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Revista Trimestral de
Jurisprudência
PRIMEIRA TURMA
Pág.
ACÓRDÃOS.............................................................................................1
ÍNDICE ALFABÉTICO............................................................................I
ÍNDICE NUMÉRICO...........................................................................XXIII
ACÓRDÃOS
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 106 — RO
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade, declarar o prejuízo do pedido formulado quanto ao
4 R.T.J. — 196
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: O Governador do Estado de Rondônia, com funda-
mento no art. 103, V, da Constituição Federal, propõe ação direta de inconstitucionali-
dade dos artigos 72, 73, 77 e 177 da Constituição do Estado de Rondônia, bem como
dos artigos 30 e 34 das Disposições Transitórias da citada Constituição estadual.
As normas impugnadas têm o seguinte teor:
Constituição do Estado de Rondônia:
“Art. 72. O Conselho de Governo é o órgão superior de consulta do Governador
do Estado, sob a sua presidência, e dele participam:
I - o Vice-Governador do Estado;
II - o Presidente da Assembléia Legislativa;
III - o Presidente do Tribunal de Justiça;
IV - o Procurador-Geral de Justiça;
V - o Presidente do Tribunal de Contas;
VI - os Líderes da maioria e da minoria, na Assembléia Legislativa;
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade,
de reputação ilibada, nomeados pelo Governador, sendo:
a) três de sua livre escolha;
b) três indicados pela Assembléia Legislativa.
Art. 73. Compete ao Conselho pronunciar-se sobre questões relevantes susci-
tadas pelo Governo Estadual, incluída a estabilidade das instituições e problemas
emergentes, de grave complexidade e implicações sociais.
Parágrafo único. Lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho
de Governo.
(...)
Art. 77. Lei de iniciativa do Poder Judiciário disciplinará as atribuições,
direitos e deveres dos Escrivães Judiciais, Escrivães Judiciais Substitutos, Oficiais
de Justiça, Avaliadores, Distribuidores, Contadores e Depositários, cuja admissão
se dará por concurso público de títulos e provas.
Parágrafo único. O Tribunal de Justiça, dentro de cento e oitenta dias da
promulgação desta Constituição, enviará projeto de lei nesse sentido.
(...)
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VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Examino as argüições de inconstituciona-
lidade.
I) Art. 177 da Constituição do Estado de Rondônia:
Desta forma deslindou a controvérsia, no ponto, o ilustre Procurador-Geral da
República, Prof. Geraldo Brindeiro:
“(...)
5. Assim dispõe o art. 177 da Constituição do Estado de Rondônia:
‘Art. 177 - O Estado e os Municípios só poderão declarar de utilidade
pública e desapropriar bens imóveis mediante prévia autorização legislativa.’
6. A toda evidência, tal norma é contrária à regra de competência privativa da
União para legislar sobre desapropriação, prevista no art. 22, II, da Constituição
Federal.
7. A desapropriação por utilidade pública encontra seu fundamento constitu-
cional no art. 5º, XXIV, ‘a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia
indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição’.
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VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Sr. Presidente, encaminho a divergência no sentido
de declarar a inconstitucionalidade parcial quanto à inclusão do Procurador-Geral de
Justiça e do Presidente do Tribunal de Contas. No mais, mantenho o texto e acompanho
o eminente Ministro Relator.
VOTO
A Sra. Ministra Ellen Gracie: Com a vênia do eminente Ministro Relator, acompanho
a divergência parcial apenas para excluir esses três integrantes do Conselho.
VOTO
O Sr. Ministro Maurício Corrêa: Sr. Presidente, também acompanho a divergência
no ponto e o eminente Ministro Relator em tudo, menos nesta parte.
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sr. Presidente, que mais não fosse, na esperança
de encontrar um dia algum espaço de autonomia dos Estados-Membros reconhecido
pelo Supremo Tribunal Federal, acompanho o eminente Ministro Gilmar Mendes.
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VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Peço vênia aos colegas para, no caso,
manter íntegro o dispositivo.
Não vejo, de um lado, incompatibilidade maior em se ter a participação nesse
Conselho, como é o caso, do Presidente do Tribunal de Justiça, pois este, tal como o
Presidente da Assembléia, preside um Poder, e o Conselho tem como objetivo funcionar
em seu colegiado.
Também não me impressiona a problemática relativa ao envolvimento do Presi-
dente do Tribunal de Contas e do Procurador-Geral de Justiça. Há de se distinguir os
campos relativos às atuações específicas daquele alusivo à atividade a ser desenvolvida
pelo Conselho, que é a de simplesmente apoiar pronunciamento prévio de um órgão
colegiado.
Por outro lado, sem que a Corte se transforme em legislador positivo, mediante a
supressão de alguns incisos, no que prevêem certas pessoas para formar o Conselho, não
vislumbro como se possa alterar a composição do órgão.
EXTRATO DA ATA
ADI 106/RO — Relator: Ministro Carlos Velloso. Relator para o acórdão: Ministro
Gilmar Mendes. Requerente: Governador do Estado de Rondônia (Advogado: Pedro Origa
Neto). Requerida: Assembléia Legislativa do Estado de Rondônia.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, declarou o prejuízo do pedido formulado
quanto ao artigo 30 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constitui-
ção do Estado de Rondônia. Por maioria, julgou parcialmente procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade dos incisos III, IV e V do artigo 72, vencidos, em parte,
o Ministro Relator, que declarava a inconstitucionalidade de todo o dispositivo, e o
Presidente, Ministro Marco Aurélio, que declarava a sua constitucionalidade; do parágra-
fo único do artigo 77; e do artigo 177, todos da Constituição do Estado de Rondônia; e,
também, a inconstitucionalidade do artigo 34 do Ato das Disposições Transitórias da
Constituição do mesmo Estado. Relativamente ao artigo 73, o Tribunal, por maioria,
declarou a sua constitucionalidade, vencido o Relator, e, por unanimidade, também
declarou a constitucionalidade da cabeça do artigo 77, ambos da mesma Constituição
estadual. Redigirá o acórdão o Ministro Gilmar Mendes. Ausentes, justificadamente, os
Ministros Celso de Mello e Ilmar Galvão, e, neste julgamento, o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros Moreira
Alves, Sydney Sanches, Sepúlveda Pertence, Carlos Velloso, Maurício Corrêa, Nelson
Jobim, Ellen Gracie e Gilmar Mendes. Procurador-Geral da República, Dr. Geraldo
Brindeiro.
Brasília, 10 de outubro de 2002 — Luiz Tomimatsu, Coordenador.
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ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade, decretar a extinção do processo, declarar a prescrição e
condenar a União ao pagamento de honorários profissionais fixados em R$ 5.000,00
(cinco mil reais), tudo nos termos do voto do Relator.
Brasília, 10 de novembro de 2004 — Nelson Jobim, Presidente — Marco Aurélio,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: A Fazenda Nacional propôs execução contra o
Estado de São Paulo, acostando certidão de dívida a revelar, como data da inscrição, o
dia 27 de maio de 1976. O documento consigna o vencimento dos tributos — imposto
de importação e imposto sobre produtos industrializados — em 16 de julho de 1969. À
folha 6-verso, pronunciou-se a Procuradoria da República perante o Juízo Federal,
aludindo à competência desta Corte. A declinação da competência deu-se em 20 de
fevereiro de 1978 (folha 9). O processo foi distribuído ao Ministro Djaci Falcão, que,
após a manifestação do Ministério Público Federal, determinou, em outubro de 1978, a
citação do devedor (folhas 13 e 14).
Aos autos veio a contestação de folhas 33 a 40, mediante a qual se argúi a prescri-
ção da ação em face da passagem de cinco anos contados da inscrição da dívida — o
vencimento do débito fiscal ocorrera em 16 de julho de 1969, havendo sido inscrita a
dívida em 27 de maio de 1976. Do vencimento do débito até a causa interruptiva da
prescrição — a ordem de citação (artigo 219, § 1º, do Código de Processo Civil) —,
teriam transcorrido mais de nove anos. Em passo seguinte, argumenta-se com a incons-
titucionalidade do acréscimo de 20% no débito fiscal, parcela que estaria reservada aos
Procuradores da Fazenda. Alega-se que à Fazenda não assistiria o direito de aumentar o
débito, conforme decidido por esta Corte no julgamento do Recurso Extraordinário n.
79.822, relatado, perante a Primeira Turma, pelo Ministro Aliomar Baleeiro. Aponta-se,
em vista da inexistência de remuneração dos Procuradores da União, a ofensa ao inciso
I do artigo 18 da Constituição Federal pretérita, ante a cobrança de taxa sem o serviço
correspondente. Discorre-se, ainda, sobre a impossibilidade de se classificar tal acréscimo
como taxa, tendo em conta a razão de ser dessa espécie de tributo. No mérito propriamente
dito, articula-se com a imunidade estabelecida na Constituição da República —
alínea a do inciso III do artigo 19 da Carta de 1969. Requer-se a improcedência do
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VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Quanto à competência, tenho-a como
revelada pelo fato de a ação envolver a Fazenda Nacional e o Estado de São Paulo.
Da Prescrição
A certidão de dívida ativa de folha 5 noticia haver ocorrido a inscrição em 27 de
maio de 1976, vencendo o tributo em 16 de julho de 1969. Levando-se em conta a data
do vencimento e a regra do inciso I do artigo 173 do Código Tributário Nacional —
segundo a qual o direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se
após cinco anos contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lança-
mento poderia ter sido efetuado —, tem-se que o termo inicial da prescrição, considerada
a cabeça do artigo 174 — a data da constituição definitiva do tributo —, verificou-se em
1970, ou seja, no exercício imediato àquele em que ocorrera o vencimento. Pois bem, a
determinação de citação deu-se somente em 1978, ou seja, passados oito anos. Daí a
prescrição haver incidido. Ainda que se abandone a regra especial do inciso I do artigo
174 do Código Tributário Nacional, adotando-se a retroação prevista no § 1º do artigo
219 do Código de Processo Civil, constata-se que a execução somente foi ajuizada em
julho de 1976 e, portanto, quando já transcorrido o qüinqüênio.
Concluo pela prescrição e declaro extinto o processo, com o julgamento de mérito.
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EXTRATO DA ATA
ACO 261/SP — Relator: Ministro Marco Aurélio. Autora: União (Advogado:
Advogado-Geral da União). Réu: Estado de São Paulo.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, decretou a extinção do processo, declarou
a prescrição e condenou a União ao pagamento de honorários profissionais fixados em
R$ 5.000,00 (cinco mil reais), tudo nos termos do voto do Relator. Falou pelo réu o Dr.
Marcos Ribeiro de Barros, Procurador do Estado. Ausente, justificadamente, a Ministra
Ellen Gracie. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso,
Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr.
Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 10 de novembro de 2004 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, por seu Tribunal Pleno, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por maioria de votos, não conhecer da ação cautelar, nos termos do
voto do Relator, vencido o Ministro Marco Aurélio em relação à preliminar de conheci-
mento.
Brasília, 16 de fevereiro de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Carlos Ayres
Britto, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Trata-se de ação cautelar aparelhada com re-
querimento de medida liminar, tendo por objeto suspender a eficácia da Lei estadual n.
8.033, de 17-12-2003, até que se dê o julgamento definitivo da Ação Direta de Incons-
titucionalidade n. 29.473/2004, proposta perante o Tribunal de Justiça do Estado do
Mato Grosso. Alternativamente, a autora pede que tal suspensão de eficácia permaneça
até o julgamento do pedido de liminar na citada ação direta ou, em último caso, até a
decisão que for proferida nas exceções de suspeição apresentadas nos autos da mesma
ADI n. 29.473, que impugna dispositivos do referido ato normativo estadual.
2. Segundo a inicial, a mencionada Lei n. 8.033/2003 obriga os notários e registra-
dores de Mato Grosso a pagar ao FUNAJURIS (Fundo do Tribunal de Justiça daquele
Estado) a quantia de R$0,10 (dez centavos) relativamente a cada selo de autenticidade
confeccionado e distribuído pela Casa da Moeda do Brasil. Entretanto, esse valor teria
de ser reduzido por força do Contrato n. 30/2004/TJ, celebrado entre aquele Tribunal e
a Casa da Moeda.
3. De acordo com a requerente, esta medida cautelar se faz necessária em decorrên-
cia das suspeições opostas em face de todos os Desembargadores do Tribunal de Justiça
local, para efeito do julgamento da citada ADI n. 29.473/2004, de modo que, agora,
compete a esta excelsa Corte o exame das referidas exceções e, se acaso acolhidas, a
apreciação da própria ação direta.
4. A seu turno, as exceções de suspeição têm como justificativa o fato de que os
Desembargadores daquele Tribunal encaminharam a esta Suprema Corte memoriais e
pareceres jurídicos defendendo a higidez constitucional da mesma Lei n. 8.033/2003, a
qual foi também impugnada por meio da ADI 3.151, de minha relatoria, ajuizada pela
Anoreg/Brasil. Raciocina a excipiente que, assim procedendo, os exceptos demonstra-
ram não possuir a isenção necessária para julgar a ação direta estadual, que versa o
mesmo assunto.
5. Pelo despacho de fl. 302, o Ministro Nelson Jobim, Presidente desta Casa,
determinou a citação dos requeridos — Governador e Assembléia Legislativa do Estado
de Mato Grosso —, deixando para depois o exame do pedido de liminar.
6. Quanto aos demandados, defenderam-se eles com alegação de inépcia da peti-
ção inicial, bem como de inocorrência dos pressupostos autorizadores do manejo da
ação cautelar (fls. 450/457 e 462/476).
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VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): A título de voto, tenho como necessário
esclarecer que existem duas representações de inconstitucionalidade na esfera estadual
sobre o assunto, hoje confiadas ao mesmo Relator, por dependência. Na primeira delas —
15.275/2004 —, o pedido de liminar foi indeferido (fls. 515/520). Após esse indeferimento
é que a acionante houve por bem ajuizar a presente medida nesta Suprema Corte. Porém,
aqui já existe, conforme visto, a ADI 3.151. Ação que tramita sob o impulso do art. 12 da
Lei n. 9.868/99; sem medida cautelar, portanto.
11. Feito este esclarecimento, deparo-me com duas razões, autônomas, para não
conhecer da presente ação. A primeira vincula-se aos termos em que formulado o pedido,
ou seja, medida cautelar em exceção de suspeição. Pois importante é anotar que se trata
de exceções individuais, ainda não julgadas. E, de acordo com o último despacho, no
Tribunal de Justiça, a maioria dos Desembargadores repeliu a pecha que lhes endereçou
a excipiente, mas os respectivos autos ainda não foram remetidos a esta colenda Corte,
para análise desse específico incidente. Portanto, a rigor, ainda não foi estabelecida a
competência do Supremo Tribunal Federal para apreciar qualquer outra matéria ligada,
direta ou indiretamente, à questão de fundo, como é o caso deste pedido de suspensão da
eficácia da Lei estadual n. 8.033/2003. Tal competência somente será firmada se — e
quando — esta Suprema Corte acolher as referidas exceções. Confira-se, a propósito, o
acórdão proferido no MS 21.306, Relator Ministro Carlos Velloso, de cuja ementa realço
a seguinte passagem:
“No caso de ter sido oposta exceção de suspeição dos Juízes do Tribunal
local, reconhecendo a maioria dos membros do Tribunal a suspeição, firma-se a
competência do STF, na forma do art. 102, I, n, da Constituição. Todavia, se a
exceção de suspeição é recusada, ao STF incumbe julgar, originariamente, a exce-
ção de suspeição. Acolhendo o Supremo Tribunal a referida exceção de suspeição,
então estará configurada a competência originária da Corte Suprema para julgar o
mandado de segurança. Precedente da Corte: AO 146-3-AgR/RJ, Rel. Min.
Pertence, 25-2-92.”
12. A segunda razão para o não-conhecimento desta medida deflui da constatação
de que ela, na verdade, é ancilar da mencionada ação direta de inconstitucionalidade e
utiliza as exceções de suspeição como ponte para alcançar esse objetivo mais elevado.
Ou seja, um instituto do processo subjetivo a serviço de um processo objetivo.
13. Nesse contexto, bem oportunas me parecem as considerações do ínclito
Procurador-Geral da República, vocalizadas nos seguintes termos (fls. 699/700):
“Antes mesmo do exame do pedido de cautelar, V. Exa., em percuciente
manifestação – fls. 693-695 –, antecipadamente abriu vista dos autos à Procura-
doria-Geral da República.
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Nessa esteira, não se pode perder o foco do tema central, qual seja neste
primeiro instante, o próprio cabimento da medida cautelar em análise.
Sob tal ótica, como premissa do raciocínio que se seguirá, fique, desde logo,
assentada a natureza amplamente acessória do procedimento cautelar, sempre ten-
dente a servir de suporte à causa principal, via de regra, de cognição exauriente.
Assim, a viabilidade da ação cautelar está atrelada, umbilicalmente, à
pertinência da demanda ordinária. No caso concreto, a presente cautelar pretende
dar guarida às exceções de suspeição opostas junto ao Tribunal de Justiça do Mato
Grosso.
Acontece, contudo, que tais exceções se dão, ao arrepio de sua intrínseca
natureza, no bojo de um processo de controle concentrado de constitucionalidade.
Esse hábitat é completamente estranho aos incidentes típicos do processo civil
ordinário. Não vicejam nesse campo, árido a expedientes desse jaez. Isso tem boa
explicação na perspectiva ontológica do controle de constitucionalidade, na sua
acepção abstrata, que resulta na dicção, sempre recorrente na doutrina e jurispru-
dência, de que, apesar de ser exercido por meio de uma ação, não ostenta uma
pretensão resistida, pelo que também se deflui não haver o revolvimento de inte-
resses concretos, fáticos, e ainda, não existir partes em lide.
A justificação do controle abstrato de normas cinge-se a um processo de
fiscalização da supremacia da ordem constitucional, prática que, levada aos instru-
mentos processuais aplicáveis à ação direta, dá-nos a notícia de que, como leciona
Clèmerson Merlin Clève, “(…)a argüição de suspeição revela-se incabível no âmbito
do processo objetivo de controle normativo abstrato de constituticionalidade”.
Em última análise, portanto, as exceções de suspeição são expedientes que, a
toda evidência, não frutificarão. Sem respaldo também se mostra, na mesma medida,
a pretensão cautelar ora deduzida, pois, como estabelecido acima, é acessória à
ação de cognição exauriente a que presta suporte.
O pensamento que ora deduzo é exatamente o mesmo que desenvolvi na
manifestação ofertada na AO 991, da relatoria do Eminente Ministro Carlos
Velloso. Tais considerações, note-se, foram encampadas naquela esfera, proferindo
Sua Excelência despacho que refutou a competência do Supremo Tribunal Federal
para examinar ação direta de inconstitucionalidade ajuizada junto ao Tribunal de
Justiça do Mato Grosso do Sul, ascendida à Corte por suposta suspeição e impedi-
mento dos desembargadores, dando como ilegítimos tais obstáculos em face justa-
mente da natureza específica do controle concreto de constitucionalidade – DJ de
24/10/2003.”
14. Merece acolhida esse bem lavrado parecer do Ministério Público Federal,
quando não bastasse o primeiro fundamento deste voto.
15. Ante o exposto, não conheço da presente ação cautelar e condeno a requerente
a pagar aos requeridos honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) sobre
o valor da causa, tendo em vista que houve apresentação de defesa.
16. É como voto.
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VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau: Senhor Presidente, em princípio vou acompanhar o
Ministro Relator, mas gostaria de indagar o seguinte: ainda que eu já possa pressupor
qual será o resultado da suspeição, quando apreciada — porque já há um entendimento
pacífico da Corte —, a verdade é que, pelo que entendi, foi recusada a suspeição, mas o
processo ficou parado. É isso?
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Ainda não veio.
O Sr. Ministro Eros Grau: O prazo era de dez dias para que viesse.
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Mas não chegou. Aliás, eles rejeita-
ram a suspeição; cada um a rejeitou. O fato é que o Pleno do Tribunal de Justiça ainda
não remeteu os autos a esta Corte. É isso que interessa, não é?
O Sr. Ministro Eros Grau: Parece-me — estou levantando uma questão de ordem
agora — que, conforme o artigo 313 do Código de Processo Civil, em caso contrário, em
que não haja o reconhecimento, os autos deveriam ser enviados para cá.
Vou acompanhar o voto do eminente Ministro Relator, mas vou sugerir que Sua
Excelência tome uma providência com relação a essa afronta ao artigo 313 do CPC.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Ministro Relator, o pedido da ação
cautelar é que se conceda a suspensão liminar da lei ordinária, que seria outorgada
dentro dos autos da ADI, aqui ou lá. Agora, está-se pedindo isso na ação cautelar em
relação ao problema da suspeição.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, o objeto da cautelar é único, e ela
se mostra com eficácia substitutiva quanto a pedido que poderia ser veiculado no pró-
prio processo subjetivo. Articula-se, a meu ver até com certa incongruência, a suspeição
dos integrantes do Tribunal de Justiça quando lá foram ajuizadas, pelo próprio autor da
cautelar, as ações diretas. Agora — eu ponderaria, e meu voto será nesse sentido —, creio
que cumpre, no caso, declinar da competência para que o Tribunal de Justiça julgue a
cautelar como entender de direito, até para declarar o autor carecedor da ação.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Esse pedido foi objeto da ação?
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Nesse caso, existe uma ação dentro do Supremo
Tribunal Federal.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Sim, mas não se pede; aí é outra coisa também.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Já decidimos, depois de uma longa discussão
sobre o cabimento da ADI estadual à luz de normas de reprodução — normas da Consti-
tuição estadual, que reproduzem necessariamente normas da Constituição Federal (Rcl
383, Moreira Alves, RTJ 144/404). A maioria a entendeu cabível, contra o meu voto.
Mas, depois, o Tribunal decidiu que a ADI federal — digamos assim —, proposta perante
o Supremo Tribunal, com base em parâmetro da Constituição Federal, suspende a
estadual, fundada em normas locais de reprodução compulsória (Rcl 425, Néri, DJ de
22-10-93, ADI-MC 2.361, 11-10-01, Maurício, DJ de 1º-8-2003).
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Ministro Marco Aurélio, uma dúvida: o
pedido não é alternativo, porque todos eles pleiteiam um efeito suspensivo à lei ordinária.
O tempo do pedido é que se distingue para até o julgamento definitivo da ação direta do
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Mato Grosso — nós substituindo o Mato Grosso, claro —, ou até o julgamento do pedido
da liminar na ADI do Mato Grosso, ou, ainda, até o julgamento da suspeição lá no Mato
Grosso. Ou seja, em todas as hipóteses, o pedido que temos de decidir é o que se fez lá.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Se, por acaso, estiver havendo, quanto à apreciação
desta ou daquela matéria, usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal, que
se venha com a reclamação. Até dialogava com o Ministro Gilmar Mendes sobre estar-
mos acionando o artigo 12 da Lei n. 9.868/99. Meu receio é que agora se venha com mais
papéis, ou seja, com a formalização de ações, com a criação de outros processos para se
alcançar a medida acauteladora, quando o mais fácil seria peticionar no próprio processo,
em curso no Supremo Tribunal Federal ou onde estiver, já que a competência para a
cautelar é definida pelo juízo competente para a ação principal.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Como já lembrado pelo Ministro Sepúlveda Pertence,
o entendimento hoje dominante no Tribunal é no sentido de que, havendo essas ações
paralelas perante o Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal, ocorrerá a suspen-
são do processo no âmbito estadual; logo, não haveria sequer objeto. Talvez fosse um
julgamento da cautelar na ADI, no âmbito do Supremo Tribunal Federal.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Esta, não tem pedido de cautelar no Tribunal
de segundo grau.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Tem pedido de cautelar e foi convertida no artigo 12.
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Senhor Presidente, não conheço da ação.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, o Tribunal deu-se por competente.
Então, julgo o autor carecedor da ação proposta.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Então, Vossa Excelência não conhece
da ação.
EXTRATO DA ATA
AC 349/MT — Relator: Ministro Carlos Britto. Requerente: Associação dos
Notários e Registradores do Estado de Mato Grosso – ANOREG/MT (Advogados:
Lafayette Garcia Novaes Sobrinho e outro). Requeridos: Governador do Estado de
Mato Grosso (Advogado: PGE/MT – Alexandre Apolonio Callejas) e Assembléia
Legislativa do Estado de Mato Grosso (Advogado: Alexandre de Sandro Nery Ferreira).
Decisão: O Tribunal, por maioria, não conheceu da ação cautelar, nos termos do
voto do Relator, vencido o Ministro Marco Aurélio em relação à preliminar de conheci-
mento. Falou pela requerente o Dr. Lafayette Garcia Novaes Sobrinho. Presidiu o julga-
mento o Ministro Nelson Jobim.
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ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por maioria de votos, resolver a questão de ordem no sentido da compe-
tência do Supremo Tribunal Federal, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 4 de agosto de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Sepúlveda Pertence,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Cuida-se de ação proposta pelo Distrito Federal
contra a União, com o objetivo de obter o ressarcimento de remunerações e encargos
sociais pagos pelo autor a servidora da Câmara Legislativa do Distrito Federal, no período
em que esteve cedida ao Ministério dos Transportes, para o exercício de cargo em
comissão.
O Ministério Público Federal — parecer do il. Subprocurador-Geral Wallace Bastos,
aprovado pelo então Procurador-Geral da República — opinou pelo não-seguimento da
ação, por incompetência originária do Supremo Tribunal.
Extrato do parecer (fls. 194/195):
“(...) a jurisprudência pacífica dessa Colenda Corte está assentada no sentido
de que a hipótese de competência constitucional do STF, prevista na alínea f do
inciso I do art. 102 da Carta da República está restrita a casos excepcionais, em que
estejam em discussão os princípios informativos do pacto federativo, não incidindo,
portanto, naquelas situações em que o objeto da demanda seja de cunho exclusiva-
mente patrimonial, como ocorre na espécie dos autos.
22 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): A jurisprudência invocada no parecer
da Procuradoria-Geral é fruto do que já chamei de audaciosa redução teleológica na
inteligência da alínea f do art. 102, III, da Constituição, de modo a adstringir a sua
competência originária para causas cíveis em que entidades da Administração indireta
federal, estadual ou distrital contendam entre si ou com entidade política da Federação
diversa daquela a cuja estrutura se integrem àquelas nas quais, pelo objeto da ação ou a
natureza da questão envolvida, se reconheça “conflito federativo”.
Todos os precedentes que lastrearam dita orientação pretoriana são atinentes a
processos em que partes uma ou mais entidades da Administração indireta: confiram-se
tanto os casos em que — considerado o conteúdo da lide — se concluiu pela incompe-
tência do Tribunal (v.g., sob a Constituição vigente: ACO 396-QO, 28-3-90, RTJ 132/
109; ACO 417, 18-11-90, Pertence, RTJ 133/1059; ACO 359-QO, 4-8-93, Celso, RTJ 152/
366; Pet 1.286-AgR, 28-5-97, Ilmar, DJ de 29-5-98; ACO 509-AgR, 3-6-97, Velloso, RTJ
179/32; ACO 573-QO, Ilmar, RTJ 172/354; ACO 519-QO, 2-9-99, Néri, DJ de 28-4-00),
quanto aqueles outros nos quais — segundo o mesmo critério de ponderação das implica-
ções federativas do conflito —, o Supremo se declarou competente (v.g., ACO 477-QO, 18-
10-95, Moreira, RTJ 162/437 — domínio de terras devolutas disputado entre autarquia
federal e Estado-Membro; ACO 593-QO, 7-6-01, Néri, RTJ 182/420 — relativa a apro-
veitamento de potencial hidráulico; ACO 515-QO, 4-9-02, Ellen, RTJ 183/8 — atinente
a extensão da imunidade tributária recíproca à autarquia federal; ACO 730, 22-9-04,
Joaquim, DJ de 1º-10-04 — MS contra o Banco Central, a respeito do poder de CPI
estadual para requisitar quebra de sigilo bancário).
Ao contrário, quando o conflito se trava entre duas entidades políticas da Federa-
ção — União, Estado-membro e Distrito Federal —, o Tribunal tem invariavelmente
reconhecido a sua competência originária, independentemente da maior ou menor
relevância federativa do objeto ou das questões envolvidas na lide.
Assim, na ACO 447-QO, para rejeitar a preliminar de incompetência suscitada pela
PGR, o Tribunal, por votação unânime, acolheu o voto do Relator, em. Ministro Octavio
Galloti, para assentar, conforme a ementa — DJ de 14-5-93 e JSTF, Lex 177/5:
“Competência originária do Supremo Tribunal, anteriormente recusada por
não se caracterizar conflito federativo, em ação movida por empresa pública federal
(EBTU), contra o Distrito Federal.
Solução que não mais subsiste quando, liquidada a empresa, passa a União a
figurar formalmente como ré na relação processual (art. 102, I, f, da Constituição),
caso em que se impõe o reconhecimento da competência desta Corte.”
No voto condutor, frisou o Ministro Gallotti:
“O temperamento instituído pelo Tribunal em relação aos entes da adminis-
tração indireta, segundo a natureza da causa, não encontra lugar, em meu entender,
quando se passe a tratar de ação em que sejam formalmente partes, num pólo, a
União Federal e, no outro, algum Estado da Federação ou o Distrito Federal.
24 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Britto: Sr. Presidente, com a devida vênia do Ministro Relator,
acompanho a divergência apontada pelo Ministro Marco Aurélio.
EXTRATO DA ATA
ACO 555-QO/DF — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Autor: Distrito Federal
(Advogada: PGDF – Maria Zuleika de Oliveira Rocha). Ré: União (Advogado: Advogado-
Geral da União).
Decisão: O Tribunal, por maioria, resolveu a questão de ordem no sentido da
competência do Supremo Tribunal Federal, nos termos do voto do Relator, vencidos os
Ministros Marco Aurélio e Carlos Britto. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso
de Mello e Carlos Velloso. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joa-
quim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro
Gurgel Santos.
Brasília, 4 de agosto de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por maioria de votos, decidir a questão de ordem no sentido da competên-
cia originária do Supremo Tribunal Federal, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 4 de agosto de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Sepúlveda Pertence,
Relator.
26 R.T.J. — 196
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Cuida-se de ação civil pública ajuizada pelo
Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais — entidade autárquica federal, o
Sindicato dos Médicos de Minas Gerais e a Associação Médica de Minas Gerais, com
pedido de tutela antecipada, no Juízo Federal de primeira instância daquela unidade da
Federação, com o objetivo de obter a nulidade do Decreto 42.178, de 20 de dezembro de
2001, DOE de 21-12-2001, pelo qual o Governador do Estado de Minas Gerais credenciou
a Faculdade de Medicina de Caratinga, mantida pela Fundação Educacional de Caratinga,
e autorizou o funcionamento do respectivo Curso de Medicina.
Funda-se o pedido na ilegalidade e na inconstitucionalidade do decreto estadual,
por afronta à Lei 9.394/96 (Lei de ‘Diretrizes e Bases da Educação Nacional’) e aos
artigos 22, XXIV, e 24, IX — regras que determinam a competência privativa da União
para estabelecer as diretrizes e bases da educação nacional e para legislar concorrente-
mente sobre educação — bem como ao artigo 211, todos da Constituição Federal.
O Juiz Federal da 21ª Vara de Minas Gerais, invocando o artigo 102, I, f, da Consti-
tuição Federal, declinou da competência para o Supremo Tribunal Federal (fls. 621/626).
Extrato da decisão de primeiro grau:
“(...) No caso em pauta, em face da suspensão cautelar da eficácia do art. 58,
caput e seus parágrafos (com exceção do § 3º), da Lei 9.649/98, na decisão profe-
rida na ADI 1.717/DF pelo Supremo Tribunal Federal, as entidades fiscalizadoras
de profissões, entre elas o Conselho Regional de Medicina, retornaram a condição
de autarquias federais, dotadas de personalidade jurídica de direito público, inte-
grantes, portanto, da administração indireta.
Consoante se percebe, são conflitantes os interesses da autarquia federal de
fiscalização do exercício profissional (CRM) e o interesse do Estado-Membro que
credenciou e autorizou o funcionamento do Curso de Medicina, a despeito de se
tratar de instituição de ensino superior mantida pela iniciativa privada e, nestas
condições, apto a desencadear um possível desequilíbrio no pacto federativo tendo
em vista as normas encartadas na Lei Fundamental acerca da repartição de compe-
tência entre a União, Estados e o Distrito Federal para a organização de seus siste-
mas de ensino e ainda a competência privativa da União para legislar sobre diretri-
zes e bases da educação nacional.
Não desconheço que a competência prevista no art. 102, I, f, da Constituição
restringe-se, segundo iterativos julgados da Suprema Corte, às hipóteses de litígios
cuja potencialidade ofensiva revele-se apta a ofender o pacto federativo.
Conquanto reconheça que a autarquia em questão, tenha sede e estrutura
regional de representação no território estadual respectivo, na hipótese dos autos,
todavia o tema em questão (organização dos respectivos sistemas de ensino) poderá
deflagrar um possível desequilíbrio no pacto federativo, tendo em vista o disposto
no art. 81 e 82 e respectivos parágrafos, ambos do Ato das Disposições Transitórias
do Estado de Minas Gerais nos quais – não é demasiado recordar – o Estado-
Membro sustenta a sua competência para credenciar e autorizar o funcionamento do
Curso de Medicina ao fundamento de que a Fundação mantenedora do estabeleci-
mento educacional integra o Sistema Estadual de Ensino, a despeito de se tratar de
instituição de ensino superior mantida pela iniciativa privada”.
R.T.J. — 196 27
Após invocar precedente do STF (ACO-QO 593, Néri da Silveira), no qual se deci-
diu pela competência deste Tribunal para “julgar demanda que comprometa o equilí-
brio federativo e ainda disponha a respeito de competências no âmbito federativo”,
continua o magistrado:
“No caso sob apreciação, a competência da Suprema Corte para conhecer e
julgar a questão se revela ainda mais evidente quando se verifica que os arts. 81 e
82, ambos do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição
do Estado de Minas Gerais, estão sendo alvo de controle concentrado de
constitucionalidade mediante a propositura da ADI 2.501-5, Rel. o Sr. Ministro
Moreira Alves, tendo o Tribunal conhecido parcialmente da ação relativamente
aos parágrafos primeiro e segundo do art. 81 e ao artigo 82, com exceção do
parágrafo terceiro, mas nesta parte, indeferido a medida cautelar, para suspender-
lhes a eficácia.
Diante deste quadro, o pano de fundo da presente ação — notadamente a
alegada impossibilidade de a instituição de ensino superior mantida pela iniciativa
privada permanecer sob a supervisão pedagógica do Conselho Estadual de Educação
(art. 82, parágrafo primeiro, inciso II, do Ato das Disposições Constitucionais Tran-
sitórias da Constituição do Estado de Minas Gerais — continua pendente de apre-
ciação pela Suprema Corte a recomendar o julgamento simultâneo e decisão uni-
forme dos feitos”.
A Procuradoria-Geral da República, em parecer do eminente Procurador-Geral
Cláudio Fonteles, opina pela devolução dos autos ao Juízo de origem, competente, no
seu entender, para a causa.
Lê-se no parecer (fls. 642/648):
“Manifestando-se acerca do alcance da norma prevista o artigo 102, inciso I,
alínea f, da Constituição Federal, este Excelso Pretório “tem enfatizado o seu
caráter de absoluta excepcionalidade, restringindo a sua incidência às hipóteses
de litígios cuja potencialidade ofensiva revele-se apta a vulnerar os valores que
informam o princípio fundamental que rege, em nosso ordenamento jurídico, o
pacto da Federação. Ausente qualquer situação que introduza a instabilidade no
equilíbrio federativo ou que ocasione a ruptura da harmonia que deve prevalecer
nas relações entre as entidades integrantes do Estado Federal, deixa de incidir, ante
a inocorrência dos seus pressupostos de atuação, a norma de competência prevista
no art. 102, I, f, da Constituição”. (STF – Tribunal Pleno – ACO 359 QO/SP.
Ministro-Relator: Celso de Mello, D.J. de 11.03.1994, p. 4110).
(...)
Depreende-se da análise dos autos que o âmago da discussão em apreço
circunscreve-se a possível usurpação de competência da União para “autorizar,
reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das ins-
tituições de educação superior”, criadas e mantidas pela iniciativa privada, conso-
ante preceituam os artigos 9º e 16, da Lei Federal n. 9394/96.
A despeito da regra jurídica supracitada, releva ressaltar que, eventual
usurpação da competência da União, como no presente caso, não tem o condão de
28 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Não têm pertinência à espécie os
precedentes recordados no parecer da Procuradoria-Geral da República, nos quais o
Tribunal se declarou incompetente.
Assim, v.g., na ACO 417, Pertence, cuidava-se de mera ação de cobrança de contri-
buições previdenciárias movida pelo Iapas contra Estado-Membro; na ACO 597, Celso,
instituição financeira de economia mista questionava “a validade jurídica de opera-
ções de índole financeira e de conteúdo negocial e obrigacional”.
Para temas como esses, de cunho meramente patrimonial, é que entendo sustentável
a “redução teleológica” a que procedeu o Tribunal na dicção literal do art. 102, I, f, da
Constituição.
Ao contrário, não há como negar que é desta Corte a competência originária para
conhecer de causa em que pessoas jurídicas relacionadas naquele inciso litigam acerca
da divisão constitucional de competência entre a União e os Estados-Membros.
Nesse sentido, por exemplo, a afirmação da competência originária do Supremo na
ACO 593, 7-6-01, Relator o em. Ministro Néri da Silveira, que dizia “com as compe-
tências da União Federal e dos Estados, acerca do aproveitamento dos potenciais hidráu-
licos e da realização de obras atingindo rios de curso interestadual e ainda a respeito
30 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
ACO 684-QO/MG — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Autores: Conselho
Regional de Medicina de Minas Gerais e outro (Advogados: Paulo Neves de Carvalho e
outro, Silmara Nogueira Vidal e outro). Réu: Estado de Minas Gerais (Advogado: PGE/
MG – Roney Luiz Torres Alves da Silva). Litisconsorte Passivo: Fundação Educacional de
Caratinga – FUNEC (Advogado: Thales Rezende Coelho Alves).
Decisão: O Tribunal, por maioria, decidiu a questão de ordem no sentido da
competência originária do Supremo Tribunal Federal, nos termos do voto do Relator,
vencidos os Ministros Marco Aurélio e Carlos Britto. Ausentes, justificadamente, os
Ministros Celso de Mello e Carlos Velloso. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson
Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joa-
quim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro
Gurgel Santos.
Brasília, 4 de agosto de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
R.T.J. — 196 31
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
conhecer do agravo regimental na ação cautelar, mas lhe negar provimento, nos termos
do voto do Relator.
Brasília, 19 de abril de 2005 — Sepúlveda Pertence, Presidente — Carlos Ayres
Britto, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Trata-se de agravo regimental contra decisão
que indeferiu o requerimento de liminar, feito em ação cautelar; esta ajuizada com o
objetivo de imprimir efeito suspensivo ao RE 429.167, interposto pelo Deputado
estadual rondoniano Marcos Antônio Donadon.
2. Começo por esclarecer que o referido parlamentar responde a uma ação penal no
Tribunal de Justiça, por crimes contra a Administração Pública estadual, que ele teria
praticado quando exercia o cargo de Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de
Rondônia. Crimes previstos nos artigos 288 e 312 do Código Penal (quadrilha ou bando
e peculato).
32 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Atesto, inicialmente, que a decisão
agravada foi proferida em 30-3-2005, quando a urgência do pedido se media pela imi-
nência do interrogatório do requerente, marcado para o dia seguinte. Como o interroga-
tório já foi realizado, a inquietação do agravante volta-se para a audiência destinada à
oitiva das testemunhas de acusação, designada para o dia 27-4-2005.
14. Feito esse esclarecimento, transcrevo a parte nuclear da decisão agravada, in
verbis (fl. 107):
“11. Resta a aparência do bom direito, a ser extraída da dicção do art. 53, § 3º,
da Carta de Outubro, que tem o seguinte teor:
“Art. 53 (...)
§ 3º Recebida a denúncia contra Senador ou Deputado, por crime ocor-
rido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa
respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo
voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o anda-
mento da ação.”
12. Ora, não me cabe fazer nenhum prejulgamento de mérito, neste passo.
Mas a primeira leitura que se faz do texto acima transcrito traz a idéia de que a
diplomação, no caso, é aquela que deu origem ao mandato atual do parlamentar,
numa relação de causa e conseqüência. Mandatos anteriores resultaram de
diplomações que já exauriram seus efeitos. Assim, fica difícil, à primeira vista,
projetar a imunidade processual de uma investidura para outra, transitando-se no
tempo sem respeitar os marcos fixados por duas manifestações distintas da vontade
popular. Afinal, um mandato não é continuação do outro.
13. Por isso é que a tese do recorrente merece maior reflexão, a ser feita
oportunamente nos autos do recurso extraordinário, se ultrapassada a fase do
conhecimento.
14. Não é caso, portanto, de liminar. É caso, sim, de dar-se vista ao Ministério
Público Federal, seja porque lá se encontram os autos principais, seja porque o
requerido, aqui, é o Ministério Público Estadual.”
15. Devo informar aos eminentes Pares que, neste ínterim, a douta Procuradoria-
Geral da República exarou parecer sobre a matéria, manifestando-se “pelo conhecimento
em parte do recurso e, nesta, pelo seu improvimento”.
16. Em face deste quadro, seria mais prático realizar, primeiramente, o exame do
apelo extremo, que poderia implicar o prejuízo deste agravo e, por extensão, da própria
cautelar, por perda de objeto. Mas o julgamento daquele recurso depende de pauta e de
outras formalidades que certamente não se cumprirão até o dia 27-4-2005. Então, para
não frustrar a expectativa da parte, trago a decisão combatida à elevada apreciação da
Turma. E desde já confirmo o meu entendimento de que não se faz presente um dos
requisitos necessários ao deferimento da cautelar, qual seja, o fumus boni iuris.
34 R.T.J. — 196
17. Bem ao contrário, os precedentes desta Casa de Justiça consagram tese jurídica
em colisão com a defendida pela parte acionante. Refiro-me aos julgamentos que tinham
como objeto a EC 35/2001, todos no sentido da aplicabilidade imediata das novas
regras, pelo seu cunho processual.
18. Neste passo, cabe citar, entre outras, a decisão proferida pelo Relator do Inquérito
1.637, Ministro Celso de Melo, da qual extraio o seguinte trecho (que passo a acolher no
seu exclusivo aspecto de Direito Processual):
“Torna-se relevante observar, neste ponto — considerado o princípio da
incidência imediata das normas constitucionais (Pontes de Miranda, Comentários
à Constituição de 1967 com a Emenda n. 1 de 1969, tomo VI/385 e 392, 2ª ed./2ª
tir., 1974, RT) —, que estas, salvo disposição em sentido contrário, alcançam,
desde logo, situações em curso (RTJ 143/306-307, Rel. Min. Celso de Mello), o
que legitima a pronta aplicabilidade da EC n. 35/2001, inclusive no que se refere
à desnecessidade da solicitação, por parte do Supremo Tribunal Federal, de prévia
licença, ainda que se cuide de fatos delituosos ocorridos anteriormente à promul-
gação da referida emenda constitucional, pois, conforme tem salientado a jurispru-
dência desta Suprema Corte, a aplicação de qualquer nova regra de direito consti-
tucional positivo rege-se pelo postulado da imediatidade eficacial.”
19. Disse, mais, Sua Excelência, em passagem que se identifica com o presente
caso, in verbis:
“A EC n. 35/2001, ao introduzir modificações no art. 53 da Carta da República,
suprimiu, para efeito de prosseguimento da persecutio criminis, a necessidade de
licença parlamentar, distinguindo, ainda, entre delitos ocorridos antes e após a
diplomação, para admitir, somente quanto a estes últimos, a possibilidade de sus-
pensão do curso da ação penal (CF, art. 53, §§ 3º a 5º).”
20. Pelo exposto, voto pelo desprovimento do agravo regimental.
EXTRATO DA ATA
AC 700-AgR/RO — Relator: Ministro Carlos Britto. Agravante: Marcos Antônio
Donadon (Advogados: Bruno Rodrigues e outro). Agravado: Ministério Público do
Estado de Rondônia.
Decisão: A Turma conheceu do agravo regimental na ação cautelar, mas lhe negou
provimento, nos termos do voto do Relator. Unânime. Não participou deste julgamento
o Ministro Marco Aurélio. Ausente, justificadamente, o Ministro Eros Grau.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso e Carlos Britto. Ausente, justificadamente, o Ministro Eros Grau.
Subprocurador-Geral da República, Dr. Eitel Santiago de Brito Pereira.
Brasília, 19 de abril de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
R.T.J. — 196 35
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, conceder o pedido de extensão na extradição,
restrita aos crimes de fraude comercial, falsificação de documentos e de falsificação de
documentos de identidade, tudo nos termos do Relator.
Brasília, 31 de agosto de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Sepúlveda Pertence,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Em setembro de 2003, o Governo da Suíça,
fundado em ordem de prisão preventiva emitida pelo Juizado de Instrução Criminal,
Seção III, de Bern-Mittelland, datada de 19-8-2003, requereu a extradição de Thomas
Remmele para responder pelos crimes de desfalque (Código Penal suíço, artigo 138,
cifra I), fraude comercial (Código Penal suíço, art. 146, parágrafos 1, 2 e 3), falsificação
de documentos (Código Penal suíço, art. 251), falsificação de documento de identidade
(Código Penal suíço, art. 252) e infração contra as leis de trânsito por excesso de veloci-
dade (art. 27, parágrafo 1, e art. 90, cifra 2 SVG).
O pedido de extradição, julgado em 31-3-2004, foi deferido em parte, apenas no
tocante aos delitos de fraude comercial (art. 146 do Código Penal suíço), falsificação de
documentos (art. 251 do Código Penal suíço) e falsificação de documento de identidade
(art. 252 do Código Penal suíço).
Quanto às demais acusações — a de desfalque (art. 138, I, do Código Penal suíço)
e a de infração contra as leis de trânsito (artigo 90 do Código de Trânsito suíço) — a
extradição foi indeferida por falta de tipicidade penal no direito brasileiro.
36 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Colho do parecer do em. Procurador-
Geral da República:
“Ab initio, cumpre apontar que a jurisprudência do e. STF admite a extensão
da extradição de modo a abranger fatos anteriores ao pedido extradicional deferido.
Vale citar:
Despacho: “Decisão. Pedido de extensão de extradição - Interrogatório.
1. O Governo da Itália formaliza pedido de extensão da Extradição 716-5,
deferida parcialmente em 18 de novembro de 1997 (folha 146 a 163) e
executada no dia 16 de agosto de 2000 (folha 540), com a entrega do extra-
ditando Clemente Ferrara às autoridades policiais daquele País. 2. A Corte,
em entendimento reiterado - Questão de Ordem na Extradição n. 444, Questão
de Ordem na Extradição n. 462 e Extradição 840 - sobre o que versa o artigo
91, inciso I, da Lei 6.815/80, estabeleceu que o Estado requerente de extradi-
ção já concedida pode solicitar a extensão para a persecução penal pela
prática de delito diverso do que motivou o primeiro pedido desde que tenha
sido praticado em momento anterior ao deferimento do pleito (...)” ( Ext.
716 – extensão. Rel. Min. Marco Aurélio. DJ de 06/06/2005).
Se não bastasse, a hipótese é objeto do Tratado de Extradição firmado entre
o Brasil e a Suíça, previsto no seu artigo V:
“Art. V
A pessoa extraditada não poderá ser processada nem punida por qual-
quer delito perpetrado antes da extradição e diverso do que motivou o pedido,
salvo se o Estado requerido houver consentido em processos ulteriores (...)”.
Desta forma, o Ministério Público Federal opina pelo processamento do pleito.
Ultrapassada tal preliminar, verifica-se, da análise deste processo, que o Estado
requerente dispõe da competência jurisdicional para processar e julgar os delitos
imputados a Thomas Remmele, que é nacional Suíço (fls. 138) e naquele país teria
cometido os ilícitos penais de que é acusado, conforme informações constante a
fls. 138/143 (art. 78, inc. I, da Lei n. 6.815/80). Vislumbra-se, também, presentes
nos autos todos os documentos necessários ao pedido formal de extradição
elencados no art. 80 do Estatuto do Estrangeiro, traduzidos para o português, de
modo a permitir ao e. Supremo Tribunal Federal o exame seguro da legalidade da
pretensão extradicional.
Quanto ao requisito da dupla tipicidade (art. 77, inc. II, do Estatuto do Es-
trangeiro) há de se salientar que:
São imputados ao nacional suíço, em síntese, os seguintes fatos:
a) No dia 27 de 03 de 2001 o Banco GE Capital Bank Brugg denun-
ciou Dennler Tobias e Rosser Patrick por causa de fraude. As investigações
revelaram que Remmele Thomas tinha atuado com estes nomes e que tinha
submetido para o Banco GE Capital Bank Brugg 26 pedidos de financiamento
R.T.J. — 196 39
EXTRATO DA ATA
Ext 900 – Extensão/Confederação Helvética. Relator: Ministro Sepúlveda Pertence.
Requerente: Governo da Suíça (Advogados: J. J. Safe Carneiro e Tereza Safe Carneiro e
outra). Extraditando: Thomas Remmele (Advogado: DPU – Sérgio Alexandre Menezes
Habib).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, concedeu o pedido de extensão na extradi-
ção, restrita aos crimes de fraude comercial, falsificação de documentos e de falsificação
de documento de identidade, tudo nos termos do voto do Relator. Ausente, justificada-
mente, o Ministro Gilmar Mendes. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Cezar Peluso,
Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da República, Dr. Anto-
nio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 31 de agosto de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
R.T.J. — 196 43
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a presidência do Ministro Nelson Jobim, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
deferir, em parte, a extradição, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 8 de setembro de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Gilmar Mendes,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Trata-se de pedido de extradição formulado pelo
Governo dos Estados Unidos da América, por via diplomática, com base no Tratado de
Extradição firmado pelos dois países em 13 de janeiro de 1961 e promulgado pelo
Decreto n. 55.750, de 11 de fevereiro de 1965, do nacional norte-americano Ronald
Peter Eichberg Leeds, encaminhado na forma do Aviso n. 354/MJ, de 4 de fevereiro de
2004, do Ministro da Justiça (fl. 02).
O Procurador-Geral da República, Dr. Claudio Fonteles, assim relata a controvérsia
(fls. 189-192):
“O Governo dos Estados Unidos da América formaliza e remete os documentos
justificativos - fls. 12 a 118 - do pedido de extradição de seu nacional Ronald Peter
Eichberg Leeds, tendo por fundamento os artigos 82 da Lei 6.815/80, e VIII do
Tratado de Extradição firmado entre o Brasil e o Governo Americano - Decreto n.
55.750/65.
2. A prisão preventiva do extraditando foi efetivada no dia 19 de novembro
de 2003 (fls. 35), encontrando-se atualmente recolhido nas dependências do presí-
dio ‘Adriano Marrey’, em Guarulhos , Estado de São Paulo (fls. 145).
3. O nacional norte-americano foi pronunciado (anexo b - fls. 87/100) por um
Grande Júri pelos seguintes delitos:
44 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Quanto aos aspectos formais da extradi-
ção, assim se manifesta a Procuradoria-Geral da República (fl. 193):
“10. O pedido extradicional está instruído com os documentos a que se refere
o art. IX, 2 do Tratado de Extradição entre o Brasil e os Estados Unidos, devida-
mente autenticados e traduzidos para a língua portuguesa, acompanhado dos ori-
ginais em inglês (fls. 12/117).
11. Da análise do presente pleito, verifica-se que o Estado requerente dispõe
da competência jurisdicional, para processar e julgar esses delitos imputados ao
extraditando, que é nacional norte-americano, e naquele país teria cometido os
ilícitos penais de que é acusado (art. 78, inc. I, da Lei n. 6.815/80).
12. O pedido vem instruído com a decisão de recebimento de denúncia -
indictment - (fls. 87/100) e o mandado de captura de 15.11.2002 (fls. 102) e os
demais documentos exigidos pela Lei n. 6.815/80 e pelo Tratado de Extradição
R.T.J. — 196 47
celebrados entre os dois países, havendo indicações seguras sobre o local, data,
natureza e circunstâncias dos fatos delituosos, bem como com cópia dos textos
legais pertinentes (fls. 12/118) de modo a permitir ao Supremo Tribunal Federal o
exame seguro da legalidade da pretensão extradicional.”
Na espécie, também não parece haver dúvida no tocante ao requisito da dupla
tipicidade, pelo menos quanto aos crimes igualmente tipificados no ordenamento jurí-
dico brasileiro. A propósito, anota a manifestação da Procuradoria-Geral da República
(fls. 193-195):
“13. Está satisfeita a exigência de dupla tipicidade, consoante o Direito do
Estado requerente e o brasileiro, ao menos no que diz respeito aos delitos de fraude
postal e fraude telegráfica (estelionato no Brasil).
14. Como visto, no item 3, retro, o extraditando e seus dois comparsas enga-
naram terceiros inocentes com astúcia, nas transações efetivadas, de forma a obter
o dinheiro deles, alegando que o dinheiro investido geraria lucros exorbitantes, a
fim de convencê-los a investir cada vez mais.
15. O fato de se tratar de fraude telegráfica e postal não descaracteriza o
estelionato, pois, o que é importante considerar aqui é que o tipo penal estrangeiro
(Título 18 Seção 1341 e 1343) contém todas as elementares do delito do
estelionato (art. 171 do CP). Neste ponto vale transcrever trecho do parecer do il.
colega, Edson Oliveira de Almeida, na Extradição n. 761:
‘Não, pois, há como acolher a alegação de que se trata de crime
falimentar. Na verdade, o extraditando e seus dois comparsas, operando em-
presas de fachada, praticaram uma série de estelionatos continuados, lesando
vários comerciantes, induzidos em erro pelo golpe aplicado. E, muito embora
a peculiaridade da lei norte-americana, o estelionato também deve ser tido
como caracterizado. O fato de se tratar de fraud by wire (fraude por fio,
rádio ou televisão) não tem, no caso, o relevo sustentado pela defesa. O
recurso da telecomunicação interestadual não é, no caso, elementar do tipo,
e sim mero instrumento de comunicação do meio ardiloso e fraudulento do
qual os acusados lançaram mão para induzir os fornecedores em erro, cau-
sando-lhes prejuízo patrimonial. A telecomunicação, cabe repetir, não é
elementar do tipo, figurando aí apenas como critério para fixação da
competência da Justiça Federal norte-americana. O que é importante consi-
derar é que, independentemente da forma com que os acusados se comunica-
ram com os lesados, o tipo penal estrangeiro (Título 18, Seção 1343 do
U.S.C.) contém todas as elementares do delito de estelionato.’ (Ext 761/EU,
DJ 12.05.00 p. 00020).
(...)
18. Contudo quanto aos crimes imputados ao extraditando de conspiração
para a fraude e de transporte de valores ilicitamente obtidos, não há, conforme
entendimento adotado na Ext. 761, correspondência típica na legislação pátria.
19. Na linha seguida no julgamento acima referido a conspiração poderia, em
tese, corresponder no Brasil, ao de quadrilha, mas este exige participação de mais
de três pessoas. Sucede que no caso em estudo há apenas a participação de três
pessoas.
48 R.T.J. — 196
20. Com referência ao delito do Título 18, Seção 2.314, do Código dos
Estados Unidos - transporte de valores ilicitamente obtidos -, observa-se que tam-
bém não há no direito brasileiro correspondência como crime autônomo, pois, no
Brasil é considerado transporte do próprio proveito do crime de estelionato e neste
absorvido, consoante dispõe ementa proferida na Extradição n. 761:
‘Ementa: Extradição. Dupla tipicidade prescrição. Crimes de fraude
(estelionato), de operação financeira ilegal (remessa ilegal de divisa), de
transporte de valores ilicitamente obtidos e de conspiração (quadrilha).
Estando preenchidos todos os requisitos legais e não ocorrendo qualquer das
hipóteses previstas no art. 75 da Lei n. 6.815, de 19.08.1980, modificada pela
Lei n 6.964, de 09.12.1981, defere-se a Extradição, quanto aos delitos de
fraude (estelionato, no Brasil) e de operação financeira ilegal (aqui, remessa
ilegal de divisas). Não, porém, quanto aos crimes de transporte de valores
ilicitamente obtidos e de conspiração, pois o primeiro, no Brasil, é conside-
rado transporte do próprio proveito do crime de estelionato e neste absorvi-
do. E o outro, o de conspiração, poderia, no Brasil, ser assemelhado ao de
quadrilha, se dela houvessem participado mais de três pessoas (art. 288 do
Código Penal), o que, no caso, não ocorreu. Inocorrência de prescrição, seja
pelo Direito norte-americano, seja pelo brasileiro. Deferimento parcial do
pedido de Extradição, nos termos do voto do Relator. Decisão unânime.’ (Ext
761/EU, Rel Min. Sydney Sanches, DJ. 12.05.00, p. 00020).”
No que se refere à prescrição, registra-se que as causas pelas quais o extraditando
está sendo acusado, no tocante às imputações com correspondência no Direito Penal
brasileiro, prescrevem em 12 anos. Considerando que os atos delituosos datam de 2001,
não há falar em ocorrência de lapso prescricional segundo o Direito brasileiro e o Direito
americano. Sobre este ponto, anotou a Procuradoria-Geral da República (fl. 194):
“16. E no que se refere a essas imputações, não ocorreu, ainda a prescrição da
pretensão punitiva, seja em face da legislação norte-americana (U.S.C Título 18 §
3282), seja pela brasileira, que prevê, para o crime do art. 171 do Código Penal a
prescrição em 12 anos (inc. III, art. 109, do CPB).
17. Pela legislação norte-americana, a prescrição só ocorre se a ação penal
não é instaurada ou não há o recebimento da denúncia dentro de cinco anos após
o fato delituoso (fls. 72). Uma vez proferida o indictment, cessa o curso da prescri-
ção. No caso, os fatos ocorreram entre janeiro de 1998 e dezembro de 1999 e a
decisão de recebimento da denúncia foi proferida em 15 de dezembro de 2003 (fls.
82), dentro, portanto, do prazo de cinco anos, previsto no referido Título 18, Seção
3282 do Código dos Estados Unidos, lembrando que, em face da revelia do extra-
ditando, o processo permanece suspenso.”
No que se refere à alegada inocência do extraditando, o parecer, com base em
precedente desta Corte, anota (fls. 195-196):
“21. Quanto à inocência alegada pelo extraditando vale lembrar que ‘o sistema
de contenciosidade limitada, que caracteriza o regime jurídico da extradição
passiva no direito positivo brasileiro, não permite qualquer indagação probatória
pertinente ao ilícito criminal, cuja persecução no exterior justificou o ajuizamento
e da demanda extradicional perante o Supremo Tribunal Federal’. (Ext 545-6, Rel.
Acórdão Min. Celso de Mello, DJ 13-2-98).
R.T.J. — 196 49
EXTRATO DA ATA
Ext 915/Estados Unidos da América — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Reque-
rente: Governo dos Estados Unidos da América. Extraditando: Ronald Peter Eichberg
Leeds (Advogados: Moacir Anttonio Miguel e outra).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, deferiu, em parte, a extradição, nos termos
do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello e Eros
Grau. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
50 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, por seu Tribunal Pleno, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
indeferir a extradição, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 19 de maio de 2005 — Ellen Gracie, Presidente — Carlos Ayres Britto,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Cuida-se de pedido de extradição feito pelo
Estado da Argentina, em desfavor do Antenor Danilo de Oliveira Batista. Pedido que se
fundamenta em processo penal por crime de “homicídio em ocasião de roubo” e que se
baseia no Tratado de Extradição firmado com o Brasil em 15 de novembro de 1961.
2. Pois bem, na forma dos artigos 76 e 82 da Lei n. 6.815/80, deferi o pedido de
prisão cautelar e determinei a expedição de mandado de captura, a ser cumprido pelo
Departamento de Polícia Federal (fl. 39).
3. De sua parte, o Ministro da Justiça, por meio do Aviso n. 3.464, informou que o
extraditando é brasileiro e atualmente cumpre pena de dez anos e seis meses no Presídio
de Santo Cristo, Estado do Rio Grande do Sul, por crime de roubo e extorsão (fl. 54).
R.T.J. — 196 51
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Feito o relatório, passo ao voto.
8. Conforme visto, o pedido de extradição de Antenor Danilo de Oliveira Batista
não comporta deferimento.
9. Em verdade, da análise das certidões de fls. 71 e 75, verifica-se que o extraditando
nasceu no Estado do Rio Grande do Sul e é filho de Florentino José Batista e Adelina Paz
de Oliveira, ambos brasileiros.
10. Sob este visual das coisas, é preciso lembrar que o Brasil proíbe a extradição de
brasileiros, de forma terminante e solene, não só na lei ordinária como também no texto
constitucional. E o faz nos termos seguintes:
“Art. 5º (...)
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de
crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;”
11. Noutra vertente, estando impossibilitado de atender ao pedido de cooperação
internacional, deve o Brasil, nesses casos, assumir a obrigação de proceder contra o
extraditando de modo a evitar a impunidade do nacional que delinqüiu alhures. Trata-se,
portanto, da efetivação do princípio universal do aut dedere aut judicare, segundo o
qual o Estado-requerido deve assumir a posição de guardião do interesse internacional
comum.
12. Nessa contextura, ante a inviabilidade do pedido extradicional, voto pelo seu
indeferimento. Voto, ainda, pela remessa de cópia dos autos para o douto Juízo da
Comarca de Santo Cristo, de modo que o brasileiro se exponha a processo criminal, nos
termos do artigo 88 do Código de Processo Penal brasileiro.
