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CERS – Direito Constitucional
Aula 9 – PRIMEIRA FASE XXVIII
Profª. Flavia Bahia

PODER JUDICIÁRIO

FUNÇÕES TÍPICAS E ATÍPICAS

A função típica do Poder Judiciário é a de exercer a atividade jurisdicional, pela qual substitui a vontade das
partes solucionando os conflitos que lhes são apresentados, com a aplicação do Direito.

Ao lado da sua atividade típica, o Judiciário, como as demais funções do Estado, possui outras atribuições, de-
nominadas atípicas, de natureza administrativa e legislativa. Como exemplos, poderíamos mencionar a conces-
são de férias para os seus membros e a elaboração de seus regimentos internos, na forma do art. 96, I, a, da
CF/88.

ESTRUTURA E ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO

A estrutura do Estado é estabelecida com base na forma federativa, que admite duas ordens de organização:
Federal e Estadual. Portanto, coexistem a Justiça Federal, que tem as competências previstas expressamente
na Constituição, e a Justiça Estadual, cabendo-lhe a competência residual.

Quanto à competência disposta na Constituição Federal, o Judiciário estrutura-se em dois âmbitos: comum e
especializado. Portanto, a Justiça Federal pode ser: comum ou especializada (Justiça do Trabalho, Eleitoral e
Militar). Já na Justiça Estadual há somente a Justiça Militar especializada.

São órgãos do Poder Judiciário, na forma do art. 92, I a VII, da CF/88:

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:

I - o Supremo Tribunal Federal;


I-A o Conselho Nacional de Justiça; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
II - o Superior Tribunal de Justiça;
II-A - o Tribunal Superior do Trabalho; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 92, de 2016)
III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI - os Tribunais e Juízes Militares;
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal e jurisdição em todo o terri-
tório nacional (art. 92, § 1o e § 2o). O Conselho Nacional de Justiça também tem sede em Brasília, mas é des-
provido de atividade jurisdicional.

O Supremo Tribunal Federal (Arts. 101 e ss.)

O Supremo Tribunal Federal (STF) é o órgão de cúpula do Poder Judiciário, guardião da Constituição, e decide
em última instância os litígios intersubjetivos.

A Corte é composta por onze ministros, divididos em duas Turmas, que se encontram no mesmo plano hierár-
quico. O Presidente da República escolhe livremente o candidato, que será sabatinado pelo Senado Federal,
devendo ser aprovado pela maioria absoluta de seus membros (art. 52, III, “a”, e art. 101, parágrafo único, CF/88).

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São requisitos para a escolha dos ministros do STF: idade superior a trinta e cinco e inferior a sessenta e cinco
anos; ser brasileiro nato (art. 12, § 3o, IV); ser cidadão (no gozo dos direitos políticos); ter notável saber jurídico
e reputação ilibada.

Suas competências originárias e recursais estão definidas nos arts. 102 e 103 da Constituição Federal.

O Superior Tribunal de Justiça (Arts. 104 e ss.)

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é a última instância do Judiciário em matéria de leis federais. O Superior
Tribunal é formado por, no mínimo, trinta e três ministros escolhidos pelo Chefe do Poder Executivo, porém não
livremente, pois obrigatoriamente deverão ser: 1/3 de juízes dos TRFs (Tribunais Regionais Federais); 1/3 de
desembargadores dos Tribunais de Justiça Estaduais (indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal);
1/3 divididos da seguinte maneira: 1/6 de advogados e 1/6 de membros do Ministério Público Federal, Estaduais,
Distrital e dos Territórios.

São requisitos para o cargo de ministro do STJ: idade de 35 a 65 anos; ser brasileiro nato ou naturalizado; ter
notável saber jurídico e reputação ilibada. De acordo com o art. 104, parágrafo único, a nomeação ocorrerá depois
de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.

As competências originárias do Tribunal estão descritas no art. 105, I, da CF/88 e as recursais, que abrangem o
recurso ordinário e o recurso especial, estão dispostas, respectivamente, nos incisos II e III do art. 105 da Cons-
tituição.

GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PODER JUDICIÁRIO E DE SEUS INTEGRANTES

Garantias Orgânicas ou Institucionais

• Capacidade de autogoverno: identificada pela possibilidade de eleição de seus próprios órgãos,


organização de sua estrutura administrativa interna e deliberação sobre assuntos próprios (art. 96, I).
• Autonomia financeira: com a possibilidade de elaborar sua própria proposta financeira, dentro dos limites
da lei de diretrizes orçamentárias (art. 99 c/c art. 168).
• Capacidade normativa: cada Tribunal deve elaborar seu Regimento Interno (art. 96, I, a).
• Inalterabilidade de sua organização: a composição dos quadros dos tribunais só pode ser alterada mediante
proposta dos próprios tribunais (art. 96, II).

