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Face a animada discussão em torno das afirmações do Mmo. Juiz Efigênio Baptista (“O Tribunal
não vai tolerar”, “O Tribunal indefere”, “O Tribunal sou eu, apenas!”, etc.), contribuo com o
seguinte, na tentativa de, sem pretender esgotar o estudo e sem laivos de verdade absoluta,
ajudar a dissipar dúvidas sobre se o Juiz é, ou não, Tribunal:
3. Os tribunais são dotados de autonomia administrativa e regem-se nos termos da Lei n.º
9/2002, de 13 de Fevereiro-Lei do SISTAFE – cfr. artigo 4 (Autonomia dos tribunais), da LOJ
(*Fazendo uma interpretação actualista, deve-se ler: “Os tribunais são dotados de
autonomia administrativa e regem-se nos termos da Lei n.º 14/2020, de 23 de Dezembro-
Lei do SISTAFE);
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4. Os juízes são inamovíveis, não podendo ser suspensos, aposentados ou demitidos, senão
nos casos previstos na lei (cfr. artigo 216 “Independência dos juízes”, n.º 3, da CRM 2004),
ou seja:
i. Os juízes só podem ser responsabilizados, civil ou criminalmente, afastados,
suspensos, transferidos, aposentados ou demitidos do exercício das suas funções
nos casos previstos na lei (cfr. artigo 10 “Independência dos juízes”, n.º 3, da LOJ);
ii. Os magistrados judiciais não podem ser transferidos, suspensos, promovidos,
aposentados, demitidos ou por qualquer forma mudados de situação, senão nos
casos previstos neste Estatuto – cfr. artigo 6 (Inamovibilidade), do Estatuto dos
MAgistrados Judiciais (EMJ), aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 11 de Março.
Chegados a este ponto, indago, na busca de resposta da (im)possibilidade de o Juiz ser Tribunal:
A. Está o Juiz incluido na enumeração, taxativa, do que são órgãos de soberania, feita pelo
legislador constitucional no artigo 133 da CRM 2004? Não, não está.
B. O Juiz rege-se nos termos da Lei n.º 14/2020, de 23 de Dezembro-Lei do SISTAFE? Não, o
Juiz não se rege pela Lei n.º 14/2020, de 23 de Dezembro-Lei do SISTAFE, pois do seu artigo
3 (Âmbito de aplicação), n.º1, retira-se que a presente Lei aplica-se aos órgãos e
instituições do Estado, incluindo a sua representação no estrangeiro, designadamente:
a) órgãos e instituições da administração directa do Estado;
b) institutos e fundos públicos;
c) fundações públicas e empresas públicas, nas matérias aplicáveis;
5. outros órgãos e instituições que a lei determinar – nosso sublinhado -, sendo certo que,
conforme dispõe o artigo 4 (Autonomia dos tribunais), da LOJ, “Os tribunais são dotados
de autonomia administrativa e regem-se nos termos da Lei n.º 14/2020, de 23 de
Dezembro-Lei do SISTAFE.
C. Está o Juiz dotado de autonomia administrativa? Não, não está, pois não é órgão nem
instituição do Estado, como, por exemplo:
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i. Presidente da República, Conselho de Ministros/Governo, Presidência da
República, Ministério ou Comissão Nacional de natureza interministerial – cfr.
artigo 36, n.º 1, da Lei n.º 7/2012, de 8 de Fevereiro, Lei Lei de Base da Organização
e Funcionamento da Administração Pública;
ii. Comissões Nacionais independentes (exemplo: Comissão Nacional de Eleições,
Comissão Nacional dos Direitos Humanos, Comissão Nacional dos Títulos
Honoríficos e Condecorações e Comissão Central de Ética Pública), Provedor de
Justiça, os Conselhos Superiores (exemplo: Conselho Superior da Magistratura
Judicial, Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público, Conselho
Superior da Magistratura Judicial Administrativa), etc. etc. – cfr. artigo 50, n.º 1 e 2,
da Lei n.º 7/2012, de 8 de Fevereiro.
D. Pode um tribunal ser suspenso, aposentado ou demitido? Não, não pode, pois a
suspensão preventiva do exercício da profissão de juiz (prevista no artigo 103 do EMJ) e as
penas disciplinares de aposentação compulsiva (prevista nos artigos 64, n.º 1, al. g), e 71,
ambos do EMJ) e de demissão (prevista nos artigos 64, n.º 1, al. h), e 72, ambos do EMJ)
aplicam-se aos magistrados judiciais/aos juízes que tenham cometido infracção disciplinar.
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2. Segundo o artigo 228 (Composição) da CRM 2004:
1. O Tribunal Administrativo é composto por Juízes Conselheiros, em número estabelecido
por lei.
2. O Presidente da República nomeia o Presidente do Tribunal Administrativo, ouvido o
Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa.
