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Revista Trimestral de
Jurisprudência
PRIMEIRA TURMA
Pág.
ACÓRDÃOS.............................................................................................1
ÍNDICE ALFABÉTICO............................................................................I
ÍNDICE NUMÉRICO...........................................................................XXIII
ACÓRDÃOS
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 106 — RO
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade, declarar o prejuízo do pedido formulado quanto ao
4 R.T.J. — 196
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: O Governador do Estado de Rondônia, com funda-
mento no art. 103, V, da Constituição Federal, propõe ação direta de inconstitucionali-
dade dos artigos 72, 73, 77 e 177 da Constituição do Estado de Rondônia, bem como
dos artigos 30 e 34 das Disposições Transitórias da citada Constituição estadual.
As normas impugnadas têm o seguinte teor:
Constituição do Estado de Rondônia:
“Art. 72. O Conselho de Governo é o órgão superior de consulta do Governador
do Estado, sob a sua presidência, e dele participam:
I - o Vice-Governador do Estado;
II - o Presidente da Assembléia Legislativa;
III - o Presidente do Tribunal de Justiça;
IV - o Procurador-Geral de Justiça;
V - o Presidente do Tribunal de Contas;
VI - os Líderes da maioria e da minoria, na Assembléia Legislativa;
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade,
de reputação ilibada, nomeados pelo Governador, sendo:
a) três de sua livre escolha;
b) três indicados pela Assembléia Legislativa.
Art. 73. Compete ao Conselho pronunciar-se sobre questões relevantes susci-
tadas pelo Governo Estadual, incluída a estabilidade das instituições e problemas
emergentes, de grave complexidade e implicações sociais.
Parágrafo único. Lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho
de Governo.
(...)
Art. 77. Lei de iniciativa do Poder Judiciário disciplinará as atribuições,
direitos e deveres dos Escrivães Judiciais, Escrivães Judiciais Substitutos, Oficiais
de Justiça, Avaliadores, Distribuidores, Contadores e Depositários, cuja admissão
se dará por concurso público de títulos e provas.
Parágrafo único. O Tribunal de Justiça, dentro de cento e oitenta dias da
promulgação desta Constituição, enviará projeto de lei nesse sentido.
(...)
R.T.J. — 196 5
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Examino as argüições de inconstituciona-
lidade.
I) Art. 177 da Constituição do Estado de Rondônia:
Desta forma deslindou a controvérsia, no ponto, o ilustre Procurador-Geral da
República, Prof. Geraldo Brindeiro:
“(...)
5. Assim dispõe o art. 177 da Constituição do Estado de Rondônia:
‘Art. 177 - O Estado e os Municípios só poderão declarar de utilidade
pública e desapropriar bens imóveis mediante prévia autorização legislativa.’
6. A toda evidência, tal norma é contrária à regra de competência privativa da
União para legislar sobre desapropriação, prevista no art. 22, II, da Constituição
Federal.
7. A desapropriação por utilidade pública encontra seu fundamento constitu-
cional no art. 5º, XXIV, ‘a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia
indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição’.
R.T.J. — 196 7
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Sr. Presidente, encaminho a divergência no sentido
de declarar a inconstitucionalidade parcial quanto à inclusão do Procurador-Geral de
Justiça e do Presidente do Tribunal de Contas. No mais, mantenho o texto e acompanho
o eminente Ministro Relator.
VOTO
A Sra. Ministra Ellen Gracie: Com a vênia do eminente Ministro Relator, acompanho
a divergência parcial apenas para excluir esses três integrantes do Conselho.
VOTO
O Sr. Ministro Maurício Corrêa: Sr. Presidente, também acompanho a divergência
no ponto e o eminente Ministro Relator em tudo, menos nesta parte.
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sr. Presidente, que mais não fosse, na esperança
de encontrar um dia algum espaço de autonomia dos Estados-Membros reconhecido
pelo Supremo Tribunal Federal, acompanho o eminente Ministro Gilmar Mendes.
12 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Peço vênia aos colegas para, no caso,
manter íntegro o dispositivo.
Não vejo, de um lado, incompatibilidade maior em se ter a participação nesse
Conselho, como é o caso, do Presidente do Tribunal de Justiça, pois este, tal como o
Presidente da Assembléia, preside um Poder, e o Conselho tem como objetivo funcionar
em seu colegiado.
Também não me impressiona a problemática relativa ao envolvimento do Presi-
dente do Tribunal de Contas e do Procurador-Geral de Justiça. Há de se distinguir os
campos relativos às atuações específicas daquele alusivo à atividade a ser desenvolvida
pelo Conselho, que é a de simplesmente apoiar pronunciamento prévio de um órgão
colegiado.
Por outro lado, sem que a Corte se transforme em legislador positivo, mediante a
supressão de alguns incisos, no que prevêem certas pessoas para formar o Conselho, não
vislumbro como se possa alterar a composição do órgão.
EXTRATO DA ATA
ADI 106/RO — Relator: Ministro Carlos Velloso. Relator para o acórdão: Ministro
Gilmar Mendes. Requerente: Governador do Estado de Rondônia (Advogado: Pedro Origa
Neto). Requerida: Assembléia Legislativa do Estado de Rondônia.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, declarou o prejuízo do pedido formulado
quanto ao artigo 30 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constitui-
ção do Estado de Rondônia. Por maioria, julgou parcialmente procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade dos incisos III, IV e V do artigo 72, vencidos, em parte,
o Ministro Relator, que declarava a inconstitucionalidade de todo o dispositivo, e o
Presidente, Ministro Marco Aurélio, que declarava a sua constitucionalidade; do parágra-
fo único do artigo 77; e do artigo 177, todos da Constituição do Estado de Rondônia; e,
também, a inconstitucionalidade do artigo 34 do Ato das Disposições Transitórias da
Constituição do mesmo Estado. Relativamente ao artigo 73, o Tribunal, por maioria,
declarou a sua constitucionalidade, vencido o Relator, e, por unanimidade, também
declarou a constitucionalidade da cabeça do artigo 77, ambos da mesma Constituição
estadual. Redigirá o acórdão o Ministro Gilmar Mendes. Ausentes, justificadamente, os
Ministros Celso de Mello e Ilmar Galvão, e, neste julgamento, o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros Moreira
Alves, Sydney Sanches, Sepúlveda Pertence, Carlos Velloso, Maurício Corrêa, Nelson
Jobim, Ellen Gracie e Gilmar Mendes. Procurador-Geral da República, Dr. Geraldo
Brindeiro.
Brasília, 10 de outubro de 2002 — Luiz Tomimatsu, Coordenador.
R.T.J. — 196 13
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade, decretar a extinção do processo, declarar a prescrição e
condenar a União ao pagamento de honorários profissionais fixados em R$ 5.000,00
(cinco mil reais), tudo nos termos do voto do Relator.
Brasília, 10 de novembro de 2004 — Nelson Jobim, Presidente — Marco Aurélio,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: A Fazenda Nacional propôs execução contra o
Estado de São Paulo, acostando certidão de dívida a revelar, como data da inscrição, o
dia 27 de maio de 1976. O documento consigna o vencimento dos tributos — imposto
de importação e imposto sobre produtos industrializados — em 16 de julho de 1969. À
folha 6-verso, pronunciou-se a Procuradoria da República perante o Juízo Federal,
aludindo à competência desta Corte. A declinação da competência deu-se em 20 de
fevereiro de 1978 (folha 9). O processo foi distribuído ao Ministro Djaci Falcão, que,
após a manifestação do Ministério Público Federal, determinou, em outubro de 1978, a
citação do devedor (folhas 13 e 14).
Aos autos veio a contestação de folhas 33 a 40, mediante a qual se argúi a prescri-
ção da ação em face da passagem de cinco anos contados da inscrição da dívida — o
vencimento do débito fiscal ocorrera em 16 de julho de 1969, havendo sido inscrita a
dívida em 27 de maio de 1976. Do vencimento do débito até a causa interruptiva da
prescrição — a ordem de citação (artigo 219, § 1º, do Código de Processo Civil) —,
teriam transcorrido mais de nove anos. Em passo seguinte, argumenta-se com a incons-
titucionalidade do acréscimo de 20% no débito fiscal, parcela que estaria reservada aos
Procuradores da Fazenda. Alega-se que à Fazenda não assistiria o direito de aumentar o
débito, conforme decidido por esta Corte no julgamento do Recurso Extraordinário n.
79.822, relatado, perante a Primeira Turma, pelo Ministro Aliomar Baleeiro. Aponta-se,
em vista da inexistência de remuneração dos Procuradores da União, a ofensa ao inciso
I do artigo 18 da Constituição Federal pretérita, ante a cobrança de taxa sem o serviço
correspondente. Discorre-se, ainda, sobre a impossibilidade de se classificar tal acréscimo
como taxa, tendo em conta a razão de ser dessa espécie de tributo. No mérito propriamente
dito, articula-se com a imunidade estabelecida na Constituição da República —
alínea a do inciso III do artigo 19 da Carta de 1969. Requer-se a improcedência do
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VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Quanto à competência, tenho-a como
revelada pelo fato de a ação envolver a Fazenda Nacional e o Estado de São Paulo.
Da Prescrição
A certidão de dívida ativa de folha 5 noticia haver ocorrido a inscrição em 27 de
maio de 1976, vencendo o tributo em 16 de julho de 1969. Levando-se em conta a data
do vencimento e a regra do inciso I do artigo 173 do Código Tributário Nacional —
segundo a qual o direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se
após cinco anos contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lança-
mento poderia ter sido efetuado —, tem-se que o termo inicial da prescrição, considerada
a cabeça do artigo 174 — a data da constituição definitiva do tributo —, verificou-se em
1970, ou seja, no exercício imediato àquele em que ocorrera o vencimento. Pois bem, a
determinação de citação deu-se somente em 1978, ou seja, passados oito anos. Daí a
prescrição haver incidido. Ainda que se abandone a regra especial do inciso I do artigo
174 do Código Tributário Nacional, adotando-se a retroação prevista no § 1º do artigo
219 do Código de Processo Civil, constata-se que a execução somente foi ajuizada em
julho de 1976 e, portanto, quando já transcorrido o qüinqüênio.
Concluo pela prescrição e declaro extinto o processo, com o julgamento de mérito.
R.T.J. — 196 15
EXTRATO DA ATA
ACO 261/SP — Relator: Ministro Marco Aurélio. Autora: União (Advogado:
Advogado-Geral da União). Réu: Estado de São Paulo.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, decretou a extinção do processo, declarou
a prescrição e condenou a União ao pagamento de honorários profissionais fixados em
R$ 5.000,00 (cinco mil reais), tudo nos termos do voto do Relator. Falou pelo réu o Dr.
Marcos Ribeiro de Barros, Procurador do Estado. Ausente, justificadamente, a Ministra
Ellen Gracie. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso,
Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr.
Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 10 de novembro de 2004 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, por seu Tribunal Pleno, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por maioria de votos, não conhecer da ação cautelar, nos termos do
voto do Relator, vencido o Ministro Marco Aurélio em relação à preliminar de conheci-
mento.
Brasília, 16 de fevereiro de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Carlos Ayres
Britto, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Trata-se de ação cautelar aparelhada com re-
querimento de medida liminar, tendo por objeto suspender a eficácia da Lei estadual n.
8.033, de 17-12-2003, até que se dê o julgamento definitivo da Ação Direta de Incons-
titucionalidade n. 29.473/2004, proposta perante o Tribunal de Justiça do Estado do
Mato Grosso. Alternativamente, a autora pede que tal suspensão de eficácia permaneça
até o julgamento do pedido de liminar na citada ação direta ou, em último caso, até a
decisão que for proferida nas exceções de suspeição apresentadas nos autos da mesma
ADI n. 29.473, que impugna dispositivos do referido ato normativo estadual.
2. Segundo a inicial, a mencionada Lei n. 8.033/2003 obriga os notários e registra-
dores de Mato Grosso a pagar ao FUNAJURIS (Fundo do Tribunal de Justiça daquele
Estado) a quantia de R$0,10 (dez centavos) relativamente a cada selo de autenticidade
confeccionado e distribuído pela Casa da Moeda do Brasil. Entretanto, esse valor teria
de ser reduzido por força do Contrato n. 30/2004/TJ, celebrado entre aquele Tribunal e
a Casa da Moeda.
3. De acordo com a requerente, esta medida cautelar se faz necessária em decorrên-
cia das suspeições opostas em face de todos os Desembargadores do Tribunal de Justiça
local, para efeito do julgamento da citada ADI n. 29.473/2004, de modo que, agora,
compete a esta excelsa Corte o exame das referidas exceções e, se acaso acolhidas, a
apreciação da própria ação direta.
4. A seu turno, as exceções de suspeição têm como justificativa o fato de que os
Desembargadores daquele Tribunal encaminharam a esta Suprema Corte memoriais e
pareceres jurídicos defendendo a higidez constitucional da mesma Lei n. 8.033/2003, a
qual foi também impugnada por meio da ADI 3.151, de minha relatoria, ajuizada pela
Anoreg/Brasil. Raciocina a excipiente que, assim procedendo, os exceptos demonstra-
ram não possuir a isenção necessária para julgar a ação direta estadual, que versa o
mesmo assunto.
