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Os Tribunais

1.O poder jurisdicional


1.1. Conceito
1.1.1. Conceito funcional

a) A jurisdição ou poder jurisdicional é o ramo da


atividade do Estado que tem a ver com a realização do
direito

b) O Estado realiza através da jurisdição, do dizer o direito,


a sua função fundamental de Estado de Direito que é a
preservação da ordem jurídica

c) Jurisdição é o correlato necessário da obrigação que o


cidadão tem de obedecer ao direito e de renunciar à
violência na realização dos seus direitos

 Cidadão tem de aceitar a decisão dos


tribunais como vinculativa para ele;

 Tribunais garantem os seus direitos, por


um lado, e por outro, podem ingerir
profundamente na sua esfera de direitos;

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 Por isso há injunções da Constituição quer
para a organização dos tribunais, quer para
os processos judiciais

o Justiça para poder decidir de forma


independente deve gozar da
independência em relação aos outros
órgãos do Estado (Art.º 222º/3)

o Independência refere-se à atividade de


julgar

o Inamovibilidade (Art.º 222º/4)

o Irresponsabilidade dos juízes, salvo os


casos previstos na lei (Art.º 222º/6)

d) Poder judicial ou jurisdicional encontra-se entre o poder


legislativo e a administração, mas encontra-se
claramente demarcado das outras duas funções do
Estado

e) Não faz leis, mas aplica-as

f) Não governa, nem administra como o Governo, mas


concretiza o direito no caso singular

g) Não é um poder «de conformação», embora através da


interpretação das leis influencie a realização da justiça

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h) Tribunais podem, todavia, funcionar como «legisladores
negativos», isto é quando declaram leis inválidas, o que
leva os governos a aproximarem-se das posições dos
tribunais, expressas nos casos concretos, quando
quiserem fazer leis em consonância com a constituição

1.1.2. Conceito organizatório de poder jurisdicional

 «É o conjunto de todos os órgãos do Estado que se


ocupam da administração da justiça»

2. A Constituição e o Poder Judicial

i) O título V da Parte V da Constituição dedicado ao


Poder Judicial

j) Divisão em capítulos

I. Princípios Gerais
II. Organização dos Tribunais
III. Estatuto dos Juízes
IV. Do Ministério Público
V. Dos Advogados

 Ver :

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 Lei nº 56/VI/2005, de 28 de fevereiro, que
estabelece a competência, a organização e o
funcionamento do Tribunal Constitucional;

 Lei nº 88/VII/ 2011, de 14 de fevereiro, que define


a organização, a competência e o funcionamento
dos Tribunais Judiciais, alterada pela Lei nº
59/IX/2019, de 29 de julho;

 Lei nº 89/VII/ 2011, de 14 de fevereiro, que


estabelece a orgânica do Ministério Público,
alterada pela Lei nº 16/IX/2017, de 13 de janeiro,
que procede à primeira alteração à Lei nº
89/VII/2011;

2.1. Princípios gerais

a) Objeto da administração justiça:

 Dirimir conflitos de interesses públicos e privados, reprimir


a violação da legalidade democrática e assegurar a defesa
dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos
(artigo 209º)

b) Justiça é administrada em nome do povo


(artigo 210º)

c) Justiça administrada pelos tribunais e pelos órgãos não


jurisdicionais de composição de conflitos criados nos
termos da Constituição e da lei

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- Tribunais arbitrais

d) Justiça também administrada por tribunais instituídos


através de tratados, convenções ou acordos
internacionais de que Cabo Verde seja parte

 Tribunal Penal Internacional


 Tribunal Internacional de Justiça
 Tribunal de Justiça da CEDEAO
 Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos
Povos
 Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos
Povos

e) Independência dos tribunais e sujeição à Constituição e à


lei ;

 Regra do Estado constitucional e garantia


essencial do Estado de Direito democrático

 Tem por objetivo a defesa dos tribunais perante


os outros poderes do Estado, em especial o
Executivo

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 Inadmissibilidade de ordens e instruções
administrativas ou de qualquer forma de pressão
sobre os tribunais

 Tribunais são independentes entre si, salvo as


relações hierárquicas ou de ordenação dentro de
cada categoria de tribunais;

 Tribunais de Comarca - Tribunal de


Relação – STJ

 Independência dos juízes é garantia da


independência dos tribunais

 Inamovibilidade e irresponsabilidade dos


juízes

 Sujeição dos tribunais apenas à Constituição e à


lei ( vinculação nas decisões às normas e
princípios da ordem jurídico-constitucional e às
normas de direito internacional aplicáveis)

f) Publicidade dos tribunais ( artigo 211º/4 da CRCV) ;

 «As audiências dos tribunais são públicas, salvo


decisão em contrário do próprio Tribunal, devidamente
fundamentada e proferida nos termos da lei do
processo, para salvaguarda da dignidade das pessoas,
da intimidade da vida privada e da moral pública, bem
como para garantir o seu normal funcionamento»
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g) Fundamentação das decisões dos tribunais que não sejam
de mero expediente

h) Obrigatoriedade e prevalência das decisões dos tribunais


para todas as entidades públicas e privadas

i) Colaboração das entidades públicas e privadas

2.2. As diferentes categorias de Tribunais

2.2.1. Tribunais necessários

a) O Tribunal Constitucional

b) O Supremo Tribunal de Justiça

c) Os Tribunais de Segunda instância (Tribunais de Relação


de Barlavento e Sotavento com sede em Mindelo e
Assomada)

d) Os Tribunais de primeira instância (Tribunais de


Comarca )

e) O Tribunal de Contas

f) O Tribunal Militar de Instância

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g) Os Tribunais Fiscais e Aduaneiros (de Barlavento e
Sotavento )

2.2.2. Tribunais não necessários:

a) Os tribunais administrativos

b) Os tribunais arbitrais

c) Organismos de regulação de conflitos em áreas


territoriais mais restritas do que as da jurisdição dos
tribunais de instância (Tribunais de pequenas
causas)

 Previsão nos artigos 72º a 74º da


Lei nº 88/VII/2011, revista em
2019 pela Lei nº 59/IX/2019 de
29 de julho.