3. Os Juízes Conselheiros do Tribunal Administrativo são nomeados pelo Presidente da
República, sob proposta do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa.
4. Os Juízes Conselheiros do Tribunal Administrativo devem, à data da sua designação, ter
idade igual ou superior a trinta e cinco anos e preencher os demais requisitos estabelecidos
por lei.
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tribunal judicial de distrito dirigir e representar o tribunal (cfr. artigo 87 “Competências do
Juiz-Presidente”, al. a), da LOJ).
Mais: As audiências e demais actos judiciais decorrem, em regra, na sede do respectivo tribunal –
e não no domicílio voluntário do Meritíssimo Juíz, vincamos - (cfr. artigo 13 “Audiências”, n.º 3,
da LOJ), sendo certo que os presidentes dos tribunais e das secções dirigem as sessões e
audiências de discussão e julgamento (cfr. artigo 14 “Direcção da audiências”, da LOJ).
Mais ainda: O Código de Processo Penal (a seguir, CPP), aprovado pela Lei n.º 25/209, de 26 de
Dezembro, tem a seguinte estrutura (no que ao nosso estudo interessa):
PARTE PRIMEIRA
Livro Preliminar
Fundamentos do Processo Penal
TÍTULO I
Princípios Fundamentais e Garantias do Processo Penal
CAPÍTULO I
Disposições Preliminares e Gerais
CAPÍTULO II
Suficiência da Acção Penal e Questões Prejudiciais
PARTE SEGUNDA
LIVRO I
Dos Sujeitos do Processo
TÍTULO I
Do Juiz e do Tribunal (nosso destaque)
CAPÍTULO I
Da Jurisdição
CAPÍTULO II
Da Competência
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SECÇÃO I
Competência material e funcional
SECÇÃO II
Competência territorial
SECÇÃO III
Competência por conexão
CAPÍTULO III
Declaração de Incompetência
CAPÍTULO IV
Conflitos de Competência
CAPÍTULO V
Impedimentos, Suspeições e Escusas
Aliás, vale, aqui e agora, lembrar que o artigo 43 (Impedimento do juiz), n.º 1, do CPP, determina
que nenhum juiz efectivo ou substituto pode funcionar em processo penal:
i. quando for ou tiver sido cônjuge ou representante legal do arguido, do assistente ou da
pessoa com legitimidade para se constituir assistente ou parte civil, ou com algum deles
viver ou tiver vivido em condições análogas às de cônjuge – cfr. al. b);
ii. quando ele, o seu cônjuge ou a pessoa que com ele viva em condições análogas às de
cônjuge, ascendente, descendente, for ou tiver sido parente até ao terceiro grau, tutor
ou curador, adoptante ou adoptado do arguido, do assistente ou de pessoa com
legitimidade para se constituir assistente ou parte civil, ou afim destes até àquele grau
– cfr. al. c).
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Importa, também, lembrar que os tribunais são órgãos da pessoa colectiva pública/de Direito
Público Estado e que, sendo órgãos de uma pessoa colectiva, são preenchidos por
titulares/agentes/servidores a quem cabe formar e expressar a sua (tribunais) vontade: os Juízes.
Alcançado este ponto, sou tentado a dizer que o Juiz é a pessoa necessariamente física/singular
e viva que, mediante provimento por nomeação (cfr. artigo 10 “Provimento provisório e
definitivo”, do EMJ), por contrato (cfr. artigo 11 “Provimento por contrato”, do EMJ), ou
mediante provimento em regime especial (cfr. artigo 12 “Provimento provisório em regime
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especial”, do EMJ), dirige e representa determinado tribunal judicial, administrativo, de polícia,
marítimo, fiscal, de trabalho ou de qualquer outra espécie, e/ou exerça, nesse mesmo tribunal,
na qualidade de seu titular, agente ou servidor, a função/tarefa de aplicar a lei, administrar a
justiça e fazer executar as suas (tribunal) decisões - cfr. artigo 3 “Função da magistratura
judicial”, n.º 1, do EMJ, aplicável ipsis verbis aos Magistrados Judiciais e mutatis mutandis aos
demais Juízes.
CONCLUSÕES:
1. O Juiz é, sem duvidas, um servidor público, que exerce as suas funções num determinado
tribunal, que, friese-se, é um órgão de soberania;
2. As decisões (sentenças) e deliberações (Acórdãos) são dos tribunais, não são dos Juízes
que os compõem, individualmente considerados, e que, por isso, tomam tais decisões e
deliberações como seus (tribunais) titulares/agentes/servidores;
3. Não existe a possibilidade de personificar os tribunais nas pessoas dos Juízes, sendo, por
isso, intragável a afirmação do Mmo. Juiz Efigénio Baptista: “O Tribunal sou eu, apenas!”;
4. Assim, é nosso humilde entendimento que JUIZ NÃO É TRIBUNAL!!!
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Domingo, 20 de Fevereiro de 2022