5. Pelo despacho de fl. 302, o Ministro Nelson Jobim, Presidente desta Casa,
determinou a citação dos requeridos — Governador e Assembléia Legislativa do Estado
de Mato Grosso —, deixando para depois o exame do pedido de liminar.
6. Quanto aos demandados, defenderam-se eles com alegação de inépcia da peti-
ção inicial, bem como de inocorrência dos pressupostos autorizadores do manejo da
ação cautelar (fls. 450/457 e 462/476).
R.T.J. — 196 17
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): A título de voto, tenho como necessário
esclarecer que existem duas representações de inconstitucionalidade na esfera estadual
sobre o assunto, hoje confiadas ao mesmo Relator, por dependência. Na primeira delas —
15.275/2004 —, o pedido de liminar foi indeferido (fls. 515/520). Após esse indeferimento
é que a acionante houve por bem ajuizar a presente medida nesta Suprema Corte. Porém,
aqui já existe, conforme visto, a ADI 3.151. Ação que tramita sob o impulso do art. 12 da
Lei n. 9.868/99; sem medida cautelar, portanto.
11. Feito este esclarecimento, deparo-me com duas razões, autônomas, para não
conhecer da presente ação. A primeira vincula-se aos termos em que formulado o pedido,
ou seja, medida cautelar em exceção de suspeição. Pois importante é anotar que se trata
de exceções individuais, ainda não julgadas. E, de acordo com o último despacho, no
Tribunal de Justiça, a maioria dos Desembargadores repeliu a pecha que lhes endereçou
a excipiente, mas os respectivos autos ainda não foram remetidos a esta colenda Corte,
para análise desse específico incidente. Portanto, a rigor, ainda não foi estabelecida a
competência do Supremo Tribunal Federal para apreciar qualquer outra matéria ligada,
direta ou indiretamente, à questão de fundo, como é o caso deste pedido de suspensão da
eficácia da Lei estadual n. 8.033/2003. Tal competência somente será firmada se — e
quando — esta Suprema Corte acolher as referidas exceções. Confira-se, a propósito, o
acórdão proferido no MS 21.306, Relator Ministro Carlos Velloso, de cuja ementa realço
a seguinte passagem:
“No caso de ter sido oposta exceção de suspeição dos Juízes do Tribunal
local, reconhecendo a maioria dos membros do Tribunal a suspeição, firma-se a
competência do STF, na forma do art. 102, I, n, da Constituição. Todavia, se a
exceção de suspeição é recusada, ao STF incumbe julgar, originariamente, a exce-
ção de suspeição. Acolhendo o Supremo Tribunal a referida exceção de suspeição,
então estará configurada a competência originária da Corte Suprema para julgar o
mandado de segurança. Precedente da Corte: AO 146-3-AgR/RJ, Rel. Min.
Pertence, 25-2-92.”
12. A segunda razão para o não-conhecimento desta medida deflui da constatação
de que ela, na verdade, é ancilar da mencionada ação direta de inconstitucionalidade e
utiliza as exceções de suspeição como ponte para alcançar esse objetivo mais elevado.
Ou seja, um instituto do processo subjetivo a serviço de um processo objetivo.
13. Nesse contexto, bem oportunas me parecem as considerações do ínclito
Procurador-Geral da República, vocalizadas nos seguintes termos (fls. 699/700):
“Antes mesmo do exame do pedido de cautelar, V. Exa., em percuciente
manifestação – fls. 693-695 –, antecipadamente abriu vista dos autos à Procura-
doria-Geral da República.
18 R.T.J. — 196
Nessa esteira, não se pode perder o foco do tema central, qual seja neste
primeiro instante, o próprio cabimento da medida cautelar em análise.
Sob tal ótica, como premissa do raciocínio que se seguirá, fique, desde logo,
assentada a natureza amplamente acessória do procedimento cautelar, sempre ten-
dente a servir de suporte à causa principal, via de regra, de cognição exauriente.
Assim, a viabilidade da ação cautelar está atrelada, umbilicalmente, à
pertinência da demanda ordinária. No caso concreto, a presente cautelar pretende
dar guarida às exceções de suspeição opostas junto ao Tribunal de Justiça do Mato
Grosso.
Acontece, contudo, que tais exceções se dão, ao arrepio de sua intrínseca
natureza, no bojo de um processo de controle concentrado de constitucionalidade.
Esse hábitat é completamente estranho aos incidentes típicos do processo civil
ordinário. Não vicejam nesse campo, árido a expedientes desse jaez. Isso tem boa
explicação na perspectiva ontológica do controle de constitucionalidade, na sua
acepção abstrata, que resulta na dicção, sempre recorrente na doutrina e jurispru-
dência, de que, apesar de ser exercido por meio de uma ação, não ostenta uma
pretensão resistida, pelo que também se deflui não haver o revolvimento de inte-
resses concretos, fáticos, e ainda, não existir partes em lide.
A justificação do controle abstrato de normas cinge-se a um processo de
fiscalização da supremacia da ordem constitucional, prática que, levada aos instru-
mentos processuais aplicáveis à ação direta, dá-nos a notícia de que, como leciona
Clèmerson Merlin Clève, “(…)a argüição de suspeição revela-se incabível no âmbito
do processo objetivo de controle normativo abstrato de constituticionalidade”.
Em última análise, portanto, as exceções de suspeição são expedientes que, a
toda evidência, não frutificarão. Sem respaldo também se mostra, na mesma medida,
a pretensão cautelar ora deduzida, pois, como estabelecido acima, é acessória à
ação de cognição exauriente a que presta suporte.
O pensamento que ora deduzo é exatamente o mesmo que desenvolvi na
manifestação ofertada na AO 991, da relatoria do Eminente Ministro Carlos
Velloso. Tais considerações, note-se, foram encampadas naquela esfera, proferindo
Sua Excelência despacho que refutou a competência do Supremo Tribunal Federal
para examinar ação direta de inconstitucionalidade ajuizada junto ao Tribunal de
Justiça do Mato Grosso do Sul, ascendida à Corte por suposta suspeição e impedi-
mento dos desembargadores, dando como ilegítimos tais obstáculos em face justa-
mente da natureza específica do controle concreto de constitucionalidade – DJ de
24/10/2003.”
14. Merece acolhida esse bem lavrado parecer do Ministério Público Federal,
quando não bastasse o primeiro fundamento deste voto.
15. Ante o exposto, não conheço da presente ação cautelar e condeno a requerente
a pagar aos requeridos honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) sobre
o valor da causa, tendo em vista que houve apresentação de defesa.
16. É como voto.
R.T.J. — 196 19
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau: Senhor Presidente, em princípio vou acompanhar o
Ministro Relator, mas gostaria de indagar o seguinte: ainda que eu já possa pressupor
qual será o resultado da suspeição, quando apreciada — porque já há um entendimento
pacífico da Corte —, a verdade é que, pelo que entendi, foi recusada a suspeição, mas o
processo ficou parado. É isso?
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Ainda não veio.
O Sr. Ministro Eros Grau: O prazo era de dez dias para que viesse.
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Mas não chegou. Aliás, eles rejeita-
ram a suspeição; cada um a rejeitou. O fato é que o Pleno do Tribunal de Justiça ainda
não remeteu os autos a esta Corte. É isso que interessa, não é?
O Sr. Ministro Eros Grau: Parece-me — estou levantando uma questão de ordem
agora — que, conforme o artigo 313 do Código de Processo Civil, em caso contrário, em
que não haja o reconhecimento, os autos deveriam ser enviados para cá.
Vou acompanhar o voto do eminente Ministro Relator, mas vou sugerir que Sua
Excelência tome uma providência com relação a essa afronta ao artigo 313 do CPC.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Ministro Relator, o pedido da ação
cautelar é que se conceda a suspensão liminar da lei ordinária, que seria outorgada
dentro dos autos da ADI, aqui ou lá. Agora, está-se pedindo isso na ação cautelar em
relação ao problema da suspeição.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, o objeto da cautelar é único, e ela
se mostra com eficácia substitutiva quanto a pedido que poderia ser veiculado no pró-
prio processo subjetivo. Articula-se, a meu ver até com certa incongruência, a suspeição
dos integrantes do Tribunal de Justiça quando lá foram ajuizadas, pelo próprio autor da
cautelar, as ações diretas. Agora — eu ponderaria, e meu voto será nesse sentido —, creio
que cumpre, no caso, declinar da competência para que o Tribunal de Justiça julgue a
cautelar como entender de direito, até para declarar o autor carecedor da ação.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Esse pedido foi objeto da ação?
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Nesse caso, existe uma ação dentro do Supremo
Tribunal Federal.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Sim, mas não se pede; aí é outra coisa também.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Já decidimos, depois de uma longa discussão
sobre o cabimento da ADI estadual à luz de normas de reprodução — normas da Consti-
tuição estadual, que reproduzem necessariamente normas da Constituição Federal (Rcl
383, Moreira Alves, RTJ 144/404). A maioria a entendeu cabível, contra o meu voto.
Mas, depois, o Tribunal decidiu que a ADI federal — digamos assim —, proposta perante
o Supremo Tribunal, com base em parâmetro da Constituição Federal, suspende a
estadual, fundada em normas locais de reprodução compulsória (Rcl 425, Néri, DJ de
22-10-93, ADI-MC 2.361, 11-10-01, Maurício, DJ de 1º-8-2003).
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Ministro Marco Aurélio, uma dúvida: o
pedido não é alternativo, porque todos eles pleiteiam um efeito suspensivo à lei ordinária.
O tempo do pedido é que se distingue para até o julgamento definitivo da ação direta do
20 R.T.J. — 196
Mato Grosso — nós substituindo o Mato Grosso, claro —, ou até o julgamento do pedido
da liminar na ADI do Mato Grosso, ou, ainda, até o julgamento da suspeição lá no Mato
Grosso. Ou seja, em todas as hipóteses, o pedido que temos de decidir é o que se fez lá.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Se, por acaso, estiver havendo, quanto à apreciação
desta ou daquela matéria, usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal, que
se venha com a reclamação. Até dialogava com o Ministro Gilmar Mendes sobre estar-
mos acionando o artigo 12 da Lei n. 9.868/99. Meu receio é que agora se venha com mais
papéis, ou seja, com a formalização de ações, com a criação de outros processos para se
alcançar a medida acauteladora, quando o mais fácil seria peticionar no próprio processo,
em curso no Supremo Tribunal Federal ou onde estiver, já que a competência para a
cautelar é definida pelo juízo competente para a ação principal.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Como já lembrado pelo Ministro Sepúlveda Pertence,
o entendimento hoje dominante no Tribunal é no sentido de que, havendo essas ações
paralelas perante o Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal, ocorrerá a suspen-
são do processo no âmbito estadual; logo, não haveria sequer objeto. Talvez fosse um
julgamento da cautelar na ADI, no âmbito do Supremo Tribunal Federal.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Esta, não tem pedido de cautelar no Tribunal
de segundo grau.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Tem pedido de cautelar e foi convertida no artigo 12.
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Senhor Presidente, não conheço da ação.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, o Tribunal deu-se por competente.
Então, julgo o autor carecedor da ação proposta.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Então, Vossa Excelência não conhece
da ação.
EXTRATO DA ATA
AC 349/MT — Relator: Ministro Carlos Britto. Requerente: Associação dos
Notários e Registradores do Estado de Mato Grosso – ANOREG/MT (Advogados:
Lafayette Garcia Novaes Sobrinho e outro). Requeridos: Governador do Estado de
Mato Grosso (Advogado: PGE/MT – Alexandre Apolonio Callejas) e Assembléia
Legislativa do Estado de Mato Grosso (Advogado: Alexandre de Sandro Nery Ferreira).
Decisão: O Tribunal, por maioria, não conheceu da ação cautelar, nos termos do
voto do Relator, vencido o Ministro Marco Aurélio em relação à preliminar de conheci-
mento. Falou pela requerente o Dr. Lafayette Garcia Novaes Sobrinho. Presidiu o julga-
mento o Ministro Nelson Jobim.
R.T.J. — 196 21
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por maioria de votos, resolver a questão de ordem no sentido da compe-
tência do Supremo Tribunal Federal, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 4 de agosto de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Sepúlveda Pertence,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Cuida-se de ação proposta pelo Distrito Federal
contra a União, com o objetivo de obter o ressarcimento de remunerações e encargos
sociais pagos pelo autor a servidora da Câmara Legislativa do Distrito Federal, no período
em que esteve cedida ao Ministério dos Transportes, para o exercício de cargo em
comissão.
O Ministério Público Federal — parecer do il. Subprocurador-Geral Wallace Bastos,
aprovado pelo então Procurador-Geral da República — opinou pelo não-seguimento da
ação, por incompetência originária do Supremo Tribunal.
Extrato do parecer (fls. 194/195):
“(...) a jurisprudência pacífica dessa Colenda Corte está assentada no sentido
de que a hipótese de competência constitucional do STF, prevista na alínea f do
inciso I do art. 102 da Carta da República está restrita a casos excepcionais, em que
estejam em discussão os princípios informativos do pacto federativo, não incidindo,
portanto, naquelas situações em que o objeto da demanda seja de cunho exclusiva-
mente patrimonial, como ocorre na espécie dos autos.