Garantias da Magistratura (Art. 95)

• Vitaliciedade: o Juiz, após dois anos de exercício, só pode perder o cargo em virtude de sentença judicial
transitada em julgado. Antes dos dois anos, estando o magistrado no período de estágio probatório, a perda
do cargo pode operar-se por deliberação do Tribunal a que o juiz estiver vinculado.
• Inamovibilidade: esta garantia proíbe que os juízes sejam removidos do local em que se encontram, mesmo
sob a forma de promoção, sem o seu consentimento, salvo motivo de interesse público (art. 93, VIII, e 95, II).
Antes da EC no 45/2004 o motivo de interesse público era decidido pelo voto de 2/3 do respectivo Tribunal e com a
reforma passou a ser deliberado pelo voto da maioria absoluta do mesmo Tribunal ou pelo CNJ.
• Irredutibilidade de subsídio: almeja garantir aos magistrados a necessária tranquilidade para o exercício
do cargo, protegendo-os de perseguições governamentais de natureza econômica (art. 95, III, c/c art. 37, XV).

VEDAÇÕES – GARANTIAS DE IMPARCIALIDADE (ART. 95, PARÁGRAFO ÚNICO, I, II, III, IV E V, ALTERADO
PELA EC No 45/2004)

De acordo com a Constituição Federal, aos juízes é vedado:

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a) exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério; 1
b) receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
c) dedicar-se à atividade político-partidária, o que comprometeria a imparcialidade ínsita ao julgador;
d) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;
e) exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento
do cargo por aposentadoria ou exoneração (a “quarentena”).

A REFORMA DO PODER JUDICIÁRIO. ALGUMAS ALTERAÇÕES. EMENDA CONSTITUCIONAL No 45/2004

Listamos abaixo alguns dos principais destaques relacionados à Reforma do Judiciário, instituída pela EC n o
45/2004:

a) inclusão, no art. 5o, do princípio da razoável duração do processo, no âmbito judicial e administrativo como
garantia fundamental (art. 5o, LXXVIII);
b) a possibilidade de se criarem varas especializadas para a solução das questões agrárias (art. 126);
c) a “constitucionalização” dos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos desde que
aprovados pelo quórum qualificado das emendas constitucionais (art. 5o, § 3o);
d) a submissão do Brasil à jurisdição do Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão
(art. 5o, § 4o);
e) a federalização de crimes contra direitos humanos, objetivando o deslocamento de competência para a
Justiça Federal (art. 109, V-A e § 5o);
f) previsão do controle externo da Magistratura por meio do Conselho Nacional de Justiça (art. 92, I-A § 1o);
g) previsão do controle externo do Ministério Público por meio do Conselho Nacional do Ministério Público (art.
130-A);
h) ampliação de algumas regras mínimas a serem observadas na elaboração do Estatuto da Magistratura,
todas no sentido de se dar maior produtividade e transparência à prestação jurisdicional, na busca da
efetividade do processo (art. 93);
i) ampliação da garantia de imparcialidade dos órgãos jurisdicionais (art. 95, parágrafo único, IV e V);
j) a extinção dos Tribunais de Alçada, passando os seus membros a integrar os TJs dos respectivos Estados
e uniformizando assim a nossa Justiça (art. 4o da EC n o 45/2004);
k) transferência de competência do STF para o STJ no tocante à homologação de sentenças estrangeiras e à
concessão do exequatour às cartas rogatórias (art. 102, I, “h” (revogada); 105, I, “i”);
l) criação da Súmula Vinculante do STF (art. 103-A);
m) a aprovação da nomeação de Ministro do STJ pelo quórum de maioria absoluta dos membros do Senado
Federal (art. 104, parágrafo único);
n) ampliação da garantia de imparcialidade dos membros do MP (art. 128);
o) criação da repercussão geral em recurso extraordinário, na forma do art. 102, § 3o.

O Conselho Nacional de Justiça

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foi acrescentado ao rol de órgãos do Poder Judiciário pela EC n o 45/2004
e, de acordo com o art. 103-B, é composto por quinze membros com mandato de dois anos, admitida uma recon-
dução, sendo:

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“Poderá ocorrer e, certamente, ocorre que o exercício de mais de uma função no magistério não importe em
lesão ao bem privilegiado pela CF – o exercício da magistratura. A questão é a compatibilização de horários, que
se resolve caso a caso. A CF, evidentemente, privilegia o tempo da magistratura que não pode ser submetido ao
tempo da função secundária – o magistério. Assim, em juízo preliminar, entendo deva ser suspensa a expressão
‘único (a)’ constante do art. 1o” (ADI 3.126-MC, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 17.02.2005, DJ 28.02.2005).

