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Estudo para a 2ª frequência de Introdução ao Estudo do

Direito

Tutela do Direito e Garantia dos Direitos


Características da Tutela Pública do Direito:
● É realizada pelo Estado;
● A tutela coactiva é monopólio estatal (só pelo Estado);
● O artigo 1º do Código de Processo Civil diz-nos que a ninguém é lícito o
uso da força, com o fim de realizar ou assegurar o próprio Direito, salvo nos casos
e dentro dos limites declarados pela lei. Quem tem de assegurar os nossos Direitos
é o Estado; existe uma tutela pública do Direito: compete ao Estado assegurar os
nossos Direitos;
● O artigo 20º/1 da Constituição indica-nos que a todos é permitido o
acesso ao Direito e aos tribunais.

Distinção entre coercibilidade das normas jurídicas (quem


aplica) e coação no sentido do uso da força:
Quanto à coercibilidade, há dois órgãos que a podem impor:
● Poder judicial (tribunais);
● Poder executivo (Governo, mais concretamente a Administração
Pública).
Quanto à coação no sentido do uso da força, pode ser imposta por:
● Estabelecimentos prisionais;
● Polícia;
● Exército.

Tribunais
Posição constitucional: segundo o artigo 202º/1, eles são órgãos com
competência para administrar a justiça em nome do povo.
Funções dos tribunais (artigo 202º/2):
● Tutela do Direito Objectivo: reprimir a violação da legalidade
democrática;
● Tutela dos Direitos Subjectivos: assegurar a defesa dos direitos e
interesses legalmente protegidos dos cidadãos e dirimir os conflitos de interesses
públicos e privados (decidir quem tem razão).
Independência (artigo 203º): os tribunais são independentes e
apenas estão sujeitos à lei.
Organização judicial: o princípio fundamental nos tribunais é o da
hierarquização, que nos indica que os tribunais judiciais comuns se hierarquizam em
três instâncias:
● 1ª instância – onde estão os Tribunais de Círculo e de
Comarca;
● 2ª instância – onde estão os Tribunais da Relação
(Guimarães, Porto, Coimbra, Lisboa e Évora);
● 3ª instância – Supremo Tribunal de Justiça.
A vantagem deste princípio é que sobre a mesma matéria há vários tribunais a
aconselhar-se (artigo 209º/1/a)).

Tribunais de competência genérica e de competência


específica:
Os tribunais de competência genérica são tribunais que se podem pronunciar
sobre qualquer matéria (artigo 211º/1).
Os tribunais de competência específica são tribunais que só julgam determinado
tipo de matérias (artigo 211º/2), como é o exemplo dos tribunais de menores, de família, de
trabalho, de execução de penas ou de instrução criminal.
Os tribunais de competência extraordinária, também chamados de tribunais
especiais, estão fora da hierarquia, como é o caso dos tribunais administrativos e fiscais
(artigo 209º/1/b)). No topo deste tipo de tribunais está o Supremo Tribunal
Administrativo. Fazem também parte destes o Tribunal de Contas (artigos 209º/1/c) e
214º), os tribunais militares (artigo 209º/4) e o Tribunal Constitucional (artigo 209º/1).

Características do Tribunal Constitucional:


● As suas funções estão previstas no artigo 221º;
● É composto por 13 juízes;
● Tem uma dimensão política e uma dimensão jurídica;
● Nas matérias de natureza jurídico-constitucional, o Tribunal
Constitucional funciona como tribunal de última instância;
● Faz a fiscalização sucessiva concreta da constitucionalidade.

Funções do Ministério Público:


● Representação do Estado junto dos tribunais judiciais: é uma estrutura
hierarquizada, ou seja, os magistrados superiores dão ordens aos inferiores. O
Procurador-Geral da República é o chefe do Ministério Público e, em princípio,
deverá ser o representante do Estado junto do Tribunal Supremo. A seguir ao
Procurador-Geral da República estão os Procuradores-Gerais Adjuntos, que
representam o Estado junto dos Tribunais da Relação; abaixo destes temos os
Procuradores da República, que representam o Estado junto dos Tribunais de
Círculo. Por fim, os Procuradores Adjuntos representam o Estado junto dos
Tribunais de Comarca;
● Exercício da acção penal: em princípio, o Ministério Público tenta
provar que a pessoa cometeu o crime (regra geral). Pode acontecer também que ele
veja que a pessoa está inocente e a defenda;
● Defesa da legalidade democrática: se há uma norma que suscita dúvidas
(como é o caso de uma norma inconstitucional entrar em vigor), o Ministério Público
é obrigado a recorrer da decisão para o Tribunal Constitucional.

Legitimidade dos Tribunais:


● Quanto à criação – os tribunais têm uma legalidade democrática
indirecta. Coloca-se o problema “Se os tribunais não foram eleitos, onde foram
buscar a sua legitimidade?”: eles estão previstos na Constituição de 1976, cuja
aprovação esteve a cargo da Assembleia Constituinte que, por sua vez, foi eleita
pelo povo. Daí que se diga que têm uma legitimidade democrática indirecta;
● Quanto ao funcionamento – os tribunais também têm uma
legitimidade democrática indirecta, estão vinculados à lei. O juiz toma a solução
que está prevista na lei, que por sua vez é, por excelência, feita pela Assembleia da
República (que representa o povo). Daí se conclui a sua legitimidade.

Quais as consequências da legitimidade democrática indirecta?


● O juiz decide em nome do povo em democracia;
● A decisão do juiz tem de ser justa e imparcial;
● Deve existir independência do poder judicial face ao poder político.

Princípio da Imparcialidade:
No artigo 266º/2 da Constituição está consagrado o dever geral da imparcialidade:
nos magistrados há um grau de exigência maior no que diz respeito a essa imparcialidade.
Aplicada aos juízes, o que está em causa não é o facto de eles serem ou não
imparciais, mas sim o facto de haverem situações que aos olhos da sociedade geram a
dúvida.
A imparcialidade nos magistrados tem três garantias:
● Impedimento (artigos 122º-125º do Código de Processo
Civil) – corresponde à impossibilidade de o juiz julgar a sua família (artigo
122º/1/b)). Corresponde à forma mais grave e pode ser tomada por
iniciativa do juiz ou de qualquer uma das partes. O artigo 122º/1/d) indica
o impedimento do juiz perante a familiaridade com os advogados; o artigo
122º/1/e) indica que um juiz que intervém num processo está impedido
de o voltar a fazer por via do recurso. O artigo 122º1/g) tem a ver com a
possibilidade de haver uma acção judicial que oponha o juiz a uma das partes
e que seja contra as funções do juiz;
● Escusa (artigo 126º do Código de Processo Civil) – é
tomada por iniciativa do juiz, que pode entender que há circunstâncias
relevantes que podem pôr em causa o princípio da imparcialidade e, por sua
vontade, pedir escusa (ser afastado do processo);
● Suspeição (artigos 127º-136º do Código de Processo Civil)
– é a garantia menos grave e tem de ser tomada por iniciativa de uma das
partes. O artigo 127º/1/c) fala-nos de litígio judicial entre o juiz e uma
das partes; o artigo 127º/1/f) fala-nos de dádivas ao juiz. O artigo 127º/
1/g) fala-nos de inimizade grave entre o juiz e uma das partes ou grande
intimidade entre eles.