3.O Tribunal Constitucional


3.1. Estatuto jurídico-constitucional

a) Importância como tribunal e órgão de soberania

 É o tribunal ao qual compete especificamente administrar a


justiça em matérias de natureza jurídico-constitucional.

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b) Função principal:

 Garantir o direito constitucional

 Defesa da Constituição;

 Garantia da ordenação das competências;

 Garantia dos direitos dos cidadãos;

 Arbitragem da democracia através,


nomeadamente, de decisões sobre a regularidade
das eleições presidenciais , legislativas e
municipais e da jurisdição sobre partidos
políticos.

3.2. Composição e designação dos juízes do Tribunal


Constitucional

A. Composição

A composição dos tribunais é uma questão importante em virtude


de diversos fatores:

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 A capacidade de resposta do coletivo ;

 A presença do pluralismo jurídico no seu seio;

 O grau de colegialidade e por conseguinte do controlo


interno.

Esta última questão é importante porque tem a ver com a


resposta à pergunta sobre «quem guarda o guarda».

 Na África Ocidental todas as Constituições estabelecem,


com exceção da da Guiné Bissau, os parâmetros quanto ao
número de juízes que devem ter assento nos órgãos de
justiça constitucional.

 O número varia de 3 em Cabo Verde a 21 na Nigéria;

 A maioria dos países prevê entre 5 e nove membros para


as instituições de justiça constitucional, em especial os TC e
Conselhos Constitucionais.

 O caso de Cabo Verde é curioso porque é o único país da


África Ocidental que só tem 3 juízes constitucionais.

 É certo que Cabo Verde é o menos populoso da África


Ocidental, mas ter apenas três juízes para uma jurisdição
constitucional é muito problemático e encontramo-lo muito
raramente.
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 Na Europa, por exemplo, apenas dois pequenos países
apresentam tal composição nos seus Tribunais
Constitucionais: Chipre (1.187.575 h) e Malta (420.521 h).
Andorra, que é cerca de 9 vezes menos populoso que Cabo
Verde (68.728 h), tem 4 juízes.

 Só para curiosidade, na Europa o número máximo de


juízes num Tribunal Constitucional verifica-se na Rússia,
que tem 19.

Constituição cabo-verdiana ( artigo 215º)

- Mínimo de três juízes eleitos pela Assembleia


Nacional de entre:

a) Personalidades de reconhecido mérito e


competência;

b) Personalidades reconhecidamente probas;

c) Com formação superior em direito.

B. Designação

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 Pela Assembleia Nacional mediante
eleição por maioria de 2/ 3 dos deputados
presentes, desde que superior à maioria
absoluta dos deputados em efetividade
de funções e após uma audição
parlamentar

 Presidente é eleito pelos pares

C. Mandato : 9 anos ( Alemanha 12 anos; Portugal e Itália


9), não renovável

D. Posse dos Juízes perante o PR e do Presidente perante os


demais juízes, sob a presidência do juiz mais idoso, posse
pública;

3.3. Competências

a) Fiscalização da constitucionalidade e legalidade;

 Fiscalização concreta;

 Fiscalização abstrata preventiva da


constitucionalidade;

 Fiscalização abstrata sucessiva da constitucionalidade.

b) Verificação da morte e declaração de incapacidade, de


impedimento ou da perda de mandato do PR;

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c) Jurisdição em matéria de eleições e de organizações
político-partidárias, nos termos da lei;

d) Resolução de conflitos de jurisdição, nos termos da lei;

e) Recurso de Amparo ( Lei nº 109/IV/94, de 24 de outubro)

3.5. Principais processos

 Lei nº 56/V/ 2005, de 28 de fevereiro ( Lei do Tribunal


Constitucional)

a) Competências relativas à fiscalização abstrata, preventiva


e sucessiva da constitucionalidade e fiscalização
concreta;

b) Competências relativas ao Presidente da República

c) Competências relativas ao processo eleitoral

d) Competências relativas a organizações político-


partidárias

e) Competências relativas a referendos

f) Competências relativas a declarações de titulares de


cargos políticos e equiparados
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g) Outras competências (recurso de amparo e habeas data;
conflitos de jurisdição)

Conclusão :

Os Tribunais são importantes órgãos de soberania que se


encarregam de dirimir conflitos de interesses públicos e privados,
de reprimir a violação da legalidade democrática e de assegurar
a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos.
Há tribunais judiciais e outras categorias de tribunais, como o
Tribunal Constitucional e o Tribunal de Contas, ou os Tribunais
militares;
Existem tribunais internacionais também.
O Tribunal Constitucional desempenha um papel fundamental na
defesa da Constituição, da ordem de competências definida na
Lei Fundamental para os órgãos de soberania, na defesa dos
direitos, liberdades e garantias do cidadão através,
particularmente, do recurso de amparo contra atos do poder
público que violem os direitos fundamentais previstos, mas
também do recurso de fiscalização concreta da
constitucionalidade das leis, bem como na arbitragem da
democracia.

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