
art. 155, § 2°, IX, b, da Constituição Fede-
questionada ação tributante do Estado, na
ral. medida em que, além de identificar, de
É o relatório. modo adequado, a base de cálculo do im-
340 R.T.J. —158
posto («o valor total da operação, com- item III, da vigente Constituição, não
preendendo o fornecimento da mercadoria institui imposto. Não descreve o seu fato
e a prestação do serviço» — art. 4°, IV), gerador. Não é lei de tributação, mas lei
define a hipótese de incidência do ICMS sobre leis de tributação. Tem a finalida-
nas operações de «fornecimento de alimen- de de promover a unidade nacional, na
tação, bebidas e outras mercadorias, por medida em que, melhor definindo o âm-
qualquer estabelecimento, incluídos os ser- bito do tributo, estreita o campo em que
viços prestados» (art. 2°, VII). há de laborar o legislador ordinário ao
Revela-se destituída de qualquer funda- institui lo.
mento, por sua vez, a objeção daqueles que É induvidoso, portanto, que o fato
sustentam a imprescindibilidade da lei gerador do ICMS é o descrito na lei do
complementar local para efeito de válida Estado, ou do Distrito Federal, que o
instituição, pelo Estado-membro, do institui. A área factual descrita na Cons-
ICMS. Trata-se de tese que, ressalvadas as tituição Federal, e na lei complementar
hipóteses excepcionais previstas no pró- a que se reporta seu art. 146, item III, é
prio texto da Lei Fundamental da Repú- limite que não pode ser ultrapassado
blica, não encontra qualquer apoio em nos- pelo legislador ordinário que institui o
so sistema de direito constitucional positi- tributo.» (op. loc. cit., grifei)
vo, em que o processo de criação dos im-
postos exterioriza-se, instrumentalmente, De outro lado, e no que concerne espe-
em leis meramente ordinárias. Por isso cificamente à definição da base imponivel
mesmo — registra Paulo de Barros Car- da espécie tributária em questão, impende
valho («Curso de Direito Tributário», pág. ressaltar a circunstância de a Lei paulista n°
48, e ed., 1991, Saraiva) —, é a lei ordi- 6.374/89 e o Convênio ICM n° 66/88 guar-
nária «o instrumento por excelência da darem plena conformidade hierárquico-
imposição tributária». normativa com o preceito inscrito no art.
O repreensível magistério de Hugo de 155, § 2°, IX, b, da Carta Política, que
Brito Machado, ilustre Magistrado e Pro- autoriza a incidência do ICMS, uma vez
fessor eminente, bem realça a inconsistên- editada a competente lei ordinária esta-
cia jurídica dessa tese, verbis: dual, «sobre o valor total da operação,
quando mercadorias forem fornecidas com
«Segundo a vigente Constituição Fe- serviços não compreendidos na competên-
deral, cabe à lei complementar estabele- cia tributária dos Municípios.»
cer normas gerais em matéria de legis-
lação tributária, especialmente sobre a Vê-se, pois, que a regra de competência
definição dos fatos geradores dos tribu- impositiva inscrita no art. 155, I, b, da
tos (art 146, item III, alínea a). A lei Constituição — que autoriza o Estado-
complementar, todavia, não é o ins- membro a instituir o ICMS — deve ser
trumento hábil para a instituição do interpretada em função do que também
tributo, a não ser, é claro, naqueles prescreve a norma consubstanciada no art.
casos nos quais a própria Constitui- 155, § 2°, IX, b, do Estatuto Fundamental,
ção determina que o tributo será cria- que legitima a incidência dessa espécie tri-
do por lei complementar, como acon- butária sobre operações relativas à circula-
tece, por exemplo, com o art. 154, item ção jurídica de mercadorias fornecidas
I. Assim, temos de entender que a lei «com serviços não compreendidos na com-
complementar a que se refere o art. 146, petência tributária dos Municípios».
R.TJ. — 158 341
Decisão: A Turma conheceu do recurso ce, Celso de Mello e limar Gaivão. Subpro-
e lhe deu provimento, nos termos do voto curador-Geral da República, Dr. Miguel
do Relator. Unânime. Franzino Pereira.
Presidência do Senhor Ministro Moreira
Alves. Presentes à Sessão os Senhores Mi- Brasília, 9 de maio de 1995 — Ricardo
nistros Sydney Sanches, Sepúlveda Perten- Dias Duarte, Secretário.
«Sr. Presidente, ouvi com atenção as que ele não foi ofendido — defender a
doutas ponderações do Eminente Rela- sua honra.
tor. Solicitaria, todavia, respeitosa vênia No caso concreto, houve um desvio
para dissentir. Assim o faço, tendo em — repetindo a expressão — a pureza
vista que, numa pureza técnica, o racio- técnica. Qual a finalidade da representa-
cínio é perfeito. A lei faz perfeita distin- ção? É o ofendido manifestar, de forma
ção quanto à legitimidade para agir: ou solene, que deseja propor a ação penal.
é do Ministério Público incondicionada- Por uma via ou por outra, essa manifes-
mente, ou é do ofendido, ou ocorre a tação chegou ao Ministério Público,
posição intermediária, a chamada ação que, ao invés de oferecer a denúncia ou
pública dependente de representação. fazer o aditamento, ao contrário, pediu
No caso dos autos, tratar-se-ia de ofensa pura e simplesmente o prosseguimento;
dirigida ao servidor público no sentido ou seja, noticiado o Ministério Público
lato do termo; por isso, atrairia o dispos- recusou-se a propor a ação. Entendo,
to no art. 141 do Código Penal, que tem portanto, nasceu, aí, o direito subjetivo
a sua correspondência no art. 40 da Lei do particular solicitar a prestação juris-
de Imprensa, ou seja, a pureza técnica dicional. Caso contrário, o funcionário
solicitaria que o ofendido, no caso, tec- público ficaria diminuído em relação a
nicamente, fizesse a representação ao um particular na preservação da digni-
Ministério Público para que o Parquet dade, da sua honra, da sua reputação —
oferecesse ou não a denúncia. um dos aspectos dos chamados direitos
O problema está gerando atualmente humanos.
a preocupação, inquietação já lançada, Em face dessas considerações, en-
ponderada na Corte Especial do Supe- tendendo que apenas houve uma forma
rior Tribunal de Justiça, qual seja, se o heterodoxa de ser solicitada a prestação
funcionário público para defender a sua jurisdicional, peço vênia a fim de dene-
honra terá que fazer a representação ao gar o habeas corpus.»