Princípio da Independência:
Está consagrado no artigo 203º da Constituição e indica que os juízes não estão
sujeitos a quaisquer ordens, instruções ou directrizes sobre a forma como devem decidir
os processos, estão apenas vinculados à lei. Este princípio tem também algumas garantias:
● Inamovibilidade – prevista no artigo 216º/1, indica que os juízes, em
princípio, não podem ser retirados do local onde estão em exercício;
● Irresponsabilidade – prevista no artigo 216º/2, indica que o juiz não
pode ser responsabilizado pelas suas decisões. Esta garantia tem duas excepções:
●Responsabilidade criminal, em que o juiz, na sua função, pode ser
responsabilizado por um crime de denegação de justiça, quando não cumpre as
suas funções. Por exemplo, se uma testemunha mente e é manifesto que ela está a
mentir, cabe ao juiz a obrigação de comunicar esse facto ao Ministério Público, caso
contrário não estará a cumprir as suas funções;
●Responsabilidade civil, prevista no artigo 216º/2, indica que o Estado tem
direito de regresso sobre o juiz: este paga ao cidadão e o juiz tem de lhe restituir
o dinheiro. Este caso só se aplica se o juiz agir com dolo (intenção de prejudicar
uma das partes) ou negligência grosseira (um erro muito grave, no qual o juiz não
tem intenção de prejudicar uma das partes mas, por erro seu, isto acontece). Por
exemplo, se pedirmos uma indemnização a uma empresa e esta falir, o Estado paga.
Se for provada negligência, será o juiz a ter de pagar esta indemnização ao Estado
posteriormente.
● Incompatibilidade – prevista no artigo 216º/3, indica que quem exerce a
profissão de juiz não pode fazer mais nada profissionalmente, excepto ser docente
ou investigador a título gratuito.
● Autogoverno – previsto no artigo 217º/1, indica que quem toma decisões
relacionadas com questões relativas ao juiz é um órgão próprio, constituído
essencialmente por juízes: o Conselho Superior de Magistrados.

Tutela feita através da Administração Pública


Tutela administrativa:
● Autotutela – há uma certa autotutela dos direitos do Estado, isto
é, a Administração Pública toma decisões que, por vezes, têm a mesma força das
decisões dos tribunais e, assim sendo, muitas vezes a Administração Pública não
precisa de recorrer aos tribunais para actuar, pode impor a sua força sem recorrer
aos tribunais.
Em Direito Administrativo é chamada de Privilégio da Execução Prévia e permite à
Administração Pública executar as suas decisões e deixar para mais tarde a discussão
judicial das mesmas. Ao contrário dos particulares, que têm de ir a tribunal, que depois
executa, o Estado executa e só depois vai a tribunal (como, por exemplo, na demolição de
um edifício ou no encerramento de um estabelecimento comercial por parte da Câmara).
No Direito Fiscal há um princípio que diz que “o contribuinte primeiro paga e depois repete
(reclama)”, que tem também a ver com este Privilégio da Execução Prévia.
● Heterotutela – são Direitos que o Estado tem, mas que só pode exercer
após as decisões dos tribunais. É exemplo de heterorutela o Direito de punir.

Garantias dos Administrados:


● Princípio da legalidade (garantia geral) – os órgãos
administrativos só podem actuar se houver uma lei prévia que os autorize.
“Para os particulares, tudo o que não é proibido é permitido; para o Estado,
tudo o que não é permitido é proibido” (ou há uma lei prévia que permite o
comportamento, ou o Estado não o pode fazer).
● Direito à informação – consagrado no artigo 268º/
1 da Constituição, indica-nos que sempre que houver um processo na
Administração Pública que nos diga respeito, temos direito a consultá-lo.
● Direito à impugnação – consagrado no artigo 268º/4 da
Constituição, indica-nos que os administrados podem reagir contra as
decisões da Administração Pública. Esta impugnação pode ser feita através
de:
● Reclamação: feita para o próprio órgão
que praticou o acto. É a forma mais fácil de reagir à
Administração Pública e o seu objectivo é que o órgão mude
de opinião;
● Recurso hierárquico: é dirigido ao
superior hierárquico de quem praticou o acto (em princípio a
Administração Pública é hierarquizada). Dentro do recurso
hierárquico temos de distinguir:
● Recurso hierárquico facultativo: quando a decisão do órgão inferior é
definitiva e executória, que já pode ser executada, isto é, o cidadão pode optar
em fazer recurso para o superior hierárquico ou fazer desde logo um recurso
contencioso, dirigido ao tribunal administrativo, com vista a anular o acto;
● Recurso hierárquico necessário: quando o acto do órgão inferior
ainda não é definitivo e executório, isto é, ainda pode ser “corrigido” por
um outro órgão da Administração Pública - o cidadão não pode recorrer
directamente aos tribunais administrativos.
● Recurso contencioso: é interposto pelo cidadão junto dos tribunais
administrativos.

Jurisdição (tribunais) ≠ Administração Pública


Jurisdição:
● Tem de ser imparcial, isto é, o tribunal tem de estar equidistante
relativamente às partes;
● O tribunal está escrita e exclusivamente vinculado à lei, isto é, na sua
actuação está sujeito à lei.
Administração Pública:
● O administrador pode ser parcial, isto é, a Administração Pública, quando
actua, tem de ter em vista os seus próprios interesses – os interesses públicos;
● A Administração Pública está vinculada ao Princípio da Legalidade, mas
pode também actuar segundo critérios de conveniência e de oportunidade.

Tutela preventiva:
Corresponde à tutela que ocorre antes da violação do direito; aliás, ela destina-se
precisamente para evitar esta violação.
No âmbito desta tutela, temos os seguintes instrumentos:
● Sanções jurídicas negativas, uma vez que a simples existência de
sanções, muitas vezes, evita a violação da lei (como, por exemplo, no pagamento de
impostos);
● Medidas de segurança, que estão previstas essencialmente no Código
Penal e não visam punir o delinquente, mas sim evitar que ele venha a praticar novos
crimes, como é o caso de crimes praticados por inimputáveis, cuja conduta não pode
ser censurada – os menores ou pessoas portadoras de anomalias psíquicas (como,
por exemplo, o internamento de uma pessoa afim de a reinserir na sociedade);
● Acções declarativas de simples apreciação, que estão previstas no
Código de Processo Civil. Segundo o artigo 4º/2/a) deste código, estas acções
correspondem a quando uma pessoa vai a tribunal só para que ele se pronuncie sobre
um assunto, embora não o condene. Visam prevenir conflitos;
● Procedimentos cautelares, que estão previstos no Código de Processo
Civil e visam prevenir o fundado receio de uma lesão grave e dificilmente reparável
de um direito, enquanto não houver uma decisão definitiva sobre o mesmo numa
acção judicial proposta ou a propor. Estes procedimentos necessitam da verificação
de dois requisitos:
● “Fumus Bonus Iuris” (fumo de bom direito): quem
requereu a providência cautelar pode vir a ter razão na questão de fundo,
na questão principal;
● “Periculum in mora (perigo na demora): há uma
situação urgente que não se compadece com a demora normal de um
processo judicial (como, por exemplo, no caso de uma empresa que se
encontra em processo de falência e deve aos trabalhadores, devemos agir
rapidamente).

Tutela repressiva:
Corresponde à tutela que se verifica depois de consumada a violação do direito.