22 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): A jurisprudência invocada no parecer
da Procuradoria-Geral é fruto do que já chamei de audaciosa redução teleológica na
inteligência da alínea f do art. 102, III, da Constituição, de modo a adstringir a sua
competência originária para causas cíveis em que entidades da Administração indireta
federal, estadual ou distrital contendam entre si ou com entidade política da Federação
diversa daquela a cuja estrutura se integrem àquelas nas quais, pelo objeto da ação ou a
natureza da questão envolvida, se reconheça “conflito federativo”.
Todos os precedentes que lastrearam dita orientação pretoriana são atinentes a
processos em que partes uma ou mais entidades da Administração indireta: confiram-se
tanto os casos em que — considerado o conteúdo da lide — se concluiu pela incompe-
tência do Tribunal (v.g., sob a Constituição vigente: ACO 396-QO, 28-3-90, RTJ 132/
109; ACO 417, 18-11-90, Pertence, RTJ 133/1059; ACO 359-QO, 4-8-93, Celso, RTJ 152/
366; Pet 1.286-AgR, 28-5-97, Ilmar, DJ de 29-5-98; ACO 509-AgR, 3-6-97, Velloso, RTJ
179/32; ACO 573-QO, Ilmar, RTJ 172/354; ACO 519-QO, 2-9-99, Néri, DJ de 28-4-00),
quanto aqueles outros nos quais — segundo o mesmo critério de ponderação das implica-
ções federativas do conflito —, o Supremo se declarou competente (v.g., ACO 477-QO, 18-
10-95, Moreira, RTJ 162/437 — domínio de terras devolutas disputado entre autarquia
federal e Estado-Membro; ACO 593-QO, 7-6-01, Néri, RTJ 182/420 — relativa a apro-
veitamento de potencial hidráulico; ACO 515-QO, 4-9-02, Ellen, RTJ 183/8 — atinente
a extensão da imunidade tributária recíproca à autarquia federal; ACO 730, 22-9-04,
Joaquim, DJ de 1º-10-04 — MS contra o Banco Central, a respeito do poder de CPI
estadual para requisitar quebra de sigilo bancário).
Ao contrário, quando o conflito se trava entre duas entidades políticas da Federa-
ção — União, Estado-membro e Distrito Federal —, o Tribunal tem invariavelmente
reconhecido a sua competência originária, independentemente da maior ou menor
relevância federativa do objeto ou das questões envolvidas na lide.
Assim, na ACO 447-QO, para rejeitar a preliminar de incompetência suscitada pela
PGR, o Tribunal, por votação unânime, acolheu o voto do Relator, em. Ministro Octavio
Galloti, para assentar, conforme a ementa — DJ de 14-5-93 e JSTF, Lex 177/5:
“Competência originária do Supremo Tribunal, anteriormente recusada por
não se caracterizar conflito federativo, em ação movida por empresa pública federal
(EBTU), contra o Distrito Federal.
Solução que não mais subsiste quando, liquidada a empresa, passa a União a
figurar formalmente como ré na relação processual (art. 102, I, f, da Constituição),
caso em que se impõe o reconhecimento da competência desta Corte.”
No voto condutor, frisou o Ministro Gallotti:
“O temperamento instituído pelo Tribunal em relação aos entes da adminis-
tração indireta, segundo a natureza da causa, não encontra lugar, em meu entender,
quando se passe a tratar de ação em que sejam formalmente partes, num pólo, a
União Federal e, no outro, algum Estado da Federação ou o Distrito Federal.
24 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Britto: Sr. Presidente, com a devida vênia do Ministro Relator,
acompanho a divergência apontada pelo Ministro Marco Aurélio.
EXTRATO DA ATA
ACO 555-QO/DF — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Autor: Distrito Federal
(Advogada: PGDF – Maria Zuleika de Oliveira Rocha). Ré: União (Advogado: Advogado-
Geral da União).
Decisão: O Tribunal, por maioria, resolveu a questão de ordem no sentido da
competência do Supremo Tribunal Federal, nos termos do voto do Relator, vencidos os
Ministros Marco Aurélio e Carlos Britto. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso
de Mello e Carlos Velloso. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joa-
quim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro
Gurgel Santos.
Brasília, 4 de agosto de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por maioria de votos, decidir a questão de ordem no sentido da competên-
cia originária do Supremo Tribunal Federal, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 4 de agosto de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Sepúlveda Pertence,
Relator.
26 R.T.J. — 196
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Cuida-se de ação civil pública ajuizada pelo
Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais — entidade autárquica federal, o
Sindicato dos Médicos de Minas Gerais e a Associação Médica de Minas Gerais, com
pedido de tutela antecipada, no Juízo Federal de primeira instância daquela unidade da
Federação, com o objetivo de obter a nulidade do Decreto 42.178, de 20 de dezembro de
2001, DOE de 21-12-2001, pelo qual o Governador do Estado de Minas Gerais credenciou
a Faculdade de Medicina de Caratinga, mantida pela Fundação Educacional de Caratinga,
e autorizou o funcionamento do respectivo Curso de Medicina.
Funda-se o pedido na ilegalidade e na inconstitucionalidade do decreto estadual,
por afronta à Lei 9.394/96 (Lei de ‘Diretrizes e Bases da Educação Nacional’) e aos
artigos 22, XXIV, e 24, IX — regras que determinam a competência privativa da União
para estabelecer as diretrizes e bases da educação nacional e para legislar concorrente-
mente sobre educação — bem como ao artigo 211, todos da Constituição Federal.
O Juiz Federal da 21ª Vara de Minas Gerais, invocando o artigo 102, I, f, da Consti-
tuição Federal, declinou da competência para o Supremo Tribunal Federal (fls. 621/626).
Extrato da decisão de primeiro grau:
“(...) No caso em pauta, em face da suspensão cautelar da eficácia do art. 58,
caput e seus parágrafos (com exceção do § 3º), da Lei 9.649/98, na decisão profe-
rida na ADI 1.717/DF pelo Supremo Tribunal Federal, as entidades fiscalizadoras
de profissões, entre elas o Conselho Regional de Medicina, retornaram a condição
de autarquias federais, dotadas de personalidade jurídica de direito público, inte-
grantes, portanto, da administração indireta.
Consoante se percebe, são conflitantes os interesses da autarquia federal de
fiscalização do exercício profissional (CRM) e o interesse do Estado-Membro que
credenciou e autorizou o funcionamento do Curso de Medicina, a despeito de se
tratar de instituição de ensino superior mantida pela iniciativa privada e, nestas
condições, apto a desencadear um possível desequilíbrio no pacto federativo tendo
em vista as normas encartadas na Lei Fundamental acerca da repartição de compe-
tência entre a União, Estados e o Distrito Federal para a organização de seus siste-
mas de ensino e ainda a competência privativa da União para legislar sobre diretri-
zes e bases da educação nacional.
Não desconheço que a competência prevista no art. 102, I, f, da Constituição
restringe-se, segundo iterativos julgados da Suprema Corte, às hipóteses de litígios
cuja potencialidade ofensiva revele-se apta a ofender o pacto federativo.
Conquanto reconheça que a autarquia em questão, tenha sede e estrutura
regional de representação no território estadual respectivo, na hipótese dos autos,
todavia o tema em questão (organização dos respectivos sistemas de ensino) poderá
deflagrar um possível desequilíbrio no pacto federativo, tendo em vista o disposto
no art. 81 e 82 e respectivos parágrafos, ambos do Ato das Disposições Transitórias
do Estado de Minas Gerais nos quais – não é demasiado recordar – o Estado-
Membro sustenta a sua competência para credenciar e autorizar o funcionamento do
Curso de Medicina ao fundamento de que a Fundação mantenedora do estabeleci-
mento educacional integra o Sistema Estadual de Ensino, a despeito de se tratar de
instituição de ensino superior mantida pela iniciativa privada”.
R.T.J. — 196 27
Após invocar precedente do STF (ACO-QO 593, Néri da Silveira), no qual se deci-
diu pela competência deste Tribunal para “julgar demanda que comprometa o equilí-
brio federativo e ainda disponha a respeito de competências no âmbito federativo”,
continua o magistrado:
“No caso sob apreciação, a competência da Suprema Corte para conhecer e
julgar a questão se revela ainda mais evidente quando se verifica que os arts. 81 e
82, ambos do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição
do Estado de Minas Gerais, estão sendo alvo de controle concentrado de
constitucionalidade mediante a propositura da ADI 2.501-5, Rel. o Sr. Ministro
Moreira Alves, tendo o Tribunal conhecido parcialmente da ação relativamente
aos parágrafos primeiro e segundo do art. 81 e ao artigo 82, com exceção do
parágrafo terceiro, mas nesta parte, indeferido a medida cautelar, para suspender-
lhes a eficácia.
Diante deste quadro, o pano de fundo da presente ação — notadamente a
alegada impossibilidade de a instituição de ensino superior mantida pela iniciativa
privada permanecer sob a supervisão pedagógica do Conselho Estadual de Educação
(art. 82, parágrafo primeiro, inciso II, do Ato das Disposições Constitucionais Tran-
sitórias da Constituição do Estado de Minas Gerais — continua pendente de apre-
ciação pela Suprema Corte a recomendar o julgamento simultâneo e decisão uni-
forme dos feitos”.
A Procuradoria-Geral da República, em parecer do eminente Procurador-Geral
Cláudio Fonteles, opina pela devolução dos autos ao Juízo de origem, competente, no
seu entender, para a causa.
Lê-se no parecer (fls. 642/648):
“Manifestando-se acerca do alcance da norma prevista o artigo 102, inciso I,
alínea f, da Constituição Federal, este Excelso Pretório “tem enfatizado o seu
caráter de absoluta excepcionalidade, restringindo a sua incidência às hipóteses
de litígios cuja potencialidade ofensiva revele-se apta a vulnerar os valores que
informam o princípio fundamental que rege, em nosso ordenamento jurídico, o
pacto da Federação. Ausente qualquer situação que introduza a instabilidade no
equilíbrio federativo ou que ocasione a ruptura da harmonia que deve prevalecer
nas relações entre as entidades integrantes do Estado Federal, deixa de incidir, ante
a inocorrência dos seus pressupostos de atuação, a norma de competência prevista
no art. 102, I, f, da Constituição”. (STF – Tribunal Pleno – ACO 359 QO/SP.
Ministro-Relator: Celso de Mello, D.J. de 11.03.1994, p. 4110).
(...)
Depreende-se da análise dos autos que o âmago da discussão em apreço
circunscreve-se a possível usurpação de competência da União para “autorizar,
reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das ins-
tituições de educação superior”, criadas e mantidas pela iniciativa privada, conso-
ante preceituam os artigos 9º e 16, da Lei Federal n. 9394/96.
A despeito da regra jurídica supracitada, releva ressaltar que, eventual
usurpação da competência da União, como no presente caso, não tem o condão de
28 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Não têm pertinência à espécie os
precedentes recordados no parecer da Procuradoria-Geral da República, nos quais o
Tribunal se declarou incompetente.
Assim, v.g., na ACO 417, Pertence, cuidava-se de mera ação de cobrança de contri-
buições previdenciárias movida pelo Iapas contra Estado-Membro; na ACO 597, Celso,
instituição financeira de economia mista questionava “a validade jurídica de opera-
ções de índole financeira e de conteúdo negocial e obrigacional”.
Para temas como esses, de cunho meramente patrimonial, é que entendo sustentável
a “redução teleológica” a que procedeu o Tribunal na dicção literal do art. 102, I, f, da
Constituição.
Ao contrário, não há como negar que é desta Corte a competência originária para
conhecer de causa em que pessoas jurídicas relacionadas naquele inciso litigam acerca
da divisão constitucional de competência entre a União e os Estados-Membros.
Nesse sentido, por exemplo, a afirmação da competência originária do Supremo na
ACO 593, 7-6-01, Relator o em. Ministro Néri da Silveira, que dizia “com as compe-
tências da União Federal e dos Estados, acerca do aproveitamento dos potenciais hidráu-
licos e da realização de obras atingindo rios de curso interestadual e ainda a respeito
30 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
ACO 684-QO/MG — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Autores: Conselho
Regional de Medicina de Minas Gerais e outro (Advogados: Paulo Neves de Carvalho e
outro, Silmara Nogueira Vidal e outro). Réu: Estado de Minas Gerais (Advogado: PGE/
MG – Roney Luiz Torres Alves da Silva). Litisconsorte Passivo: Fundação Educacional de
Caratinga – FUNEC (Advogado: Thales Rezende Coelho Alves).
Decisão: O Tribunal, por maioria, decidiu a questão de ordem no sentido da
competência originária do Supremo Tribunal Federal, nos termos do voto do Relator,
vencidos os Ministros Marco Aurélio e Carlos Britto. Ausentes, justificadamente, os
Ministros Celso de Mello e Carlos Velloso. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson
Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joa-
quim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro
Gurgel Santos.