Ministério Público. Caso este entenda Ora, reza o art. 129, I, da Constitui-
da inexistência do crime e, por isso, ção:
determine o arquivamento, estaria ele
privado de defender a sua reputação, a «Art. 129. São funções institu-
sua dignidade, o seu decoro, quando o cionais do Ministério Público:
particular, independente do filtro do Mi- I — promover, privativamente,
nistério Público, terá o direito subjetivo a ação penal pública, na forma da
de solicitar a prestação jurisdicional. É lei.»
certo, a Constituição no art. 5° diz que: A seu turno, prevê o art. 5°, LIX, da
uno caso de omissão do Ministério Pú- Constituição:
blico será nascido o direito da ação pe-
nal privada — rectius — ação penal de «LIX — será admitida ação pri-
iniciativa privada». A ação é sempre vada nos crimes de ação pública, se
pública, a iniciativa é que ou é do par- esta não for intentada no prazo le-
quet ou do particular ofendido. Apesar gal.»
da expressão literal da Constituição, se- Pois bem, no caso concreto, afirmou o
ria afetado o princípio da isonomia, caso voto condutor do acórdão recorrido (fl. 61):
o funcionário público não pudesse — «Destarte, a exigência constitucional está
porque o Ministério Público entendeu sendo preterida, haja vista que o promoven-
R.T.J. — 158 347
te da presente ação penal pública não é o «Art. 129. São funções institucio-
seu dominas litis, mas o particular». nais do Ministério Público:
Também o ilustre Ministro Adhemar I — promover, privativamente, a
Maciel acentuou (fl. 67): «No caso concre- ação penal pública, na forma da lei;»
to, o ofendido não fez, como manda a lei, a
Esta especificidade, quanto à atuação do
representação. Foi logo entrando com a
Ministério Público, ligada sem dúvida al-
queixa, como houvesse omissão por parte guma à ação penal pública — repito, públi-
do órgão ministerial».
ca —, e não à ação penal pública condicio-
O acórdão proclamou, desse modo, que nada, mereceu um temperamento quando
não houve representação do ofendido, ora se cuidou das garantias constitucionais,
recorrente. Cuida-se de matéria de fato, in- prevendo o inciso LIX, referido por V.
suscetível de discussão em habeas corpus. Exa.:
Ora, somente caberia discutir em tomo «LIX — será admitida ação priva-
do cabimento da ação privada, se, feita a da nos crimes de ação pública — repito,
representação, o MP não houvesse intenta- ação pública propriamente dita — se
do a ação pública no prazo legal. Não tendo esta não foi intentada no prazo legal;»
havido representação, não há aqui falar em A meu ver, Senhor Presidente, potencia-
ofensa ao art. 5°, LIX, da Lei Maior, pelo lizou-se o teor do inciso I, albergando-se,
acórdão. Também o art. 129, I, da Consti- nesse inciso, uma ação que não é, para mim,
tuição, não foi vulnerado pelo aresto, que, uma ação pública; que não é a ação nele
de expresso, reconheceu haver o ora recor- definida, já que todos sabemos que, para
rente ingressado, diretamente, em Juízo, propor ação pública, o Ministério Público
com queixa-crime, que se vê às fls. 5/13. não depende de qualquer provocação. Tem
É de notar, outrossim, que o Plenário na a titularidade.
Ação Originária n° 191-9-PE, relator o ilus- Assento, Senhor Presidente, logo de iní-
tre Ministro Marco Aurélio, ao receber a cio, que, no caso, inobservou-se a regra do
queixa, no caso objeto do julgamento teve inciso I em comento, no que estendida a
em conta a inércia do Ministério Público, uma situação concreta, que não ensejava a
«deixando de atuar nos prazos fixados nos propositura da ação mencionada nesse dis-
artigos 40, § 1°, da Lei n° 5.250/67 e 46 do positivo.
Código de Processo Penal —de dez e quin-
ze dias respectivamente». — A decisão O que digo é que essa reserva, a inicia-
afirmou que, nessas circunstâncias, «abre- tiva privativa do Ministério Público, até
se oportunidade à propositura da ação sub- mesmo considerando esse vocábulo «pri-
sidiária ou pública, pelo ofendido». vativamente», diz respeito, apenas, à ação
pública propriamente dita, não alcançando,
Do exposto, não conheço do recurso em face a esse predicado revelador da ini-
extraordinário, por não ver configurada ciativa exclusiva do Ministério Público, a
ofensa aos dispositivos maiores apontados ação penal pública condicionada.
no apelo extremo.