Tutela privada do Direito (acontece muito excepcionalmente):


Corresponde à tutela realizada pelos particulares, a chamada “justiça privada” ou
“autotutela”. Em princípio, é proibida (artigo 1º da Constituição), embora possa ser
exercida excepcionalmente nos casos de:
● Direito de resistência: previsto no artigo 21º da Constituição, dá a
todos o direito de resistência perante a dúvida de que algo é ilegal;
● Legitima defesa: prevista no artigo 337º do Código Civil, é uma figura
muito relevante no Direito Penal, uma vez que exclui a ilicitude (para não ser
agredido, podemos agredir). Existem cinco requisitos de legitima defesa:
● Impossibilidade de recorrer à autoridade pública;
● A agressão tem de ser ilegal, tem de haver um comportamento por parte do
agressor que não seja previsto na lei;
● Tem de ser uma agressão actual ou iminente (o indivíduo tem de estar a ser
agredido ou prestes a sê-lo);
● Racionalidade dos meios de defesa, isto é, o prejuízo causado pela legítima
defesa não deve ser manifestamente superior ao que pode resultar da agressão;
● A agressão tem de ser contra a pessoa ou o património da pessoa autora da
legítima defesa ou de terceiro;
● Acção directa: prevista no artigo 336º do Código Civil, corresponde ao
reaver das coisas roubadas ao ladrão pelos nossos próprios meios;
● Estado de necessidade: previsto no artigo 339º do Código Civil,
corresponde à reacção sobre a esfera jurídica de outra pessoa por parte de quem
está ameaçado por um perigo que não resulta de agressão alheia. Nestes casos é
permitido destruir ou danificar coisa alheia para afastar do agente ou de terceiro
um perigo actual e visa evitar a consumação ou ampliação de um dão. Está também
consagrado no Direito Penal, onde é uma causa de exclusão de ilicitude. São
exemplos deste estado a inundação, incêndio ou enxame de abelhas (artigo 1322º do
Código Civil);
● Direito de retenção: previsto no artigo 754º do Código Civil, é a
faculdade que o credor tem de reter algo, recusando-se a entregá-lo ao seu
proprietário enquanto este não pagar as despesas e os prejuízos causados por essa
coisa. É considerado um direito real de garantia e visa garantir o direito de crédito.
São exemplos deste o artigo 755º e a retenção de um automóvel por parte de uma
oficina até que seja pago o seu arranjo;
● Direito de resolução de contrato: previsto no artigo 801º/2 do Código
Civil, consagra que “Pacta sunt reservanda”, isto é, “Todos os contratos devem
ser cumpridos”. Se uma parte não cumpre, a outra tem direito de resolução de
contrato, tem direito a indemnização;
● “Exceptio non adimpleti contractus”: prevista no artigo 428º,
corresponde à “excepção ao não cumprimento do contrato”, isto é, corresponde
à possibilidade de uma das partes recusar a sua prestação do contrato se a
outra parte não a cumprir. É uma atitude individual na qual existe uma recusa de
prestação da outra parte. É exemplo desta a recusa da entrega de uma peça de
roupa face ao não pagamento da mesma, numa loja;
● Greve: prevista no artigo 57º/1 da Constituição, corresponde
à suspensão concertada e generalizada da prestação de trabalho por parte
dos trabalhadores, é um direito que eles têm de recusa da sua prestação. É
permitida, corresponde a uma atitude colectiva na qual pode não haver uma
recusa da prestação da outra parte, dependendo do motivo da greve. O “lock
out” corresponde à possibilidade de a entidade patronal encerrar a empresa ou
estabelecimento. É o oposto da greve e é proibido (artigo 57º/4 da Constituição).

Fontes de Direito:
São os modos como se constitui e manifesta o direito positivamente vigente numa
determinada comunidade histórica; correspondem aos locais onde está o Direito e o vamos
conhecer. Nem todas as fontes estão no Código Civil e nem tudo o que está no Código Civil
são fontes de Direito.
O Código Civil é uma lei e, como tal, temos de relativizar o elenco de fontes que ele
possui, uma vez que ele próprio é uma fonte de direito.
Acima das fontes positivas estão os princípios fundamentais do Direito, que estão
ligados à ideia de Direito Natural.

Distinção entre fontes formais e fontes materiais:


● Fontes formais: modos de constituição e de manifestação do Direito
(lei, costume, jurisprudência);
● Fontes materiais: factos sociais geradores da aplicação do
direito (pessoas que matam, divórcio – que é estudado pela Sociologia). Estes
correspondem mais ao objecto de estudo da Sociologia.

Elenco das Fontes de Direito:


● Leis e normas corporativas (fontes imediatas), previstas no artigo 1º
do Código Civil;
● Usos (fontes mediatas), previstos no artigo 3º;
● Equidade (fontes mediatas), que é questionado se corresponde
verdadeiramente a uma fonte de direito;
A par com estas quatro fontes, existem outras quatro que não estão previstas no
Código Civil:
● Princípios Fundamentais do Direito, que são superiores à lei;
● Costume;
● Jurisprudência, as decisões dos tribunais;
● Doutrina, as opiniões dos professores de Direito.

Classificação das Fontes de Direito


Segundo Sebastião Cruz:
● Existendi: são os órgãos produtores das normas jurídicas. Exemplos: a
Assembleia da República porque produz leis, o Governos porque produz decretos-
lei, as Assembleias Legislativas Regionais porque produzem decretos legislativos
regionais, os tribunais porque produzem sentenças, os professores de Direito
porque produzem doutrina e o povo porque produz o costume e os princípios
fundamentais do direito;
● Manifestandi: são os modos de produção ou formação das normas
jurídicas. Exemplos: as leis, as normas corporativas, a equidade, etc.;
● Cognoscendi: são os textos onde se encontram as normas jurídicas.
Exemplos: Constituição da República Portuguesa, Código Civil e a generalidade dos
códigos.

Segundo Oliveira Ascensão:


● Sentido histórico: tem a ver com as origens históricas e as influências
exercidas sobre um determinado sistema jurídico. Neste sentido, pode dizer-se
que o Direito Romano é fonte do Direito Português actual, uma vez que o Direito
Português se fundamenta no Direito Romano. O Direito Francês é também fonte
do Direito Português e, de certa forma, também o Direito Alemão, uma vez que
exerceu uma forte influência no Direito Português. Por sua vez, o Direito Português
é fonte do Direito Brasileiro, por exemplo;
● Sentido instrumental: são os documentos que contêm as regras
jurídicas. Coincide com o sentido Cognoscendi de Sebastião Cruz;
● Sentido orgânico: são os órgãos encarregados da produção de regras
jurídicas. Coincide com o sentido Existendi de Sebastião Cruz;
● Sentido técnico-jurídico ou dogmático: são os modos de formação ou
revelação das normas jurídicas. Corresponde ao sentido Manifestandi de Sebastião
Cruz.

Outra classificação:
● Normas de 1º grau ou primárias: correspondem a normas que são
fontes directas do Direito, como é o caso da generalidade das normas do Código
Civil a partir do artigo 14º;
● Normas de 2º grau: correspondem a normas sobre as fontes de
direito, como é o caso das normas previstas nos artigos 1º-13º do Código Civil;

● Fontes imediatas: são aquelas que têm uma força vinculativa imediata.
De acordo com o artigo 1º/1, correspondem às leis e normas corporativas;
● Fontes mediatas: são aquelas cuja força vinculativa resulta da lei que
para elas remete. São exemplos destas os usos (artigo 3º) e a equidade (artigo 4º);

● Fontes voluntárias: são aquelas que pressupõem um acto explícito de


criação normativa, são fontes que na sua formação têm a ver com a vontade. São
exemplos destas a lei, a jurisprudência e a doutrina;
● Fontes involuntárias: são aquelas que não pressupõem um acto
explícito de criação normativa, isto é, aquelas que são independentes da vontade
individual. São fontes que, no fundo, nos transcendem. São exemplos destas os
princípios fundamentais do direito e o costume.

Análise das Fontes de Direito


NORMAS CORPORATIVAS:
● O artigo 1º/2 consagra o conceito de normas corporativas. Segundo
este, são as regras ditadas pelos organismos representativos das diferentes
categorias morais, culturais, económicas ou profissionais, no domínio das suas
atribuições, bem como os respectivos estatutos e regulamentos internos;
● O artigo 1º/3 estabelece os limites das normas corporativas. Assim
sendo, as normas corporativas não podem contrariar as disposições legais de
carácter imperativo, as leis imperativas prevalecem sobre as normas corporativas;
● Actualmente correspondem às normas de ordens profissionais. Já não
existem câmaras corporativas, mas sim normas corporativas.