52 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
Ext 916/República Argentina. Relator: Ministro Carlos Britto. Requerente: Go-
verno da República Argentina. Extraditando: Antenor Danilo de Oliveira Batista ou
Gringo.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, indeferiu a extradição, nos termos do voto
do Relator. Ausentes, justificadamente, os Ministros Nelson Jobim (Presidente), Celso
de Mello e Gilmar Mendes. Presidiu o julgamento a Ministra Ellen Gracie (Vice-Presi-
dente).
Presidência da Ministra Ellen Gracie (Vice-Presidente). Presentes à sessão os Mi-
nistros Sepúlveda Pertence, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto,
Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando
Barros e Silva de Souza.
Brasília, 19 de maio de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade, deferir o pedido de extradição, nos termos do voto do
Relator. Ausente, justificadamente, o Ministro Carlos Britto.
Brasília, 31 de março de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Carlos Velloso,
Relator.
R.T.J. — 196 53
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: O Sr. Ministro de Estado da Justiça encaminhou a
esta Corte, nos termos do art. 84 da Lei 6.815/80, alterada pela Lei 6.964/81, e do
Tratado de Extradição existente entre o Brasil e a Itália, os documentos justificadores e
formalizadores do pedido de extradição formulado pelo Governo da República Italiana
contra o nacional italiano Fábio Franco, que teve contra si expedidas três ordens de
prisão pelo Juiz de investigações preliminares junto ao Tribunal de Lecce, pelos crimes
de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes, detenção de armas, receptação, formação
de quadrilha de cunho mafioso, formação de quadrilha finalizada ao tráfico ilícito de
substâncias entorpecentes, homicídio premeditado grave, tentativa de homicídio pre-
meditado grave e porte ilegal de armas em lugar público.
Nos autos da PPE 462 (fl. 13 do apenso), decretei a prisão preventiva do extraditando,
que foi efetivada em 3-2-2004 (fl. 26 do apenso).
À fl. 217, em atenção a requerimento formulado pela Interpol, autorizei a transfe-
rência do extraditando para o Presídio de Segurança Máxima de Presidente Bernardes,
tendo em conta a notícia de possível tentativa de resgate armado do extraditando.
Ao ser interrogado, às fls. 573-585, o extraditando negou o seu envolvimento nos
fatos ilícitos e declarou ter interesse em retornar à Itália para se defender das acusações.
Na defesa de fls. 573/585, o extraditando, preliminarmente, sustenta que a sua
custódia no Presídio de Segurança Máxima de Presidente Bernardes/SP, além de não
estar devidamente fundamentada, não observou o disposto na Lei 10.792/2003, que
regula o regime disciplinar diferenciado a que está sujeito. No mérito, concorda com o
pedido de extradição, desde que lhe sejam garantidas, em caso de condenação, a não-
aplicação de pena de morte ou de prisão perpétua e a exclusão do crime de “associação
mafiosa”, por não encontrar correspondente no direito brasileiro.
O Ministério Público Federal, às fls. 606-611, pelo parecer do eminente Procura-
dor-Geral, Professor Cláudio Fonteles, opina no sentido do deferimento do pedido de
extradição.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): A República Italiana pede a extradição —
extradição instrutória — do nacional italiano Fabio Franco, contra quem foram expedidos
mandados de prisão, entre 2001 e 2003, pelo Juiz de Investigações Preliminares do
Tribunal de Lecce, pelos crimes de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes, detenção
de armas, receptação, formação de quadrilha de cunho mafioso, formação de quadrilha
finalizada ao tráfico ilícito de substâncias entorpecentes, homicídio premeditado grave
e tentativa de homicídio grave premeditado (fls. 4-188). A Nota Verbal n. 61, à fl. 4, dá
notícia da expedição de três mandados de prisão pelo Juiz do Tribunal de Lecce, pelos
delitos mencionados.
Oficiando nos autos, às fls. 606-611, pronunciou-se o Procurador-Geral da Repú-
blica, Professor Cláudio Fonteles, pelo deferimento do pedido de extradição. Destaco do
seu parecer:
54 R.T.J. — 196
“(...)
6. Com efeito, o pedido do governo italiano reúne condições para ser deferido.
7. Preliminarmente, observe-se que foi respeitado o prazo de 40 (quarenta)
dias entre a comunicação da prisão preventiva e o requerimento formal de extradi-
ção, previsto no artigo XIII, item 4, do Tratado de Extradição celebrado entre o
Brasil e a Itália. A embaixada do país requerente foi formalmente cientificada da
efetivação da prisão preventiva para fins de extradição no dia 10.02.2004 (fl. 37 da
PPE n. 462, em apenso). O pleito de extradição, a seu turno, foi formulado no dia 10
de março de 2004 (fl. 4), portanto, rigorosamente dentro do prazo previsto no
tratado específico.
8. Ademais, é inegável que o estado requerente dispõe de competência
jurisdicional para processar e julgar os delitos imputados ao extraditando, que é
nacional italiano e naquele país teria cometido os ilícitos penais de que é acusado.
9. O pedido vem instruído com os decretos de prisão e os demais documentos
exigidos pela Lei n. 6.815/80 e pelo Tratado de Extradição celebrado entre os dois
países, havendo indicações seguras sobre o local, data, natureza e circunstâncias
dos fatos delituosos, com cópia dos textos legais pertinentes, todos traduzidos
para o português, de modo a permitir ao Supremo Tribunal Federal o exame seguro
da legalidade da pretensão extradicional (fls. 4-188).
10. Passemos a análise do contido em cada uma das ordens de prisão
expedidas pela justiça italiana.
11. Em 22 de novembro de 2001, o Juiz de investigações preliminares junto
ao Tribunal de Lecce ordenou a prisão do ora extraditando pelos crimes de tráfico
ilícito de substâncias entorpecentes (arts. 81 e 110 do CP Italiano, art. 73, § 1º e 80
do DPR n. 309/90), detenção de armas (art. 2 da Lei n. 895/67) e receptação (art.
648 do CP Italiano), por fatos ocorridos em novembro de 2001 (processo n. 9875/
01 RGIP, fls. 14-17). Os fatos tidos por criminosos estão devidamente descritos. Há
dupla tipicidade. O crime punido pelo art. 73, § 1º e 80 do DPR n. 309/90, qual
seja, ‘tráfico ilícito de substâncias entorpecentes’, encontra correspondente no
tipo penal brasileiro previsto no art. 12 da Lei n. 6368/76. O crime de ‘detenção de
armas’ tipificado pelo art. 2 da Lei n. 895/67, no ano de 2001, encontrava corres-
pondência no art. 10 da Lei n. 9437/97 e, atualmente, está previsto no art. 10 da Lei
n. 10826/2003. Por fim, a ‘receptação’, que trata o art. 648 do CP Italiano,
corresponde ao delito tipificado no art. 180 do CP. Em virtude dos fatos criminosos
terem sido cometidos recentemente, não se verifica a ocorrência de prescrição de
nenhum dos crimes antes mencionados, seja em face da legislação italiana, seja da
brasileira.
12. Em 10 de abril de 2003, o Juiz de investigações preliminares junto ao
Tribunal de Lecce determinou a prisão do extraditando pelos crimes formação de
quadrilha de cunho mafioso, formação de quadrilha finalizada ao tráfico ilícito de
substâncias entorpecentes e tráfico ilícito das mesmas substâncias, por fatos ocor-
ridos até março de 2003 (processo n. 2577/2003, fls. 47-72). Os fatos tidos por
criminosos estão devidamente descritos. Há dupla tipicidade. O crime punido pelo
art. 416 bis, e parágrafos, do Código Penal Italiano, qual seja, ‘associação armada
de tipo mafioso’, encontra correspondente no tipo genérico da lei brasileira (crime
R.T.J. — 196 55
de quadrilha ou bando - CP, art. 288, parágrafo único). O tipo insculpido no art. 74
do DPR n. 309/90 ‘formação de quadrilha finalizada ao tráfico ilícito de substân-
cias entorpecentes’, corresponde ao crime previsto no art. 14 da Lei n. 6368/76. Por
último, o crime punido pelo art. 73 do DPR n. 309/90, qual seja, ‘tráfico ilícito de
substâncias entorpecentes’, encontra correspondente no tipo penal brasileiro pre-
visto no art. 12 da Lei n. 6368/76. Em virtude dos fatos criminosos terem sido
cometidos recentemente, não se verifica a ocorrência de prescrição de nenhum dos
crimes antes mencionados, seja em face da legislação italiana, seja da brasileira.
13. Em 3 de novembro de 2003, o Juiz de investigações preliminares junto ao
Tribunal de Lecce ordenou a prisão do ora extraditando pelos crimes de homicídio
premeditado grave, tentativa de homicídio grave premeditado e porte ilegal de
armas em lugar público, fatos ocorridos em ocorridos em 24.08.2001, 31.08.2002
e 28.12.2002 (processo n. 2577/2003, fls. 117-159). Os fatos tidos por criminosos
estão devidamente descritos. Há dupla tipicidade. O crime punido pelo art. 575, do
Código Penal Italiano, qual seja, ‘homicídio’, inclusive nas formas qualificadas
(art. 577 do CP Italiano) equivale ao tipo de mesmo nome do CP brasileiro (art.
121). Por fim, o crime de ‘detenção de armas’ tipificado pelo art. 2 da Lei n. 895/67,
nos anos de 2001 e 2002, encontrava correspondência no art. 10 da Lei n. 9.437/97
e, atualmente, está previsto no art. 10 da Lei n. 10.826/2003. Em virtude dos fatos
criminosos terem sido cometidos recentemente, não se verifica a ocorrência de
prescrição de nenhum dos crimes antes mencionados, seja em face da legislação
italiana, seja da brasileira.
14. O pedido atende, assim, os requisitos legais para sua concessão, em con-
sonância com a jurisprudência desse Excelso Supremo Tribunal Federal:
‘Extradição. Governo da Itália. Prática do crime de associação armada
de tipo mafioso, previsto no art. 416-bis do Código Penal italiano.
Sendo o ilícito penal também punido pela legislação brasileira,
inexistindo no Brasil processo crime relativo ao mesmo fato e não se verifi-
cando a prescrição pelos ordenamentos jurídicos brasileiro e italiano, não há
óbice legal ao deferimento do pedido.
Extradição deferida.’ (Ext-782/IT, Relator, Min. Ilmar Galvão, DJ 13-
10-00, p. 9)
‘Extradição. Crimes de formação de quadrilha de cunho mafioso,
roubo, extorsão, de porte e de detenção ilegal de arma. Pedido que tem, por
um dos fundamentos, conduta que, à época, era definida no Brasil como
contravenção, só posteriormente criminalizada.
1. O crime específico de associação armada do tipo mafioso, previsto
na lei italiana, tem o seu correspondente genérico na lei brasileira, de quadrilha
ou bando (CP, art. 288). Atendido, também, o postulado da dupla tipicidade
com relação aos crimes de roubo e extorsão.
2. Crimes de detenção e de porte ilegal de arma. O art. 77, II da Lei de
Estrangeiros proíbe a extradição quando o fato não é considerado crime no
Brasil ou no Estado requerente, tornando-a inviável, portanto, por conduta
56 R.T.J. — 196
tipificada como contravenção. À época dos fatos - 1989 - a lei italiana previa
os crimes de detenção e de porte ilegal de arma, enquanto que no Brasil
apenas o porte ilegal de arma era previsto como contravenção. À época do
pedido de prisão preventiva para extradição e do pedido de extradição, já
vigia no Brasil a Lei n. 9.437, de 20.02.97, cujo art. 10 tipificou como crimes
as condutas de detenção e de porte ilegal de arma, porém, sujeitos ao período
de vacacio legis de seis meses, prorrogável (art. 20). Conflito de leis no
tempo em face da exigência de dupla tipicidade (art. 77, II da Lei de Estran-
geiros). Se a conduta não era considerada crime no Brasil, ao tempo da práti-
ca do ato, a extradição não pode ser deferida por este fundamento, porque é
subjacente ao disposto no citado art. 77, II, a idéia de que só é permitida a
extradição quando for possível, hipoteticamente, o processo criminal em
ambos os países (requerente e requerido). No Brasil é inviável tal processo
porque é axiomático no nosso direito que não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem prévia cominação legal, e, também, porque a lei penal
não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (art. 5º, XXXIX e XL da Constitui-
ção). Ainda que assim não fosse, a extradição também não poderia ser conce-
dida por ter transcorrido o prazo prescricional, segundo a lei brasileira, visto
que é vedada a extradição quando estiver extinta a punibilidade pela prescri-
ção segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente (art. 77, VI, da mesma
Lei).
3. Declarada a legalidade e julgado procedente, em parte, o pedido de
extradição, ressalvando-se que o extraditando não poderá responder processo
pelo crime de detenção e de porte ilegal de arma.’ (Ext-716/IT, Relator Min.
Mauricio Correa, DJ 20-02-98, p. 14).
‘Constitucional – Penal – Extradição – Prisão decretada pela Justiça
estrangeira – Elementos informativos – Lei 6.815, de 19.08.1980, art. 80 –
Extraditando casado com brasileira – Filho brasileiro – Acusação formulada
contra o extraditando – Indagações preliminares – Atos delituosos praticados
em território brasileiro e italiano – Concurso de jurisdições – Associação de
tipo mafioso – Cód. Penal italiano, art. 416, bis – Cód. Penal brasileiro, art.
288, crime de quadrilha ou bando
1. Mandado de prisão expedido pela Justiça italiana. Satisfeita a exi-
gência do art. 80 da Lei n. 6.815/1980, na redação da Lei n. 6.964/1981, não
cabe a Justiça Brasileira o exame dos elementos informativos em que se
baseou o Tribunal estrangeiro para formalizar a acusação e decretar a prisão
do extraditando. 2. O fato de o extraditando ser casado com brasileira e com
esta ter filho, nascido no Brasil, não afasta a extradição. Súmula 421-STF. 3.
Não é causa impeditiva da extradição o fato de a acusação formulada contra
o extraditando estar na fase de indagações preliminares. 4. Concurso de juris-
dições penais: atos delituosos praticados em território brasileiro e italiano:
prevalece a jurisdição penal italiana, dado que não existe, no Brasil, procedi-
mento penal-persecutório contra o extraditando. Precedentes do STF. 5. Cor-
respondência de tipificação: associação de tipo mafioso, Cód. Penal italiano,
R.T.J. — 196 57
art. 416, bis. Crime de quadrilha ou bando, art. 288 do CP. 6. Atendimento
das exigências do art. 80 da Lei n. 6.815/1980.’ (Ext-638/IT, Rel. Min.
Carlos Velloso, DJU 15.09.1995, p. 29506)
15. Ante o exposto, opina o Ministério Público Federal pela concessão do
pedido de extradição formulado pelo Governo da Itália, em desfavor do seu nacional
Fabio Franco.
(...).” (Fls. 607-611)
Correto o parecer do Ministério Público Federal.
A formalização do pedido de extradição se fez no prazo de 40 (quarenta) dias
previsto no art. XIII, item 4, do Tratado de Extradição celebrado entre o Brasil e a Itália.
Com efeito.
A embaixada da Itália foi formalmente comunicada da prisão do extraditando no
dia 10-2-2004 (fl. 37 da PPE 462, em apenso). O pedido de extradição foi formalizado
em 10-3-2004, no prazo, portanto, previsto no Tratado.
Os delitos imputados ao extraditando encontram tipificação no Direito Penal posi-
tivo brasileiro, como bem demonstrado no parecer do Ministério Público Federal.
Os delitos teriam ocorrido em novembro de 2001 (fls. 14-17) e até março de 2003
(fls. 47-72). Não há falar, portanto, em prescrição, seja pela lei italiana, seja pela lei
brasileira.
O pedido está instruído com os decretos de prisão e com os demais documentos
exigidos pela Lei 6.815/80, art. 80, e pelo Tratado de Extradição Brasil—Itália.
Do exposto, acolho o parecer do Ministério Público Federal e defiro o pedido de
extradição.
EXTRATO DA ATA
Ext 923/República Italiana — Relator: Ministro Carlos Velloso. Requerente: Governo
da Itália. Extraditando: Fabio Franco (Advogados: Antonio Benedito Barbosa e outros).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, deferiu o pedido de extradição, nos termos
do voto do Relator. Ausente, justificadamente, o Ministro Carlos Britto. Presidiu o
julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes,
Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr.
Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 31 de março de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
58 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, resolvendo questão de ordem, deferir a medida
cautelar para determinar o processamento do recurso extraordinário, a fim de que o
admita, ou não, a presidência do Tribunal a quo, como entender de direito, nos termos do
voto do Relator.
Brasília, 6 de setembro de 2005 — Sepúlveda Pertence, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Em ação civil pública proposta pelo Ministério
Público contra o Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro
e a requerente — cujo pedido principal é a declaração de nulidade dos atos que prorro-
garam a permissão para explorar linhas de transporte coletivo intermunicipal (apenso 1,
fl. 63) —, o juízo de primeiro grau deferiu antecipação da tutela nos termos seguintes
(apenso 1, fls. 92/96):
R.T.J. — 196 59
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Decidiu esta Turma (Pet 2.222, 9-12-03,
Pertence, DJ de 12-3-04):
“1. Medida cautelar em recurso extraordinário: competência do Supremo
Tribunal Federal para o julgamento de medidas cautelares de RE, quando nela se
oponha o recorrente à aplicação do art. 542, § 3º, do Código de Processo Civil:
incidência do disposto no parágrafo único do art. 800 do Código de Processo Civil
(“interposto o recurso, a medida cautelar será requerida diretamente ao tribunal”):
hipótese de medida cautelar que visa a afastar óbice ao processamento do recurso na
instância a qua, diversa do problema do início da jurisdição cautelar do Supremo
para conceder efeito suspensivo ao RE.
2. Medida cautelar: indeferimento: ausência de fumus boni juris: caso de
recurso extraordinário contra decisão concessiva de tutela antecipada em ação
civil pública, não cabível, por não se tratar de decisão definitiva: Código de Pro-
cesso Civil, art. 273, § 4º.”
Doutrina e jurisprudência, invocadas com pertinência na petição, têm imposto
temperamentos à incidência do art. 542, § 3º, do Código de Processo Civil, entre outras
hipóteses, na de antecipação de tutela que possa tornar ineficaz o eventual provimento
dos recursos extraordinário ou especial.
Valiosas, a respeito, as observações do Dr. Cândido Dinamarco, invocadas na
petição:
“(...) a preponderar sem abrandamento a norma agora trazida pelo Código de
Processo Civil, toda pretensão e toda resistência às tutelas jurisdicionais de urgên-
cia ficará confinada aos graus ordinários de jurisdição, sem possibilidade de acesso
ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça.
Sendo negada pelo Tribunal local uma tutela cautelar ou alguma antecipa-
ção de tutela (art. 273), os males do tempo inimigo, de que falava Carnelutti terão
campo livre para progredir e dificilmente chegará o momento em que os tribunais
de superposição pudessem ditar corretivos – porque o estado de retenção só cessará
quando o mérito já tiver sido julgado ou o processo extinto, situações em que as
medidas de urgência terão perdido a oportunidade.
Havendo sido concedida a tutela de urgência pelo tribunal local, a parte
atingida amargará os seus efeitos, também até quando o processo seja declarado
extinto com ou sem julgamento do mérito – tudo levando a crer que, também aí, o
pronunciamento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça
já não terá a utilidade desejada.
Em ambas as hipóteses, o sistema terá falhado no cumprimento da suprema
promessa constitucional de tutela jurisdicional efetiva e tempestiva (art. 5º,
XXXV)”.
Sem adiantar qualquer juízo sobre a viabilidade do RE interposto, estou em que o
caso — dados os termos da antecipação de tutela, em particular, a injunção à autarquia
de licitar de imediato as linhas objeto da permissão questionada — é daqueles que
efetivamente não admitem a retenção do recurso extraordinário.
R.T.J. — 196 63
Esse o quadro, submeto à Turma, nos termos do art. 21, IV, RISTF, o deferimento de
medida cautelar para determinar o processamento do recurso extraordinário interposto
pela requerente, a fim de que o admita ou não a presidência do Tribunal a quo, como
entender de direito.
EXTRATO DA ATA
AC 929-QO/RJ — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Requerente: Expresso
Real Rio Ltda. (Advogados: Marcus Eduardo Magalhães Fontes e outro). Requerido:
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.
Decisão: A Turma, resolvendo questão de ordem, deferiu a medida cautelar para
determinar o processamento do recurso extraordinário, a fim de que o admita, ou não, a
presidência do Tribunal a quo, como entender de direito, nos termos do voto do Relator.
Unânime. Não participou deste julgamento o Ministro Cezar Peluso.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr.
Francisco Xavier Pinheiro Filho.
Brasília, 6 de setembro de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
64 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, deferir a extradição, nos termos do voto do
Relator.
Brasília, 14 de abril de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Carlos Velloso, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: O Sr. Ministro de Estado da Justiça encaminhou a
esta Corte, nos termos do art. 84 da Lei 6.815/80, alterada pela Lei 6.964/81, e do
Tratado de Extradição existente entre o Brasil e o Paraguai, os documentos justificadores
e formalizadores do pedido de extradição formulado pela República do Paraguai contra
o nacional paraguaio Idelino Ramon Silvero, que teve contra si expedida, em 11-11-
2003, ordem de prisão pelo Juiz Penal de Garantias da Cidade de Hernandarias, Circuns-
crição Judicial do Alto Paraná e Canindeyú-Paraguai, pelo crime de sequestro.
R.T.J. — 196 65
Nos autos da PPE 477 (fl. 60 do apenso), decretei a prisão preventiva de Idelino
Ramon Silvero, que foi efetivada em 21-8-2004 (fl. 76 do apenso).
À fl. 167, em atenção a requerimento formulado pela Interpol, autorizei a transfe-
rência do extraditando da Cadeia Pública de Cascavel/PR, tendo em conta a notícia de
possível tentativa de resgate armado do extraditando.
O extraditando encontra-se recolhido no Centro de Triagem de Curibita, conforme
comunicação à fl. 185.
Ao ser interrogado, às fls. 221-228, o extraditando negou a autoria do crime de
seqüestro. Afirma que não conhece pessoalmente a vítima, e que tudo decorre de perse-
guição política, uma vez que, por intermédio de sua agência de notícias, denunciava
uma rede de corrupção envolvendo grandes empresários e agentes políticos do Paraguai.
Esclarece, ainda, que também participava de movimentos políticos e sociais de oposi-
ção no seu país, tendo sido, inclusive, candidato a deputado. Por isso, teme sua morte,
caso seja entregue ao Governo do Paraguai.
O extraditando apresentou a defesa de fls. 231-237, sustentando que o pedido de
extradição não está em condições de ser atendido, dado que, além de possuir filha
brasileira sob sua guarda e dependência, não existe prova da sua participação no delito.
Aduz, ainda, tratar a espécie de perseguição política, sendo vedada a extradição, nos
termos do art. 77, VII, da Lei 6.815/80. Por fim, ressalta o não-atendimento do prazo
máximo para formalização do pedido de extradição (Lei 6.815/80, art. 82).
O Ministério Público Federal, às fls. 494-498, pelo parecer do eminente Procurador-
Geral, Professor Cláudio Fonteles, opina no sentido da concessão do pedido de extradição.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Trata-se de pedido de extradição instrutória,
requerido pelo Governo do Paraguai, do nacional paraguaio Idelino Ramon Silvero,
contra quem foi expedido mandado de prisão em 11-8-2003, pelo Juiz Penal de Garantias
da Cidade de Hernandárias, Circunscrição Judicial do Alto Paraná e Canindeyú, Paraguai,
sob a acusação da prática do crime de seqüestro — Código Penal do Paraguai, art. 126.
Oficiando no feito, pronunciou-se o Ministério Público Federal, pelo seu chefe, o
eminente Procurador-Geral da República, Professor Cláudio Fonteles, pelo deferimento
do pedido.
Destaco do parecer:
“(...)
5. No que tange aos aspectos legais concernentes ao presente pedido de
extradição, devem ser observadas as regras específicas dispostas no Acordo de
Extradição entre os Estados-Parte do Mercosul, Bolívia e Chile, promulgado no
Brasil pelo Decreto n. 4.975, de 30 de janeiro de 2004, e, subsidiariamente, as
normas da Lei Brasileira Geral de Extradição (Lei 6.815/80), muito embora o
Governo Paraguaio tenha fundamentado sua pretensão no antigo Tratado de
Extradição firmado entre Brasil e Paraguai, no ano de 1922.
66 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sr. Presidente, com referência a um trabalho
dos tempos de advocacia, quero deixar claro que continuo de acordo com a tese então
sustentada.
Mas, para o reconhecimento da extradição política disfarçada, é preciso trazer
prova consistente do que está por trás do alegado disfarce sob o manto da persecução de
crimes comuns.
R.T.J. — 196 69
EXTRATO DA ATA
Ext 947/República do Paraguai — Relator: Ministro Carlos Velloso. Requerente:
Governo do Paraguai — Extraditando: Idelino Ramon Silvero ou Idelino Ramon ou
Idalino Ramón Silvero ou Fidelino Ramón Silvero (Advogado: Mauro Marcio Seadi
Filho).
Decisão: Por unanimidade, o Tribunal deferiu a extradição, nos termos do voto do
Relator. Falou pelo extraditando o Dr. Mauro Marcio Seadi Filho. Presidiu o julgamento
o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes,
Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da
República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 14 de abril de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, na conformi-
dade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, deferir
o pedido de extradição, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 20 de outubro de 2005 — Ellen Gracie, Presidente — Sepúlveda Pertence,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: O Governo do Reino da Dinamarca, por sua
representação diplomática, requer a extradição do seu nacional Claus Malmqvist, contra
quem expedida ordem de prisão preventiva pelo Tribunal de Primeira Instância de Co-
penhague, por crimes consumado e tentado de tráfico internacional de substância entor-
pecente (art. 191 comb. com o art. 21 do Código Penal da Dinamarca).
2. O aviso do Sr. Ministro da Justiça que encaminha os respectivos documentos
justificativos e formalizadores aduz que o pedido de extradição tem base “na promessa
de reciprocidade de tratamento para casos análogos, a teor do art. 76 da Lei 6.815, de
19 de agosto de 1980, alterada pela Lei 6.964, de 9 de dezembro de 1981.” (fl. 2).
3. A nota verbal veio instruída com cópias, nos idiomas dinamarquês e português,
do decreto de prisão do extraditando e respectiva fundamentação e do teor das normas
penais do Reino da Dinamarca que capitulam os delitos a ele imputados (docs. fls. 7/16
(trad.); fls. 17/34).
4. O documento de fls. 5/6 está vertido em inglês.
5. A Exposição da Polícia de Copenhague, que acompanha a nota verbal, dá conta
dos fatos em razão dos quais o extraditando está sendo processado e lhe foi decretada a
prisão (trad. fls. 9/12):
“Foi decretado o mandado de prisão de Claus Malmqvist, à revelia, por meio
do despacho de 24 de novembro de 2004, promulgado pelo Tribunal de 1ª Instân-
cia de Copenhague, visando à sua extradição para a Dinamarca, onde está sob
acusação de
1. Tráfico de 13 toneladas de haxixe perpetrado no período entre 10 de julho
de 2003 e 1º de agosto de 2003, conjuntamente com uma série de cúmplices.
2. Tentativa de tráfico de 500 kg de cocaína no período de início de agosto
de 2004 a 15 de novembro de 2004, conjuntamente com uma série de cúmplices.
Quanto ao fundamento legal do processo, devo informar que a Polícia de
Copenhague, em cooperação com a Equipe Internacional da Polícia Nacional,
desde o início de 2004 tem feito uma investigação direcionada a Claus Malmqvist.
O fundamento para se iniciar a investigação foi que a polícia dinamarquesa, em
conexão com a investigação de um processo de tráfico de 3 toneladas de haxixe
para a Noruega, via Dinamarca, constatou que o Claus Malmqvist havia tido con-
tato com pessoas envolvidas neste tráfico. Tínhamos, ainda, obtido informações
R.T.J. — 196 71
“(...)
que acha que chegou ao Brasil no início do mês de dezembro de 2004; que a
sua mulher grávida mora aqui no Brasil; que não tem endereço na Dinamarca; que
morou muitos anos na Espanha; que tem endereço no Rio de Janeiro; que nos
últimos dois anos tem vindo ao Rio com freqüência; que quando não está aqui está
na Espanha; que em 2004 passou uma boa parte do ano na Dinamarca em razão de
doença de sua mãe; que foi vender a casa de sua mãe e instalá-la em um apartamento
na Dinamarca; que as acusações que lhe são feitas por tráfico de entorpecente são
falsas; que acha que a Polícia Dinamarquesa está fazendo confusão entre ele e
outra pessoa; que aos dezoito anos foi preso por uso de documento falso; que foi a
única vez preso; que não é consumidor nem dependente de produtos químicos;
que teve uma empresa de áudio-texto na Espanha; que teve participação de uma
empresa de construção na Espanha;que tem residência fixa em Andorra;que vive
das economias que fez; que veio para o Brasil com a idéia de continuar com a
empresa de construção que tinha na Espanha; que tem um apartamento na Rua
Prado Junior em Copacabana que é próprio; que é marceneiro, carpinteiro; que não
tem curso superior; que Bibi Jensen é mãe de um de seus melhores amigos, Carsten;
que acha que Bibi não tenha envolvimento com o tráfico; que Bibi nunca fez
transporte de dinheiro para o extraditando; que não conhece Lars Petersen; que
também desconhece Jens Petersen; que há uns quinze anos atrás esteve em
Marrocos; que fez uma viagem de ida e volta no mesmo dia; que tem um aparta-
mento próximo a Barcelona; que em agosto de 2003 uma pessoa tentou pular de
uma janela da varanda de seu apartamento; que já esteve na Zelândia do Norte
milhões de vezes; que Zelândia do Norte fica muito perto Copenhagen e ele conhece
muitas pessoas de lá; que tem família lá; que conhece Francelino José Patrício dos
Santos que é português; que Francelino tem um restaurante na região de Faro; que
o restaurante tem um nome mexicano; que nunca soube do envolvimento de Fran-
celino com o tráfico; que nunca transportou nem nunca consumiu haxixe nem
cocaína; que sabe que tem contra ele um processo na Dinamarca e é por esse fato
que ele está aqui; que nunca foi intimado para comparecer a esse processo; que foi
preso e retido no aeroporto de Londres; que ele estava junto com um amigo e o
amigo estava com uma quantia importante de dinheiro; que o extraditando estava
com uma pequena soma em dinheiro, mas na hora a Polícia juntou a soma toda e
ficou com o dinheiro, porque não tinham como explicar a origem do dinheiro; que
o dinheiro teria sido ganho em um torneio de gamão por seu amigo;que não tenta-
ram obter o dinheiro de volta porque foram aconselhados a fazer isso, porque
poderiam pegar 4(quatro)anos de prisão se o juiz não aceitasse a explicação dele;
que já teve outros passaportes além do que está apreendido em razão dos anteriores
terem vencido o prazo; que nunca teve passaporte emitido por outros países; que
nunca mudou de nome nem é conhecido por outro nome; que conhece Birger e
Carsten; que são seus conhecidos na Dinamarca; que um tem uma empresa de
construção na Dinamarca; que das pessoas mencionadas no processo as quais co-
nhece desconhece o envolvimento delas com tráfico de entorpecente. Às perguntas
do MPF, para esclarecimento, respondeu que não morava no endereço da Prado
R.T.J. — 196 75
Junior, que morava em um apartamento alugado na Av. Atlântica; que esse aparta-
mento pertence a seu amigo Jan; que tem um contrato de locação com Jan; que o
contrato está no nome do extraditando; que paga cinco mil de aluguel por mês;
que ele faz melhorias no apartamento e isso é abatido no valor do aluguel; que às
vezes paga em espécie o aluguel; que o extraditando e Jan têm intenção de montar
uma empresa de construção; que Jan é de fato proprietário desse apartamento; que
o apartamento tem aproximadamente 150 m; que o apartamento da Prado Junior
está vazio; que ele pode provar documentalmente as melhorias que fez no aparta-
mento de Jan; que acha que tem como provar essas melhorias; que tem conta no
Banco do Brasil; que não tem bens em conjunto com sua esposa; que se casou uma
semana depois de ser preso; que conhecia sua esposa há um ano mais ou menos;
que nunca transferiu bens ou dinheiro para sua esposa; que a conta no Banco do
Brasil não é conjunta; que sua esposa tem conta individual no Bradesco ou no
Unibanco, mas não tem certeza; que sua esposa trabalhava na Espanha fazendo
faxina e em lojas; que foi mais o desejo dele que eles voltassem para o Brasil.”
(...)
“Às perguntas da defesa, respondeu que: sua esposa está quase com sete
meses completos de gravidez; que sua mãe tem endereço fixo na Dinamarca; que
seu endereço na Dinamarca é da sua mãe; que toda sua correspondência vai para
esse endereço; que sua mãe sofreu um derrame cerebral que provocou paralisia na
metade do corpo e hoje vive em uma cadeira de rodas; que Claus é um nome
comum na Dinamarca e pode ser escrito por “c” ou por “k”; que seu sobrenome não
é comum; que seu nome não foi captado por escuta telefônica, mas escuta
ambiental; que entende que seu nome integral não foi mencionado em nenhum
momento nessas escutas; que prefere ficar calado em relação a pergunta do Juízo
no sentido de porque tem problemas com a Polícia da Dinamarca; que Zelândia do
Norte é a ilha onde fica Copenhagen; que como a Dinamarca é muito pequena tudo
fica muito perto e todo mundo se conhece; que as últimas vezes que esteve na
Dinamarca não teve contatos nem problemas com a polícia; que nunca recebeu
nenhuma intimação judicial ou policial.”
9. O Defensor constituído pelo extraditando apresentou defesa escrita (fls. 93/137),
na qual alegou preliminarmente a ausência de requisitos formais:
1 - falta de promessa formal de reciprocidade do Estado requerente, que, à
vista da ausência de tratado entre o Brasil e o Estado requerente, nos termos da Lei
6.815/80, é imprescindível ao deferimento do pedido de extradição; além de não
comprovação de que o governo dinamarquês, pelo seu direito interno, na inexis-
tência de tratado, possa oferecer a reciprocidade em tema de extradição;
2 - ausência de tradução de documentos oficiais de fls. 05/06, “em flagrante
cerceamento de defesa, que impede, inclusive o contraditório”;
3 - insuficiência da documentação, que não traz “as disposições legais
atinentes à prescrição”;
4 - falta de indicação precisa quanto ao local, data, natureza e circunstâncias
dos fatos tidos como criminosos.”
10. Segundo a Defesa, os elementos informativos constantes do mandado de prisão
são extremamente insatisfatórios, vagos, imprecisos e sem qualquer nexo: a responsa-
76 R.T.J. — 196
1 “Lei 6.815/90, art. 91: Não será efetivada a entrega sem que o Estado requerente assuma o compro-
misso:
I - de não ser o extraditando preso nem processado por fatos anteriores ao pedido;
II - de computar o tempo de prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição;
III - de comutar em pena privativa de liberdade a pena corporal ou de morte, ressalvados, quanto
à última, os casos em que a lei brasileira permitir a sua aplicação;
IV - de não ser o extraditando entregue, sem consentimento do Brasil, a outro Estado que o reclame; e
V - de não considerar qualquer motivo político para agravar a pena.”
R.T.J. — 196 77
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Estou em que concorrem os pressu-
postos positivos e negativos da extradição.
2. Analisa-os com precisão o em. Procurador-Geral da República — fl. 605:
“9. É inegável que o estado requerente dispõe de competência jurisdicional
para processar e julgar os delitos imputados ao extraditando, que é nacional dina-
marquês e naquele país teria cometido os ilícitos penais de que é acusado.
10. Ao contrário do que sustenta o extraditando, o pedido de extradição
encontra-se suficientemente instruído. A inexistência de tratado extradicional en-
tre os dois países não obsta a concessão do pleito se houver a promessa de recipro-
cidade (art. 76 da Lei n. 6.815/80). O documento de fls. 5/6, que acompanha a Nota
Verbal n. 50 (fls. 4), apesar de estar no idioma inglês, não deixa dúvidas do com-
promisso de reciprocidade firmado pelo governo dinamarquês: “The Ministry of
Justice can confirm that Danish authorities will be prepared to assist the authorities
in Brazil in a similar case.” (fls. 6), ou seja, “O Ministro da Justiça pode confirmar
que as autoridades dinamarquesas estarão preparadas para auxiliar as autoridades
brasileiras em caso similar.”
78 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
Ext 962/Reino da Dinamarca — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Reque-
rente: Governo da Dinamarca. Extraditando: Claus Malmqvist (Advogados: Ricardo
Carneiro Fortuna e outros).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, deferiu o pedido de extradição, nos termos
do voto do Relator. Votou a Presidente. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso
de Mello, Gilmar Mendes, Cezar Peluso e, neste julgamento, o Ministro Nelson Jobim
(Presidente). Falou pelo extraditando o Dr. Francisco Queiroz Caputo Neto. Presidiu o
julgamento a Ministra Ellen Gracie (Vice-Presidente).
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e
Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos.
Brasília, 20 de outubro de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
82 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade, dar provimento, em parte, ao agravo regimental, nos
termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, o Ministro Gilmar Mendes e,
neste julgamento, a Ministra Ellen Gracie e o Ministro Cezar Peluso.
Brasília, 31 de agosto de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Carlos Velloso,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Trata-se de agravo regimental, interposto pela Asso-
ciação dos Escrivães Judiciários do Estado do Espírito Santo – AEJES, da decisão
(fls. 81-87) que, diante da não-configuração da competência prevista no art. 102, I, n, da
Constituição Federal, negou seguimento ao pedido formulado na ação originária e
determinou o seu arquivamento.
Inicialmente, diz a agravante que a Assembléia Legislativa do Estado do Espírito
Santo, em sessão extraordinária, votou e aprovou o conteúdo da Mensagem n. 06/2005
(Projeto de Lei n. 009/2005), objeto do mandado de segurança, transformando-o na Lei
n. 7.971, de 4 de março de 2005 (DOE de 7-3-2005).
Sustenta, mais, a configuração da competência originária do Supremo Tribunal
Federal, porquanto o que define a competência prevista no art. 102, I, n, da Constituição
Federal é o fato de mais da metade dos membros do tribunal de origem estarem impedi-
dos ou serem direta ou indiretamente interessados no resultado da causa. Nesse contexto,
ressalta que “o impedimento de todos os membros do Colegiado do Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado do Espírito Santo está eloqüente na Justificativa da proposta de Lei
n. 009/05, quando textualmente afirma Sua Excelência o Desembargador Presidente
que: o Tribunal Pleno, preocupado com a modernização do quadro administrativo do
Poder Judiciário estadual, optou, no momento, em estruturar melhor o Tribunal de
Justiça” (fls. 94-95).
R.T.J. — 196 83
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Segundo a agravante, a competência ori-
ginária do Supremo Tribunal Federal — CF, art. 102, I, n — ocorreria em razão de o
projeto de lei, que foi transformado em lei, ter sido de iniciativa do Tribunal de Justiça
do Estado. Assim, estariam os desembargadores impedidos.
A decisão agravada, ora sob exame, negou seguimento ao pedido, resumida referida
decisão na seguinte ementa:
“Ementa: Constitucional. Processual Civil. Mandado de segurança impe-
trado contra atos dos presidentes do Tribunal de Justiça e da Assembléia Legis-
lativa do Estado do Espírito Santo: competência originária do STF: CF, art.
102, I, n: inocorrência, pelo menos por enquanto. Negativa de seguimento do
pedido, arquivando-se os autos.” (Fl. 81)
A decisão é de ser mantida.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal orienta-se no sentido de que os
pressupostos do impedimento ou da suspeição, que gerariam a competência da Corte
Suprema, na forma do disposto no art. 102, I, n, da Constituição Federal, devem ser
apreciados pelo Tribunal competente, em princípio, para o julgamento da causa.
Na AO 176/MS, por mim relatada, decidiu o Supremo Tribunal Federal:
“Ementa: Constitucional. Competência originária do STF. Eleição de di-
rigentes de Tribunal. Mandado de segurança impetrado contra ato do Tribu-
nal de Justiça do Mato Grosso do Sul. CF, art. 102, I, n.
I - Mandado de segurança impetrado contra ato do Tribunal de Justiça que,
quebrando a regra da antigüidade, prevista no art. 102 da Loman, preencheu, por
eleição, o cargo de vice-presidente da Corte. A competência para o julgamento do
writ é do próprio Tribunal, dado que a competência para o julgamento de mandado
de segurança impetrado contra ato de Tribunal é do próprio Tribunal.
II - Os pressupostos do impedimento e da suspeição, impedimento e suspei-
ção que gerariam a competência do Supremo Tribunal Federal, na forma da alínea
n do inc. I do art. 102 da Constituição, devem ser apreciados pelo Tribunal compe-
tente, em princípio, para o julgamento da causa. Precedentes do STF.
III - A regra de competência inscrita no art. 102, I, n, da Constituição pressu-
põe, ademais, um procedimento de natureza jurisdicional no Tribunal de origem.
IV - Mandado de Segurança não conhecido. Remessa dos autos ao Tribunal
de Justiça do Mato Grosso do Sul.” (DJ de 18-6-1993)
84 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
AO 1.153-AgR/ES — Relator: Ministro Carlos Velloso. Agravante: Associação
dos Escrivães Judiciários do Estado do Espírito Santo – AEJES (Advogados: Raphael
Americano Câmara e outros e Carlos Alberto Baptista Filho). Agravados: Presidente do
Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo e Presidente da Assembléia Legislativa
do Estado do Espírito Santo.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, deu provimento, em parte, ao agravo regi-
mental, nos termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, o Ministro Gilmar
Mendes e, neste julgamento, a Ministra Ellen Gracie e o Ministro Cezar Peluso. Presidiu
o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Cezar Peluso,
Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da República, Dr. Antô-
nio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 31 de agosto de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
R.T.J. — 196 89
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, por seu Tribunal Pleno, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, conhecer como questão de ordem e determinar
o retorno dos autos ao tribunal de origem para apreciação da matéria, nos termos do voto
do Relator.
Brasília, 4 de agosto de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Carlos Ayres Britto,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Trata-se de embargos infringentes contra acór-
dão da Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, que
negou, por maioria, provimento à Apelação n. 29700892-7. Ao fazê-lo, o acórdão em-
bargado confirmou sentença de procedência de ação indenizatória movida contra a
embargante, em decorrência de perda de mercadoria transportada por via marítima.
2. A maioria dos Desembargadores componentes daquela Corte estadual se deu por
impedida ou suspeita para julgar o recurso, cujo último Relator, por isso mesmo, deter-
minou a remessa dos autos ao Supremo Tribunal Federal, com base na letra n do inciso I
90 R.T.J. — 196
do art. 102 da Magna Carta (fls. 236/237). Quando isso aconteceu, os embargos já haviam
sido admitidos (fl. 206) e a embargada já havia apresentado suas contra-razões (fls. 211/213).
O despacho de remessa foi reiterado às fls. 336/337.
3. Sobreveio, então, o parecer da ilustrada Procuradoria-Geral da República, pelo
desprovimento do recurso (fls. 272/277). Entendeu o Ministério Público Federal que
não ocorreu a situação de caso fortuito ou força maior, alegada pela embargante para
justificar a perda, em alto mar, do produto transportado no Contêiner n. 207219-8, a
bordo do navio Frota Singapore.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Inicialmente, reafirmo que se cuida de
embargos infringentes interpostos no Tribunal de Justiça amazonense, remetidos a esta
egrégia Corte por efeito do disposto na letra n do inciso I do art. 102 da Magna Carta.
Portanto, não se aplicam ao caso as normas constantes dos artigos 333 e seguintes do
RISTF.
6. Outra informação importante é que o Supremo Tribunal Federal ainda não apre-
ciou, com esta moldura, o tema de fundo, ou seja, responsabilidade da empresa de nave-
gação pela perda da mercadoria transportada; empresa que alega caso fortuito ou força
maior resultante de uma borrasca em alto mar. O que já foi examinado à exaustão,
sobretudo no final do século passado e em sede de recurso extraordinário, diz respeito às
ações ajuizadas pelas seguradoras do ramo, bem como ao respectivo prazo de prescrição.
7. Muito bem. Feitos esses esclarecimentos e reexaminados os autos, vê-se que a
razão está com os votos que formaram a maioria no Tribunal de origem. Os documentos
de fls. 19/50 comprovam os fatos narrados na inicial. Daí o acerto com que se houve o
MM. Juiz de Direito, Ari Jorge Moutinho da Costa, ao sentenciar nos seguintes termos
(fls. 168/169):
“É fora de dúvida que a Autora firmou contrato de transporte com a
Requerida, através de seu representante legal, Expresso Mercantil Agência Marítima
Ltda, a fim de que as mercadorias descritas na inicial fossem transportadas de
Rotterdam para Manaus.
Ocorre que as aludidas mercadorias não chegaram ao seu destino, pois em 11
de janeiro de 1996, o container n. 207219-8, onde a carga estava acondicionada
caiu ao mar, provocando perda total.
Por outro lado, não se pode deixar de reconhecer a omissão injustificável da
Requerida em tomar providências tendentes que a carga fosse transportada com
absoluta segurança. Ademais, por sua conta e risco ela embarcou a mercadoria no
navio “Frota Singapore”, de propriedade da Transportadora Frota Amazônica S/
A. Não é crível que lhe passasse despercebida a possibilidade (quase se pode dizer
a probabilidade) de acontecimentos como o que se deu mesmo a fazer-se abstração
da hipótese, não devidamente comprovada da Borrasca em nível de mini-furação.
Subestimar o risco é uma forma de negligência ou de imprudência. A conclusão a
que se chega, destarte, é a de que se configurou, no caso, a culpa da Requerida.
R.T.J. — 196 91
EXTRATO DA ATA
AO 1.158/AM — Relator: Ministro Carlos Britto. Embargante: Hapag Lloyd A.G
(Advogados: Alonso Oliveira de Sousa e outro). Embargada: Lojas Populares Ltda. (Advo-
gados: Raimundo Paiva de Souza e outro).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu como questão de ordem e deter-
minou o retorno dos autos ao tribunal de origem para apreciação da matéria, nos termos
do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello e Carlos
Velloso. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto,
Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Mon-
teiro Gurgel Santos.
Brasília, 4 de agosto de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por maioria de votos, julgar improcedente a ação, nos termos do voto do
Relator.
Brasília, 6 de abril de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Eros Grau, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eros Grau: A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de
Ensino – CONFENEN ajuizou ação direta, com pedido de medida cautelar, objetivando
a declaração de inconstitucionalidade da Lei n. 6.586/94 do Estado da Bahia.
2. O texto normativo impugnado tem o seguinte teor:
“Art. 1º A adoção de material escolar e de livros didáticos pelos estabeleci-
mentos particulares de ensino pré-escolar, de 1º e 2º graus obedecerá às normas
estatuídas por esta lei.
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se material escolar todo aquele
item de uso exclusivo e restrito ao processo didático-pedagógico e que tenha por
finalidade o atendimento das necessidades individuais do educando durante a
aprendizagem.
Art. 3º Os estabelecimentos particulares de ensino pré-escolar, de 1º e 2º
graus divulgarão, durante o período de matrícula a lista de material escolar solici-
tado, acompanhada do respectivo plano de execução.
§ 1º Constará deste plano de execução, de forma detalhada e com referência
a cada unidade de aprendizagem do período letivo, a discriminação dos quantita-
tivos de cada item de material escolar, seguido da descrição da atividade didática
para o qual se destina, com seus respectivos objetivos e metodologia empregada.
§ 2º Será facultado aos pais ou, se for o caso, aos responsáveis pelo educando,
optar entre fornecimento integral do material escolar no início do período letivo
ou pela entrega parcial e parcelada, segundo os quantitativos de cada unidade de
aprendizagem, sendo que, neste caso, far-se-á a entrega com antecedência mínima
de 8 (oito) dias do início da unidade.
94 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): A Confenen objetiva a declaração de inconsti-
tucionalidade da Lei n. 6.586/94, que dispõe sobre a adoção de material escolar e de
livros didáticos pelos estabelecimentos de ensino, por afronta aos artigos 22, inciso
XXIV, e 209 da Constituição do Brasil.
2. Cumpre-me inicialmente afastar a preliminar de irregularidade de representação
processual da requerente, por falta de procuração com outorga de poderes específicos,
argüída pela Assembléia Legislativa do Estado da Bahia e pelo Advogado-Geral da
União.
3. Como ressaltou o Procurador-Geral da República, esta Corte, ao assentar o en-
tendimento de que, no instrumento de mandato, devem estar obrigatoriamente contidos
poderes específicos para impugnar determinato preceito via ação direta, excepcionou os
feitos nos quais tenha havido apreciação de medida acauteladora [ADI n. 2.187/QO,
Relator o Ministro Octavio Gallotti, DJ de 12-12-2003], o caso destes autos enqua-
drando-se naquela ressalva, rejeito a preliminar.
96 R.T.J. — 196
4. No que tange ao mérito, lembro ter afirmado, em outra ocasião1, que os serviços
de educação, seja os prestados pelo Estado, seja os prestados por particulares, configu-
ram serviço público não privativo, isto é, podem ser prestados pelo setor privado inde-
pendentemente de concessão, permissão ou autorização. São, porém, sem sombra de
dúvida, serviço público. O Estado-Membro detém competência concorrente para legis-
lar sobre a matéria, nos termos do disposto no artigo 24, IX, da Constituição. A lei
impugnada dispõe sobre material escolar e livros didáticos adotados pelos estabeleci-
mentos particulares de ensino.
5. O artigo 2092 da Constituição do Brasil afirma que o ensino é livre à iniciativa
privada, isso significando que o setor privado pode prestar esse serviço público inde-
pendentemente da obtenção de concessão ou permissão. Tratando-se contudo de serviço
público, incumbe às entidades educacionais particulares, na sua prestação, rigorosa-
mente acatar as normas gerais de educação nacional e as dispostas pelo Estado-Membro,
no exercício de competência legislativa suplementar (§ 2º do art. 24 da Constituição do
Brasil).
6. O texto assegura ao usuário do serviço prestado por estabelecimento particular
de ensino o conhecimento, durante o período de matrícula, do quantitativo de material
escolar a ser utilizado no ano letivo, com a justificativa da necessidade de cada item.
Veda a indicação de preferência por marca ou modelo de qualquer item; faculta aos pais
ou responsáveis pelo educando a entrega do material de uma só vez ou de forma parce-
lada, entre outras disposições de igual índole.
7. A lei em questão não se afastou do âmbito da competência concorrente dos
Estados-Membros fixada pela Constituição no artigo 24, inciso IX e seu § 2º. Outrossim,
enfatizo que a medida cautelar foi indeferida há dez anos, desde então produzindo
efeitos a Lei n. 6.586, de 1994.
Ante o exposto, julgo improcedente o pedido formulado na presente ação.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Presidente, vou reafirmar o que disse há dez anos,
quando apreciado o pedido de concessão de medida acauteladora. Tenho que não cabe
ao Estado-Membro disciplinar, relativamente ao ensino particular — não se cuida de
ensino público, do próprio Estado —, o material escolar e os livros didáticos a serem
adotados, nem adentrar o campo da disciplina da cobrança a ser feita aos estudantes.
Poderia vislumbrar o objetivo elogiável quanto ao acesso ao ensino principalmente
básico, mas o meio para ter-se a regência da matéria é que, a meu ver, e estou convencido
disso, surge impróprio. Trata-se de tema que não está na competência, em si — quer
quanto à comercialização, quer quanto à escolha do material escolar, dos livros didá-
ticos —, da unidade da Federação.
1 Vide o meu A Ordem Econômica na Constituição de 1988. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 108.
2 Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições:
I – cumprimento das normas gerais de educação nacional;
II – autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público.
R.T.J. — 196 97
Por isso, reafirmando o ponto de vista que formei quando do exame, há dez anos,
do pedido de concessão de medida liminar, peço vênia ao Relator para julgar procedente
o pleito formulado na inicial desta ação direta de inconstitucionalidade.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Britto: Senhor Presidente, acompanho o Relator, data venia
do ponto de vista do Ministro Marco Aurélio.
Quero deixar registrado que não tenho a educação enquanto modalidade de serviço
público. Com respeito à opinião do eminente Ministro Relator, entendo que o artigo 175
da Constituição deixa claro que serviço público é aquele titularizado pelo poder público,
ou seja, de senhorio exclusivo do poder público.
Sabemos que, em matéria de ensino, a Constituição chega a dizer que o ensino é
livre. Vejam: “liberdade” — é livre a iniciativa privada.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): O Ministro me concede um aparte?
O Sr. Ministro Carlos Britto: Pois não.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): É livre exatamente porque prescinde de concessão.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Porque não é serviço público.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Exatamente por ser serviço público é que a
Constituição diz, depois, que é livre no sentido de que, apesar de ser serviço público, é
não privativo. Esse é o entendimento que se tem adotado atualmente.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Entendo que não.
Saúde pública e educação são atividades ambivalentemente estatais e privadas, ou
seja, mistamente públicas e privadas, porque admitem as duas titularidades, os dois
senhorios. Data venia, excluo esses dois tipos de atividade da área dos serviços públicos
típicos.
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Senhor Presidente, também eu, conforme o
Ministro Carlos Britto, embora respeitando como categoria doutrinária a classificação
do Ministro Eros Grau, entendo que, em termos constitucionais, o ensino privado não é
serviço público; é uma atividade privada, mas, porque imbricada com o direito à educa-
ção, sujeita a regulamentações públicas.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Entendo que a Constituição caracteriza educação
e saúde como direitos fundamentais, prestacionais.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Por isso mesmo julgamos constitucional, con-
forme o voto do Ministro Moreira Alves, a disciplina de preços, dada a sua imbricação
com o direito à educação.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: De qualquer forma, não há um direito à educação
numa escola privada se não houver o pagamento.
98 R.T.J. — 196
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Se não houver o pagamento, sim; mas ele pode
estar sujeito a parâmetros normais, fixados em lei.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: A fundamentalidade desse direito é que leva à
legitimação da atuação do Estado, no sentido de disciplinar essa prestação.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sem convertê-lo em serviço público.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Claro. Temos de encontrar um meio termo aí.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: No caso, não é preciso chegar a esse resultado, porque
é comum o entendimento de que é passível de regulação a matéria por parte do Estado.
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Na linha do pensamento dos Ministros Sepúl-
veda Pertence e Carlos Britto, o ensino e a saúde são mercadorias quando prestados pelo
setor privado; mas são serviços públicos quando prestados pelo Estado. Ou seja, uma
coisa consegue ser, ao mesmo tempo, em termos jurídicos, duas coisas.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Acho que, do nosso ponto de vista, não se extrai essa
conclusão a que chegou Vossa Excelência.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Mas isso não é necessário para definir a questão.
Vamos deixar que ela se imponha.
EXTRATO DA ATA
ADI 1.266/BA — Relator: Ministro Eros Grau. Requerente: Confederação Nacional
dos Estabelecimentos de Ensino – CONFENEN (Advogado: Antonio Vitheab Botura).
Requerida: Assembléia Legislativa do Estado da Bahia.
Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou improcedente a ação, nos termos do voto
do Relator, vencido o Ministro Marco Aurélio, que a julgava procedente. Votou o Presi-
dente, Ministro Nelson Jobim. Ausente, justificadamente, a Ministra Ellen Gracie.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso,
Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da República, Dr. Cláudio
Lemos Fonteles.
Brasília, 6 de abril de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade, rejeitar os embargos, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 17 de novembro de 2004 — Nelson Jobim, Presidente — Marco Aurélio,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Embargos de declaração interpostos contra o acórdão
de folhas 1758 a 1803, assim sintetizado:
Inquérito — Arquivamento — Manifestação do Ministério Público — É
irrecusável o pedido, formulado pelo Chefe do Ministério Público, o Procurador-
Geral da República, de arquivamento do inquérito.
Denúncia — Fase de recebimento, rejeição ou improcedência da acusa-
ção — Artigo 6º da Lei n. 8.038/90 — Ausência de resposta. Descabe observar, na
fase do artigo 6º da Lei n. 8.038/90, as regras dos artigos 261, 263 e 366 do Código
de Processo Penal. O silêncio do acusado, não apresentando resposta, muito embora
notificado, é tomado como estratégia. Recebida a denúncia, há de seguir-se a
citação para conhecimento, aí sim, da ação penal, com o atendimento das normas
instrumentais, inclusive das constantes — instrumental e material — do artigo 366
do Código de Processo Penal.
Denúncia — Artigos 19 da Lei n. 7.492/86 e 299 do Código Penal —
Duplicidade afastada pela maioria. Na dicção da ilustrada maioria, entendimen-
to em relação ao qual guardo reservas, na fase de recebimento, ou não, da denúncia,
não se há de afastar a duplicidade de acusação, tendo em conta os crimes de obter,
mediante fraude, financiamento em instituição financeira — artigo 19 da Lei n.
7.492/86 — e de falsidade ideológica — artigo 299 do Código Penal.
Denúncia — Duplicidade — Artigos 20 da Lei n. 7.492/86 e 299 do Código
Penal — Ambigüidade. O tipo do artigo 20 da Lei n. 7.492/86 não exige a ocor-
rência de fraude, deixando de ficar configurada, de início e para efeito de recebi-
mento da denúncia, duplicidade, considerada também a imputação da prática de
falsidade ideológica — artigo 299 do Código Penal.
Denúncia — Recebimento — Pressupostos. O recebimento da denúncia
prescinde de demonstração, pelo titular da ação penal, da procedência da acusa-
ção, sendo suficiente o respeito à forma prevista no artigo 41 do Código de Processo
Penal, o enquadramento dos fatos em tipo penal e os indícios da autoria. Tal
procedência é ônus do Ministério Público, que dele deve desincumbir-se na
tramitação da ação penal.
Alfredo Rodrigues Cabral e Luiz Otávio Oliveira Campos — em relação aos quais
o Plenário, por maioria, recebeu a denúncia pela prática dos delitos dos artigos 19 e 20
da Lei n. 7.492, de 16 de junho de 1986, e do artigo 299 do Código Penal — interpõem
os embargos de declaração de folhas 1813 a 1816. Transcrevem trechos da denúncia,
100 R.T.J. — 196
recebida sem ressalvas pelo Colegiado, e pretendem seja esclarecido “se respondem eles
à imputação de prática de 1, ou de 2, ou de 26 crimes de falsidade ideológica. E, na
hipótese de dizer que se trata da prática de mais de um crime, se se trata de concurso
material (CP, art. 69) ou de crime continuado (CP, art. 71)” (folha 1815).
O Ministério Público apresentou a impugnação de folhas 1823 a 1825. Salienta
não padecer de omissão o julgado, pois a autoridade judiciária, no momento do recebi-
mento da denúncia, limita-se à análise da materialidade do delito e da existência de
indícios da autoria, nos termos dos artigos 41 e 43 do Código de Processo Penal. Ressalta
que o exame da capitulação delituosa pode ser postergado para a oportunidade do
julgamento do mérito da ação. Aduz que a ausência de definição da hipótese da incidên-
cia do concurso de crimes não causa prejuízo à defesa, primeiro porque os réus se defen-
dem dos fatos contidos na denúncia e depois em razão da necessidade de, mesmo na
contagem do prazo prescricional, serem considerados os acréscimos decorrentes do con-
curso formal, material ou continuado, conforme disposição expressa do artigo 119 do
Código Penal.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Na interposição destes embargos, foram
atendidos os pressupostos de recorribilidade que lhe são inerentes. A peça, subscrita por
profissionais da advocacia regularmente credenciados (folhas 1389, 1413 e 1736), res-
tou protocolada no qüinqüídio. A publicação do acórdão atacado deu-se no Diário de 6
de agosto de 2004, sexta-feira (folha 1.804), vindo à balha o inconformismo em 10
imediato, terça-feira (folha 1813). Conheço.
Observe-se a fase em que ocorrido o pronunciamento deste Plenário. Descabe
adentrar a capitulação, a definição da existência de concurso material ou de crime con-
tinuado. O Colegiado manifestou-se quanto à denúncia ofertada, tendo-a como enqua-
drada no artigo 41 do Código de Processo Penal, não vislumbrando a incidência do
artigo 43 do referido Código. Vale frisar que até mesmo a classificação constante da peça
não é definitiva, sobrepondo-se a ela a narração dos fatos a ensejarem a defesa. Despro-
vejo os embargos declaratórios.
EXTRATO DA ATA
Inq 1.608-ED/PA — Relator: Ministro Marco Aurélio. Embargantes: Luiz Otávio
Oliveira Campos (Advogado: José Gerardo Grossi) e Alfredo Rodrigues Cabral (Advogados:
Roberta dos Anjos Moreira e outros, Washington Bolívar de Brito e outro). Embargado:
Ministério Público Federal.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, rejeitou os embargos, nos termos do voto
do Relator. Ausentes, justificadamente, o Ministro Sepúlveda Pertence e, neste julga-
mento, os Ministros Carlos Velloso e Gilmar Mendes. Presidiu o julgamento o Ministro
Nelson Jobim.
R.T.J. — 196 101
INQUÉRITO 1.957 — PR
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por maioria, rejeitar a questão de ordem suscitada pelo Ministro Marco
Aurélio a respeito da carta anônima, vencido Sua Excelência. No mérito, absolver todos
os acusados, nos termos do voto do Relator. Votou o Presidente, Ministro Nelson Jobim.
Falaram, pelo Ministério Público Federal, o Dr. Cláudio Lemos Fonteles, Procurador-
Geral da República, pelos indiciados Cássio Taniguchi e Marina Klamas Taniguchi, o
102 R.T.J. — 196
Dr. Renato Cardoso de Almeida Andrade e, pelo indiciado André Zacharow, o Dr. João
Ricardo Cunha de Almeida.