Senhor Presidente, como afirmado da
VOTO tribuna pelo ilustre Advogado, citando uma
ementa que redigi, não posso interpretar
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor dispositivos de modo a chegar ao prejuízo,
Presidente, o inciso Ido artigo 129 da Carta justamente, daquela a quem o dispositivo
preceitua: objetiva proteger. Quando se cogita da
348 R.T.J. — 158
atuação do Ministério Público, nesses casos em que o Ministério Público pode ajuizar a
de crime contra a honra de funcionário públi- ação penal independentemente da provoca-
co, coloca-se ao alcance do ofendido a má- ção de quem quer que seja. Ele define a melhor
quina estatal de acusação. Só que esse fato oportunidade para o ajuizamento, a conve-
não é de molde, a meu ver, a afastar a própria niência, a necessidade desse ajuizamento,
defesa da honra pelo ofendido; a afastar o o que não se dá no caso de crime contra a
acesso ao Judiciário, pelo próprio ofendido honra praticado contra funcionário público.
no que previsto como garantia constitucional. Portanto, o preceito está restrito à ação penal
pública, não alcançando a condicionada.
De qualquer forma, Senhor Presidente,
V. Exa. procedeu à leitura da petição inicial Peço vênia, desta para conhecer e pro-
da ação penal e, ao término dessa peça, o ver o pedido formulado neste recurso, a fim
Querelante teve o cuidado de lançar que a de, reformando o acórdão concessivo da or-
petição servia também como representa- dem no babem corpos — o acórdão do Su-
ção, pedindo que fosse ouvido o Ministério perior Tribunal de Justiça — denegar essa
Público. Qual foi a postura do Ministério mesma ordem, tendo o Recorrente como
Público? Endossou-a. parte legítima para a ação penal intentada.
Tenho presente que a representação está EXTRATO DA ATA
sujeita a determinadas formalidades. Apenas
argumento como fecho da inicial, para refor- RE 173. 938 — AP — Rel.: Min. Néri
çar a premissa de meu voto, suficiente que é, da Silveira. Recte.: Francisco de Assis Me-
no sentido de que não temos como ver, no nezes (Mv.: Guaracy da Silva Freitas).
inciso I do artigo 129, agasalhada a hipótese Recdo.: Ministério Público Estadual.
em que o Ministério Público, que tem em Decisão: Após o voto do Ministro Rela-
caráter exclusivo a ação, não pode atuar in- tor não conhecendo do recurso extraordiná-
dependentemente da vontade de um tercei- rio, e do voto do Ministro Marco Aurélio
ro. Quando no inciso I do artigo 129 aludiu- dele conhecendo e lhe dando provimento,
se à titularidade exclusiva da ação, quis-se para cassar o «habeas corpus», o julgamen-
referir à ação pública propriamente dita. E to foi adiado em virtude do pedido de vista
ação pública condicionada não é aquela que do Ministro Paulo Brossard. Ausentes, oca-
está ali, porque não compreendo que se sionalmente, os Ministros Carlos Velloso e
possa ter a atuação como exclusiva, quando Francisco Rezelc Falou pelo recorrente o
condicionada a um procedimento de tercei- Dr. Guaracy da Silva Freitas.
ro. Realmente não compreendo, não consi-
go compreender. Presidência do Senhor Ministro Néri da
Silveira. Presentes à Sessão os Senhores
Peço vênia, Senhor Presidente, para rea- Ministros Paulo Brossard, Carlos Velloso,
firmar que: primeiro, a Constituição Federal, Marco Aurélio e Francisco Rezelc Subpro-
mesmo no tocante aos funcionários públicos, curador-Geral daRepública, o Dr. Mareiem
que são cidadãos, assegura o direito à preser- Costa Pinto.
vação da própria honra, assegura que, na Brasília, 23 de agosto de 1994 — José
hipótese de lesão a esse bem da vida impor- Wilson Aragão, Secretário.
tantíssimo, que é a honra, fica viabilizado o
acesso à defesa. Segundo, o artigo 129, inciso VOTO (VISTA)
I, combinado com o inciso LIX do rol das
garantias constitucionais, no que prevê a ex- O Sr. Ministro Paulo Brossard: Trago
clusividade, diz respeito àquelas hipóteses hoje meu voto-vista no recurso extraordi-
R.T.J. — 158 349
penal privada. O Ministro Néri da Silveira sor, como manifestação de garantia indivi-
entende que «só caberia discutir em torno dual concedida pela Constituição, não ha-
do cabimento da ação privada, se, feita a vendo porque discriminar a honra do servi-
representação, o MP não houvesse intenta- dor público, quando atingida em razão das
do a ação pública no prazo legal», pois mão funções que exerce, o qual poderá optar, se
tendo havido representação, não há aqui quiser, pela ação pública condicionada. A
falar em ofensa ao art. 5° LIX, da Lei ação pública, no caso, adiciona um direito
Maior» e também porque «o art. 129, I, da ao servidor, não podendo ser entendida
Constituição, não foi vulnerado pelo ares- como a subtração de outro direito.
ta que, de expresso, reconheceu haver o
9. Isto posto e com a vênia do Ministro
ora recorrente ingressado, diretamente, em
Relator Néri da Silveira, conheço do re-
Juízo, com queixa-crime», e assim enten-
curso extraordinário e lhe dou provimento
dendo não conhece do recurso. O Ministro
por entender que ambas as vias são possí-
Marco Aurélio entende que a expressão
veis após a Constituição, a ação pública,
privativamente utilizada no art. 129, I, da
mediante representação do ofendido, ou a
Constituição, faz com que o dispositivo ação privada, por não ver ofensa aos dispo-
compreenda exclusivamente a ação pública
sitivos constitucionais nele invocados.
não condicionada, não alcançando a ação
pública condicionada, a qual não é, segun-
do entende, uma ação pública no sentido EXTRATO DA ATA
próprio, e, por esta razão, conhece e dá
provimento ao recurso para cassar a ordem
RE 173.938 — AP — Rel.: Min. Néri
de babeas corpus, reconhecendo o recor- da Silveira. Recte.: Francisco de Assis Me-
rente como parte legítima na ação penal nezes (Adv.: Guaracy da Silva Freitas).
intentada. Ausentes na Sessão os Ministros Recdo.: Ministério Público Estadual.