LEI:
● O artigo 1º/2 estabelece o conceito de lei: corresponde a todas
as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais competentes. Têm dois
elementos:
● Elemento material: disposições de carácter genérico;
● Elemento formal: provindas dos órgãos estaduais competentes.
● As leis em sentido meramente formal, tal como o nome indica, têm
o elemento formal, mas não o elemento material. São exemplos destas as leis de
autorização legislativa, as leis que autorizam o governo a realizar empréstimos e as
leis que aprovam os tratados;
● As leis em sentido meramente material têm apenas o elemento
material. São exemplos destas os decretos-lei do Governo, alguns decretos-lei
do Presidente da República (normalmente em estado de emergência), decretos
legislativos regionais e regulamentos administrativos;
● A verdadeira lei tem o elemento material e o elemento formas. São,
assim, verdadeiras leis a Constituição da República Portuguesa, as leis de revisão
constitucional e as leis ordinárias;
● Para Oliveira Ascensão, só existem leis se se forem verificados três
pressupostos:
● Origem: a lei tem de ser aprovada por uma autoridade competente;
● Forma: a lei tem de respeitar as formas estabelecidas para a criação
legislativa;
● Fim: a lei tem o objectivo de alterar a ordem jurídica com a introdução de
um preceito genérico.

Tipologia das leis:


Segundo o artigo 112º/1 da Constituição, existem três tipos de actos legislativos:
● As leis, da Assembleia da República;
● Os decretos-lei do Governo;
● Os decretos legislativos regionais das Assembleias Legislativas Regionais.

Publicidade das leis:


● O artigo 5º/1 do Código Civil estabelece um requisito de publicidade:
a lei só é obrigatória depois da sua publicação no Diário da República, ou seja,
corresponde a um requisito de ineficácia. Se pensarmos no conceito de lei em
sentido material, chegamos à conclusão que há várias leis cuja Constituição não
exige a publicação no Diário da República;
● O artigo 119º/1 da Constituição indica um conjunto de actos que têm
de ser publicados no Diário da República;
● O artigo 119º/2 da Constituição fixa a ineficácia como sanção para
a falta de publicação destes actos no Diário da República. É também apontado
como exemplo as leis em sentido meramente material que, como já foi indicado,
correspondem, em parte, a leis que não são obrigatoriamente publicadas em Diário
da República, como acontece com os regulamentos aprovados pelo Governador Civil
(artigo 119º/1 da Constituição);
● Temos, assim, de fazer uma interpretação restritiva do artigo 5º/
1 do Código Civil, de modo a abranger apenas as leis que constam do elenco do artigo
119º/1 da Constituição.

● Porque existe necessidade de dar publicação às leis?


Existe esta necessidade para tornar possível o conhecimento das leis por todos os
cidadãos. Todos os cidadãos devem conhecer a lei, uma vez que ninguém pode invocar a sua
ignorância (artigo 6º do Código Civil).

Rectificação das leis:


● Por vezes, o texto publicado no Diário da República não coincide
integralmente com o texto original. Nestes casos, é necessário fazer uma
rectificação da lei, que consiste na aprovação de um decreto rectificativo que
corrija a versão inicial da lei.
● A lei entra em vigor quando é publicada inicialmente ou quando é
rectificada?
Entende-se que a lei entra em vigor no momento da sua publicação inicial, uma
vez que o decreto rectificativo vai retroagir à data da publicação da versão inicial
da lei.

Início da vigência da lei:


● Segundo o artigo 5º/2 do Código Civil, o período que medeia entre a
publicação da lei e o início da sua vigência é chamado de “vacatio legis”;
● De acordo com o artigo 2º do decreto que aprova o Código Civil
(publicado em 25/11/1966), este entrou em vigor em 1/06/1967. Este tempo
decorrido entre as datas corresponde à “vacatio legis”.
● O artigo 5º/2 do Código Civil indica que a própria lei fixa, geralmente,
o começo da sua vigência. Se esta nada disser, tem de se atender aos prazos gerais
determinados em legislação especial.
● Para que serve a “vacatio legis”?
A “vacatio legis” serve para dar a conhecer a lei aos seus destinatários.
● Situações que podem levar a que a “vacatio legis” seja mais ampla:
● Dificuldade de apreensão de certas leis: há certas leis que exigem
dificuldade na sua apreensão, é necessário fazer um exame prolongado da lei, como
acontece com o Código Civil;
● Dificuldade de adaptação à nova lei: por vezes, a nova lei implica
uma mudança de mentalidade por parte dos seus destinatários, como aconteceu com
a lei da proibição do tabaco.
● Situações que podem levar a que a “vacatio legis” seja mais curta, ou à
sua inexistência:
● Inadiável urgência, como acontece no caso de existirem situações
de catástrofes públicas;
● Quando a “vacatio legis” prejudica o objectivo da lei, como no
caso da suspensão da compra de divisas estrangeiras. Nestes casos, a lei tem de
entrar logo em vigor, caso contrário, pode acontecer o efeito oposto: toda a gente
compra porque sabe que vai ser proibido.

Cessação da vigência da lei:


● O artigo 7º/1 do Código Civil distingue dois tipos de cessação de vigência:
● Caducidade: quando a lei se destina a ter uma vigência temporária;
● Revogação expressa: quando existe uma nova lei que vem revogar a
anterior.
● O artigo 7º/2 distingue:
● Revogação expressa: quando a nova lei revoga expressamente a lei
anterior;
● Revogação tácita: quando há uma incompatibilidade entre a nova lei e a
lei anterior, quando a lei está subentendida, como no caso da lei do divórcio.
● O artigo 7º/3 indica que a lei especial prevalece sobre a lei geral; a lei
especial revoga a lei geral;
● O artigo 7º/4 tem a ver com a repristinação.

Caducidade como cessação da vigência da lei:


A caducidade acontece quando há a superveniência (posterioridade) de um facto
previsto na própria lei ou desaparecimento da realidade que a lei pretende regular.
Caducidade por superveniência de um facto:
A superveniência de um facto pode ser de dois tipos:
● Um facto cronológico, como por exemplo, quando a lei fixa uma data em
si mesma para deixar de vigorar;
● Um facto de uma outra ordem, como por exemplo, uma lei que
seja feita para uma catástrofe, apenas entra em vigor enquanto existirem
consequências dessa situação.
Caducidade por desaparecimento de uma realidade:
Se existir uma lei que visa proteger uma espécie animal em vias de extinção e essa
espécie for mesmo extinta, a lei deixa de vigorar, deixa de ter objectivo.

Revogação:
Acontece quando a lei deixa de vigorar com a entrada em vigor de uma nova lei. A
revogação, quanto à forma, pode ser de dois tipos:
● Expressa: quando o legislador indica expressamente quais as normas
que a lei revoga;
● Tácita: quando há uma incompatibilidade entre as disposições da nova
lei e as disposições da lei antiga.
Quanto ao âmbito, a revogação pode ser:
● Total: também chamada de abrogação, corresponde a quando a nova
lei regula todo um instituto jurídico (por exemplo, o arrendamento urbano ou
o contrato de compra e venda) ou quando revoga todo um ramo do direito (por
exemplo o Processo Penal ou o Processo Civil);
● Parcial: também chamada de derrogação, corresponde a quando apenas
uma parte de um determinado diploma é alterada (por exemplo, alteram-se alguns
artigos do Código de Processo Civil: ele continua em vigor, apenas lhe são alterados
alguns artigos).

O costume “contra legem” (contra a lei) é uma prática espontânea/constante contra a


lei, animada pela convicção de que é juridicamente obrigatória.
Embora o costume “contra legem” não esteja previsto no Código Civil, o legislador não o
pode impedir.