Brasília, 4 de agosto de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
R.T.J. — 196 31
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
conhecer do agravo regimental na ação cautelar, mas lhe negar provimento, nos termos
do voto do Relator.
Brasília, 19 de abril de 2005 — Sepúlveda Pertence, Presidente — Carlos Ayres
Britto, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Trata-se de agravo regimental contra decisão
que indeferiu o requerimento de liminar, feito em ação cautelar; esta ajuizada com o
objetivo de imprimir efeito suspensivo ao RE 429.167, interposto pelo Deputado
estadual rondoniano Marcos Antônio Donadon.
2. Começo por esclarecer que o referido parlamentar responde a uma ação penal no
Tribunal de Justiça, por crimes contra a Administração Pública estadual, que ele teria
praticado quando exercia o cargo de Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de
Rondônia. Crimes previstos nos artigos 288 e 312 do Código Penal (quadrilha ou bando
e peculato).
32 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Atesto, inicialmente, que a decisão
agravada foi proferida em 30-3-2005, quando a urgência do pedido se media pela imi-
nência do interrogatório do requerente, marcado para o dia seguinte. Como o interroga-
tório já foi realizado, a inquietação do agravante volta-se para a audiência destinada à
oitiva das testemunhas de acusação, designada para o dia 27-4-2005.
14. Feito esse esclarecimento, transcrevo a parte nuclear da decisão agravada, in
verbis (fl. 107):
“11. Resta a aparência do bom direito, a ser extraída da dicção do art. 53, § 3º,
da Carta de Outubro, que tem o seguinte teor:
“Art. 53 (...)
§ 3º Recebida a denúncia contra Senador ou Deputado, por crime ocor-
rido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa
respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo
voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o anda-
mento da ação.”
12. Ora, não me cabe fazer nenhum prejulgamento de mérito, neste passo.
Mas a primeira leitura que se faz do texto acima transcrito traz a idéia de que a
diplomação, no caso, é aquela que deu origem ao mandato atual do parlamentar,
numa relação de causa e conseqüência. Mandatos anteriores resultaram de
diplomações que já exauriram seus efeitos. Assim, fica difícil, à primeira vista,
projetar a imunidade processual de uma investidura para outra, transitando-se no
tempo sem respeitar os marcos fixados por duas manifestações distintas da vontade
popular. Afinal, um mandato não é continuação do outro.
13. Por isso é que a tese do recorrente merece maior reflexão, a ser feita
oportunamente nos autos do recurso extraordinário, se ultrapassada a fase do
conhecimento.
14. Não é caso, portanto, de liminar. É caso, sim, de dar-se vista ao Ministério
Público Federal, seja porque lá se encontram os autos principais, seja porque o
requerido, aqui, é o Ministério Público Estadual.”
15. Devo informar aos eminentes Pares que, neste ínterim, a douta Procuradoria-
Geral da República exarou parecer sobre a matéria, manifestando-se “pelo conhecimento
em parte do recurso e, nesta, pelo seu improvimento”.
16. Em face deste quadro, seria mais prático realizar, primeiramente, o exame do
apelo extremo, que poderia implicar o prejuízo deste agravo e, por extensão, da própria
cautelar, por perda de objeto. Mas o julgamento daquele recurso depende de pauta e de
outras formalidades que certamente não se cumprirão até o dia 27-4-2005. Então, para
não frustrar a expectativa da parte, trago a decisão combatida à elevada apreciação da
Turma. E desde já confirmo o meu entendimento de que não se faz presente um dos
requisitos necessários ao deferimento da cautelar, qual seja, o fumus boni iuris.
34 R.T.J. — 196
17. Bem ao contrário, os precedentes desta Casa de Justiça consagram tese jurídica
em colisão com a defendida pela parte acionante. Refiro-me aos julgamentos que tinham
como objeto a EC 35/2001, todos no sentido da aplicabilidade imediata das novas
regras, pelo seu cunho processual.
18. Neste passo, cabe citar, entre outras, a decisão proferida pelo Relator do Inquérito
1.637, Ministro Celso de Melo, da qual extraio o seguinte trecho (que passo a acolher no
seu exclusivo aspecto de Direito Processual):
“Torna-se relevante observar, neste ponto — considerado o princípio da
incidência imediata das normas constitucionais (Pontes de Miranda, Comentários
à Constituição de 1967 com a Emenda n. 1 de 1969, tomo VI/385 e 392, 2ª ed./2ª
tir., 1974, RT) —, que estas, salvo disposição em sentido contrário, alcançam,
desde logo, situações em curso (RTJ 143/306-307, Rel. Min. Celso de Mello), o
que legitima a pronta aplicabilidade da EC n. 35/2001, inclusive no que se refere
à desnecessidade da solicitação, por parte do Supremo Tribunal Federal, de prévia
licença, ainda que se cuide de fatos delituosos ocorridos anteriormente à promul-
gação da referida emenda constitucional, pois, conforme tem salientado a jurispru-
dência desta Suprema Corte, a aplicação de qualquer nova regra de direito consti-
tucional positivo rege-se pelo postulado da imediatidade eficacial.”
19. Disse, mais, Sua Excelência, em passagem que se identifica com o presente
caso, in verbis:
“A EC n. 35/2001, ao introduzir modificações no art. 53 da Carta da República,
suprimiu, para efeito de prosseguimento da persecutio criminis, a necessidade de
licença parlamentar, distinguindo, ainda, entre delitos ocorridos antes e após a
diplomação, para admitir, somente quanto a estes últimos, a possibilidade de sus-
pensão do curso da ação penal (CF, art. 53, §§ 3º a 5º).”
20. Pelo exposto, voto pelo desprovimento do agravo regimental.
EXTRATO DA ATA
AC 700-AgR/RO — Relator: Ministro Carlos Britto. Agravante: Marcos Antônio
Donadon (Advogados: Bruno Rodrigues e outro). Agravado: Ministério Público do
Estado de Rondônia.
Decisão: A Turma conheceu do agravo regimental na ação cautelar, mas lhe negou
provimento, nos termos do voto do Relator. Unânime. Não participou deste julgamento
o Ministro Marco Aurélio. Ausente, justificadamente, o Ministro Eros Grau.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso e Carlos Britto. Ausente, justificadamente, o Ministro Eros Grau.
Subprocurador-Geral da República, Dr. Eitel Santiago de Brito Pereira.
Brasília, 19 de abril de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
R.T.J. — 196 35
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, conceder o pedido de extensão na extradição,
restrita aos crimes de fraude comercial, falsificação de documentos e de falsificação de
documentos de identidade, tudo nos termos do Relator.
Brasília, 31 de agosto de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Sepúlveda Pertence,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Em setembro de 2003, o Governo da Suíça,
fundado em ordem de prisão preventiva emitida pelo Juizado de Instrução Criminal,
Seção III, de Bern-Mittelland, datada de 19-8-2003, requereu a extradição de Thomas
Remmele para responder pelos crimes de desfalque (Código Penal suíço, artigo 138,
cifra I), fraude comercial (Código Penal suíço, art. 146, parágrafos 1, 2 e 3), falsificação
de documentos (Código Penal suíço, art. 251), falsificação de documento de identidade
(Código Penal suíço, art. 252) e infração contra as leis de trânsito por excesso de veloci-
dade (art. 27, parágrafo 1, e art. 90, cifra 2 SVG).
O pedido de extradição, julgado em 31-3-2004, foi deferido em parte, apenas no
tocante aos delitos de fraude comercial (art. 146 do Código Penal suíço), falsificação de
documentos (art. 251 do Código Penal suíço) e falsificação de documento de identidade
(art. 252 do Código Penal suíço).
Quanto às demais acusações — a de desfalque (art. 138, I, do Código Penal suíço)
e a de infração contra as leis de trânsito (artigo 90 do Código de Trânsito suíço) — a
extradição foi indeferida por falta de tipicidade penal no direito brasileiro.
36 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Colho do parecer do em. Procurador-
Geral da República:
“Ab initio, cumpre apontar que a jurisprudência do e. STF admite a extensão
da extradição de modo a abranger fatos anteriores ao pedido extradicional deferido.
Vale citar:
Despacho: “Decisão. Pedido de extensão de extradição - Interrogatório.
1. O Governo da Itália formaliza pedido de extensão da Extradição 716-5,
deferida parcialmente em 18 de novembro de 1997 (folha 146 a 163) e
executada no dia 16 de agosto de 2000 (folha 540), com a entrega do extra-
ditando Clemente Ferrara às autoridades policiais daquele País. 2. A Corte,
em entendimento reiterado - Questão de Ordem na Extradição n. 444, Questão
de Ordem na Extradição n. 462 e Extradição 840 - sobre o que versa o artigo
91, inciso I, da Lei 6.815/80, estabeleceu que o Estado requerente de extradi-
ção já concedida pode solicitar a extensão para a persecução penal pela
prática de delito diverso do que motivou o primeiro pedido desde que tenha
sido praticado em momento anterior ao deferimento do pleito (...)” ( Ext.
716 – extensão. Rel. Min. Marco Aurélio. DJ de 06/06/2005).
Se não bastasse, a hipótese é objeto do Tratado de Extradição firmado entre
o Brasil e a Suíça, previsto no seu artigo V:
“Art. V
A pessoa extraditada não poderá ser processada nem punida por qual-
quer delito perpetrado antes da extradição e diverso do que motivou o pedido,
salvo se o Estado requerido houver consentido em processos ulteriores (...)”.
Desta forma, o Ministério Público Federal opina pelo processamento do pleito.
Ultrapassada tal preliminar, verifica-se, da análise deste processo, que o Estado
requerente dispõe da competência jurisdicional para processar e julgar os delitos
imputados a Thomas Remmele, que é nacional Suíço (fls. 138) e naquele país teria
cometido os ilícitos penais de que é acusado, conforme informações constante a
fls. 138/143 (art. 78, inc. I, da Lei n. 6.815/80). Vislumbra-se, também, presentes
nos autos todos os documentos necessários ao pedido formal de extradição
elencados no art. 80 do Estatuto do Estrangeiro, traduzidos para o português, de
modo a permitir ao e. Supremo Tribunal Federal o exame seguro da legalidade da
pretensão extradicional.
Quanto ao requisito da dupla tipicidade (art. 77, inc. II, do Estatuto do Es-
trangeiro) há de se salientar que:
São imputados ao nacional suíço, em síntese, os seguintes fatos:
a) No dia 27 de 03 de 2001 o Banco GE Capital Bank Brugg denun-
ciou Dennler Tobias e Rosser Patrick por causa de fraude. As investigações
revelaram que Remmele Thomas tinha atuado com estes nomes e que tinha
submetido para o Banco GE Capital Bank Brugg 26 pedidos de financiamento
R.T.J. — 196 39
EXTRATO DA ATA
Ext 900 – Extensão/Confederação Helvética. Relator: Ministro Sepúlveda Pertence.
Requerente: Governo da Suíça (Advogados: J. J. Safe Carneiro e Tereza Safe Carneiro e
outra). Extraditando: Thomas Remmele (Advogado: DPU – Sérgio Alexandre Menezes
Habib).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, concedeu o pedido de extensão na extradi-
ção, restrita aos crimes de fraude comercial, falsificação de documentos e de falsificação
de documento de identidade, tudo nos termos do voto do Relator. Ausente, justificada-
mente, o Ministro Gilmar Mendes. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Cezar Peluso,
Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da República, Dr. Anto-
nio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 31 de agosto de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
R.T.J. — 196 43
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a presidência do Ministro Nelson Jobim, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
deferir, em parte, a extradição, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 8 de setembro de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Gilmar Mendes,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Trata-se de pedido de extradição formulado pelo
Governo dos Estados Unidos da América, por via diplomática, com base no Tratado de
Extradição firmado pelos dois países em 13 de janeiro de 1961 e promulgado pelo
Decreto n. 55.750, de 11 de fevereiro de 1965, do nacional norte-americano Ronald
Peter Eichberg Leeds, encaminhado na forma do Aviso n. 354/MJ, de 4 de fevereiro de
2004, do Ministro da Justiça (fl. 02).
O Procurador-Geral da República, Dr. Claudio Fonteles, assim relata a controvérsia
(fls. 189-192):
“O Governo dos Estados Unidos da América formaliza e remete os documentos
justificativos - fls. 12 a 118 - do pedido de extradição de seu nacional Ronald Peter
Eichberg Leeds, tendo por fundamento os artigos 82 da Lei 6.815/80, e VIII do
Tratado de Extradição firmado entre o Brasil e o Governo Americano - Decreto n.
55.750/65.
2. A prisão preventiva do extraditando foi efetivada no dia 19 de novembro
de 2003 (fls. 35), encontrando-se atualmente recolhido nas dependências do presí-
dio ‘Adriano Marrey’, em Guarulhos , Estado de São Paulo (fls. 145).
3. O nacional norte-americano foi pronunciado (anexo b - fls. 87/100) por um
Grande Júri pelos seguintes delitos:
44 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Quanto aos aspectos formais da extradi-
ção, assim se manifesta a Procuradoria-Geral da República (fl. 193):
“10. O pedido extradicional está instruído com os documentos a que se refere
o art. IX, 2 do Tratado de Extradição entre o Brasil e os Estados Unidos, devida-
mente autenticados e traduzidos para a língua portuguesa, acompanhado dos ori-
ginais em inglês (fls. 12/117).