Francisco Rezek e Carlos Velloso.
5. Se a Constituição proclama ser in- Decisão: Por maioria, contra o voto do
violável a honra e acrescenta que fica asse- Relator, a Turma conhecendo do recurso e
gurado o direito à indenização pelo dano lhe deu provimento, para cassar o «habeas
material ou moral decorrente da sua viola- corpus», reconhecida a legitimidade do re-
ção, art. 5°, X, entendo que a ação contra o corrente para propor a ação penal. Não
ofensor não pode ficar nas mãos do Minis- votou o Ministro Carlos Velloso por não ter
tério Público, como dono da ação. assistido ao relatório. Lavrará o acórdão o
Ministro Marco Aurélio.
O servidor ofendido pode valer-se do
favor legal e confiar a defesa da sua honra Presidência do Senhor Ministro Néri da
ao agente do Ministério Público, assim Silveira. Presentes à Sessão os Senhores
como pode assumi-la pessoalmente, dis- Ministros Paulo Brossard, Carlos Velloso
pensando o favor legal. e Marco Aurélio. Ausente, justificadamen-
Creio que assim concilia-se a legislação te, o Senhor Ministro Francisco Rezek.
anterior e a Constituição a ela posterior. Subprocurador-Geral da República, o Dr.
Haroldo Ferraz da Nóbrega.
7. Concluo, pois, que qualquer pessoa
ofendida em sua honra tem o direito de Brasília, 18 de outubro de 1994 —José
exercer a ação penal privada contra o ofen- Wilson Aragão, Secretário.
352 R.T.J. — 158
ponto, no que preceitua o artigo 4°, inciso em tomo do tema, vindo aos autos a infor-
I, do Código Tributário Nacional, segundo mação de folha 125, consoante a qual não
o qual a natureza jurídica específica do há precedente a respeito.
tributo é determinada pelo fato gerador da Recebi os autos para exame em 13 de
respectiva obrigação, sendo irrelevante, setembro de 1994, e os liberei para julga-
para qualificá-la, a denominação e demais mento, afetando o recurso ao Pleno, em 29
características formais adotadas pela lei. de outubro imediato. O prazo regimental de
Daí a impossibilidade de se concluir pela trinta dias restou extrapolado em razão da
inconstitucionalidade. Aplicado o texto sobrecarga de serviço resultante da atuação
constitucional, revela-se que «as taxas que simultânea nesta Corte e no Tribunal Supe-
adotarem base de cálculo próprias de im- rior Eleitoral.
postos não poderão ser cobradas como ta- É o relatório.
xas. Haverão de seguir o regime jurídico
próprio dos impostos». Haverão de seguir VOTO
o regime jurídico próprio dos impostos».
Assim, interpretada a exação como impos- O Sr. Ministro Marco Aurélio: Os
to, ter-se-ia a constitucionalidade, já que pressupostos gerais de recorribilidade es-
recolhido o valor objeto de cobrança ao tão atendidos. O recurso foi formalizado
por Procurador da Fazenda Nacional, sen-
Tesouro Nacional. Por isso, afirma-se que
do que, publicada a decisão no Diário de 3
a exação pode ser interpretada como adi- de março de 1993 — quarta-feira (folha 74),
cional do imposto de importação. É feita deu-se a manifestação do inconformismo no
referência ao voto do Juiz Sílvio Dobro- dia 17 imediato —quarta-feira (folha 75). Por
wolski, prolatado na aludida argüição de outro lado, quanto ao pressuposto específico,
inconstitucionalidade. O erro do legislador, nota-se que a interposição fez-se a partir do
na denominação da espécie tributária, não permissivo da alínea b do inciso Indo artigo
estaria a descaracterizá-la, muito menos a 103 do Diploma Maior. A Corte de origem
tomá-la inconstitucional à taxa de despa- declarou a inconstitucionalidade de lei fede-
cho aduaneiro, que mascarava adicional ao ral. Conheço do recurso.
imposto de importação— verbete de n° 309
que integra a Súmula. Aos autos veio o A teor do artigo 145, inciso II, da Carta
acórdão concernente à argüição de incons- Federal, a União, os Estados, o Distrito
titucionalidade. Federal e os Municípios poderão instituir
taxas, em razão do exercício do poder de
A Recorrida não apresentou razões de polícia, ou pela utilização, efetiva ou poten-
contrariedade, estando a decisão do Presi- cial, de serviços públicos específicos e di-
dente do Tribunal Regional Federal da visíveis, prestados ao contribuinte ou colo-
Quarta Região, admitindo o extraordinário, cados à sua disposição. A leitura do artigo
à folha 115. P da Lei n° 7.690/88 revela que a taxa em
A Procuradoria-Geral da República discussão resulta de uma atividade provo-
emitiu o parecer de folhas 120 a 124, no cada, enquadrando-se, assim, no exercício
sentido do provimento do recurso. Na peça, do poder de polícia atribuído ao Estado,
adotam-se as razões do voto vencido do enquanto atua no âmbito da política de
mencionado Juiz. importação. Conforme ressaltado na ini-
cial, redigida com inegável esmero, a Carta
À folha 125, despachei determinando à Política da República de 1988 é mais explí-
Aisessoria pesquisa sobre a jurisprudência cita para os impostos. A Emenda Constitu-
R.T.J. — 158 355
cional n° 1/69 cogitava da impossibilidade «Ora, a regra de que a taxa não pode
de se tomar como base de cálculo, para ter por base de cálculo ou fato gerador
cobrança de taxas, a que tivesse servido idênticos ao que corresponda ao impos-
para a incidência dos impostos, sugerindo, to, reproduzida nesses termos pelo arti-
assim, uma identidade maior. Já no § 2° do go 77 do Código Tributário Nacional,
artigo 145 alude-se à base de cálculo pró- alcança, sem dúvida alguma, também as
pria dos impostos, afastando-se, portanto, hipóteses em que a base de cálculo da
a alagada igualação. Na espécie dos autos, taxa abrange, além de outros fatores,
o artigo 1° da Lei n° 7.690/88, dando nova aquele que precisamente constitui a base
redação ao artigo 10 da Lei n° 2.145/53, de cálculo do imposto já existente. Para
cuida do pagamento de taxa corresponden- que tenha aplicação a proibição contida
te 1.8% sobre o valor constante da licença, no artigo 77 do Código Tributo Na-
guia de importação, ou documento equiva- cional, não é necessário que as bases de
lente, referindo-se, mais, ao objeto, que cálculo consideradas sejam absoluta-
seria o ressarcimento dos custos incorridos mente idênticas e mera repetição uma da
nos respectivos serviços. Pois bem, tal base outra. Sempre que o critério adotado
de incidência coincide com a do imposto de pelo legislador fiscal para o cálculo da
importação prevista no inciso Ido artigo 20 taxa contenha em si o mesmo critério já
do Código Tributário Nacional — Lei n° utilizado para imposto, estará configu-
5.172, no que preceitua que, quando a alí- rada violação daquela norma geral do
quota seja ad valorem, o preço normal que sistema tributário, ainda que a base de
o produto ou seu similar alcançaria ao tem- cálculo escolhida para a taxa abranja
po da importação, em uma venda em con- ademais outros fatores não considera-
dições de livre concorrência, para entrega dos para o imposto».