O desuso, tal como o nome indica, corresponde a quando uma lei está em vigor, embora
não seja usada.
A repristinação é a reposição em vigor de uma lei que tinha sido revogada. O artigo 7º/
4 do Código Civil estabelece uma regra geral de repristinação:

O artigo 282º/1 da Constituição indica uma espécie de excepção à regra geral da


repristinação: a fiscalização sucessiva e abstracta da constitucionalidade:

Desvalores do acto legislativo:


Uma vez que a lei obedece ao mesmo processo de formação de qualquer acto
jurídico, também ela está sujeita aos mesmos desvalores/vícios dos actos jurídicos. Estes
desvalores/vícios podem ser de três tipos:
● Inexistência – é considerado que o acto legislativo não existe. São
exemplos desta os artigos 137º, 134º/b) e 140º/2;
● Invalidade – este tipo de desvalor subdivide-se em dois tipos: nulidade
e anulabilidade. Em princípio, um acto legislativo não pode ser anulável. Nos actos
legislativos existe uma figura aproximada da nulidade (artigo 282º da Constituição);
● Ineficácia – um acto legislativo pode ser ineficaz desde logo quando
falha o requisito da publicidade do acto. É exemplo desta o artigo 119º/2 da
Constituição.

Hierarquia das fontes e das normas:


● As normas de hierarquia superior prevalecem sobre as normas de
hierarquia inferior;
● Os Princípios Fundamentais do Direito correspondem à fonte mais
importante. São anteriores e superiores à própria Constituição e ao Estado;
● As leis constitucionais são aquelas que têm um valor constitucional e que,
por isso, são as mais importantes. Existem três tipos de leis/normas:
● Normas constitucionais aprovadas pelo legislador constituinte originário (é
a assembleia constituinte que faz a lei);
● Normas constitucionais aprovadas pelo legislador constituinte derivado (é a
Assembleia da República, quando faz as leis de revisão constitucional);
● Normas constitucionalizadas, que correspondem a normas que têm valor
constitucional, mas que não estão formalmente na Constituição, como é o
caso das normas de Direito Internacional Público, que são recebidas pelo
artigo 8º da Constituição.
● As leis ordinárias são aquelas que não têm um valor constitucional, aliás,
quando uma lei ordinária viola a Constituição é considerada inconstitucional. A
inconstitucionalidade pode ser de quatro tipos:
● Orgânica: quando o acto é praticado por um órgão sem competência para o
efeito, como acontece, por exemplo, se o Governo aprovar um decreto-lei
sobre matéria que é competência exclusiva da Assembleia da República;
● Formal: quando o acto é praticado com uma forma que não é a exigida pela
Constituição, como aconteceria, por exemplo, se a Constituição exigisse que
um acto fosse praticado com a forma de lei orgânica;
● Procedimental: quando o acto é praticado sem que tivessem sido
observados determinados requisitos previstos na Constituição, como
aconteceria se, por exemplo, o Presidente da República quisesse dissolver
o Parlamento Regional dos Açores; ele teria de ouvir o Governo Regional
dos Açores primeiro, caso contrário existiria uma inconstitucionalidade
procedimental;
● Material: quando o conteúdo de uma lei ordinária viola a Constituição,
como aconteceria se, por exemplo, hoje fosse aprovada uma lei a dizer que
Portugal passaria a ser uma monarquia;
● As leis ordinárias de valor reforçado são leis que têm um valor infra-
constitucional e supra-legal. Estas encontram-se no artigo 112º/3 da Constituição.

Conflitos de normas:
Por vezes, relativamente ao mesmo caso, há duas ou mais normas aplicáveis.
Existem critérios subsidiários (só se aplica o segundo na falta do primeiro, e assim
sucessivamente) para escolher uma das normas para resolução de conflitos de normas:
● Superioridade: a fonte hierárquica superior prevalece sobre a fonte
hierárquica inferior. Se as fontes tiverem o mesmo nível hierárquico, passamos para
o segundo critério;
● Especialidade: prevista no artigo 7º/3 do Código Civil, indica que a
lei especial prevalece sobre a lei geral. É exemplo deste critério o facto de as leis
que se aplicam a um professor universitário prevalecerem sobre as regras que se
aplicam à função pública. Se as duas fontes tiverem o mesmo valor e forem ambas
gerais ou especiais, avançamos para o terceiro critério, que é subsidiário dos outros
dois;
● Posterioridade: prevista no artigo 7º/1 do Código Civil, indica que a
lei posterior revoga a lei anterior.
ASSENTOS:
● Actualmente não são considerados fonte de direito. Foram previstos
no artigo 2º do Código Civil até 1995, altura em que, com o decreto-lei 329-A/
95, de 12/12, deixaram de o ser;
● Eram acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça que tinham força
obrigatória e geral para todos os casos semelhantes. Em 1995 chegou-se à
conclusão que a figura dos assentos era inconstitucional porque, se os assentos
tinham uma força obrigatória e geral, então tinham força de lei. Eram uma
espécie de leis aprovadas pelo Supremo Tribunal de Justiça, porém quem
tem competência legislativa em Portugal é a Assembleia da República e, por
vezes, as Assembleias Legislativas Regionais e o Governo. Quando o Supremo
Tribunal de Justiça fazia uma espécie de lei, violava o Princípio da Separação de
Poderes, uma vez que ele não tinha competência para tal.

JURISPRUDÊNCIA:
● É uma fonte indirecta do Direito, que não está prevista no Código Civil;
● É o conjunto das decisões em que se exprime a orientação seguida
pelos tribunais ao julgar os casos concretos que lhes são submetidos. Não tem
força vinculativa (caso contrário seria um assento), mas é uma fonte importante.
Tem um poder indicativo, na medida em que existem muitos acórdãos que não vão
no mesmo sentido e cabe ao advogado escolher o que mais se aplica ao caso em
concreto;
● Há três aspectos em que a jurisprudência ganha particular importância:
● Influência legislativa: normalmente a jurisprudência vai atrás da lei, mas
pode acontecer o contrário, ou seja, pode a lei ir atrás da jurisprudência. Pode haver
uma situação nova para a qual ainda não há legislação e os tribunais têm de a decidir.
Assim se vai criando uma jurisprudência, uma tendência de decisão dos tribunais.
Quando o legislador criar uma lei para aquela situação vai ser influenciado pela
jurisprudência, vai ter em conta como os tribunais estão a resolver a situação;
● Interpretação: a jurisprudência é uma fonte importante a nível da
interpretação da lei, na medida em que há artigos cuja redacção não é muito clara;
● Integração de lacunas: por vezes há situações que não estão directamente
previstas na lei. Nestes casos, diz-se que há uma lacuna, uma falha. A jurisprudência
tem a função de integrar as lacunas, tem de encontrar soluções para aquelas falhas na
lei.
● Há também diferentes formas de jurisprudência:
● Costume jurisprudencial: acontece quando, pela repetição de sentenças e
acórdãos, os tribunais criam a convicção de que é obrigatório decidir num certo sentido.
Neste caso entende-se que a fonte que está em causa não é a jurisprudência, mas sim o
costume, que é também fonte indirecta;
● Uniformização de jurisprudência: é uma tentativa de que casos
semelhantes tenham soluções semelhantes. É feita através dos chamados acórdãos
de uniformização de jurisprudência, que não são vinculativos, ao contrário dos
assentos, embora dêem uma indicação muito forte no sentido de se decidir como está
lá previsto. Estes acórdãos aparecem no chamado julgamento ampliado de revista
(recurso de revista é o recurso que se interpõe relativamente aos acórdãos dos
tribunais da Relação), porque no Supremo o recurso de revista, quando está em causa a
uniformização da jurisprudência, não vai ser julgado apenas por três conselheiros, como
é normal, mas sim pelo plenário (por todos os conselheiros).
● Quem decide se se vai ou não fazer julgamento ampliado de revista
é o presidente do Supremo Tribunal de Justiça (artigo 732º-A/1 do Código de
Processo Civil);
● O artigo 732º-A/2 diz-nos que qualquer uma das partes pode
requerer o julgamento ampliado de justiça;
● Segundo o artigo 732º-B/4 do Código de Processo Civil, nestes
julgamentos têm de intervir pelo menos ¾ dos juízes em exercício de funções
nas secções cíveis;
● O artigo 732º-B/5 indica que o acórdão da uniformização da
jurisprudência é publicado na 1ªsérie do Diário da República. Há uma forte
tendência para os tribunais decidirem no sentido em que estão os acórdãos.