11. Da análise do presente pleito, verifica-se que o Estado requerente dispõe
da competência jurisdicional, para processar e julgar esses delitos imputados ao
extraditando, que é nacional norte-americano, e naquele país teria cometido os
ilícitos penais de que é acusado (art. 78, inc. I, da Lei n. 6.815/80).
12. O pedido vem instruído com a decisão de recebimento de denúncia -
indictment - (fls. 87/100) e o mandado de captura de 15.11.2002 (fls. 102) e os
demais documentos exigidos pela Lei n. 6.815/80 e pelo Tratado de Extradição
R.T.J. — 196 47
celebrados entre os dois países, havendo indicações seguras sobre o local, data,
natureza e circunstâncias dos fatos delituosos, bem como com cópia dos textos
legais pertinentes (fls. 12/118) de modo a permitir ao Supremo Tribunal Federal o
exame seguro da legalidade da pretensão extradicional.”
Na espécie, também não parece haver dúvida no tocante ao requisito da dupla
tipicidade, pelo menos quanto aos crimes igualmente tipificados no ordenamento jurí-
dico brasileiro. A propósito, anota a manifestação da Procuradoria-Geral da República
(fls. 193-195):
“13. Está satisfeita a exigência de dupla tipicidade, consoante o Direito do
Estado requerente e o brasileiro, ao menos no que diz respeito aos delitos de fraude
postal e fraude telegráfica (estelionato no Brasil).
14. Como visto, no item 3, retro, o extraditando e seus dois comparsas enga-
naram terceiros inocentes com astúcia, nas transações efetivadas, de forma a obter
o dinheiro deles, alegando que o dinheiro investido geraria lucros exorbitantes, a
fim de convencê-los a investir cada vez mais.
15. O fato de se tratar de fraude telegráfica e postal não descaracteriza o
estelionato, pois, o que é importante considerar aqui é que o tipo penal estrangeiro
(Título 18 Seção 1341 e 1343) contém todas as elementares do delito do
estelionato (art. 171 do CP). Neste ponto vale transcrever trecho do parecer do il.
colega, Edson Oliveira de Almeida, na Extradição n. 761:
‘Não, pois, há como acolher a alegação de que se trata de crime
falimentar. Na verdade, o extraditando e seus dois comparsas, operando em-
presas de fachada, praticaram uma série de estelionatos continuados, lesando
vários comerciantes, induzidos em erro pelo golpe aplicado. E, muito embora
a peculiaridade da lei norte-americana, o estelionato também deve ser tido
como caracterizado. O fato de se tratar de fraud by wire (fraude por fio,
rádio ou televisão) não tem, no caso, o relevo sustentado pela defesa. O
recurso da telecomunicação interestadual não é, no caso, elementar do tipo,
e sim mero instrumento de comunicação do meio ardiloso e fraudulento do
qual os acusados lançaram mão para induzir os fornecedores em erro, cau-
sando-lhes prejuízo patrimonial. A telecomunicação, cabe repetir, não é
elementar do tipo, figurando aí apenas como critério para fixação da
competência da Justiça Federal norte-americana. O que é importante consi-
derar é que, independentemente da forma com que os acusados se comunica-
ram com os lesados, o tipo penal estrangeiro (Título 18, Seção 1343 do
U.S.C.) contém todas as elementares do delito de estelionato.’ (Ext 761/EU,
DJ 12.05.00 p. 00020).
(...)
18. Contudo quanto aos crimes imputados ao extraditando de conspiração
para a fraude e de transporte de valores ilicitamente obtidos, não há, conforme
entendimento adotado na Ext. 761, correspondência típica na legislação pátria.
19. Na linha seguida no julgamento acima referido a conspiração poderia, em
tese, corresponder no Brasil, ao de quadrilha, mas este exige participação de mais
de três pessoas. Sucede que no caso em estudo há apenas a participação de três
pessoas.
48 R.T.J. — 196
20. Com referência ao delito do Título 18, Seção 2.314, do Código dos
Estados Unidos - transporte de valores ilicitamente obtidos -, observa-se que tam-
bém não há no direito brasileiro correspondência como crime autônomo, pois, no
Brasil é considerado transporte do próprio proveito do crime de estelionato e neste
absorvido, consoante dispõe ementa proferida na Extradição n. 761:
‘Ementa: Extradição. Dupla tipicidade prescrição. Crimes de fraude
(estelionato), de operação financeira ilegal (remessa ilegal de divisa), de
transporte de valores ilicitamente obtidos e de conspiração (quadrilha).
Estando preenchidos todos os requisitos legais e não ocorrendo qualquer das
hipóteses previstas no art. 75 da Lei n. 6.815, de 19.08.1980, modificada pela
Lei n 6.964, de 09.12.1981, defere-se a Extradição, quanto aos delitos de
fraude (estelionato, no Brasil) e de operação financeira ilegal (aqui, remessa
ilegal de divisas). Não, porém, quanto aos crimes de transporte de valores
ilicitamente obtidos e de conspiração, pois o primeiro, no Brasil, é conside-
rado transporte do próprio proveito do crime de estelionato e neste absorvi-
do. E o outro, o de conspiração, poderia, no Brasil, ser assemelhado ao de
quadrilha, se dela houvessem participado mais de três pessoas (art. 288 do
Código Penal), o que, no caso, não ocorreu. Inocorrência de prescrição, seja
pelo Direito norte-americano, seja pelo brasileiro. Deferimento parcial do
pedido de Extradição, nos termos do voto do Relator. Decisão unânime.’ (Ext
761/EU, Rel Min. Sydney Sanches, DJ. 12.05.00, p. 00020).”
No que se refere à prescrição, registra-se que as causas pelas quais o extraditando
está sendo acusado, no tocante às imputações com correspondência no Direito Penal
brasileiro, prescrevem em 12 anos. Considerando que os atos delituosos datam de 2001,
não há falar em ocorrência de lapso prescricional segundo o Direito brasileiro e o Direito
americano. Sobre este ponto, anotou a Procuradoria-Geral da República (fl. 194):
“16. E no que se refere a essas imputações, não ocorreu, ainda a prescrição da
pretensão punitiva, seja em face da legislação norte-americana (U.S.C Título 18 §
3282), seja pela brasileira, que prevê, para o crime do art. 171 do Código Penal a
prescrição em 12 anos (inc. III, art. 109, do CPB).
17. Pela legislação norte-americana, a prescrição só ocorre se a ação penal
não é instaurada ou não há o recebimento da denúncia dentro de cinco anos após
o fato delituoso (fls. 72). Uma vez proferida o indictment, cessa o curso da prescri-
ção. No caso, os fatos ocorreram entre janeiro de 1998 e dezembro de 1999 e a
decisão de recebimento da denúncia foi proferida em 15 de dezembro de 2003 (fls.
82), dentro, portanto, do prazo de cinco anos, previsto no referido Título 18, Seção
3282 do Código dos Estados Unidos, lembrando que, em face da revelia do extra-
ditando, o processo permanece suspenso.”
No que se refere à alegada inocência do extraditando, o parecer, com base em
precedente desta Corte, anota (fls. 195-196):
“21. Quanto à inocência alegada pelo extraditando vale lembrar que ‘o sistema
de contenciosidade limitada, que caracteriza o regime jurídico da extradição
passiva no direito positivo brasileiro, não permite qualquer indagação probatória
pertinente ao ilícito criminal, cuja persecução no exterior justificou o ajuizamento
e da demanda extradicional perante o Supremo Tribunal Federal’. (Ext 545-6, Rel.
Acórdão Min. Celso de Mello, DJ 13-2-98).
R.T.J. — 196 49
EXTRATO DA ATA
Ext 915/Estados Unidos da América — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Reque-
rente: Governo dos Estados Unidos da América. Extraditando: Ronald Peter Eichberg
Leeds (Advogados: Moacir Anttonio Miguel e outra).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, deferiu, em parte, a extradição, nos termos
do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello e Eros
Grau. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
50 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, por seu Tribunal Pleno, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
indeferir a extradição, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 19 de maio de 2005 — Ellen Gracie, Presidente — Carlos Ayres Britto,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Cuida-se de pedido de extradição feito pelo
Estado da Argentina, em desfavor do Antenor Danilo de Oliveira Batista. Pedido que se
fundamenta em processo penal por crime de “homicídio em ocasião de roubo” e que se
baseia no Tratado de Extradição firmado com o Brasil em 15 de novembro de 1961.
2. Pois bem, na forma dos artigos 76 e 82 da Lei n. 6.815/80, deferi o pedido de
prisão cautelar e determinei a expedição de mandado de captura, a ser cumprido pelo
Departamento de Polícia Federal (fl. 39).
3. De sua parte, o Ministro da Justiça, por meio do Aviso n. 3.464, informou que o
extraditando é brasileiro e atualmente cumpre pena de dez anos e seis meses no Presídio
de Santo Cristo, Estado do Rio Grande do Sul, por crime de roubo e extorsão (fl. 54).
R.T.J. — 196 51
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Feito o relatório, passo ao voto.
8. Conforme visto, o pedido de extradição de Antenor Danilo de Oliveira Batista
não comporta deferimento.
9. Em verdade, da análise das certidões de fls. 71 e 75, verifica-se que o extraditando
nasceu no Estado do Rio Grande do Sul e é filho de Florentino José Batista e Adelina Paz
de Oliveira, ambos brasileiros.
10. Sob este visual das coisas, é preciso lembrar que o Brasil proíbe a extradição de
brasileiros, de forma terminante e solene, não só na lei ordinária como também no texto
constitucional. E o faz nos termos seguintes:
“Art. 5º (...)
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de
crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;”
11. Noutra vertente, estando impossibilitado de atender ao pedido de cooperação
internacional, deve o Brasil, nesses casos, assumir a obrigação de proceder contra o
extraditando de modo a evitar a impunidade do nacional que delinqüiu alhures. Trata-se,
portanto, da efetivação do princípio universal do aut dedere aut judicare, segundo o
qual o Estado-requerido deve assumir a posição de guardião do interesse internacional
comum.
12. Nessa contextura, ante a inviabilidade do pedido extradicional, voto pelo seu
indeferimento. Voto, ainda, pela remessa de cópia dos autos para o douto Juízo da
Comarca de Santo Cristo, de modo que o brasileiro se exponha a processo criminal, nos
termos do artigo 88 do Código de Processo Penal brasileiro.
52 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
Ext 916/República Argentina. Relator: Ministro Carlos Britto. Requerente: Go-
verno da República Argentina. Extraditando: Antenor Danilo de Oliveira Batista ou
Gringo.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, indeferiu a extradição, nos termos do voto
do Relator. Ausentes, justificadamente, os Ministros Nelson Jobim (Presidente), Celso
de Mello e Gilmar Mendes. Presidiu o julgamento a Ministra Ellen Gracie (Vice-Presi-
dente).
Presidência da Ministra Ellen Gracie (Vice-Presidente). Presentes à sessão os Mi-
nistros Sepúlveda Pertence, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto,
Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando
Barros e Silva de Souza.
Brasília, 19 de maio de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade, deferir o pedido de extradição, nos termos do voto do
Relator. Ausente, justificadamente, o Ministro Carlos Britto.
Brasília, 31 de março de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Carlos Velloso,
Relator.
R.T.J. — 196 53
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: O Sr. Ministro de Estado da Justiça encaminhou a
esta Corte, nos termos do art. 84 da Lei 6.815/80, alterada pela Lei 6.964/81, e do
Tratado de Extradição existente entre o Brasil e a Itália, os documentos justificadores e
formalizadores do pedido de extradição formulado pelo Governo da República Italiana
contra o nacional italiano Fábio Franco, que teve contra si expedidas três ordens de
prisão pelo Juiz de investigações preliminares junto ao Tribunal de Lecce, pelos crimes
de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes, detenção de armas, receptação, formação
de quadrilha de cunho mafioso, formação de quadrilha finalizada ao tráfico ilícito de
substâncias entorpecentes, homicídio premeditado grave, tentativa de homicídio pre-
meditado grave e porte ilegal de armas em lugar público.
Nos autos da PPE 462 (fl. 13 do apenso), decretei a prisão preventiva do extraditando,
que foi efetivada em 3-2-2004 (fl. 26 do apenso).
À fl. 217, em atenção a requerimento formulado pela Interpol, autorizei a transfe-
rência do extraditando para o Presídio de Segurança Máxima de Presidente Bernardes,
tendo em conta a notícia de possível tentativa de resgate armado do extraditando.
Ao ser interrogado, às fls. 573-585, o extraditando negou o seu envolvimento nos
fatos ilícitos e declarou ter interesse em retornar à Itália para se defender das acusações.