no porto ou lugar de entrada do produto no Mais recentemente, a Segunda Turma
país, será a base de cálculo do imposto. Tal fulminou taxa de funcionamento e localiza-
preceito assemelha-se ao do artigo 2° do ção que, considerada cobrança anual, tinha
inciso II do Decreto-Lei n° 37/66, quando como base de cálculo o metro quadrado da
revela como base de cálculo do imposto, área ocupada, ou seja, a mesma do Imposto
em se tratando de aliquota ad valorem, o Predial e Territorial e Urbano, tendo como
preço normal da mercadoria, ou no caso de configurada a infringência ao artigo 18, §
mercadoria vendida em leilão, o preço da 2°, da Constituição Federal e ao artigo 77
arrematação. É inegável que a taxa em co-
do Código Tributário Nacional — Recurso
mento foi prevista tomando de empréstimo
base de cálculo própria do imposto de im- Extraordinário n° 114.245-SP. Outra não
portação, isto é, o valor consignado na li- foi a decisão no Recurso Extraordinário n°
cença, guia de importação ou documento 100.201-SP, relatado pelo Ministro Carlos
equivalente, a refletir o valor mesmo da Madeira. Da mesma forma decidiu-se
mercadoria. É mister frisar que, conforme quando do julgamento do Recurso Extraor-
precedentes mencionados na inicial, dis- dinário n° 92.142-SP, relatado perante o
pensável é que haja absoluta identidade. Pleno pelo Ministro Rafael Mayer, quando
Esta Corte, em composição plenária, ao se teve como inconstitucional taxa de con-
julgar o Recurso Extraordinário n° 66.231- servação de estradas de rodagem do Muni-
SP, em que funcionou como Relator o Mi- cípio de Ibirá — Lei Municipal n° 570/77,
nistro Luiz Gallotti, teve oportunidade de no que se considerou, para mensuração do
concluir que: serviço prestado, área dos imóveis rurais.
356 R.T.J. — 158
lação às dívidas de outra natureza, por- Recda.: Sonia Maria Tavares Fernandes
ventura mais antigas. (Adv.: Carlos Nakamura).
Recurso extraordinário conhecido e Decisão: A Turma conheceu do recurso
provido.» (RTJ 149/648, Rel. Min. Mo- e lhe deu provimento, nos termos do voto
reira Alves) do Relator. Unânime. Ausente, ocasional-
Tendo presentes as razões expostas, e mente, o Sr. Ministro Moreira Alves, Pre-
considerando que o acórdão recorrido di- sidente. Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
verge substancialmente da jurisprudência tro Sydney Sanches.
firmada pelo Supremo Tribunal Federal no
exame do tema em questão, conheço e dou Presidência do Senhor Ministro Moreira
provimento a este recurso extraordinário. Alves. Presentes à Sessão os Senhores Mi-
É o meu voto. nistros Sydney Sanches, Sepúlveda Perten-
ce, Celso de Mello e fintar Gaivão. Subpro-
EXTRATO DA ATA curador-Geral da República, Dr. Miguel
Frauzino Pereira.
RE 190.685 — SP — Rel.: Min. Celso
de Mello. Recte.: Instituto Nacional do Se- Brasfiia, 25 de abril de 1995 — Ricardo
guro Social —INSS (Adv.: Daniel Pulino). Dias Duarte, Secretário.
fez o aresto recorrido, sob a ótica da Súmu- inicial do artigo 114, caput, da atual
la 123 do TST, que nada tem em comum Constituição.
com a espécie sub judice, vez que, os re- A competência da Justiça Trabalhista
corridos apontados não se submetem a um decorre da existência da relação de tra-
regime especial, criado por lei estadual, balho em que se funda a pretensão, ainda
mas, sim, ao regime próprio definido pela que diga esta respeito a vantagens oriun-
CLT. das de leis estaduais aplicáveis a funcio-
Com esses argumentos, requer seja co- nários estatutários, porquanto só à Jus-
nhecido e provido o extraordinário. tiça do Trabalho 6 que caberá julgar da
pertinência, ou não, da postulação des-
É o relatório. sas vantagens com base no contrato de
trabalho, para dar pela procedência, ou
VOTO não da reclamação trabalhista.