PRECEDENTE:
● Em Portugal, em princípio, não é fonte de Direito;
● Acontece quando a decisão de um caso concreto é vinculativa para
casos futuros semelhantes;
● É uma fonte de Direito muito importante no Sistema Anglo-Saxónico,
como nos EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá, etc.

DOUTRINA:
● É uma fonte indirecta de Direito. Não é, tal como a jurisprudência,
vinculativa, mas é uma fonte importante;
● É um conjunto de opiniões e pareceres dos professores de Direito e
dos jurisconsultas mais importantes sobre a interpretação e integração do Direito;
● Encontra-se nos tratados doutrinários, nas monografias, nos manuais,
nas anotações e em estudos jurídicos vários (obras que são conjuntos de artigos de
várias pessoas);
● A doutrina é tanto mais importante quanto maior for a auctoritas
(um saber de autoridade) de quem a faz. Essa auctoritas pode medir-se pelo grau
académico (em princípio, a opinião de um doutor vale mais que a de um mestre, que
por dua vez vale mais que a de um licenciado), pelo volume da obra publicada (vale
mais a opinião de um indivíduo que tenha escrito sobre a matéria do que a daquele
que nunca escreveu sobre ela) e pela qualidade da obra publicada (citações em
jurisprudência ou noutra doutrina);
● Há três pontos que demonstram a importância da doutrina:
● Influência legislativa: o legislador, quando faz uma lei, atende à
orientação dos tribunais, mas também às opiniões dos professores de Direito;
● Interpretação: tal como a jurisprudência, a doutrina ajuda-nos a
interpretar a lei;
● Integração de lacunas: pode haver uma matéria cuja qual não haja lei
e que um professor de Direito emita uma opinião sobre a forma como se deve
resolver essa questão.

EQUIDADE:
● Está prevista como fonte directa e mediata de Direito no artigo 4º
do Código Civil, no entanto, há quem entenda que a equidade não é uma verdadeira
fonte de Direito, como é o caso de Oliveira Ascensão, que entende que a equidade
não é fonte de Direito, uma vez que estas são os modos de formação e revelação do
Direito, os modos como o Direito se-nos revela;
● É a decisão justa e adequada a um caso concreto, é a própria decisão
do caso concreto;
● Casos em que a lei remete para a equidade como fonte de Direito:
● Artigo 339º/2, em que se admite uma indemnização equitativa;
● Artigo 437º/1, que estabelece uma cláusula rebus sic stantibus, isto é, as
coisas valem consoante as circunstâncias;
● Artigo 489º/1, que se refere à indemnização por inimputável;
● Artigo 494º, que se refere à indemnização em caso de mera culpa, que pode
ser por dolo ou negligência;
● Artigo 496º/3, que fala de danos materiais cuja indemnização pode ser
fixada equitativamente.

COSTUME:
● É uma fonte não voluntária, não depende da vontade. Aliás, há duas
fontes não voluntárias: o costume e os princípios fundamentais do direito;
● Não está previsto no Código Civil;
● É uma prática social constante, acompanhada da convicção da
obrigatoriedade da norma que lhe corresponde. Tem dois elementos:
● Corpus: é o corpo do costume, o seu elemento material. É a tal “prática
social constante”, ou seja, é a observância generalizada, uniforme e prolongada no
tempo de um determinado padrão de conduta;
● Animus: é o ânimo do costume, o seu elemento psicológico. É a convicção
de se estar a obedecer a uma norma jurídica sustentada pela consciência jurídica
da comunidade. Há também quem lhe chame opinio iuris vel necessitatis, isto é,
“consciência jurídica acerca da obrigatoriedade da norma”.
● Historicamente, em Portugal, o costume foi a principal fonte de
direito até meados do século XVIII. Entretanto, em 1769, o Marquês de Pombal
fez publicar a Lei da Boa Razão, que impunha três requisitos cumulativos para que
o costume fosse fonte de direito: o costume tinha de ter mais de 100 anos, não
podia ser contra legem (contra a lei) e tinha de ser conforme à Boa Razão. Desta
data para cá, nunca mais o costume foi uma importante fonte do direito positivo
português. Na actualidade, a regra geral é a de que o costume não é fonte do
direito positivo português. Há algumas excepções.
● Casos em que o costume é fonte de direito:
● O costume é recebido em Portugal pelo artigo 8º/1 da Constituição, uma vez
que o costume é uma das principais fontes do Direito Internacional Público, que por
sua vez é parte integrante do direito português;
● O artigo 348º/1 do Código Civil fala do Direito Consuetudinário, que
corresponde a outro nome dado ao Costume. Em tribunal, pode ser invocado como
prova o costume local e o costume estrangeiro;
● O artigo 1400º/1 do Código Civil fala do costume na divisão de águas.
● Será que o costume, pelo facto de não constar das fontes de direito
que estão previstas nos artigos 1º a 4º do Código Civil, deixa de ser fonte de
Direito?
Oliveira Ascensão defende que sim, o costume é fonte de direito, apesar de não
estar previsto no Código Civil, pois o Código Civil é uma lei que fala da própria lei e das
outras fontes. O costume é uma lei que transcende o próprio legislador, tem a ver com a
própria consciência jurídica da comunidade, isto é, o costume, em última instância, emerge
da consciência do público; é irrelevante o legislador incluir ou não o costume no elenco das
fontes.
● O costume pode ser de três tipos:
● Secundum legem (segundo a lei): significa que há uma coincidência entre o
costume e a lei, as regras do costume e da lei são as mesmas;
● Praeter legem (para além da lei): o costume não contraria a lei, vai além
dela. Regula uma matéria que a lei não resolve;
● Contra legem (o costume e a lei estão em contradição): há um conflito entre
estas fontes. Há a tendência para dar prevalência à lei. Por vezes pode acontecer
que este costume leve à cessação da vigência da lei.

USOS:
● São uma fonte directa e mediata do direito (artigo 3º/1 do Código Civil);
● São uma prática social constante, não acompanhada da convicção da sua
obrigatoriedade. São uma espécie de costume inacabado, uma vez que no uso apenas
existe corpus, falta-lhe o animus.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO:


● É a fonte mais importante, que não está prevista no Código Civil porque
está acima deste, da Constituição e até do próprio Direito Positivo;
● É uma fonte involuntária, está ligada à ideia de direito natural e
corresponde aos princípios estruturantes do estado de direito;
● Princípios Fundamentais do Direito que estão consagrados no Direito
Positivo:
● Princípio do Estado Democrático: diz-nos que os cidadãos devem decidir
os seus próprios destinos através dos seus representantes. O artigo 2º da Constituição
diz-nos que Portugal é um estado democrático;
● Princípio do Bom Senso: diz-nos que ninguém deve abusar dos seus direitos.
Está consagrado no artigo 334º do Código Civil;
● Princípio Neminem Laedere: diz-nos que não devemos prejudicar o Direito.
Está consagrado no artigo 483º/1, que estabelece responsabilidade civil;
● Princípio Suum cuique tribure: diz-nos que devemos dar a cada um aquilo
que é seu. Está consagrado no artigo 473º/1 do Código Civil.
● Casos em que o Direito Positivo remete expressamente para os
Princípios Fundamentais do Direito:
● Artigo 8º/1 da Constituição, que fala de Direito Internacional Público;
● Artigo 16º/2 da Constituição, que fala da declaração dos Direitos do
Homem, que por sua vez tem consagrado um conjunto de Princípios Fundamentais do
Direito;
● Artigo 10º/3 do Código Civil, que indica uma certa analogia iuris, o espírito
do sistema.