Brasília, 11 de maio de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Carlos Velloso,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: O Ministério Público do Estado do Paraná ofereceu
denúncia contra André Zacharow, atualmente Deputado Federal, como incurso 3 vezes
no art. 89, caput, da Lei 8.666/93, c/c os arts. 29, 69 e 71 do Código Penal; Cássio
Taniguchi, então Prefeito de Curitiba/PR, como incurso 28 vezes no art. 89, caput, da
Lei 8.666/93, 5 vezes no art. 1º, II, e 53 vezes no inciso XIII do DL 201/67, c/c os arts. 29,
69 e 71 do Código Penal; Marina Klamas Taniguchi, como incursa 8 vezes no art. 89,
caput, da Lei 8.666/93, e 3 vezes no inciso II do art. 1º do DL 201/67, c/c os arts. 29, 69
e 71 do Código Penal; Dinorah Botto Portugal Nogara, como incursa 4 vezes no art.
89, caput, da Lei 8.666/93, c/c os arts. 29, 69 e 71 do Código Penal; Sinval Zaidan
Lobato Machado, como incurso 31 vezes no parágrafo único do art. 89 da Lei 8.666/93,
4 vezes no inciso II e 53 vezes no inciso XIII do art. 1º do DL 201/67, c/c os arts. 29, 69
e 71 do Código Penal; Margarita Elizabeth Pericas Sansone, como incursa 8 vezes no
art. 89, caput, da Lei 8.666/93, c/c os arts. 29, 69 e 71 do Código Penal; Luciane Leiria,
como incursa 1 vez no art. 89, caput, da Lei 8.666/93, c/c o art. 29 do Código Penal;
Armando Franco Deboni, como incurso 1 vez no art. 89, caput, da Lei 8.666/93, c/c o
art. 29 do Código Penal; Cassio Chamecki, como incurso 1 vez no art. 89, caput, da Lei
8.666/93, c/c o art. 29 do Código Penal; Ivo Mendes Lima, como incurso 1 vez no art.
89, caput, da Lei 8.666/93, c/c o art. 29 do Código Penal; Sergio Abu-Jamra Misael,
como incurso 4 vezes no art. 89, caput, da Lei 8.666/93, c/c os arts. 29, 69 e 71 do
Código Penal.
II
Segundo a denúncia, o então Prefeito de Curitiba, Cássio Taniguchi, no decorrer
dos exercícios de 1997/2001, em conluio com os demais acusados e com intenção de
burlar a Lei de Licitações para favorecer entidade privada, teria celebrado e autorizado
diretores a celebrar contratos e termos aditivos — disfarçados de convênios — com a
Fundação Instituto Tecnológico Industrial – FUNDACEN, sem o devido processo
licitatório e sem observar as formalidades pertinentes à dispensa.
Narra, ainda, a denúncia que o segundo acusado, mediante esse artifício, contratou
e pagou, por intermédio da Fundacen, polpudos salários a dezenas de correligionários
para servirem na administração pública, sem prévio concurso público, contrariando o
disposto no art. 37, II, da Constituição e 80, III, da Lei Orgânica do Município.
R.T.J. — 196 103
III
O Ministério Público do Estado do Paraná, às fls. 3527-3533, requereu, entre ou-
tras providências, a notificação dos acusados para oferecerem resposta, bem como o
afastamento do acusado Cássio Taniguchi do cargo de Prefeito do Município de Curitiba.
Às fls. 3540-3541, o ilustre Desembargador Oto Luiz Sponholz, Relator da denún-
cia-crime, determinou a notificação dos acusados, reservando-se para analisar o pedido
de afastamento quando do recebimento ou não da denúncia.
IV
Marina Klamas Taniguchi e Cássio Chamecki apresentaram a resposta de fls.
3622-3636, sustentando, em síntese:
a) atipicidade da conduta descrita na denúncia, porquanto a dispensa de licitação
para a contratação da Fundacen está amparada no art. 24, XIII, da Lei 8.666/93;
b) ausência do dolo necessário para caracterização do delito do art. 89, caput,
da Lei 8.666/93;
c) os valores pagos pela FAS à Fundacen decorreram da prestação dos servi-
ços contratados, razão porque não há falar em desvio de verbas públicas (DL 201/67,
art. 1º, II);
d) ausência de justa causa para a persecutio criminis, na medida em que a conduta
atribuída à denunciada não se ajusta ao tipo do art. 89 da Lei 8.666/93;
V
Cássio Taniguchi, Dinorah Botto Portugal Nogara, Armando Franco Deboni,
Ivo Mendes Lima e Sérgio Abu-Jamra Misael, às fls. 3640-3669, sustentam:
a) ilegitimidade passiva do acusado Cássio Taniguchi, em relação aos convênios
firmados entre a Fundacen e a Companhia de Desenvolvimento de Curitiba – CIC, a
Companhia de Habitação Popular de Curitiba – COHAB e aos contratos celebrados
com a Fundação Cultural de Curitiba – FCC e a Fundação de Ação Social – FAS,
certo que as duas primeiras são sociedades de economia mistas e as duas últimas são
fundações, todas elas dotadas de autonomia administrativa e financeira, representadas
juridicamente por seus presidentes;
b) ilegitimidade passiva da acusada Dinorah Botto Portugal Nogara, uma vez
que a conduta imputada — de ter solicitado urgência no encaminhamento de um aditivo
ao convênio celebrado com o Município de Curitiba — não configura crime; de igual
modo, a sua assinatura em aditivos ao convênio celebrado com a Fundacen também não
configura o tipo do art. 89 da Lei 8.666/93;
c) atipicidade das condutas atribuídas aos denunciados, tendo em vista que o
procedimento licitatório, no caso, não era obrigatório;
d) ausência do dolo necessário para caracterização do delito do art. 89, caput,
da Lei 8.666/93;
104 R.T.J. — 196
VI
Na resposta de fls. 3966-3986, Margarita Elizabeth Pericás Sansone, então
Presidente da FAS, alega que não praticou qualquer ilícito, ao argumento de que o
contrato celebrado com a Fundacen está amparado no art. 24, XIII, da Lei 8.666/93,
tendo, inclusive, recebido parecer favorável da Consultoria Jurídica da Procuradoria-
Geral do Município de Curitiba.
VII
Luciene Leire Taniguchi, na resposta de fls. 4026-4056, sustenta:
a) falta de justa causa para ação penal, ante a ausência de elementos demonstra-
tivos da existência de infração penal e a ausência de prova da participação da denunciada
no ilícito penal;
b) atipicidade da conduta atribuída à denunciada, tendo em vista a desnecessi-
dade do processo licitatório para a celebração dos convênios;
c) irrelevância da conduta da denunciada para fins de extensão do prazo do
convênio, não só porque a sua manifestação não tinha qualquer poder vinculativo, mas
também porque havia cláusula impondo a renovação automática do convênio;
d) ausência do dolo necessário para caracterização do delito do art. 89, caput,
da Lei 8.666/93;
VIII
Sinval Zaidan Lobato Machado apresentou a resposta de fls. 4063-4092, aduzindo
que a Fundacen é uma instituição sem fins lucrativos, instituída por 2 associações, 28
empresas privadas industriais e 3 cidadãos, destinada ao ensino, à pesquisa e ao desen-
volvimento institucional, científico e tecnológico, de reconhecida reputação ético-profis-
sional, voltada exclusivamente para consecução de ações, serviços, obras, projetos, pro-
gramas que visem a assegurar melhores condições de vida às comunidades carentes da
Região Metropolitana de Curitiba. Sustenta, mais, em síntese, o seguinte:
a) configuração de hipótese de convênio, visto que não se tratava de contratação
de serviços, mas sim “da conjugação de esforços em busca do atendimento de interesses
comuns dos partícipes” (fl. 4084);
R.T.J. — 196 105
IX
O Sr. André Zacharow, Deputado Federal, na resposta de fls. 4395-4427, sustenta:
a) atipicidade das condutas atribuídas ao denunciado, visto que a hipótese em
discussão configura caso de convênio, prescindindo de procedimento licitatório; acres-
centa que, ainda que se entenda que a situação se amoldava à hipótese de contrato, as
condutas também seriam atípicas, dado que a contratação ocorreu junto a entidade
voltada à pesquisa e ao ensino, cuja licitação também é dispensável (Lei 8.666/93, art.
24, XIII);
b) ausência do dolo necessário para caracterização do delito do art. 89, caput,
da Lei 8.666/93;
c) falta de justa causa, tendo em vista a ausência de um suporte probatório mínimo
da culpabilidade do denunciado;
d) inépcia da denúncia em razão da imprecisão das imputações formuladas
contra o denunciado;
X
Os autos foram remetidos a esta Corte, em razão da eleição do acusado André
Zacharow ao cargo de Deputado Federal (fl. 4577).
O Ministério Público Federal, às fls. 4588-4591, ratificou a manifestação do Mi-
nistério Público do Estado do Paraná de fls. 4549-4570 e manifestou-se pelo recebimento
da denúncia.
André Zacharow, às fls. 4594-4597, salientando que, no caso, “o Ministério Pú-
blico do Paraná investiu-se de poderes de polícia, tendo instaurado e presidido verda-
deiro inquérito, dissimulado sob a denominação de procedimento administrativo, com
o único intuito de arrecadar pretensas provas para o oferecimento de denúncia”, e
tendo em vista o decidido pela Segunda Turma no RHC 81.326, Rel. Min. Jobim, reque-
reu novo pronunciamento do Ministério Público Federal.
O eminente Procurador-Geral da República, Prof. Claudio Fonteles, às fls. 4713-
4715, manifesta-se no sentido do recebimento da denúncia.
É o relatório, do qual serão expedidas cópias para os Exmos. Srs. Ministros.
106 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): A denúncia atribui aos denunciados as
seguintes condutas típicas:
“(...)
1. Conforme consta dos autos, o 1º denunciado Cássio Taniguchi exerce o
cargo de Prefeito do Município de Curitiba/PR (reeleito para a gestão de 2001/
2004).
Nesta qualidade, no decorrer dos exercícios de 1997 a 2001, em doloso
conluio com alguns de seus auxiliares (Secretários, Diretores, Presidentes, Servi-
dores), o 1º denunciado Cássio Taniguchi, com a deliberada intenção de burlar a
Lei de Licitações para favorecer entidade privada, celebrou Contratos e aditivos,
dissimulados em Convênios, e autorizou diretores a celebrá-los, para prestação de
serviços, com a FUNDACEN-Fundação Instituto Tecnológico Industrial (institui-
ção privada, do Município de Araucária/PR), carreando-lhe vultuosos recursos pú-
blicos, sem prévia licitação (e sem o devido processo de dispensa, na maioria dos
casos), obrigatórias, nos casos adiante expostos. Concorreu dolosamente para a
consumação da ilegalidade, o denunciado Sinval Zaidan Lobato Machado, Con-
selheiro da Fundacen, beneficiando-a da indevida dispensa na celebração dos
contratos (convênios).
Os serviços prestados pela Fundacen em favor do Município de Curitiba,
resultaram de assinaturas de Termos de Convênios, Contratos e Aditivos que foram
firmados pelos denunciados (Prefeito, Diretores-Presidentes da Administração e o
Conselheiro da Fundacen) os quais em nenhum momento, precederam ao devido
processo licitatório, o que seria necessário, haja vista não se adequarem em casos
de dispensa, as características de contratos de prestação de serviços, contínuos e
regulares e as elevadas somas de recursos públicos despedidos, em favor de entidade
privada, especialmente nos exercícios de 1997 a 2001.
(...)
Consciente de que a situação não se amoldava à hipótese de Convênio, e
com vontade de evitar o processo licitatório, o denunciado Cássio Taniguchi fir-
mou esse Termo, intencionado em burlar a Lei de Licitações, simulando contrato
por convênio, tratando-se em verdade de prestação de serviços mediante pagamento
(contraprestação em dinheiro, e não mútua colaboração), com objeto vago, amplo,
indefinido, assim obrando para autorizar despesas (pagamentos mensais de recur-
sos sem quantificação) sem licitação, sequer formalizando processo de dispensa (§
único, art. 26, da Lei 8.666/93).
De comum acordo com o denunciado Cássio Taniguchi, para burlar a Lei de
Licitações, que celebrou verdadeiro contrato, disfarçado de convênio, sem licita-
ção e sem observar as formalidades pertinentes à dispensa, concorreram para o
crime, a denunciada Dinorah Botto Portugal Nogara, Secretária de Recursos Hu-
manos que, no processo interno n. 032.922, pelo Ofício n. 211/97, datado de 1º/4/
97, deu urgente encaminhamento à celebração do ilegal convênio que também
assinou (fls. 437/483 v. 2) e Sinval Zaidan Lobato Machado, postulando e assi-
nando a celebração direta do convênio/contrato, ciente de sua ilegalidade, para
assim beneficiar a Fundacen, da qual é Conselheiro.
R.T.J. — 196 107
II
Em primeiro lugar, passo ao exame dos delitos atribuídos ao Sr. André Zacharow,
Deputado Federal, que tem prerrogativa de foro.
A denúncia imputa ao parlamentar, que à época era Diretor Presidente da Compa-
nhia de Desenvolvimento de Curitiba-CIC, a conduta de haver firmado Termo de Con-
vênio e dois aditamentos com a FUNDACEN – Fundação Instituto Tecnológico Indus-
trial, sem observância do procedimento licitatório, que seria imprescindível no caso.
Afirma a denúncia que a situação não se amoldava à hipótese de convênio, tratando-se,
na verdade, de prestação de serviços mediante pagamento, com objeto vago, amplo e
indefinido. Por isso, imputa ao acusado a prática do delito tipificado no art. 89, caput, da
Lei 8.666/93.
110 R.T.J. — 196
III
Abrindo o debate, examino a alegação de nulidade da ação, posta na petição de fls.
4594-4597, porque fundada em elementos ilegalmente colhidos pelo Ministério Público
do Estado do Paraná. Segundo o acusado, “o Ministério Público do Paraná investiu-se
de poderes de polícia, tendo instaurado e presidido verdadeiro inquérito, dissimulado
sob a denominação de procedimento administrativo, com o único intuito de arrecadar
pretensas provas para o oferecimento de denúncia em face de diversos cidadãos, dentre
os quais vários servidores públicos”. Acrescenta que o Ministério Público “não se
limitou a requisitar diligências investigatórias ou pedidos de informações, tendo, em
verdadeiro abuso de atribuições, instaurado a investigação com a deliberada intenção
de promover posterior ação penal”(fls. 4595-4596).
Não tem procedência o alegado.
Tenho sustentado que não cabe ao Ministério Público realizar diretamente inves-
tigações penais, mas requisitá-las à autoridade policial competente (CF, art. 144, § 1º e
§ 4º). A ele incumbe promover ação penal pública, na forma da lei, e bem assim o
inquérito civil e ação civil pública, não lhe cabendo fazer as vezes da Polícia Federal ou
da Polícia Civil (RE 205.473/AL, DJ de 19-3-99). De outra parte, tenho entendido
também, conforme jurisprudência firmada na Corte, que a instauração de inquérito poli-
cial não é imprescindível à propositura da ação penal pública, podendo o Ministério
Público valer-se de outros elementos de prova para formar sua convicção (HC 70.991,
Min. Moreira Alves; RE 233.072, Min. Jobim).
Certo é que, na hipótese, o Ministério Público do Estado do Paraná não realizou,
diretamente, as investigações, mesmo porque encaminhou à autoridade policial a de-
núncia anônima recebida, oportunidade em que formalmente requereu a abertura de
inquérito (fl. 37). Ademais, consta dos autos — fls. 154-155, 349-350 — que o Ministério
Público, no curso do inquérito, requisitou várias diligências à referida autoridade.
É certo que o Ministério Público colheu em seu gabinete alguns depoimentos (fls.
309-311, 362-365). Entretanto, conforme salientei no voto que proferi no HC 83.463/
RS, julgado pela Segunda Turma em 16-3-2004, não vejo impedimento para que o
Ministério Público efetue a colheita de determinados depoimentos, quando, tendo co-
nhecimento fático do indício de autoria e da materialidade do crime, tiver notícia, di-
retamente, de algum fato que merecesse ser elucidado. De qualquer sorte, ainda que
assim não se entenda, a denúncia está fundada em provas outras que justificam o
procedimento penal.
IV
Passo ao mérito, vale dizer, ao exame da imputação do crime de dispensa irregular
de licitação.
Assim dispõe o art. 89, caput, da Lei 8.666/93:
“Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei,
ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:
Pena — detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.
R.T.J. — 196 111
“(...)
Cláusula primeira — do objeto
O presente Convênio tem por escopo a realização pela Fundação, de estudos
técnicos e prestação de suporte aos projetos e atividades, tidos como de interesse
mútuo para as partes, abrangendo:
• O desenvolvimento e a introdução de novas referências, métodos e técnicas
nos diversos projetos e atividades a serem executados;
• O desenvolvimento de programas de formação e capacitação de recursos
humanos;
• A realização de estudos e pesquisa de interesse da CIC.
Cláusula segunda
A Fundação executará estudos técnicos e prestará serviços à CIC, que forma-
lizará sua solicitação através de correspondência, firmada pelo seu Diretor Presi-
dente, para elaboração dos respectivos Termos Aditivos, baseando-se, para tal em
entendimentos prévios entre as partes.
Cláusula Terceira
Na execução dos serviços objeto deste Convênio, serão de atribuição e res-
ponsabilidade:
I – Da CIC:
a) coordenação do presente convênio;
b) fornecimento de dados técnicos relativos aos estudos e serviços a serem
desenvolvidos;
c) a designação de responsável para acompanhar a compatibilização dos
trabalhos referentes aos estudos e serviços integrantes do Plano de Ação supracitado,
e conseqüente orientação à Fundação;
d) a aprovação prévia da qualificação e da experiência dos profissionais a
serem alocados pela Fundação, na execução dos estudos e serviços;
e) a aprovação técnica dos estudos e serviços realizados pela Fundação, su-
gerindo alterações e recomendações quando necessário.
II – Da Fundação:
a) a designação de todo o pessoal técnico, administrativo e outros, especializado
ou não, necessário à execução dos estudos e serviços previstos e dos que venham a ser
acrescidos, dentre os funcionários de seu quadro próprio de pessoal ou contratados,
mediante prévia seleção na forma de lei;
b) a realização e coordenação dos serviços técnicos e administrativos relati-
vos aos trabalhos, assegurando a qualidade compatível com a natureza dos servi-
ços a executar;
c) assegurar a disponibilidade de materiais e equipamentos necessários à
execução dos estudos e serviços previstos;
R.T.J. — 196 113
Não fora assim, convém registrar que o ajuste foi celebrado com instituição a que
se refere o art. 24, XIII, da Lei 8.666/93, em que a licitação é dispensável. Dispõe o
mencionado dispositivo:
‘Art. 24. É dispensável a licitação:
(...)
XIII - na contratação de instituição brasileira incubida regimental ou
estatutariamente da pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional, ou
de instituição dedicada à recuperação social do preso, desde que a contratada
detenha inquestionável reputação ético-profissional e não tenha fins lucrativos;”
Entendo, pois, que a Fundacen enquadra-se na citada disposição legal, na medida
em que é uma instituição brasileira, sem fins lucrativos, destinada ao ensino, à pesquisa
e ao desenvolvimento científico e tecnológico (art. 1º do Estatuto). De outra parte, os
documentos de fls. 569-594 (Volume 4) atestam a sua reputação, cumprindo destacar
que a referida instituição foi declarada de Utilidade Pública Federal pelo Ministério da
Justiça (fl. 287).
Posta a questão nesses termos, tem-se, no caso, conduta atípica relativamente ao
acusado, então Diretor Presidente da Companhia de Desenvolvimento de Curitiba –
CIC, André Zacharow, atualmente Deputado Federal. Julgo, pois, improcedente a acusa-
ção (Lei 8.038/90, art. 6º).
V
Os demais acusados estão, em substância, em situação igual, tendo em considera-
ção que as condutas referidas não se enquadram na tipicidade do art. 89, caput, da Lei
8.666/93. Julgo, por igual, improcedente a acusação contra os demais acusados.
É como voto.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, ouvi, de início, que tudo teria se
originado em um documento apócrifo, em uma carta anônima. Essa premissa procede?
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): É verdade.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Adianto o meu pensamento a respeito, para depois
chegar à problemática da investigação pelo Ministério Público, se for o caso.
Vivemos em um Estado Democrático de Direito e, no caso, a Carta da República só
prevê o sigilo quando ele é inerente à própria atividade profissional desenvolvida. Não
podemos imaginar a inauguração de uma época que se faça a partir do denuncismo
irresponsável. Não podemos imaginar uma verdadeira época de terror em que, a partir de
uma postura condenável, chegue-se à persecução criminal.
Se formos a diplomas, veremos que eles glosam, em si, a carta anônima. Temos a
Lei n. 8.112/90, relativa aos servidores públicos, a repudiar a denúncia anônima. Temos
a Lei de Improbidade em idêntico sentido. Temos, em si, resolução desta Corte, atinente
à Ouvidoria, colocando no lixo — e a expressão exata deve ser veiculada — cartas
R.T.J. — 196 117
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Senhor Presidente, pergunto ao eminente Relator
sobre a essencialidade do ponto no caso concreto, porque pedi vista na Turma de um
habeas corpus em que se discute esse problema.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): É preciso examinar o caso. Qual é a
situação?
Senhor Ministro Sepúlveda Pertence, Vossa Excelência quer um esclarecimento?
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: O eminente Ministro Marco Aurélio aponta
uma prejudicial absoluta.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: A questão está sendo discutida na Turma e ainda
não houve conclusão.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Nesse processo, assumi posição diferente da do emi-
nente Ministro Marco Aurélio.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): No processo da Primeira Turma?
O Sr. Ministro Carlos Britto: Sim. Entendi que pode haver investigação a partir de
uma denúncia anônima. Não pode haver é uma denúncia exclusivamente baseada numa
notitia criminis sem autoria, mas, como ponto de partida, a cidadania pode se manifestar,
sim, anonimamente.
118 R.T.J. — 196
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Não imagino denúncia anônima pelo Ministério
Público.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Preocupa-me levar os princípios nobilíssimos
às últimas conseqüências. Um telefonema anônimo comunicando haver um cadáver ou
um seqüestro, num determinado momento, impedirá — não falo da abertura formal de
inquérito — a ação imediata da polícia para verificar a informação?
O Sr. Ministro Carlos Britto: É um início de investigação.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Materialidade é uma coisa; imputação é algo
diverso. Se há um telefonema anônimo, sem a pessoa se identificar, para a delegacia
policial, comunicando que, em tal lugar, há um cadáver ou está havendo tráfico de
drogas, evidentemente a polícia tem de ir ao local.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): O texto da carta anônima está nos autos?
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Parece ser este o caso, embora não haja cadá-
ver: a denúncia é da existência de convênios ou contratos sem licitação.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Penso que poderíamos prosseguir no jul-
gamento. Vossa Excelência verificará a irrelevância da questão no caso concreto.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Não podemos ir ao mérito para depois voltar à
questão prejudicial.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Temos de examinar a carta.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): A carta está nos autos?
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Vossa Excelência proclama que o fato não é típico?
O Sr. Ministro Eros Grau: Senhor Ministro Carlos Velloso, permite-me uma obser-
vação?
Sem querer antecipar, parece-me claro — Vossa Excelência já o disse — que o caso
não é de inquérito criminal, mas de inquérito civil. Nitidamente, a meu ver, não há o fato
típico, porque as mesmas regras aplicáveis aos contratos se aplicam aos convênios.
Podia haver a licitação. O que me parece consubstanciar a razão da denúncia é ter-se
celebrado um contrato “guarda-chuva”, utilizado para se pagar alguns funcionários.
Mas esse não é um delito típico do art. 89. Parece-me claro, então, não se tratar de um
ilícito penal, mas sim de um ilícito administrativo, o que justificaria um inquérito civil
público.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Por isso eu gostaria de prosseguir.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Então, o que estamos fazendo, no Supremo, com
este processo? Vamos retificar a autuação e baixar à primeira instância.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Será aberto um procedimento investigatório a respeito
de um fato típico e baseado em documento ilícito, que não deveria gerar nenhuma
conseqüência jurídica.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Lembro-me de, logo no início, ter apare-
cido, aqui, aquele problema do fruto da árvore proibida, em que havia uma escuta tele-
fônica ilícita, e o Tribunal entendeu corretamente que a prova ilícita contaminava as
R.T.J. — 196 119
tese. Havia até um exemplo dado pelo Ministro Sydney Sanches: mediante intervenção
telefônica não autorizada, descobre-se um cadáver desaparecido de uma mulher; numa
das mãos desse cadáver há alguns cabelos; a mulher morrera lutando. Faz-se o exame de
DNA e localiza-se, então, o assassino. Poderiam, com base nisso, prosseguir as investiga-
ções? Claro que sim, observado o princípio da razoabilidade, da proporcionalidade.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Há situações em que um cidadão indefeso não pode
assumir. Ele tem ciência.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): No caso, por exemplo, da denúncia anônima
contra criminosos perigosos, contra, por exemplo, narcotraficantes. Deve ela ser tratada
com sigilo. Observamos, nesse caso, o princípio da proporcionalidade.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Um telefonema anônimo nesse caso está correto.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: A questão, parece-me, está colocada de uma maneira
um tanto quanto — quer dizer, não conheço os autos — subvertida. Se houve esse
inquérito, a rigor, falando que há um ato publicado no diário oficial?
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: É o cadáver.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Não é isso?
O Ministro Cezar Peluso está sustentando que não se pode dizer que um inquérito
está sendo aberto com base nessa afirmação.
Agora, se se tem uma informação em administração ou alguém quer investigar um
fato que está no?
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Penso que a grande preocupação do Tribunal é fixar
um princípio do qual não se extraia nenhuma conseqüência perigosa para os resultados
de investigações de ordem criminal e civil, é não permitir que uma denúncia anônima
possa ser...
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Ganhe forma em figura de juízo.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Em figura de juízo para dar início a uma investigação
de caráter formal.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Concordo com esse entendimento.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: A minha curiosidade é porque, dado o caso, a
materialidade do crime seria a documentação de alguns contratos. E se discute se são
contratos ou convênios.
Não é a denúncia anônima que vai esclarecer essa dúvida.
O Sr. Ministro Carlos Britto: A fase da denúncia anônima está superada.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Cujo resumo é de publicação obrigatória no Diário
Oficial.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Mais um motivo para não ter havido denúncia
anônima; está publicado no Diário Oficial. Era só dizer: conforme publicação no
Diário tal.
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Quero saber o que ocorreu com esse contrato ou
com esse convênio.
R.T.J. — 196 121
O Sr. Ministro Cezar Peluso: A polícia que investigue o que ocorreu. É claro. De
outro modo se proclamaria a irresponsabilidade total civil e penal: ninguém responde
por acusação falsa.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Não se pode intimar o sujeito com base
na carta anônima.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sim, mas se pode verificar se existe o fato
material noticiado.
VOTO (Confirmação)
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Senhor Presidente, também já deixei ex-
presso o meu pensamento. Com a vênia devida, rejeito.
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Senhor Presidente, honestamente, teria de exa-
minar a carta, senão pedirei vista.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Então, vamos à carta.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Veja, Ministro Sepúlveda Pertence, o
exemplo do cadáver.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: O cadáver, aí, é o convênio ou o contrato.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Exatamente, papéis esses que existiam,
que podemos analisar e que foram analisados.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Documentos oficiais.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Documentos oficiais.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Então é isso. E tais entidades da administração
de Curitiba estariam firmando contrato.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Convênio, mas, na verdade, estavam fir-
mando contrato. É o que se alega.
Essa é, em síntese, a questão.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: No máximo, é um parecer jurídico anônimo
sobre se é contrato ou convênio.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Mas esse é o conteúdo da carta?
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Exato.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: No caso, rejeito a denúncia.
122 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau: Senhor Presidente, quero enfatizar que fico com o en-
tendimento da Primeira Turma, execrando o anonimato e a delação. Ela deixou bem
marcado isso e quero deixar, mais uma vez, bem marcado.
No caso concreto, o início, a apuração dos fatos independia da existência dessa
carta anônima.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, eu teria uma pergunta: o que vem
primeiro, a forma ou o conteúdo?
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Britto: Senhor Presidente, rejeito, mas também enfatizando —
ao contrário do que disse o eminente Ministro Eros Grau — que, em princípio, não
abomino, não excomungo a delação, a denúncia anônima. Penso que ela pode se prestar,
sim, como instrumento de cidadania, colaboração dos particulares para com o Poder
Público, na apuração e desvendamento de atos ilícitos.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Em alguns casos, é inexigível conduta
diversa do denunciante.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Pode ser, tudo depende do caso concreto.
VOTO
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhor Presidente, também farei a ressalva, porque
acho importante deixar claro o meu ponto de vista, ainda que a questão seja considerada
prejudicada. Não abomino, nem excomungo o anonimato; quem o abomina e excomunga
é o ordenamento jurídico, para o qual o anonimato é um desvalor jurídico e, como tal,
não pode ser considerado para nenhum efeito.
Não descerei a considerações mais profundas a esse respeito, lembrando, por exem-
plo, o próprio Código Penal, em que a pena da denunciação caluniosa é agravada quando
o denunciante se valha do anonimato (art. 339, § 1º), mostrando sua reprovabilidade
máxima, a de ordem criminal, porque o anonimato é fonte presuntiva de crime e de total
irresponsabilidade. Não há nenhum motivo para que, em circunstâncias normais, o denun-
ciante não se identifique.
Porém, se há, no caso, elementos concretos que dariam o suporte ao início da
investigação, firmo o princípio, mas me abstenho de formular juízo de prejudicialidade
a esse respeito. Se há elementos que poderiam fundamentar o início do procedimento,
supero essa questão.
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Senhor Presidente, ressaltei, nos debates, que, na
linha do que destacado pelo Ministro Cezar Peluso, não vejo como valorar a denúncia
anônima a esse ponto.
R.T.J. — 196 123
Federal Anotada”, p. 91, 4ª ed., 2002, Saraiva) e Celso Ribeiro Bastos/Ives Gandra
Martins (“Comentários à Constituição do Brasil”, vol. 2/43-44, 1989, Saraiva), dentre
outros eminentes autores, cujas lições enfatizam, a propósito do tema, que a proibição
do anonimato — por tornar necessário o conhecimento da autoria da comunicação
feita — visa a fazer efetiva, a posteriori, a responsabilidade penal e/ou civil daquele que
abusivamente exerceu a liberdade de expressão.
Lapidar, sob tal perspectiva, o magistério de José Afonso da Silva (“Curso de
Direito Constitucional Positivo”, p. 244, item n. 15.2, 20ª ed., 2002, Malheiros), que, ao
interpretar a razão de ser da cláusula constitucional consubstanciada no art. 5º, IV, in
fine, da Lei Fundamental, assim se manifesta:
“A liberdade de manifestação do pensamento tem seu ônus, tal como o de o
manifestante identificar-se, assumir claramente a autoria do produto do pensa-
mento manifestado, para, em sendo o caso, responder por eventuais danos a ter-
ceiros. Daí porque a Constituição veda o anonimato. A manifestação do pensa-
mento não raro atinge situações jurídicas de outras pessoas a que corre o direito,
também fundamental individual, de resposta. (...).” (Grifei)
É inquestionável, Senhor Presidente, que a delação anônima, notadamente quando
veicular a imputação de supostas práticas delituosas, pode fazer instaurar situações de
tensão dialética entre valores essenciais — igualmente protegidos pelo ordenamento
constitucional —, dando causa ao surgimento de verdadeiro estado de colisão de
direitos, caracterizado pelo confronto de liberdades revestidas de idêntica estatura
jurídica, a reclamar solução que, tal seja o contexto em que se delineie, torne possível
conferir primazia a uma das prerrogativas básicas em relação de antagonismo com deter-
minado interesse fundado em cláusula inscrita na própria Constituição.
O caso veiculado na presente questão de ordem suscitada pelo eminente Ministro
Marco Aurélio pode traduzir, eventualmente, a ocorrência, na espécie, de situação de
conflituosidade entre direitos básicos titularizados por sujeitos diversos.
Com efeito, há, de um lado, a norma constitucional, que, ao vedar o anonimato
(CF, art. 5º, IV), objetiva fazer preservar, no processo de livre expressão do pensamento,
a incolumidade dos direitos da personalidade (como a honra, a vida privada, a imagem
e a intimidade), buscando inibir, desse modo, delações de origem anônima e de conteúdo
abusivo. E existem, de outro, certos postulados básicos, igualmente consagrados pelo
texto da Constituição, vocacionados a conferir real efetividade à exigência de que os
comportamentos individuais, registrados no âmbito da coletividade, ajustem-se à lei e
mostrem-se compatíveis com padrões ético-jurídicos decorrentes do próprio sistema de
valores que a nossa Lei Fundamental consagra.
Assentadas tais premissas, Senhor Presidente, entendo que a superação dos anta-
gonismos existentes entre princípios constitucionais há de resultar da utilização, pelo
Supremo Tribunal Federal, de critérios que lhe permitam ponderar e avaliar, hic et
nunc, em função de determinado contexto e sob uma perspectiva axiológica concreta,
qual deva ser o direito a preponderar no caso, considerada a situação de conflito ocor-
rente, desde que, no entanto, a utilização do método da ponderação de bens e interesses
não importe em esvaziamento do conteúdo essencial dos direitos fundamentais, tal como
adverte o magistério da doutrina (Daniel Sarmento, “A Ponderação de Interesses na
Constituição Federal”, p. 193/203, “Conclusão”, itens n. 1 e 2, 2000, Lumen Juris; Luís
R.T.J. — 196 125
seu autor. Se, no dizer de G. Leone, não se deve incluir o escrito anônimo entre os
atos processuais, não servindo ele de base à ação penal, e tampouco como fonte de
conhecimento do juiz, nada impede que, em determinadas hipóteses, a autoridade
policial, com prudência e discrição, dele se sirva para pesquisas prévias.
Cumpre-lhe, porém, assumir a responsabilidade da abertura das investigações,
como se o escrito anônimo não existisse, tudo se passando como se tivesse havido
notitia criminis inqualificada.” (Grifei)
Essa orientação — perfilhada por Jorge Ulisses Jacoby Fernandes (“Tomada de
Contas Especial”, p. 51, item n. 4.1.1.1.2, 2ª ed., 1998, Brasília Jurídica) — é também
admitida, em sede de persecução penal, por Fernando Capez (“Curso de Processo
Penal”, p. 77, item n. 10.13, 7ª ed., 2001, Saraiva):
“A delação anônima (notitia criminis inqualificada) não deve ser repelida de
plano, sendo incorreto considerá-la sempre inválida; contudo, requer cautela redo-
brada, por parte da autoridade policial, a qual deverá, antes de tudo, investigar a
verossimilhança das informações.” (Grifei)
Com idêntica percepção da matéria em exame, orienta-se o magistério de Julio
Fabbrini Mirabete (“Código de Processo Penal Interpretado”, p. 95, item n. 5.4, 7ª
ed., 2000, Atlas):
“(...) Não obstante o art. 5º, IV, da CF, que proíbe o anonimato na manifesta-
ção do pensamento, e de opiniões diversas, nada impede a notícia anônima do
crime (notitia criminis inqualificada), mas, nessa hipótese, constitui dever funcio-
nal da autoridade pública destinatária, preliminarmente, proceder com a máxima
cautela e discrição a investigações preliminares no sentido de apurar a verossimi-
lhança das informações recebidas. Somente com a certeza da existência de indícios
da ocorrência do ilícito é que deve instaurar o procedimento regular.” (Grifei)
Esse entendimento é também acolhido por Nelson Hungria (“Comentários ao
Código Penal”, vol. IX/466, item n. 178, 1958, Forense), cuja análise do tema — reali-
zada sob a égide da Constituição republicana de 1946, que expressamente não permi-
tia o anonimato (art. 141, § 5º), à semelhança do que se registra, presentemente, com a
vigente Lei Fundamental (art. 5º, IV, in fine) — enfatiza a imprescindibilidade da
investigação, ainda que motivada por delação anônima, desde que fundada em fatos
verossímeis:
“Segundo o § 1º do art. 339, ‘A pena é aumentada de sexta parte, se o agente
se serve de anonimato ou de nome suposto’. Explica-se: o indivíduo que se res-
guarda sob o anonimato ou nome suposto é mais perverso do que aquêle que age
sem dissimulação. Êle sabe que a autoridade pública não pode deixar de investi-
gar qualquer possível pista (salvo quando evidentemente inverossímil), ainda
quando indicada por uma carta anônima ou assinada com pseudônimo; e, por
isso mesmo, trata de esconder-se na sombra para dar o bote viperino. Assim, quando
descoberto, deve estar sujeito a um plus de pena.” (Grifei)
Essa mesma posição, Senhor Presidente, é igualmente perfilhada, dentre outros,
por Guilherme de Souza Nucci (“Código de Processo Penal Comentado”, p. 68, item n. 29,
2002, RT), Damásio E. de Jesus (“Código de Processo Penal Anotado”, p. 9, 18ª ed., 2002,
Saraiva), Giovanni Leone, (“Trattato di Diritto Processuale Penale”, vol. II/12-13,
128 R.T.J. — 196
item n. 1, 1961, Casa Editrice Dott. Eugenio Jovene, Napoli), Fernando da Costa
Tourinho Filho (“Código de Processo Penal Comentado”, vol. 1/34-35, 4ª ed., 1999,
Saraiva) e Romeu de Almeida Salles Junior (“Inquérito Policial e Ação Penal”, item
n. 17, p. 19-20, 7ª ed., 1998, Saraiva), cumprindo rememorar, ainda, por valiosa, a
lição de Rogério Lauria Tucci (“Persecução Penal, Prisão e Liberdade”, pp. 34/35,
item n. 6, 1980, Saraiva):
“Não deve haver qualquer dúvida, de resto, sobre que a notícia do crime
possa ser transmitida anonimamente à autoridade pública (...).
(...) constitui dever funcional da autoridade pública destinatária da notícia
do crime, especialmente a policial, proceder, com máxima cautela e discrição, a
uma investigação preambular no sentido de apurar a verossimilhança da infor-
mação, instaurando o inquérito somente em caso de verificação positiva. E isto,
como se a sua cognição fosse espontânea, ou seja, como quando se trate de notitia
criminis direta ou inqualificada (...).” (Grifei)
Esse entendimento também fundamentou julgamento que proferi, em sede mono-
crática, a propósito da questão pertinente aos escritos anônimos. Ao assim julgar,
proferi decisão que restou consubstanciada na seguinte ementa:
“Delação anônima. Comunicação de fatos graves que teriam sido pratica-
dos no âmbito da administração pública. Situações que se revestem, em tese, de
ilicitude (procedimentos licitatórios supostamente direcionados e alegado pa-
gamento de diárias exorbitantes). A questão da vedação constitucional do anoni-
mato (CF, art. 5º, IV, in fine), em face da necessidade ético-jurídica de investiga-
ção de condutas funcionais desviantes. Obrigação estatal, que, imposta pelo
dever de observância dos postulados da legalidade, da impessoalidade e da
moralidade administrativa (CF, art. 37, caput), torna inderrogável o encargo
de apurar comportamentos eventualmente lesivos ao interesse público. Razões
de interesse social em possível conflito com a exigência de proteção à incolumi-
dade moral das pessoas (CF, art. 5º, X). O direito público subjetivo do cidadão
ao fiel desempenho, pelos agentes estatais, do dever de probidade constituiria
uma limitação externa aos direitos da personalidade? Liberdades em antago-
nismo. Situação de tensão dialética entre princípios estruturantes da ordem
constitucional. Colisão de direitos que se resolve, em cada caso ocorrente, medi-
ante ponderação dos valores e interesses em conflito. Considerações doutrinárias.
Liminar indeferida.”
(MS 24.369-MC/DF, Rel. Min. Celso de Mello, in Informativo/STF n. 286/2002)
Cabe referir, ainda, que o E. Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar a questão
da delação anônima, analisada em face do art. 5º, IV, in fine, da Constituição da Repú-
blica, já se pronunciou no sentido de considerá-la juridicamente possível, desde que o
Estado, ao agir em função de comunicações revestidas de caráter apócrifo, atue com
cautela, em ordem a evitar a consumação de situações que possam ferir, injustamente,
direitos de terceiros:
“Criminal. RHC. Notitia criminis anônima. Inquérito policial. Validade.
1. A delatio criminis anônima não constitui causa da ação penal que surgirá,
em sendo o caso, da investigação policial decorrente. Se colhidos elementos sufi-
cientes, haverá, então, ensejo para a denúncia. É bem verdade que a Constituição
R.T.J. — 196 129
VOTO
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): No caso concreto, as informações anôni-
mas davam conta da existência de alguns dados objetivos. Aqui há indicação de fatos
que foram examinados e deu-se prosseguimento à investigação.
Peço vênia ao Ministro Marco Aurélio, para acompanhar o voto do Ministro Relator.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: E o problema da investigação pelo Ministério Público?
R.T.J. — 196 133
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Houve inquérito policial e outras provas, não?
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Mas a partir de uma investigação do Ministério
Público. Primeiro, em relação à carta anônima, depois uma investigação procedida pelo
titular da ação penal.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Recebida a denúncia anônima pelo Minis-
tério Público, este a encaminhou à autoridade policial e requereu abertura de inquérito.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: E procedeu à inquérito civil para a defesa do
patrimônio público.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Temos, no caso, alegação de ofensa ao
patrimônio público, caso de inquérito civil. É possível, nesta hipótese, o inquérito civil.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Teria contornos de inquérito civil propriamente
dito, e, aí, posteriormente, houve adoção do instituto da prova emprestada. Seria a prova
ou, pelo menos, elemento do inquérito civil.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Ministro, tenha paciência! Aguarde um
pouco.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Apenas preciso, na condição de juiz, de informações
para formar convencimento sobre a matéria e, ao que tudo indica, acompanhar Vossa
Excelência. Nessa parte, sim, porque Vossa Excelência acaba de esclarecer que, diante
da carta anônima, requereu o Ministério Público a instauração do inquérito, que, na
visão do leigo — não é a minha —, não é o inquérito ministerial, é o policial, não é? E,
aí, paralelamente, houve, no âmbito do Ministério Público, o inquérito visando a colher
elementos para propositura da ação civil pública. E a Carta, no artigo 129, reserva ao
Ministério Público — aqui sim, nesse campo — a promoção do inquérito.
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Ministro Marco Aurélio, o inquérito
ministerial é uma linguagem muito ajustada às posições eclesiásticas do nosso Procurador.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Depois que me defrontei com um “acórdão turmário”,
tudo é possível.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: E a sentença “varal”, de que também já ouvi
falar?
EXTRATO DA ATA
Inq 1.957/PR — Relator: Ministro Carlos Velloso. Autor: Ministério Público
Federal. Indiciados: André Zacharow (Advogados: João Ricardo Cunha de Almeida e
outro), Cássio Taniguchi (Advogados: Renato Cardoso de Almeida Andrade e outro),
Marina Klamas Taniguchi (Advogados: Renato Cardoso de Almeida Andrade e outro),
Dinorah Botto Portugal Nogara (Advogados: Louise Rainer Pereira Gionédis e outro),
Sinval Zaidan Lobato Machado ou Sinval Zaidane Lobato Machado (Advogados: Nilso
Romeu Sguarezi e outro), Margarita Elizabeth Pericás Sansone (Advogados: Leonardo
da Costa e outros), Luciane Leiria Taniguchi (Advogados: Luiz Antonio Câmara e outro),
Armando Franco Deboni (Advogados: Fernando O’reilly Cabral Barrionuevo e outro),
Cassio Chamecki (Advogados: Giovani Gionédis e outro), Ivo Mendes Lima (Advogados:
Vanessa Volpi Bellegard Palacios e outro), e Sergio Abu-Jamra Misael (Advogados:
Louise Rainer Pereira Gionédis e outro).
134 R.T.J. — 196
Decisão: O Tribunal, por maioria, rejeitou a questão de ordem suscitada pelo Mi-
nistro Marco Aurélio a respeito da carta anônima, vencido Sua Excelência. No mérito,
absolveu todos os acusados, nos termos do voto do Relator. Votou o Presidente, Minis-
tro Nelson Jobim. Falaram, pelo Ministério Público Federal, o Dr. Cláudio Lemos Fonteles,
Procurador-Geral da República, pelos indiciados Cássio Taniguchi e Marina Klamas
Taniguchi, o Dr. Renato Cardoso de Almeida Andrade e, pelo indiciado André Zacharow,
o Dr. João Ricardo Cunha de Almeida.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes,
Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da Repú-
blica, Dr. Cláudio Lemos Fonteles.
Brasília, 11 de maio de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
RECLAMAÇÃO 2.190 — MA
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
julgar procedente, em parte, a reclamação, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 23 de agosto de 2005 — Sepúlveda Pertence, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Julgam-se, nesta assentada, as Reclamações
2.190 e 2.123 (em apenso).
R.T.J. — 196 135
Na primeira delas (Rcl 2.190), colhe-se a descrição dos fatos pelo il. patrono do
reclamante:
“Em 18 de outubro de 1993, perante o juízo reclamado, foi oferecida denún-
cia contra o reclamante e outros, autuada sob o n. 150/93 (Documento n. 1).
Houve desmembramento do feito, dando origem à autuação sob o n. 155/93
[onde o reclamante está sendo processado].
Tendo o MP, posteriormente, oferecido denúncia também contra Salvador
Rodrigues de Almeida e outros, foi ela autuada sob o n. 193/94 (Documento n. 2).
Como Salvador Rodrigues de Almeida era Prefeito Municipal de Imperatriz,
o Juiz que presidia o feito proferiu despacho, em 13 de abril de 1994, nos autos do
processo 193/94 (fls. 135/9), declinando da competência e determinando a remessa
dos autos dos três processos (150/93, 155/93 e 193/94), ao Tribunal de Justiça do
Estado do Maranhão (Documento n. 3).
(...)
A requerimento do Procurador-Geral de Justiça do Estado (Documento n. 5),
que ratificou a denúncia contra o então Prefeito Municipal, Salvador Rodrigues de
Almeida, o Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão decidiu, em 4 de maio de
1994, na Ação Penal n. 00089/94, ali instaurada, no sentido da sua competência
para julgar apenas o réu Salvador Rodrigues de Almeida, mandando que os demais
fossem julgados pelo Tribunal do Júri da Comarca (Documento n. 6).
Julgando o Habeas Corpus n. 71.551, em 6 de dezembro de 1994, esse
Supremo Tribunal Federal anulou aquela decisão do Tribunal de Justiça do Estado
do Maranhão, restando assim ementado o v. Acórdão:
‘Habeas corpus – Direito de defesa – Sustentação oral – Desrespeito –
Julgamento realizado sem prévia publicação da pauta respectiva —
Acórdão desprovido de fundamentação – Nulidade – Necessidade de reali-
zação de novo julgamento – Concessão de liberdade aos pacientes – Pedido
deferido.
É nulo o julgamento de causa penal, em Segunda instância, sem prévia
intimação, ou publicação da pauta, salvo em habeas corpus (Súmula 431/
STF).
A realização dos julgamentos pelo Poder Judiciário, além da exigência
constitucional de sua publicidade (CF, art. 93, IX), supõe, para efeito de sua
válida efetivação, a observância do postulado que assegura ao réu a garantia
da ampla defesa.
A sustentação oral constitui ato essencial à defesa. A injusta frustração
dessa prerrogativa qualifica-se como ato hostil ao ordenamento constitucional.
O desrespeito estatal ao direito do réu à sustentação oral atua como causa
geradora da própria invalidação formal dos julgamentos realizados pelos
Tribunais. Precedentes.’ (Rel. Min. Celso de Mello) (Documento n. 7).
Na conclusão do voto do Eminente Relator, ficou assim decidido:
136 R.T.J. — 196
Logo, não faz sentido devolver a questão a uma nova decisão do Tribunal
local.
Esse o quadro, julgo prejudicada a reclamação, a fim de que prossigam os
diversos processos relativos ao mesmo homicídio, incluído aquele a que responde
o reclamante: é o meu voto.”
Comunicada a decisão, o Juiz de primeiro grau assim decidiu (Ação Penal 155 —
fl. 72):
“Considerando a decisão do STF acerca da Reclamação n. 636-1 Maranhão, de
4-12-01, julgando-a prejudicada, com a extinção do mandato do Prefeito Salvador
Rodrigues de Almeida, para restabelecer a competência do Tribunal do Júri desta
Comarca para julgamento (fls. 2.912 a 2.922) e já tendo transitado em julgado a
sentença de pronúncia, dê-se vista ao Ministério Público para libelo acusatório no
prazo legal”.
Oferecido o libelo em 18-7-02 (fls. 73/74), o Reclamante peticionou àquele Juízo,
para que, em cumprimento à decisão do HC 71.551, fossem repetidos todos os atos
posteriores a 4 de maio de 1994 (fls. 75/89), sob o fundamento de que, desde então, até
o julgamento da Rcl 636, em 4-12-01, aquele Juízo era incompetente.
Decidiu o Juiz de primeiro grau no sentido de que, julgada prejudicada a Rcl 636,
“a decisão do Habeas Corpus 71.551-6 deixou de existir e de produzir os efeitos de
nulidade do julgamento do TJ/MA e dos atos posteriores”, não havendo, pois, nulidade
a ser reconhecida (fls . 90/96).
Donde a primeira das reclamações, na qual se impugna esta decisão e a que dera
vista ao Ministério Público para o libelo, nestes termos:
“O Acórdão prolatado no HC 71.551 contém três decisões.
A primeira: anulou a decisão do Tribunal de Justiça e mandou fosse outra
proferida; por dois fundamentos, a saber, falta de fundamentação e ausência de
intimação das partes.
A segunda: em conseqüência da primeira, foi concedida liberdade aos paci-
entes.
A terceira, também por conseqüência da primeira: anular todos os atos pra-
ticados, em primeira e em segunda instâncias, em todos os processos, que tiverem
sido praticados posteriormente à decisão do TJMA, de 04.05.94. Logo, tudo
quanto se praticou a partir daquela data, não tem qualquer valor.
O Acórdão prolatado na Reclamação 636, ao julgá-la prejudicada, determi-
nou, em 04 de dezembro de 2001, o prosseguimento dos processos, afirmando, só
aí, a competência do Tribunal do Júri para julgar todos os acusados.
Esta última decisão do STF limitou-se a considerar desnecessária (...) a reali-
zação de novo julgamento no TJMA acerca da competência, tendo em conta a
superveniência da extinção do mandato de Salvador Rodrigues de Almeida, e, de
conseqüência, a afirmar a competência do Tribunal de Júri. Nada mais que isso.
Cingiu-se a julgar prejudicado apenas o pedido de renovação do julgamento na
Corte Estadual, e afirmar a competência do Tribunal do Júri.
138 R.T.J. — 196
Tal decisão, por essa razão, não modificou, em nada, aquela decisão proferi-
da no HC 71.551, nem no ponto em que concedeu a liberdade aos pacientes, nem
tampouco na parte que declarou nulos todos os atos processuais após o dia 04 de
maio de 1994. Ao julgar prejudicada a reclamação, o STF não revalidou os atos
processuais declarados nulos, nem podia fazê-lo, à evidência. Senão vejamos.
(...)
Com o julgamento da Reclamação 636, o Supremo Tribunal Federal dispen-
sou o TJMA de renovar o julgamento, em face de fato superveniente, e só aí (...)
afirmou a competência do Tribunal do Júri para julgar todos os réus, determinando
o prosseguimento de todos os processos.
A conclusão, óbvia, portanto, é a de que, enquanto não tinha sido julgada a
Reclamação 636, não se podia afirmar a competência do Tribunal do Júri. Enquanto
o STF não decidiu a Reclamação 636, os processos não poderiam ter tido seqüência
no juízo de primeiro grau, porque no HC 71.551, aquela decisão do TJMA já fora
declarada nula, bem assim todos os atos subseqüentes.”
Dentre os atos que defende devam ser anulados, aponta a decisão de pronúncia.
O Ministério Público Federal, em parecer do Il. Subprocurador-Geral da República
Wagner Natal Batista, opinou nestes termos:
“(...) Temos que ao contrário do que entende o reclamante a ordem concedida
não se aplicaria a ele e nem ao processo que responde por uma razão bem simples,
não foi ele parte no habeas corpus que foi impetrado pelos réus dos autos 193 e
não se referia aos autos 155. Os impetrantes do HC 71.551 como se pode ler às fls.
46 foram: Damião Benício dos Santos, Ronaldo Machado Arantes, Salvador
Rodrigues de Almeida, e Saulo Antônio Gomes.
Entretanto, mesmo que tal não ocorresse entendemos que a decisão tomada
na reclamação 636 de julgá-la prejudicada aqui também se justifica pelos mesmos
argumentos o que nos leva a manifestar pelo seu indeferimento.”
II
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator):
I
sido julgados ou condenados com pena ainda não extinta, salvo quanto ao então Prefeito,
Salvador Rodrigues de Almeida, em relação ao qual, no período entre 4-5-94 e 1º-1-97,
nenhum ato foi praticado no Juízo local: é o meu voto.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Britto: Sr. Presidente, estão bem discriminadas, por esse
período, as diversas competências do juiz singular e do tribunal.
Acompanho Vossa Excelência.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, a decisão, no habeas corpus, foi
categórica quanto à incompetência do Juízo. Àquela altura, considerado o crime de um
prefeito — apenas para refletir e ver se percebi bem a situação —, havia o envolvimento
de atos judiciais de um juiz. Inobservado o que decidido pelo Tribunal, apresentou-se a
Reclamação n. 636-1/MA, para tornar prevalecente o pronunciamento da Turma. Essa
reclamação, tendo em conta um fato novo, ou seja, o término do mandato do prefeito, foi
declarada prejudicada. Indaga-se sobre a eficácia, a concretude do que assentado pela
Corte no Habeas Corpus n. 71.551-6/MA — o acórdão que se aponta como descumprido
refere-se a esse habeas corpus. Tal decisão continuou sendo olvidada até que veio a
cessar a competência do Tribunal de Justiça.
É possível simplesmente balizar-se, a esta altura, o que decidido no habeas e
entender-se que, no caso, o descumprimento seria bastante a gerar certos efeitos, efeitos
posteriores, quanto aos atos posteriores, ao término do mandato?
O Direito Processual é, acima de tudo, documentação e visa à liberdade, em seu
sentido maior, a poder-se contar com segurança jurídica quanto a atos a serem praticados.
O que se nota — e, pelo menos, na minha visão — é que incumbia atender-se ao
que decidido no habeas corpus e, aí, ter-se-ia o deslocamento do processo, desmembrado,
para o Tribunal de Justiça, o que não se verificou.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente e Relator): Mas não foi o que deci-
diu a Turma.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: No habeas?
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente e Relator): No habeas corpus, sim.
Mas, depois, julgou-se prejudicada a reclamação, porque entendeu a Turma que não
teria sentido devolver o caso ao Tribunal de Justiça, chamando todos os processos que
estavam em primeiro grau, dado que um fato superveniente ao habeas corpus, a extinção
do mandato, alterara inteiramente a equação jurídica.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Essa premissa realmente tem um peso maior, quer
dizer, a própria Turma que prolatara o acórdão no habeas veio, como que, a estabelecer
limites quanto a essa decisão, ao se pronunciar na reclamação. E, aí, lançou, como
fundamento da declaração de prejudicialidade, a cessação do mandato do prefeito que
estaria a gerar a competência do Tribunal.
Mas surge a problemática colocada — penso que numa ortodoxia maior — pelo
advogado da tribuna. Esse fundamento seria suficiente, por si só, a ter-se a legitimidade
dos atos praticados pelo Juízo sem que se observasse o acórdão do habeas corpus, e sem
que o Tribunal de Justiça, diante da cessação do mandato, viesse a declinar da compe-
tência?
R.T.J. — 196 141
EXTRATO DA ATA
Rcl 2.190/MA — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Reclamante: Geraldo
Hipólito da Silva (Advogado: Ney Moura Teles). Reclamado: Juiz de Direito da 1ª Vara
Criminal da Comarca de Imperatriz.
Decisão: A Turma julgou procedente, em parte, a reclamação, nos termos do voto
do Relator. Unânime. Falou pelo reclamante o Dr. Ney Moura Teles.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr.
Eitel Santiago de Brito Pereira.
Brasília, 23 de agosto de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
RECLAMAÇÃO 3.074 — MG
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
R.T.J. — 196 143
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Reclamação — com pedido de medida liminar —
contra o Juiz Federal Substituto em exercício na 12ª Vara da Seção Judiciária de Minas
Gerais, que, nos autos da Ação Civil Pública 2005.38.00.002238-0, deferiu liminar para
suspender a audiência pública que discutiria o EIA/RIMA do Projeto de Integração do
Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional.
São estes os fundamentos do ato reclamado:
“O Estado de Minas Gerais e o Ministério Público do Estado de Minas
Gerais ajuizaram ação civil pública, com pedido de liminar, em face do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Ibama, visando
obter provimento ordenando que o réu complemente o EIA/RIMA do Projeto de
Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrio-
nal, suspendendo o procedimento de licenciamento ambiental enquanto o relató-
rio não for integralizado com a descrição dos impactos ambientais que serão pro-
duzidos no Estado de Minas Gerais.
Como medida acautelatória requereram a suspensão da audiência pública
programada para o dia 25 de janeiro de 2005.
Afirmaram que, no desenvolvimento do Projeto de Integração do rio São
Francisco com Bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional, a União, por inter-
médio do Ministério da Integração Nacional, determinou a realização do Estudo
de impacto Ambiental – EIA/RIMA. O estudo foi elaborado e encaminhado para
análise dos órgãos ambientais do Estado em 2 de setembro de 2004, nos termos do
art. 4º, § 1º, da Resolução Conama n. 237/1997.
Aduziram que os órgãos ambientais estaduais analisaram o EIA/RIMA, e,
posteriormente, fizeram uma série de questionamentos sobre seu conteúdo, elabo-
rando um relatório “no qual restou claro o entendimento de que o EIA/RIMA não
contemplou estudos dos impactos diretos na porção mineira da bacia do Rio São
Francisco, razão pela qual foi solicitada formalmente a revisão dos estudos”. Toda-
via, até o momento, o Ibama não apresentou resposta às ponderações feitas pelos
órgãos estaduais.
Acresceram que, não obstante existirem pendências no EIA/RIMA, a ré deter-
minou a realização de audiência pública em 25.1.2005, nos termos da Resolução
Conama n. 237/1997, para que o relatório fosse discutido. Entenderam que tal
iniciativa ofende a legislação em vigor, na medida em que o Ibama não está obede-
cendo ao procedimento previsto para a concessão da licença ambiental, ferindo os
interesses das comunidades envolvidas e suprimindo informações essenciais, na
medida em que o relatório não contempla os impactos ambientais que serão causa-
dos pela obra no Estado de Minas Gerais.
144 R.T.J. — 196
(...)
O direito afigura-me plausível, na medida em que o Ibama não vem obede-
cendo às determinações contidas na Resolução n. 237/1997 do Conama, se omi-
tindo de seu dever de responder aos questionamentos dos órgãos ambientais e
atropelando direitos, comungando do afã do Poder Executivo Federal de levar
adiante o Projeto de Integração do rio São Francisco com Bacias hidrográficas do
Nordeste Setentrional a qualquer custo, sem observar o princípio da prudência,
princípio este fundamental no trato das questões ambientais.
O perigo também é flagrante, na medida em que a audiência pública para
discussão do EIA/RIMA foi marcada para o dia 25 de janeiro de 2005, e realizada
esta, o projeto terá seu normal prosseguimento com a emissão do parecer técnico e
a concessão da licença, sem que os questionamentos do Estado de Minas Gerais
sejam respondidos. Anoto que as informações prestadas após a realização da audi-
ência pública serão inócuas, visto que a audiência é a oportunidade que todos os
cidadãos têm para fazer uma ampla discussão acerca dos impactos ambientais.
Um óbice à concessão da medida seria o disposto no art. 2º da Lei n. 8.437/
1992, que manda ouvir previamente o Poder Público antes da concessão de liminar
em ação civil pública.
Ocorre que estes autos vieram-me conclusos após as 16:00 horas do dia 21-1-
2005, sexta-feira, não havendo, pois, tempo hábil para observância do dispositivo,
considerando que a audiência pública está prevista para as 18 horas e 30 minutos
do dia 25 de janeiro, terça-feira.
(...)
Diante do exposto, nos termos do art. 12 da Lei n. 7.347/1985, concedo a
liminar e suspendo a realização da audiência pública designada para o dia 25 de
janeiro de 2005, às 18h30min, que tem por objetivo a discussão do EIA/RIMA do
Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste
Setentrional”.
Alega-se, em síntese, usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal,
uma vez que se trataria de “discussão potencialmente lesiva aos valores que informam
o pacto federativo” (fl. 4).
O em. Ministro Nelson Jobim concedeu a liminar para cassar o ato reclamado. Eis
o teor da decisão:
“Da decisão.
O art. 102, I, f, da CF preceitua:
“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a
guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, ou entre uns e
outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta.
(...)”
146 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): O caso é de ação civil pública pelo
Estado de Minas Gerais e o seu Ministério Público contra o Ibama, autarquia da União,
mediante a qual se pede — fls. 16, 35:
“a) a condenação do Ibama a exigir complementação do EIA/RIMA do Pro-
jeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste
Setentrional, com estudos e análises ambientais detalhadas dos impactos na por-
ção mineira da bacia do rio São Francisco; e
b) a condenação do Ibama a não apreciar o pedido de licenciamento ambien-
tal do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do
Nordeste Setentrional enquanto o EIA/RIMA respectivo não for complementado
com estudos e análises ambientais detalhadas dos impactos na porção mineira da
bacia do Rio São Francisco e não houver regular audiência pública em Minas
Gerais para discussão do projeto.”