Na defesa de fls. 573/585, o extraditando, preliminarmente, sustenta que a sua
custódia no Presídio de Segurança Máxima de Presidente Bernardes/SP, além de não
estar devidamente fundamentada, não observou o disposto na Lei 10.792/2003, que
regula o regime disciplinar diferenciado a que está sujeito. No mérito, concorda com o
pedido de extradição, desde que lhe sejam garantidas, em caso de condenação, a não-
aplicação de pena de morte ou de prisão perpétua e a exclusão do crime de “associação
mafiosa”, por não encontrar correspondente no direito brasileiro.
O Ministério Público Federal, às fls. 606-611, pelo parecer do eminente Procura-
dor-Geral, Professor Cláudio Fonteles, opina no sentido do deferimento do pedido de
extradição.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): A República Italiana pede a extradição —
extradição instrutória — do nacional italiano Fabio Franco, contra quem foram expedidos
mandados de prisão, entre 2001 e 2003, pelo Juiz de Investigações Preliminares do
Tribunal de Lecce, pelos crimes de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes, detenção
de armas, receptação, formação de quadrilha de cunho mafioso, formação de quadrilha
finalizada ao tráfico ilícito de substâncias entorpecentes, homicídio premeditado grave
e tentativa de homicídio grave premeditado (fls. 4-188). A Nota Verbal n. 61, à fl. 4, dá
notícia da expedição de três mandados de prisão pelo Juiz do Tribunal de Lecce, pelos
delitos mencionados.
Oficiando nos autos, às fls. 606-611, pronunciou-se o Procurador-Geral da Repú-
blica, Professor Cláudio Fonteles, pelo deferimento do pedido de extradição. Destaco do
seu parecer:
54 R.T.J. — 196
“(...)
6. Com efeito, o pedido do governo italiano reúne condições para ser deferido.
7. Preliminarmente, observe-se que foi respeitado o prazo de 40 (quarenta)
dias entre a comunicação da prisão preventiva e o requerimento formal de extradi-
ção, previsto no artigo XIII, item 4, do Tratado de Extradição celebrado entre o
Brasil e a Itália. A embaixada do país requerente foi formalmente cientificada da
efetivação da prisão preventiva para fins de extradição no dia 10.02.2004 (fl. 37 da
PPE n. 462, em apenso). O pleito de extradição, a seu turno, foi formulado no dia 10
de março de 2004 (fl. 4), portanto, rigorosamente dentro do prazo previsto no
tratado específico.
8. Ademais, é inegável que o estado requerente dispõe de competência
jurisdicional para processar e julgar os delitos imputados ao extraditando, que é
nacional italiano e naquele país teria cometido os ilícitos penais de que é acusado.
9. O pedido vem instruído com os decretos de prisão e os demais documentos
exigidos pela Lei n. 6.815/80 e pelo Tratado de Extradição celebrado entre os dois
países, havendo indicações seguras sobre o local, data, natureza e circunstâncias
dos fatos delituosos, com cópia dos textos legais pertinentes, todos traduzidos
para o português, de modo a permitir ao Supremo Tribunal Federal o exame seguro
da legalidade da pretensão extradicional (fls. 4-188).
10. Passemos a análise do contido em cada uma das ordens de prisão
expedidas pela justiça italiana.
11. Em 22 de novembro de 2001, o Juiz de investigações preliminares junto
ao Tribunal de Lecce ordenou a prisão do ora extraditando pelos crimes de tráfico
ilícito de substâncias entorpecentes (arts. 81 e 110 do CP Italiano, art. 73, § 1º e 80
do DPR n. 309/90), detenção de armas (art. 2 da Lei n. 895/67) e receptação (art.
648 do CP Italiano), por fatos ocorridos em novembro de 2001 (processo n. 9875/
01 RGIP, fls. 14-17). Os fatos tidos por criminosos estão devidamente descritos. Há
dupla tipicidade. O crime punido pelo art. 73, § 1º e 80 do DPR n. 309/90, qual
seja, ‘tráfico ilícito de substâncias entorpecentes’, encontra correspondente no
tipo penal brasileiro previsto no art. 12 da Lei n. 6368/76. O crime de ‘detenção de
armas’ tipificado pelo art. 2 da Lei n. 895/67, no ano de 2001, encontrava corres-
pondência no art. 10 da Lei n. 9437/97 e, atualmente, está previsto no art. 10 da Lei
n. 10826/2003. Por fim, a ‘receptação’, que trata o art. 648 do CP Italiano,
corresponde ao delito tipificado no art. 180 do CP. Em virtude dos fatos criminosos
terem sido cometidos recentemente, não se verifica a ocorrência de prescrição de
nenhum dos crimes antes mencionados, seja em face da legislação italiana, seja da
brasileira.
12. Em 10 de abril de 2003, o Juiz de investigações preliminares junto ao
Tribunal de Lecce determinou a prisão do extraditando pelos crimes formação de
quadrilha de cunho mafioso, formação de quadrilha finalizada ao tráfico ilícito de
substâncias entorpecentes e tráfico ilícito das mesmas substâncias, por fatos ocor-
ridos até março de 2003 (processo n. 2577/2003, fls. 47-72). Os fatos tidos por
criminosos estão devidamente descritos. Há dupla tipicidade. O crime punido pelo
art. 416 bis, e parágrafos, do Código Penal Italiano, qual seja, ‘associação armada
de tipo mafioso’, encontra correspondente no tipo genérico da lei brasileira (crime
R.T.J. — 196 55
de quadrilha ou bando - CP, art. 288, parágrafo único). O tipo insculpido no art. 74
do DPR n. 309/90 ‘formação de quadrilha finalizada ao tráfico ilícito de substân-
cias entorpecentes’, corresponde ao crime previsto no art. 14 da Lei n. 6368/76. Por
último, o crime punido pelo art. 73 do DPR n. 309/90, qual seja, ‘tráfico ilícito de
substâncias entorpecentes’, encontra correspondente no tipo penal brasileiro pre-
visto no art. 12 da Lei n. 6368/76. Em virtude dos fatos criminosos terem sido
cometidos recentemente, não se verifica a ocorrência de prescrição de nenhum dos
crimes antes mencionados, seja em face da legislação italiana, seja da brasileira.
13. Em 3 de novembro de 2003, o Juiz de investigações preliminares junto ao
Tribunal de Lecce ordenou a prisão do ora extraditando pelos crimes de homicídio
premeditado grave, tentativa de homicídio grave premeditado e porte ilegal de
armas em lugar público, fatos ocorridos em ocorridos em 24.08.2001, 31.08.2002
e 28.12.2002 (processo n. 2577/2003, fls. 117-159). Os fatos tidos por criminosos
estão devidamente descritos. Há dupla tipicidade. O crime punido pelo art. 575, do
Código Penal Italiano, qual seja, ‘homicídio’, inclusive nas formas qualificadas
(art. 577 do CP Italiano) equivale ao tipo de mesmo nome do CP brasileiro (art.
121). Por fim, o crime de ‘detenção de armas’ tipificado pelo art. 2 da Lei n. 895/67,
nos anos de 2001 e 2002, encontrava correspondência no art. 10 da Lei n. 9.437/97
e, atualmente, está previsto no art. 10 da Lei n. 10.826/2003. Em virtude dos fatos
criminosos terem sido cometidos recentemente, não se verifica a ocorrência de
prescrição de nenhum dos crimes antes mencionados, seja em face da legislação
italiana, seja da brasileira.
14. O pedido atende, assim, os requisitos legais para sua concessão, em con-
sonância com a jurisprudência desse Excelso Supremo Tribunal Federal:
‘Extradição. Governo da Itália. Prática do crime de associação armada
de tipo mafioso, previsto no art. 416-bis do Código Penal italiano.
Sendo o ilícito penal também punido pela legislação brasileira,
inexistindo no Brasil processo crime relativo ao mesmo fato e não se verifi-
cando a prescrição pelos ordenamentos jurídicos brasileiro e italiano, não há
óbice legal ao deferimento do pedido.
Extradição deferida.’ (Ext-782/IT, Relator, Min. Ilmar Galvão, DJ 13-
10-00, p. 9)
‘Extradição. Crimes de formação de quadrilha de cunho mafioso,
roubo, extorsão, de porte e de detenção ilegal de arma. Pedido que tem, por
um dos fundamentos, conduta que, à época, era definida no Brasil como
contravenção, só posteriormente criminalizada.
1. O crime específico de associação armada do tipo mafioso, previsto
na lei italiana, tem o seu correspondente genérico na lei brasileira, de quadrilha
ou bando (CP, art. 288). Atendido, também, o postulado da dupla tipicidade
com relação aos crimes de roubo e extorsão.
2. Crimes de detenção e de porte ilegal de arma. O art. 77, II da Lei de
Estrangeiros proíbe a extradição quando o fato não é considerado crime no
Brasil ou no Estado requerente, tornando-a inviável, portanto, por conduta
56 R.T.J. — 196
tipificada como contravenção. À época dos fatos - 1989 - a lei italiana previa
os crimes de detenção e de porte ilegal de arma, enquanto que no Brasil
apenas o porte ilegal de arma era previsto como contravenção. À época do
pedido de prisão preventiva para extradição e do pedido de extradição, já
vigia no Brasil a Lei n. 9.437, de 20.02.97, cujo art. 10 tipificou como crimes
as condutas de detenção e de porte ilegal de arma, porém, sujeitos ao período
de vacacio legis de seis meses, prorrogável (art. 20). Conflito de leis no
tempo em face da exigência de dupla tipicidade (art. 77, II da Lei de Estran-
geiros). Se a conduta não era considerada crime no Brasil, ao tempo da práti-
ca do ato, a extradição não pode ser deferida por este fundamento, porque é
subjacente ao disposto no citado art. 77, II, a idéia de que só é permitida a
extradição quando for possível, hipoteticamente, o processo criminal em
ambos os países (requerente e requerido). No Brasil é inviável tal processo
porque é axiomático no nosso direito que não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem prévia cominação legal, e, também, porque a lei penal
não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (art. 5º, XXXIX e XL da Constitui-
ção). Ainda que assim não fosse, a extradição também não poderia ser conce-
dida por ter transcorrido o prazo prescricional, segundo a lei brasileira, visto
que é vedada a extradição quando estiver extinta a punibilidade pela prescri-
ção segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente (art. 77, VI, da mesma
Lei).
3. Declarada a legalidade e julgado procedente, em parte, o pedido de
extradição, ressalvando-se que o extraditando não poderá responder processo
pelo crime de detenção e de porte ilegal de arma.’ (Ext-716/IT, Relator Min.
Mauricio Correa, DJ 20-02-98, p. 14).
‘Constitucional – Penal – Extradição – Prisão decretada pela Justiça
estrangeira – Elementos informativos – Lei 6.815, de 19.08.1980, art. 80 –
Extraditando casado com brasileira – Filho brasileiro – Acusação formulada
contra o extraditando – Indagações preliminares – Atos delituosos praticados
em território brasileiro e italiano – Concurso de jurisdições – Associação de
tipo mafioso – Cód. Penal italiano, art. 416, bis – Cód. Penal brasileiro, art.
288, crime de quadrilha ou bando
1. Mandado de prisão expedido pela Justiça italiana. Satisfeita a exi-
gência do art. 80 da Lei n. 6.815/1980, na redação da Lei n. 6.964/1981, não
cabe a Justiça Brasileira o exame dos elementos informativos em que se
baseou o Tribunal estrangeiro para formalizar a acusação e decretar a prisão
do extraditando. 2. O fato de o extraditando ser casado com brasileira e com
esta ter filho, nascido no Brasil, não afasta a extradição. Súmula 421-STF. 3.
Não é causa impeditiva da extradição o fato de a acusação formulada contra
o extraditando estar na fase de indagações preliminares. 4. Concurso de juris-
dições penais: atos delituosos praticados em território brasileiro e italiano:
prevalece a jurisdição penal italiana, dado que não existe, no Brasil, procedi-
mento penal-persecutório contra o extraditando. Precedentes do STF. 5. Cor-
respondência de tipificação: associação de tipo mafioso, Cód. Penal italiano,
R.T.J. — 196 57
art. 416, bis. Crime de quadrilha ou bando, art. 288 do CP. 6. Atendimento
das exigências do art. 80 da Lei n. 6.815/1980.’ (Ext-638/IT, Rel. Min.
Carlos Velloso, DJU 15.09.1995, p. 29506)
15. Ante o exposto, opina o Ministério Público Federal pela concessão do
pedido de extradição formulado pelo Governo da Itália, em desfavor do seu nacional
Fabio Franco.
(...).” (Fls. 607-611)
Correto o parecer do Ministério Público Federal.
A formalização do pedido de extradição se fez no prazo de 40 (quarenta) dias
previsto no art. XIII, item 4, do Tratado de Extradição celebrado entre o Brasil e a Itália.
Com efeito.
A embaixada da Itália foi formalmente comunicada da prisão do extraditando no
dia 10-2-2004 (fl. 37 da PPE 462, em apenso). O pedido de extradição foi formalizado
em 10-3-2004, no prazo, portanto, previsto no Tratado.
Os delitos imputados ao extraditando encontram tipificação no Direito Penal posi-
tivo brasileiro, como bem demonstrado no parecer do Ministério Público Federal.