Lei 74/98, de 11 de Novembro: Lei da Publicação,


Identificação e Formulário dos Diploma (características):
● Artigo 1º/1: a publicação no Diário da República é um requisito de
eficácia dos actos legislativos;
● Artigo 1º/2: a data do diploma é a data da sua publicação no Diário da
República;
● Artigo 2º/1: um acto legislativo entra em vigor na data que ele próprio
fixar, o que significa que a vacatio legis é estabelecida pelo próprio. Se for de
vigência imediata, o acto legislativo começará a vigorar no dia seguinte, uma vez que
não pode começar a vigorar no próprio dia da publicação;
● Artigo 2º/2: pode acontecer que um acto legislativo seja publicado sem
fixação de dia para início de vigência. Assim sendo, entra em vigor passados cinco
dias da sua publicação (período de vacatio legis);
● Artigo 2º/4: o prazo de cinco dias indicado como vacatio legis é iniciado
no dia seguinte ao da sua publicação;
● Artigo 3º/1: o Diário da República é composto por primeira e segunda
séries;
● Artigo 3º/2: o elenco de actos legislativos que são publicados na
primeira série do Diário da República está também consagrado no artigo 119º da
Constituição;
● Artigo 5º/1: dá-nos o conceito de rectificação e indica para que ela
serve;
● Artigo 5º/2: estabelece o prazo para se fazerem rectificações;
● Artigo 5º/3: estabelece as consequências do facto da rectificação não
ser feita em 60 dias;
● Artigo 5º/4: indica que a rectificação tem efeitos retroactivos;
● Artigo 6º/1: fala das alterações, indicando os diplomas que alteraram o
diploma anteriormente;
● A republicação acontece quando uma lei está em vigor e é alterada.
Por vezes, por serem alteradas algumas normas, é necessário publicar novamente
o código. Normalmente, em anexo à lei da alteração vem todo o código, já com as
alterações feitas;
● Casos em que tem de ser feita republicação:
● Artigo 6º/2;
● Artigo 6º/3/a) é uma lei que sofreu alteração a mais de três artigos (excepto
códigos);
● Artigo 6º/3/b) indica que, quando é alterado mais de 20% da lei, ela tem de
ser republicada;
● Artigo 6º/4/a);
● Artigo 6º/4/b);
● Artigo 7º/2 indica que os actos normativos devem ter um título que
identifique o objecto;
● Excepção: o artigo 6º/5 indica que as alterações à lei do Orçamento de
Estado não são republicadas.

Relação jurídica:
● O conceito de relação jurídica tem dois sentidos:
● Amplo: toda a relação social disciplinada pelo direito;
● Restrito ou técnico: toda a relação social disciplinada
pelo direito mediante a atribuição a uma pessoa de um direito subjectivo e a
imposição a outra de um dever jurídico ou se uma sujeição;
● A relação jurídica pode ser:
● Abstracta: quando há a referência a um modelo legal
(por exemplo o inquilino que tem de pagar a renda ao senhorio);
● Concreta: quando há uma realidade com sujeitos, objecto
e facto jurídico determinado (por exemplo o Sr. A, que é inquilino tem de
pagar a renda mensal no valor de 500€ ao Sr. B, que é senhorio).
● Estrutura da relação jurídica (distinção entre externa e interna):
● A relação jurídica externa é composta por quatro
elementos:
● Sujeitos: são as pessoas singulares ou colectivas que são
titulares do lado activo de um direito subjectivo e do lado passivo de um dever
jurídico ou de uma sujeição;
● Objecto: é aquilo sobre o qual incidem os poderes do titular
activo da relação jurídica;
● Facto jurídico: é todo o facto humano ou material produtivo
de efeitos jurídicos (por exemplo a morte ou agressão é um facto jurídico porque
produz efeitos jurídicos);
● Garantia: é o conjunto de providências coercivas postas
à disposição do titular activo de uma relação jurídica, com vista à satisfação do
seu direito perante a ameaça ou lesão desse mesmo direito por parte do sujeito
passivo (por exemplo, se eu for agredido, há um direito lesado – o direito à
integridade física – e eu posso pedir uma indemnização através de uma acção de
responsabilidade civil).
● A relação jurídica interna é o conteúdo da relação
jurídica e tem dois elementos:
● Direito subjectivo (lato sensu);
● Dever jurídico ou uma sujeição.

Direito subjectivo lato sensu


Direito subjectivo stricto sensu---------------------------------------- Dever jurídico
Direito potestativo------------------------------------------------------ Sujeição
● Relação jurídica simples (ou singular) e relação jurídica complexa:
● Relação jurídica simples (ou singular): há apenas um
direito subjectivo do lado activo e apenas um dever jurídico ou sujeição do
lado passivo (por exemplo no pagamento de uma renda – o sujeito A tem o
dever de pagar e o sujeito B tem o direito de receber);
● Relação jurídica complexa: há uma série de relações
jurídicas singulares conexionadas por um determinado aspecto, aspecto
esse que pode ser facto jurídico, como pode ser o fim (a finalidade) da
relação jurídica (por exemplo, num contrato de compra e venda o sujeito A
é simultaneamente sujeito activo, porque tem direito ao preço, mas também
sujeito passivo, uma vez que tem o dever de entregar a coisa);