Estou, contudo, em que não cabe cogitar na espécie de dar aplicação à jurisprudên-
cia do Tribunal que — mediante redução teleológica do alcance literal do art. 102, I, f, da
Constituição da República — tem reclamado para firmar sua competência originária e
conhecer de ações entre um ente da Federação — a União, os Estados-Membros, os
Municípios ou o Distrito Federal — e pessoa jurídica integrante da administração indi-
reta de outro às hipóteses nas quais, dado o objetivo da demanda ou a natureza da
questão jurídica envolvida, se reconheça a existência de um “conflito federativo”.
Basta considerar que aqui — não obstante a pretensão se reduza a compelir a
autarquia a agir em determinado sentido ou inibir sua ação em outro — o eventual
acolhimento deles acarretará reflexos diretos sobre o tempo de implementação ou a
própria viabilidade de um projeto de grande vulto do governo da União.
148 R.T.J. — 196
Aqui, está em causa não apenas uma questão dominial, mas, o que é mais
relevante, uma questão de distribuição de competência: de um lado, da exploração
hidrelétrica de um rio que ultrapassa as fronteiras de Minas Gerais; e, de outro, da
competência de proteção ambiental outorgada ao Estado.
Concluo que a causa é típica do foro do Supremo Tribunal Federal e, por isso,
acompanho o eminente Ministro Relator.”
Situação em tudo assimilável à do precedente se apresenta no caso, em que o
Estado-Membro, no interesse da proteção ambiental de seu território, pretendeu impor
exigências à atuação do Ibama no licenciamento de obra federal.
Esse o quadro, julgo procedente a reclamação para avocar o conhecimento do
processo: é o meu voto.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Britto: Senhora Presidente, o voto do eminente Ministro
Sepúlveda Pertence retrata a invulgar competência de S. Exa. no dissecar a Constituição
e no trabalhar com a jurisprudência da nossa Casa de Justiça, mas me atenho ao objeto da
ação civil pública, a qual não é outra se não exigir do Ibama complementação dos
estudos e análises dos impactos ambientais na porção mineira da bacia do São Francisco,
vale dizer, para que o Ibama observe o devido processo legal na matéria que deita raízes
na Constituição, penso não se tratar sequer de discutir uma questão de direito material e
que o Estado de Minas nada mais faz além de exigir o cumprimento de uma condição
constitucionalmente prevista para o início da execução do projeto em foco. Ou seja, o
Estado de Minas não está a se opor a uma política pública, ao exercício de uma função
executiva do Governo Federal, nem sequer quanto aos meios de concreção da obra, no
caso. O que faz o Estado de Minas é se irresignar contra uma indevida condução, do
ponto de vista procedimental, porque diz respeito aos estudos e análises dos impactos
ambientais exatamente naquela porção mineira da bacia do São Francisco.
Circunscrito o objeto da pretensão mineira a esse aspecto procedimental, tenho
certa dificuldade em entender que essa reação, em última análise, está até não só prevista
na Constituição Federal, defender o meio ambiente, como na própria Constituição mi-
neira, artigo 9º, V, do diploma maior do Estado de Minas, estou a pensar que não se trata
de uma pretensão, com potencial suficiente para esgarçar o tecido federativo, para intro-
duzir, nas relações entre a União e o Estado irresignado, uma situação de perigosa ou
temerária desarmonia. Acho que o Estado de Minas nada mais faz do que fazer uso da sua
autonomia político-administrativa conferida pela Constituição Federal.
Os dois anéis de Saturno da Federação parecem-me ser a autonomia e a indissolu-
bilidade. O uso da autonomia, claro, tem limites, ele não pode extravasar certos diques
de modo a desembocar — vamos chamar assim — na enxurrada da desarmonia.
Não estou vendo, honestamente, neste caso, um conteúdo político tal, na questão
envolvente das duas partes, que ponha em sério risco o equilíbrio da Federação ou
implique uma frouxidão nos laços federativos. Prefiro dizer laços federativos porque a
nossa federação não foi constituída por um pacto, diferentemente da federação americana,
e como não houve esse pacto político na origem da Federação sempre prefiro falar de
laços e não de pacto.
150 R.T.J. — 196
Em última análise, é como penso. Peço todas as vênias deste mundo ao eminente
Relator, o meu Mestre Sepúlveda Pertence, para julgar improcedente a reclamação.
Se formos ao objeto da ação, vamos concluir que deveriam estar de braços dados,
Estados e União, na busca do fim colimado por essa mesma ação, que outro não é senão
a observância irrestrita da Carta da República quanto à preservação do meio ambiente.
O Estado de Minas Gerais e o Ministério Público de Minas Gerais, ao ajuizarem a
ação contra o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-
veis, buscaram, simplesmente, a realização de estudos de impacto ambiental, como pre-
visto na legislação de regência. Não se pretendeu obstaculizar os trabalhos voltados à
consagração da política governamental idealizada.
Trazer para o Supremo essa ação que foi ajuizada no foro próprio, na Justiça Federal,
na justiça especializada, para apreciar causas intentadas contra a União, a meu ver, é um
passo demasiadamente largo. Por isso, o Procurador-Geral da República, ao emitir parecer
na reclamação, preconizou a improcedência do pedido formalizado.
Ante o alcance dos termos da alínea f do inciso I do artigo 102 da Constituição
Federal, devemos mitigar o envolvimento no caso da União, porque podemos ter ação,
alcançada pelo preceito, a abranger Estados diversos. Revelou Sua Excelência que vários
conflitos, envolvendo os Estados, foram solucionados — e presumo que bem soluciona-
dos, muito embora haja uma confiança irrestrita no taco do Supremo Tribunal Federal —
pela Justiça Federal de primeira instância, com sucessivos recursos. E se referiu, Sua
Excelência, ao problema das usinas hidrelétricas de Porto Primavera, de Serra da Mesa,
de Lajeado, de Peixe Angical, de Barra Grande, de Corumbá e do gasoduto Urucu-Porto
Velho.
Reservo, Senhora Presidenta, a aplicação da alínea f do inciso I do artigo 102 da
Lei Maior a situações realmente excepcionais em que, ao primeiro exame, dado o colo-
rido político retratado na própria ação, surja conflito a ponto de colocar em risco o pacto
federativo.
Por isso, também peço vênia ao Relator e àqueles que o acompanharam para concluir
pela improcedência do pedido formulado, fazendo-o na esteira do voto proferido, com
percuciência — e sem demérito para os demais —, pelo Ministro Carlos Ayres Britto.
VOTO (Confirmação)
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Sra. Presidente, confesso que, ante a
decisão unânime na ACO 593, julguei desnecessárias maiores considerações: tratava-se,
no caso, de uma desavença de dimensões infinitamente menores daquilo agora trazido à
Mesa.
Participei, a partir da ACO 396/90, do início — pelo menos no regime constitucional
de hoje — dessa redução teleológica da cláusula de competência originária do Tribunal.
Hoje, porém, quando ouço falar na exigência de “conflito federativo”, parece que a
competência originária do Supremo Tribunal Federal está reduzida à iminência de uma
guerra de secessão.
Mas não está.
É preciso ir aos precedentes. Quando temos recusado a nossa competência? Na
ACO 396, Furnas cobrava tarifas da Cesp. Na ACO 417, da minha relatoria, o Iapas
cobrava contribuição previdenciária devida por um Estado. Na ACO 359, Relator o
152 R.T.J. — 196
Ministro Celso de Mello, o Banco do Estado de São Paulo executava um crédito seu
garantido por fiança do Estado do Maranhão. E assim por diante. A ACO 509, Relator o
Ministro Carlos Velloso, tratava da cobrança de uma fundação estadual contra fundação
federal.
Julgávamos, porém, já haver “conflito federativo”, quando uma autarquia federal
litigava com um Estado-Membro sob domínio de determinadas glebas de terras devolu-
tas: na ACO 519, Relator o Ministro Néri da Silveira, a União contendia com uma
autarquia estadual, o Iterpa, sobre a validade ou nulidade de títulos de terra por ela,
autarquia estadual, emitidos.
Tudo muito menor que a questão da integração da Bacia do Rio São Francisco com
a Bacia do Nordeste Setentrional, em que diversos Estados se opõem à obra ou a aspectos
ambientais dos estudos da obra.
Nela, porém, evidentemente, está em causa um imenso projeto governamental, que
não deve ficar sujeito, em cada unidade da Federação, a querelas locais.
Sou mineiro e, não distante do Rio São Francisco, agradeço ao Sergipe do Ministro
Carlos Britto o cuidado com as nossas águas.
Agora, quanto à imunidade tributária, à discussão de IPVA dos automóveis da ECT
e a outras questões tributárias muito menores, temos afirmado a nossa competência.
Desse modo, não posso, no caso concreto, com todas as vênias, ler, no art. 109, I, da
Constituição Federal, as exceções ali enumeradas — a competência da Justiça do Traba-
lho e a da Justiça Eleitoral —, como se a principal das exceções não fossem os conflitos
entre os membros da Federação e suas entidades auxiliares, ancilares, que a Constituição
antes reservara ao órgão de cúpula do Judiciário brasileiro, ao Tribunal da Federação.
Por isso, com todas as vênias, mantenho o meu voto.
VOTO (Confirmação)
O Sr. Ministro Carlos Britto: Sra. Presidente, quero apenas ponderar o seguinte: se
estivéssemos aqui a discutir o mérito da transposição em si, sem nenhuma dúvida eu
seguiria o voto tão bem elaborado do Ministro Sepúlveda Pertence. Entendo, porém,
que não se cuida de se contrapor à execução do projeto ou aos meios de sua execução.
Isso está fora de discussão.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Até porque, Ministro, um pedido
desses dificilmente passaria do despacho liminar do Relator, caso viesse aqui a discutir
se o projeto é bom ou mal.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Concordo em boa parte. Agora, quando se fala em
desarmonia entre os entes federativos, de sorte a atrair a competência judicante do
Supremo Tribunal Federal, a minha interpretação é cum grano salis, sempre no contexto
federativo. Não basta o litígio entre entes da federação, porque a democracia significa
convivência entre os contrários. É natural irromper o litígio, ocasionalmente.
O pluralismo, que postula essa diferença inata entre as pessoas geográficas de
cunho federativo, também nos predispõe para aceitar com naturalidade esses conflitos
R.T.J. — 196 153
VOTO
A Sra. Ministra Ellen Gracie: Senhor Presidente, peço vênia aos colegas que vota-
ram na divergência, para acompanhar o Relator.
Compreendo perfeitamente a preocupação externada pelo Ministro Carlos Britto,
quando Sua Excelência entende que a mera divergência a respeito do procedimento
administrativo a ser adotado — que, no caso somente levou em consideração águas à
jusante de Sobradinho — realmente não teria essa configuração de um conflito entre
entes federativos, já que a norma procedimental é de observância obrigatória. No
entanto, rendo-me às razões apresentadas pelo Ministro Sepúlveda Pertence, dada a
potencialidade efetiva desse conflito federativo e as dimensões da obra que se pretende
realizar.
Com vênia de Vossa Excelência e do Ministro Marco Aurélio, acompanho o emi-
nente Relator, para dar pela procedência da reclamação.
VOTO
O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Senhores Ministros, sinto-me habilitado
a votar, uma vez que examinei o tema longamente quando concedi a liminar, portanto,
mantenho a mesma posição e acompanho o voto do Ministro Relator.
EXTRATO DA ATA
Rcl 3.074/MG — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Reclamante: União
(Advogado: Advogado-Geral da União). Reclamado: Juiz Federal Substituto em
exercício na 12ª Vara da Seção Judiciária de Minas Gerais (Ação Civil Pública n.
2005.38.00.002238-0). Interessados: Estado de Minas Gerais (Advogado: Advocacia
Geral do Estado/MG – Alberto Guimarães Andrade) e Ministério Público do Estado de
Minas Gerais, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-
veis – IBAMA
Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu e julgou procedente a reclamatória,
avocando o julgamento da Ação Civil Pública n. 2005.38.00.002238-0, da 12ª Vara da
Seção Judiciária de Minas Gerais, vencidos os Ministros Carlos Britto e Marco Aurélio.
Votou o Presidente, Ministro Nelson Jobim. Ausentes, justificadamente, os Ministros
Celso de Mello e Carlos Velloso. Falaram, pela reclamante, o Dr. Álvaro Augusto Ribeiro
Costa e, pelo Estado de Minas Gerais, o Dr. Lysandro Norton Siqueira, Procurador do
Estado.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto,
Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro
Gurgel Santos.
Brasília, 4 de agosto de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
R.T.J. — 196 155
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, julgar procedente a ação e declarar a inconsti-
tucionalidade do artigo 13 da Lei n. 8.032, de 10 de dezembro de 2003, do Estado do
Maranhão, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 30 de junho de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Eros Grau, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eros Grau: O Procurador-Geral da República ajuizou a presente ação
direta, com pedido de medida cautelar, na qual questiona a constitucionalidade do
artigo 13 da Lei Estadual n. 8.032, de 10 de dezembro de 2003, do Estado do Maranhão,
que reestrutura a administração dos serviços auxiliares do Poder Judiciário daquele
Estado-Membro e institui o Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos de seus servido-
res. O preceito impugnado possui a seguinte redação:
“Art. 13. Os atuais servidores do Poder Judiciário, efetivos ou estáveis, nome-
ados antes de 5 de outubro de 1988, serão enquadrados nos cargos constantes dos
anexos I a VIII, por transposição, por ato do presidente do Tribunal de Justiça,
respeitados o cargo de origem e a antiguidade.” (Fls. 2/3).
2. O requerente sustenta afronta ao disposto nos artigos 19 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias e 37, inciso II, da Constituição do Brasil, por entender
incabível “a possibilidade de transposição de um cargo para outro sem a prestação de
concurso público” (fl. 3).
3. À fl 14 determinei a aplicação da regra prevista no artigo 12 da Lei n. 9.868/99.
156 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Discute-se nesta ação direta a constitucionali-
dade do artigo 13 da Lei n. 8032/2003, do Estado do Maranhão, que permite a transpo-
sição de servidores do Poder Judiciário local, nomeados antes da promulgação da atual
Constituição, para cargos constantes da mesma lei.
2. O texto constitucional em vigor estabelece que “a investidura em cargo ou
emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de
provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na
forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em
lei de livre nomeação e exoneração”1. O artigo 19 do Ato das Disposições Constitucio-
nais transitórias excepcionou esta regra, dispondo que
“Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, da administração direta, autárquica e das fundações públicas, em
exercício na data da promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos
continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37, da
Constituição, são considerados estáveis no serviço público.”
3. O preceito impugnado, ao possibilitar o enquadramento de pessoas nomeadas
antes de 5 de outubro de 1988 — sem concurso público — em cargos integrantes da
carreira do Poder Judiciário do Estado do Maranhão, afrontou a orientação constitucio-
nal, já que o artigo 19 acima transcrito conferiu estabilidade no serviço público somente
aos que preencham seus requisitos.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, fico vencido no tocante não à
estabilidade daqueles que, à época da Carta, contavam com cinco anos de integração ao
serviço público, mas à efetividade em cargos. E, de qualquer forma, beneficia, também,
quem não havia completado ainda os cinco anos.
EXTRATO DA ATA
ADI 3.332/MA — Relator: Ministro Eros Grau. Requerente: Procurador-Geral da
República. Requeridos: Governador do Estado do Maranhão e Assembléia Legislativa
do Estado do Maranhão.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou procedente a ação e declarou a
inconstitucionalidade do artigo 13 da Lei n. 8.032, de 10 de dezembro de 2003, do
Estado do Maranhão, nos termos do voto do Relator. Votou o Presidente, Ministro
Nelson Jobim. Ausentes, justificadamente, o Ministro Carlos Velloso e, neste julgamento,
o Ministro Sepúlveda Pertence.
158 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
negar provimento ao agravo regimental no reclamação, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 11 de outubro de 2005 — Sepúlveda Pertence, Presidente e Relator.
R.T.J. — 196 159
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Este o teor da decisão agravada:
“Decisão: Cuida-se de reclamação, com pedido de medida liminar, na qual a
reclamante — massa falida de banco privado — alega a usurpação da competência
do Supremo Tribunal Federal.
Aduz o reclamante que:
1) a instituição financeira estava autorizada a captar recursos junto a
terceiros — depositantes-correntistas — funcionando como depositário;
2) em função de prejuízos apurados ao longo do tempo, teve sua falência
decretada pela Juíza da 1ª Vara de Falências de Belo Horizonte em 1999;
3) em decorrência disso, cerca de quinhentos (500) depositantes-correntistas
acionaram o Poder Judiciário requerendo a restituição de seus valores depositados —
inferiores a vinte (20) salários mínimos —, através de formulários expedidos pelo
juízo falimentar, sem a participação de advogados;
4) os diversos pedidos de restituição foram acolhidos em primeira e segunda
instâncias, sob o fundamento, em suma, de que o depositante não é credor do
banco, pois não ocorre, no contrato de depósito, a transferência da propriedade do
dinheiro. Daí a obrigatoriedade na devolução dos valores aos correntistas;
5) o Banco Central do Brasil, invocando a condição de credor do Banco
Progresso S.A., impugnou todos os pedidos, alegando serem os depositários-
correntistas meros credores quirografários e, tendo em vista as decisões desfavorá-
veis ao seu pleito, interpôs diversos recursos especiais — nas peças apresentadas,
consta a interposição de RE simultâneo ao REsp (n. de origem 203.975-8-03), que
teve o seu seguimento negado, em decisão que transitou em julgado (fl. 536 do
apenso 3);
6) tendo em vista a relevância da matéria, apenas um dos recursos (n.
501.401) foi afetado à Segunda Seção do STJ, sendo determinado, ainda, o
sobrestamento dos demais até o julgamento do REsp mencionado;
7) com o provimento do REsp 501.401, por maioria, os demais recursos foram
decididos singularmente, antes mesmo da publicação do precedente apreciado na 2ª
Seção;
8) dessas decisões, foram interpostos agravos regimentais, “requerendo a
análise das questões ‘à luz do disposto nas normas constitucionais referidas na
sentença, no acórdão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais e neste Agravo (art.
170, II, III e V; art. 192 da Constituição)’”. Porém, os agravos foram desprovidos
por ambas as Turmas da 2ª Seção do STJ;
Daí a interposição, afirma, de cerca de quinhentos (500) recursos extraordi-
nários, nos quais se sustenta, em suma, contrariedade aos artigos 5º, XXII, XXXIV,
160 R.T.J. — 196
XXXV; 93, IX; 170, II, III, IV; e 192 da Constituição; bem como afronta à Súmula
4171 do STF e ao entendimento assentado no acórdão do RE 86.257 (Moreira,
RTJ 95/2-705).
Ajuizou, também, medida cautelar perante o STJ (n. 8.851), na qual pediu,
com apoio no inciso LXXIV do art. 5º da Constituição2, o processamento dos
recursos extraordinários interpostos independentemente do pagamento de custas e
despesas recursais, bem como o sobrestamento dos RREE interpostos, até o pro-
nunciamento do STF nos primeiros casos.
Para tanto, sustentou que a não-interposição de RREE pela massa falida
prejudicaria os depositantes-correntistas de pequenos valores, que não se fazem
representar por advogados, mas que a massa falida não possui condições de arcar
com as custas processuais de todos os recursos. Citam, no sentido da possibilidade
de reconhecimento do benefício da assistência judiciária gratuita à pessoa jurídica,
a Rcl 1.905-AgR-ED (Marco Aurélio, Pleno, DJ de 20-9-02).
Sobre a necessidade de sobrestamento dos RREE, argumentou que a não-
admissão destes ensejaria a interposição de cerca de quinhentos (500) agravos para
o STF, sendo necessária a formação do instrumento de cada um deles. Certo que a
recorrente não dispõe de recursos para tanto, conforme se depreende da sua condi-
ção de falida.
Afirma, então, que a Corte Especial do STJ, por maioria de votos, negou os
pedidos formulados na medida cautelar e que, antes mesmo da publicação deste
acórdão, o Presidente do STJ teria determinado “o imediato pagamento do preparo
referente ao Recurso Extraordinário no REsp n. 501.401/MG e em alguns outros”.
Daí — fl. 16:
“As decisões proferidas pela Corte Especial e pelo Presidente do Su-
perior Tribunal de Justiça inviabilizam que a afronta a dispositivos consti-
tucionais, reconhecidas em primeira e segunda instâncias, sejam aprecia-
das pelo Supremo Tribunal Federal, em evidente usurpação da competência
reservada à Corte Constitucional.
Em decorrência de obstáculo financeiro (custas processuais, porte de
retorno e despesas com a formação dos 500 instrumentos — 1500 volumes),
ficarão comprometidos, de forma irreversível, a ampla defesa e o acesso à
prestação jurisdicional.”
Pugna-se, portanto, pela concessão de liminar para: 1) determinar a suspen-
são das decisões do Presidente do STJ no RE no REsp 501.401 e da Corte Especial
na MC 8.851; 2) requisitar os autos do RE no REsp 501.401, nos termos do art. 158
do RISTF; 3) sobrestar os demais recursos extraordinários em processamento no
STJ, “consoante interpretação analógica do art. 321, § 5º, do RISTF” (fl. 18).
1 Súmula 417: ‘Pode ser objeto de restituição, na falência, dinheiro em poder do falido, recebido em
nome de outrem, ou do qual, por lei ou contrato, não tivesse ele a disponibilidade’.
2 ‘Art. 5º (...)
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos;’
R.T.J. — 196 161
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator):
3 “Art. 462. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do
direito influir no julgamento da lide, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requeri-
mento da parte, no momento de proferir a sentença.”
R.T.J. — 196 163
Daí não se retira, contudo, a admissão de que a massa falida substituísse processual-
mente aqueles que ingressaram com ações contra o seu acervo, certo que não há, na lei
falimentar antiga (Decreto-Lei 7.761/45) e na atual (Lei 11.101/2005), previsão dessa legiti-
mação extraordinária.
III
EXTRATO DA ATA
Rcl 3.366-AgR/MG — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Agravante: Massa
Falida do Banco do Progresso S.A. (Advogados: Sérgio Mourão Corrêa Lima e outro,
Bernardo Pimentel Souza e Tiago Pimentel Souza). Agravados: Superior Tribunal de
Justiça (Medida Cautelar n. 8.851/MG) e Presidente do Superior Tribunal de Justiça (RE
no Resp n. 501.401/MG). Interessados: Banco Central do Brasil (Advogados: Procurador-
Geral do Banco Central do Brasil) e Maria Cristina Diniz Silva.
166 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
resolver questão de ordem e deferir a liminar, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 27 de setembro de 2005 — Sepúlveda Pertence, Presidente e Relator.
R.T.J. — 196 167
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Trata-se de petição para que se proceda ao
exame de admissibilidade dos recursos extraordinários interpostos contra os acórdãos
proferidos nos Agravos de Instrumento 2004.03.00003087-1, 2004.03.003119-0 e
2004.03.00.003122-0, em trâmite no Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
Na origem, trata-se de ações de reintegração de posse contra indígenas da etnia
Guarani.
Deferida a liminar, o Ministério Público interpôs agravos de instrumento que
foram improvidos, determinando-se a retirada dos índios das áreas até então ocupadas.
Aos recursos extraordinários foi oposta a regra do art. 542, § 3º, do Código de
Processo Civil: daí a petição que pretende afastar a retenção dos recursos.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): O Ministério Público Federal
requereu a suspensão das medidas liminares deferidas nos autos de ações de reintegra-
ção de posse — as mesmas desta petição — que foi indeferida pelo em. Min. Nelson
Jobim (DJ de 4-8-05). Dessa decisão foi interposto agravo regimental, ainda não julgado.
Este é um dos casos que a vasta doutrina sobre direito processual — especialmente
quanto à sucinta redação do art. 103 do Código de Processo Civil — não trata de maneira
satisfatória.
De tudo, é suficiente para a não-incidência da conexão a competência e o escopo
das duas medidas: a suspensão da liminar é de competência do Presidente do Tribunal e
visa a suspender a eficácia da decisão liminar; esta petição é de livre distribuição —
excluído o próprio Presidente — e pretende afastar o sobrestamento do recurso extraor-
dinário.
Não há conexão.
II
Não é ortodoxo uma petição ter pedido referente a processos que, apesar de surgi-
rem do mesmo fato, são diferentes.
Esta petição se refere aos recursos extraordinários contra os acórdãos dos seguintes
agravos de instrumento: a) 2004.03.00.003087-1, em que é agravado Flávio Páscoa
Teles de Menezes; b) 2004.03.00.003119-0, agravados Agropecuária Pedra Branca e
outro; c) 2004.03.00.003122-0, agravados Jeadir Silvestre de Carli e outros.
A inicial não justifica a razão da heterodoxia processual. Nem precisaria: o pedido
de medida liminar e a reunião dos agravos no Tribunal a quo são variáveis suficientes à
reunião dos requerimentos nesta petição.
168 R.T.J. — 196
III
Conforme acentuei recentemente na AC 929-QO (6-9-05), na linha da Pet. 2.222
(9-12-03, Pertence, DJ de 2-3-04), tanto a doutrina quanto a jurisprudência têm imposto
temperamentos à incidência do art. 542, § 3º, do Código de Processo Civil.
Certo, nesses precedentes os casos versavam sobre tutelas antecipadas concedidas,
cuja subsistência poderia tornar ineficaz o eventual provimento dos recursos extraordi-
nários.
É a mesma preocupação que se apresenta: a liminar de reintegração nas proprieda-
des rurais ocupadas pelos indígenas irá alterar substancialmente a situação de fato, de
modo a modificar também a situação jurídica processual e a debilitar — no plano da
eficácia — a eventual decisão favorável à tese da recorrente.
Sem adiantar qualquer juízo sobre a viabilidade dos recursos extraordinários, estou
em que — dados os termos da liminar de reintegração de posse — o caso é daqueles que
efetivamente não admitem a retenção do recurso extraordinário.
Informalmente, meu gabinete foi informado de que as liminares foram revogadas.
A informação foi confirmada no sítio do TRF/3ª Região e importaria para a suspen-
são de liminar em curso. Para esta petição, contudo, pouco importa. O que se questiona
é a incidência ou não do comando processual de sobrestamento do recurso extraordiná-
rio interposto contra a decisão interlocutória: no caso, a decisão interlocutória — posi-
tiva ou negativa — confunde-se com o mérito da causa.
Esse o quadro, submeto à Turma (art. 21, IV, RISTF) o deferimento de medida
cautelar na petição para determinar o processamento dos recursos extraordinários inter-
postos pela requerente, a fim de que os admita ou não a presidência do Tribunal a quo,
como entender de direito.
EXTRATO DA ATA
Pet 3.515-QO/MS — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Requerente: Procura-
dor-Geral da República. Requerido: Vice-Presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª
Região (Recursos Extraordinários nos Agravos de Instrumento n. 2004.03.00.003087-1,
2004.03.00.003119-0 e 2004.03.00.003122-0). Interessados: Flávio Páscoa Teles de
Menezes (Advogado: Regis Eduardo Tortorella), Agropecuária Pedra Branca e outro (Advo-
gado: José Ipojucan Ferreira) e Jeadir Silvestre de Carli e outro (Advogado: Guiomar
Mário Pizzato).
Decisão: A Turma, resolvendo questão de ordem, deferiu a liminar, nos termos do
voto do Relator. Unânime.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr.
Wagner de Castro Mathias Netto.
Brasília, 27 de setembro de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
R.T.J. — 196 169
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, não conhecer do conflito de competência,
determinando o retorno dos autos ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região, nos termos
do voto do Relator.
Brasília, 23 de setembro de 2004 — Ellen Gracie, Presidente — Marco Aurélio,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Mediante a decisão de folhas 99 a 102, o Relator a
quem distribuída a impetração declinou da competência para o Superior Tribunal de
Justiça. O Ministério Público Federal pronunciou-se, considerada a atuação da Corte
Superior, pelo não-conhecimento do habeas, consignando não estar em jogo, no inqué-
rito civil, a liberdade de ir e vir (folhas 154 a 162). O Órgão Especial do Superior
Tribunal de Justiça concluiu não lhe competir o julgamento do habeas, determinando o
retorno do processo ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região, para proceder como
entender de direito (folhas 165 a 194). O Procurador Regional da República em atuação
no 2º Regional voltou a preconizar a devolução do processo ao Superior Tribunal de
Justiça, aludindo à incompetência absoluta da Corte Regional em face da edição da Lei
n. 10.628/2002, alterando o teor do artigo 84 do Código de Processo Penal. Então, o
novo Relator proclamou a existência de conflito negativo de competência.
O parecer da Procuradoria-Geral da República é pelo conhecimento do conflito e
solução, declarando-se competente o Superior Tribunal de Justiça para julgar o habeas
corpus (folhas 253 a 255).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): O quadro não revela conflito negativo de
competência. É que estão envolvidos o Tribunal Regional Federal e o Superior Tribunal
de Justiça. O que decidido por este último impõe-se ao primeiro. Concluo não conhecendo
do conflito e determinando a devolução do processo ao Tribunal Regional Federal da 2ª
Região.
170 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
CC 7.161/RJ — Relator: Ministro Marco Aurélio. Suscitante: Ministério Público
Federal. Suscitados: Superior Tribunal de Justiça e Tribunal Regional Federal da 2ª
Região. Interessado: José Ricardo de Siqueira Regueira (Advogados: Nelio Roberto
Seidl Machado e outro).
Decisão: O Tribunal, à unanimidade, não conheceu do conflito de competência,
determinando o retorno dos autos ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região, nos ter-
mos do voto do Relator. Votou o Presidente. Ausentes, justificadamente, neste julga-
mento, os Ministros Cezar Peluso, Gilmar Mendes, Carlos Velloso, Sepúlveda Pertence
e Nelson Jobim, Presidente. Presidiu o julgamento a Ministra Ellen Gracie, Vice-Presi-
dente.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes,
Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da
República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 23 de setembro de 2004 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, rejeitar os embargos declaratórios, nos termos
do voto do Relator.
Brasília, 21 de setembro de 2005 — Ellen Gracie, Presidente — Eros Grau, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eros Grau: Trata-se de embargos de declaração opostos contra decisão
que negou provimento a agravo regimental em mandado de segurança. O acórdão recorrido
foi assim ementado:
“Agravo regimental em mandado de segurança. Decisão de Turma
Recursal que nega trânsito a recurso extraordinário. Usurpação da competência
do Supremo Tribunal Federal. Reclamação.
1. O Supremo Tribunal Federal não é competente para processar e julgar
mandado de segurança impetrado contra decisão proferida por Turma Recursal de
Juizado Especial.
2. A via adequada para impugnar decisão que, na origem, nega trânsito a
agravo de instrumento interposto para destrancar recurso extraordinário é a recla-
mação, fundada em usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal.
Agravo regimental a que se nega provimento” [fl. 120].
2. O embargante invoca o princípio da fungibilidade recursal para justificar a
impetração de mandado de segurança em detrimento da reclamação prevista no Regi-
mento Interno desta Corte. Sustenta que o acórdão recorrido é omisso pois deixou de
fornecer a prestação jurisdicional, requerendo a manifestação da Turma quanto aos arts.
131, 165, 458, I a III, 496 e 535, I e II, do CPC; e art. 5º, XXXV, LIV, LV, da Constituição
do Brasil.
3. Protocolado o recurso junto ao Superior Tribunal de Justiça durante o período de
férias forenses, a petição deu entrada na Secretaria desta Corte em 12 de janeiro de 2005.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): O embargante reporta-se ao princípio da fungi-
bilidade recursal para que o mandado de segurança resulte convolado em reclamação, a
fim de que seja destrancado agravo de instrumento contra decisão denegatória de
recurso extraordinário.
172 R.T.J. — 196
2. O princípio, no entanto, deve ser aplicado com parcimônia, sob pena de compro-
meter-se o sistema recursal previsto no Código de Processo Civil, principalmente quando
há erro grosseiro na escolha da via recursal.
3. No presente caso, o embargante elegeu o mandado de segurança em detrimento
da reclamação. Trata-se de institutos processuais absolutamente diversos entre si, a co-
meçar da competência para julgamento, com ritos próprios em relação aos demais recur-
sos previstos no Código de Processo Civil, de modo que não vislumbro elementos que
possam ser considerados fungíveis à luz do ordenamento nacional.
4. Vê-se para logo inexistir qualquer omissão no acórdão de fls. 115/120, que
demonstrou de maneira fundamentada o erro perpetrado pelo embargante.
5. Os embargos de declaração têm pressupostos certos — artigo 535, incisos I e II,
do Código de Processo Civil — que não se verificam neste caso. Os presentes embargos
têm caráter infringente e refletem, tão-somente, o inconformismo do embargante com o
que foi decidido.
6. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que os embargos de declara-
ção não configuram via processual adequada à rediscussão do mérito da causa, admiti-
dos em caráter infringente somente em hipóteses excepcionais de omissão do julgado ou
erro material manifesto:
“Recurso extraordinário. Embargos de declaração. Servidor público esta-
dual não estável. Demissão por conveniência administrativa. Contraditório e
ampla defesa. Necessidade. 1. Os embargos de declaração não constituem meio
processual cabível para reforma do julgado, não sendo possível atribuir-lhes
efeitos infringentes, salvo em situações excepcionais. 2. Supostas omissão e con-
trariedade que dissimulam nítida pretensão de rejulgamento da causa. 3. Não
se prestam os embargos declaratórios à uniformização de jurisprudência. 4.
Embargos de declaração rejeitados.” [RE n. 223.904-ED, Relatora a Ministra
Ellen Gracie, DJ de 8-2-2005 — grifei]
Ante o exposto, rejeito os embargos.
EXTRATO DA ATA
MS 23.605-AgR-ED/MG — Relator: Ministro Eros Grau. Embargante: Edson José
dos Santos (Advogado: João Romualdo Fernandes da Silva). Embargado: Juiz Relator
do Agravo de Instrumento n. 1539997 do Juizado Especial de Contagem.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, rejeitou os embargos declaratórios, nos
termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, os Ministros Nelson Jobim
(Presidente) e Celso de Mello. Presidiu o julgamento a Ministra Ellen Gracie (Vice-
Presidente).
Presidência da Ministra Ellen Gracie (Vice-Presidente). Presentes à sessão os
Ministros Sepúlveda Pertence, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar
Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da República,
Dr. Antônio Fernando Barros e Silva de Souza.
Brasília, 21 de setembro de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
R.T.J. — 196 173
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, negar provimento ao agravo regimental, nos
termos do voto do Relator.
Brasília, 4 de agosto de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Eros Grau, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eros Grau: Trata-se de agravo regimental contra decisão que negou
seguimento a mandado de segurança impetrado por Rodrigo Monteferrante Ricupero
contra ato do Primeiro Secretário da Câmara dos Deputados.
2. Em 24 de agosto de 2001, o impetrante, no intuito de instruir ação popular,
solicitou ao Presidente da Câmara dos Deputados que fornecesse relação das despesas
daquela Casa quanto a passagens aéreas e diárias, especificando os locais e finalidades
das viagens, bem como os nomes dos usuários dos bilhetes, desde 5 de outubro de 1988
[fl. 21].
3. O Gabinete da Presidência, via ofício GP – 3195/2001, informou que apenas o
Primeiro Secretário estaria autorizado a prestar as informações solicitadas [fl. 25].
4. O pedido foi encaminhado ao Primeiro Secretário da Câmara dos Deputados em
15 de outubro de 2001. Ante o silêncio da autoridade administrativa, foi impetrado o
174 R.T.J. — 196
13. Dessa decisão foi interposto outro recurso de agravo, em que o impetrante
requer a reconsideração da decisão monocrática que negou seguimento ao regimental
anterior. Em caso de não-recebimento do agravo, pede o processamento da peça como
reclamação, afirmando que a autoridade do Plenário desta Corte foi violada pela decisão
monocrática proferida, ferindo o art. 317, § 2º, do RISTF.
14. Reconsiderei, à fl. 95, a decisão de fls. 81/88 para submeter à apreciação do
Plenário deste Tribunal o agravo regimental de fls. 76/79.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): O impetrante faz alusão ao MS n. 24.099 [Relator
o Ministro Maurício Corrêa, DJ de 2-8-2002], ajuizado por ele mesmo contra ato do
Primeiro Secretário da Mesa da Câmara dos Deputados, que teria proibido o acesso a
determinados documentos. Naquela oportunidade, foi reconhecida a competência deste
Tribunal para julgamento do writ:
“Agravo regimental em mandado de segurança. Competência do STF
para processar e julgar mandado de segurança contra ato do Primeiro Secre-
tário da Câmara dos Deputados. Ausência de prova pré-constituída do ato
coator. 1. Se o ato do Primeiro Secretário da Câmara dos Deputados decorre de
sua função na Mesa Diretora da Casa Legislativa, deve ser analisado pelo Supre-
mo Tribunal Federal, em virtude do disposto no artigo 102, I, d, da Constituição
Federal. 2. Hipótese de ilegitimidade passiva do Primeiro Secretário, visto que o
writ foi impetrado com fundamento em notícia veiculada por servidor da Casa
Legislativa de que a autoridade impetrada teria proibido ao impetrante o acesso a
documentos de seu interesse, inexistindo, assim, prova pré-constituída do ato
coator. 3. Não cabe ao STF baixar os autos em diligência para pedir informações, se
o impetrante teve oportunidade de requerer confirmação do ato impugnado à auto-
ridade impetrada. Entendimento da maioria. Agravo Regimental a que se nega pro-
vimento, extinguindo-se o processo sem julgamento do mérito”. [Grifei]
2. Assim como no precedente citado, cumpre verificar se a alegada coação, atribuída
ao Primeiro Secretário da Câmara dos Deputados, decorre ou não de sua função na Mesa
Diretora dessa Casa Legislativa.
3. O ato apontado como coator consiste na omissão de informações solicitadas
pelo impetrante, conforme petição de fls. 27/34.
4. O Regimento Interno da Câmara dos Deputados estabelece no art. 19, I, que cabe
ao Primeiro Secretário “receber convites, representações, petições e memoriais dirigidos
à Câmara”.
5. O preceito está inserido em capítulo que regulamenta as atribuições da Mesa
Diretora da Câmara dos Deputados, de modo que a competência para receber representa-
ções e petições não consubstancia atribuição comum a qualquer parlamentar, mas exclu-
siva do Primeiro Secretário. Como membro da Mesa Diretora, em nome desta o Primeiro
Secretário exerce essa atribuição. Entendo, pois, que este Tribunal é competente para
julgar o presente mandado de segurança.
176 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
MS 24.189-AgR/DF — Relator: Ministro Eros Grau. Agravante: Rodrigo Monte-
ferrante Ricupero (Advogado: Laércio José dos Santos). Agravado: Primeiro Secretário
da Câmara dos Deputados.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental,
nos termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello
e Carlos Velloso. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto,
Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Mon-
teiro Gurgel Santos.
Brasília, 4 de agosto de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, não conhecer do mandado de segurança.
Brasília, 30 de outubro de 2003 — Maurício Corrêa, Presidente — Marco Aurélio,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Com a longa inicial de folhas 2 a 45, os impetrantes
buscam demonstrar, a partir de diversas causas de pedir, a insubsistência de ato do
Tribunal de Contas da União que implicou a determinação de devolução de importâncias
recebidas a título de gratificação por serviços inerentes a concursos públicos promovidos
pelo Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região. No tocante aos fatos, asseguram haver
participado do trabalho realizado na Secretaria da Comissão dos Certames do 13º
Regional em concursos diversos, percebendo gratificação. Eis as preliminares suscitadas:
a) Do cerceio de defesa:
Os impetrantes não teriam sido cientificados da existência do processo no Tribunal
de Contas, circunstância que acabara por obstar a manifestação da defesa. Articulam
com o disposto na Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União, mais precisamente no
§ 4º do artigo 53, aludindo, ainda, ao artigo 212 do Regimento Interno do Tribunal.
Também é feita referência à Lei nº 8.112/90, ressaltando-se a impossibilidade de a decisão
do Tribunal de Contas repercutir nos respectivos patrimônios.
b) Do abuso de poder:
A decisão proferida ultrapassara o parecer da auditoria que concluíra pela abertura
de tomada de contas, sendo imprópria a responsabilização dos servidores que não tive-
ram participação direta nos procedimentos a envolver dinheiro público.
c) Da prescrição:
Na espécie, restara extravasado o qüinqüênio. Evocam os impetrantes o disposto
no § 5º do artigo 37 da Constituição Federal e no Decreto n. 20.910/32, buscando apoio,
ainda, em formulações do Dasp.
d) Da litispendência:
A partir da definição de litispendência constante do Código de Processo Civil,
consignam o concurso de tal óbice. É que teria sido ajuizada ação popular sobre a mesma
matéria, verificando-se, ainda, a formulação de notícia-crime no Superior Tribunal de
Justiça. Por sua vez, o Ministério Público do Trabalho da 13ª Região ingressara com
representação perante o Tribunal de Contas da União, visando a idêntica providência,
interpondo, também, recurso ordinário em matéria administrativa junto ao Tribunal
Superior do Trabalho.
e) Da decadência:
178 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator):
Da carência da impetração
Preceitua o inciso I do artigo 5º da Lei n. 1.533/51 que “não se dará mandado de
segurança quando se tratar de ato de que caiba recurso administrativo com efeito sus-
pensivo, independentemente de caução”. De acordo com as informações, os impetrantes
180 R.T.J. — 196
VOTO (Aditamento)
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Senhor Presidente, sei que essa é a termi-
nologia da Corte, mas continuo entendendo que ação é o ato de se caminhar até o
protocolo do Tribunal e se formalizar certo pedido.
Fica no voto a carência da ação proposta, porque, até para concluir pela carência,
tenho que ir à peça apresentada ao protocolo. Mas, não tem importância maior, é algo
que já está sedimentado na jurisprudência da Corte.
Deixo apenas a minha ressalva quanto ao não-conhecimento.
EXTRATO DA ATA
MS 24.511/DF — Relator: Ministro Marco Aurélio. Impetrantes: Márcia Valério e
outro (Advogados: Romeo Piazera Júnior e outro). Impetrado: Tribunal de Contas da
União.
Decisão: O Tribunal, por decisão unânime, não conheceu do mandado de segurança.
Ausentes, justificadamente, os Ministros Ellen Gracie, Joaquim Barbosa e, neste julga-
mento, Celso de Mello. Presidiu o julgamento o Ministro Maurício Corrêa.
Presidência do Ministro Maurício Corrêa. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Nelson Jobim, Gilmar Mendes,
Cezar Peluso e Carlos Britto. Procurador-Geral da República, Dr. Haroldo Ferraz da
Nóbrega, substituto (Portaria PGR n. 683/2003).
Brasília, 30 de outubro de 2003 — Luiz Tomimatsu, Coordenador.
R.T.J. — 196 181
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por maioria de votos, dar parcial provimento ao agravo para declinar a
competência ao Colégio Recursal do Juizado Especial de Americana/SP, vencidos, em
parte, os Ministros Carlos Britto, Relator, Celso de Mello e Ellen Gracie.
Brasília, 24 de junho de 2004 — Ellen Gracie, Presidente — Marco Aurélio, Relator
para o acórdão.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Cuida-se de agravo regimental interposto contra
decisão que negou seguimento a mandado de segurança, vazada nos seguintes termos, in
verbis:
“Trata-se de mandado de segurança em que se alega a incompetência absoluta
do Juizado Especial de Americana para processar e julgar ação de indenização
cujo valor, incluídos os juros moratórios, exceda quarenta salários mínimos.
Esclarece o impetrante que, na defesa da sua tese, manejou todos os recursos
cabíveis, inclusive o especial. Não obtendo sucesso, e como já se encontra em fase
de execução a sentença condenatória, com penhora de seus bens, vale-se agora o
executado do presente mandamus, que deságua no pedido de “extinção do proces-
so 254/01 do Juizado Especial de Sumaré em razão da incompetência absoluta dos
juizados especiais para processarem causas com valor superior a 40 salários
mínimos”.
Observo, inicialmente, que não se juntou instrumento de mandato, falha que,
se fosse única, poderia ser prontamente corrigida. Pesam, também, razoáveis dúvidas
sobre o cabimento e a tempestividade deste writ (a penhora foi efetivada há mais de
dois anos). Dispenso-me, entretanto, de analisar tais questões porque outra — maior
e prejudicial a estas — merece o meu exame. Refiro-me à competência originária
desta colenda Corte. E como o assunto guarda identidade com o que foi decidido no
182 R.T.J. — 196
MS 24.697, de minha relatoria, repito o que ali escrevi, nos seguintes termos:
“À luz dos dispositivos constitucionais versantes sobre a competência
originária do Supremo Tribunal Federal, verifica-se que a autoridade aqui
apontada como coatora não é nenhuma daquelas enumeradas no artigo 102,
inciso I, letra d, da Carta Republicana de 1988. Ademais, registre-se que, nos
termos do artigo 21, inciso VI, da Lei Orgânica da Magistratura (LC n. 35/
79), compete privativamente aos tribunais julgar, originariamente, mandados
de segurança contra seus atos, os dos respectivos Presidentes e os de suas
Câmaras, Turmas ou Seções (cf. MS 24.516, Rel. Min. Sepúlveda Pertence,
DJ de 20-5-03; MS 24.672, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 31-10-03; MS
22.427, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 7-2-96; MS 22.428, Rel. Min. Néri da
Silveira, DJ de 7-2-96; entre outros).”
Na mesma linha, o Ministro Sepúlveda Pertence julgou o MS 24.708, em
11-11-2003, enfatizando que era caso de aplicação da novel Súmula 624/STF.
Impõe-se, portanto, a negativa de seguimento ao presente pedido, sem
indicação, todavia, de outro órgão ou autoridade judiciária competente para
processá-lo, na forma do art. 113, § 2º, do CPC, tendo em vista os limites impostos
pelo art. 21, § 1º, do RISTF, bem como o entendimento encampado pelo Supremo
Tribunal Federal no sentido de que tal indicação transformá-lo-ia indevidamente
“em órgão de orientação e consulta das partes, em tema de competência, quando
estas tiverem dúvida a respeito de tal matéria”, sem oportunidade de discussão do
tema perante outras instâncias (MS 24.672-MC, Ministro Celso de Mello).
Ante o exposto, nego seguimento ao pedido mandamental, ficando prejudi-
cado, em conseqüência, o exame da respectiva liminar.
(...)”
2. Inicialmente, o agravante aponta o equívoco da decisão recorrida quando
buscou fundamento na Súmula 624 desta colenda Corte. Diz o recorrente que “a súmula
refere-se a Tribunais e os colégios recursais não são Tribunais”. Aduz, também, que é
inadmissível que seja negado acesso ao Supremo Tribunal Federal, pois a lei não pode
excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
3. À fl. 38, determinei o encaminhamento destes autos à douta Procuradoria-Geral
da República, a qual se manifestou pelo não-provimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Feito o relatório, passo ao voto.
4. É do teor seguinte o parecer exarado pela douta Procuradoria-Geral da República
(fls. 40/43):
“Trata-se de agravo regimental em mandado de segurança interposto por
José Dias Marques dos Reis contra a decisão de fls. 31/32 que, não vislumbrando
a competência originaria desta Excelsa Corte para julgar mandado de segurança
R.T.J. — 196 183
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhora Presidenta, há pouco ressalvei o entendi-
mento pessoal para não contrariar, no caso concreto, a óptica do Relator quanto à negativa
de seguimento ao pedido, indeferindo-o, portanto, liminarmente quando não competente
a Corte. Agora, estamos diante de uma situação em que a ambigüidade grassou até bem
pouco tempo. Isso no que se refere à impetração contra ato de Juizado Especial. O
Tribunal acabou admitindo a dualidade: competência respectiva para a ação constitucio-
nal de habeas corpus e incompetência quanto ao mandado de segurança.
Como o mandado de segurança está submetido, inclusive, a um prazo decadencial,
vou pedir vênia ao Relator e aos Colegas para concluir pela declinação da competência,
remetendo o processo ao autor do ato atacado na impetração.
Dou provimento parcial ao agravo não para admitir a competência do Supremo,
mas só para remeter o processo ao órgão competente.
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sra. Presidenta, peço vênia à maioria formada
para acompanhar o voto do Sr. Ministro Marco Aurélio, sobretudo no caso concreto em
que o Tribunal vacilava a respeito, quando da impetração da segurança.
VOTO
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Sra. Presidenta, também ia fazer essa ressalva no feito
anterior. Não a fiz, mas acompanho o voto do eminente Ministro Marco Aurélio.
VOTO
A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente): Peço vênia aos eminentes Colegas, tendo
em vista que a impetração é posterior à definição da competência desta Casa, para
acompanhar o eminente Ministro Relator e também negar provimento. Ainda assim, a
maioria permanece no sentido da decisão contrária, que é a de dar parcial provimento,
declinando competência ao Colégio Recursal do Juizado Especial da Comarca de Ame-
ricana São Paulo.
186 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
MS 24.700-AgR/SP — Relator: Ministro Carlos Britto. Relator para o acórdão:
Ministro Marco Aurélio. Agravante: José Dias Marques dos Reis (Advogada: Patricia
Galante Papareli Valero). Agravado: Colégio Recursal do Juizado Especial de Americana.
Decisão: O Tribunal, por maioria, deu parcial provimento ao agravo para declinar
a competência ao Colégio Recursal do Juizado Especial de Americana/SP, vencidos, em
parte, os Ministros Carlos Britto, Relator, Celso de Mello e Ellen Gracie. Redigirá o
acórdão o Ministro Marco Aurélio. Ausentes, justificadamente, os Ministros Nelson
Jobim, Presidente, Carlos Velloso e Gilmar Mendes. Presidiu o julgamento a Ministra
Ellen Gracie, Vice-Presidente.
Presidência da Ministra Ellen Gracie, Vice-Presidente. Presentes à sessão os Minis-
tros Sepúlveda Pertence, Celso de Mello, Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e
Joaquim Barbosa. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e
Silva de Souza.
Brasília, 24 de junho de 2004 — Luiz Tomimatsu, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade, indeferir a ordem, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 29 de setembro de 2004 — Nelson Jobim, Presidente — Marco Aurélio,
Relator.
R.T.J. — 196 187
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Ao indeferir a medida acauteladora, assim resumi os
parâmetros deste processo, considerados a causa de pedir e o pedido:
Com a inicial de folhas 2 a 19, busca-se afastar ato da Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito – CPMI do Banestado que implicou a determinação de quebra
de sigilo bancário, fiscal, telefônico e telemático dos impetrantes. Ressalta-se que,
diante da liminar deferida no Mandado de Segurança nº 24.702-9/DF, quando
glosados defeitos formais — incompetência para deliberar sobre a matéria e ausên-
cia de fundamentação —, a Comissão veio a submeter o tema ao Plenário, que
acabou deferindo a quebra, mas não de forma devidamente fundamentada. O vício
da motivação não teria sido sanado, deixando-se de aludir a aspectos que estariam
a revelar o comprometimento quer das pessoas jurídicas, quer das pessoas naturais
que figuram como impetrantes, não restando definidas a qualificação destes ou
mesmo os envolvimentos ocorridos. Ter-se-ia repetido prática apontada como ile-
gal no Mandado de Segurança n. 24.702, a esta altura prejudicado, considerada a
insubsistência declarada pela Comissão. Remetendo-se ao disposto na Lei n.
9.296/96, no que o artigo 4º, relativamente à interceptação de comunicação telefô-
nica, impõe a demonstração da necessidade, pleiteia-se a concessão de liminar que
resulte na suspensão da eficácia do ato, vindo-se, alfim, a fulminá-lo. Com a inicial,
juntaram-se os documentos de folhas 20 a 98.
À folha 101, despachei, ressaltando a indispensabilidade de as fotocópias
anexadas contarem com a autenticação. Deu-se o atendimento à exigência, confor-
me se verifica pelas peças e é registrado à folha 104.
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito – CPMI do Banestado não prestou
informações (folha 127).
A Procuradoria-Geral da República emitiu o parecer, de folhas 130 a 134, pelo
indeferimento da ordem. Eis a síntese da peça:
Mandado de segurança. Quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico por ato
da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito – CPI do Banestado. Alegada nulidade
do ato coator, por ausência de fundamentação, pela natureza do órgão que decidiu
e pela não votação da maioria absoluta na deliberação. Existência, na hipótese, de
adequado lastro para a decisão. Parecer pela denegação da ordem.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Valho-me, para indeferir a segurança, do
que tive oportunidade de consignar no pronunciamento de folhas 121 e 122:
A Comissão Parlamentar de Inquérito atua na fase simplesmente investigatória.
Vale dizer, tem como escopo levantar os dados concernentes a certos fatos, obje-
188 R.T.J. — 196
tivando, se for o caso, o encaminhamento das peças ao titular da ação penal. Parte,
assim, de elementos precários, longe ficando de revelar, ao primeiro exame, a
convicção a respeito da participação de cada qual. Medidas que visem à elucida-
ção dos acontecimentos hão de ser tomadas, é certo, de maneira segura, consciente,
sem, no entanto, partir-se para impor a robustez dos elementos autorizadores das
deliberações. Pois bem, é de se constatar que a CPMI do Banestado sopesou in-
formações constantes dos documentos amealhados, inclusive sobre contas das
pessoas jurídicas em certo banco em Nova Iorque, tudo levando a crer que os
administradores e sócios das pessoas jurídicas efetuaram remessas de valores sem
observância das normas legais. Eis o trecho respectivo:
Tudo isso configura indício de movimentação de recursos de forma
irregular, relacionado a evasão de divisas do Brasil. Além disso, alguns
sócios, diretores ou responsáveis pela administração das empresas também
apresentaram movimentação de recursos relacionada a remessa via CC-5, in-
clusive sendo objeto de fiscalização junto à Secretaria da Receita Federal,
conforme diversos Inquéritos Policiais abertos contra pessoas interpostas, cha-
madas de “laranjas”, na localidade de Foz do Iguaçu-PR (folha 119).
Mencionou-se movimentação de recursos junto a certa empresa fechada pela
Justiça americana, tendo em conta o fato de, além de haver atuado fora dos limites
da respectiva licença para agir no mercado, operar com dinheiro proveniente de
ações ligadas ao narcotráfico, à corrupção e ao caixa dois de empresas. As pessoas
jurídicas Atlas Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, Indústrias de Jóias
Constantini Ltda., Silver Star – Metais Preciosos e Casa Ouro Velho Metais
Preciosos Ltda. teriam procedido à transferência de recursos.
A óptica encontra-se robustecida, valendo notar que em idêntico sentido é a mani-
festação da Procuradoria-Geral da República. Descabe pretender fundamentação exaus-
tiva, equiparável à exigida dos órgãos investidos do ofício judicante. Indefiro a ordem.
EXTRATO DA ATA
MS 24.749/DF — Relator: Ministro Marco Aurélio. Impetrantes: José Pascoal
Costantini e outro (Advogados: Miguel Reale Júnior e outro). Impetrada: Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito – CPI do Banestado.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, indeferiu a ordem, nos termos do voto do
Relator. Ausente, justificadamente, a Ministra Ellen Gracie. Falou pelos impetrantes o
Dr. Luiz Guilherme Moreira Porto. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso,
Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Procurador-Geral da República, Dr. Cláudio
Lemos Fonteles.
Brasília, 29 de setembro de 2004 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
R.T.J. — 196 189
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, negar provimento ao agravo regimental.
Brasília, 28 de setembro de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Eros Grau, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eros Grau: Trata-se de agravo regimental interposto por Maria
Carmélia do Nascimento Braga e outros contra despacho que negou seguimento a
mandado de segurança.
2. A impetração subjacente dirige-se contra atos coatores do Ministro Presidente
do Tribunal de Contas da União e do Diretor do Foro Federal da Sessão Judiciária do
Ceará, que determinaram a suspensão do pagamento de vantagem pecuniária já incorpo-
rada a proventos de aposentadoria por força de sentença transitada em julgado.
3. Alertam para a similitude da impetração com o precedente do MS n. 25.009,
Relator o Ministro Carlos Velloso, em que foi concedida a ordem para suspender os
efeitos do Acórdão TCU n. 1.157/2004, restabelecendo o pagamento da parcela referente
à Unidade Referencial de Preços – URP, incorporada por força de sentença transitada em
julgado nos autos da Ação Ordinária n. 1.705/89.
190 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): O pedido deduzido pelos impetrantes no man-
dado de segurança subjacente refere-se ao Acórdão TCU n. 1.157/2004, que foi objeto
do MS n. 25.009 [fls. 14/15].
2. Naquele julgamento não foi conhecido o writ com relação aos ora impetrantes1,
pois o mencionado acórdão diz respeito unicamente ao servidor Fernando Avelino de
Souza, conforme voto do eminente Relator, Ministro Carlos Velloso [DJ de 29-4-2005].
1 Maria Carmélia do Nascimento Braga, Odenildo Barbosa Ferreira, José Evandro Ribeiro Melo e
Expedita Alves de Albuquerque.
R.T.J. — 196 191
EXTRATO DA ATA
MS 25.291-AgR/DF — Relator: Ministro Eros Grau. Agravantes: Maria Carmélia
do Nascimento Braga e outro (Advogados: João Quevêdo Ferreira Lopes e outro). Agra-
vados: Presidente do Tribunal de Contas da União e Diretor do Foro da Seção Judiciária
Federal do Estado do Ceará.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental,
nos termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, os Ministros Carlos Velloso,
Ellen Gracie e Carlos Britto. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Joaquim Bar-
bosa e Eros Grau. Procurador-Geral da República, Dr. Antônio Fernando Barros e Silva
de Souza.
Brasília, 28 de setembro de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
192 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, indeferir o habeas corpus.
Brasília, 29 de maio de 2001 — Néri da Silveira, Presidente — Marco Aurélio,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Os advogados Antônio Carlos de Almeida Castro e
Camila Lafetá Sesana impetram este habeas corpus em benefício de José Elias Attux,
brasileiro, casado, engenheiro civil, residente e domiciliado à Rua C-263, n. 45, aparta-
mento 900, Setor Nova Suíça, Goiânia/GO, e representante da empresa de construção
civil Pavimax Construções Ltda. De acordo com a inicial, o Paciente foi denunciado
perante a 5ª Vara Federal de Goiânia, considerados os crimes de quadrilha ou bando,
falsidade ideológica, estelionato e advocacia administrativa, previstos, respectivamente,
nos artigos 288, 299, 171, § 3º, do Código Penal e artigo 3º, inciso III, da Lei n. 8.137, de
1990, presente o disposto no artigo 29 do referido Código. A ação inicialmente proposta
imputou a Antônio Paulo Rodrigues Carneiro, José Flávio Rodrigues, Mayone Vieira
Mota e Rosemary da Costa Ramos a prática do delito de quadrilha ou bando, isso em 9
de julho de 1999. Em 4 de novembro seguinte, a Procuradoria da República aditou a
denúncia, incluindo o ora Paciente e José Paes Júnior, alterando, também, a tipificação.
A todos os denunciados atribuiu-se a prática dos delitos de quadrilha ou bando, falsidade
ideológica, estelionato e advocacia administrativa. Recebida a denúncia em 10 de
novembro de 1999, o Paciente foi interrogado em 25 imediato, encontrando-se o proces-
so em fase de conclusão de prova testemunhal. Deu-se a impetração de habeas corpus,
indeferido pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região em 29 de março de 2000.
Seguiu-se idêntica medida, vindo o Superior Tribunal de Justiça, sob o ângulo do voto
do relator, Ministro José Arnaldo, a conceder parcialmente a ordem, para trancar, por
falta de justa causa, a ação penal relativamente ao delito de quadrilha ou bando.
Após discorrerem sobre a denúncia apresentada, asseveram os Impetrantes que as
imputações remanescentes consubstanciam crime-meio daquele que seria o crime-fim,
ou seja, a sonegação fiscal. A denúncia estaria a referir-se a conluio, a fim de regularizar-
se a situação de empresas perante a Receita Federal. Cooptados os contribuintes, o
primeiro denunciado, ou seja, Antônio Paulo Rodrigues Carneiro, “voltava à cena para
R.T.J. — 196 193
providenciar a suspensão irregular do débito, uma vez que não se estava em face de
nenhuma das situações previstas no CTN para que houvesse a suspensão. Para mascarar
a ilegalidade desse procedimento, o primeiro denunciado utilizava número de processos
verdadeiros, mas relativos a outras situações fiscais, que não a suspensão do débito”.
Consoante a denúncia, os denunciados “exigiam pagamento das empresas sob ameaça
de realização de fiscalização (...)”. Relativamente a este habeas corpus, imputou-se ao
Paciente:
Apurou-se que José Elias Attux, na qualidade de representante da empresa
Pavimax Ltda. e por intermédio de José Paes, sócio da empresa Interprise e conta-
dor da Pavimax, contratou Rosemary para solucionar o problema tributário da
empresa junto à Receita Federal.
(...)
Quatorze (14) débitos da empresa Pavimax Ltda. foram suspensos no
Contacor/PJ, sendo referentes ao PIS e Cofins, totalizando R$ 108.493,43, relati-
vos ao ano-calendário de 1996. Para justificar tal procedimento, o denunciado
Antônio Paulo utilizou o número do processo 10120.003342/98-74, que se refere a
lançamento de IRPF do contribuinte Dalvo da Silva Nascimento Júnior (fl. 234).
Esse procedimento fraudulento do denunciado Antônio Paulo teve por efeito
imediato evitar que tais débitos fossem cobrados pela Receita Federal, bem como
ensejou à Pavimax obtenção de certidões negativas de débitos, sem quitar suas
dívidas.