Recurso extraodinário conhecido e
O Sr. Ministro Maurício Corrêa: Ale-
provido.» (RTJ 139/960).
ga a recorrente que o acórdão dissentido, ao
repelir a argüição de incompetência ratio- E do voto proferido pelo relator deste
ne materiae da Justiça Estadual para diri- recurso se abstrai:
mir controvérsia acerca de direitos postula- «Ora, é fato incontroverso o de que
dos por servidores regidos pela CLT, vio- os ora recorridos, embora servidores pú-
lou o artigo 114 da Constituição Federal. blicos, são empregados contratados sob
É bem verdade que a jurisprudência des- o regime da Consolidação das Lei do
ta Corte é fume no sentido de reconhecer a Trabalho.
competência da justiça comum para julgar Assim sendo, e tendo em vista que,
as pretensões de servidores, ajuizadas pos- pelo artigo 114 da atual Constituição,
teriormente à Lei Especial que implantou o «Compete à Justiça do Trabalho conci-
Regime Jurídico Único. Todavia, as lides liar e julgar dissídios individuais e cole-
laborais consolidadas em período anterior tivos entre trabalhadores e empregados,
à instituição do regime único são da com- abrangidos os entes de direito público
petência da Justiça do Trabalho, em casos externo e da administração pública dire-
como o da espécie. ta e indireta dos Municípios, do Distrito
Esta Suprema Corte, em analisando hi- Federal, dos Estados e da União», a essa
Justiça especializada, cabe julgar todos
pótese semelhante à sub judice, sob o en-
os dissídios individuais — como suce-
foque do indigitado artigo 114 do Texto
de, no caso — entre empregado e em-
Constitucional, entendeu pela competência
da Justiça do Trabalho, consoante se infere pregador, ainda que este pertença à ad-
ministração pública indireta, como su-
do RE 130.325-SP, relatado pelo eminente
cede com a Universidade de São Paulo.
Ministro Moreira Alves, in verbis:
Essa competência decorre da existência
«Ementa: Execeção de incompetên- da relação de trabalho em que funda a
cia. Servidor Público estadual contrata- pretensão, ainda que diga esta respeito a
do sob o regime da CLT. Postulação, vantagens oriundas de leis estaduais,
com base na relação empregatícia, de aplicáveis a funcionários estatutários,
vantagens atribuídas a funcionários es- porquanto só à Justiça do Trabalho égua
tatutários. Competência da Justiça do caberá julgar da pertinência, ou não, da
Trabalho, em face do disposto na parte postulação dessas vantagens com base
R.T.J. — 158 365
Adm Adicional por tempo de serviço (...) Servidor público estadual. RE 161.311
RTJ 158/311
Pn Agravante (excesso) (...) Pena. HC 70.899 RTJ 158/173
PrCv Agravo de instrumento. Traslado deficiente. Responsabilidade da parte.
Súmula 288 (aplicação). Ag 158.180 (AgRg) RTJ 158/272 — Ag 159.755
(AgRg) RTJ 158/285
PrCv Agravo de instrumento. Traslado deficiente. Tempestividade (prova). Responsa-
bilidade da parte. Súmula 288 (aplicação). Ag 151.485 (AgRg) RTJ 158/252
PrSTF Agravo regimental. Sustentação oral (descabimento). Pauta de julgamento
(désnecessidade). RISTF/80, arts. 83, III, e 131, parágrafo 2°. Ag 158.180
(AgRg) RTJ 158/272
PrPn Alegação tardia (...) Instrução criminal. HC 71.167 RTJ 158/183
Adm Anulação e revogação (...) Ato administrativo. RE 160.811 RTJ 158/287
PrPn Apelação em liberdade (descabimento) (...) Recurso criminal. HC 70.847 RTJ
158/160
Adm Aplicação do direito comum (...) Servidor público estadual. Ag 163.936
(AgRg) RTJ 158/320
Adm Aposentadoria. Aposentadoria rural e urbana. Contagem de tempo de serviço
(termo inicial). RE 148.510 RTJ 158/243
Adm Aposentadoria (...) Servidor público. RMS 21.859 RTJ 158/98
Ct Aposentadoria especial (...) Servidor público. MI 444 (Questão de ordem)
RTJ 158/6
Adm Aposentadoria rural e urbana (...) Aposentadoria. RE 148.510 RTJ 158/243
PrPn Aproveitamento ao co-réu não recorrente (...) Recurso criminal. HC 70.870
RTJ 158/170
PrGr Arquivamento (...) Inquérito policial militar. HC 72.925 RTJ 158/199
Ct Atividades insalubres (...) Servidor público. MI 444 (Questão de ordem) RTJ
158/6
Adm Ato administrativo. Anulação e revogação. Conveniência da administração.
Súmula 473. RE 160.811 RTJ 158/287
Ct Ato de Ministro de Estado (...)Competé'ncia. RMS 21.491 (AgRg) RTJ 158/84
Adm Ato do Ministro da Fazenda por ordem do Presidente da República (...)