Norma jurídica:
● Estrutura: este conceito comporta 2 elementos:
● Previsão ou hipótese, também chamada de antecedente: é a representação de
uma realidade, ou seja, a norma antevê uma determinada realidade;
● Estatuição ou junção, também chamada de consequente: é o efeito jurídico que
a norma associa à verificação de uma realidade.
Segundo o artigo 483º/1, a previsão ou hipótese é “todo aquele que violar
ilicitamente o direito de outrem” e a estatuição corresponde ao “fica obrigado a
indemnizar”, é o efeito jurídico que se associa a uma determinada realidade. O conceito de
norma jurídica não se restringe à lei, é mais amplo.
● Características: este conceito, por definição, tem duas características:
● Generalidade: diz-se que uma norma jurídica é geral quando se dirige a
um grupo mais ou menos amplo de destinatários indeterminados, ou seja, nós não
sabemos à partida quem são os destinatários, não há um destinatário indeterminado
individualizado;
● Abstracção: diz-se que uma norma é abstracta quando se dirige a um número
indeterminado de casos. Oliveira Ascensão entende que a abstracção não é uma
característica essencial das normas jurídicas, porque ele entende que a abstracção
só acontece quando a norma jurídica se destina a casos futuros. A verdade é que há
normas que se dirigem a casos passados, as normas retroactivas. A maior parte da
doutrina entende que mesmo nas normas retroactivas não deixa de haver abstracção,
uma vez que estas são normas que se dirigem a um número indeterminado de casos.
● Tipologia: classificação das normas jurídicas.
● Normas imperativas ou injuntivas: são normas que se aplicam independentemente
da vontade das partes. Ainda se distinguem 2 tipos de normas:
● Normas perceptivas: são aquelas que nos impõem um determinado
comportamento (por exemplo o pagamento de impostos);
● Normas proibitivas: são aquelas que proíbem certos comportamentos, isto
é, dizem que há uma série de coisas que não se pode fazer (por exemplo a maioria
das normas penais).
● Normas dispositivas imperativas ou injuntivas: são normas cuja aplicação
depende da vontade das partes. Ainda podem ser de três tipos:
● Facultativas: são normas que nos permitem ou autorizam certos
comportamentos, concedendo positivamente poderes ou faculdades. Exemplos:
● Artigo 1305º do Código Civil: o proprietário tem o direito de
usar, frui e dispor, logo é um exemplo de norma dispositiva facultativa,
porque confere ao proprietário um conjunto de faculdades/poderes que o
proprietário se quiser pode usar;
● Artigo 1356º do Código Civil: é uma norma dispositiva
facultativa, uma vez que dá ao proprietário o direito de tapagem.
● Interpretativas: são aquelas que determinam o alcance e o sentido
imputáveis a certas expressões ou a certos actos das partes em caso de dúvida.
Exemplo:
● Artigo 1402º do Código Civil: “sempre que dos titulares não
resulte outro sentido, entende-se por (…)”.
● Supletivas: são normas que se destinam a suprir a falta de manifestação
de vontade das partes, sobre certos pontos do negócio que carecem de
regulamentação jurídica. Exemplo:
● Artigo 1717º do Código Civil: tem a ver com o regime de bens do
casamento. Quanto a este regime de bem, o regime supletivo é o regime de
comunhão de bens adquiridos.
Sobre estas, temos ainda que abordar a questão dos contratos de
adesão. Estes são contratos em que as cláusulas são definidas apenas por
uma das partes, limitando-se a outra parte a aceitar as cláusulas
(exemplo: a PT, EDP, Internet, Vodafone,…).
Nos contratos de adesão, em princípio, vêm reguladas todas as
matérias relevantes para aquele negócio jurídico. Embora neles sejam
previstos todos os pontos do negócio, estes estão previstos apenas por
uma das partes – a parte dominante -, não há qualquer manifestação de
vontade por parte do consumidor. Por força do regime das cláusulas
contratuais gerais, vai acontecer que grande parte das cláusulas vai ser
considerada nula. Uma vez que estas são consideradas nulas, vamos aplicar
nelas as normas dispositivas supletivas.
● Normas gerais: são as normas que consagram um regime/regra para o sector de
relações que regulam. Exemplos:
● Artigo 219º do Código Civil: consagra como regime geral para a forma de
negócios jurídicos, o Princípio da Consensualidade. Assim, estabelece uma norma
geral;
● Artigo 342º/1 do Código Civil: indica que quem invoca um facto tem de
fazer prova do mesmo – esta é a norma geral.
● Normas excepcionais: são normas que se limitam a regular uma parte restrita
de um sector de relações ou factos, consagrando para este sector restrito um regime
oposto ao regime regra (não há regra sem excepção). Exemplos:
● Artigo 875º do Código Civil: a compra e venda de imóveis só é válida se for
feita por escritura pública ou através de documento particular autenticado, a partir
de 2009. Este artigo é excepção ao artigo 219º;
● Artigo 947º do Código Civil: para doar imóveis é necessária uma escritura
pública ou um documento particular autenticado, a partir de 2009;
● Artigo 344º/1 do Código Civil: é uma norma excepcional em relação ao
artigo 342º/1 do Código Civil, que é uma norma geral;
● Artigo 11º do Código Civil: as normas excepcionais não admitem aplicação
analógica, mas admitem interpretação extensível.
● Normas de Direito Comum: são aquelas que regulam um determinado ramo
jurídico;
● Normas de Direito Especial: são aquelas que não consagram uma disciplina
oposta ao Direito Comum, mas consagram uma disciplina diferente para um círculo
mais restrito de pessoas, coisas ou relações. As lacunas das normas de direito especial
podem ser integradas pelas normas de direito comum. Exemplo:
● O direito civil é o direito privado comum, uma vez que regula a
generalidade do direito privado. O direito comercial ou o direito agrário são
considerados direitos privados especiais, ou seja, dentro do direito privado regulam
um círculo mais restrito de relações de direito privado.
● Normas Autónomas: são aquelas que têm, só por si, um sentido completo; não
precisam de ser complementadas por nenhuma outra norma. Exemplo:
● Artigo 483º/1 do Código Civil: este artigo não precisa de nenhuma outra
norma, é uma norma completamente autónoma.
● Normas não autónomas: são aquelas que, só por si, não têm um sentido completo,
apenas obtendo esse sentido através da remissão para outras normas. Estas normas
podem ser, por exemplo:
● Restritivas, como no artigo 1485º do Código Civil, onde está implícita
uma remissão para o artigo 1440º do mesmo código. No entanto, o artigo 1485º diz
“sem prejuízo do 1293º/b)”; o artigo 1293º/b) restringe o artigo 1440º, através
do artigo 1485º, uma vez que é nele que vem a referência a este. São normas não
autónomas restritivas aquelas que restringem o âmbito de aplicação de normas
anteriores;
● Ampliativas: são aquelas que ampliam o âmbito de aplicação dos recursos
anteriores (por exemplo, o artigo 1407º/1 do Código Civil, que remete para o artigo
985º/3 do mesmo código - no contrato de sociedade, a maioria é que decide (1407º/
1), mas além da maioridade também é preciso a maioridade de cotas (985º/3);
● Remissivas (remissivas tout court): são normas cujo sentido só se obtém
através da análise de uma outra norma e o âmbito de aplicação dessa outra norma
não é ampliado nem restringido. Estas normas têm sub-divisões:
● Normas de devolução (normas de remissão explícita): são
normas que não regulam directamente determinada matéria, antes
remetem para outra norma que contém o regime aplicado (por exemplo, o
artigo 1186º do Código Civil, que remete para o artigo 1158º. Este artigo
não nos indica nada em especial, limita-se a remeter). Estas normas de
devolução, por sua vez, dividem-se em 2 tipos:
● Infra-sistemáticas: quando uma norma remete para
outra norma do mesmo sistema jurídico (por exemplo o artigo 1186º
do Código Civil);
● Extra-sistemáticas: quando uma norma de um
sistema jurídico remete para uma norma de um outro acto jurídico
(por exemplo o artigo 49º do Código Civil (direito internacional
privado), que nos indica que a capacidade de cada noivo afere-
se a cada país de origem. Remete para outro sistema jurídico
(estrangeiro). Outro exemplo é o artigo 46º/1 do Código Civil
(direitos reais), que é uma norma de remissão explícita extra-
sistemática, uma vez que remete para o sistema jurídico diferente
do português).
● Ficções Legais: em vez de uma norma remeter para outra, o
legislador vai estabelecer que o facto a regular se considere igual a um
facto que já se encontra regulado na lei. Isto é uma assimilação fictícia
de realidades factuais diferentes, porque é o legislador que ficciona que
aqueles factos são iguais (por exemplo o artigo 805º/2/c) do Código Civil,
que indica que o legislador ficcionou que a pessoa foi notificada na mesma;
● Presunções: o artigo 349º do Código Civil estabelece o conceito
de presunção; o efeito da presunção está no artigo 350º/1 do mesmo
código (por exemplo o registo de um prédio faz presumir que o prédio é de
quem cujo nome está no registo). As presunções podem ser de 2 tipos:
● Presunções absolutas, iuris et de iure: são
presunções que não admitem prova em contrário (por exemplo
o artigo 243º/3 do Código Civil, que indica presunção absoluta
de má fé; e o artigo 1260º/3 do mesmo código, que indica que a
posse adquirida com violência é sempre de má fé, é uma presunção
absoluta);
● Presunções relativas, iuris tantum: são presunções
que admitem prova em contrário (por exemplo a presunção de
inocência – toda a gente é considerada inocente até que se prove o
contrário; o artigo 1260º/2 de Código Civil e o artigo 491º do mesmo
código, que indica presunção relativa sobre o vigilante (se uma
criança danificar algo, quem vai responder por isso é o vigilante)).
A

É revogada por

É revogada por

Quando a lei C revoga a lei B não significa que a lei A entre em vigor

Repristinar

Quando a lei B for declarada inconstitucional ou ilegal, isto vai repristinar a lei A

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