Os Impetrantes articulam com o princípio da consunção: o fisco não suportara
nenhum prejuízo, sendo que o crime-fim mostrara-se impossível, tendo em conta que a
empresa, jamais autuada por sonegação fiscal, obtivera, mediante confissão de dívida, o
parcelamento. Citam a boa doutrina — Oscar Stevenson, em “Concurso Aparente de
Normas Penais”, trabalho contido em Estudos de Direito e Processo Penal em Homenagem
a Nelson Hungria, Editora Forense. Aludem, mais, a parecer apresentado ao Superior
Tribunal de Justiça, no qual Rogério Lauria Tucci elucidara a matéria, para revelar a
insubsistência da denúncia. O Paciente estaria a responder por delitos que consubstancia-
riam, isto sim, meio para se chegar à sonegação fiscal, de resto, objetivo, em si, do que
apontado na denúncia e crime-fim que não se consumou. Requerem a concessão da
ordem para trancar a ação penal.
Solicitadas informações, veio aos autos a cópia do acórdão prolatado pelo Superior
Tribunal de Justiça, cuja ementa revela a impropriedade do princípio da consunção:
(...) eis que o crime-fim (sonegação fiscal) não se consumou, devendo o
agente responder pelos crimes antecedentes (falsidade ideológica, estelionato e
advocacia administrativa) (folha 32).
A Procuradoria-Geral da República emitiu o parecer de folha 49, no sentido do
indeferimento da ordem, ante a circunstância de a conclusão pretendida na inicial estar
na dependência “de profundo exame de fatos, o que implicaria a substituição da instrução
contraditória pela articulação unilateral”.
Estes autos voltaram-me conclusos em 23 de abril de 2001 (folha 50).
É o relatório.
194 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Consigno que todo julgamento ocorre à
luz de certa moldura fática, não sendo óbice ao exame do habeas a consideração de
dados contidos no ato impugnado, que devem ser necessariamente sopesados, não se
confundindo esse mister com o revolvimento de prova.
A tese desenvolvida na inicial é sedutora, e eu não estaria longe de sufragá-la, já
que apresenta contornos jurídicos da melhor qualidade, bem demonstrando a percuciên-
cia dos impetrantes. Ocorre que a denúncia, ao retratar a participação do paciente, noti-
ciou o resultado da prática delituosa, e que não alcançou a sonegação, em si. Mediante
o que se reputou como falsidade ideológica e estelionato, bem como advocacia adminis-
trativa, a empresa Pavimax, representada pelo paciente, obtivera “certidões negativas de
débitos sem quitar suas dívidas”. Assim, quanto a esse resultado concreto, ao menos ante
os parâmetros da denúncia, a dependerem de prova robusta, não subsiste o argumento de
que o fim buscado com o procedimento foi a sonegação. Incumbirá ao Ministério
Público a demonstração do que alegado, sendo despiciendo cogitar da inexistência de
sonegação, já que somente o fato de haver-se conseguido as certidões negativas de
débitos está, de início, a respaldar a denúncia.
Por tais razões, indefiro a ordem, cingindo-me, é certo, à causa de pedir e ao pedido
formulado na inicial.
VOTO
O Sr. Ministro Nelson Jobim: Sr. Presidente, se não fosse esse aspecto, ressaltado
pelo Ministro Relator, de que houve obtenção de uma certidão, criaria essa dificuldade,
porque, na verdade, quando se examina a legislação sobre crimes contra a ordem tribu-
tária, verifica-se que o delito só estará consumado com uma supressão na redução do
tributo, e elenca uma série de condutas para esse objetivo.
Nessas condutas está incluída a falsidade, mas como conduta, não como crime
autônomo, nem como crime antecedente.
Não há que se confundir crime antecedente com crime conseqüente, pois trata-se
do crime que se esgota em si mesmo, como é o caso de furto e, depois, receptação dolosa;
no caso da lavagem de dinheiro, é o crime de tráfico de drogas e, depois, o crime subse-
qüente da lavagem de dinheiro, mas que são autônomos.
Aqui, não há caso de autonomia. Seria a conduta pela qual se realizaria o crime.
A certidão sai fora do jogo, porque não seria crime de sonegação, nessa altura seria
um outro crime.
Poderia, eventualmente, transformar-se em tal.
Tendo em vista essas considerações, acompanho o voto do eminente Ministro
Relator.
R.T.J. — 196 195
VOTO
O Sr. Ministro Maurício Corrêa: Sr. Presidente, estou de acordo, inclusive, com os
esclarecimentos prestados pelo eminente Ministro Relator quanto ao cabimento do
habeas corpus, a despeito do parecer do Ministério Público, porque conhecer da ma-
téria de fato para chegar-se ao direito não tem nada a ver com o exame e valorização de
prova, na forma conceituada pela Súmula 279, desta Corte.
S. Exa. traz um dado intransponível, contudo, que é exatamente o que contém a
denúncia, cujo tema está nela delimitado, o que quer dizer que, em face disso, embora a
tese seja fascinante — li o memorial do ilustre Advogado, inclusive o parecer do Professor
Tucci —, mas tenho que, realmente, essa circunstância não permite se possa deferir o
pedido.
Acompanho o voto de S. Exa.
EXTRATO DA ATA
HC 80.801/GO — Relator: Ministro Marco Aurélio. Paciente: José Elias Attux.
Impetrantes: Antônio Carlos de Almeida Castro e outra. Coator: Superior Tribunal de
Justiça.
Decisão: Por unanimidade, a Turma indeferiu o habeas corpus. Falou, pelo paciente,
o Dr. Antonio Carlos de Almeida Castro. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o
Ministro Celso de Mello.
Presidência do Ministro Néri da Silveira. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Maurício Corrêa e Nelson Jobim. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso
de Mello. Subprocurador-Geral da República, Dr. João Batista de Almeida.
Brasília, 29 de maio de 2001 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade de votos, indeferir o pedido de habeas corpus.
Brasília, 8 de outubro de 2002 — Celso de Mello, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Celso de Mello: O Ministério Público Federal, em parecer da lavra
do ilustre Subprocurador-Geral da República, Dr. Edson Oliveira de Almeida, assim
resumiu e apreciou a presente impetração (fls. 88/92):
“1. Resume a ementa HC n. 19.200-PR, denegado pela colenda Quinta
Turma do Superior Tribunal de Justiça (fl. 77):
‘Criminal. HC. Unificação de ações penais. Diversidade de condutas,
em tese, delituosas imputadas ao paciente. Feitos em momentos processuais
distintos. Crime continuado. Alegação não-demonstrada de pronto. Impro-
priedade do meio eleito. Ordem denegada.
I. Não há ilegalidade na decisão que não acolhe pedido de reunião de
processos instaurados contra o paciente, se evidenciado que a reunião dos
feitos criminais – os quais narram condutas, em tese, delituosas, ocorridas
desde 1993 até 2000 e que se encontram em momentos processuais distintos
– acarretaria grande tumulto no andamento das ações, o que inviabilizaria a
apuração dos fatos imputados ao paciente.
II. Não é recomendável, em princípio, a reunião de processos criminais,
a fim de não criar obstáculos ao desdobramento regular dos mesmos, ocasio-
nando dispêndio de tempo não razoável em detrimento da celeridade proces-
sual.
III. A via estreita do habeas corpus não se presta para a análise da
alegação de existência de continuidade delitiva entre as condutas imputadas
ao paciente, em razão da necessidade de dilação de fatos e provas, inviável
na via eleita.
IV. Ordem denegada.’
2. O presente writ, reiterando os argumentos já refutados pelo Superior Tri-
bunal de Justiça, busca a reunião das ações penais contra o paciente. Sustenta
incidir, in casu, a regra do art. 71, caput, do Código Penal (continuidade delitiva),
uma vez que todos os processos estão ‘ligados à administração pública’ (Decreto-
Lei 201/67), devendo prosseguirem em simultaneus processus.
R.T.J. — 196 197
VOTO
O Sr. Ministro Celso de Mello (Relator): O ora paciente — que foi denunciado pela
suposta prática dos delitos inscritos no art. 1º, incisos I e V do Decreto-Lei n. 201/67
(crime de responsabilidade) e no art. 312 (crime de peculato), c/c os arts. 29, 69 e 70,
R.T.J. — 196 199
EXTRATO DA ATA
HC 82.011/PR — Relator: Ministro Celso de Mello. Paciente: Júlio Cezar Salomão.
Impetrante: Elias Mattar Assad. Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: A Turma, por votação unânime, indeferiu o pedido de habeas corpus, nos
termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro
Maurício Corrêa.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Nelson Jobim e Gilmar Mendes. Ausente, justificadamente, o Ministro Maurício
Corrêa. Subprocurador-Geral da República, Dr. Edinaldo de Holanda Borges.
Brasília, 8 de outubro de 2002 — Antonio Neto Brasil, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
indeferir o pedido de habeas corpus.
Brasília, 4 de novembro de 2003 — Sepúlveda Pertence, Presidente — Marco
Aurélio, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio:Valho-me da síntese do caso constante da decisão de
folhas 56 a 58:
Com a inicial de folhas 2 a 11, busca-se demonstrar a ocorrência de constran-
gimento ilegal, no que, requerida a liberdade provisória sem caução, até aqui não
houve o acolhimento. Noticia-se que a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça
do Estado de Mato Grosso indeferiu a ordem pleiteada em habeas. Protocolizada
idêntica medida no Superior Tribunal de Justiça, deu-se novo indeferimento. Insis-
te-se na assertiva de não se encontrar fundamentada a prisão cautelar, deixando-se
à margem o disposto no artigo 312 do Código de Processo Penal. Refuta-se a base
que estaria na prisão em flagrante verificada, asseverando-se que o estado de co-
moção social e de eventual indignação popular não serve a justificar a custódia
atacada. Afirma-se que a instrução estaria encerrada, não se podendo, assim, cogitar
da preservação de campo propício à aplicação da lei penal. Também se diz que o
fato de o paciente residir fora do distrito da culpa não é de molde a respaldar a
preventiva. Requer-se medida acauteladora que resulte na expedição de alvará de
soltura, tornando-se após definitiva a concessão da liberdade.
À folha 16, o Ministro Relator a quem sucedi, Maurício Corrêa, indeferiu o
pleito cautelar, ante a insuficiência de elementos nos autos — especialmente no
tocante ao pronunciamento do Superior Tribunal de Justiça — para o indispensá-
vel exame. Solicitaram-se informações por meio de ofício, que veio a ser reiterado.
O impetrante formulou novamente o pedido de deferimento da liminar (folhas
28 a 31), razão pela qual prolatei a seguinte decisão:
Habeas corpus — Instrução — Excesso de prazo — Elucidação.
1. Eis os esclarecimentos prestados pelo Gabinete:
O impetrante renova o pedido de concessão de medida liminar,
independentemente da juntada aos autos do acórdão prolatado pelo
Superior Tribunal de Justiça que configuraria o ato coator.
202 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Conforme consignado anteriormente, a
causa de pedir deste habeas corpus é única — a prisão cautelar não se encontra, segundo
o sustentado, devidamente fundamentada. Quanto à fundamentação do ato, mediante o
qual foi mantida a prisão do paciente, exclua-se o que revelado quanto à prática de crime
hediondo. A vedação de liberdade provisória contida no artigo 2º, inciso II, da Lei n.
8.072/90 há de ser conjugada com a possibilidade de o juiz, na sentença condenatória,
vir a decidir sobre a interposição de recurso em liberdade — § 2º do citado artigo. Da
mesma forma não vinga o que articulado em torno do clamor público, da repulsa da
sociedade, do crédito do Judiciário a ser preservado aos olhos desta última. São dados
estranhos ao arcabouço normativo de regência. Entrementes, verifica-se que se fez assentar
no ato — transcrito no acórdão do Superior Tribunal de Justiça, mais precisamente à
folha 50 — a circunstância de haver ocorrido o flagrante, sendo o paciente surpreendido
com grande quantidade de substância tóxica — cocaína —, aspecto a evidenciar a
periculosidade. Mais do que isso, ressaltou-se o fato de não ter residência no distrito da
culpa, aludindo-se à necessidade de se preservar campo propício à aplicação da lei
penal. Vê-se que a situação concreta revela custódia preventiva lastreada em ato devida-
mente fundamentado. A problemática do excesso de prazo há de ser veiculada no foro
próprio com a demonstração cabível. Indefiro a ordem.
204 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
HC 83.040/MT — Relator: Ministro Marco Aurélio. Paciente: Sebastião Paz
Lindoso. Impetrantes: Alberto Gonçalves e outro. Coator: Superior Tribunal de
Justiça.
Decisão: A Turma indeferiu o pedido de habeas corpus. Unânime.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Joaquim Barbosa. Compareceu à sessão a Ministra
Ellen Gracie para julgamento de processo a ela vinculado. Subprocurador-Geral da
República, Dr. Edson Oliveira de Almeida.
Brasília, 4 de novembro de 2003 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Primeira Turma, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, deferir o pedido de habeas corpus, nos termos
do voto do Relator.
Brasília, 14 de outubro de 2003 — Marco Aurélio, Presidente e Relator.
R.T.J. — 196 205
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Valho-me do relato que fiz ao conceder a
medida acauteladora e determinar a transferência do paciente do regime fechado para o
semi-aberto:
O Procurador do Estado de São Paulo Dr. Waldir Francisco Honorato Júnior,
em exercício na Assistência Judiciária, impetra este habeas corpus em benefício
de Washington José Inácio. A inicial contém a notícia da condenação do paciente
como incurso nas penas do artigo 157, § 2º, incisos I e II, combinado com o artigo
70, cabeça, do Código Penal, havendo sido assentado o concurso de circunstâncias
judiciais favoráveis ao réu. Entrementes, teria sido imposto como regime de cum-
primento da pena o integralmente fechado. Articula-se com o desprezo às balizas
do artigo 33 do Código Penal, no que, excetuada a hipótese de a pena imposta ser
superior a oito anos, cumpria atentar para a norma estabelecida no § 3º do citado artigo:
A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com
observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código.
Assevera-se que, para definir-se o regime de cumprimento da pena, como
previsto no inciso III do artigo 59 referido, é preciso considerar-se o que se contém
na cabeça desse dispositivo. Mencionam-se precedentes quanto à impossibilidade
de chegar-se ao regime fechado — STJ — HC n. 20.179/SP, Quinta Turma , Relator
Ministro Felix Fischer, DJ de 10 de junho de 2002; STJ — RHC n. 7.979/SP,
Relator Ministro Vicente Leal, DJ de 26 de novembro de 1998 e HC n. 75.379-5/SP,
por mim relatado, DJ de 6 de março de 1998. Requer-se a concessão de medida
acauteladora para vir o paciente a ser removido para o regime semi-aberto, decre-
tando-se, alfim, a insubsistência do regime mais gravoso imposto. Com a inicial,
vieram aos autos as peças de folhas 10 a 108.
Remetidos os autos à Procuradoria-Geral da República, deu-se a emissão do pare-
cer de folhas 126 a 132, pelo indeferimento da ordem. A peça encerra tese segundo a qual
a fixação da pena no mínimo legal não afasta a opção pelo regime fechado de acordo
com as circunstâncias avaliadas em concreto, notadamente os antecedentes desabona-
dores e a periculosidade, como necessário e suficiente à reprovação e prevenção do
crime. Os autos vieram-me conclusos em 2 de outubro de 2003, sendo que neles lancei
visto, declarando-me habilitado a votar, em 4 imediato, designando como data de julga-
mento a de hoje, isso com objetivo de dar ciência ao impetrante.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Reporto-me ao que tive oportunidade de
consignar para deferir a medida acauteladora:
Nota-se que o Juízo fixou a pena-base no mínimo previsto para o tipo, sina-
lizando, com isso, o caráter positivo das circunstâncias judiciais. De forma incon-
gruente, caminhou para a imposição do regime fechado e, aí, consignou que o fazia
“por ser este o único necessário e suficiente para a prevenção e repressão de delitos
206 R.T.J. — 196
como os em análise, que tanto terror têm causado na sociedade, ainda mais quando
seu autor ostenta personalidade voltada à delinqüência, como é o caso do imputado”
(folha 47). A apelação não frutificou, fazendo o Tribunal de Alçada Criminal alu-
são a precedentes, oportunidade na qual ressaltou que a tese da defesa seria
minoritária, porquanto sustentada apenas por mim e pelo Ministro Sepúlveda
Pertence. No habeas impetrado no Superior Tribunal de Justiça, confirmou-se a
óptica do julgamento revisional, proclamando-se:
Não há falar em regime semi-aberto se o fechado encontra fundamento,
na forma do artigo 59, no fato-crime perpetrado e na personalidade do
homem-autor.
Realmente, tem-se a relevância do que sustentado nessa impetração. A inter-
pretação sistemática dos textos penais de regência conduz ao abandono da pena,
em si, uma vez não ultrapassados os oito anos previstos na alínea b do § 2º do
artigo 33 da lei substancial, para ter-se como definidoras do regime as circuns-
tâncias judiciais. Ora, estas, porque positivas em benefício do condenado, não
influenciaram na fixação da pena, no que se ficou no mínimo previsto para o
tipo. Em passo seguinte, sob pena de lançar-se ao mundo jurídico um paradoxo,
não se podia assentar o início do cumprimento da pena em regime fechado. O
argumento utilizado pelo Juízo é exemplo claro e preciso de jurisprudência simbó-
lica, eis que voltada a atender a anseios da sociedade, muito embora em conflito
com a ordem jurídica vigente. Conforme ementa transcrita na inicial, decorrente de
julgamento procedido não no campo singular, mas por Colegiado desta Corte,
impunha-se o regime semi-aberto:
Pena — Cumprimento — Regime — Parâmetros. Excetuada a hipóte-
se de fixação da pena em quantitativo superior a oito anos e não se tratando de
reincidente, a determinação do regime de cumprimento da pena é norteada,
considerado o balizamento temporal, pelas circunstâncias judiciais.
Inteligência dos §§ 2º e 3º do artigo 33 do Código Penal. Exsurge incongru-
ente o estabelecimento da pena-base no mínimo previsto para o tipo, ficando
aquém dos oito anos, com a imposição do regime fechado. (HC n. 75.379-5/SP,
por mim relatado, DJ de 6 de março de 1998)
Ressalto que o Juízo, ao fundamentar a imposição do regime mais gravoso, estabe-
leceu:
(...) cujo cumprimento inicial dar-se-á em regime fechado, por ser este o único
necessário e suficiente para a prevenção e repressão de delitos como os em análise,
que tanto terror tem causado na sociedade, ainda mais quando seu autor ostenta
personalidade voltada à delinqüência, como é o caso do imputado.
O Tribunal de Alçada Criminal fez ver:
Quanto à obrigatoriedade de se conceder regime prisional menos severo
quando a pena base é fixada no mínimo legal, não se desconhece a jurisprudência
trazida pela defesa. É de notar, entretanto, que a questão não é pacífica no âmbito
do Supremo Tribunal Federal (aparentemente são os ministros Sepúlveda Pertence
e Marco Aurélio os defensores da tese da defesa), havendo decisões em contrário,
conforme se vê das seguintes ementas:
R.T.J. — 196 207
VOTO
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Sr. Presidente, acompanho o voto de V. Exa. por
entender que a fundamentação é extremamente pobre.
EXTRATO DA ATA
HC 83.509/SP — Relator: Ministro Marco Aurélio. Paciente: Washington José
Inácio. Impetrante: PGE/SP – Waldir Francisco Honorato Junior (Defensor Público).
Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: A Turma deferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do
Relator. Unânime. Presidiu o julgamento o Ministro Marco Aurélio. Ausente, justifica-
damente, o Ministro Sepúlveda Pertence.
R.T.J. — 196 209
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
deferir, em parte, o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 18 de novembro de 2003 — Sepúlveda Pertence, Presidente — Marco
Aurélio, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: O histórico contido na inicial mostra-se harmônico
com as peças a ela anexadas. O paciente veio a ser condenado em dois processos. No
primeiro — Processo n. 1995/05957-2 —, impôs-se-lhe a condenação a vinte e cinco
anos de reclusão por cometimento do crime previsto no artigo 121, § 2º, incisos II e IV,
sendo que, em relação a uma das práticas delituosas, houve a incidência do disposto no
210 R.T.J. — 196
artigo 14, inciso II, todos do Código Penal. Em síntese, foi considerado culpado pela
prática de homicídio consumado e homicídio tentado. No segundo processo — o de n.
2000/03970-1 —, deu-se a imposição da pena de trinta e quatro anos de reclusão, presentes
o artigo 121, § 2º, inciso I, e 121, § 2º, inciso V, duas vezes, combinado com o artigo 14,
inciso II, todos do Código Penal. Também aqui houve a consumação de homicídio e a
tentativa. Implementou-se a cumulação material. No processo de execução, pretendeu-se
ver reconhecida a continuidade delitiva. O Ministério Público manifestou-se de forma
contrária, apontando como único ponto de contato entre as condutas criminosas o em-
prego de arma de fogo, sendo diversos os móveis e o modo operacional relativos à
prática dos delitos. O Juízo da Vara de Execuções Penais indeferiu o pleito, adotando
como razões de decidir o que preconizado pelo Fiscal da lei. O paciente interpôs agravo
com alegado fundamento no artigo 197 da Lei de Execuções Penais, vindo a Terceira
Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a desprovê-lo. No acórdão
proferido consignou-se a ausência dos requisitos referentes à continuidade delitiva. A
partir da mesma óptica, indeferiu-se a ordem em habeas corpus impetrado perante o
Superior Tribunal de Justiça. Proclamou-se não ser a via estreita da ação constitucional
o meio idôneo ao reconhecimento da continuidade. No habeas ora em exame sustenta-se
que o Juízo, o Tribunal de Justiça e o Superior Tribunal de Justiça não perceberam o
alcance do pedido. Este estaria ligado a cada conjunto de delitos por processo, jamais se
tendo cogitado da mesclagem dos crimes praticados, mesmo porque ter-se-ia o óbice
temporal, ou seja, a passagem de quase três anos entre a prática dos dois primeiros delitos
e o envolvimento nos que desaguaram na existência do Processo n. 2000/03970-1.
Então, passa-se a analisar a espécie, dizendo-se que no Processo n. 1995/05957-2 —
originariamente n. 3378/94, da 3ª Vara Criminal da Comarca da Capital do Estado do
Rio de Janeiro (Tribunal do Júri) —, houve o julgamento por dois crimes de homicídio
duplamente qualificados ocorridos em 19 de janeiro de 1991. Os fatos teriam acontecido
no interior do Melo Tênis Clube, por volta das duas horas e quinze minutos, ocasião em
que foram atingidas por disparos de arma de fogo duas pessoas, vindo uma delas a
falecer. Segundo a própria denúncia, mostraram-se presentes os requisitos próprios ao
instituto da continuidade delitiva, consignando o Ministério Público:
O crime foi cometido por motivo fútil simples — tumulto no interior do Melo
Tênis Clube. O crime foi cometido com emprego que dificultou a defesa da vítima —
tiros pelas costas. Nas mesmas circunstâncias de tempo e local, o denunciado (...)
efetuou disparos de arma de fogo.
Quanto aos fatos constantes no Processo n. 2000/03970-1, teriam ocorrido no dia
16 de março de 1988, ou seja, cerca de três anos antes, por volta das vinte e uma horas e
quarenta minutos, no mesmo local, “com identidade temporal e espacial das condutas
delitivas” (folha 8). As vítimas, indistintamente, foram alvo de disparos de arma de fogo,
havendo apenas divergência no que toca às qualificadoras. Assevera-se que as condi-
ções necessárias ao reconhecimento da continuidade — enumeradas no artigo 71 do
Código Penal — foram atendidas. Segundo o sustentado, as qualificadoras mostram-se
neutras relativamente à matéria. Ressalta-se, ainda, na inicial, que a espécie não exige
revolvimento de dados probatórios, sendo suficiente apenas que sejam consideradas as
denúncias e as sentenças condenatórias proferidas. Pleiteia-se a concessão da ordem
para implementar-se a continuidade, observada a pena maior fixada no Processo VEP n.
1995/05957-2 — quinze anos —, e aquela, também de reclusão, imposta mediante o
R.T.J. — 196 211
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Em primeiro lugar, observe-se a sucessivi-
dade de equívocos. Realmente, não se pleiteou a continuidade delitiva considerados os
crimes de ambos os processos. É certo que no requerimento formalizado, e que se encon-
tra a folhas 19 a 21, lançou-se:
O apenado foi condenado pelo 3º e 1º Tribunal de Júri da Comarca da Capital
por crimes dolosos contra a vida, com as seguintes capitulações respectivamente:
Art. 121, § 2º, II e IV e 121, § 2º, incisos II e IV, c/c o art. 14, II; art. 121, § 2º, incisos
I e V, duas vezes e art. 121, § 2º, inciso V c/c 14, II, na forma do 69, todos do Código
Penal.
Como já era de se esperar, não houve a observância da continuidade delitiva
do agente em ambos os processos, por mais que ficasse claro, apenas ad argumen-
tandum, nos autos que o acusado praticou mais de uma ação, in casu, mais de dois
crimes da mesma espécie e, pela condição de tempo, lugar e maneira de execução,
os crimes subseqüentes foram havidos como continuação do primeiro. Vale lem-
brar que a referida controvérsia sobre a espécie dos crimes não deve ser levada em
consideração, pois todos os crimes são de homicídio ou de tentativa, isto é, da
mesma espécie.
O trecho poderia — não fosse a totalidade do requerimento e, mais especificamente,
o fecho da peça — conduzir à óptica até aqui prevalecente, tomando-se o pedido como
a envolver continuidade delitiva única, ou seja, a englobar os crimes dos dois processos.
E o pedido mostrou-se claro e preciso (folha 21):
Desta forma, requer a defesa que, considerando todos os argumentos supra
citados, se reconheça a continuidade delitiva em cada um dos crimes que foram
expressamente enumerados.
212 R.T.J. — 196
pessoas ainda não identificadas, com dolo de matar, fez disparos de arma de fogo
contra Mario Antonio Freitas Guimarães, Ézio da Cruz Bonfim e Osvaldo da
Costa Ferreira, atingindo-os e produzindo nos dois primeiros as lesões descritas
nos autos de exame cadavérico de fls. 24/26 e 29/30, ferimentos que por sua natu-
reza e sede deram causa a morte das vítimas, enquanto que a terceira vítima sofreu
as lesões descritas no boletim de atendimento médico de fls. 43, do IPM em apenso
e socorrida resistiu aos ferimentos, não logrando, desta forma, o denunciado atin-
gir sua intenção homicida por circunstâncias alheias à sua vontade.
Torpe, isto é vingança abjeta, foi o motivo para a execução da vítima Ezio da
Cruz Bonfim que se recusou a informar ao denunciado e a seus comparsas onde se
encontrava o seu irmão, de vulgo Limão, apontado na localidade como sendo
“traficante”.
As outras vítimas, Mário e Osvaldo porque acompanhavam Ézio representa-
vam perigo para a impunidade do grupo homicida e por isso foram alvejadas na
tradicional “queima de arquivo”, objetivando assegurar a impunidade do outro
crime.
Está assim o denunciado incurso nas sanções do artigo 121, § 2º inciso I e V,
duas vezes e 121, § 2º inciso V c/c 14, II, na forma do 69, todos do Código Penal.
Seguiu-se a sentença de pronúncia, a partir desses dados (folhas 66 a 70) e aí, ante
o veredicto dos jurados, impôs-se ao denunciado as seguintes penas: pelo homicídio de
Ézio Bonfim, quatorze anos de reclusão; pelo homicídio de Mário Guimarães, 14 anos
de reclusão e quanto ao homicídio tentado de Osvaldo Ferreira, seis anos e seis meses de
reclusão. As penas, em face do concurso material, totalizaram trinta e quatro anos e seis
meses de reclusão. Também aqui se deixou de observar o atendimento dos requisitos
enumerados no artigo 71 do Código Penal, não se verificando, nos pronunciamentos
seguintes, a correção de rumo, levando-se em conta a premissa improcedente segundo a
qual se estaria a pretender não o reconhecimento da continuidade em relação a cada
processo mencionado, mas a mesclagem dos crimes neles retratados, em que pese ao
interregno ocorrido entre o primeiro e o segundo grupos de delitos, ou seja, os quase três
anos. Quanto ao Processo n. 1995/05957-2, verifica-se, tendo em vista os crimes envol-
vidos, peculiaridade que não afasta a incidência do artigo 71 do Código Penal. O enqua-
dramento fez-se, nos dois crimes — o tentado e o consumado —, no artigo 121, conside-
radas idênticas qualificadoras — § 2º, incisos II e IV. O fato de o segundo crime, pratica-
do nas mesmas circunstâncias, não haver se consumado por motivo alheio à vontade do
paciente não afasta a conclusão de tratar-se de crime da mesma espécie, entendimento
este que decorre da ordem natural das coisas, não se deixando de falar em homicídio
quando ausente vítima fatal. Ganha o crime a adjetivação de tentado. Tanto se verifica o
crime de homicídio que o parágrafo único do artigo 14, ao versar sobre a pena ante a
tentativa, preceitua:
Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente
ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
Descabe interpretar preceitos de lei de modo a chegar-se ao prejuízo daquele a
quem objetiva a norma beneficiar — no caso, o acusado —, quer presente o instituto da
214 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Sr. Presidente, em princípio, imaginei tratar-se de
exame da continuidade delitiva em habeas corpus; mas vejo que, em realidade, o habeas
corpus trata-se de má aplicação da legislação penal.
Nesse sentido, acompanho o Sr. Ministro Relator.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Senhor Presidente, faço minhas as palavras do
eminente Ministro Joaquim Barbosa, para acompanhar o voto do eminente Ministro
Relator.
EXTRATO DA ATA
HC 83.575/RJ — Relator: Ministro Marco Aurélio. Paciente: Ivan da Silva Aguiar.
Impetrante: DPE/RJ – Leonardo Rosa Melo da Cunha. Coator: Superior Tribunal de
Justiça.
Decisão: A Turma deferiu, em parte, o pedido de habeas corpus, nos termos do
voto do Relator. Unânime.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Joaquim Barbosa. Subprocurador-Geral da Repú-
blica, Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas.
Brasília, 18 de novembro de 2003 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos,
negar provimento ao recurso ordinário em habeas corpus.
Brasília, 16 de dezembro de 2003 — Sepúlveda Pertence, Presidente — Marco
Aurélio, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: O Superior Tribunal de Justiça denegou a ordem
impetrada em favor de Manoel José da Silva, ante fundamentos assim sintetizados
(folha 111):
Habeas corpus. Falta de intimação pessoal. Defensor público. Validade do
julgamento. Hipótese.
1. A falta de intimação pessoal do Defensor Público da inclusão do feito em
pauta e da data da sessão de julgamento do recurso induz a nulidade absoluta da
decisão, que, no entanto, é afastada quando, como na espécie, o mesmo Defensor
Público, subscritor das razões de apelação e da petição de habeas corpus onde é
pedida a declaração de nulidade, antes do trânsito em julgado do acórdão, foi dele
intimado, pessoalmente, somente impetrando a ordem após 3 (três) anos.
2. Ordem denegada.
Os embargos de declaração que se seguiram foram desprovidos pelo Colegiado
(folhas 132 a 138).
Daí o recurso ordinário de folhas 142 a 152, no qual se articula com ofensa aos
princípios do contraditório, da ampla defesa e da legalidade, porquanto, na oportunidade
do julgamento da apelação criminal, a Quarta Câmara do Tribunal de Alçada Criminal
do Estado de São Paulo deixou de intimar pessoalmente o defensor público quanto
à inclusão do processo em pauta e à data designada para o julgamento. Afirma-se que a
falta de intimação do defensor implica a nulidade absoluta do julgado, não havendo
falar-se em preclusão. Nesse passo, assevera-se que “a demora na impetração decorreu
das falhas do próprio Estado, pois o quadro de procuradores do Estado em atuação na
comarca de Ribeirão Preto não era suficiente para atender a demanda dos acusados que
necessitavam dos serviços da Assistência Judiciária” (folha 145). Evocam-se precedentes
jurisprudenciais desta Corte e do Superior Tribunal de Justiça.
O recurso foi admitido mediante a decisão de folha 155.
A Procuradoria-Geral da República, no parecer de folhas 165 a 168, preconiza o
desprovimento do recurso.
É o relatório.
R.T.J. — 196 217
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Na interposição deste recurso foram obser-
vados os pressupostos de recorribilidade que lhe são inerentes. A peça, subscrita por
defensor público, restou protocolada no prazo assinado em lei. A publicação do acórdão
impugnado deu-se no Diário de 16 de junho de 2003, segunda-feira (folha 139), ocorrendo
a manifestação do inconformismo em 26 imediato, quinta-feira (folha 142).
Observem-se as peculiaridades da espécie, segundo o voto condutor do julgamento
no Superior Tribunal de Justiça (folha 108):
Antes do trânsito em julgado do acórdão, em 7 de abril de 1998 (fl. 77), o
Defensor Público Valdir Francisco Honorato Júnior, subscritor das razões de apela-
ção (fls. 58/63) e, também, da petição inicial deste habeas corpus, foi dele
(acórdão) pessoalmente intimado (fls. 73), na data de 6 de março de 1998, somente
impetrando a presente ordem em 17 de agosto de 2001 (fls. 2), permanecendo
silente por tempo superior a 3 (três) anos, importando, nesta altura dos aconteci-
mentos, eventual declaração de nulidade em extinção da punibilidade pela ocor-
rência da prescrição.
Então, fez-se referência ao disposto no artigo 565 do Código de Processo Penal —
“nenhuma das partes poderá argüir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha
concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse”. O
inciso IV do artigo 564 do referido código contém a cominação de nulidade do processo
quando omitida formalidade que constitua elemento essencial do ato — característica
da intimação pessoal do defensor público, que consubstancia procedimento sem o qual
se mostra insubsistente o ato praticado. Ocorre que, a teor do disposto no artigo 572 do
mesmo código, “considerar-se-ão sanadas as nulidades se não forem argüidas em tempo
oportuno, de acordo com o disposto no artigo imediatamente anterior”. Neste, verifica-se
que, em se tratando de julgamento, deve o defeito ser veiculado tão logo ocorrido —
inciso VIII do artigo 571 do Código de Processo Penal. Pois bem, o defensor público que
vinha atuando no processo, por sinal o mesmo que impetrou o habeas, foi intimado
pessoalmente para ciência do acórdão proferido, em 6 de março de 1998 (folha 73).
Quedou silente e, passados três anos, procedeu a esta impetração. A preclusão salta aos
olhos. Desprovejo o recurso.
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Fico fiel à jurisprudência do
Tribunal, que considera absoluta a nulidade do julgamento, se não intimado da pauta
o defensor público.
Por isso, dou provimento ao recurso.
EXTRATO DA ATA
RHC 83.770/SP — Relator: Ministro Marco Aurélio. Recorrente: Manoel José da
Silva (Advogados: PGE/SP – Waldir Francisco Honorato Junior (Assistente Judiciário).
Recorrido: Superior Tribunal de Justiça.
218 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade de votos, deferir o pedido de habeas corpus, nos
termos e para os efeitos indicados no voto do Relator. Ausente, justificadamente, o
Ministro Gilmar Mendes.
Brasília, 22 de junho de 2004 — Celso de Mello, Presidente e Relator.
R.T.J. — 196 219
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Celso de Mello: Trata-se de habeas corpus impetrado contra
decisão emanada do E. Superior Tribunal de Justiça, que, em sede de idêntico processo,
denegou o writ constitucional à ora paciente, em acórdão assim ementado (fl. 162):
“Processo penal. Sonegação fiscal. Ação penal. Processo administrativo
fiscal. Exaurimento. Condição de procedibilidade. Inexistência. Denúncia. Rece-
bimento. Fundamentação.
O procedimento administrativo de apuração de débitos fiscais não constitui
condição de procedibilidade para a instauração da ação penal, à vista da inde-
pendência entre as instâncias civil, administrativa e criminal. (Precedentes).
‘O ato judicial que formaliza o recebimento da denúncia oferecida pelo Mi-
nistério Público não se qualifica e nem se equipara, para os fins a que se refere o art.
93, IX, da Constituição de 1988, a ato de caráter decisório. O juízo positivo de
admissibilidade da acusação penal não reclama, em conseqüência, qualquer fun-
damentação. Precedentes’ (STF — HC 70.763/DF, 1ª Turma, Rel. Min. Celso de
Mello, DJ de 23-9-94).
Ordem denegada.” (Grifei)
Postula-se, na presente sede processual, “o trancamento da Ação Penal n.
2002.81.00.016615-0” movida pelo Ministério Público Federal, na Seção Judiciária do
Estado do Ceará, contra a paciente Terezinha de Jesus Bezerra, que tramita na 11ª
Vara Federal de Fortaleza/CE (fls. 41 e 114 — grifei).
Os ora impetrantes formularam pedido de medida cautelar, que foi por mim
deferido (fls. 171/174).
O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do ilustre Subprocurador-Geral
da República, Dr. Edson Oliveira de Almeida, assim se pronunciou na presente sede
processual (fl. 192):
“Tendo em vista o oferecimento da denúncia por crime contra a ordem tribu-
tária antes do encerramento do procedimento administrativo fiscal, em contrarie-
dade à orientação firmada pelo colendo Plenário no HC 81.611-DF, opino pelo
deferimento da ordem.” (Grifei)
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Celso de Mello (Relator): O Plenário do Supremo Tribunal Federal,
ao julgar o HC 81.611/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, apreciou controvérsia em
tudo idêntica à que se registra na presente impetração, assentando o entendimento
segundo o qual, “(...) nos crimes do art. 1º da Lei 8.137/90, que são materiais ou de
resultado, a decisão definitiva do processo administrativo consubstancia uma condi-
ção objetiva de punibilidade, configurando-se como elemento essencial à exigibilidade
da obrigação tributária, cuja existência ou montante não se pode afirmar até que haja
o efeito preclusivo da decisão final em sede administrativa” (Informativo/STF n. 333,
de 2003 — grifei).
220 R.T.J. — 196
Essa mesma orientação vem de ser reiterada em julgamento efetuado pela Colenda
Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, que, ao apreciar o HC 83.414/RS, Rel.
Min. Joaquim Barbosa, proferiu decisão consubstanciada em acórdão assim ementado:
“Habeas corpus. Penal. Tributário. Crime de supressão de tributo (art. 1º
da Lei 8.137/1990). Natureza jurídica. Esgotamento da via administrativa.
Prescrição. Ordem concedida.
1. Na linha do julgamento do HC 81.611 (Rel. Min. Sepúlveda Pertence,
Plenário), os crimes definidos no art. 1º da Lei 8.137/1990 são materiais, somente
se consumando com o lançamento definitivo.
2. Se está pendente recurso administrativo que discute o débito tributário
perante as autoridades fazendárias, ainda não há crime, porquanto ‘tributo’ é
elemento normativo do tipo.
3. Em conseqüência, não há falar-se em início do lapso prescricional, que
somente se iniciará com a consumação do delito, nos termos do art. 111, I, do
Código Penal.” (Grifei)
O entendimento consagrado na decisão ora referida já havia sido observado por
essa mesma Colenda Primeira Turma, quando, ao julgar o AI 419.578/SP, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence — e tendo presente situação idêntica à ora versada nesta sede
processual —, “(...) deferiu habeas corpus de ofício para anular, desde a denúncia,
inclusive, o processo instaurado contra condenado pela prática de crime contra a
ordem tributária, cuja denúncia fora recebida antes de emitida a decisão final quanto
ao crédito tributário em sede administrativa. Aplicou-se a orientação firmada pelo
Plenário no julgamento do HC 81.611/DF (...) no sentido de que, nos crimes do art. 1º
da Lei 8.137/90, a decisão definitiva do processo administrativo consubstancia uma
condição objetiva de punibilidade, não se podendo afirmar o montante da obrigação
tributária até que haja o efeito preclusivo da decisão final em sede administrativa”
(Informativo/STF 336, de 2004 — grifei).
Cabe registrar, finalmente, que essa diretriz jurisprudencial também encontra
suporte em decisão plenária, que, ao declarar improcedente ação direta de inconstitu-
cionalidade, ajuizada em face do art. 83 da Lei n. 9.430/96, restou consubstanciada em
acórdão assim ementado:
“Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Art. 83 da Lei n. 9.430, de 27-12-
1996. 3. Argüição de violação ao art. 129, I, da Constituição. Notitia criminis
condicionada ‘à decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do
crédito tributário’. 4. A norma impugnada tem como destinatários os agentes
fiscais, em nada afetando a atuação do Ministério Público. É obrigatória, para a
autoridade fiscal, a remessa da notitia criminis ao Ministério Público. 5. Decisão
que não afeta orientação fixada no HC 81.611. Crime de resultado. Antes de
constituído definitivamente o crédito tributário, não há justa causa para a ação
penal. O Ministério Público pode, entretanto, oferecer denúncia independente-
mente da comunicação, dita ‘representação tributária’, se, por outros meios, tem
conhecimento do lançamento definitivo. 6. Não configurada qualquer limitação
à atuação do Ministério Público para propositura da ação penal pública pela
prática de crimes contra a ordem tributária. 7. Improcedência da ação.”
R.T.J. — 196 221
VOTO (Apartes)
A Sra. Ministra Ellen Gracie: Senhor Presidente, embora não convencida, curvo-me
à decisão plenária e acompanho Vossa Excelência.
Acredito que, nessas hipóteses, a persecução criminal desses delitos fica pratica-
mente inviabilizada neste País. O Ministério Público chegar ao conhecimento de que
houve um lançamento definitivo é algo totalmente etéreo, a não ser que tenha espiões
dentro da Receita Federal, visto ser a única hipótese que restou para o Ministério Público
atuar independentemente da conclusão do procedimento administrativo. Sabemos que
esses grandes devedores — sonegadores, vamos dizer de modo explícito — do fisco vão
utilizar todos os recursos administrativos disponíveis e mais alguns; os processos admi-
nistrativos já não são céleres — sabemos disso —, e vejo distanciarmos cada vez mais
uma possibilidade de efetiva persecução criminal. Digo isso porque acompanhei, no
Tribunal da 4ª Região — um dos primeiros tribunais a atuar de maneira muito incisiva
em relação a esse tipo de delito —, que o resultado de arrecadação de tributos federais em
toda a região do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul cresceu enormemente
a partir daí, pois a atuação da Justiça importou em efeito secundário. Além de coibir a
prática do delito, teve efeito persuasivo com relação a outros contribuintes que, talvez,
atuassem de maneira irregular, mas, vendo como a Justiça efetivamente funcionava e
dava uma resposta pronta a esse tipo de delito — colocando, muitas vezes, empresários
atrás das grades —, a própria arrecadação federal cresceu enormemente.
Inclino-me, naturalmente, à decisão do Plenário, mas espero que algum dia ainda
possamos revisar esse posicionamento.
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Fica suspensa a prescrição.
EXTRATO DA ATA
HC 84.092/CE — Relator: Ministro Celso de Mello. Paciente: Terezinha de Jesus
Bezerra. Impetrantes: Francisco Marcello Martins Desidério e outro. Coator: Superior
Tribunal de Justiça.
Decisão: A Turma, por votação unânime, deferiu o pedido de habeas corpus, nos
termos e para os efeitos indicados no voto do Relator. Ausente, justificadamente, o
Ministro Gilmar Mendes.
R.T.J. — 196 223
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade de votos, deferir o pedido de habeas corpus, nos
termos do voto do Relator.
Brasília, 26 de outubro de 2004 — Celso de Mello, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Celso de Mello: Trata-se de habeas corpus, que, impetrado em
favor de Rosa Maria Nascimento Silva, insurge-se contra despacho emanado do emi-
nente Ministro Humberto Gomes de Barros, do E. Superior Tribunal de Justiça, que,
nos autos da Notícia Crime n. 168/RO, determinou a notificação da ora paciente, para
que esta apresentasse resposta a aditamento de denúncia oferecido pelo Ministério
Público Federal, nos autos daquele procedimento investigatório.
O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do eminente Subprocurador-
Geral da República, Dr. Haroldo Ferraz da Nóbrega, assim sumariou e apreciou a
presente impetração (fls. 173/183):
“O impetrante apresenta habeas corpus, em favor de Rosa Maria Nascimento
Silva, Magistrada, apontando como autoridade coatora o Ministro Humberto Gomes
de Barros, por haver determinado a notificação da paciente para responder a adita-
mento à denúncia do Ministério Público Federal, em feito que já fora arquivado
pelo STJ, a pedido do próprio Ministério Público Federal.
Vê-se dos autos que, ao analisar a Notícia de Crime n. 168-STJ, a Represen-
tante do Ministério Público Federal, Dra. Delza Curvello Rocha, pediu o arquiva-
mento do feito com relação a Rosa Maria Nascimento Silva, por entender que a sua
conduta se subsumia no delito de prevaricação, à época já alcançado pela prescri-
ção, pelo decurso de prazo prescricional.
Tal pronunciamento foi acolhido pelo Relator do feito (NC 168-RO (2000/
0043398-5), Ministro Humberto de Barros.
Transcrevo a sua decisão:
‘Notícia Crime n. 168 - RO (2000/0043398-5)
Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros
Noticiante: Ministério Público Federal
Noticiado: Bianca Cristina Nascimento Corcino Pinto
Advogado:Pedro Wanderley dos Santos e outros
Noticiado: Verônica Nascimento Silva
Advogado: Arlete Torres e outros
R.T.J. — 196 225
VOTO
O Sr. Ministro Celso de Mello (Relator): Como se sabe, o arquivamento do
inquérito ou das peças que consubstanciam a notitia criminis, quando requerido pelo
Ministério Público, por ausência ou insuficiência de elementos informativos, não
afasta a possibilidade de aplicação do que dispõe o art. 18 do CPP, hipótese em que,
havendo notícia de provas substancialmente novas (Súmula 524/STF — RTJ 91/831),
legitimar-se-á a reabertura das investigações penais (RTJ 106/1108 — RTJ 134/720 —
RT 570/429 — Inq 1.947/SP, Rel. Min. Celso de Mello, v.g.).
O ato judicial que ordena o arquivamento do inquérito ou de peças de informação,
a pedido do Ministério Público, motivado pela ausência de opinio delicti derivada da
impossibilidade de o representante do Parquet identificar a existência de elementos
que lhe permitam reconhecer a ocorrência de prática delituosa, é insuscetível de recurso
230 R.T.J. — 196
(RT 422/316), embora essa decisão — por não se revestir da autoridade da coisa
julgada (RT 559/299-300 — RT 621/357 — RT 733/676) — não impeça a reabertura
das investigações penais, desde que (a) haja provas substancialmente novas (RTJ
91/831 — RT 540/393 — RT 674/356 — RT 710/353 — RT 760/654) e (b) não se
tenha consumado, ainda, a prescrição penal.
Se é certo, de um lado, que, nas circunstâncias previstas no art. 18 do CPP, a
decisão não faz coisa julgada material, não é menos exato, de outro, que tal ato decisó-
rio obstará novas investigações penais, se e quando o arquivamento houver sido deter-
minado com apoio na ausência de tipicidade penal da conduta atribuída ao agente ou,
como sucede no caso ora em exame, no reconhecimento da extinção da punibilidade do
suposto autor da infração delituosa.
Com efeito, o Supremo Tribunal Federal, enfatizando o aspecto ora realçado, já
decidiu que, em ocorrendo tal hipótese, torna-se inviável a reabertura de procedi-
mento investigatório já arquivado (RTJ 127/193, Rel. Min. Octavio Gallotti — RTJ
179/755, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, v.g.).
Nem se diga, para justificar-se o ajuizamento de ulterior ação penal (ou, como no
caso, a formalização de aditamento à denúncia), quando já declarada, judicialmente, a
pedido do Ministério Público, a extinção da punibilidade, que o órgão da acusação
penal, agindo por intermédio de novo representante e mediante reinterpretação e nova
qualificação dos fatos, tenha chegado a conclusão diversa daquela que motivou o seu
anterior pleito de reconhecimento da ocorrência de causa extintiva do jus puniendi do
Estado.
O comportamento do segundo representante do Ministério Público, tal como
registrado nestes autos, não tem, nem poderia ter, o condão de autorizar a instauração da
persecução penal em juízo, pois — consoante já decidiu o Supremo Tribunal Federal —
“A simples alteração da classificação legal dos fatos não legitima a instauração da
ação penal, depois de arquivado o inquérito por despacho do juiz, a requerimento do
Ministério Público” (RTJ 103/590, Rel. Min. Soares Muñoz — grifei).
Cumpre acentuar, ainda, por necessário, que essa mesma orientação reflete-se
no magistério da doutrina (Julio Fabbrini Mirabete, “Código de Processo Penal Inter-
pretado”, p. 124, item n. 18.1, 11ª ed., 2003, Atlas), valendo mencionar, a tal propósito,
a lição de Carlos Frederico Coelho Nogueira (“Comentários ao Código de Processo
Penal”, vol. I, p. 408, item n. 126, 2002, Edipro):
“Nas hipóteses em que o motivo do arquivamento foi a extinção da
punibilidade, não é aplicável o art. 18, dado que esse fenômeno é irreversível:
extinta a punibilidade, o Estado não recupera mais o jus puniendi. Além disso, a
decisão que declara extinta a punibilidade faz coisa julgada formal e material,
impedindo a reabertura do caso.” (Grifei)
Foi por essa razão que o Ministério Público Federal, em manifestação da lavra
do ilustre Subprocurador-Geral da República, Dr. Francisco Xavier Pinheiro Filho,
oferecida nos próprios autos da Ação Penal n. 311/RO, em trâmite perante o E. Superior
Tribunal de Justiça, em que a ora paciente figura como denunciada, assim se pronun-
ciou (fls. 167/169):
R.T.J. — 196 231
EXTRATO DA ATA
HC 84.253/RO — Relator: Ministro Celso de Mello. Paciente: Rosa Maria Nasci-
mento Silva. Impetrante: Fábio Jorge Ângelo Silva. Coator: Relator da Ação Penal n.
200000433985 do Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: A Turma, por votação unânime, deferiu o pedido de habeas corpus, nos
termos do voto do Relator.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Ellen Gracie, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Subprocurador-Geral da Re-
pública, Dr. Paulo da Rocha Campos.
Brasília, 26 de outubro de 2004 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
R.T.J. — 196 235
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
indeferir o pedido de habeas corpus.
Brasília, 7 de dezembro de 2004 — Sepúlveda Pertence, Presidente — Carlos Ayres
Britto, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Cuida-se de habeas corpus, substitutivo de
recurso ordinário, com pedido de liminar, impetrado contra decisão do Superior
Tribunal de Justiça, que, por meio de sua Quinta Turma, ao julgar o Habeas Corpus n.
30.358, por unanimidade, negou a ordem requerida, nos termos da ementa abaixo
transcrita:
236 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Quando do exame da medida liminar
requerida, analisei os fundamentos da impetração e decidi nos termos seguintes:
“Em que pesem os bem lançados argumentos do combativo impetrante, o
aresto impugnado traz fundamentos que, à primeira vista, seriam aptos a demons-
trar que, no caso em exame, não seria aplicável a invocada causa de exclusão da
tipicidade. Por outro lado, também não deve ser desconsiderada a referência da
sentença à reincidência e aos antecedentes do acusado, que, inclusive, “está sendo
processado pela prática de outro crime de furto” (fl. 26). Seja como for, veri-
fica-se do decreto condenatório que a pena aplicada de privação de liberdade
foi substituída por duas restritivas de direitos, consistentes no pagamento de
prestação pecuniária e na prestação de serviços à comunidade. Inexiste, portanto,
ameaça iminente de segregação do paciente, não sendo recomendável que nesse
juízo cautelar se antecipe a análise do mérito da impetração.
Nesse contexto, tenho por ausentes os pressupostos autorizadores da conces-
são da liminar pleiteada, razão pela qual a indefiro.”
R.T.J. — 196 237
CP), o princípio da insignificância, sob ótica elitista, levaria uma grande parte
da população a ficar sem proteção penal no que se refere aos furtos (decerto,
deveriam, então, reclamar nos juizados cíveis (...).
(...).” (Sublinhamos).
16. Nesse diapasão, para a utilização criteriosa do princípio da insignificância, há
que se ter em conta a realidade socioeconômica do País, devendo-se, portanto, fazer a
tropicalização das doutrinas e teorias estrangeiras de acordo com o perfil da sociedade
brasileira. Dessa forma, ainda que a quantia de R$ 60,00 (sessenta reais) seja um valor
relativamente baixo, considerando-se os padrões socioeconômicos do Brasil, não é de
ser tido como desprezível. Ademais, no emprego da insignificância, há que se distinguir
entre infração de ínfimo e de pequeno valor. No que se refere à primeira espécie,
indiscutível a possibilidade de sua aplicação, uma vez que não há como negar, em face
do princípio da fragmentariedade, a desnecessidade de se chamar o Direito Penal a
regular o fato ultima ratio. Já com respeito à infração de pequeno valor, aplica-se,
eventualmente, a figura do furto privilegiado (art. 155, § 2º, do Código Penal). Daí a
importância da diferenciação, pena de julgamento contra legem.
17. Considerando-se também a distinção acima, é de se concluir que a coisa
subtraída seria de pequeno valor, porém jamais de valor ínfimo ou desprezível, não
sendo possível que se aplique, in casu, o princípio da insignificância.
18. Não fosse o bastante, como ressaltei por ocasião do indeferimento da liminar, o
acusado é reincidente específico, em furto ao qual se aplicou pena privativa de liberdade
de 1 (um) ano e 2 (dois) meses de reclusão, substituída por duas penas restritivas de
direitos. Consistentes estas no pagamento de prestação pecuniária de valor equivalente
a um salário mínimo, em benefício de entidade assistencial, e prestação de serviços à
comunidade.
19. Por fim, ocorre que o paciente, enquanto cumpria a pena acima referida, foi
novamente condenado pela prática de outro crime de furto (processo já noticiado na
sentença — fl. 26), ensejando, nos termos das informações de fl. 83, a revogação do
benefício da substituição da pena privativa de liberdade. O que impede seja reconhecida
como procedente a alegada desproporcionalidade da pena originalmente aplicada e
posteriormente confirmada pelo Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo.
20. Com todas essas considerações, denego a ordem de habeas corpus.
EXTRATO DA ATA
HC 84.424/SP — Relator: Ministro Carlos Britto. Paciente: Flávio Rodrigues
Mendes ou Flavio Rodrigues Mendes. Impetrante: Luiz Manoel Gomes Junior. Coator:
Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: A Turma indeferiu o pedido de habeas corpus. Unânime.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr.
Edson Oliveira de Almeida.
Brasília, 7 de dezembro de 2004 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
240 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Marco Aurélio, na confor-
midade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
indeferir o pedido de habeas corpus.
Brasília, 30 de novembro de 2004 — Marco Aurélio, Presidente — Carlos Ayres
Britto, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Cuida-se de habeas corpus contra a decretação
da prisão civil do paciente que, na qualidade de depositário judicial, teria agido com
infidelidade.
R.T.J. — 196 241
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Feito o relatório, passo ao voto.
7. Consoante relatado, o impetrante invoca múltiplos fundamentos que impediriam
a prisão do paciente. Ao meu sentir, no entanto, todos eles devem ser rejeitados.
8. De se ver que o primeiro fundamento da impetração é o de que a responsabilidade
do paciente estaria limitada a 20 betoneiras (e não a 60, tal como consta do auto de
penhora). Tal circunstância já teria sido reconhecida pelo próprio Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo e autorizaria fosse efetivado um depósito em dinheiro equivalente a
20 máquinas. Tal alegação, entretanto, não encontra respaldo nos elementos constantes
dos autos.
9. De fato, o Desembargador Relator do agravo de instrumento interposto pelo
paciente chegou a anotar, quando da análise do pedido de medida liminar, que a respon-
sabilidade do depositário judicial parecia se limitar, no caso, a apenas 20 betoneiras (fl.
66). Essa afirmação, no entanto, foi por ele totalmente revista no julgamento de mérito
242 R.T.J. — 196
23. Pelo exposto, não procede a alegação de que a prisão do paciente seria incons-
titucional, por se tratar, no caso, de prisão por dívida. Ao revés, manifesto que ela se
traduz unicamente em instrumento de coerção para o adimplemento da obrigação civil
por parte do depositário, o qual, é de se dizer, agiu com infidelidade em sua função de
auxiliar da Justiça.
24. Nesse panorama, não há que se falar em qualquer inconstitucionalidade da
prisão do paciente.
25. Refutadas que foram todas as alegações suscitadas pelo impetrante, resta-me
falar sobre a proposta da douta Procuradoria-Geral da República, no sentido da conces-
são parcial de ofício da ordem de habeas corpus para que figure, do decreto de prisão, o
valor do equivalente em dinheiro dos bens penhorados. Entendo, contudo, que tal pro-
posta não deve sequer ser apreciada por esta Casa Maior de Justiça, sob pena de se causar
prejuízo maior ao próprio paciente. É que eventual rejeição dessa medida (fundada,
aliás, na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que entende serem infungíveis os
bens submetidos à penhora — cf. HC 81.813), traria sérios prejuízos ao réu, uma vez que
o Juízo da Execução apenas não admitiu o depósito em dinheiro pelo paciente porque o
valor por ele oferecido equivalia somente a parte, e não à totalidade, das betoneiras
penhoradas.
26. Ante esse largo panorama, meu voto é pelo indeferimento da ordem.
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau: Senhor Presidente, vou acompanhar, em princípio, mas a
minha preocupação está em que essa construção, originária de um voto proferido pelo
Ministro Moreira Alves, dá-se dentro da execução fiscal, o que inúmeras vezes afronta a
capacidade de pleno exercício do direito de defesa pelo depositário.
No caso, não houve isso. Não quero examinar a matéria de fato, mas indagaria ao
Ministro Carlos Britto se o depositário pôde defender-se plenamente.
O Sr. Ministro Carlos Britto (Relator): Sim.
O Sr. Ministro Eros Grau: O grande problema é esse, sobretudo nas hipóteses em
que o depositário era empregado de uma determinada empresa, ou podia ser eventual-
mente até sócio minoritário e depois vai embora, ficando inteiramente desprotegido,
porque nem ao menos pode se defender dentro do processo.
O Sr. Ministro Carlos Britto (Relator): Mas, seguramente, não foi esse o caso.
O Sr. Ministro Eros Grau: A garantia do devido processo legal é inteiramente
adversa a essa construção.
O Sr. Ministro Carlos Britto (Relator): Ele teve oportunidade de se defender em
primeira instância e ainda manejou dois agravos de instrumento na Corte local.
O Sr. Ministro Eros Grau: Muito bem. A outra questão não entendi bem: a proposta
do Subprocurador-Geral da República é que ele possa substituir, já que os bens lhe
escaparam ou ele foi desatento, que ele possa pagar, é isso?
246 R.T.J. — 196
O Sr. Ministro Eros Grau: Parece que agora estamos com o problema da infungibi-
lidade. Qual é a conseqüência de se negar a concessão de ofício? Ele vai poder pagar lá
embaixo e sair da prisão?
O Sr. Ministro Carlos Britto (Relator): A qualquer momento ele pode se livrar da
prisão fazendo o depósito da quantia total.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Uma decisão anterior do próprio Juízo.
Só refutou e manteve a prisão porque a proposta de depósito foi insuficiente.
O Sr. Ministro Carlos Britto (Relator): A proposta da Procuradoria já estava assegu-
rada pelo juízo da execução.
O Sr. Ministro Eros Grau: Acompanho V. Exa., mas deixo declarado que esse é um
expediente torpe de obrigar alguém a pagar sob pena de prisão.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Também acompanho o voto do Relator,
tendo em conta o verbete da Súmula.
EXTRATO DA ATA
HC 84.484/SP — Relator: Ministro Carlos Britto. Paciente: Eduardo Baptista
Macedo. Impetrante: Osvaldo J. Pacheco. Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: A Turma indeferiu o pedido de habeas corpus. Unânime. Presidiu o jul-
gamento o Ministro Marco Aurélio. Ausente, justificadamente, o Ministro Sepúlveda
Pertence.
Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros Cezar
Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner de
Castro Mathias Netto.
Brasília, 30 de novembro de 2004 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Carlos Velloso
(RISTF, art. 37, II), na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por
unanimidade de votos, indeferir a ordem.
Brasília, 23 de agosto de 2005 — Carlos Velloso, Presidente — Gilmar Mendes,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: O parecer da lavra da Subprocuradora-Geral da
República, Dra. Delza Curvello Rocha (fls. 119-123), assim resume a controvérsia:
“1. Versam os presentes autos sobre habeas corpus substitutivo, com pedido
liminar, impetrado em favor de Isaac Araújo Guimarães contra decisão prolatada
pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que denegou ordem anterior-
mente impetrada, restando o acórdão assim ementado:
‘Processual Penal. Habeas corpus. Apelação criminal. Razões fora do
prazo.
A apresentação fora do prazo, pelo Ministério Público, das razões de
apelação, não tornam esta intempestiva. Trata-se de irregularidade que não
afeta a admissibilidade do recurso. (Precedentes do STJ e STF). Habeas
corpus denegado.’
2. Expressa a inicial, historiando os fatos que:
- o paciente foi denunciado como incurso no artigo 12 da Lei n. 6368/
76, sendo, a final, condenado pelo Juízo da 26ª Vara Criminal de São Paulo, à
seis meses de detenção e 20 dias-multa, por infração ao artigo 16 da referida lei;
- da decisão apelou o Ministério Público, sendo o recurso provido pelo
Tribunal de Justiça estadual, que condenou o paciente a três anos e cinqüenta
dias de reclusão, em regime fechado, determinado-se a expedição de mandado
de prisão;
- o paciente, então, interpôs recursos especial e extraordinário, inclusive
argüindo, no apelo especial, a intempestividade das razões do recurso de
apelação interposto pelo Ministério Público.