Mandado de segurança coletivo. MS 21.969 (Medida liminar) RTJ 158/123
TrPrv Auto-aplicabilidade (...) Beneficio previdenciiírio. RE 162.232 (AgRg) RTJ
158/ 318
PrPn Autoria do crime (incerteza) (...) Pronúncia. HC 70.965 RTJ 158/175
ÍNDICE ALFABÉTICO — Aut-Com
C
PrCv Caráter infringente (...) Embargo de declaração. Ag 152.805 (AgRg-EDc1)
RTJ 158/264 — Ag 153.868 (EDcI-AgRg) RTJ 158/270 — RE 160.860
(EDc1) RTJ 158/303
Ct Cargo público (provimento) (...) Servidor público. ADIn 1.251 (Medida
cautelar) RTJ 158/69
Adm Carreiras jurídicas (...) Ministério Público. ADIn 465 RTJ 158/16
Pn Circunstância qualificadora (...) Sentença criminal. HC 70.980 RTJ
158/177
Ct Coação de membro de Tribunal de Alçada (...) Competência. HC 71.050 RTJ
158/181
Trbt Cobrança (...)ICMS. RE 173.715 RTJ 158/338
PrPn Código de Processo Penal, art. 580 (...)Recurso criminal. HC 71.905 RTJ 158/187
Pn Coisajulgada. Dupla condenação. Nulidade (ocorrência). HC 70.870 RTJ 158/170
PrCv Coisa julgada. Limites objetivos. Matéria infraconstitucional. Recurso ex-
traordinário (descabimento). RE 170.906 RTJ 158/327
Ct Competência. Ação direta de inconstitucionalidade. Lei municipal em face da
Constituição estadual. Reprodução de dispositivo da Constituição Federal. Rol
374 RTJ 158/3
Ct Competência. «Habeas corpus». ST.I. Coação de membro de Tribunal de
Alçada. HC 71.050 RTJ 158/181
TrPrv Competência. Justiça comum. Ação de acidente do trabalho. Benefício aci-
dentário (reajuste). Ag 150.654 (AgRg) RTJ 158/248
VI Com-Cons — ÍNDICE ALFABÉTICO
E
PrCv Embargos de declaração. Omissão inexistente. Caráter infringente. RE
160.860 (Mel) RTJ 158/303
PrCv Embargos de declaração. Pressupostos (inocorrência). Caráter infringente. Ag
152.805 (AgRg-EDc1) RTJ 158/264 —Ag 153.868 (EDcI-AgRg) RTJ 158/270
PrCv Embargos de divergência. Teses jurídicas opostas (inexistência). ERE
160.811 (AgRg) RTJ 158/290
PrCv Erro grosseiro (...) Mandado de segurança. RMS 21.336 (AgRg) RTJ 158n6
PrCv Estatuto da Criança e do Adolescente (...) Recurso extraordinário. Ag
158.180 (AgRg) RTJ 158/272
PrCv Exploração da vegetação nativa da Mata Atlântica (...) Mandado de seguran-
ça. MS 21.274 RTJ 158/72
F
Pn Fixação (...) Pena. HC 70.899 RTJ 158/173
Trbt Fornecimento de alimentação, bebidas e outras mercadorias (...) ICM. RE
160.871 RTJ 158/305
Trbt Fornecimento de alimentação e bebidas em bares e restaurantes (...) ICMS.
RE 173.715 RTJ 158/338
Adm Funcionário público. Teto de vencimentos. Lei estadual (limites de remune-
ração). Vantagens incorporadas por decisão judicial transita em julgado.
ADCT/88, art. 17. Constituição Federal/88, arts. 37, XI, e 39, parágrafo 1°
(ofensa inocorrente). RE 160.860 RTJ 158/293
Adm Funcionário público (demissão) (...) Processo administrativo. MS 21.635 RTJ
158/87
Ct Fundação Legião Brasileira de Assistência (...) Mandado de segurança. MS
21.683 RTJ 158/91
Pn Fundamentação suficiente (...) Acórdão criminal. HC 72.114 RTJ 158/190
PrCv Fundamento constitucional (Preclusão) (...) Recurso extraordinário. Ag
152.837 (AgRg) RTJ 158/268
G
PrPn Governador de Estado. Processo por crime comum. Competência originária
do STJ. Autorização prévia da Assembléia Legislativa (exigência). RE
159.230 RTJ 158/280
X Gra-Ins — ÍNDICE ALFABÉTICO
H
Ct «Habeas corpus» (...) Competência. HC 71.050 RTJ 158/181
PrPn Habeas empas. Questões novas. Supressão de instância. HC 70.734 RTJ
158/155
PrPn Habeas corpus. Substituição de recurso ordinário. HC 70.734 RTJ
158/155
PrPn Instrução criminal Réu preso em outra Comarca. Requisição para audiência
de instrução (falta). Nulidade relativa. Alegação tardia. HC 71.167 RTJ
158/183
PrCv Instrumento de mandato (necessidade) (...) Representação processual. Ag
159.755 (AgRg) RTJ 158/285
Prev Instrumento de mandato (inexigibilidade) (...) Representação processual. RE
167.327 (AgRg) RTJ 158/322 — RE 178.473 (AgRg) RTJ 158/356
Ct Investidura em carreira diversa (...) Servidor público. ADIn 1.030 (Medida
cautelar) RTJ 158/60
TrPrv Irretroatividade (...) Benefício previdenciário. RE 170.539 RTJ 158/325
Ct Isenção constitucional (...) Correção monetária. RE 130.013 RTJ 158/202
Adm bonomia de vencimentos (...) Ministério Público. ADIn 465 RTJ 158/16
J
pitar Juiz-corregedor (oposição) (...) Inquérito policial militar. HC 72.925 RTJ
158/199
PrOr Justiça comum (...) Competência. HC 70.808 RTJ 158/159 — Ag 150.654
(AgRg) RTJ 158/248
Adm Justiça do trabalho (...) Competência RE 191.496 RTJ 158/361
Ct Justiças federal e estadual (...) Competência. HC 70.627 RTJ 158/147
L
PrPn Legitimidade ativa (...) Ação penal privada. RE 173.938 RTJ 158/342
PrCv Legitimidade ativa (...) Mandado de segurança. RMS 21.960 RTJ
158/107
Ct Legitimidade passiva (...) Mandado de segurança MS 21.683 RTJ 158/91
PrCv Lei complementar (falta) (...) Mandado de infanção. MI 444 (Questão de
ordem) RTJ 158/6
Ct Lei complementar (falta) (...) Servidor público. MI 444 (Questão de ordem)
RTJ 158/6
Ct Lei Complementar n° 81/93-SC (suspensão liminar) (...) Servidor público.