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I – O Presidente do Supremo Tribunal Federal;
II – um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo tribunal;
III – um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo tribunal;
IV – um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;
V – um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;
VI – um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;
VII – um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;
VIII – um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;
IX – um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;
X – um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral da República;
XI – um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes
indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual;
XII – dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
XIII – dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e
outro pelo Senado Federal.

O Conselho será presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e os demais membros serão nomeados
pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Fed eral.

Das suas atribuições constitucionais, presentes no art. 103-B, § 4o, observamos que o referido Conselho poderá,
de ofício, ou mediante provocação, desconstituir ou rever os atos administrativos (mas não jurisdicionais) prati-
cados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas. Poderá,
ainda, de acordo com a disposição constitucional em referência, avocar processos disciplinares em curso e rever
(em favor ou contra o acusado) os processos disciplinares de juízes e membros de Tribunais julgados há menos
de um ano.

O texto da Constituição também prevê a determinação de criação de ouvidorias de justiça pela União (art. 103-
B, § 7o), as quais serão competentes para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra
membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxiliares. A ouvidoria representará diretamente
ao Conselho e este se reportará a ela também sem necessidade de intermediação.

Como exemplo de atuação do Conselho Nacional de Justiça, podemos mencionar a Resolução n o 07/20052 (con-
tra o nepotismo no âmbito de todos os órgãos do Poder Judiciário), que disciplina o exercício de cargos, empregos

2
Resolução no 7/2005.

“Art. 1o É vedada a prática de nepotismo no âmbito de todos os órgãos do Poder Judiciário, sendo nulos os atos
assim caracterizados.

Art. 2o Constituem práticas de nepotismo, entre outras:

I – o exercício de cargo de provimento em comissão ou de função gratificada, no âmbito da jurisdição de cada


Tribunal ou Juízo, por cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro
grau, inclusive, dos respectivos membros ou juízes vinculados;
II – o exercício, em Tribunais ou Juízos diversos, de cargos de provimento em comissão, ou de funções
gratificadas, por cônjuges, companheiros ou parentes em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro
grau, inclusive, de dois ou mais magistrados, ou de servidores investidos em cargos de direção ou de
assessoramento, em circunstâncias que caracterizem ajuste para burlar a regra do inciso anterior mediante
reciprocidade nas nomeações ou designações;

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e funções por parentes, cônjuges e companheiros de magistrados e de servidores investidos em cargos de dire-
ção e assessoramento, no âmbito dos órgãos do Poder Judiciário, além de dar outras providências. Ressalte -se
que o STF reconheceu recentemente o poder normativo do CNJ com o julgamento a favor da constitucionalidade
da Resolução acerca do nepotismo.

No julgamento da ADC 12, o STF reconheceu o poder normativo do Conselho e com isso as suas resoluções
podem ser objeto de ADI e ADC.

A Constituição prevê no art. 102, I, r, a competência originária do STF para julgamento de ações contra o Con se-
lho, o que, segundo o Tribunal tem sido reconhecida apenas na hipótese de impetração, contra referido órgão,
de mandado de segurança, de habeas data, de habeas corpus (quando for o caso) ou de mandado de injunção,
pois, em tal situação, o CNJ qualificar-se-á como órgão coator impregnado de legitimação passiva ad cau-
sam para figurar na relação processual instaurada com a impetração originária, perante a Suprema Corte, daque-
les writs constitucionais. Tratando-se, porém, de demanda diversa (uma ação de procedimento comum, p. ex.),
não se configura a competência originária da Suprema Corte, considerado o entendimento prevalecente na juris-
prudência do STF, manifestado, inclusive, em julgamentos colegiados, eis que, nas hipóteses não compreendidas
no art. 102, I, d e q, da Constituição, a legitimação passiva ad causam referir-se-á, exclusivamente, à União Fe-
deral, pelo fato de as deliberações do CNJ serem juridicamente imputáveis à própria União Federal, que é o ente
de direito público em cuja estrutura institucional se acha integrado o CNJ.

A SÚMULA VINCULANTE

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços
dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua
publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à ad-
ministração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão
ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.

§ 1o A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais
haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave inse-
gurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.
§ 2o Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá
ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.
§ 3o Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar,
caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou
cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula,
conforme o caso.

A súmula vinculante foi instituída pela EC n o 45/2004 como um instrumento de uniformização de jurisprudência
do STF sobre matéria constitucional e aponta uma relação mais próxima do Direito brasilei ro – construído pela
influência do sistema romano-germânico, no qual a lei é a fonte formal de maior destaque nas decisões judiciais

III – o exercício de cargo de provimento em comissão ou de função gratificada, no âmbito da jurisdição de cada
Tribunal ou Juízo, por cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro
grau, inclusive, de qualquer servidor investido em cargo de direção ou de assessoramento;
IV – a contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público, de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, dos respectivos membros ou juízes vinculados, bem como de qualquer servidor investido em cargo de
direção ou de assessoramento;
V – a contratação, em casos excepcionais de dispensa ou inexigibilidade de licitação, de pessoa jurídica da qual
sejam sócios cônjuge, companheiro ou parente em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, dos
respectivos membros ou juízes vinculados, ou servidor investido em cargo de direção e de assessoramento. (...)”