R.T.J. — 196 249
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): O parecer da Procuradoria-Geral da
República (fls. 119-123) analisa a alegação de intempestividade das razões recursais da
acusação nos seguintes termos:
250 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
HC 84.500/SP — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Paciente e Impetrante: Isaac
Araújo Guimarães (Advogados: Luiz Carlos da Silva ou Antonio Carlos Alves da Silva ou
Luis Carlos da Silva e outro). Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: Indeferiu-se a ordem, decisão unânime. Ausente, justificadamente, neste
julgamento, o Ministro Celso de Mello. Presidiu este julgamento o Ministro Carlos
Velloso.
Presidência do Ministro Carlos Velloso. Presentes à sessão os Ministros Ellen
Gracie, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso
de Mello. Subprocurador-Geral da República, Dr. Geraldo Brindeiro.
Brasília, 23 de agosto de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
R.T.J. — 196 251
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
indeferir o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 31 de maio de 2005 — Celso de Mello, Presidente — Carlos Velloso,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Trata-se de habeas corpus impetrado por Abdinaldo
Gonçalves Medeiros, em seu favor, da decisão da 5ª Turma do Egrégio Superior Tribunal
de Justiça que deferiu, em parte, pedido de habeas corpus, para anular a ação penal
contra ele instaurada, sem, contudo, reconhecer a superveniência da prescrição da pre-
tensão punitiva (HC 34.853/SP). O acórdão está assim ementado:
“Ementa: Criminal. HC. Roubo qualificado. Delito praticado em detrimento
da Caixa Econômica Federal. Incompetência absoluta. Competência da Justiça
Federal. Sentença transitada em julgado. Nulidade absoluta. Habeas corpus.
Revisão criminal. Fungibilidade. Cabimento. Matéria de ordem pública. Alega-
ção de prescrição da pretensão punitiva. Inocorrência. Ordem parcialmente con-
cedida.
I - Restando configurada a ofensa a bens e interesses da União, pois o crime
de roubo qualificado foi praticado em detrimento da Caixa Econômica Federal,
deve ser aplicada a regra do art. 109, inciso I, da Constituição Federal, da qual
sobressai a competência da Justiça Federal para o processo e julgamento do feito.
Precedentes.
II - Cabe habeas corpus contra sentença transitada em julgado, que se encon-
tra eivada de nulidade absoluta, por incompetência de juízo, tendo em vista tratar-se
de matéria de ordem pública. Precedentes.
252 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Inviável a pretensão do paciente de declara-
ção da prescrição, tendo em vista a pena imposta no acórdão do Tribunal de Alçada de São
Paulo. É que, anulada a ação penal, a prescrição regula-se pela pena in abstrato e não pela
pena concretizada na sentença anulada. Assim decidiu esta Turma no julgamento do RHC
61.272/SP, Rel. Min. Néri da Silveira, cujo acórdão porta a seguinte ementa:
“Ementa: Habeas corpus. Extinção da punibilidade pela prescrição da ação
penal. Sentença anulada. Não é possível, antes de proferida nova decisão, decretar
a extinção da punibilidade pretendida, em face da pena que se concretizou na
decisão anulada, tendo em conta que, em novo julgamento, a pena não poderá
exceder à anterior. Antes de proferida a sentença, no caso, a prescrição há de con-
siderar a pena em abstrato. Inexistência de sentença condenatória. Na aplicação do
R.T.J. — 196 253
art. 110, e parágrafos, do Código Penal, a prescrição importa, tão só, na renúncia do
Estado à pretensão executória da pena. Habeas Corpus indeferido.” (DJ de 1º-6-84)
Destaco do voto do eminente Ministro:
“(...)
Não subsistindo, dessa sorte, condenação, não há falar em extinção da
punibilidade pela prescrição, em face da pena concretizada na sentença, o que
pressupõe apoio no art. 110, § 1º, do Código Penal, e na Súmula n. 146. A extinção
da punibilidade pela prescrição, in casu, a esta altura, somente se pode regular, nos
termos do art. 109 do mesmo diploma criminal, ou seja, pelo máximo da pena
privativa de liberdade cominada ao crime, o que, na espécie, seria de oito anos, a
teor do inciso IV do art. 109 em referência, pois, ao homicídio culposo (CP, art.
121, § 3º), comina-se pena de detenção de um a três anos. Ora, no caso, o fato, tido
como delito culposo, ocorreu a 29-11-1977 (fls. 16/17).
É certo, dessa maneira, que, se o paciente for condenado em novo julgamento,
a pena a impor-se não poderá exceder de um ano de detenção, como estava na
sentença, depois anulada. Bem anotou, no particular, a douta Procuradoria-Geral
da República à fl. 55:
‘3. Não há dúvida, segundo jurisprudência da Suprema Corte, que anu-
lada, em recurso do réu, sentença condenatória, não é possível em novo
julgamento, agravar a pena (v. HC 59.634/GO, Rel. Ministro Alfredo Buzaid,
RTJ 101/1.010; RHC 53.441/RJ, Relator Ministro Bilac Pinto, RTJ 74/654)’.
Não será, todavia, possível, a partir daí, concluir, como pretende o impetrante,
no sentido da imediata decretação da extinção da punibilidade pela prescrição da
ação penal, em face da pena imposta no julgamento anulado. Não há, a esta altura,
sentença condenatória. Se a nova sentença for condenatória — eis que poderá o
magistrado, após as provas produzidas pelo paciente, vir, até, a absolvê-lo, ad
exemplum, por insuficiência de provas —, a pena não há de exceder a um ano de
detenção, mas tal fato não autoriza, sem sentença, declarar a extinção da punibili-
dade, pela prescrição da ação penal, com base na pena concretizada na sentença
anulada. Releva sinalar que, na hipótese do art. 110, e seu parágrafo 1º, do Código
Penal, a prescrição importaria, tão somente, na renúncia do Estado à pretensão
executória e não à prescrição da ação penal (Código Penal, art. 110, § 2º), como
pleiteado.
Do exposto, indefiro o habeas corpus. (DJ de 1º-6-84)
Do exposto, indefiro o writ.
VOTO
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Ministro Carlos Velloso, pelo que me lembro, ele
foi condenado à pena de sete anos de reclusão, não é isso?
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Ele foi condenado à pena de 6 anos mais
multa na primeira instância, depois ela foi agravada para 7 anos. O Tribunal anulou a
decisão porque foi proferida pela Justiça comum estadual quando a vítima era a Caixa
Econômica Federal. Ele deseja que, então, lhe seja reconhecida a prescrição pela pena
em concreto que foi anulada.
254 R.T.J. — 196
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: A minha pergunta é a seguinte: à luz dessa pena
que foi aplicada e cujo processo foi anulado, o crime estaria realmente prescrito?
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Isso não interessa, porque sustento a tese
de que essa pena está anulada.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Creio que é relevante isso, porque, se examinar-
mos a questão à luz dessa pena, se efetivamente o crime estiver prescrito, há a proibição
da reformatio in pejus!
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Exatamente.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Daí que não poderá sobrevir uma pena superior a
sete anos.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Penso que, neste caso, a pena a ser consi-
derada é a pena in abstracto. Por isso, indefiro o writ.
O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Vou acompanhar, embora fazendo esta ressalva,
à luz da jurisprudência da Casa, de que — daí a pergunta que fiz — Vossa Excelência, na
verdade, não procedeu a esse exame da prescrição e indeferiu sob outro fundamento.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Aliás, estou também mencionando acór-
dão no sentido do meu voto, desta Turma, no HC n. 61.272, Relator Ministro Néri da
Silveira.
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Eu conheço. Não me convenci, entretanto.
EXTRATO DA ATA
HC 84.950/SP — Relator: Ministro Carlos Velloso. Paciente e Impetrante: Abdi-
naldo Gonçalves Medeiros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: A Turma, por votação unânime, indeferiu o pedido de habeas corpus, nos
termos do voto do Relator.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Ellen Gracie, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Compareceu à Turma o Mi-
nistro Nelson Jobim, Presidente do Tribunal, a fim de julgar processo a ele vinculado,
assumindo, nesta ocasião, a Presidência da Turma, de acordo com o art. 148, parágrafo
único, RISTF. Subprocurador-Geral da República, Dr. Francisco Adalberto da Nóbrega.
Brasília, 31 de maio de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
negar provimento ao recurso ordinário em habeas corpus.
Brasília, 12 de abril de 2005 — Sepúlveda Pertence, Presidente — Carlos Ayres
Britto, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Trata-se de recurso ordinário, com pedido
liminar, substitutivo de habeas corpus originário, impetrado contra decisão denegatória
do mesmo writ no Superior Tribunal Militar.
2. Colhe-se dos autos que o recorrente foi preso no dia 12 de agosto de 2004, ao se
reapresentar voluntariamente à Organização Militar onde servia — a Bateria de Comando
19º Grupo de Artilharia de Campanha (Bia Cmdo/19º GAC) —, após ausência injustifi-
cada por mais de oito dias corridos.
3. Um dia após sua prisão (13-8-2004), o paciente aviou habeas corpus perante a
Corte castrense. Não obtendo êxito, contudo. O pedido liminar foi indeferido, e a ordem
denegada por decisão unânime, nos termos da seguinte ementa:
“Deserção
I – Na hipótese dos autos, o dia considerado, para a consumação do crime de
deserção, encontra respaldo nos arts. 451, § 1º e 452, do CPPM, estando a prisão do
Paciente em conformidade com o art. 5º, LXI, da Constituição Federal.
II – Habeas Corpus conhecido e denegado à míngua de amparo legal.
III – Decisão uniforme”.
4. É dessa decisão que está a recorrer o impetrante para o Supremo Tribunal Federal,
ao argumento de que não haveria justa causa para a ação penal, porquanto o paciente se
apresentou “antes do prazo fatal para que fosse caracterizada a deserção, visto que
este somente ocorreria a zero hora do dia 13 de agosto de 2004”. Logo, ao ver da
impetração, o crime não chegou a se consumar. E, para servir de base à sua alegação,
refere-se a acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça, da lavra do Ministro
256 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Feito o relatório, passo ao voto.
11. Observo, Sr. Presidente, que a questão reside no saber se o acusado, Sargento do
Exército, efetivamente incorreu no crime de deserção. Isso em face do art. 187 do Código
Penal Militar, que assim dispõe: “ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que
serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias: Pena — detenção de
seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada”.
12. Vê-se, por conseguinte, que a solução do caso passa pela correta contagem do
prazo de injustificada ausência do militar. E quanto a esse tema de contagem de prazo,
R.T.J. — 196 257
que diz o Código Penal Militar? Diz que: “a contagem dos dias de ausência, para efeito
de lavratura do termo de deserção, iniciar-se-á à zero hora do dia seguinte àquele em
que for verificada a falta injustificada do militar” (§ 1º do art. 451).
13. In casu, o recorrente se ausentou sem licença de sua Unidade desde o dia 3-8-
2004, reapresentando-se, voluntariamente, às 23h55 do dia 12-8-2004, quando foi preso
em flagrante, fato sobre o qual não há controvérsia.
14. O próprio paciente relata que faltou ao expediente no dia 3 de agosto de 2004,
pelo que passou à situação de ausente à zero hora do dia 4 de agosto desse ano, retornando,
todavia, à Unidade Militar respectiva no dia 12 de agosto de 2004, às 23h55 (fls. 163-
164). Donde sustentar a impetração que o delito só estaria consumado no dia 13-8-2004,
quando do perfazimento de mais de oito dias de ausência.
15. De se ver que esse entendimento se lastreia em decisão do STJ, na qual se lê que
a expressão “por mais”, contida na lei, designa superioridade e pode ser substituída pela
expressão “além disso”. Portanto, segundo o acórdão referido, “quando a lei determina
que se deva considerar desertor o militar que se ausente por mais de oito dias da
corporação, sem justificativa, conclui-se que mais de oito dias são, inexoravelmente,
nove dias em diante, vale dizer, o militar que se apresenta no nono dia, na realidade só
permaneceu ausente durante oito dias, já que no nono se apresentou”.
16. Não é esse o meu pensar. Data venia do entendimento contrário, tenho que
assiste razão à douta Procuradoria-Geral da República ao defender a prevalência da
interpretação fixada pelas Instituições e Justiça castrenses. Senão, veja-se: o § 1º do
artigo 451 do Código de Processo Penal Militar determina que a contagem dos dias de
ausência seja efetuada a partir da zero hora do dia seguinte àquele em que for verificada
a falta injustificada do militar. Logo, de fácil percepção que esse diploma legal estabe-
leceu em horas a regra de contagem de prazo. Não em dias completos.
17. Outra não é a compreensão do Superior Tribunal Militar (Embfe
1990.01.045909-5, Rel. Min. Cherubim Rosa Filho, DJ de 16-11-1990) e deste Supremo
Tribunal Federal, nos termos da seguinte ementa:
“Conversão de recurso em habeas corpus originário. Crime de deserção.
Contagem de prazo de oito dias para consumação do delito feita escorreitamente.
HC conhecido e indeferido”. (Recurso Criminal n. 1.441/SP, Relator Min.
Cordeiro Guerra, DJ 15-10-1982).
18. No caso agora trazido à colação, ficou assentado:
“verificada a ausência na Revista de 17 de novembro, o prazo para a sua carac-
terização se perfez na Revista do dia 18 de novembro —, e, computado esse dia no
prazo, os outros dias necessários à caracterização da deserção se completaram a 25 de
novembro. Ora, se a prisão do recorrente só ocorreu a 26, quando foi lavrado o termo,
tenho, para mim, que se consumou a deserção.”
19. Na espécie, como o recorrente se ausentou do quartel desde o dia 3-8-2004, a
contagem dos dias de afastamento se iniciou à zero hora do dia 4. Tornando-se ele
ausente à zero hora do dia 5 e desertor à zero hora do dia doze do mesmo mês e ano.
Como o retorno somente se deu às 23h55 do dia 12-8-2004, tenho por consumado o
crime de deserção.
20. Por todo o exposto, nego provimento ao recurso.
258 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
RHC 84.986/RS — Relator: Ministro Carlos Britto. Recorrente: Eurico Gaspar do
Amaral Silveira (Advogado: Paulo Cesar Garcia Rosado). Recorrido: Ministério Público
Militar.
Decisão: A Turma negou provimento ao recurso ordinário em habeas corpus.
Unânime.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocuradora-Geral da República, Dra.
Delza Curvello Rocha.
Brasília, 12 de abril de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos,
indeferir a medida liminar. Vencido, o Ministro Marco Aurélio, Relator.
Brasília, 29 de março de 2005 — Sepúlveda Pertence, Presidente — Carlos Ayres
Britto, Relator p/ o acórdão.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: A prisão preventiva do paciente foi decretada, em 1º
de junho de 2004, pelo Juízo da 5ª Vara Criminal de São Paulo. Ter-se-ia, como pano de
fundo, tentativa de corromper o deputado federal Luiz Antonio de Medeiros, Presidente
de Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada para investigar fatos relacionados a
260 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Normalmente, quando me vem processo
distribuído com pronunciamento indeferitório de liminar da Presidência, submeto pedido
de evolução, para se deferir a medida acauteladora, ao Colegiado. Faço-o, reconheço,
dando ênfase maior à origem do ato a ser reexaminado. Assim procedo neste processo,
salientando a existência de determinação da remessa do processo, recebidas as peças, ao
Procurador-Geral da República.
Conforme consignado, em 17 de fevereiro de 2005, deu entrada petição reiterando
os impetrantes o pedido de concessão da ordem, no qual frisam encontrar-se o paciente
sob a custódia do Estado há 261 dias.
Hoje, o paciente, sem ter contra si culpa formada, tecnicamente primário, acha-se
preso, preventivamente, ante quadro dos mais nebulosos, há oito meses e vinte e cinco
dias. A par desse dado temporal relevante, ao primeiro exame e considerados precedentes
da Corte mencionados na inicial — Habeas Corpus n. 80.719/SP, Relator Ministro
Celso de Mello, e Habeas Corpus n. 72.368/DF, Relator Ministro Sepúlveda Pertence,
surge descompasso dos fundamentos da preventiva com a ordem jurídica em vigor. Não
servem a lastreá-la suposições, ilações que correm ao sabor da capacidade intuitiva de
cada qual; não servem a lastreá-la aspectos ligados à própria prática do crime que se
imputa, como se fosse o meio a ter-se apenação antecipada, sem se contar, no processo,
com elementos probatórios a serem coligidos por provocação do Ministério Público.
Como salientado na inicial, foram olvidadas essas premissas, com distanciamento da
jurisprudência da Corte. Observem-se os parâmetros do ato extremo de constrição (folha
147 do apenso I):
Estão presentes os pressupostos autorizadores da prisão preventiva, uma vez
que existe prova da materialidade de delito de corrupção ativa (art 333 do CP) e de
quadrilha ou bando (art 288 do CP), e do crime previsto no art 4º, inc. I da Lei n.
1.579/52, além de indícios suficientes de autoria destes delitos (fls. 05/54 e fls. 16/
62 e 166 dos autos n. 2004.61.81.3735-5 em apenso).
Além disso, constato presentes in casu os requisitos ensejadores da prisão
cautelar. Vejamos.
De início, impende ressaltar que a conduta criminosa irrogada é aterradora e
extremamente grave. Os requeridos, persistindo no intento de manterem sua ativi-
dade criminosa, animaram-se a tentar corromper servidor público federal, para que
permanecessem imunes à repressão estatal: revelam, assim, possuírem personalida-
des temerárias e audaciosas, incompatíveis com a vida comunitária, recomendando
sejam segregados cautelarmente para garantir a ordem pública.
Ademais, a conduta por eles desenvolvida abala a credibilidade de um dos
Poderes da República, já que os requeridos, pela prova produzida, ofereceram
vantagem patrimonial a Deputado Federal, presidente de Comissão Parlamentar de
Inquérito — uma das mais relevantes instâncias de investigação do Estado Brasi-
leiro —, objetivando que Law King Chong e seus familiares fossem beneficiados
no relatório final da aludida Comissão, o que sem dúvida põe em risco a ordem
pública.
262 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
HC 85.298-QO/SP — Relator: Ministro Marco Aurélio. Paciente: Law Kin Chong.
Impetrantes: Luiz Fernando Sá e Souza Pacheco e outro (Advogados: Maria Adelaide
Penafort Pinto Queirós e outro). Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: Após os votos dos Ministros Marco Aurélio, Relator, e Eros Grau, deferindo
a medida liminar, pediu vista dos autos o Ministro Carlos Britto.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr.
Paulo de Tarso Braz Lucas.
Brasília, 1º de março de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
PROPOSTA
O Sr. Ministro Carlos Britto: Sr. Presidente, estou com o voto pronto para ser lido,
porém, tendo em vista o súbito afastamento do Ministro Sepúlveda Pertence, consulto
aos demais pares e a Vossa Excelência se não seria interessante afetar o julgamento para o
Pleno na sessão de amanhã, uma vez que a nossa composição numérica está prejudicada.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente e Relator): Temos, na Turma, dois votos
proferidos pela concessão da ordem. A Turma, no momento do pregão, está composta
por quatro integrantes. Não sei como repercutirá esse deslocamento para o Pleno.
Por isso, peço vênia para me opor à proposta.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Sr. Presidente, gostaria de ouvir os demais membros
quanto à proposta de deslocamento para o Pleno.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Eminente Ministro, qual é o motivo?
O Sr. Ministro Carlos Britto: Primeiro, o caso em si é bastante significativo, alcan-
çando junto a toda imprensa, opinião pública, uma repercussão fora do comum; segundo,
nossa composição numérica não está plena, íntegra. Mas, se Vossas Excelências entende-
rem, faço a leitura, sem nenhum constrangimento.
O Sr. Ministro Eros Grau: Eu diria a Vossa Excelência que, embora seja novo no
Tribunal, para mim todos os casos têm repercussão idêntica, porque o meu compromisso
é aplicar o direito. O fato de a imprensa tocar ou não no assunto, a mim não incomoda. Já
estou imune ao clamor público. Para mim, o que importa é o clamor da Constituição. Isso
em primeiro lugar.
Em segundo lugar, estou esperando muito o seu voto e as suas luzes, até para ver se
confirmo ou não o meu voto.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Muito bem. Farei a leitura, mas não sem antes dizer a
Vossa Excelência que é preciso fugir dos extremos. Se a submissão ao clamor público é
de ser evitada, também ignorar completamente a opinião pública é algo a ser evitado.
Devemos procurar a virtude média de que falavam os romanos: in medius virtus, nem
tanto ao mar nem tanto à terra.
264 R.T.J. — 196
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente e Relator): Vossa Excelência tem a pala-
vra dada pela Presidência. Vossa Excelência insiste na questão de ordem, quer que
consigne na ata dos trabalhos?
O Sr. Ministro Carlos Britto: Sim, quero que consigne.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Sr. Presidente, quero deixar declarada a razão por que
me oponho à transferência para o Plenário: não há nenhuma razão legal nem regimental
para isso. Todos os casos criminais são teoricamente suscetíveis de ocasionar repercus-
são pública, e, se tal critério, à falta de norma legal e regimental, fosse decisivo, todos os
casos, sobretudo os mencionados na mídia, deveriam ser transportados para o Plenário,
o que inviabilizaria seu funcionamento.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Mas há, também, uma segunda razão: a composição
numérica da Turma não está íntegra.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente e Relator): Ou bem temos quorum para
funcionar, ou não, e com a particularidade já referida.
Quando trouxe a questão de ordem, não houve proposta para o deslocamento,
tendo em conta a repercussão na mídia. Li o meu voto; o Ministro Eros Grau me acompa-
nhou; o Ministro Cezar Peluso aparteou; Vossa Excelência pediu vista. E, agora, com o
quorum regimental de funcionamento, vamos deslocar a conclusão do julgamento para
o Plenário e reiniciá-lo lá?
O Sr. Ministro Carlos Britto: Há certas matérias que exigem uma maior ponderação,
um critério de prudência ou conveniência maior.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente e Relator): Não sei quais são as circuns-
tâncias, os critérios.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Mas me rendo à decisão de Vossas Excelências, sem
nenhuma dúvida. Não faço cavalo de batalha, não é sangria desatada. Vamos prosseguir.
Apenas quero consignar que fiz a proposta, simplesmente para documentar a minha
postura.
VOTO (Vista)
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Cuida-se de habeas corpus impetrado contra
decisão denegatória, também em habeas corpus, do egrégio Superior Tribunal de Justiça;
cujo respectivo acórdão ainda não foi publicado.
2. Postula-se neste writ seja expedido salvo-conduto em favor de Law Kin Chong,
preso desde 1º-6-2004, e que está sendo processado pelos crimes de corrupção ativa (CP,
art. 333) e de obstrução ao regular funcionamento de comissão parlamentar de inquérito
(Lei n. 1.579/52, art. 4º, inciso I).
3. Para tanto, veicula-se alegação de “falta de fundamentação válida do decreto
de prisão preventiva”. É que, segundo a impetração, o decreto prisional careceria de
base empírica idônea, não estaria apoiado em fatos concretos e teria apenas considerado,
ilegitimamente, a comoção popular relativa aos fatos delituosos, bem assim o “poder
econômico” do paciente.
R.T.J. — 196 265
1 CPP. Art. 312, caput: A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública,
da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei
penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria”.
268 R.T.J. — 196
15. Muito embora ainda não tenha formado um juízo definitivo a respeito do
vínculo funcional entre “preservação da credibilidade dos poderes públicos” e a ordem
pública, em si, o que se me afigura evidente é que a jurisprudência desta Casa ainda não
se cristalizou sobre o assunto, estando a patentear esta indefinição o fato de o mencio-
nado precedente plenário (HC 80.717) ainda carecer de incorporação aos decisórios das
Turmas deste Supremo Tribunal.
16. Esta anotação parece-me relevante, pois entendo não ser o caso de se afastar,
em sede de mera medida liminar (porque ainda não estamos a apreciar o mérito desta
impetração), um entendimento que foi fixado pelo Plenário desta colenda Corte. Demais
disso, a só existência do já referido acórdão plenário (HC 80.717) serve, nesta fase, para
esmaecer o requisito do fumus boni juris, indispensável ao acolhimento da pretensão
cautelar dos impetrantes. Entretanto, mesmo que se afaste, neste juízo liminar, o enten-
dimento do Plenário que se mostra desfavorável ao paciente, ou seja, ainda que se
entenda pela impossibilidade de segregação cautelar com apoio na credibilidade das
instituições públicas, mesmo assim restam no decreto fustigado outros fundamentos a
ser analisados.
17. Começo pela referência ao clamor popular. Este fundamento — agora sim livre
de dissenso — não tem sido aceito por esta Casa Maior da Justiça brasileira como
justificador da prisão cautelar. Devido a que, admitir esta medida com apoio exclusivo
em tal clamor, transformaria o Poder Judiciário em órgão de execução de vinganças
privadas, abrindo perigosos flancos para a excessiva influência da mídia (HCs 80.719,
81.613, 82.909 e 83.782).
18. Há, ainda, um outro alicerce jurídico no decreto de prisão impugnado, qual
seja, a referência ao indiscutível poder econômico do acusado, preso em flagrante com
dezenas de milhares de dólares, que correspondiam apenas à primeira parcela do valor
global da propina supostamente ajustada.
19. Cumpre salientar, neste lanço, que o poder econômico do réu, por si só, não
serve para justificar a segregação cautelar. Se tal ocorresse, ter-se-ia que conferir trata-
mento penal diferenciado às pessoas humildes em relação às mais abastadas, o que feriria
de morte o princípio da igualdade.
20. Seria diverso, contudo, se se comprovasse que o acusado tem intenção de fazer
uso de suas posses para quebrantar a ordem pública, comprometer a eficácia do processo,
dificultar a instrução criminal ou voltar a delinqüir. Meras conjecturas nesse sentido não
são aptas a legitimar a prisão cautelar do acusado, não sendo outro o entendimento do
Supremo Tribunal Federal no tema (HCs 80.719, 81.613, 82.909, 83.782).
21. Nesse largo panorama, tenho que os presentes autos estampam as razões pelas
quais se entendeu que o paciente, em liberdade, faria uso de suas riquezas para dar
continuidade a atividades delitivas. Não se trata, pois, de determinar a prisão de um
acusado pelo exclusivo fato de sua privilegiada situação econômica. Trata-se, isto sim,
de impor a segregação ante o fundado receio de que o referido poder econômico se
transforme em um poderoso meio de prossecução de práticas ilícitas.
R.T.J. — 196 269
22. Ora bem, não se pode obscurecer a realidade que salta dos próprios autos! E os
documentos que os instruem demonstram que o paciente parece mesmo haver optado
pelo tortuoso caminho das ilicitudes como estilo de vida e fonte habitual de recursos. E
foi exatamente na tentativa de preservar a continuidade de suas operações que ele,
paciente, foi flagrado no insólito papel de pessoalmente entregar elevado montante de
propina a deputado federal.
23. E não é só. A leitura das peças que instruem este processo sinaliza que o
pagamento de “valores” a servidores públicos não era uma prática novidadeira ao paci-
ente. Cito, a propósito, algumas passagens das fitas degravadas, que sugerem como o
pagamento de propinas se transformou numa rotina, destinada esta a assegurar o pros-
seguimento das atividades do acusado (transcrição de trechos da conversa estabelecida
entre o co-réu, Pedro Lindolfo, representante de Law, e Fernando, representante do depu-
tado Medeiros — fls. 61/62, apenso n. 1):
“F: Não. É que é negócio e que ele não tem noção da dimensão do cara do
outro lado, você está entendendo?
P: Do cara da primeira?
F: Não, que ele não tem noção da dimensão do outro lado.
P: Quem não tem noção, o deputado?
F: É, dessa dimensão (...). Sabe por quê?
P: Ele sabe que esse delegado tira uma estimativa de quinhentos mil por mês
a um milhão?
F: Não, não sabe.
P: E nem avisa, deixa aí.
F: Um milhão doutor? Mas escuta eu falar para o senhor. Eu falei, Deputado
(...)
P: Ele pensa pequeno (...)”
24. Em novo trecho, tem-se a seguinte passagem (fl. 63 — apenso n. 1):
“P: O deputado tá contando com esqueminha de quinhentos mil, seiscentos
mil, um milhão, não é por aí, não é por aí, cara.”
25. Mais adiante, outra passagem (fl. 67 — apenso n. 1):
“P: Fernando, nós vamos pôr no bolso 100, 200 mil (...) por mês, Fernando.
Eu tô jogando aberto. Não tô brincando, Fernando, Vocês estão pensando que nem
o Pingüim (...) Três mil, quatro mil.”
26. Mais um trecho que sugere altas propinas a agentes de polícia (fl. 68 —
apenso n. 1):
“P: É light o Ditura tem tudo (...) duro, ninguém toma em nome dele. Não é
aquele bobo do Artur que tava lá. O Artur ganha trinta (...) do chinês, quinhentos
reais do chinês, ô louco.”
27. Por fim, uma outra passagem (fl. 78 — apenso n. 1):
270 R.T.J. — 196
“P: Será que a CPI tem o poder pra tirar, pôr ele na rua? Tô te perguntando.
Não adianta vender fumaça para amanhecer com a boca cheia de formiga. O Silvio
pode soltar ele. Quem é o Silvio? É o cara que trabalha com você.
F: Procurador da República.
P: Procurador. O Silvio pode soltar se você pedir pra dizer que vai investigar
mais coisa dele”.
28. Em poucas palavras, estão presentes nos autos indícios suficientes de que, para
o paciente, o crime gera dinheiro e o dinheiro mantém o crime. É o poder econômico a
serviço da criminalidade, num lamentável círculo vicioso que se fecha com o pagamento
de propinas a agentes públicos. Demonstrado está, portanto, a meu juízo, que o poder
econômico do paciente tem sido usado por este como instrumento de continuidade de
suas atividades espúrias. Agiu bem o douto magistrado, atento aos elementos que
demonstravam como o dinheiro do réu fazia parte do modus operandi de suas atividades
suspeitas.
29. As coisas não estancam por aqui. Há um derradeiro fundamento no decreto
impugnado. Por sua relevância, permito-me reproduzir, uma vez mais, a seguinte passa-
gem da mencionada decisão:
“Especificamente quando ao requerido Law, além de capitanear rede crimi-
nosa em franca atividade, observo que ele figura como indiciado em inquéritos
policiais (autos n. 2002.61.81.4250-0 e n. 97.0106034-2 – fls. 26/27 e 38/40),
perante esta Justiça Federal, denotando pendor para a prática de ilícitos, o que,
somado a seu estrito relacionamento com policiais estaduais e federais, além de
outras autoridades, como se dessume do conteúdo das gravações e documentos
constantes destes autos e dos autos em apenso, potencializa o risco à ordem
pública e reforça a necessidade da prisão ante tempus”
30. Entendo que esses fundamentos também são suficientes para manter a prisão
do paciente, mormente se combinados aos elevados valores de que o réu parece dispor
para financiar suas atividades. Senão veja-se.
31. De saída, consigno que, muito embora a denúncia já oferecida contra o paciente
increpe, a este, a prática de apenas dois crimes (corrupção ativa e obstrução aos trabalhos
de comissão parlamentar de inquérito), isso não quer dizer que houve arquivamento em
relação aos demais fatos investigados. Ao contrário disso, o Juízo federal penal, quando
do recebimento da denúncia, expressamente determinou o desmembramento dos autos,
para que continuassem as apurações de outros eventuais delitos praticados por organiza-
ção criminosa supostamente liderada pelo paciente.
32. A complexidade do evento e o grande número de nomes e fatos mencionados
nas gravações apresentadas à Polícia Federal justificavam a adoção de tal medida. De
modo que se me afigura improcedente a alegação feita pela defesa de que o oferecimento
da denúncia tão-só pelos crimes do CP, art. 333, e da Lei n. 1.579/52, art. 4º, inciso I, teria
descartado a aludida existência de organização criminosa.
R.T.J. — 196 271
33. Acresce que uma leitura integral dos autos abona a assertiva do decreto, no
sentido de ser imperiosa a manutenção da prisão do acusado, tendo em vista a existên-
cia de numerosos indícios da configuração de uma temível organização criminosa, com
diversas ramificações e com possível ingerência em órgãos públicos.
34. Remarque-se, então, que isso não é mera conjectura. O decreto de prisão caute-
lar faz menção a um “estreito relacionamento com policiais estaduais e federais, além
de outras autoridades, como se dessume do conteúdo das gravações e documentos
constantes destes autos e dos autos em apenso”. E, de fato, o conteúdo dessas fitas está,
sim, a respaldar a alegação feita pelo magistrado. Basta uma análise das degravações
constantes das fls. 36 a 142 (apenso 1) para que se note as sucessivas referências a
membros ligados à Receita Federal, ao Exército, à Polícia Federal, à fiscalização fazen-
dária do Estado de São Paulo, a agentes da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e
a membros do Ministério Público, do Legislativo e do Judiciário. São discutidos nomes
que devem ser indicados a assumir cargos públicos e esquemas sofisticados de propina.
Mais do que isso, vários trechos das degravações atestam que a vida dos envolvidos está
sempre a depender do sucesso das empreitadas. Veja-se, por exemplo, o seguinte trecho,
relativo ao valor que seria repassado ao Presidente da CPI da Pirataria (fl. 63 — apenso n. 1):
“P (representante de Law): Agora essa grana (...), depois eu morro, heim?”
35. E, ainda, outra passagem (fl. 78 — apenso n. 1):
“P: Será que a CPI tem o poder pra tirar, pôr ele na rua? Tô te perguntando.
Não adianta vender fumaça para amanhecer com a boca cheia de formiga (...)”.
36. É claro que não se está a atribuir a nota de definitividade a fatos ainda não
completamente apurados. O que se está a fazer é reconhecer que o conteúdo dessas fitas
e a menção a policiais federais, membros da Agência Brasileira de Inteligência, fiscais
tributários, delegados de polícia e até mesmo a parlamentares e magistrados se qualifi-
cam como elementos aptos a exigir que o réu permaneça na prisão, ante a forte possibi-
lidade de que volte a delinqüir. Na verdade, não se pode acreditar que um esquema, ao
que tudo indica bastante organizado, seja desmantelado de uma hora para a outra. Ainda
mais quando a prática de atividades ilícitas se transformou em verdadeiro meio de vida
do acusado. A probabilidade de que este volte a delinqüir é elevada e ressai dos próprios
elementos que instruem os autos.
37. Cumpre registrar que a prisão preventiva, por ser medida acautelatória, apóia-se
numa situação de necessidade (que faz as vezes do periculum in mora) e no fumus boni
juris, que significa serem plausíveis os receios do magistrado, quando da aferição da
necessidade da medida. Portanto, não é preciso haver uma condenação formal do paci-
ente em outros crimes para que seja desde logo determinada sua prisão cautelar.
38. Os autos dão conta da muito provável existência de uma organização criminosa
complexa, sofisticada mesmo, que, para garantir a continuidade de suas operações,
parece ter-se infiltrado em órgãos públicos mediante elevado e contínuo suborno.
39. Também há nos autos informações prestadas pelo serviço de inteligência da
Polícia Federal (Superintendência no Estado de São Paulo — fls. 904/908 — apenso
n. 4) sobre a possibilidade de membros ligados à organização do paciente estarem
arquitetando o assassinato de familiares do Deputado Federal que presidiu a CPI da
Pirataria.
272 R.T.J. — 196
40. Nada foi provado ainda, nem para tal fim se presta o habeas corpus. Apenas o
que se verifica é a real necessidade da segregação cautelar do paciente. E esta necessidade
não decorre de meras especulações, insista-se, porém, de elementos dos próprios autos,
que, embora não terminantemente comprovados, constituem fundamentos o bastante
para legitimar a prisão do acusado.
41. É de se pontuar que este Supremo Tribunal Federal, em casos como o destes
autos, tem entendido ser válida a decretação da prisão cautelar do réu, com apoio na
preservação da ordem pública, quando houver elementos concretos (e, no caso, os há)
que indiquem a probabilidade de o réu, em liberdade, voltar a delinqüir (HC 84.663).
Cite-se, no ponto, o HC 81.613, Rel. Min. Ilmar Galvão:
“No tocante à ordem pública e à coação das testemunhas, a decretação da
prisão preventiva é possível quando se verifique, por meio de fatos concretos que
respaldem a conclusão do magistrado, que a liberdade do acusado implica a
fundada suspeita de que poderá tornar a delinqüir, comprometendo a ordem
social, bem como que as testemunhas teriam justo receio de depor contra o
acusado. No caso, o decreto impugnado não se afastou desses parâmetros, afir-
mando a necessidade da segregação pelo último fundamento, estando a assertiva
corroborada por elementos dos autos que informam o temor das testemunhas em
relação ao acusado, cuja liberdade repercutiu de forma concreta no cotidiano dos
moradores da localidade, que se viram obrigados a mudar de endereço com receio
do réu. Habeas corpus indeferido.”
42. De outro lado, entendo que não há como conceder a ordem de habeas corpus
de ofício (já que não requerida por este fundamento), com apoio em eventual excesso
de prazo. Isso porque, consoante reconhecem os próprios impetrantes, já está encerrada
a instrução criminal, e os autos se encontram na fase do 499 do CPP. Como se sabe, é de
se considerar sanado eventual excesso de prazo quando concluída a instrução criminal,
tal como adverte reiterada jurisprudência desta Casa (RHC 80.569, HCs 80.984, 81.011,
83.159, 83.190 e 80.380, este último assim ementado):
“Habeas Corpus (...)
Excesso de prazo que está superado por já se haver encerrado a instrução
criminal, por se encontrar o processo na fase do artigo 499 do CPP. Precedentes do
STF” (Rel. Min. Moreira Alves).
43. Mais do que isso, petição apresentada pelo Ministério Público Federal ao juízo
da ação penal em 1º-3-2005 atesta que o Parquet já “apresentou as suas alegações
finais, atentando para o fato de haver réus presos e por não vislumbrar prejuízo para a
defesa”. Consta, ainda, da referida manifestação, que, “tendo em vista que a nobre
defesa insiste nas diligências pendentes, que ela própria requereu, o Parquet não se
opõe ao aguardo da conclusão das diligências, protestando por nova vista dos autos
para manifestação tão logo sejam concluídas”. Ou seja, se ainda não foram colhidas as
razões finais de ambas as partes, é porque se está aguardando a conclusão de perícias
cuja realização foi insistentemente requerida pela própria defesa do réu. Não pode,
portanto, o paciente beneficiar-se de tal situação por ele próprio ensejada. Sobremais, tal
como assinalado, não há que se falar em excesso de prazo quando já concluída a fase da
instrução criminal.
R.T.J. — 196 273
VOTO (Retificação)
O Sr. Ministro Eros Grau: Sr. Presidente, o Ministro Carlos Britto trouxe elementos
bem precisos e de informação em relação ao fato de estar encerrada a instrução.
Eu, na sessão anterior, havia concedido a ordem, única e exclusivamente, em função
do excesso de prazo. Não havia acompanhado as razões centrais de Vossa Excelência, Sr.
Presidente. Mas, agora, diante dos esclarecimentos trazidos pelo Ministro Carlos Brito,
quero reajustar meu voto para, vencida a matéria de excesso de prazo, não conceder a
ordem.
EXTRATO DA ATA
HC 85.298-QO/SP — Relator: Ministro Marco Aurélio. Paciente: Law Kin Chong.
Impetrantes: Luiz Fernando Sá e Souza Pacheco e outro (Advogados: Maria Adelaide
Penafort Pinto Queirós e outro). Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: Preliminarmente, por maioria de votos, a Turma rejeitou proposta do
Ministro Carlos Britto no sentido de afetar o julgamento desta questão de ordem ao
Tribunal Pleno. Prosseguindo o julgamento, após o voto do Ministro Carlos Britto
274 R.T.J. — 196
VOTO (Vista)
O Sr. Ministro Cezar Peluso: 1. O impetrante encontra-se preso desde 1º de junho
de 2004, por força de decisão que lhe decretou a preventiva em autos nos quais se lhe
imputa a prática dos crimes de corrupção ativa (CP, art. 333) e obstrução ao regular
funcionamento de comissão parlamentar de inquérito (Lei n. 1.579/52, art. 4º, I).
2. O constrangimento ilegal adviria, na ótica dos impetrantes, da fundamentação
inválida da prisão preventiva.
3. A liminar foi indeferida pela Min. Ellen Gracie, no exercício da Presidência
desta Casa. Diante de novo pedido de concessão liminar, o Min. Marco Aurélio,
Relator, trouxe os autos à apreciação da Turma, votando no sentido da concessão da
cautelar, com expedição de alvará de soltura.
4. O Min. Carlos Britto votou pelo indeferimento da cautelar, no que foi seguido
pelo Min. Eros Grau.
5. Quanto à ausência de fundamentos para o decreto da prisão preventiva, vejo-me
forçado, tão-somente em sede do pedido de liminar, a acompanhar o voto do Min.
Carlos Britto. Entendo que a decisão encontra apoio em alguns elementos concretos.
Repelidos os fundamentos da gravidade do crime e do clamor público, como o fez Sua
Excelência, não vislumbro, porém, como a conduta do paciente possa ter “abalado a
credibilidade de um dos Poderes da República”, pela simples razão de que não era nem
é ele integrante de nenhum desses Poderes, bem diversamente do que se invocou no
precedente indicado e julgado pelo Plenário desta Corte — o caso “Nicolau dos Santos
Neto” (HC n. 80.717, Rel. Min. Ellen Gracie).
6. Não posso, todavia, deixar de aderir, pelo menos agora, em sede de juízo preliminar,
ao voto do Min. Carlos Britto, no que toca ao fundamento da necessidade da prisão
cautelar para a garantia da instrução criminal e para evitar a prática de novos crimes, já
que dos autos parecem constar elementos de certa consistência, capazes de sustentar tal
necessidade.
7. Finalmente, dúvida não há de que o excesso de prazo fulmina, assim a prisão
preventiva (HCs n. 83.534, 83.867, 84.181, Rel. Min. Marco Aurélio; HCs n. 84.662 e
85.400, Rel. Min. Eros Grau; HC n. 84.907, Rel. Min. Sepúlveda Pertence), como a
oriunda do flagrante (HC n. 83.579, Rel. Min. Marco Aurélio; HC n. 84.408, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence), ou da pronúncia (HC n. 83.977, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/
o acórdão Min. Sepúlveda Pertence).
R.T.J. — 196 275
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Está respondendo por crime de corrupção ativa e de
obstrução ao regular processamento da CPI (artigo 333 do Código Penal e artigo 4º, I, da
Lei n. 1.579/52).
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): A obstrução encerrada com a tentativa de
suborno.
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Peço vênia ao eminente Ministro
Marco Aurélio, para acompanhar o voto do Ministro Cezar Peluso, com todas as ressalvas
nele contidas, sobretudo, como Sua Excelência se referiu a voto meu, anterior, reser-
vando-me para o exame, em cada caso, do problema do excesso de prazo após a instru-
ção criminal.
Também jamais entendi que o encerramento da instrução possa deixar o acusado,
seja ele quem for, indeterminadamente sob prisão processual. Mas isso — demonstrou o
Ministro Cezar Peluso — dependeria do exame do estado do processo neste momento. E
o tempo, na complexidade de provas testemunhais requeridas na fase de diligências, não
soa, à primeira vista, como desarrazoado.
Por isso, neste juízo liminar, acompanho o Ministro Relator.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Sr. Presidente, em verdade, penso que todos nós
vamos ter que refletir um pouco mais sobre esse marco temporal do encerramento da
instrução criminal.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Este é um problema a decidir caso
a caso. Na lei não há o célebre dogma dos 81 dias, que é a soma dos prazos do prossegui-
mento ordinário até o fim da instrução. Logo, não pode compreender as fases seguintes.
Agora, o que cabe, a meu ver, em qualquer prisão processual, é um juízo de razoabilidade
acerca da demora.
O Sr. Ministro Carlos Britto: É de razoabilidade.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Não se podem importar exemplos
mais tolerantes, como o dos países de primeiro mundo, nossas fontes habituais, onde, por
exemplo, o italiano é o do dobro da pena mínima cominada.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Mas eu, assim, me pronuncio em consideração, sobre-
tudo, à positivação jurídica desse direito à razoável duração do processo na Constitui-
ção. Com a Emenda Constitucional n. 45 foi acrescentado o inciso LXXVIII ao artigo 5º,
que diz, exatamente, isto:
“LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação.”
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Veja a que ponto nós chegamos: precisar
inserir, na Constituição Federal, que a prestação jurisdicional deve ocorrer dentro de um
lapso razoável.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Estou citando o direito comparado
e recordando, até, os julgamentos da Corte Européia de Direitos Humanos.
278 R.T.J. — 196
O Sr. Ministro Carlos Britto: Sim, mas eu dizia, Sr. Presidente, que esse novo
dispositivo, evidente que sugere um repensar jurisprudencial, tem o efeito mais do que
pedagógico — creio —, mas acompanhei atentamente os fundamentos.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): O problema é que os anais juris-
prudenciais mais conspícuos, os da Corte Européia de Direitos Humanos, realmente, já
condenaram alguns países, mas, passados 6 anos, 8 anos de duração do processo, sem
decisão.
O Sr. Ministro Carlos Britto: É verdade. A “irrazoabilidade” termina se confundindo
com “abusividade” no aparelho judiciário, e é preciso coibir isso.
EXTRATO DA ATA
HC 85.298-QO/SP — Relator: Ministro Marco Aurélio. Relator para o acórdão:
Ministro Carlos Britto. Paciente: Law Kin Chong. Impetrantes: Luiz Fernando Sá e
Souza Pacheco e outro (Advogados: Maria Adelaide Penafort Pinto Queirós e outro).
Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: Prosseguindo o julgamento, a Turma, por maioria de votos, indeferiu a
medida liminar. Vencido o Ministro Marco Aurélio, Relator. Relator para o acórdão, o
Ministro Carlos Britto.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocuradora-Geral da República, Dra.
Maria Caetana Cintra Santos.
Brasília, 29 de março de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, indeferir a ordem. Ausente, justificadamente,
neste julgamento, o Ministro Celso de Mello, Presidente.
Brasília, 23 de agosto de 2005 — Carlos Velloso, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Trata-se de habeas corpus impetrado por Joaquim
Matias Barbosa Melo, em seu favor, contra decisão do Eg. Superior Tribunal de Jus-
tiça, que, por sua Corte Especial, recebeu denúncia oferecida pelo Ministério Público,
imputando-lhe o crime de corrupção ativa (AP 331/PI).
Sustenta a impetração, em síntese, o seguinte:
a) inépcia da inicial, por não constar da denúncia a descrição das circunstâncias
em que teria o paciente cometido o delito, inobservando-se, assim, o art. 41 do Código
de Processo Penal;
b) ausência de justa causa para o prosseguimento da ação penal, dado não haver a
denúncia demonstrado quaisquer indícios de autoria e de materialidade do crime de
corrupção ativa;
c) ilegitimidade do membro do Ministério Público do Estado que “ofertou as
notas de singularidade que dão suporte à denúncia (...), em razão do impedimento
declarado” (fl. 25);
d) ofensa ao princípio do promotor natural.
Pede, ao final, a concessão do writ, para que se determine a exclusão do paciente de
quaisquer investigações e processos que envolvam os fatos citados na denúncia.
Indeferido o pedido de liminar e requisitadas informações, foram elas prestadas
pelo eminente Min. Edson Vidigal, que encaminhou os documentos de fls. 432-495.
280 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Os fatos delituosos estão assim descritos
na denúncia:
“(...)
1. Crimes praticados para garantir a impunidade do acusado Joaquim
Matias Barbosa Melo:
1.1. O Promotor João Mendes Benigno Filho e o servidor do Tribunal de
Justiça do Piauí Tiago de Melo Falcão, cumprindo determinação do Desembargador
Augusto Falcão Lopes, fizeram de tudo para obstar as investigações desencadeadas
para apurar crimes imputados ao empresário Joaquim Matias Barbosa Melo.
1.2. Benigno e Tiago, a mandado de Augusto Falcão, prometeram aos Pro-
motores José Eliardo de Sousa Cabral e Aristides Silva Pinheiro vantagens
indevidas (dinheiro), para que praticassem atos de ofício com infringência de seus
deveres funcionais, favorecendo o criminoso Joaquim Matias.
1.3. Possivelmente subornados por Joaquim Matias, Benigno, Tiago e
Augusto Falcão tentaram, mas não conseguiram aliciar Aristides e Eliardo.
1.4. Para atender a requerimento formulado pelo Promotor Eliardo, o Delega-
do Evaldo Dias de Farias, Titular do 1º Distrito Policial de Teresina, instaurou, em
17 de fevereiro de 1999, inquérito com o propósito de investigar a ocorrência de
crime previsto no artigo 10, da Lei n. 9.437/97, imputado a Joaquim Matias.
1.5. A Polícia já forcejava para elucidar, noutro procedimento, a subtração,
das dependências da Secretaria da Fazenda do Piauí, e o posterior sumiço dado a
treze procedimentos fiscais, instaurados contra a firma J. Matias Melo (Cagep
19.400.818–5).
1.6. No dia 8 de fevereiro de 1999, a Polícia prendeu em flagrante Paulo
Roberto de Oliveira. Na mesma data, realizando diligências, deteve Joaquim
Matias, que concorrera para as infrações praticadas por Paulo.
1.7. Por ocasião da detenção de Joaquim Matias, a Polícia encontrou, em seu
poder, a Pistola semi-automática, calibre 380, marca Glock, de fabricação austríaca
(n. CMW196) acompanhada de pente municiado de onze balas.
1.8. Já estava formalizada a prisão em flagrante de Paulo Roberto por crimes
contra a administração pública. Indiciou-se também Joaquim Matias como co-
autor. Além disso, abriu-se nova investigação para apurar o porte ilegal de arma de
fogo, praticado pelo acusado Joaquim Matias.
R.T.J. — 196 281
1.9. O certo é que existiam dois inquéritos. O primeiro iniciou-se pelo auto de
flagrante de Paulo Roberto. O segundo por Portaria, mediante requisição do Pro-
motor Eliardo, destinado este último a desvendar a infração do artigo 10, da Lei n.
9.437/97.
1.10. Logo que tomou conhecimento da captura de Joaquim Matias, o
Desembargador Augusto Falcão solicitou os préstimos do Promotor Benigno,
pedindo-lhe que fosse à Delegacia libertá-lo.
1.11. Benigno compareceu à Repartição policial por volta da meia-noite.
Procurou o Promotor Aristides Silva Pinheiro, designado para acompanhar a lavra-
tura do flagrante. Reservadamente, esclareceu ao seu colega que estava ali a pedi-
do do Desembargador Augusto Falcão, à época Presidente do TJ/PI. Indagou-lhe
sobre o que poderia fazer em favor de Joaquim Matias. Disse que o Desembargador
Augusto Falcão se entenderia com o então Procurador Geral de Justiça Antônio de
Pádua Linhares.
1.12. Aristides resistiu à indevida ingerência de Benigno, que agia em nome
de Augusto Falcão. Cumpriria rigorosamente as determinações superiores, sem
embaraçar as investigações dos fatos delituosos. Benigno desapontou-se. Queria
cumprir a ordem do Desembargador. Antes de se retirar do 1º Distrito Policial,
desentendeu-se com Aristides, na ocasião em que este discutia com o advogado
Marcos Vinícius Brito Araújo, o qual queria conversar a sós com Joaquim Matias.
1.13. Tiago Falcão Lopes, filho do Desembargador Augusto Falcão, também
compareceu à Delegacia. Preocupado com a situação de Joaquim Matias, tentou,
sem êxito, convencer o Promotor Aristides a soltá-lo.
1.14. Apesar da resistência do Promotor Aristides, as acusações contra Joaquim
Matias não prosperaram. Em favor dele impetrou-se habeas corpus, pedindo-se o
trancamento do inquérito, que se iniciara por porte ilegal de arma.
1.15. O acusado Samuel Mendes de Moraes, Juiz da 3ª Vara Criminal da
Comarca de Terezina, não era competente para julgar o habeas corpus, impetrado,
no dia 12 de fevereiro de 1999, em favor de Joaquim Matias, na 6ª Vara Criminal
da Capital do Piauí. No entanto, enquanto Eliardo e Aristides não aceitaram a
interferência do Desembargador Augusto Falcão, o Juiz Samuel fraquejou. Intro-
meteu-se no caso. Mandou chamar o escrivão, num dia de domingo (14/02/1999).
Requisitou os autos. Deferiu a ordem, encerrando a apuração em relação ao porte
ilegal de arma.
1.16. O Promotor Eliardo contou que o acusado Benigno, quando tentava
suborná-lo, garantiu-lhe que, nos processos do interesse do Desembargador
Augusto Falcão, ‘todos levavam alguma quantia’.
1.17. Assim, Samuel deixou-se influenciar, ou, então, aceitou vantagem
indevida, que Benigno, como preposto do Desembargador Augusto Falcão, já
fizera aos Promotores.
1.18. Com efeito, o Juiz Samuel deferiu habeas corpus e trancou o inquérito,
instaurado para apurar o ato delituoso imputado a Joaquim Matias (art. 10, da Lei
n. 9.437/97), em face dos fundamentos adiante transcritos:
282 R.T.J. — 196
inquérito já tinha sido trancado pelo Juiz Samuel, 10º denunciado. Por esse con-
texto, o processo penal iniciado perante o Juízo da 6ª Vara Criminal da Capital
continuou com um apenas dos denunciados, Paulo Roberto, sendo excluído o
nome de Joaquim Matias (...).” (Fls. 478-479)
Relativamente ao extravio dos processos administrativos fiscais instaurados con-
tra a empresa do impetrante, narra a denúncia que “Joaquim Matias possuía fortes laços
de amizade com os poderosos do Piauí. Habituado a corromper, contou novamente com
a atuação do Promotor Benigno e do Desembargador Augusto Falcão. Benigno, cum-
prindo a determinação de Augusto Falcão, movimentou-se para impedir a apuração
daqueles crimes. Anunciou ao Promotor Eliardo que o Desembargador Augusto Fal-
cão mandara lhe pedir que ‘pegasse leve naquele processo, pois o menino era filho do
velho Matias, gente dele, eterno Diretor do DER’. Prometeu vantagem indevida a Eliardo
para que ele não denunciasse Joaquim Matias. Garantiu que ‘nesses negócios todos
levavam alguma quantia, disse isso, fazendo gestos nesse sentido;”.
A propósito, registra o eminente Min. José Arnaldo da Fonseca, em seu voto, a
existência de testemunho do Promotor Eliardo afirmando que o acusado Benigno garan-
tiu-lhe, ao tentar suborná-lo, que, nos processos de interesse do ora impetrante, “todos
levavam alguma quantia”. Faz referência também ao fato de que o filho do Desembar-
gador Augusto Falcão trabalhava no escritório dos advogados que defendiam os réus
beneficiários e que o impetrante seria sobrinho da ex-mulher do impetrante.
A denúncia, está-se a ver, descreve conduta típica. É dizer, contém a exposição do
fato delituoso e a classificação do crime. Conforme salientou o parecer do Ministério
Público Federal, “há fortes indícios de autoria e suficiente narrativa do fato delituoso,
que tem apoio nos autos do inquérito, tudo reclamando apuração na sede própria, que
é a instrução criminal, sendo desnecessária a descrição minuciosa dos meios de execução
do delito, como pretende a defesa” (fl. 501).
Ressalte-se que as eventuais omissões da denúncia quanto aos requisitos do art. 41
do CPP — desde que permitam o exercício do direito de defesa — não implicam neces-
sariamente na sua inépcia, certo que podem ser supridas a todo tempo, antes da sentença
final, conforme dispõe o art. 569 do CPP. Assim decidiu esta Turma, quando do julga-
mento do HC 71.899/RJ, Rel. Min. Maurício Corrêa, portando o acórdão a seguinte
ementa:
“Ementa: Habeas corpus. Crime continuado de corrupção ativa em con-
curso de pessoas (arts. 333 e 29 e 71 do CP). Inépcia da denúncia. Crime multi-
tudinário ou de autoria conjunta ou coletiva. Documentos que devem acompa-
nhar a denúncia. Ilegitimidade de parte. Princípios da legalidade, obrigatorie-
dade, indivisibilidade e indisponibilidade da ação penal. Justa causa.
1. Não é inepta a denúncia por eventuais omissões quanto aos requisitos do
art. 41 do CPP — as quais podem ‘ser supridas a todo tempo, antes da sentença
final’ (art. 569 do CPP) —, desde que permita o exercício do direito de defesa.
2. Nos crimes de autoria coletiva, a denúncia pode narrar genericamente a
participação de cada agente, cuja conduta específica é apurada no curso do processo.
Precedentes.
(...).” (DJ de 2-6-95)
290 R.T.J. — 196
Foi esse o entendimento da Casa no RHC 56.693/DF, Rel. Min. Moreira Alves,
assim ementado o acórdão:
“Ementa: Habeas Corpus. Trancamento de ação penal por falta de justa causa.
— Se o fato descrito na denúncia constitui crime em tese, não é o habeas
corpus meio idôneo para trancar-se a ação penal por falta de justa causa que só
poderia ser apurada pelo exame aprofundado da prova.
Recurso ordinário a que se nega provimento.” (DJ de 11-12-78)
Não foi outro o decidido por esta Turma no RHC 61.145/SP, Rel. Min. Néri da
Silveira:
“Habeas corpus. Trancamento da ação penal. Falta de justa causa. Código
Penal, artigo 171. O habeas corpus não enseja o exame aprofundado de provas,
para se firmar, desde logo, se o réu é, ou não, inocente. Diante dos fatos descritos na
denúncia, não é possível, prima facie, recusar sua tipificação como ilícito criminal.
Se esses fatos são verdadeiros, ou não; se existiria, apenas, questão de direito civil,
somente será possível concluir, ultimada a colheita de provas, em instrução contra-
ditória. Recurso desprovido.” (DJ de 9-3-84, RTJ 113/1017)
Nesse mesmo sentido, decidiu esta Turma no HC 84.107/SC, de que fui Relator. O
acórdão porta a seguinte ementa:
“Ementa: Penal. Processual Penal. Habeas corpus. Trancamento da ação
penal. Calúnia. Imunidade penal do advogado.
I - A imunidade prevista no inciso I do art. 142 do Código Penal não abrange
a ofensa caracterizada como calúnia.
II - Denúncia que atende aos requisitos do art. 41 do Código de Processo
Penal.
III - A jurisprudência da Suprema Corte firmou-se no sentido de que não se
tranca a ação penal se a conduta descrita na denúncia configura, em tese, crime,
como ocorre na hipótese.
IV - HC indeferido.” (DJ de 18-6-2004)
No que toca à alegação de ilegalidade na designação dos Promotores de Justiça
José Eliardo de Sousa Cabral e Aristides Silva Pinto, melhor sorte não assiste à impetra-
ção, dado que tais atos encontram apoio no art. 10, IX, d e e, da Lei 8.625/93.
De igual modo, não há como acolher a alegação de ilegitimidade do Promotor de
Justiça que “ofertou as notas de singularidade que suporte a denúncia”. É que, como
bem assinalou o parecer do Ministério Público Federal, “o impetrante não logrou de-
monstrar que o promotor de justiça, cuja atuação questiona, tenha de alguma forma
contribuído para dar elementos de suporte à denúncia do Ministério Público Federal”
(fl. 501).
Esclareça-se, por fim, no que concerne à alegação de ofensa ao princípio do promotor
natural, que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 67.759/RJ, Relator o
Ministro Celso de Mello, não acolheu a tese. Os Ministros Paulo Brossard, Octavio
292 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
HC 85.424/PI — Relator: Ministro Carlos Velloso. Paciente e Impetrante: Joaquim
Matias Barbosa Melo. Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: Indeferiu-se a ordem, decisão unânime. Ausente, justificadamente, neste
julgamento, o Ministro Celso de Mello. Presidiu este julgamento o Ministro Carlos
Velloso.
Presidência do Ministro Carlos Velloso. Presentes à sessão os Ministros Ellen
Gracie, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso
de Mello. Subprocurador-Geral da República, Dr. Geraldo Brindeiro.
Brasília, 23 de agosto de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a presidência do Ministro Celso de Mello, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
indeferir o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 13 de setembro de 2005 — Celso de Mello, Presidente — Gilmar Mendes,
Relator.
R.T.J. — 196 293
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de
Dagoberto Barbosa contra a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça que denegou
habeas corpus em decisão assim ementada:
“Processo penal. Citação editalícia. Interrogatório. Defensor constituído.
Intimação. Inexistência. Defensor dativo. Nomeação. Nulidade.
É válida a citação por edital quando esgotados todos os meios disponíveis
para a citação pessoal (arts. 361 e 362, do Código de Processo Penal).
Não é causa de nulidade a falta de intimação, para interrogatório judicial, de
advogado que acompanhou o cliente em depoimento realizado perante a autorida-
de policial, à vista da diversidade de procedimentos e da inexistência de mandato
para a causa.
Recurso a que se nega provimento.” (Fl. 387)
O paciente foi denunciado pela prática do crime contra a ordem tributária previsto
no art. 1º, I, da Lei 8.137, de 1990, c/c o art. 71 do Código Penal (crime continuado).
Sustenta-se, em breve síntese, a existência de nulidade do processo, por “vício em
sua citação e, por conseqüência, na decretação de sua revelia, e vício na nomeação de
defensora dativa”. A pretensão de declaração de nulidade foi rejeitada no juízo de ori-
gem, no Tribunal Regional Federal da Terceira Região, e no Superior Tribunal de Justiça.
Indeferi o pedido de liminar (fls. 375-376).
O parecer do Parquet é pelo indeferimento da ordem (fls. 400-402).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Foram estas as razões do Superior Tribunal
de Justiça para a denegação da ordem ao paciente, verbis:
“Dentre todos os argumentos reunidos pelo recorrente, destaco a afirmativa
de que (fl. 314):
‘(...) o réu ficou cerca de cinco meses sem aparecer no local, em razão do
que, de fato, não poderia ser, como não o foi, encontrado naquele endereço.