ADIn 1.030 (Medida cautelar) RTJ 158/60
Adm Lei Complementar n° 645/89-SP (...) Servidor público estadual. RE 161.311
RTJ 158/311
XII Lei-Man — ÍNDICE ALFABÉTICO
M
Ct Magistrados e funcionários do TRT (...) Vencimentos. ADIn 1.244 (Medida
cautelar) RTJ 158/66
PrCv Mandado de injunção. Impossibilidade jurídica do pedido. Lei complementar
(falta). Direito inexistente. MI 444 (Questão de ordem) RTJ 158/6
ÍNDICE ALFABÉTICO — Man-Nul
N
PrPn Natureza jurídica (...) Sentença de pronúncia HC 70.965 RTJ 158/175
Pn Nulidade (...) Pena. HC 70.899 RTJ 158/173
Pn Nulidade inocorrente (...) Acórdão criminal HC 72.114 RTJ 158/190
prpn Nulidade inocorrente (...) Instrução criminal. HC 70.860 RTJ 158/167
PrPn Nulidade inocorrente (...) Revisão criminal. HC 70.980 RTJ 158/177
Pn Nulidade inocorrente (...) Sentença criminal. HC 70.980 RTJ 158/177
Pn Nulidade (ocorrência) (...) Coisa julgada HC 70.870 RTJ 158/170
XIV Nul-Pre — ÍNDICE ALFABÉTICO
o
Prev Omissão inexistente (...) Embargos de declaração. RE 160.860 (Ene') RTJ
158/303
Ct Ordem cronológica (...)Precatório. RE 161.122 RTJ 158/310 —RE 190.685
RTJ 158/358
P
PrPn Participação de juiz em julgamento de «habeas corpus» (...) Revisão criminal.
HC 70.734 RTJ 158/155
PrSTF Pauta de julgamento (desnecessidade) (...) Agravo regimental. Ag 158.180
(AgRg) RTJ 158/272
Pn Pena. Fixação. Critério trifásico. Agravante (excesso). Nulidade. HC 70.899
RTJ 158/173
Pn Pena. Regime de cumprimento. Progressão (requisitos). HC 72.578 RTJ
158/193
Pn Pena. Unificação de penas. Crime continuado (inocorrência). Reiteração
criminosa (práticas sucessivas). HC 72.805 RTJ 158/196
Trbt PIS. Contribuição para o Programa de Integração Social. Decretos-Leis n°s
2.445 e 2.449/88 (inconstitucionalidade). RE 141.627 RTJ 158/220
TrPrv Piso mínimo (...)Benefício previdenciário. RE 162.232 (AgRg) RTJ 158/318
Ct Plebiscito (...) Município. ADIn 733 RTJ 158/34
Adm Polícia militar. Proventos. Gratificação de representação (extinção posterior).
Direito adquirido. Ag 161.523 (AgRg) RTJ 158/316
O Postos e graduações (...) Vencimentos. RE 135.632 RTJ 158/217
PrCv Postulação de direitos patrimoniais próprios (...) Mandado de segurança.
RMS 21 960 RTJ 158/107
PrCv Prazo (termo inicial) (...) Recurso extraordinário. RE 146.740 (Encl) RTJ
158/224
Ct Precatório. Crédito de natureza alimentícia. Ordem cronológica. Consti-
tuição Federal/88, art. 100. RE 161.122 RTJ 158/310 — RE 190.685 RTJ
158/358
PrCv Preparo (...) Recurso extraordinário. RE 146.740 (EDcI) RTJ 158/224
PrSTF Prequestionamento (...) Recurso extraordinário. Ag 152.214 (EDcl-AgRg)
RTJ 158/262
ÍNDICE ALFABÉTICO — Pre-Rec XV
R
PrCv Recurso (...) Representação processual. Ag 159.755 (AgRg) RTJ 158/285
PrPn Recurso criminal. Apelação em liberdade (descabimento). Maus anteceden-
tes. HC 70.847 RTJ 158/160
PrPn Recurso criminal. Aproveitamento ao co-réu não recorrente. HC 70.870 RTJ
158/170
PrPn Recurso criminal. Decisão favorável (possibilidade de extensão a co-réu).
Código de Processo Penal, art. 580. HC 71.905 RTJ 158/187
PrCv Recurso especial (...) Recurso extraordinário. Ag 152.837 (AgRg) RTJ
158/268
PrCv Recurso extraordinário (...) Mandado de segurança. RMS 21.336 (AgRg)
RTJ 158/76
PrCv Recurso extraordinário. Preparo. Prazo (termo inicial). Deserção (ausência).
RISTF/80, arts. 59, parágrafo 3° e 107. RE 146.740 (EDc1) RTJ 158/224
XVI Rec-Res — ÍNDICE ALFABÉTICO
T
Trbt Taxa de licenciamento de importação. Leis n°s 2.145/53 e 7.690/88 (incons-
titucionalidade). RE 174.044 RTJ 158/352
ÍNDICE ALFABÉTICO — Tem-Ven XIX
U
Ct União Federal (...) Competência legislativa. ADIn 1.047 (Medida liminar)
RTJ 158/63
Pn Unificação de penas (...) Pena. HC 72.805 RTJ 158/196
Adm URP (...) Servidor público. RE 146.749 RTJ 158/228
Ct URV (diferença) (...) Vencimentos. ADIn 1.244 (Medida cautelar) RTJ 158/66