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– com o Direito norte-americano de common law, que possui um sistema de precedentes mais destacado do que
o da produção legislativa.

Órgão Competente para Edição da Súmula

De acordo com o art. 103-A, regulamentado pela Lei n o 11.417/2006, o único órgão competente no país para
editar súmula de natureza vinculante é o Supremo Tribunal Federal, diante de seu papel de guardião da Consti-
tuição Federal que lhe foi determinado pelo constituinte originário, na forma do art. 102.

Requisitos para sua Utilização

Consoante os dispositivos legais em análise, podemos relacionar os seguintes requisitos necessários à edição
da súmula: a) preexistência de reiteradas decisões em matéria constitucional; e b) controvérsia atual entre órgãos
judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multipli-
cação de processos sobre questão idêntica.

Em que pese não existir um número mínimo de decisões judiciais sobre a matéria constitucional sujeita à súmula,
entendemos que o assunto deverá já estar amadurecido nos julgados da Corte, evitando-se assim que temas
novos sejam objeto da uniformização de jurisprudência.

Ademais, a exigência de controvérsia atual sobre o tema é indispensável, pois se o assunto já estiver sedimentado
pelas decisões judiciais e administrativas não haverá necessidade da pacificação de entendimento pelo STF por
meio da súmula.

Do Procedimento

Além do STF, que poderá de ofício deflagrar a edição da súmula, de acordo com o art. 3 o da Lei n o 11.417/2006,
são legitimados a propor a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante:

I – o Presidente da República;
II – a Mesa do Senado Federal;
III – a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV – o Procurador-Geral da República;
V – o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VI – o Defensor Público-Geral da União;
VII – partido político com representação no Congresso Nacional;
VIII – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional;
IX – a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;
X – o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
XI – os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça de Estados ou do Distrito Federal e Territórios, os Tribunais
Regionais Federais, os Tribunais Regionais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais Milita-
res.

Ressalte-se que na forma do § 1o do dispositivo em análise, o Município poderá propor, incidentalmente no curso
de processo em que seja parte, a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante, o que
não autoriza a suspensão do processo.

De acordo com o art. 2 o, § 2o, da Lei n o 11.417/2006, o procurador--geral da República, nas propostas que não
houver formulado, manifestar-se-á previamente à edição, revisão ou cancelamento de enunciado de súmula vin-
culante.

A deliberação sobre a edição, cancelamento ou revisão da súmula dependerão de decisão tomada por 2/3 (dois
terços) dos membros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária.

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A lei também previu a participação do amicus curiae, na forma do art. 3 o, § 2o: “No procedimento de edição,
revisão ou cancelamento de enunciado da súmula vinculante, o relator poderá admitir, por decisão irrecorrível, a
manifestação de terceiros na questão, nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal”.

Entendemos que os enunciados não vinculantes do STF podem se tornar obrigatórios, caso sejam submetidos
aos requisitos presentes no art. 103-A da CF/88 e da lei específica.

Dos Efeitos Obrigatórios e a Reclamação Constitucional

Consoante o art. 4 o da Lei n o 11.417/2006, a súmula com efeito vinculante tem eficácia imediata, a partir de sua
publicação em imprensa oficial, em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. Entretanto, o Supremo Tribunal Federal, por decisão
de 2/3 (dois terços) dos seus membros, poderá restringir os efeitos vinculantes ou decidir que só tenha eficácia
a partir de outro momento, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse público.

A reclamação constitucional, que será tratada em capítulo próprio, pode ser apresentada diretamente ao STF em
caso de inobservância do conteúdo da súmula vinculante, de acordo com o art. 7 o da Lei: “Da decisão judicial ou
do ato administrativo que contrariar enunciado de súmula vinculante, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevida-
mente caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo dos recursos ou outros meios admissíveis
de impugnação”.

Com relação às decisões administrativas, entretanto, a lei trouxe a necessidade de um contencioso administrativo
obrigatório, conforme dicção do § 1o do art. 7o: “Contra omissão ou ato da administração pública, o uso da recla-
mação só será admitido após esgotamento das vias administrativas”.

Ao julgar procedente a reclamação, o Supremo Tribunal Federal anulará o ato administrativo ou cassará a decisão
judicial impugnada, determinando que outra seja proferida com ou sem aplicação da súmula, conforme o caso.

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