Os delitos teriam ocorrido em novembro de 2001 (fls. 14-17) e até março de 2003
(fls. 47-72). Não há falar, portanto, em prescrição, seja pela lei italiana, seja pela lei
brasileira.
O pedido está instruído com os decretos de prisão e com os demais documentos
exigidos pela Lei 6.815/80, art. 80, e pelo Tratado de Extradição Brasil—Itália.
Do exposto, acolho o parecer do Ministério Público Federal e defiro o pedido de
extradição.
EXTRATO DA ATA
Ext 923/República Italiana — Relator: Ministro Carlos Velloso. Requerente: Governo
da Itália. Extraditando: Fabio Franco (Advogados: Antonio Benedito Barbosa e outros).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, deferiu o pedido de extradição, nos termos
do voto do Relator. Ausente, justificadamente, o Ministro Carlos Britto. Presidiu o
julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes,
Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr.
Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 31 de março de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
58 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, resolvendo questão de ordem, deferir a medida
cautelar para determinar o processamento do recurso extraordinário, a fim de que o
admita, ou não, a presidência do Tribunal a quo, como entender de direito, nos termos do
voto do Relator.
Brasília, 6 de setembro de 2005 — Sepúlveda Pertence, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Em ação civil pública proposta pelo Ministério
Público contra o Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro
e a requerente — cujo pedido principal é a declaração de nulidade dos atos que prorro-
garam a permissão para explorar linhas de transporte coletivo intermunicipal (apenso 1,
fl. 63) —, o juízo de primeiro grau deferiu antecipação da tutela nos termos seguintes
(apenso 1, fls. 92/96):
R.T.J. — 196 59
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Decidiu esta Turma (Pet 2.222, 9-12-03,
Pertence, DJ de 12-3-04):
“1. Medida cautelar em recurso extraordinário: competência do Supremo
Tribunal Federal para o julgamento de medidas cautelares de RE, quando nela se
oponha o recorrente à aplicação do art. 542, § 3º, do Código de Processo Civil:
incidência do disposto no parágrafo único do art. 800 do Código de Processo Civil
(“interposto o recurso, a medida cautelar será requerida diretamente ao tribunal”):
hipótese de medida cautelar que visa a afastar óbice ao processamento do recurso na
instância a qua, diversa do problema do início da jurisdição cautelar do Supremo
para conceder efeito suspensivo ao RE.
2. Medida cautelar: indeferimento: ausência de fumus boni juris: caso de
recurso extraordinário contra decisão concessiva de tutela antecipada em ação
civil pública, não cabível, por não se tratar de decisão definitiva: Código de Pro-
cesso Civil, art. 273, § 4º.”
Doutrina e jurisprudência, invocadas com pertinência na petição, têm imposto
temperamentos à incidência do art. 542, § 3º, do Código de Processo Civil, entre outras
hipóteses, na de antecipação de tutela que possa tornar ineficaz o eventual provimento
dos recursos extraordinário ou especial.
Valiosas, a respeito, as observações do Dr. Cândido Dinamarco, invocadas na
petição:
“(...) a preponderar sem abrandamento a norma agora trazida pelo Código de
Processo Civil, toda pretensão e toda resistência às tutelas jurisdicionais de urgên-
cia ficará confinada aos graus ordinários de jurisdição, sem possibilidade de acesso
ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça.
Sendo negada pelo Tribunal local uma tutela cautelar ou alguma antecipa-
ção de tutela (art. 273), os males do tempo inimigo, de que falava Carnelutti terão
campo livre para progredir e dificilmente chegará o momento em que os tribunais
de superposição pudessem ditar corretivos – porque o estado de retenção só cessará
quando o mérito já tiver sido julgado ou o processo extinto, situações em que as
medidas de urgência terão perdido a oportunidade.
Havendo sido concedida a tutela de urgência pelo tribunal local, a parte
atingida amargará os seus efeitos, também até quando o processo seja declarado
extinto com ou sem julgamento do mérito – tudo levando a crer que, também aí, o
pronunciamento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça
já não terá a utilidade desejada.
Em ambas as hipóteses, o sistema terá falhado no cumprimento da suprema
promessa constitucional de tutela jurisdicional efetiva e tempestiva (art. 5º,
XXXV)”.
Sem adiantar qualquer juízo sobre a viabilidade do RE interposto, estou em que o
caso — dados os termos da antecipação de tutela, em particular, a injunção à autarquia
de licitar de imediato as linhas objeto da permissão questionada — é daqueles que
efetivamente não admitem a retenção do recurso extraordinário.
R.T.J. — 196 63
Esse o quadro, submeto à Turma, nos termos do art. 21, IV, RISTF, o deferimento de
medida cautelar para determinar o processamento do recurso extraordinário interposto
pela requerente, a fim de que o admita ou não a presidência do Tribunal a quo, como
entender de direito.
EXTRATO DA ATA
AC 929-QO/RJ — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Requerente: Expresso
Real Rio Ltda. (Advogados: Marcus Eduardo Magalhães Fontes e outro). Requerido:
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.
Decisão: A Turma, resolvendo questão de ordem, deferiu a medida cautelar para
determinar o processamento do recurso extraordinário, a fim de que o admita, ou não, a
presidência do Tribunal a quo, como entender de direito, nos termos do voto do Relator.
Unânime. Não participou deste julgamento o Ministro Cezar Peluso.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr.
Francisco Xavier Pinheiro Filho.
Brasília, 6 de setembro de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
64 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, deferir a extradição, nos termos do voto do
Relator.
Brasília, 14 de abril de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Carlos Velloso, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: O Sr. Ministro de Estado da Justiça encaminhou a
esta Corte, nos termos do art. 84 da Lei 6.815/80, alterada pela Lei 6.964/81, e do
Tratado de Extradição existente entre o Brasil e o Paraguai, os documentos justificadores
e formalizadores do pedido de extradição formulado pela República do Paraguai contra
o nacional paraguaio Idelino Ramon Silvero, que teve contra si expedida, em 11-11-
2003, ordem de prisão pelo Juiz Penal de Garantias da Cidade de Hernandarias, Circuns-
crição Judicial do Alto Paraná e Canindeyú-Paraguai, pelo crime de sequestro.
R.T.J. — 196 65
Nos autos da PPE 477 (fl. 60 do apenso), decretei a prisão preventiva de Idelino
Ramon Silvero, que foi efetivada em 21-8-2004 (fl. 76 do apenso).
À fl. 167, em atenção a requerimento formulado pela Interpol, autorizei a transfe-
rência do extraditando da Cadeia Pública de Cascavel/PR, tendo em conta a notícia de
possível tentativa de resgate armado do extraditando.
O extraditando encontra-se recolhido no Centro de Triagem de Curibita, conforme
comunicação à fl. 185.
Ao ser interrogado, às fls. 221-228, o extraditando negou a autoria do crime de
seqüestro. Afirma que não conhece pessoalmente a vítima, e que tudo decorre de perse-
guição política, uma vez que, por intermédio de sua agência de notícias, denunciava
uma rede de corrupção envolvendo grandes empresários e agentes políticos do Paraguai.
Esclarece, ainda, que também participava de movimentos políticos e sociais de oposi-
ção no seu país, tendo sido, inclusive, candidato a deputado. Por isso, teme sua morte,
caso seja entregue ao Governo do Paraguai.
O extraditando apresentou a defesa de fls. 231-237, sustentando que o pedido de
extradição não está em condições de ser atendido, dado que, além de possuir filha
brasileira sob sua guarda e dependência, não existe prova da sua participação no delito.
Aduz, ainda, tratar a espécie de perseguição política, sendo vedada a extradição, nos
termos do art. 77, VII, da Lei 6.815/80. Por fim, ressalta o não-atendimento do prazo
máximo para formalização do pedido de extradição (Lei 6.815/80, art. 82).
O Ministério Público Federal, às fls. 494-498, pelo parecer do eminente Procurador-
Geral, Professor Cláudio Fonteles, opina no sentido da concessão do pedido de extradição.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Trata-se de pedido de extradição instrutória,
requerido pelo Governo do Paraguai, do nacional paraguaio Idelino Ramon Silvero,
contra quem foi expedido mandado de prisão em 11-8-2003, pelo Juiz Penal de Garantias
da Cidade de Hernandárias, Circunscrição Judicial do Alto Paraná e Canindeyú, Paraguai,
sob a acusação da prática do crime de seqüestro — Código Penal do Paraguai, art. 126.
Oficiando no feito, pronunciou-se o Ministério Público Federal, pelo seu chefe, o
eminente Procurador-Geral da República, Professor Cláudio Fonteles, pelo deferimento
do pedido.
Destaco do parecer:
“(...)
5. No que tange aos aspectos legais concernentes ao presente pedido de
extradição, devem ser observadas as regras específicas dispostas no Acordo de
Extradição entre os Estados-Parte do Mercosul, Bolívia e Chile, promulgado no
Brasil pelo Decreto n. 4.975, de 30 de janeiro de 2004, e, subsidiariamente, as
normas da Lei Brasileira Geral de Extradição (Lei 6.815/80), muito embora o
Governo Paraguaio tenha fundamentado sua pretensão no antigo Tratado de
Extradição firmado entre Brasil e Paraguai, no ano de 1922.
66 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sr. Presidente, com referência a um trabalho
dos tempos de advocacia, quero deixar claro que continuo de acordo com a tese então
sustentada.
Mas, para o reconhecimento da extradição política disfarçada, é preciso trazer
prova consistente do que está por trás do alegado disfarce sob o manto da persecução de
crimes comuns.
R.T.J. — 196 69
EXTRATO DA ATA
Ext 947/República do Paraguai — Relator: Ministro Carlos Velloso. Requerente:
Governo do Paraguai — Extraditando: Idelino Ramon Silvero ou Idelino Ramon ou
Idalino Ramón Silvero ou Fidelino Ramón Silvero (Advogado: Mauro Marcio Seadi
Filho).
Decisão: Por unanimidade, o Tribunal deferiu a extradição, nos termos do voto do
Relator. Falou pelo extraditando o Dr. Mauro Marcio Seadi Filho. Presidiu o julgamento
o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes,
Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da
República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 14 de abril de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, na conformi-
dade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, deferir
o pedido de extradição, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 20 de outubro de 2005 — Ellen Gracie, Presidente — Sepúlveda Pertence,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: O Governo do Reino da Dinamarca, por sua
representação diplomática, requer a extradição do seu nacional Claus Malmqvist, contra
quem expedida ordem de prisão preventiva pelo Tribunal de Primeira Instância de Co-
penhague, por crimes consumado e tentado de tráfico internacional de substância entor-
pecente (art. 191 comb. com o art. 21 do Código Penal da Dinamarca).
2. O aviso do Sr. Ministro da Justiça que encaminha os respectivos documentos
justificativos e formalizadores aduz que o pedido de extradição tem base “na promessa
de reciprocidade de tratamento para casos análogos, a teor do art. 76 da Lei 6.815, de
19 de agosto de 1980, alterada pela Lei 6.964, de 9 de dezembro de 1981.” (fl. 2).
3. A nota verbal veio instruída com cópias, nos idiomas dinamarquês e português,
do decreto de prisão do extraditando e respectiva fundamentação e do teor das normas
penais do Reino da Dinamarca que capitulam os delitos a ele imputados (docs. fls. 7/16
(trad.); fls. 17/34).
4. O documento de fls. 5/6 está vertido em inglês.
5. A Exposição da Polícia de Copenhague, que acompanha a nota verbal, dá conta
dos fatos em razão dos quais o extraditando está sendo processado e lhe foi decretada a
prisão (trad. fls. 9/12):
“Foi decretado o mandado de prisão de Claus Malmqvist, à revelia, por meio
do despacho de 24 de novembro de 2004, promulgado pelo Tribunal de 1ª Instân-
cia de Copenhague, visando à sua extradição para a Dinamarca, onde está sob
acusação de
1. Tráfico de 13 toneladas de haxixe perpetrado no período entre 10 de julho
de 2003 e 1º de agosto de 2003, conjuntamente com uma série de cúmplices.
2. Tentativa de tráfico de 500 kg de cocaína no período de início de agosto
de 2004 a 15 de novembro de 2004, conjuntamente com uma série de cúmplices.
Quanto ao fundamento legal do processo, devo informar que a Polícia de
Copenhague, em cooperação com a Equipe Internacional da Polícia Nacional,
desde o início de 2004 tem feito uma investigação direcionada a Claus Malmqvist.