Ou seja: o réu, por óbvio, não residia mais naquele local, pois, se assim não
fosse, não teria se ausentado por tanto tempo. E, se não mais residia naquele
local, o paciente, pelo fato de que não foi encontrado, não pode ser acusado
de ter tentado se ocultar da citação’
A afirmativa é elucidativa.
Dispõe o art. 361 do Código de Processo Penal que, se o réu não for encontrado,
será citado por edital, com prazo de 15 (quinze) dias.
294 R.T.J. — 196
‘(...)
2. O Paciente foi citado por edital, por não ter sido localizado. Teve
decretada a revelia. Em conseqüência, foi-lhe nomeado defensor, indicado
pela OAB/SP, que teve efetiva atuação. Nenhum prejuízo sofreu o Paciente
por ter sido defendido por advogado dativo. O processo teve normal desen-
volvimento. Habeas indeferido.’ (HC 81.636/SP; Rel.: Min. Nelson Jobim;
Julgamento: 9-4-2002; Órgão Julgador: Segunda Turma; Publicação: DJ de
14-6-20002).
Assim, ausente a demonstração de prejuízo, a decisão do Colendo Superior
Tribunal de Justiça ajusta-se ao entendimento dessa Corte Maior não se constituindo
em ato ilegal ou abusivo que justifique o writ.” (Fls. 401-402)
Com efeito, o paciente foi devidamente citado por edital, após as tentativas de
citação pessoal, não havendo qualquer nulidade, e, conseqüentemente, a decretação da
revelia e a nomeação de defensor dativo ocorreram regularmente. Ademais, o defensor
dativo apresentou defesa prévia, não havendo que se falar em qualquer prejuízo para
defesa.
Nesses termos, o meu voto é pelo indeferimento do habeas corpus.
EXTRATO DA ATA
HC 85.438/SP — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Paciente: Dagoberto Barbosa.
Impetrante: Edison Blanes. Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: A Turma, por votação unânime, indeferiu o pedido de habeas corpus, nos
termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, os Ministros
Carlos Velloso e Ellen Gracie.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Gilmar
Mendes e Joaquim Barbosa. Ausentes, justificadamente, os Ministros Carlos Velloso e
Ellen Gracie. Subprocuradora-Geral da República, Dra. Maria Caetana Cintra Santos.
Brasília, 13 de setembro de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por maioria, negar provimento ao agravo regimental, vencidos os Minis-
tros Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence. Votou a Presidente. Impedido o Ministro
Joaquim Barbosa. Ausentes, justificadamente, os Ministros Nelson Jobim (Presidente),
Celso de Mello e Gilmar Mendes.
Brasília, 19 de maio de 2005 — Ellen Gracie, Presidente (no exercício da Presi-
dência) — Carlos Velloso, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Trata-se de agravo regimental, interposto por
Carlos Alberto da Costa Silva, da decisão de fl. 42, que negou seguimento a pedido de
habeas corpus, tendo em vista a jurisprudência da Corte no sentido do não-cabimento
de habeas corpus contra atos jurisdicionais do Supremo Tribunal Federal referentes a
outros habeas corpus impetrados perante este.
Alega o recorrente que a decisão impugnada está equivocada, porquanto o presente
writ não se dirige contra ato jurisdicional de um Ministro do STF, mas sim “contra uma
decisão de índole francamente correicional-ordenatória (embora ilegalíssima e ar-
bitrária) do Min. Joaquim Barbosa que cassou uma liminar concedida pelo Eminen-
te Min. Marco Aurélio, em sede do remédio heróico e humanitário do habeas corpus”
(fl. 51).
Sustenta, ainda, a ilegalidade da decisão do eminente Min. Joaquim Barbosa que,
nos autos do HC 84.265, objeto desta impetração, revogou medida liminar anteriormente
concedida por outro Ministro da Corte e determinou a expedição de mandado de prisão.
Ao final, requer o agravante a reconsideração da decisão agravada ou, caso assim
não se entenda, o provimento do presente agravo regimental. Alternativamente, requer a
apreciação do pedido de fixação de fiança, requerido na inicial.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Assim a decisão agravada, ora sob exame:
“Decisão: Vistos. Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar,
impetrado em favor de Carlos Alberto da Costa Silva, apontando como coator o
R.T.J. — 196 297
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sra. Presidente, no HC 69.138, Plenário, Relator
o Sr. Ministro Moreira Alves, nós conhecemos da impetração contra a decisão do Relator
que negara provimento a agravo para a subida de recurso extraordinário criminal, embora
nos limitando a averiguar a questão do cabimento do recurso extraordinário.
Indago ao Ministro Marco Aurélio se já há sentença condenando e decretando a
prisão.
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Sim, sentença condenatória e, portanto, é diverso o
título em jogo no habeas corpus, considerada a liminar que proferi e que, retirada do
mundo jurídico pelo Relator, já não subsiste, ficou prejudicada. Como declararia o
prejuízo do próprio habeas, tendo em conta a condenação, faço-o relativamente ao
agravo, para a seqüência do habeas impetrado contra o indeferimento da liminar em
idêntica medida.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Sra. Presidente, também julgo prejudicado o
habeas corpus.
EXTRATO DA ATA
HC 85.468-AgR — Relator: Ministro Carlos Velloso. Agravante: Carlos Alberto
da Costa Silva (Advogados: Mário Gilberto de Oliveira e outro, Sérgio Alberto Frazão
do Couto e outro). Agravado: Relator do HC n. 84.265-8 do Supremo Tribunal Federal.
Decisão: O Tribunal, por maioria, negou provimento ao agravo regimental, venci-
dos os Ministros Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence. Votou a Presidente. Impedido o
Ministro Joaquim Barbosa. Ausentes, justificadamente, os Ministros Nelson Jobim (Pre-
sidente), Celso de Mello e Gilmar Mendes. Presidiu o julgamento a Ministra Ellen
Gracie (Vice-Presidente).
Presidência da Ministra Ellen Gracie (Vice-Presidente). Presentes à sessão os Mi-
nistros Sepúlveda Pertence, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto,
Joaquim Barbosa e Eros Grau. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando
Barros e Silva de Souza.
Brasília, 19 de maio de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
R.T.J. — 196 299
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tri-
bunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
conhecer e dar provimento, em parte, ao recurso ordinário, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 16 de agosto de 2005 — Celso de Mello, Presidente — Carlos Velloso,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Trata-se de recurso ordinário interposto por
Eduardo Guimarães Costa Filho contra acórdão da 5ª Turma do Eg. Superior Tribunal
de Justiça que indeferiu pedido de habeas corpus (HC 33.149/GO), em acórdão assim
ementado:
“Habeas corpus - Processual penal - Tráfico ilícito de entorpecentes - Prisão
em flagrante - Ausência de curador ao réu menor - Necessária a configuração do
efetivo prejuízo - Inocorrência - Liberdade provisória - Crime hediondo - Impos-
sibilidade - Desclassificação para o delito de uso de entorpecentes - Matéria não
examinada pelo tribunal local - Supressão de instância.
- A alegada nulidade da custódia, tendo em vista a falta de nomeação de
curador ao réu menor por ocasião da lavratura do auto de prisão em flagrante, deve
vir acompanhada da demonstração do efetivo prejuízo à defesa. No caso, isso
inocorre.
- Inviável a concessão de liberdade provisória ao acusado pela prática de
crime hediondo, conforme recente entendimento firmado pelo Supremo Tribunal
Federal, no Informativo 329, HC 83.468/ES, DJU de 11.11.2003, Rel. Ministro
Sepúlveda Pertence.
300 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Preliminarmente, examino a alegação de
cerceamento de defesa.
Extrai-se dos autos que o defensor do recorrente teve deferido, em 14-4-2005, o seu
pedido de vista dos autos para oferecimento de memoriais (fl. 377).
Ocorre, porém, que o writ foi levado a julgamento, na sessão de 11-5-2004, sem
que o despacho tivesse sido publicado no Diário de Justiça ou que, ao menos, o defensor
tivesse retirado os autos (fl. 383). O referido despacho somente foi publicado no Diário
de Justiça do dia 25-5-2004 (fl. 378).
R.T.J. — 196 301
EXTRATO DA ATA
RHC 85.512/GO — Relator: Ministro Carlos Velloso. Recorrente: Eduardo Guimarães
Costa Filho (Advogados: Oscar L. de Morais e outro). Recorrido: Ministério Público Federal.
Decisão: A Turma, por votação unânime, conheceu e deu provimento, em parte, ao
recurso ordinário, nos termos do voto do Relator.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Ellen Gracie, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Subprocurador-Geral da
República, Dr. Geraldo Brindeiro.
Brasília, 16 de agosto de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tri-
bunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso. Ausentes, justi-
ficadamente, neste julgamento, os Ministros Celso de Mello, Presidente, e Joaquim
Barbosa.
Brasília, 4 de outubro de 2005 — Carlos Velloso, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus
interposto por George Dias Farah do acórdão da 5ª Turma do Superior Tribunal de
Justiça que denegou o HC 29.602/RJ, em acórdão assim ementado:
“Penal e Processual Penal. Habeas corpus. Crime contra a ordem tributária.
Aplicação da Lei n. 8.137/90. Verificação do quantum devido. Independência das
instâncias.
I - Tendo os fatos descritos na exordial acusatória sido praticados sob a égide
da Lei n. 8.137/90 se mostra imperiosa a sua aplicação.
II - O procedimento administrativo de apuração de débitos não se constitui
em condição de procedibilidade para a instauração da ação penal, tendo em vista
a independência entre as instâncias civil, administrativa e criminal.(Precedentes).
Habeas corpus denegado.” (Fl. 142)
Sustenta o recorrente, condenado como incurso no art. 1º, I e II, da Lei 8.137/90,
inexistir justa causa para a ação penal, por não ter o Ministério Público apresentado
prova da prática dos delitos, nem demonstrado qual teria sido o valor do débito tributário.
Pede, ao final, a concessão da ordem, “desconstituindo, assim, aquela sentença
prolatada no Juízo Monocrático — Proc. 94.0036061-4; condenação parcialmente
ratificada pela E. 3ª Turma do TRF/2ª Região — Proc. 98.02.38693-6, decretando a
nulidade do V. Acórdão, proferido naquela Apelação Criminal (98.02.38693-6); bem
como a reforma da decisão do HC 29602/RJ” (fl. 162).
Contra-razões às fls. 172-174.
Admitido o recurso, subiram os autos (fl. 176).
O Ministério Público Federal, oficiando às fls. 214-216, pelo parecer do ilustre
Subprocurador-Geral da República, Dr. Edson Oliveira de Almeida, opina pelo despro-
vimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Destaco do parecer do Ministério Público
Federal, da lavra do ilustre Subprocurador-Geral da República, Dr. Edson Oliveira de
Almeida (fls. 214-216):
304 R.T.J. — 196
“(...)
2. O paciente foi condenado pela prática dos crimes previstos nos arts. 1º, I e
II e 3º, III da Lei n. 8.137/90 (sonegação fiscal e advocacia administrativa fiscal),
nas penas de 5 (cinco) anos de reclusão, em regime semi-aberto, e pagamento de
120 (cento e vinte dias-multa. O Tribunal Regional Federal da 3ª Região, dando
parcial provimento à apelação, declarou a prescrição do crime previsto no art. 3º,
III da Lei n. 8.137/90, tornando a pena definitiva em 3 (três) anos de reclusão e 60
(sessenta) dias-multa.
3. Contrapondo o acórdão e buscando a desconstituição da sentença
condenatória, diz o impetrante, em suma, que não cometeu crime contra a ordem
tributária, ‘tendo havido, apenas, uma simples omissão, sem que ocorresse qual-
quer lesão aos cofres públicos, também não tendo ocorrido supressão ou redução
de tributo, ou contribuição social e qualquer acessório (art. 1º, I e II, da Lei 8.137/
90), é evidente a falta de justa causa’. (fls. 155-162)
4. Nas contra-razões (fls. 172-174), o Ministério Público Federal opina pelo
desprovimento do recurso.
5. Não assiste razão ao recorrente.
6. A condenação está calcada na representação fiscal, que demostrou que o
paciente omitiu o pagamento do imposto de renda referente a rendimentos ingres-
sados em sua conta corrente, sem origem justificada e não constantes das declara-
ções de renda. Segundo a Receita Federal, no ano-base de 1991, houve omissão de
uma linha telefônica e de vários veículos adquiridos, em sua maioria, em leilões
judiciais, os quais eram posteriormente revendidos. As transações não foram
registradas no Detran com a finalidade de burlar o fisco.
Extrai-se da denúncia (fls. 105-107):
Solicitadas as cópias das declarações dos anos de 1988 a 1993, verifi-
cou-se que o ora denunciado omitiu declarações de bens prestando falsas
informações à autoridades fazendárias (em todos os anos citados exceto o de
1993, cujo procedimento ora está sendo feito).
O denunciado conforme documento anexo (doc. 2) é proprietário de
linha telefônica cuja existência nunca foi informada ao fisco.
Conforme se vê dos documentos ora anexados (doc. 3), o denunciado é
proprietário de vários veículos que compra, na maioria dos casos, em leilão
patrocinado por empresas seguradoras. Veja-se, por exemplo, que o denunciado
declara como sendo de sua propriedade veículo monza placa JX 7042 - ano
86 em cujo registro junto ao Detran consta como proprietário o Sr. Dirceu
Freire Henriques e não declara a compra do veículo santana placa na 9070 -
ano 90 a ele transferido em junho de 1990.
Por outro lado, vários veículos por ele adquiridos não foram ainda
transferidos para seu nome junto aos registros do Detran. O próprio denunciado
declara ser de sua propriedade tais veículos (conversa gravada via escuta
R.T.J. — 196 305
EXTRATO DA ATA
RHC 85.513/DF — Relator: Ministro Carlos Velloso. Recorrente: George Dias
Farah (Advogado: Paulo César Saleme Eyer). Recorrido: Ministério Público Federal.
Decisão: Negou-se provimento, decisão unânime. Ausentes, justificadamente,
neste julgamento, os Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa. Presidiu, este julga-
mento, o Ministro Carlos Velloso.
Presidência do Ministro Carlos Velloso. Presentes à sessão a Ministra Ellen Gracie
e os Ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, o Ministro
Celso de Mello. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo da Rocha Campos.
Brasília, 4 de outubro de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
306 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tri-
bunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, indeferir a ordem. Ausente, justificadamente,
neste julgamento, o Ministro Celso de Mello, Presidente.
Brasília, 20 de setembro de 2005 — Carlos Velloso, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de
Rubens Barth, da decisão da 6ª Turma do Eg. Superior Tribunal de Justiça que indeferiu
pedido de habeas corpus (HC 37.125/RO), em acórdão assim ementado:
“Processo penal. Habeas corpus. Prisão preventiva devidamente funda-
mentada. Excesso de prazo para o encerramento da instrução criminal. Existên-
cia de vários réus presos em comarcas distintas. Complexidade da causa. Enun-
ciado n. 64 da Súmula desta Corte. Ordem denegada.
1. Resta irretocável a decisão que decretou a prisão preventiva do paciente,
porque devidamente fundamentada.
2. Verificando-se que a demora para o encerramento da instrução criminal se
deu em função da existência de vários acusados, que se encontram foragidos ou
residindo em comarcas do interior, não há que se falar em violação à razoabilidade
para o fim da instrução criminal.
3. O retardamento da instrução criminal ocorreu devido ao embaraço ausado
pela própria defesa. Incidência do enunciado n. 64 desta Corte.
4. Ordem denegada.” (Fl. 62)
R.T.J. — 196 307
O paciente, denunciado pela prática dos delitos previstos nos arts. 12, caput e § 2º,
III, e 14 da Lei 6.368/76, e art. 6º da Lei 7.429/86, postula a revogação do decreto de
prisão preventiva expedido pelo Juízo da 1ª Vara de Delitos de Tóxicos da Comarca de
Porto Velho/RO.
Sustenta o impetrante que o paciente está sofrendo constrangimento ilegal, por-
quanto, além de ausentes os requisitos autorizadores da custódia preventiva, está preso
há mais de quinze meses, sem que a instrução tenha se encerrado. Afirma que a prisão
preventiva do paciente foi decretada para assegurar o seu interrogatório. Assim, já tendo
sido interrogado, não mais subsiste a motivação do decreto prisional.
Acrescenta, ainda, que o paciente possui residência fixa, ocupação lícita e família
constituída, sendo, portanto, desnecessária a sua prisão.
Pede a concessão da ordem, para que seja assegurado ao paciente o direito de
aguardar em liberdade o trânsito em julgado da Ação Penal 501.2001.004404-9 a que
responde perante a 1ª Vara de Delitos de Tóxicos e Entorpecentes de Porto Velho/RO.
Indeferida a medida liminar e requisitadas informações (fl. 54), foram elas pres-
tadas pelo eminente Ministro Edson Vidigal, Presidente do Eg. Superior Tribunal de
Justiça, que encaminhou cópia do acórdão proferido no HC 37.125/RO, aqui impugnado
(fls. 62-68).
O Ministério Público Federal, pelo parecer do ilustre Subprocurador-Geral da Repú-
blica, Dr. Haroldo Ferraz da Nóbrega, opina pelo indeferimento da ordem (fls. 82-91).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Insurge-se o impetrante contra acórdão da
6ª Turma do Eg. Superior Tribunal de Justiça que manteve a decisão do Juízo da 1ª Vara
de Delitos de Tóxico da Comarca de Porto Velho/RO que decretara a prisão do paciente.
Pede a concessão da ordem, para que o paciente seja colocado em liberdade, aos seguintes
argumentos: a) ilegalidade do decreto de prisão preventiva; b) excesso de prazo.
Sobre a alegação de ilegalidade do decreto de prisão preventiva, registrou o emi-
nente Min. Hélio Quaglia Barbosa, Relator do writ ora impugnado (HC 37.125/RO):
“(...)
1. Irresigna-se o impetrante, primeiramente, contra a decisão que decretou a
prisão preventiva do paciente.
Forçoso, pois, transcrever o excerto que interessa:
‘[...] Recebida a denúncia, neste Juízo veio a informação de que esse
acusado encontrava-se preso no sul do país, o que não se confirmou vindo a
informação negativa da polícia federal. Por não possuir endereço certo e
conhecido foi citado por edital conforme se observa às fls. 674 dos autos e
não compareceu ao interrogatório para hoje designado.
Assim sendo, nos termos do artigo 366 do CPP suspendo a tramitação
deste feito, bem como o decurso do prazo de prescrição.
308 R.T.J. — 196
Tanto isso é verdade que a sua prisão preventiva somente foi efetivada e
10.01.2004 (fl. 100), ou seja, passados mais de 10 meses do decreto de prisão para
garantia da aplicação da lei penal (fls. 44-45) e passados três meses do acórdão
transcrito (fl. 90). Ressalta-se, aliás, que, quando do cumprimento da constrição
cautelar, também foi decretada a sua prisão em flagrante por porte ilegal de armas
e de petrechos para a fabricação de entorpecentes (fls. 100-102). Evidente, portanto,
seu desrespeito para com a Justiça, pois, além de continuar, ao que tudo indica, na
criminalidade, permaneceu evadido, mesmo sabendo do feito criminal e do decreto
de prisão.
(...).” (Fls. 71-72)
Esta Turma, no julgamento do HC 81.599/DF, por mim relatado, decidiu que a
evasão do réu, por si só, justifica a prisão preventiva:
“Ementa: Penal. Processual Penal. Prisão preventiva. Fuga do réu. Excesso
de prazo. Instrução criminal encerrada.
I - Decreto de prisão preventiva devidamente fundamentado.
II - A fuga do réu do distrito da culpa, por si só, justifica o decreto de prisão
preventiva.
III - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal orienta-se no sentido de
que fica prejudicada a alegação de excesso de prazo da prisão, quando já concluída
a instrução criminal.
IV - Precedentes do Supremo Tribunal Federal.
V - HC indeferido.” (DJ de 29-8-2003)
No que toca à alegação de excesso de prazo, melhor sorte não assiste à impetração.
É que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que só se caracteriza
o excesso de prazo quando decorre ele de desídia ou negligência dos órgãos da Justiça.
Foi esse o entendimento manifestado por esta Turma no HC 84.493/SP, Rel. Min.
Joaquim Barbosa, tendo o acórdão recebido a seguinte ementa:
“Habeas corpus. Prisão preventiva. Alegação de excesso de prazo. Excesso
de prazo justificado pela complexidade da causa. Precedentes. Réus presos fora
da comarca. Defensores diversos, residentes fora da comarca. Contribuição da
defesa para a demora na conclusão da instrução. Ordem denegada.
O prazo para o término da instrução criminal deve ser cotejado levando-se
em conta a complexidade do feito, sob pena de se tornar inviável o processamento
da persecutio criminis em casos complexos, que envolvam o crime organizado.”
(DJ de 11-2-2005).
Na hipótese, tal como salientou o acórdão recorrido, não há falar em constrangi-
mento ilegal, dado que a complexidade do caso e a pluralidade de envolvidos — mais de
dez, sendo que alguns encontram-se foragidos e outros residem em comarcas do interior
de Rondônia — justificam o atraso na conclusão da instrução criminal. Ademais, regis-
tra, ainda, o acórdão do STJ que algumas das testemunhas arroladas pela defesa, apesar
de intimadas, não compareceram à audiência e que outras ainda não foram ouvidas, dada
a insuficiência de endereço. Não há falar, pois, em excesso de prazo.
Do exposto, indefiro o writ.
310 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
HC 85.764/RO — Relator: Ministro Carlos Velloso. Paciente: Rubens Barth. Im-
petrante: Mauro Márcio Seadi Filho. Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: Indeferiu-se a ordem, decisão unânime. Falou, pelo paciente, o Dr. Mauro
Márcio Seadi Filho. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Celso de
Mello. Presidiu, este julgamento, o Ministro Carlos Velloso.
Presidência do Ministro Carlos Velloso. Presentes à sessão a Ministra Ellen Gracie
e os Ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, o Ministro
Celso de Mello. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo da Rocha Campos.
Brasília, 20 de setembro de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tri-
bunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, indeferir a ordem. Ausente, justificadamente,
neste julgamento, o Ministro Celso de Mello, Presidente.
Brasília, 23 de agosto de 2005 — Carlos Velloso, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de
Antônio Alves Serra, da decisão da 5ª Turma do Eg. Superior Tribunal de Justiça que
indeferiu pedido de habeas corpus (HC 38.317/BA), em acórdão assim ementado:
R.T.J. — 196 311
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Leio no parecer do Ministério Público
Federal, da lavra da ilustre Subprocuradora-Geral da República, Dra. Cláudia Sampaio
Marques (fls. 222-225):
“(...)
4. A assertiva de nulidade do julgamento do habeas corpus originário não
prospera.
5. Em face do caráter de urgência inerente ao processamento do remédio
heróico, a respectiva sessão de julgamento prescinde de qualquer forma de
cientificação, intimação ou de inclusão em pauta. Após a oferta do parecer minis-
terial, o pedido deve ser apreciado na primeira sessão do órgão julgador, indepen-
dentemente de comunicação, de intimação pessoal das partes e de seus procurado-
res ou de publicação de pauta na imprensa. É ler o disposto na Súmula n. 431 do
Supremo Tribunal Federal e no art. 664 do Código de Processo Penal:
‘Art. 664. Recebidas as informações, ou dispensadas, o habeas corpus
será julgado na primeira sessão, podendo, entretanto, adiar-se o julgamento
para a sessão seguinte.’
‘É nulo o julgamento de recurso criminal, na segunda instância, sem
prévia intimação ou publicação da pauta, salvo em habeas corpus.’
6. Nesse sentido, a jurisprudência dessa Suprema Corte:
‘Habeas corpus. Prisão civil. Prestações alimentícias. Inadimplemento.
(...)
Nos termos da Súmula n. 431 do STF, desnecessária a intimação ou
publicação de pauta para o julgamento do habeas corpus ou de seu recurso
ordinário (art. 664 do Código de Processo Penal e art. 31, parágrafo único da
Lei n. 8.038/90).
(...)’ (HC n. 83.000-5/RS, 2ª Turma, Rel. Ministra Ellen Gracie, in DJ de
1º-8-2003)
‘Habeas corpus. Homicídio. Intimação pessoal de defensor público
em qualquer processo e grau de jurisdição: pauta e acórdão do Superior
Tribunal de Justiça.
1. Ao defensor público do Estado foi concedida a prerrogativa de ser
intimado pessoalmente em qualquer processo e grau de jurisdição (artigo
128, I, da Lei Orgânica da Defensoria Pública – Lei Complementar n. 80, de
12.01.94).
Este direito, contudo, não cria obrigação ao Poder Judiciário de proceder
à intimação que a lei não prevê deva ser feita.
Assim, inexistindo previsão legal para intimação ou publicação de
pauta para o julgamento de habeas corpus (artigos 202 do RI/STF, 192 do
RI-STF, 664 do Código de Processo Penal e Súmula 431) não há nulidade a
ser declarada quando o defensor público não é intimado pessoalmente.
R.T.J. — 196 313
EXTRATO DA ATA
HC 85.845/BA — Relator: Ministro Carlos Velloso. Paciente: Antônio Alves Serra.
Impetrante: Marco Aurélio Lelis de Souza. Coator: Superior Tribunal de Justiça.
Decisão: Indeferiu-se a ordem, decisão unânime. Ausente, justificadamente, neste
julgamento, o Ministro Celso de Mello. Presidiu, este julgamento, o Ministro Carlos
Velloso.
Presidência do Ministro Carlos Velloso. Presentes à sessão a Ministra Ellen Gracie
e os Ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, o Ministro
Celso de Mello. Subprocurador-Geral da República, Dr. Geraldo Brindeiro.
Brasília, 23 de agosto de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
R.T.J. — 196 315
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tri-
bunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, indeferir a ordem. Ausentes, justificadamente,
neste julgamento, os Ministros Celso de Mello, Presidente, e Joaquim Barbosa.
Brasília, 4 de outubro de 2005 — Carlos Velloso, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Velloso: Trata-se de habeas corpus, impetrado em favor de
Maria Aparecida Souza Pereira, da decisão da Primeira Turma Recursal do Juizado
Especial Criminal da Comarca de Belo Horizonte que indeferiu pedido de habeas corpus
(HC 024.04.382.903-5), em acórdão assim ementado:
“Queixa – Procuração – Validade – Art. 44 do Código de Processo Penal –
Requisitos — Desnecessidade de descrição pormenorizada do fato criminoso.” (Fl. 76)
Alegam os impetrantes que a paciente está sofrendo constrangimento ilegal, por-
quanto a procuração outorgada para o oferecimento da queixa não preenchia os requisi-
tos do art. 44 do CPP. Tal requisito somente foi regularizado após o prazo decadencial
previsto em lei.
Pedem, ao final, a “extinção da punibilidade devido à decadência do direito de
ação” (fl. 05).
Indeferido o pedido de liminar e requisitadas informações (fl. 86), foram elas pres-
tadas pelo Presidente do I Tribunal do Júri de Belo Horizonte (fls. 92-112).
A ilustre Subprocuradora-Geral da República, Dra. Cláudia Sampaio Marques,
oficiando às fls. 116-120, opina pelo indeferimento da ordem.
É o relatório.
316 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): Postulam os impetrantes o trancamento da
ação penal privada a que respondem perante o Juizado Especial Criminal de Belo Hori-
zonte, ao argumento de que a procuração outorgada para o oferecimento da queixa não
atendia ao disposto no art. 44 do Código de Processo Penal, e o aludido vício somente
foi sanado após o transcurso do prazo decadencial de seis meses.
A ordem é de ser indeferida.
Destaco do parecer do Ministério Público Federal, da lavra da ilustre Subprocura-
dora-Geral da República, Dra. Cláudia Sampaio Marques (fls. 116-120):
“(...)
4. O parecer do Ministério Público Federal é pelo indeferimento do writ.
5. Extrai-se dos autos que Miguel Batista Soares ofereceu queixa-crime con-
tra Mozart Batista Pereira e Maria Aparecida Souza Pereira, imputando-lhes a prá-
tica do delito previsto no art. 140, caput e § 2º, c/c o art. 29, ambos do Código
Penal. Segundo a inicial acusatória, em 03/02/2003, o querelante, funcionário da
Indústria de Tintas Alterosa Ltda, dirigiu-se à residência dos querelados para efetuar
a entrega do boleto mensal do condomínio, ocasião em que sofreu agressões físicas
e morais, desferidas, inclusive, na presença do filho menor dos querelados.
6. O Magistrado indeferiu o pedido de extinção da punibilidade por alegado
vício na representação processual do querelante, sanado após a fluência do prazo
decadencial. Inconformada, a defesa dos querelados impetrou habeas corpus, tendo
o Colegiado a quo denegado a ordem por entender que a procuração inicialmente
ofertada atendia às exigências do art. 44 do Código de Processo Penal. Sobre a
controvérsia, expôs a decisão impugnada (fls. 77/78):
‘Realmente, o que exige a lei, quanto ao fato criminoso, é que haja
menção na procuração, de maneira a não deixar dúvida quanto ao fato que
deve ser imputado ao (s) querelado (s).
É entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante de que há
desnecessidade da descrição pormenorizada do fato criminoso.
O que se visa mesmo é estabelecer responsabilidades tanto em relação
ao mandante quanto ao mandatário, evitando-se, assim, excessos ou impro-
priedades de acusação.
Apesar de terem as il. Promotoras oficiantes requerido a complementa-
ção da procuração e de ter a MMª Juíza que dirigia o processo determinado a
intimação do advogado do querelante para que atendesse o requerido pelo
Ministério Público, a decisão sobre a regularidade ou não da procuração e
conseqüente extinção de punibilidade, só foi feita posteriormente pelo MM.
Juiz agora na condução do feito.
R.T.J. — 196 317
poderes para o fim de promover queixa contra os pacientes e ainda faz menção (e
não ‘descrição’ ou ‘narrativa’) ao fato criminoso, atendendo ao escopo da norma,
que é a definição de responsabilidade do mandante e do mandatário por eventual
denunciação caluniosa no exercício do direito de queixa. Na verdade, a procuração,
inicialmente, não era falha.
11. Além disso, vícios ou irregularidades no instrumento de mandato, que se
relacionam com a legitimidade do representante da parte — o advogado por ela
constituído — e não com a legitimidade da própria parte, podem ser sanadas a
qualquer tempo, mesmo após o decurso do prazo decadencial, nos termos do art.
568 do Código de Processo Penal.
12. A respeito dos temas abordados, precedentes dessa Suprema Corte:
‘Habeas corpus. Ação penal privada: difamação. Nulidades. procuração.
Inépcia da inicial: narrativa genérica de tempo e lugar. Pedido de explica-
ções: negativa da autoria. Queixa recebida por decisão não fundamentada.
1. A procuração outorgada pelo ofendido com os poderes da cláusula
ad judicia e os poderes especiais para o oferecimento da queixa, da qual
consta o nome da querelada e a menção do fato criminoso, satisfaz as exi-
gências do art. 44 do CPP: mais não era necessário dizer; a lei não exige
‘narrativa’, ‘descrição’ nem ‘circunstanciação’ do fato típico. A eventual rati-
ficação da inicial pelo querelante após o prazo de 6 meses, não teria passado de
ato desnecessário e sem aptidão de produzir outros efeitos jurídicos.
(...)
5. Habeas corpus conhecido, mas indeferido.’
(HC n. 72.286-5/PR, 2ª Turma, Rel. Ministro Maurício Corrêa, in DJ
de 16-2-1996)
‘Ementa: I - Ação penal privada: crime de exercício arbitrário das pró-
prias razões (Código Penal, art. 345, parágrafo único): decadência: Código
de Processo Penal, art. 44.
1. O defeito da procuração outorgada pelas querelantes ao seu advoga-
do, para requerer abertura de inquérito policial, sem menção ao fato criminoso,
constitui hipótese de ilegitimidade do representante da parte, que, a teor do
art. 568 C.Pr.Pen., ‘poderá ser a todo o tempo sanada, mediante ratificação
dos atos processuais’ (RHC 65.879, Célio Borja);
2. Na espécie, a presença das querelantes em audiências realizadas de-
pois de findo o prazo decadencial basta a suprir o defeito da procuração.’ (HC
n. 84.397-2/DF, 1ª Turma, Rel. Ministro Sepúlveda Pertence, in DJ de 12-
11-2004)
13. Ante o exposto, opina o Ministério Público Federal pelo indeferimento
do pedido de habeas corpus.
(...).” (Fls. 117-120)
R.T.J. — 196 319
Correto o entendimento.
Como bem demonstra o parecer do Ministério Público Federal, inexiste o alegado
constrangimento. É que a procuração que acompanhou a queixa-crime atende à exigên-
cia do art. 44 do CPP, na medida em que confere os poderes da cláusula ad judicia e os
poderes especiais para oferecer a queixa, com a indicação do nome do querelado e do
fato criminoso. Nesse sentido a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, de que é
exemplo o HC 74.943/ES, Rel. Min. Ilmar Galvão:
“Ementa: Habeas Corpus. Crime de imprensa. Queixa-crime. Procura-
ção. Julgamento ultra petita.
1. A procuração que acompanhou a queixa atende à exigência do art. 44 do
Código de Processo Penal, porque contém o nome do querelado e a menção ao fato
criminoso, cumprindo a finalidade a que visa a norma, que é a de fixar eventual
responsabilidade por denunciação caluniosa no exercício do direito de queixa.
2. O acórdão que recebeu a queixa-crime para que a ação tenha normal pros-
seguimento examinou matéria que não fora objeto de apreciação pela sentença de
primeiro grau quando a rejeitou em face da ilegitimidade ativa das querelantes,
acabando por impor ao juiz o recebimento da opinio delicti.
3. Habeas Corpus deferido em parte.” (DJ de 9-5-97)
Conforme salientou o acórdão ora impugnado, a ratificação da procuração pelo
querelante, após o decurso do prazo de seis meses, não passou de ato desnecessário, não
produzindo outros efeitos jurídicos.
De qualquer sorte, ainda que assim não fosse, o defeito da procuração poderia ser
sanado a qualquer tempo, nos termos do que dispõe o art. 568 do CPP (HC 84.397/DF, 1ª
Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 12-11-2004).
Do exposto, indefiro o writ.
EXTRATO DA ATA
HC 85.863/MG — Relator: Ministro Carlos Velloso. Paciente: Maria Aparecida
Souza Pereira. Impetrantes: Tarcísio Maciel Chaves de Mendonça e outro. Coatora:
Primeira Turma Recursal do Juizado Especial Criminal da Comarca de Belo Horizonte.
Decisão: Indeferiu-se a ordem, decisão unânime. Ausentes, justificadamente, neste
julgamento, os Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa. Presidiu, este julgamento,
o Ministro Carlos Velloso.
Presidência do Ministro Carlos Velloso. Presentes à sessão a Ministra Ellen Gracie
e os Ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, o Ministro
Celso de Mello. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo da Rocha Campos.
Brasília, 4 de outubro de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
320 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, dar provimento, em parte, ao recurso e declarar
a inconstitucionalidade do § 3º do artigo 90 da Constituição do Estado de São Paulo,
nos termos do voto do Relator.
Brasília, 19 de maio de 2004 — Nelson Jobim, Presidente — Marco Aurélio, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: O Tribunal de origem rejeitou a preliminar de in-
competência do Órgão para o julgamento de ação direta de inconstitucionalidade pro-
R.T.J. — 196 321
a estabilidade aos servidores públicos civis da União, Estados, Distrito Federal e Muni-
cípios admitidos de outra forma que não aquela prevista no artigo 37 da Lei Maior, mas
em exercício há, no mínimo, cinco anos continuados, e o artigo 39 do corpo permanente,
que versa sobre o regime jurídico único para os servidores.
Alude, alfim, ao princípio da segurança jurídica, aplicável na espécie, pois “os
efeitos remanescentes da lei declarada inconstitucional são tão evidentes e de difícil
solução, que se por acaso tal declaração tiver efeitos ex tunc, ou seja, não tendo as
opções efetuadas pelos servidores para o regime estatutário qualquer efeito, o caos estará
estabelecido no Município, tanto em relação à prestação de serviços públicos quanto em
relação às dívidas gigantescas que adviriam” (folha 260). Compara a situação municipal
com a eventual declaração de inconstitucionalidade do § 1º do artigo 243 da Lei Federal
n. 8.112/90 (folhas 238 a 262).
Não foram apresentadas contra-razões (certidão de folha 304).
O procedimento alusivo ao juízo primeiro de admissibilidade encontra-se con-
substanciado na peça de folhas 318 a 320.
Recebi estes autos em 15 de março de 1996 e determinei a remessa à Procuradoria-
Geral da República no dia 24 imediato, que exarou o parecer de folhas 329 a 335, pelo
não-conhecimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Os pressupostos gerais de recorribilidade
foram observados, valendo notar que o Tribunal Pleno, ao julgar a Reclamação n. 383/SP,
assentou a adequação do extraordinário quando exercido o controle de constitucionali-
dade concentrado pelo Tribunal de Justiça, isso visando a preservar a atividade do
Supremo Tribunal Federal como Guardião Maior da Carta da República. Cabe, dessarte,
analisar o enquadramento deste extraordinário no permissivo da alínea a do inciso III do
artigo 102 da Constituição Federal.
Quanto à competência para julgar a representação de inconstitucionalidade, define-a,
de forma linear, o § 2º do artigo 125 da Constituição Federal. O preceito não contempla
exceção. A competência para julgar a ação direta de inconstitucionalidade é determinada
pela causa de pedir lançada na inicial. A partir do momento em que se articula o conflito
da norma atacada com a Carta do Estado, impõe-se concluir pela competência do Tribunal
de Justiça, pouco importando que ocorra repetição de preceito de adoção obrigatória
inserto na Carta da República. Assim decidiu o Plenário ao apreciar a Reclamação n.
383/SP e o Agravo Regimental na Reclamação n. 425, relatados respectivamente pelos
Ministros Moreira Alves e Néri da Silveira, cujos acórdãos foram publicados nos Diários
da Justiça de 21 de maio de 1993 e 22 de outubro de 1993. Conforme consignado pela
Corte de origem, o pedido inicial teve lastro no conflito do artigo 5º e § 1º e § 2º da Lei
Complementar n. 22/91, do Município de Santos, não com a Constituição Federal, mas
com a Carta Estadual. Confira-se com o que se contém às folhas 192 e 193. Daí a impos-
sibilidade de cogitar-se, na espécie, de infringência aos artigos apontados nas razões do
extraordinário.
R.T.J. — 196 323
VOTO (Confirmação)
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Senhor Presidente, o processo é objetivo.
Começamos a discutir a problemática referente à comunicação à Câmara Municipal da
pecha de inconstitucionalidade da lei. Notamos que, na Constituição do Estado de São
Paulo, há um dispositivo que repete o artigo 52, X, da Carta Federal, e há outro específico
alusivo à representação por inconstitucionalidade, prevendo, também nesse caso, a
comunicação. Quanto a este último, tenho-o como inconstitucional. Declaro a inconsti-
tucionalidade do § 3º do artigo 90 da Constituição do Estado de São Paulo. Por que o
faço? Porque, em se tratando de representação de inconstitucionalidade, a decisão pro-
ferida se exaure em si mesma. Possui eficácia que se irradia e, uma vez concluindo o
Tribunal pelo conflito, não se pode mais cogitar da existência da lei e, portanto, não
cabe comunicar à Câmara para que suspenda a execução do que não mais existe. Esse é
o sistema revelado na jurisprudência da Corte a respeito da matéria.
Então, conheço e provejo parcialmente o recurso, declarando a inconstitucionali-
dade do parágrafo 3º do artigo 90 da Constituição do Estado de São Paulo para que não
se dê a comunicação.
R.T.J. — 196 325
EXTRATO DA ATA
RE 199.293/SP — Relator: Ministro Marco Aurélio. Recorrente: Município de
Santos (Advogada: Ilza de Oliveira Joaquim). Recorrido: Procurador-Geral de Justiça do
Estado de São Paulo.
Decisão: Por unanimidade, a Turma deliberou afetar ao Plenário o julgamento do
feito. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, os Ministros Celso de Mello e
Maurício Corrêa.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, deu provimento, em parte, ao recurso e
declarou a inconstitucionalidade do § 3º do artigo 90 da Constituição do Estado de São
Paulo, nos termos do voto do Relator. Votou o Presidente. Ausente, justificadamente, o
Ministro Joaquim Barbosa. Presidiu o julgamento o Ministro Nelson Jobim, Vice-Presi-
dente no exercício da Presidência.
Presidência do Ministro Nelson Jobim, Vice-Presidente no exercício da Presidência.
Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso,
Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso e Carlos Britto. Procurador-
Geral da República, Dr. Cláudio Lemos Fonteles.
Brasília, 19 de maio de 2004 — Luiz Tomimatsu, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
negar provimento ao recurso extraordinário, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 29 de junho de 2005 — Sepúlveda Pertence, Presidente — Carlos Ayres
Britto, Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: A chilena Maria Eugênia Adamoglu Jelincic
impetrou mandado de segurança contra ato que declarou nula a sua posse no cargo
efetivo de Enfermeira da Secretaria de Saúde do Estado de Tocantins.
2. Ao conceder a ordem, o Tribunal tocantinense o fez com base no juízo de que “a
estrangeira que comprova a residência fixa e ininterrupta no Brasil por mais de 15
anos, sem condenação penal, casada com brasileiro e possuindo filhos com este, tendo
requerido a regularização da cidadania brasileira, encontra-se amparada no permissivo
do art. 12, II, b, da Constituição Federal” (fl. 79). Donde o presente recurso extraordinário,
sob a invocação da alínea a do inciso III do art. 102 da Magna Carta e mediante o qual
se alega violação aos incisos I e II do art. 12 e inciso I do art. 37 da Constituição Federal.
3. Vê-se, então, que o Estado recorrente inadmite, nos quadros dos servidores
públicos efetivos, pessoa natural estrangeira que ainda não teve reconhecida a naciona-
lidade brasileira, embora formalmente requerida e permeada pela circunstância de con-
tar a requerente com mais de quinze anos de residência fixa no Brasil, sem condenação
penal. Por isso que postula a anulação da posse da ora recorrida no cargo de Enfermeira.
4. Em reforço de sua tese, o Estado de Tocantins invoca o teor das Súmulas 346 e
473 deste excelso Tribunal, com o objetivo de sustentar o poder-dever da Administração
Pública de anular os seus próprios atos, quando eivados de nulidade. Isto porque o
deferimento da inscrição no concurso e a assinatura do Termo de Posse da impetrante
não são suficientes (segundo alega) para caracterizar direito líquido e certo ao exercício
no respectivo cargo.
5. A seu turno, a douta Procuradoria-Geral da República, em parecer da lavra da
Dra. Sandra Cureau, opinou pelo desprovimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Conforme visto, a quaestio iuris aqui
discutida é a seguinte: saber se o requerimento de aquisição da nacionalidade brasileira
é suficiente para viabilizar a posse no cargo exitosamente disputado mediante concurso
público, nas situações em que a pessoa requerente contar com quinze anos de residência
fixa no Brasil, sem condenação penal.
8. Pois bem, minha resposta é afirmativa, a teor do seguinte dispositivo da Cons-
tituição Federal:
R.T.J. — 196 327
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Creio que, a exigir-se a concessão
da naturalização na hipótese da alínea b, ficaria sem sentido a autonomia que lhe deu a
Constituição em relação à alínea a.
O Sr. Ministro Carlos Britto (Relator): Bem observado. Ou seja, opera a alínea b
automaticamente, e o formal reconhecimento da cidadania brasileira também opera
retroativamente.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Requerida e não satisfeitos os
requisitos, a decisão que a denegue terá efeitos ex tunc.
EXTRATO DA ATA
RE 264.848/TO — Relator: Ministro Carlos Britto. Recorrente: Estado do Tocantins
(Advogado: PGE/TO – Josué Pereira de Amorim). Recorrida: Maria Eugênia Adamoglu
Jelincic de Mendonça (Advogados: Luciano Ayres da Silva e outro e Maria de Lourdes M.
de Oliveira).
Decisão: A Turma negou provimento ao recurso extraordinário, nos termos do
voto do Relator. Unânime.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Compareceu o Ministro Joaquim Barbosa
a fim de julgar processos a ele vinculados. Subprocurador-Geral da República, Dr. Edson
Oliveira de Almeida.
Brasília, 29 de junho de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
conhecer do recurso extraordinário e lhe dar provimento, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 1º de fevereiro de 2005 — Celso de Mello, Presidente — Gilmar Mendes,
Relator.
R.T.J. — 196 329
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: O recorrido, Marcelo Pahim, foi vítima de acidente
de trabalho ao destrancar um elevador da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA,
que, ao projetar-se sobre seu corpo, causou-lhe graves lesões no nervo ulnar direito.
Diagnosticada a necessidade de realização de microneurorrafia do nervo lesado,
bem como a ressecção de neuroma do referido nervo, o recorrido ajuizou ação em desfa-
vor da União para que lhe fosse assegurado o direito de se submeter à cirurgia necessária
ou que lhe fosse pago o montante referente à mencionada cirurgia e às despesas pós-
operatórias.
A sentença reconheceu a ilegitimidade passiva da União e indeferiu a petição
inicial (fl. 45).
O Tribunal de origem deu provimento à apelação, com base no art. 196 da Carta
Magna, em acórdão assim ementado (fl. 87):
“Administrativo. Sistema Único de Saúde. Ação cautelar.
Mesmo que a União entenda não mais lhe caber, desde a descentralização
política-administrativa ditada pela CR/88 e pela Lei Orgânica da Saúde, a execução
de serviços de atendimento individualizado, é inequívoco que não se pode eximir
do custeio desse atendimento, ainda que prestado prioritariamente pelo Municí-
pio e, supletivamente, pelo Estado.”
A recorrente interpôs recurso extraordinário de fls. 104/110 com fundamento no
art. 102, III, a, no qual sustenta violação ao artigo 109, I, da Carta Magna:
“Quanto ao requisito insculpido na alínea a do inciso III do artigo 102 da
Constituição Federal, verifica-se que a decisão do Tribunal a quo afrontou, repita-se,
o Inciso I, do artigo 109 da Constituição Federal.
Evidencia-se equivocada a interpretação dada na espécie em exame, uma vez
que a legislação aplicada, embasadora da decisão recorrida, é irrelevante para o
caso específico, pois que os pedidos da parte autora são decorrentes de acidente do
trabalho, sendo incompetente o Foro Federal para examinar e decidir matéria afeta
a Justiça Comum.
[...]
Ante o exposto, com base nas razões aqui expostas, a União requer o provi-
mento do presente Recurso Extraordinário, no sentido de modificar o Acórdão
atacado, por incompetência absoluta da Justiça Federal, nos moldes do inciso I, do
artigo 109 da Constituição vigente, com o que se estará fazendo justiça.”
O recorrido ofereceu contra-razões (fls. 113/120).
Admitido o recurso, dei vista à Procuradoria-Geral da República.
O Ministério Público Federal, em parecer do Subprocurador-Geral da República,
Geraldo Brindeiro, opinou pelo desprovimento do recurso (fls. 127/129).
É o relatório.
330 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Como mencionado no relatório, a ação
proposta contra a União decorreu de acidente de trabalho verificado no âmbito de rela-
ção de emprego tipicamente privada.
Ora, da simples leitura do art. 109, I, da Constituição Federal, observa-se que não
compete à Justiça Federal o julgamento de causas de acidente de trabalho. Tal compe-
tência é da Justiça Comum, que deverá processar e julgar tais causas, conforme assentado
por esta Corte, nos seguintes julgamentos:
“Ementa: Constitucional. Previdenciário. Acidente do Trabalho. Ação
Acidentária. Compete à Justiça comum dos Estados processar e julgar as ações de
acidente de trabalho (CF, art. 109, inc. I). Recurso não conhecido.” (RE 176.532,
Plenário, Redator para o acórdão Nelson Jobim, DJ de 20-11-98).
“Ementa: Constitucional. Acidente de trabalho. Ação acidentária. Com-
petência para o seu julgamento. Constituição, art. 109, I.
I - Compete à Justiça comum dos Estados-Membros processar e julgar as
ações de acidente de trabalho. CF, art. 109, I.
II - Precedentes do STF.
III - Agravo não provido.” (RE 395.109-AgR, Rel. Carlos Velloso, 2ª T., DJ de
12-12-03).
Dessa orientação divergiu o acórdão recorrido.
Ademais, a invocação do disposto no artigo 196 da Constituição para fundamentar
a responsabilidade da União em semelhantes casos afigura-se inequivocamente abusiva,
especialmente se se tem como escopo obter reparação decorrente de mazelas causadas
por acidente laboral.
Assim, dou provimento ao recurso extraordinário.
EXTRATO DA ATA
RE 348.707/RS — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Recorrente: União (Advo-
gado: Advogado-Geral da União). Recorrido: Marcelo Pahim (Advogado: Pedro Ro-
drigues Pereira).
Decisão: A Turma, por votação unânime, conheceu do recurso extraordinário e lhe
deu provimento, nos termos do voto do Relator.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Ellen Gracie, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Subprocurador-Geral da Re-
pública, Dr. Haroldo Ferraz da Nóbrega.
Brasília, 1º de fevereiro de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
R.T.J. — 196 331
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Primeira Turma, na conformidade da ata do julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade, conhecer do recurso extraordinário e lhe dar provimento,
nos termos do voto do Relator.
Brasília, 21 de setembro de 2004 — Marco Aurélio, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: O Superior Tribunal de Justiça conheceu e proveu o
recurso especial, sintetizando o desfecho da controvérsia em ementa assim redigida
(folha 339):
Tributário. ICMS. Importação de peixe seco e salgado (bacalhau). Isenção.
Gatt. CTN, art. 98. Convênio 60/91. Decreto Legislativo n. 14/60. Decreto n.
48.911/60. Súmulas 71/STJ e 575/STF.
332 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Na interposição deste recurso, foram aten-
didos os pressupostos gerais de recorribilidade. A peça, subscrita por procurador do
Estado, restou protocolada no prazo dobrado a que tem jus o recorrente.
Conheço do extraordinário. No mérito, observe-se que todo e qualquer órgão in-
vestido do ofício judicante tem competência para atuar no âmbito do controle difuso de
constitucionalidade. Na espécie, não se trata de conhecimento do especial por violação
da Carta da República, mas de apreciação da lide sem que o órgão julgador houvesse
emitido entendimento explícito sobre as matérias de defesa veiculadas e, como ressaltado
pelo Estado do Rio de Janeiro, nas contra-razões ao especial, versou-se a ultrapassagem
da jurisprudência ante os preceitos da Constituição de 1988. Incumbia ao Superior
Tribunal de Justiça adentrar o tema, decidindo como fosse de direito, e não proclamar a
ausência de conhecimento do recurso especial. Valho-me do que tenho sustentado a
respeito da transgressão do devido processo legal:
Recurso extraordinário — Princípios da legalidade e do devido processo
legal — Normas legais — Cabimento. A intangibilidade do preceito constitu-
cional que assegura o devido processo legal direciona ao exame da legislação
comum. Daí a insubsistência da tese de que a ofensa à Carta Política da República
R.T.J. — 196 333
EXTRATO DA ATA
RE 398.407/RJ — Relator: Ministro Marco Aurélio. Recorrente: Estado do Rio de
Janeiro (Advogada: PGE/RJ – Marília Monzillo de Almeida Azevedo). Recorrida: Gruta
Rio Importação e Exportação Ltda (Advogados: José Oswaldo Corrêa e outro).
Decisão: A Turma conheceu do recurso extraordinário e lhe deu provimento, nos
termos do voto do Relator. Unânime. Presidiu o julgamento o Ministro Marco Aurélio.
Não participou deste julgamento o Ministro Sepúlveda Pertence.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr.
Wagner de Castro Mathias Netto.
Brasília, 21 de setembro de 2004 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos,
conhecer do recurso extraordinário, mas negar-lhe provimento.
Brasília, 31 de maio de 2005 — Sepúlveda Pertence, Presidente — Eros Grau,
Relator para o acórdão.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Marco Aurélio: O acórdão impugnado mediante o extraordinário
implicou a improcedência do pedido de decretação de nulidade da decisão administra-
tiva por meio da qual se colocou o recorrente em disponibilidade, bem como da respec-
tiva reintegração aos quadros da magistratura paulista (folhas 259 a 261).
Os embargos de declaração a seguir protocolados foram desprovidos (folhas 272 a
275).
Nas razões do extraordinário de folhas 278 a 287, interposto com alegada base na
alínea a do permissivo constitucional, articula-se com a transgressão dos artigos 93,
inciso VII, 5º, inciso LVI, e 37 da Carta Federal. Aponta-se que inimizade entre o recor-
rente e outras duas pessoas — o Promotor Público local e o Presidente da Subseção da
Ordem dos Advogados do Brasil — gerou falsa notícia sobre conduta do recorrente —
prática de ato sexual dentro do Fórum —, o que culminou em abertura de sindicância
pela Corregedoria. Assevera-se que ambos prestaram depoimento no procedimento ad-
ministrativo instaurado, como testemunhas-chave, sem a presença do autor e do advogado
deste, o que tornaria ilícita a prova obtida, por inobservância ao contraditório, não
podendo servir de base para a condenação. Alega-se que a confissão da Escrivã-diretora —
com quem o recorrente haveria praticado o ato — não vale ao objetivo colimado, por-
quanto tal servidora, para beneficiar o marido, também servidor, teria interesse no afas-
tamento do magistrado. Por fim, entende-se violado o princípio da impessoalidade. A
suposta co-partícipe não sofrera qualquer punição administrativa. Afirma-se que, consi-
derada a existência de infração funcional cometida por dois servidores, a punição é ato
R.T.J. — 196 335
VOTO
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Na interposição deste recurso, foram ob-
servados os pressupostos gerais de recorribilidade. Os documentos de folhas 52 e 288
evidenciam a regularidade da representação processual e do preparo. Quanto à oportuni-
dade, o acórdão relativo aos embargos de declaração foi veiculado no Diário de 15 de
janeiro de 2003, quarta-feira (folha 276), ocorrendo a manifestação do inconformismo
em 17 de fevereiro imediato, segunda-feira (folha 278), após o encerramento do período
de férias forenses, no prazo assinado em lei.
O móvel do pronunciamento constante do agravo não encontra guarida nas balizas
do recurso. É que o recorrente deixou de articular a transgressão do devido processo
legal, considerada a ausência de enfrentamento dos temas constantes dos embargos
declaratórios. No fecho do recurso, pleiteou-se não o reconhecimento do vício — no que
desprovidos os declaratórios sem análise especialmente quanto à unilateralidade da pena,
não alcançando servidora que teria participado do ato que serviu a disponibilidade —,
mas a reforma do que decidido. É certo que, nas razões do extraordinário, sustentou-se a
tese de que se tem prequestionado tema jurídico quando versado em embargos declara-
tórios, pouco importando emissão, ou não, de entendimento a respeito. Esse enfoque,
todavia, contraria a jurisprudência da Corte, conjugados os Verbetes n. 282 e 356 da
Súmula:
É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão
recorrida, a questão federal suscitada.
R.T.J. — 196 337
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Ministro Marco Aurélio, quanto
ao primeiro fundamento — com todo o respeito à douta opinião de Vossa Excelência e
à Súmula n. 211 do Colendo Superior Tribunal de Justiça —, o entendimento do plená-
rio do Supremo é visceralmente contrário, porque a Súmula n. 356 se contenta com que
a matéria tenha sido posta nos embargos de declaração. Para não citar precedentes da
Primeira Turma e da Segunda Turma — vencido Vossa Excelência —, cito a última
decisão plenária de que tenho notas: RE 219.934, de 14 de junho de 2000, Relator o
eminente Ministro Octávio Gallotti.
Tenho dúvidas, sim, quanto aos embargos de declaração na questão da indivisibi-
lidade do processo em recurso extraordinário.
338 R.T.J. — 196
PEDIDO DE VISTA
O Sr. Ministro Eros Grau: Sr. Presidente, é uma situação extremamente delicada.
Vou pedir vista.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Senhor Presidente, apenas para ressaltar
mais uma vez: não houve emissão de entendimento, em si, quanto aos itens versados nos
embargos declaratórios.
Longe de mim insistir na tese da ausência do prequestionamento quando a Turma
já declarou prequestionada a matéria. Não se versou, no entanto, de forma específica,
sobre a produção de prova testemunhal sem a participação do réu e defensor, muito
embora aludindo-se ao processo de sindicância e remetendo-se ao processo administra-
tivo. Também não se emitiu entendimento acerca da valia, ou não, do depoimento da
servente que bisbilhotara pelo buraco da fechadura. Por último, não houve pronuncia-
mento no tocante à punição unilateral.
DEBATE
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Sr. Presidente, também não quero antecipar nada, mas,
segundo o que foi lido pelo eminente Ministro Relator, os embargos declaratórios ti-
nham três pontos: primeiro, a audiência na sindicância sem respeito do contraditório;
segundo, o fato de ter sido considerado o depoimento da servente entre as provas que
fundamentaram a decisão administrativa; terceiro, o fato de a escrivã não ter sido punida.
Quanto aos dois primeiros, parece que o acórdão se manifestou textualmente.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Sem fazer menção explícita aos
dispositivos constitucionais, o acórdão respondeu que, no processo administrativo,
tudo correu sob o crivo do contraditório, porque não há ilicitude na bisbilhotice.
O Sr. Ministro Carlos Britto: O processo administrativo tem duas fases: a sindicân-
cia e o inquérito propriamente dito. A sindicância vale apenas como peça informativa da
instrução, mas, no inquérito, o contraditório foi observado pelo que se depreende.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): É preciso verificar se as tais provas
colhidas apenas na sindicância basearam a decisão condenatória. É oportuno o pedido
de vista do Ministro Eros Grau.
EXTRATO DA ATA
RE 415.760/SP — Relator: Ministro Marco Aurélio. Recorrente: Pedro Amaral dos
Santos (Advogados: Adriana Lot Barreto Barbosa e outro). Recorrido: Estado de São
Paulo (Advogada: PGE/SP – Célia Almendra Rodrigues).
340 R.T.J. — 196
VOTO (Vista)
O Sr. Ministro Eros Grau: O Ministro Marco Aurélio, na sessão do dia 26-4-2005,
não conheceu do recurso extraordinário interposto por Pedro Amaral dos Santos. Isso
porque a matéria constitucional nele suscitada não estaria prequestionada e também
porque a controvérsia pertinente à nulidade do processo administrativo envolveria o
revolvimento do conjunto probatório, uma vez que a decisão nele proferida estaria
embasada em prova ilícita.
2. Sua Excelência esclareceu que, não tendo sido prequestionada a transgressão
dos artigos 93, VII; 5º, LVI, e 37 da Constituição, incidiria o óbice das Súmulas 282 e
356 desta Corte — sendo desprovidos os embargos de declaração na origem, a prestação
jurisdicional não foi entregue de forma completa.
3. Como segundo fundamento para o não-conhecimento do extraordinário, acen-
tuou que a declaração de nulidade do processo administrativo, sob o argumento de estar
esse embasado em prova ilícita, não prescinde do reexame do conjunto probatório.
4. Quanto aos fatos que deram ensejo à causa, Sua Excelência observou:
“(...) Aponta-se que inimizade entre o recorrente e outras duas pessoas — o
Promotor Público local e o Presidente da Subseção da Ordem dos Advogados do
Brasil — gerou falsa notícia sobre conduta do recorrente — prática de ato sexual
dentro do Fórum —, o que culminou em abertura de sindicância pela Corregedoria.
Assevera-se que ambos prestaram depoimento no procedimento administrativo
instaurado, como testemunha-chave, sem a presença do autor e do advogado deste,
o que tornaria ilícita a prova obtida, por inobservância ao contrário, não podendo
servir de base para a condenação. Alega-se que a confissão da Escrivã-diretora —
com quem o recorrente haveria praticado o ato — não vale ao objetivo colimado,
porquanto tal servidora, para beneficiar o marido, também servidor, teria interesse
no afastamento do magistrado. Por fim, entende-se violado o princípio da
impessoalidade. A suposta co-partícipe não sofrera qualquer punição administrati-
va. Afirma-se que, considerada a existência de infração funcional cometida por
dois servidores, a punição é ato vinculado, não incidindo o poder discricionário de
apenar apenas um deles, concluindo-se que “o procedimento adotado contamina
de nulidade o ato administrativo em sua integralidade” (folha 286).
5. Pedi vista dos autos. Passo a proferir o meu voto.
R.T.J. — 196 341
Com esses fundamentos, peço vênia ao eminente Ministro Marco Aurélio para
conhecer do recurso extraordinário, mas negar-lhe provimento.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Britto: Peço vênia ao Ministro Marco Aurélio para acompanhar
a divergência, no ponto.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Ministro Eros Grau, Vossa Excelência
conhece na parte alusiva à transgressão do devido processo legal? Seria essa a parte?
Porque, se conhecermos nessa parte, a conseqüência lógica será o provimento para deter-
minar, então, que os temas constantes dos embargos declaratórios sejam enfrentados.
Não conheci nessa parte por não haver pedido específico no recurso.
O Sr. Ministro Eros Grau: Vossa Excelência conheceria para esse efeito?
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Não. Se o Tribunal conhecer por transgressão
do devido processo legal, na segunda fase vou divergir para prover. Surge esse problema.
Vejam essa parte do voto:
O móvel do pronunciamento constante do agravo não encontra guarida nas
balizas do recurso. É que o recorrente deixou de articular a transgressão do devido
processo legal, considerada a ausência de enfrentamento dos temas constantes dos
embargos declaratórios. No fecho do recurso, pleiteou-se não o reconhecimento do
vício — no que desprovidos os declaratórios sem análise especialmente quanto à
unilateralidade da pena, (...)
Foi punido o homem — depois dizem que somos machistas — e não a mulher.
O Sr. Ministro Eros Grau: O que temos de concreto é o seguinte, na minha visão: há
prequestionamento.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Doutro modo caímos no problema que levou à juris-
prudência de que basta ter sido suscitada a questão.
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Quanto a isso, sim. Mas não é
fundamento do recurso, segundo o voto do Ministro Marco Aurélio.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Aqui, o grande problema é que não houve,
nas razões recursais, o pleito de reconhecimento da nulidade. E se pretende que o Tribu-
nal julgue a matéria, pela vez primeira, para saber se se pode punir apenas um dos que
tiveram desvio de conduta.
O Sr. Ministro Cezar Peluso: Mas isso não diz respeito a nenhuma matéria consti-
tucional.
O Sr. Ministro Carlos Britto: Em regra, essas alegações são de ordem infraconstitu-
cional. Ofensa ao devido processo legal.
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Por isso é que eu disse:
Esse enfoque, todavia, contraria a jurisprudência da Corte, conjugados os
Verbetes n. 282 e 356 da Súmula:
(...)
344 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
RE 415.760/SP — Relator: Ministro Marco Aurélio. Relator para o acórdão:
Ministro Eros Grau. Recorrente: Pedro Amaral dos Santos (Advogados: Adriana Lot
Barreto Barbosa e outro). Recorrido: Estado de São Paulo (Advogados: PGE/SP – Célia
Almendra Rodrigues).
Decisão: Por maioria de votos, a Turma conheceu do recurso extraordinário, mas
lhe negou provimento; vencido o Ministro Marco Aurélio, Relator, que dele não
conhecia, mas, conhecido, lhe dava provimento. Relator para o acórdão o Ministro
Eros Grau.
Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à sessão os Ministros Marco
Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr.
Eitel Santiago de Brito Pereira.
Brasília, 31 de maio de 2005 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.
R.T.J. — 196 345
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
conhecer do recurso extraordinário e lhe dar provimento, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 14 de junho de 2005 — Sepúlveda Pertence, Presidente — Eros Grau,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eros Grau: Trata-se de mandado de segurança preventivo impetrado
pelo Banco do Brasil S.A. contra atos do Prefeito e do Coordenador do Procon do
Município de Criciúma, objetivando que suas agências e seus postos de serviços bancá-
rios sejam desobrigados do cumprimento das exigências impostas pela Lei Municipal n.
4.188/01, que dispõe sobre o tempo de atendimento ao público nas agências bancárias
estabelecidas no Município de Criciúma.
2. O juízo de primeiro grau julgou improcedente o mandamus, sob o fundamento
de que “[a] lei municipal não coloca em xeque, sob ótica alguma, a normatização do
sistema financeiro nacional. Não trata de dinheiro, de movimentação de crédito, enfim,
de nada que diga respeito a finanças. Cuida do respeito à pessoa, da preservação da
dignidade (art. 1º, inc. III, da CF)”.
3. Interposto recurso de apelação, a Segunda Câmara de Direito Público do Tribunal
de Justiça do Estado de Santa Catarina deu provimento ao apelo, por entender que a
matéria referente ao “tempo de atendimento daqueles que comparecem a agência de
estabelecimento bancário é também matéria suscetível de ser disciplinada por legisla-
ção federal”, assim como aquela referente ao horário de funcionamento desses estabele-
cimentos.
346 R.T.J. — 196
PRELIMINAR
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Sr. Presidente, com relação à matéria preliminar
suscitada pela advogada do Banco do Brasil a respeito da prejudicialidade do extraordi-
nário — porque o recurso especial não teria sido conhecido —, recordo a jurisprudência
do Pleno, no sentido de que o acórdão, no recurso especial, só prejudica o extraordinário
se tiver sido julgado procedente.
De modo que passo ao mérito para afirmar que assiste razão ao recorrente.
VOTO
O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Assiste razão ao recorrente. O Município de
Criciúma exerceu competência que lhe foi atribuída pelo artigo 30, inciso I, da Consti-
tuição do Brasil ao legislar sobre o tempo de atendimento ao público nas agências
bancárias estabelecidas no respectivo território municipal.
2. O tema diz respeito a interesse local do Município, matéria que não se confunde
com a atinente às atividades-fim das instituições financeiras. Ademais, incluem-se no
âmbito dos assuntos de interesse local os relativos à proteção do consumidor. Vale
mesmo dizer: o Município está vinculado pelo dever de dispor sobre essa questão no
plano local.
3. A lei municipal não dispôs sobre política de crédito, câmbio, seguros e transfe-
rência de valores — artigo 22, inciso VII, da CB/88. Também não regulou a organização,
o funcionamento e as atribuições de instituições financeiras. Limita-se a impor regras
tendentes a assegurar adequadas condições de atendimento ao público na prestação de
serviços, por essas instituições, ao consumidor/cliente.
4. Não envolve transgressão da competência reservada ao Congresso Nacional
pelo artigo 48, inciso XIII, da Constituição do Brasil, para dispor sobre matéria financeira
e funcionamento de instituições financeiras. Também não diz respeito à estruturação do
sistema financeiro nacional, matéria que, nos termos do disposto no artigo 192 da CB/88,
há de ser regulada por lei complementar.
5. Esta Corte, ao pronunciar-se sobre matéria semelhante, assentou a competência
do Município, por se tratar de questão vinculada a interesse local, para legislar sobre o
atendimento ao público no interior de agências bancárias. Neste sentido o RE n.
312.050, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 6-5-05; e o RE n. 208.383, Relator o
Ministro Néri da Silveira, DJ de 7-6-99.
Dou provimento ao recurso extraordinário.
R.T.J. — 196 347
O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, temos dois temas em jogo. O
primeiro não se confunde com o horário de funcionamento das agências bancárias. Diz
respeito, isso sim, ao tempo de permanência do usuário dos serviços na fila, ou seja, à
adequação e eficácia da prestação dos serviços. Legislou-se, atentando para a demanda
no próprio município, a procura do estabelecimento bancário pelo munícipe, e se obser-
vou o princípio da proporcionalidade. Não posso comparar os bancos com a situação do
INSS, em que as filas são intermináveis, a pessoa tem de chegar de madrugada para,
talvez, naquele dia, de posse de uma senha, ser atendida. Aqui não, aqui estamos no
âmbito de uma atividade econômica que os dados apontam como altamente lucrativa, e
versou-se o período máximo de permanência na fila, de quinze minutos, devendo o
banco precatar-se, colocar, mesmo diante da automação dos serviços, gente para atender
aos munícipes.
O segundo dado — a meu ver também não está na área de atuação, em si, da União —
faz-se ligado à existência de sanitários na agência. É algo de razoabilidade maior, levando
em conta a envergadura, como eu disse, da própria atividade desenvolvida.
Por isso, ressaltando a clareza da sustentação, da tribuna, da Dra. Magda Mon-
tenegro, a quem muito prezo e lembro ainda o período em que Sua Excelência não
integrava o corpo jurídico do Banco, mas atuava em filial de agência aqui nesta Corte,
conheço do recurso e o provejo.
VOTO
O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Presidente): Na sustentação oral, a ilustre Ad-
vogada suscitou a incidência da Súmula 283. Mas, a mim me parece que não é o caso.
Para cogitar da aplicação da Lei 4.545, era primeiro fixar que a competência era federal.
Ora, mostrou bem o Ministro Relator que a competência da União para dispor sobre o
“funcionamento de instituições financeiras”, obviamente, não tem nada a ver com a
atenção e a celeridade devida ao cliente, com instalação de sanitários nas agências. Isto
é matéria de típico interesse local.
Recordo, além dos precedentes a que se refere o eminente Ministro Relator, deci-
são mais recente da Segunda Turma, no RE 240.406, Relator o Ministro Carlos Velloso,
de 25-11-2003, onde se julgou, também, ser da competência municipal, em nome da
segurança dos munícipes, a exigência de portas eletrônicas de vidro, à prova de bala etc.
Também não tenho dúvidas em acompanhar o voto do eminente Ministro Relator,
para dar provimento ao recurso.
EXTRATO DA ATA
RE 432.789/SC — Relator: Ministro Eros Grau. Recorrente: Coordenador do Procon
do Município de Criciúma (Advogados: Isolde Espíndola e outro). Recorrido: Banco do
Brasil S.A. (Advogados: Magda Montenegro e outro).
Decisão: A Turma conheceu do recurso extraordinário e lhe deu provimento, nos
termos do voto do Relator. Unânime. Falou pelo recorrido a Dra. Magda Montenegro.
348 R.T.J. — 196
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do Ministro Nelson Jobim, na confor-
midade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
conhecer e dar provimento ao recurso extraordinário para indeferir a segurança, decla-
rando a inconstitucionalidade do § 6º do artigo 1º da Lei n. 9.503, de 8 de março de
1994, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 30 de junho de 2005 — Nelson Jobim, Presidente — Gilmar Mendes,
Relator.
EXTRATO DA ATA
RE 433.233/SC — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Recorrente: Estado de Santa
Catarina (Advogado: PGE/SC – Ivan S. Thiago de Carvalho). Recorridos: Henrique
Ruiz Werminghoff e outro (Advogados: Alexandre Trichez e outro).
Decisão: Por proposta do eminente Ministro Relator, acolhida pela Turma, afetou-se
o julgamento ao Tribunal Pleno. Compareceu à sessão o Dr. Loreno Weissheimer, repre-
sentante do recorrente. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Celso
de Mello. Presidiu este julgamento o Ministro Carlos Velloso.
R.T.J. — 196 349
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Trata-se de recurso extraordinário interposto com
fundamento no art. 102, III, a, da Constituição Federal contra acórdão assim ementado:
“Gratificação complementar de vencimento instituída pela Lei n. 9.503/94,
alterada pela Lei n. 9.860/95 — Base de cálculo inferior ao salário mínimo legal —
Impossibilidade — Segurança concedida.
Nos termos do § 6º do artigo 1º da Lei n. 9.504/94, a gratificação complementar
de vencimento deverá ser calculada sobre o vencimento do cargo efetivo, res-
peitado, porém, como valor mínimo para a base de cálculo o salário mínimo
vigente.” (Fl. 103)
No voto do Relator, restou consignado:
“A gratificação complementar de vencimento foi instituída pela Lei n.
9.503/94, destinada para os servidores civis, ativos e inativos, pertencentes aos
quadros de pessoal dos órgãos a Administração Direta, Fundação Catarinense de
Cultura, Fundação Catarinense de Educação Especial e Fundação Catarinense de
Desportos, correspondente a 90% (noventa por cento) do vencimento do cargo
efetivo.
Consoante o § 6º, do artigo 1º da referida lei, a base de cálculo sobre a qual
deve incidir a gratificação está limitada ao valor do salário mínimo nacionalmente
unificado.
A Lei estadual n. 9.860/95, por seu turno, através de seu artigo 3º, caput,
trouxe modificações à lei anterior, no que concerne ao percentual da verba
remuneratória em estudo, uma vez que o elevou para 120% (cento e vinte por
cento), não alterando, contudo, a regra constante no § 6º, do artigo 1º, da Lei n.
9.503/94, cuja redação estabelece:
‘A base de cálculo da Gratificação de que trata o caput deste artigo não
será inferior ao salário mínimo nacionalmente unificado’.
Assim sendo, continua válida e em pleno vigor a regra supracitada, imerecendo
guarida a alegação da douta autoridade impetrada de que a base de cálculo da
Gratificação Complementar de Vencimento é o valor do vencimento do cargo
efetivo, por força do caput, do art. 3º, da Lei n. 9.860/95, o que possibilitaria a
incidência da referida Gratificação sobre valor inferior ao salário mínimo nacio-
nalmente unificado.
350 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): O acórdão recorrido entendeu que a vin-
culação da base de cálculo da gratificação complementar de vencimento ao salário
mínimo não configuraria ofensa aos arts. 7º, IV, e 39, § 3º, da Constituição Federal.
Irrepreensíveis os argumentos do recorrente.
A decisão divergiu da orientação firmada por esta Corte, v.g., o RE 247.208, Rel.
Moreira Alves, lª T., DJ de 1º-6-01, assim ementado:
“Ementa: Recurso extraordinário. Servidor Público. Piso de vencimento.
Salário mínimo.
— O Plenário desta Corte, ao julgar os RREE 197.072 e 199.098, que trata-
ram de hipótese análoga à presente, firmou o entendimento de que o artigo 27, I, da
Constituição do Estado de Santa Catarina, para compatibilizar-se com os artigos 7º
IV, e 39, § 2º, da Carta Magna Federal, só pode ser entendido no sentido de que se
refere ele à remuneração total recebida pelo servidor e não apenas ao vencimento-
base.
Dessa orientação divergiu o acórdão recorrido.
Recurso extraordinário conhecido e provido.”
E, ainda, nos RREE 197.072, Rel. Marco Aurélio, DJ de 8-6-2001, e 199.098, Rel.
Ilmar Galvão, DJ de 18-5-2001, nos quais esta Corte mais uma vez firmou o entendimento
segundo o qual o dispositivo da Constituição catarinense, em face das normas dos arts.
7º, IV, e 39, § 2º (3º, com a redação da EC 19, de 1998), somente poderia ser entendido
como remuneração total do servidor, ou seja, vencimentos e vantagens.
R.T.J. — 196 351
Monocraticamente, em casos análogos, esta Corte tem decidido nesse mesmo sen-
tido, v.g., os RREE 433.248, Rel. Eros Grau (9-3-05), e 426.063, Rel. Marco Aurélio, DJ
de 6-8-04, destacando-se, neste último, o seguinte trecho da decisão:
“Salário mínimo — Vinculação — Inciso IV do artigo 7º da Constituição
Federal — Gratificação complementar de vencimentos — Recurso extraordi-
nário — Conhecimento e provimento.
(...)
O alcance do preceito outro não é senão evitar que o atrelamento do salário mínimo
a situações diversas acabem por inibir o legislador na necessária reposição do poder
aquisitivo da parcela, isso objetivando o atendimento ao que nele previsto. Ora, na
espécie, adotou-se, como base para cálculo da gratificação complementar de vencimentos,
fator vedado pela Carta da República.
2. Conheço deste extraordinário pela violência ao inciso IV do artigo 7º da
Constituição Federal e o provejo, na forma nele preconizada, ou seja, para, refor-
mando o acórdão proferido pela Corte de origem, denegar a segurança. Com isso,
ficam invertidos os ônus da sucumbência, a cujos efeitos ficam isentos os autores,
por serem beneficiários da assistência judiciária gratuita”.
Assim, conheço e dou provimento ao recurso extraordinário, para indeferir a segu-
rança, ficando declarada a inconstitucionalidade do § 6º do art. 1º da Lei n. 9.503, de 8
de março de 1994, do Estado de Santa Catarina.
Sem honorários (Súmula 512/STF).
EXTRATO DA ATA
RE 433.233/SC — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Recorrente: Estado de Santa
Catarina (Advogado: PGE/SC – Ivan S. Thiago de Carvalho). Recorridos: Henrique
Ruiz Werminghoff e outro (Advogados: Alexandre Trichez e outro).
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu e deu provimento ao recurso
extraordinário para indeferir a segurança, declarando a inconstitucionalidade do § 6º do
artigo 1º da Lei n. 9.503, de 8 de março de 1994, nos termos do voto do Relator. Votou
o Presidente, Ministro Nelson Jobim. Ausente, justificadamente, o Ministro Carlos
Velloso. Falou pelo recorrente o Dr. João Martins Neto, Procurador do Estado.
Presidência do Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda
Pertence, Celso de Mello, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso,
Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr.
Haroldo Ferraz da Nóbrega.
Brasília, 30 de junho de 2005 — Luiz Tomimatsu, Secretário.
352 R.T.J. — 196
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO 498.494 — PR
Relator: O Sr. Ministro Gilmar Mendes
Embargante: Odebrecht Comércio e Indústria de Café Ltda. — Embargados: Caixa
Econômica Federal – CEF e União
Embargos de declaração em agravo de instrumento. 2. Decisão
monocrática do Relator. Embargos de declaração recebidos como agravo
regimental. 3. Recurso extraordinário. Protocolo ilegível. Súmula 288/STF.
Precedentes. 4. Certidões do Tribunal de origem. Exame. Tempestividade.
Impossibilidade. Competência do Tribunal ad quem. 5. Agravo regi-
mental a que se nega provimento.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, preliminarmente, por
unanimidade de votos, conhecer dos embargos de declaração como recurso de agravo e
a este negar provimento, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 25 de outubro de 2005 — Celso de Mello, Presidente — Gilmar Mendes,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Ao apreciar o AI 498.494, proferi a seguinte decisão
(fl. 286):
“Decisão: Trata-se de agravo contra decisão que negou processamento a
recurso extraordinário fundado no art. 102, III, a, da Constituição Federal.
A agravante não trasladou as cópias exigidas pelo art. 544, § 1º, do Código
de Processo Civil, para a formação do instrumento de agravo (cópia da procuração
outorgada aos advogados da agravada).
Ademais, verifica-se, também, que a agravante não trasladou cópia da petição
do recurso extraordinário com o protocolo de interposição legível. Impossível,
portanto, a verificação da tempestividade do apelo extremo.
Esta Corte firmou entendimento segundo o qual a apresentação do protocolo
legível na petição do recurso extraordinário constitui elemento indispensável no
julgamento do agravo de instrumento, sendo o juízo sobre a tempestividade do
recurso uma preliminar ao exame do mérito. Nesse sentido, o AI 297.078-2-AgR, 1ª
T., Rel. Ilmar Galvão, DJ de 4-5-01, assim ementado:
“Ementa: Agravo de instrumento. Carimbo do protocolo na petição
de recurso extraordinário que se apresenta ilegível.
Hipótese de incidência da Súmula 288 desta Corte.
Agravo desprovido.”
Incidem, portanto, as Súmulas 288 e 639/STF.
Assim, não conheço do agravo (art. 557, caput, do CPC).”
R.T.J. — 196 353
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Tendo em vista o princípio da economia
processual, recebo os embargos como agravo regimental e, desde logo, passo a apreciá-lo.
No que concerne à falta da cópia da procuração outorgada à agravada, razão assiste
à agravante.
Entretanto, quanto à apresentação do protocolo de forma ilegível, a agravante não
conseguiu afastar os fundamentos da decisão agravada, a qual foi proferida nos termos
da jurisprudência desta Corte, no sentido de que a apresentação do protocolo de interpo-
sição do apelo extremo de maneira ilegível, na formação do instrumento do agravo, atrai
a aplicação da Súmula n. 288 do STF (v.g., o AI 161.795-AgR, 1ª T., Rel. Ellen Gracie, DJ
de 15-3-02; e o AI 323.549-AgR, 2ª T., Rel. Celso de Mello, DJ de 28-9-01).
Ressalte-se que não procede a alegação de que a certidão emitida pelo Tribunal de
origem seria o suficiente para aferir a tempestividade do apelo extremo, visto que cabe
ao Tribunal ad quem o exame da tempestividade do recurso que há de julgar. Nesse
sentido, o AI 383.925-AgR, 1ª T., Rel. Moreira Alves, DJ de 21-6-02, assim ementado:
354 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
AI 498.494-ED/PR — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Embargante: Odebrecht
Comércio e Indústria de Café Ltda. (Advogados: Romeu Saccani e outro). Embargados:
Caixa Econômica Federal – CEF (Advogados: Heloísa Sabedotti e outro) e União
(Advogado: PFN – Romulo Ponticelli Giorgi Júnior).
Decisão: A Turma, preliminarmente, por votação unânime, conheceu dos embargos de
declaração como recurso de agravo, a que, também por unanimidade, negou provimento, nos
termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Carlos
Velloso.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Ellen Gracie, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Subprocuradora-Geral da
República, Dra. Maria Caetana Cintra Santos.
Brasília, 25 de outubro de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na
conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos,
negar provimento ao recurso de agravo, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 25 de outubro de 2005 — Celso de Mello, Presidente — Gilmar Mendes,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Ao apreciar o AI 530.658, proferi a seguinte decisão
(fl. 445):
“Decisão: Trata-se de agravo de instrumento em matéria criminal contra de-
cisão que negou processamento a recurso extraordinário fundado no art. 102, III, a,
da Constituição Federal.
O prazo para a interposição do agravo de instrumento, em matéria criminal, é
de cinco dias (art. 28 da Lei n. 8.038, de 28 de maio de 1990). Verifica-se que a
decisão agravada foi publicada em 24-10-03 (fl. 428) e o agravo foi interposto em
4-11-03 (fl. 05). Portanto, o recurso é intempestivo.
Assim, não conheço do agravo de instrumento (art. 38 da Lei n. 8.038, de 28
de maio de 1990, c/c o art. 21, § 1º, do RISTF).”
O agravante, Cinésio de Carvalho, interpôs, por fax, o agravo regimental de fls.
449/450 e apresentou o original dentro do prazo estipulado pela Lei 9.800, de 26 de
maio de 1999 (fls. 454/455), no qual sustenta:
“2. Com a devida vênia, mister ressaltar que ao contrário do que posto no r.
decisório como único argumento para o não conhecimento do agravo, o mesmo
não foi protocolizado fora do prazo, mas sim dentro do prazo do art. 191 do CPC,
que prevê prazo em dobro para litisconsortes com procuradores distintos, como é o
caso da espécie em apreço.
3. Sendo assim, ao basear-se em argumento fálico para não conhecer o agravo,
com a devida vênia, o Judiciário que tem obrigação constitucional de dar por
inteiro a tutela jurisdicional, está negando vigência ao art. 5º, XXXV, LIV e LV da
CF/88.”
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Conforme se pode aferir nos autos, o
acórdão recorrido (fl. 295) foi proferido em relação aos réus: Delma Maria Ferreira,
Germânio Marcos de Carvalho, Cinésio de Carvalho e Celso Geraldo de Oliveira.
O recurso extraordinário foi interposto por Germânio Marcos de Carvalho e Cinésio
de Carvalho, por meio de um único procurador, qual seja, Dr. Raimundo Cândido Júnior.
À fl. 420, consta uma certidão do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, de
transcurso do prazo, sem interposição de recurso de qualquer natureza, com relação aos
demais réus.
356 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
AI 530.658-AgR/MG — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Agravante: Cinésio de
Carvalho (Advogado: Raimundo Cândido Júnior). Agravado: Ministério Público do
Estado de Minas Gerais.
Decisão: A Turma, por votação unânime, negou provimento ao recurso de agravo,
nos termos do voto do Relator.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Ellen Gracie, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Subprocuradora-Geral da
República, Dra. Maria Caetana Cintra Santos.
Brasília, 25 de outubro de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma
do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na confor-
midade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, não
conhecer os embargos de declaração, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 25 de outubro de 2005 — Celso de Mello, Presidente — Gilmar Mendes,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Esta Turma, ao apreciar o agravo regimental no AI
546.296, proferiu o acórdão de fl. 89, assim ementado:
“Ementa: Agravo regimental em agravo de instrumento. 2. Turnos ininter-
ruptos de revezamento. Decisão em consonância com precedente desta Corte. RE
205.815, Nelson Jobim, Pleno, DJ de 2-10-98. 3. Cálculo de horas extras. Matéria
infraconstitucional. 4. Aplicação de multa de 1% (um por cento) sobre o valor da
causa. Caráter infundado do recurso. Posicionamento pacífico da Corte. 5. Agravo
regimental a que se nega provimento.”
A embargante, Fiat Automóveis S.A., opôs os embargos de declaração de fls. 92/95,
nos quais sustenta:
“1. Pede a embargante que a E. Turma se pronuncie quanto a relevantes
aspectos atinentes ao tema ‘horista. divisor 180’.
1.1. Segundo o disposto no art. 7º, item XIV, da Constituição da República,
está incluída entre os direitos sociais do trabalhador a garantia a ‘jornada de seis
horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento.’
1.2. A Orientação de nº 275, do Tribunal Superior do Trabalho, declara que
‘Inexistindo instrumento coletivo fixando jornada diversa, o empregado submetido
a turno ininterrupto de revezamento faz jus ao pagamento das horas laboradas
além da 6ª, bem como ao respectivo adicional.’
1.3. Com relação ao empregado mensalista, a referida norma constitucional
revela-se auto-executável, pois, respeitado o valor do salário mensal contratual e
considerada a redução da jornada de oito para seis horas, divide-se aquele valor
por 180, encontrando-se assim o valor do ‘salário-hora normal, no caso de empre-
gado mensalista’ (art. 64 da Consolidação das Leis do Trabalho), para então calcu-
lar-se o valor das eventuais horas-extras.
[...]
1.5. 0 mesmo não acontece com o horista, cujo salário-hora normal é aquele
estipulado em seu contrato de trabalho e não pode ser alterado senão por força de
lei, desde que se preste obediência ao princípio constitucional da reserva legal (art.
5º, item II, da Lei Maior).
1.6. Respeitado o valor de seu ‘salário-hora normal’ e contratual, o horista
receberá a remuneração de eventuais horas extras com base nesse mesmo salário-
hora, mas com acréscimo de cinqüenta por cento (50%), garantido por disposição
do art. 7º, item XVI, da Lex Legum.”
É o relatório.
358 R.T.J. — 196
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Esta Turma, ao julgar o agravo regimental,
aplicou multa de 1% sobre o valor da causa, com fundamento no art. 557, § 2º, do Código
de Processo Civil.
O citado dispositivo estabelece que fica “a interposição de qualquer outro recurso
condicionada ao depósito do respectivo valor”.
Entretanto, a agravante não comprovou o pagamento da multa imposta, o que
impossibilita o conhecimento dos embargos. Nesse sentido, o AI 539.465-AgR-ED, 1ª
T., Rel. Cezar Peluso, DJ de 23-9-05, assim ementado:
“Ementa: Recurso. Embargos de declaração. Multa aplicada em agravo regi-
mental. Depósito não efetuado. Não-satisfação da condição para interposição de
recurso. Embargos não conhecidos. Aplicação do art. 557, § 2º, do CPC. Não se
conhece do recurso quando não satisfeita uma das condições para sua interposição.”
Assim, não conheço dos embargos de declaração.
EXTRATO DA ATA
AI 546.296-AgR-ED/MG — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Embargante: Fiat
Automóveis S.A. (Advogados: Hélio Carvalho Santana e outro). Embargado: Fauze
Salomão Filho (Advogado: Marcello Gomes Pereira).
Decisão: A Turma, por votação unânime, não conheceu dos embargos de declara-
ção, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o
Ministro Carlos Velloso.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Ellen Gracie, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Subprocuradora-Geral da
República, Dra. Maria Caetana Cintra Santos.
Brasília, 25 de outubro de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello,
na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de
votos, negar provimento ao recurso de agravo, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 25 de outubro de 2005 — Celso de Mello, Presidente — Gilmar Mendes,
Relator.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Ao apreciar o AI 549.756, proferi a seguinte decisão
(fl. 215):
“Decisão: Trata-se de agravo contra decisão que negou processamento a
recurso extraordinário fundado no art. 102, III, a, da Constituição Federal.
Os agravantes não trasladaram cópias exigidas pelo art. 544, § 1º, do Código
de Processo Civil, para a formação do instrumento de agravo (cópia da certidão de
intimação do acórdão recorrido e da procuração outorgada ao subscritor da petição
de agravo).
Assim, não conheço do agravo (art. 557, caput, do CPC).”
Os agravantes, Angela Regina de Andrade Cabezas e outros, interpuseram agravo
regimental (fls. 222/224), no qual sustentam:
“Salvo melhor juízo, houve equívoco do Desembargador/Relator ao apreciar
os documentos do translado, uma vez que a certidão de intimação do acórdão
recorrido encontra-se encartada nos autos às fls. 311, como mencionado e destacado
na petição de interposição de recurso no item 10.
[...]
Da mesma forma Excelências, a procuração do subscritor do recurso — Dr.
Manoel José de Alencar Filho – OAB/SP 128.289 — também encontra-se nos
autos às fls 299/300, que se verifica do substabelecimento sem reserva de poderes
passado pela advogada anterior — Dra. Cintia Aoki —, como relacionado no item
2 da petição de interposição.”
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): As agravantes não demonstraram o desa-
certo da decisão agravada.
Ao contrário do alegado, não consta nos autos a cópia da procuração outorgada ao
subscritor da petição de agravo instrumento. Além disso, cumpre ressaltar que a certidão
necessária para aferição da tempestividade do recurso extraordinário seria a certidão de
intimação do acórdão dos embargos de declaração, que também não consta nos autos.
360 R.T.J. — 196
EXTRATO DA ATA
AI 549.756-AgR/SP — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Agravantes: Angela
Regina de Andrade Cabezas e outro (Advogados: Divino Pereira de Almeida e outro).
Agravado: Estado de São Paulo (Advogada: PGE/SP – Maria Beatriz de Biagi Barros).
Decisão: A Turma, por votação unânime, negou provimento ao recurso de agravo,
nos termos do voto do Relator.
Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Carlos
Velloso, Ellen Gracie, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Subprocuradora-Geral da
República, Dra. Maria Caetana Cintra Santos.
Brasília, 25 de outubro de 2005 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.
ÍNDICE ALFABÉTICO
A
Ct Ação direta de inconstitucionalidade. (...) Competência jurisdicional. RE
199.293 RTJ 196/320
PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Medida cautelar: apreciação. Manda-
to. Poderes específicos: inexigibilidade. ADI 1.266 RTJ 196/92
PrCv Ação direta de inconstitucionalidade: natureza objetiva. (...) Exceção de
suspeição. AC 349 RTJ 196/15
Ct Ação direta estadual. (...) Controle concentrado de constitucionalidade. RE
199.293 RTJ 196/320
PrSTF Ação direta proposta no Estado-Membro e no STF. (...) Medida cautelar. AC
349 RTJ 196/15
PrPn Ação penal. Atipicidade da conduta. Convênio: licitação dispensável. Dis-
pensa irregular de licitação. Lei n. 8.666/93, art. 89. Inq 1.957 RTJ 196/101
PrPn Ação penal. Crime material contra a ordem tributária. Processo administrati-
vo pendente. Condição objetiva de punibilidade: inocorrência. Justa causa:
ausência. Prescrição: suspensão. Lei n. 8.137/90, art. 1º. HC 84.092 RTJ 196/
218
PrPn Ação penal. Incompetência absoluta. Sentença: anulação. Prescrição pela
pena concretizada: impossibilidade. HC 84.950 RTJ 196/251
PrPn Ação penal. Inquérito policial: prescindibilidade. Elemento de prova: pro-
cesso administrativo. Investigação pelo Ministério Público: inocorrência.
Inq 1.957 RTJ 196/101
PrPn Ação penal. Justa causa. Crime de deserção. Prazo: contagem em horas.
Código de Processo Penal Militar – CPPM, art. 451, § 1º. RHC 84.986 RTJ
196/254
IV Açã-Ato — ÍNDICE ALFABÉTICO
PrPn Ação penal. Justa causa. Crime material contra a ordem tributária. Procedi-
mento administrativo fiscal exaurido. Lei n. 8.137/90, arts. 1º, I e II, e 3º, III.
RHC 85.513 RTJ 196/302
Ct Acidente de trabalho. (...) Competência jurisdicional. RE 348.707 RTJ
196/328
PrPn Acórdão criminal. Regime prisional. Recurso exclusivo da defesa. Reinci-
dência. Fato estranho à sentença: descabimento. HC 83.509 RTJ 196/204
Ct ADCT da Constituição do Estado de Rondônia/89, art. 34: inconstituciona-
lidade. (...) Processo legislativo. ADI 106 RTJ 196/3
Adm ADCT da Constituição Federal/88, art. 19. (...) Cargo público. RE 199.293
RTJ 196/320
Adm ADCT da Constituição Federal/88, art. 19. (...) Servidor público estadual.
ADI 3.332 RTJ 196/155
PrCv Advogado único. (...) Litisconsórcio. AI 530.658-AgR RTJ 196/354
PrCv Agravo de instrumento. Decisão interlocutória: manutenção por TRF. Re-
curso extraordinário: retenção. Suspensão de liminar e petição: conexão
inocorrente. Pet 3.515-QO RTJ 196/166
PrCv Agravo de instrumento. Traslado deficiente. Data do protocolo: carimbo
ilegível. Tempestividade: prova. Súmula 288. AI 498.494-ED RTJ 196/352
PrCv Agravo de instrumento. Traslado deficiente. Procuração outorgada ao advo-
gado subscritor. Certidão de intimação. CPC/73, art. 544, § 1º. AI 549.756-
AgR RTJ 196/358
PrCv Agravo de instrumento: negativa de seguimento. (...) Mandado de segurança.
MS 23.605-AgR-ED RTJ 196/170
PrSTF Antecipação de tutela em ação civil pública. (...) Medida cautelar. AC 929-QO
RTJ 196/58
PrPn Aplicação da lei penal. (...) Prisão preventiva. HC 85.764 RTJ 196/306
Ct Aproveitamento de potencial hidráulico. (...) Competência originária. Rcl
3.074 RTJ 196/142
PrPn Arquivamento. (...) Inquérito policial. HC 84.253 RTJ 196/223
PrPn Atipicidade da conduta. (...) Ação penal. Inq 1.957 RTJ 196/101
Int Atipicidade no Brasil. (...) Extradição. Ext 900-extensão RTJ 196/35
Ct Ato do primeiro secretário da Câmara dos Deputados. (...) Competência
originária. MS 24.189-AgR RTJ 196/173
PrPn Ato jurisdicional do STF em outro HC. (...) Habeas corpus. HC 85.468-AgR
RTJ 196/295
ÍNDICE ALFABÉTICO — Ban-Cód V
B
Ct Banco: tempo máximo de espera na fila. (...) Competência legislativa. RE
432.789 RTJ 196/345
Adm Base de cálculo. (...) Gratificação. RE 433.233 RTJ 196/348
Pn Bem de pequeno valor. (...) Pena. HC 84.424 RTJ 196/235
Cv Bem penhorado: não-restituição. (...) Prisão civil. HC 84.484 RTJ 196/240
Int Brasileiro nato. (...) Extradição. Ext 916 RTJ 196/50
C
PrCv Carência da ação. (...) Mandado de segurança. MS 24.511 RTJ 196/176
Adm Cargo público. Concurso público: necessidade. Estabilidade “versus” efetiva-
ção. ADCT da Constituição Federal/88, art. 19. RE 199.293 RTJ 196/320
PrSTF Caso concreto: exame. (...) Recurso extraordinário. RE 398.407 RTJ 196/331
PrCv Certidão de intimação. (...) Agravo de instrumento. AI 549.756-AgR RTJ
196/358
PrSTF Certidão do tribunal de origem: insuficiência. (...) Recurso extraordinário.
AI 498.494-ED RTJ 196/352
Cv CF/88, art. 5º, LXVII. (...) Prisão civil. HC 84.484 RTJ 196/240
Adm CF/88, art. 12, II, “b”. (...) Concurso público. RE 264.848 RTJ 196/325
Ct CF/88, art. 30, I. (...) Competência legislativa. RE 432.789 RTJ 196/345
Adm CF/88, art. 37, II. (...) Servidor público estadual. ADI 3.332 RTJ 196/155
Ct CF/88, art. 53, § 3º, redação da EC n. 35/01. (...) Imunidade parlamentar. AC
700-AgR RTJ 196/31
Ct CF/88, art. 102, I, “d”. (...) Competência originária. MS 24.189-AgR RTJ
196/173
Ct CF/88, art. 102, I, “f”. (...) Competência originária. ACO 684-QO RTJ 196/25
Pn Circunstância judicial desfavorável: ausência. (...) Regime prisional. HC
83.509 RTJ 196/204
PrPn Citação-edital. Revelia. Defensor dativo: nomeação. Defesa prévia apresen-
tada. Nulidade inexistente. HC 85.438 RTJ 196/292
PrPn Clamor social e credibilidade do Judiciário. (...) Prisão preventiva. HC
83.040 RTJ 196/200
PrPn Código de Processo Penal Militar – CPPM, art. 451, § 1º. (...) Ação penal.
RHC 84.986 RTJ 196/254
VI Cód-Com — ÍNDICE ALFABÉTICO
Trbt Código Tributário Nacional – CTN, arts. 173 e 174. (...) Prescrição. ACO 261
RTJ 196/13
PrPn Coisa julgada material. (...) Inquérito policial. HC 84.253 RTJ 196/223
Ct Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI. Poderes de investigação. Sigilo
fiscal, bancário, telefônico e telemático: quebra. Fundamentação exaustiva:
desnecessidade. CPI do Banestado. MS 24.749 RTJ 196/186
Ct Competência. (...) Tribunal de Justiça. ADI 106 RTJ 196/3
PrSTF Competência do STF. (...) Medida cautelar. Pet 3.515-QO RTJ 196/166
PrCv Competência do STF: inocorrência. (...) Competência jurisdicional. AO
1.158 RTJ 196/89
Ct Competência jurisdicional. Acidente de trabalho. RE 348.707 RTJ 196/328
Ct Competência jurisdicional. Tribunal de Justiça. Ação direta de inconsti-
tucionalidade. Lei municipal em face da Constituição estadual. Reprodução
de preceito da Constituição Federal. RE 199.293 RTJ 196/320
Ct Competência jurisdicional. Tribunal de Justiça. Impedimento ou suspeição
de mais da metade dos membros de tribunal de origem: não-apreciação.
Súmula 623. AO 1.153-AgR RTJ 196/82
PrCv Competência jurisdicional. Tribunal de Justiça estadual. Impedimento ou
suspeição de mais da metade dos membros de tribunal de origem: ausência.
Competência do STF: inocorrência. Princípio do juiz natural. CPC/73, art.
134, parágrafo único, segunda parte: aplicação analógica. AO 1.158 RTJ
196/89
PrSTF Competência jurisdicional. Turma Recursal de Juizado Especial. Mandado
de segurança. Declinação de competência. MS 24.700-AgR RTJ 196/181
Ct Competência legislativa. Município. Banco: tempo máximo de espera na
fila. Interesse local. CF/88, art. 30, I. RE 432.789 RTJ 196/345
Ct Competência legislativa. União Federal. Desapropriação. Constituição do
Estado de Rondônia/89, art. 177: inconstitucionalidade. ADI 106 RTJ 196/3
Ct Competência originária. Supremo Tribunal Federal – STF. Distrito Federal e
União Federal: entidades políticas. Conflito federativo. ACO 555-QO RTJ
196/21
Ct Competência originária. Supremo Tribunal Federal – STF. Estado-Membro
e autarquia federal. Conflito federativo. Aproveitamento de potencial
hidráulico. Rcl 3.074 RTJ 196/142
Ct Competência originária. Supremo Tribunal Federal – STF. Estado-Membro
e autarquia federal. Conflito federativo. Ensino superior: autorização. CF/
88, art. 102, I, “f”. ACO 684-QO RTJ 196/25
Ct Competência originária. Supremo Tribunal Federal – STF. Mandado de
segurança. Ato do primeiro secretário da Câmara dos Deputados. CF/88, art.
102, I, “d”. MS 24.189-AgR RTJ 196/173
ÍNDICE ALFABÉTICO — Com-Con VII
D
PrCv Data do protocolo: carimbo ilegível. (...) Agravo de instrumento. AI
498.494-ED RTJ 196/352
PrSTF Decisão de relator. (...) Embargos de declaração. AI 498.494-ED RTJ 196/352
PrSTF Decisão do STF em “habeas corpus”: extensão. (...) Reclamação. Rcl 2.190
RTJ 196/134
Ct Decisão do STJ: obrigatoriedade. (...) Conflito de competência. CC 7.161
RTJ 196/169
PrCv Decisão interlocutória: manutenção por TRF. (...) Agravo de instrumento.
Pet 3.515-QO RTJ 196/166
PrSTF Declinação de competência. (...) Competência jurisdicional. MS 24.700-
AgR RTJ 196/181
PrPn Defensor dativo: nomeação. (...) Citação-edital. HC 85.438 RTJ 196/292
PrPn Defensor público. Intimação pessoal: ausência. Sessão de julgamento. Pre-
clusão temporal. RHC 83.770 RTJ 196/215
PrPn Defesa criminal. Memorial: ausência. Manifestação expressa do defensor.
Princípio do devido processo legal: ofensa. RHC 85.512 RTJ 196/299
PrPn Defesa prévia apresentada. (...) Citação-edital. HC 85.438 RTJ 196/292
PrPn Denúncia. Impropriedade. Existência de crime continuado ou concurso ma-
terial: definição. Inq 1.608-ED RTJ 196/98
PrPn Denúncia. Inépcia inocorrente. Crime de autoria coletiva. Individualização
da conduta: suficiência. HC 85.424 RTJ 196/278
PrPn Denúncia. Inépcia inocorrente. Descrição insuficiente do fato. Irregularidade
sanável. CPP/41, arts. 41 e 569. HC 85.424 RTJ 196/278
X ÍNDICE ALFABÉTICO — Dep-Eme
E
Ct Educação. Serviço público não privativo. Concessão, permissão ou autori-
zação: desnecessidade. Norma geral e suplementar: obediência. ADI 1.266
RTJ 196/92
PrPn Elemento de prova: processo administrativo. (...) Ação penal. Inq 1.957 RTJ
196/101
PrSTF Embargos de declaração. Decisão de relator. Conversão em agravo regi-
mental. AI 498.494-ED RTJ 196/352
PrCv Embargos de declaração. Matéria de defesa não examinada. Princípio do
devido processo legal: ofensa. RE 398.407 RTJ 196/331
PrCv Embargos de declaração. Não-conhecimento. Multa em agravo regimental:
pagamento não comprovado. CPC/73, art. 557, § 2º. AI 546.296-AgR-ED
RTJ 196/356
PrSTF Embargos de declaração: omissão do acórdão. (...) Recurso extraordinário.
RE 415.760 RTJ 196/333
PrCv Emenda à inicial: ato coator diverso. (...) Mandado de segurança. MS
25.291-AgR RTJ 196/189
Ens-Ext — ÍNDICE ALFABÉTICO XI
F
Int Faculdade do presidente da República. (...) Extradição. Ext 947 RTJ 196/64 –
Ext 962 RTJ 196/69
Pn Falsidade ideológica. Crime autônomo. Sonegação fiscal: desvinculação.
HC 80.801 RTJ 196/192
Int Falsificação de documento público. (...) Extradição. Ext 900-extensão RTJ
196/35
Int Fato anterior ao pedido originário. (...) Extradição. Ext 900-extensão RTJ
196/35
PrPn Fato estranho à sentença: descabimento. (...) Acórdão criminal. HC 83.509
RTJ 196/204
Int Filho brasileiro. (...) Extradição. Ext 947 RTJ 196/64
Int Fraude postal, telegráfica e estelionato. (...) Extradição. Ext 915 RTJ 196/43
PrPn Fuga do acusado. (...) Prisão preventiva. HC 85.764 RTJ 196/306
Ct Fundamentação exaustiva: desnecessidade. (...) Comissão Parlamentar de
Inquérito – CPI. MS 24.749 RTJ 196/186
PrPn Fundamentação insuficiente. (...) Prisão preventiva. HC 83.040 RTJ 196/200
PrPn Fundamentação suficiente. (...) Prisão preventiva. HC 83.040 RTJ 196/200 –
HC 85.298-QO RTJ 196/258 – HC 85.764 RTJ 196/306
PrCv Fungibilidade: impossibilidade. (...) Mandado de segurança. MS 23.605-
AgR-ED RTJ 196/170
Pn Furto. (...) Pena. HC 84.424 RTJ 196/235
Pn Furto. (...) Princípio da insignificância. HC 84.424 RTJ 196/235
G
Adm Gratificação. Servidor público estadual. Base de cálculo. Vinculação ao
salário mínimo. Lei estadual n. 9.503/94-SC, art. 1º, § 6º: inconstitucionali-
dade. RE 433.233 RTJ 196/348
Hab-Int — ÍNDICE ALFABÉTICO XIII
H
PrPn Habeas corpus. Descabimento. Ato jurisdicional do STF em outro HC. HC
85.468-AgR RTJ 196/295
PrPn Habeas corpus. Matéria de prova. Prefeito. Crime de responsabilidade e
peculato: continuidade delitiva. HC 82.011 RTJ 196/195
PrPn “Habeas corpus”. (...) Sustentação oral. HC 85.845 RTJ 196/310
I
Adm Ilicitude da prova: inocorrência. (...) Processo administrativo. RE 415.760
RTJ 196/333
PrCv Impedimento ou suspeição de mais da metade dos membros de tribunal de
origem: ausência. (...) Competência jurisdicional. AO 1.158 RTJ 196/89
Ct Impedimento ou suspeição de mais da metade dos membros de tribunal de
origem: não-apreciação. (...) Competência jurisdicional. AO 1.153-AgR RTJ
196/82
Int Importação e exportação de entorpecente: distinção. (...) Extradição. Ext
962 RTJ 196/69
Int Impossibilidade. (...) Extradição. Ext 916 RTJ 196/50
PrPn Impropriedade. (...) Denúncia. Inq 1.608-ED RTJ 196/98
Ct Imunidade parlamentar. Deputado estadual. Crime após diplomação. CF/88,
art. 53, § 3º, redação da EC n. 35/01. AC 700-AgR RTJ 196/31
PrPn Incompetência absoluta. (...) Ação penal. HC 84.950 RTJ 196/251
PrPn Individualização da conduta: suficiência. (...) Denúncia. HC 85.424 RTJ
196/278
PrPn Inépcia inocorrente. (...) Denúncia. HC 85.424 RTJ 196/278
Pn Infração: ínfimo e pequeno valor. (...) Princípio da insignificância. HC
84.424 RTJ 196/235
PrPn Inquérito policial. Arquivamento. Extinção da punibilidade. Coisa julgada
material. CPP/41, art. 18: inaplicabilidade. Súmula 524: inaplicabilidade.
HC 84.253 RTJ 196/223
PrPn Inquérito policial. Desarquivamento. Prova substancialmente nova. CPP/41,
art. 18. Súmula 524. HC 84.253 RTJ 196/223
Int Inquérito policial no Brasil. (...) Extradição. Ext 962 RTJ 196/69
PrPn Inquérito policial: prescindibilidade. (...) Ação penal. Inq 1.957 RTJ 196/101
Ct Interesse local. (...) Competência legislativa. RE 432.789 RTJ 196/345
PrPn Intimação: desnecessidade. (...) Sustentação oral. HC 85.845 RTJ 196/310
XIV ÍNDICE ALFABÉTICO — Int-Lei
PrPn Intimação pessoal: ausência. (...) Defensor público. RHC 83.770 RTJ 196/215
PrPn Investigação pelo Ministério Público: inocorrência. (...) Ação penal. Inq
1.957 RTJ 196/101
PrCv Irregularidade não sanada. (...) Mandado de segurança. MS 25.291-AgR
RTJ 196/189
PrPn Irregularidade sanável. (...) Denúncia. HC 85.424 RTJ 196/278
J
PrSTF Juízo de admissibilidade imediato. (...) Recurso extraordinário. Pet 3.515-QO
RTJ 196/166
PrSTF Juízo de admissibilidade não realizado. (...) Reclamação. Rcl 3.366-AgR
RTJ 196/158
PrPn Justa causa. (...) Ação penal. RHC 84.986 RTJ 196/254 – RHC 85.513 RTJ
196/302
PrPn Justa causa: ausência. (...) Ação penal. HC 84.092 RTJ 196/218
L
Int “Leasing”: não-devolução do objeto. (...) Extradição. Ext 900-extensão RTJ
196/35
PrSTF Legitimidade ativa. (...) Reclamação. Rcl 2.190 RTJ 196/134
Adm Lei estadual n. 8.032/03-MA, art. 13: inconstitucionalidade. (...) Servidor
público estadual. ADI 3.332 RTJ 196/155
Adm Lei estadual n. 9.503/94-SC, art. 1º, § 6º: inconstitucionalidade. (...) Gratifi-
cação. RE 433.233 RTJ 196/348
PrSTF Lei estadual: suspensão da eficácia. (...) Medida cautelar. AC 349 RTJ 196/15
Ct Lei municipal em face da Constituição estadual. (...) Competência jurisdicio-
nal. RE 199.293 RTJ 196/320
PrCv Lei n. 1.535/51, art. 5º, I. (...) Mandado de segurança. MS 24.511 RTJ 196/176
Int Lei n. 6.815/80, art. 89. (...) Extradição. Ext 962 RTJ 196/69
Int Lei n. 6.815/80, art. 89 c/c arts. 67 e 90. (...) Extradição. Ext 947 RTJ 196/64
PrPn Lei n. 8.137/90, art. 1º. (...) Ação penal. HC 84.092 RTJ 196/218
PrPn Lei n. 8.137/90, arts. 1º, I e II, e 3º, III. (...) Ação penal. RHC 85.513 RTJ
196/302
PrPn Lei n. 8.666/93, art. 89. (...) Ação penal. Inq 1.957 RTJ 196/101
Lei-Med — ÍNDICE ALFABÉTICO XV
PrPn Lei regulamentar: ausência. (...) Ministério Público. HC 85.424 RTJ 196/278
PrCv Litisconsórcio. Advogado único. Prazo em dobro: inaplicabilidade. CPC/73,
art. 191. AI 530.658-AgR RTJ 196/354
M
Adm Magistrado. (...) Processo administrativo. RE 415.760 RTJ 196/333
PrSTF Mandado de segurança. (...) Competência jurisdicional. MS 24.700-AgR
RTJ 196/181
Ct Mandado de segurança. (...) Competência originária. MS 24.189-AgR RTJ
196/173
PrCv Mandado de segurança. Conversão em reclamação. Fungibilidade: impos-
sibilidade. Recurso extraordinário inadmitido. Agravo de instrumento: ne-
gativa de seguimento. MS 23.605-AgR-ED RTJ 196/170
PrCv Mandado de segurança. Emenda à inicial: ato coator diverso. Irregularidade
não sanada. MS 25.291-AgR RTJ 196/189
PrCv Mandado de segurança. Pedido impossível. Parlamentar. Passagem aérea:
especificação de despesa. MS 24.189-AgR RTJ 196/173
PrCv Mandado de segurança. Recurso administrativo com efeito suspensivo.
Carência da ação. Lei n. 1.535/51, art. 5º, I. MS 24.511 RTJ 196/176
PrSTF Mandato. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI 1.266 RTJ 196/92
PrPn Manifestação expressa do defensor. (...) Defesa criminal. RHC 85.512 RTJ
196/299
PrCv Matéria de defesa não examinada. (...) Embargos de declaração. RE 398.407
RTJ 196/331
Ct Matéria de iniciativa do Executivo. (...) Processo legislativo. ADI 106 RTJ
196/3
PrPn Matéria de prova. (...) Habeas corpus. HC 82.011 RTJ 196/195
PrSTF Medida cautelar. Competência do STF. Recurso extraordinário retido: pro-
cessamento. CPC/73, arts. 542, § 3º, e 800, parágrafo único. Pet 3.515-QO
RTJ 196/166
PrSTF Medida cautelar. Descabimento. Ação direta proposta no Estado-Membro e
no STF. Lei estadual: suspensão da eficácia. AC 349 RTJ 196/15
PrSTF Medida cautelar. Recurso extraordinário: retenção. Antecipação de tutela
em ação civil pública. Processamento imediato. CPC/73, art. 542, § 3º:
inaplicabilidade. AC 929-QO RTJ 196/58
PrSTF Medida cautelar: apreciação. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI
1.266 RTJ 196/92
XVI ÍNDICE ALFABÉTICO — Mem-Per
PrPn Memorial: ausência. (...) Defesa criminal. RHC 85.512 RTJ 196/299
PrPn Ministério Público. Princípio do promotor natural. Lei regulamentar: ausên-
cia. HC 85.424 RTJ 196/278
PrCv Multa em agravo regimental: pagamento não comprovado. (...) Embargos de
declaração. AI 546.296-AgR-ED RTJ 196/356
Ct Município. (...) Competência legislativa. RE 432.789 RTJ 196/345
N
PrCv Não-conhecimento. (...) Embargos de declaração. AI 546.296-AgR-ED RTJ
196/356
Adm Naturalização: requerimento anterior à posse. (...) Concurso público. RE
264.848 RTJ 196/325
Adm Nomeação anterior à CF/88. (...) Servidor público estadual. ADI 3.332 RTJ
196/155
Ct Norma geral e suplementar: obediência. (...) Educação. ADI 1.266 RTJ 196/92
PrPn Nulidade inexistente. (...) Citação-edital. HC 85.438 RTJ 196/292
O
PrSTF Ofensa indireta. (...) Recurso extraordinário. RE 398.407 RTJ 196/331
PrPn Organização criminosa: indícios de existência. (...) Prisão preventiva. HC
85.298-QO RTJ 196/258
P
Pn Parâmetro de aplicação. (...) Princípio da insignificância. HC 84.424 RTJ
196/235
PrCv Parlamentar. (...) Mandado de segurança. MS 24.189-AgR RTJ 196/173
PrCv Passagem aérea: especificação de despesa. (...) Mandado de segurança. MS
24.189-AgR RTJ 196/173
PrCv Pedido impossível. (...) Mandado de segurança. MS 24.189-AgR RTJ 196/173
Pn Pena. Crime doloso contra a vida. Continuidade delitiva: aplicabilidade.
Sentença: erro. Correção pelo presidente do Júri. CP/40, art. 71. HC 83.575
RTJ 196/209
Pn Pena. Furto. Bem de pequeno valor. Princípio da insignificância. HC 84.424
RTJ 196/235
Pn Pena inferior a oito anos. (...) Regime prisional. HC 83.509 RTJ 196/204
PrPn Periculosidade do réu e aplicação da lei penal. (...) Prisão preventiva. HC
83.040 RTJ 196/200
Pod-Pri — ÍNDICE ALFABÉTICO XVII
Ct Poder constituinte estadual. (...) Processo legislativo. ADI 106 RTJ 196/3
PrPn Poder econômico do réu: instrumento de prossecução de práticas ilícitas. (...)
Prisão preventiva. HC 85.298-QO RTJ 196/258
Ct Poderes de investigação. (...) Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI. MS
24.749 RTJ 196/186
PrSTF Poderes específicos: inexigibilidade. (...) Ação direta de inconstitucionalidade.
ADI 1.266 RTJ 196/92
Trbt Prazo. (...) Prescrição. ACO 261 RTJ 196/13
PrPn Prazo: contagem em horas. (...) Ação penal. RHC 84.986 RTJ 196/254
PrCv Prazo em dobro: inaplicabilidade. (...) Litisconsórcio. AI 530.658-AgR RTJ
196/354
Ct Prazo para envio ao Legislativo: fixação. (...) Processo legislativo. ADI 106
RTJ 196/3
PrPn Preclusão temporal. (...) Defensor público. RHC 83.770 RTJ 196/215
PrPn Prefeito. (...) Habeas corpus. HC 82.011 RTJ 196/195
PrSTF Prequestionamento. (...) Recurso extraordinário. RE 415.760 RTJ 196/333
Trbt Prescrição. Tributo. Prazo. Código Tributário Nacional – CTN, arts. 173 e
174. ACO 261 RTJ 196/13
Int Prescrição inocorrente. (...) Extradição. Ext 915 RTJ 196/43 – Ext 923 RTJ
196/52 – Ext 947 RTJ 196/64
PrPn Prescrição pela pena concretizada: impossibilidade. (...) Ação penal. HC
84.950 RTJ 196/251
PrPn Prescrição: suspensão. (...) Ação penal. HC 84.092 RTJ 196/218
Adm Princípio da ampla defesa e do contraditório. (...) Processo administrativo.
RE 415.760 RTJ 196/333
Pn Princípio da insignificância. Parâmetro de aplicação. Infração: ínfimo e
pequeno valor. Furto. HC 84.424 RTJ 196/235
Pn Princípio da insignificância. (...) Pena. HC 84.424 RTJ 196/235
PrPn Princípio da não-culpabilidade: ofensa inocorrente. (...) Prisão. HC 84.500
RTJ 196/247
PrSTF Princípio do devido processo legal. (...) Recurso extraordinário. RE
398.407 RTJ 196/331
PrPn Princípio do devido processo legal: ofensa. (...) Defesa criminal. RHC
85.512 RTJ 196/299
PrCv Princípio do devido processo legal: ofensa. (...) Embargos de declaração.
RE 398.407 RTJ 196/331
XVIII ÍNDICE ALFABÉTICO — Pri-Pro
Q
PrPn Queixa. Procuração: requisitos. Descrição suficiente do fato. CPP/41, art. 44.
HC 85.863 RTJ 196/315
R
PrSTF Reclamação. Legitimidade ativa. Decisão do STF em “habeas corpus”:
extensão. Rcl 2.190 RTJ 196/134
PrSTF Reclamação. Usurpação de competência do STF: inocorrência. Recurso
extraordinário. Juízo de admissibilidade não realizado. Rcl 3.366-AgR RTJ
196/158
PrCv Recurso administrativo com efeito suspensivo. (...) Mandado de segurança.
MS 24.511 RTJ 196/176
PrPn Recurso exclusivo da defesa. (...) Acórdão criminal. HC 83.509 RTJ 196/204
PrSTF Recurso extraordinário. Ofensa indireta. Caso concreto: exame. Princípio
do devido processo legal. RE 398.407 RTJ 196/331
PrSTF Recurso extraordinário. Prequestionamento. Embargos de declaração:
omissão do acórdão. Súmulas 282 e 356: inaplicabilidade. RE 415.760 RTJ
196/333
PrSTF Recurso extraordinário. (...) Reclamação. Rcl 3.366-AgR RTJ 196/158
PrSTF Recurso extraordinário. Retenção: afastamento. Juízo de admissibilidade
imediato. Reintegração de posse contra indígena. CPC/73, art. 542, § 3º:
inaplicabilidade. Pet 3.515-QO RTJ 196/166
PrSTF Recurso extraordinário. Tempestividade: verificação. Certidão do tribunal
de origem: insuficiência. AI 498.494-ED RTJ 196/352
PrCv Recurso extraordinário inadmitido. (...) Mandado de segurança. MS 23.605-
AgR-ED RTJ 196/170
PrCv Recurso extraordinário: retenção. (...) Agravo de instrumento. Pet 3.515-QO
RTJ 196/166
PrSTF Recurso extraordinário: retenção. (...) Medida cautelar. AC 929-QO RTJ
196/58
PrSTF Recurso extraordinário retido: processamento. (...) Medida cautelar. Pet
3.515-QO RTJ 196/166
PrPn Recurso sem efeito suspensivo. (...) Prisão. HC 84.500 RTJ 196/247
XX ÍNDICE ALFABÉTICO — Reg-Súm
S
PrPn Sentença: anulação. (...) Ação penal. HC 84.950 RTJ 196/251
Pn Sentença: erro. (...) Pena. HC 83.575 RTJ 196/209
Ct Serviço auxiliar: criação. (...) Tribunal de Justiça. ADI 106 RTJ 196/3
Ct Serviço público não privativo. (...) Educação. ADI 1.266 RTJ 196/92
Adm Servidor público estadual. (...) Gratificação. RE 433.233 RTJ 196/348
Adm Servidor público estadual. Nomeação anterior à CF/88. Transposição de
cargo. Concurso público: ausência. CF/88, art. 37, II. ADCT da Constituição
Federal/88, art. 19. Lei estadual n. 8.032/03-MA, art. 13: inconstitucionalidade.
ADI 3.332 RTJ 196/155
Ct Servidor público: regime jurídico. (...) Processo legislativo. ADI 106 RTJ
196/3
PrPn Sessão de julgamento. (...) Defensor público. RHC 83.770 RTJ 196/215
Ct Sigilo fiscal, bancário, telefônico e telemático: quebra. (...) Comissão Parla-
mentar de Inquérito – CPI. MS 24.749 RTJ 196/186
Pn Sonegação fiscal: desvinculação. (...) Falsidade ideológica. HC 80.801 RTJ
196/192
PrCv Súmula 288. (...) Agravo de instrumento. AI 498.494-ED RTJ 196/352
Int Súmula 421. (...) Extradição. Ext 947 RTJ 196/64
Súm-Tri — ÍNDICE ALFABÉTICO XXI
T
PrCv Tempestividade: prova. (...) Agravo de instrumento. AI 498.494-ED RTJ
196/352
PrSTF Tempestividade: verificação. (...) Recurso extraordinário. AI 498.494-ED
RTJ 196/352
Int Tráfico de entorpecente, detenção de arma, receptação e homicídio. (...)
Extradição. Ext 923 RTJ 196/52
Int Trânsito: excesso de velocidade. (...) Extradição. Ext 900-extensão RTJ
196/35
Adm Transposição de cargo. (...) Servidor público estadual. ADI 3.332 RTJ 196/155
PrCv Traslado deficiente. (...) Agravo de instrumento. AI 498.494-ED RTJ 196/
352 – AI 549.756-AgR RTJ 196/358
Int Tratado Brasil—Estados Unidos da América. (...) Extradição. Ext 915 RTJ
196/43
Int Tratado Brasil—Itália. (...) Extradição. Ext 923 RTJ 196/52
Int Tratado Brasil—Paraguai. (...) Extradição. Ext 947 RTJ 196/64
Int Tratado Brasil—Suíça. (...) Extradição. Ext 900-extensão RTJ 196/35
Ct Tribunal de Justiça. Competência. Serviço auxiliar: criação. ADI 106 RTJ
196/3
Ct Tribunal de Justiça. (...) Competência jurisdicional. AO 1.153-AgR RTJ
196/82 – RE 199.293 RTJ 196/320
XXII ÍNDICE ALFABÉTICO — Tri-Vin
U
Ct União Federal. (...) Competência legislativa. ADI 106 RTJ 196/3
PrSTF Usurpação de competência do STF: inocorrência. (...) Reclamação. Rcl
3.366-AgR RTJ 196/158
V
Adm Vinculação ao salário mínimo. (...) Gratificação. RE 433.233 RTJ 196/348
ÍNDICE NUMÉRICO
ACÓRDÃOS