O fundamento para se iniciar a investigação foi que a polícia dinamarquesa, em
conexão com a investigação de um processo de tráfico de 3 toneladas de haxixe
para a Noruega, via Dinamarca, constatou que o Claus Malmqvist havia tido con-
tato com pessoas envolvidas neste tráfico. Tínhamos, ainda, obtido informações
R.T.J. — 196 71
“(...)
que acha que chegou ao Brasil no início do mês de dezembro de 2004; que a
sua mulher grávida mora aqui no Brasil; que não tem endereço na Dinamarca; que
morou muitos anos na Espanha; que tem endereço no Rio de Janeiro; que nos
últimos dois anos tem vindo ao Rio com freqüência; que quando não está aqui está
na Espanha; que em 2004 passou uma boa parte do ano na Dinamarca em razão de
doença de sua mãe; que foi vender a casa de sua mãe e instalá-la em um apartamento
na Dinamarca; que as acusações que lhe são feitas por tráfico de entorpecente são
falsas; que acha que a Polícia Dinamarquesa está fazendo confusão entre ele e
outra pessoa; que aos dezoito anos foi preso por uso de documento falso; que foi a
única vez preso; que não é consumidor nem dependente de produtos químicos;
que teve uma empresa de áudio-texto na Espanha; que teve participação de uma
empresa de construção na Espanha;que tem residência fixa em Andorra;que vive
das economias que fez; que veio para o Brasil com a idéia de continuar com a
empresa de construção que tinha na Espanha; que tem um apartamento na Rua
Prado Junior em Copacabana que é próprio; que é marceneiro, carpinteiro; que não
tem curso superior; que Bibi Jensen é mãe de um de seus melhores amigos, Carsten;
que acha que Bibi não tenha envolvimento com o tráfico; que Bibi nunca fez
transporte de dinheiro para o extraditando; que não conhece Lars Petersen; que
também desconhece Jens Petersen; que há uns quinze anos atrás esteve em
Marrocos; que fez uma viagem de ida e volta no mesmo dia; que tem um aparta-
mento próximo a Barcelona; que em agosto de 2003 uma pessoa tentou pular de
uma janela da varanda de seu apartamento; que já esteve na Zelândia do Norte
milhões de vezes; que Zelândia do Norte fica muito perto Copenhagen e ele conhece
muitas pessoas de lá; que tem família lá; que conhece Francelino José Patrício dos
Santos que é português; que Francelino tem um restaurante na região de Faro; que
o restaurante tem um nome mexicano; que nunca soube do envolvimento de Fran-
celino com o tráfico; que nunca transportou nem nunca consumiu haxixe nem
cocaína; que sabe que tem contra ele um processo na Dinamarca e é por esse fato
que ele está aqui; que nunca foi intimado para comparecer a esse processo; que foi
preso e retido no aeroporto de Londres; que ele estava junto com um amigo e o
amigo estava com uma quantia importante de dinheiro; que o extraditando estava
com uma pequena soma em dinheiro, mas na hora a Polícia juntou a soma toda e
ficou com o dinheiro, porque não tinham como explicar a origem do dinheiro; que
o dinheiro teria sido ganho em um torneio de gamão por seu amigo;que não tenta-
ram obter o dinheiro de volta porque foram aconselhados a fazer isso, porque
poderiam pegar 4(quatro)anos de prisão se o juiz não aceitasse a explicação dele;
que já teve outros passaportes além do que está apreendido em razão dos anteriores
terem vencido o prazo; que nunca teve passaporte emitido por outros países; que
nunca mudou de nome nem é conhecido por outro nome; que conhece Birger e
Carsten; que são seus conhecidos na Dinamarca; que um tem uma empresa de
construção na Dinamarca; que das pessoas mencionadas no processo as quais co-
nhece desconhece o envolvimento delas com tráfico de entorpecente. Às perguntas
do MPF, para esclarecimento, respondeu que não morava no endereço da Prado
R.T.J. — 196 75
Junior, que morava em um apartamento alugado na Av. Atlântica; que esse aparta-
mento pertence a seu amigo Jan; que tem um contrato de locação com Jan; que o
contrato está no nome do extraditando; que paga cinco mil de aluguel por mês;
que ele faz melhorias no apartamento e isso é abatido no valor do aluguel; que às
vezes paga em espécie o aluguel; que o extraditando e Jan têm intenção de montar
uma empresa de construção; que Jan é de fato proprietário desse apartamento; que
o apartamento tem aproximadamente 150 m; que o apartamento da Prado Junior
está vazio; que ele pode provar documentalmente as melhorias que fez no aparta-
mento de Jan; que acha que tem como provar essas melhorias; que tem conta no
Banco do Brasil; que não tem bens em conjunto com sua esposa; que se casou uma
semana depois de ser preso; que conhecia sua esposa há um ano mais ou menos;
que nunca transferiu bens ou dinheiro para sua esposa; que a conta no Banco do
Brasil não é conjunta; que sua esposa tem conta individual no Bradesco ou no
Unibanco, mas não tem certeza; que sua esposa trabalhava na Espanha fazendo
faxina e em lojas; que foi mais o desejo dele que eles voltassem para o Brasil.”
(...)
“Às perguntas da defesa, respondeu que: sua esposa está quase com sete
meses completos de gravidez; que sua mãe tem endereço fixo na Dinamarca; que
seu endereço na Dinamarca é da sua mãe; que toda sua correspondência vai para
esse endereço; que sua mãe sofreu um derrame cerebral que provocou paralisia na
metade do corpo e hoje vive em uma cadeira de rodas; que Claus é um nome
comum na Dinamarca e pode ser escrito por “c” ou por “k”; que seu sobrenome não
é comum; que seu nome não foi captado por escuta telefônica, mas escuta
ambiental; que entende que seu nome integral não foi mencionado em nenhum
momento nessas escutas; que prefere ficar calado em relação a pergunta do Juízo
no sentido de porque tem problemas com a Polícia da Dinamarca; que Zelândia do
Norte é a ilha onde fica Copenhagen; que como a Dinamarca é muito pequena tudo
fica muito perto e todo mundo se conhece; que as últimas vezes que esteve na
Dinamarca não teve contatos nem problemas com a polícia; que nunca recebeu
nenhuma intimação judicial ou policial.”
9. O Defensor constituído pelo extraditando apresentou defesa escrita (fls. 93/137),
na qual alegou preliminarmente a ausência de requisitos formais:
1 - falta de promessa formal de reciprocidade do Estado requerente, que, à
vista da ausência de tratado entre o Brasil e o Estado requerente, nos termos da Lei
6.815/80, é imprescindível ao deferimento do pedido de extradição; além de não
comprovação de que o governo dinamarquês, pelo seu direito interno, na inexis-
tência de tratado, possa oferecer a reciprocidade em tema de extradição;
2 - ausência de tradução de documentos oficiais de fls. 05/06, “em flagrante
cerceamento de defesa, que impede, inclusive o contraditório”;
3 - insuficiência da documentação, que não traz “as disposições legais
atinentes à prescrição”;
4 - falta de indicação precisa quanto ao local, data, natureza e circunstâncias
dos fatos tidos como criminosos.”
10. Segundo a Defesa, os elementos informativos constantes do mandado de prisão
são extremamente insatisfatórios, vagos, imprecisos e sem qualquer nexo: a responsa-
76 R.T.J. — 196
1 “Lei 6.815/90, art. 91: Não será efetivada a entrega sem que o Estado requerente assuma o compro-
misso:
I - de não ser o extraditando preso nem processado por fatos anteriores ao pedido;
II - de computar o tempo de prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição;
III - de comutar em pena privativa de liberdade a pena corporal ou de morte, ressalvados, quanto
à última, os casos em que a lei brasileira permitir a sua aplicação;
IV - de não ser o extraditando entregue, sem consentimento do Brasil, a outro Estado que o reclame; e
V - de não considerar qualquer motivo político para agravar a pena.”
R.T.J. — 196 77
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Estou em que concorrem os pressu-
postos positivos e negativos da extradição.
2. Analisa-os com precisão o em. Procurador-Geral da República — fl. 605:
“9. É inegável que o estado requerente dispõe de competência jurisdicional
para processar e julgar os delitos imputados ao extraditando, que é nacional dina-
marquês e naquele país teria cometido os ilícitos penais de que é acusado.
10. Ao contrário do que sustenta o extraditando, o pedido de extradição
encontra-se suficientemente instruído. A inexistência de tratado extradicional en-
tre os dois países não obsta a concessão do pleito se houver a promessa de recipro-
cidade (art. 76 da Lei n. 6.815/80). O documento de fls. 5/6, que acompanha a Nota
Verbal n. 50 (fls. 4), apesar de estar no idioma inglês, não deixa dúvidas do com-
promisso de reciprocidade firmado pelo governo dinamarquês: “The Ministry of
Justice can confirm that Danish authorities will be prepared to assist the authorities
in Brazil in a similar case.” (fls. 6), ou seja, “O Ministro da Justiça pode confirmar
que as autoridades dinamarquesas estarão preparadas para auxiliar as autoridades
brasileiras em caso similar.”
78 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
Ext 962/Reino da Dinamarca — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Reque-
rente: Governo da Dinamarca. Extraditando: Claus Malmqvist (Advogados: Ricardo
Carneiro Fortuna e outros).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, deferiu o pedido de extradição, nos termos
do voto do Relator. Votou a Presidente. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso
de Mello, Gilmar Mendes, Cezar Peluso e, neste julgamento, o Ministro Nelson Jobim
(Presidente). Falou pelo extraditando o Dr. Francisco Queiroz Caputo Neto. Presidiu o
julgamento a Ministra Ellen Gracie (Vice-Presidente).
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e
Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos.
Brasília, 20 de outubro de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
82 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade, dar provimento, em parte, ao agravo regimental, nos
termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, o Ministro Gilmar Mendes e,
neste julgamento, a Ministra Ellen Gracie e o Ministro Cezar Peluso.
Brasília, 31 de agosto de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Carlos Velloso,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Trata-se de agravo regimental, interposto pela Asso-
ciação dos Escrivães Judiciários do Estado do Espírito Santo – AEJES, da decisão
(fls. 81-87) que, diante da não-configuração da competência prevista no art. 102, I, n, da
Constituição Federal, negou seguimento ao pedido formulado na ação originária e
determinou o seu arquivamento.
Inicialmente, diz a agravante que a Assembléia Legislativa do Estado do Espírito
Santo, em sessão extraordinária, votou e aprovou o conteúdo da Mensagem n. 06/2005
(Projeto de Lei n. 009/2005), objeto do mandado de segurança, transformando-o na Lei
n. 7.971, de 4 de março de 2005 (DOE de 7-3-2005).
Sustenta, mais, a configuração da competência originária do Supremo Tribunal
Federal, porquanto o que define a competência prevista no art. 102, I, n, da Constituição
Federal é o fato de mais da metade dos membros do tribunal de origem estarem impedi-
dos ou serem direta ou indiretamente interessados no resultado da causa. Nesse contexto,
ressalta que “o impedimento de todos os membros do Colegiado do Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado do Espírito Santo está eloqüente na Justificativa da proposta de Lei
n. 009/05, quando textualmente afirma Sua Excelência o Desembargador Presidente
que: o Tribunal Pleno, preocupado com a modernização do quadro administrativo do
Poder Judiciário estadual, optou, no momento, em estruturar melhor o Tribunal de
Justiça” (fls. 94-95).
R.T.J. — 196 83
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Segundo a agravante, a competência ori-
ginária do Supremo Tribunal Federal — CF, art. 102, I, n — ocorreria em razão de o
projeto de lei, que foi transformado em lei, ter sido de iniciativa do Tribunal de Justiça
do Estado. Assim, estariam os desembargadores impedidos.
A decisão agravada, ora sob exame, negou seguimento ao pedido, resumida referida
decisão na seguinte ementa:
“Ementa: Constitucional. Processual Civil. Mandado de segurança impe-
trado contra atos dos presidentes do Tribunal de Justiça e da Assembléia Legis-
lativa do Estado do Espírito Santo: competência originária do STF: CF, art.
102, I, n: inocorrência, pelo menos por enquanto. Negativa de seguimento do
pedido, arquivando-se os autos.” (Fl. 81)
A decisão é de ser mantida.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal orienta-se no sentido de que os
pressupostos do impedimento ou da suspeição, que gerariam a competência da Corte
Suprema, na forma do disposto no art. 102, I, n, da Constituição Federal, devem ser
apreciados pelo Tribunal competente, em princípio, para o julgamento da causa.
Na AO 176/MS, por mim relatada, decidiu o Supremo Tribunal Federal:
“Ementa: Constitucional. Competência originária do STF. Eleição de di-
rigentes de Tribunal. Mandado de segurança impetrado contra ato do Tribu-
nal de Justiça do Mato Grosso do Sul. CF, art. 102, I, n.
I - Mandado de segurança impetrado contra ato do Tribunal de Justiça que,
quebrando a regra da antigüidade, prevista no art. 102 da Loman, preencheu, por
eleição, o cargo de vice-presidente da Corte. A competência para o julgamento do
writ é do próprio Tribunal, dado que a competência para o julgamento de mandado
de segurança impetrado contra ato de Tribunal é do próprio Tribunal.
II - Os pressupostos do impedimento e da suspeição, impedimento e suspei-
ção que gerariam a competência do Supremo Tribunal Federal, na forma da alínea
n do inc. I do art. 102 da Constituição, devem ser apreciados pelo Tribunal compe-
tente, em princípio, para o julgamento da causa. Precedentes do STF.
III - A regra de competência inscrita no art. 102, I, n, da Constituição pressu-
põe, ademais, um procedimento de natureza jurisdicional no Tribunal de origem.
IV - Mandado de Segurança não conhecido. Remessa dos autos ao Tribunal
de Justiça do Mato Grosso do Sul.” (DJ de 18-6-1993)
84 R.T.J. — 196