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Legalismo e formalismo Jurídicos: José Lamego.

Elementos de
Concepções principialistas do Direito
Correspondência entre casos e normas (regras): Metodologia Jurídica, Cap. 3 –
subsunção de casos individuais a normas gerais. «NORMAS e PRINCÍPIOS» Jurisprudência de valoração (vinculação do Direito a
valores): os princípios são valores superiores do
Normas (Regras) – significados resultantes da Objectivo: distinguir normas e princípios
ordenamento jurídico, que resultam da atividade
interpretação dos textos legais (enunciados e jurídicos no contexto do debate entre o
jurisprudencial ou doutrinal.
conceitos). Há uma maior indeterminação (1) legalismo e formalismo metodológico
semântica dos princípios jurídicos em relação às jurídicos e (2) as Concepções Dimensão axiológico-material dos princípios
normas cuja previsão factual já traz o principialistas do Direito jurídicos (R. Dworkin; A. Kaufmann) e dimensão ético-
preceito/modo de aplicação e estatuição. deontológica dos princípios jurídicos (Robert Alexy)

O que são os princípios jurídicos? 3.1. Resumo da distinção entre normas e princípios
3.1. Distinção entre normas e princípios:
Designam diversas realidades como:
Normas - somatório da (1) previsão factual + (2) - Maior grau de indeterminação semântica dos
consequência jurídica e (3) suas conexões, que (1) princípios normativos; (2) princípios em relação às normas jurídicas;
pressupõe uma estrutura hipotético condicional – directrizes ou normas programáticas; - Grau de contribuição do aplicador do
“Se...então”. Os princípios jurídicos (integridade, (3) princípios sistemáticos; (4) direito: interpretação das normas versus construção
boa fé...) possuem um maior grau indeterminação princípios organizatórios; (5) máximas dos princípios jurídicos;
semântica (i.e, são vagos) em relação às normas ou regras jurídicas. - Subsunção das normas (modelo lógico-dedutivo)
jurídicas por carrecerem de “pressupostos e ponderação dos princípios (modelo da justificação
tipificados de previsão e estatuição” (pp. 57-58). Lamego destaca os princípios ético- argumentativa).
Existem os princípios jurídicos implícitos, que jurídicos, i.e, os princípios normativos,
são deduzidos a partir da interpretação do texto pois entende o Direito e a juridicidade
legal pelo aplicador do Direito. Os princípios como uma questão de normas e valores
seriam construídos a partir de formulações ou princípios além da mera lei.
linguísticas que os expressam. 3.3. As Concepções principialistas do Direito
defendem as seguintes teses:

1ª: os princípios jurídicos são os valores superiores


3.2. Princípios Normativos (valores Para a Metodologia Jurídica, as Concepções dos ordenamentos/sistemas jurídicos; 2ª: prioridade
subjacentes dos sistemas jurídicos ou suas principialistas do Direito têm duas axiológica-normativa dos princípios como fonte de
partes, i.e, a “ordem axiológica ou consequências; legitimação das decisões contra lege; 3ª: Lógica da
teleológica de princípios jurídicos gerais” = ponderação e da argumemntação jurídica.
princípios fundamentais do Direito) e 1ª: Ligação da Metodologia Jurídica (MJ) à
Princípios Sistemáticos (princípios gerais Jurisprudência dos Valores – os valores Variedades de visões principialistas de Direito: (1)
do ordenamento interno do Sistema jurídicos como caminhos para a realização do os princípios implicam a ideia do ser/a essência do
Jurídico, que resultam de abstrações Direito. Direito (Karl Larenz); (2) os princípios são conteúdos
lógicas de regulamentações lógicas. São pré-positivos do Direito (Josef Esser); (3) os
normas particulares do sistema). 2ª: Ligação da Metodologia Jurídica (MJ) ao princípios exprimem as exigências da razão prática
constitucionalismo principialista - para a correção das decisões judiciais (Robert Alexy).
Constituição baseada em princípios ético-
jurídicos (princípios normativos).
3.3.1. A dimensão axiológico-material dos princípios José Lamego. Elementos 3.3.2. A prioridade axiológico-normativa dos
jurídicos (i.e., sua ligação a valores jurídicos, ou seja, ao de Metodologia Jurídica, princípios jurídicos conduz a:
conteúdo material da Justiça). Esta ideia implica a Cap. 3 – «NORMAS e
diferenciação entre a lei e o Direito do legalismo e PRINCÍPIOS» 1º: em termos de Metodologia Jurídica, a ideia do
formalismo positivistas. desenvolvimento judicial do Direito na qual
Objectivo: distinguir prevalece a ratio juris (razão do Direito) sobre a
Arthur Kaufmann (1923-2001) e a estrutura escalonada normas e princípios ratio legis (a razão da lei).
do Direito: 1ª - sistemas jurídicos; 2ª - normas jurídicas e 3ª jurídicos no contexto do
- decisões judiciais. debate entre o (1) 2º: distinção de critérios de hiararquia formal no
legalismo e formalismo Sistema das fontes do Direito, i.e, os princípios
Castanheira Neves (2003): os princípios jurídicos metodológico jurídicos e jurídicos seriam também fontes de Direito, situadas
exprimem os valores fundamentais como a justiça, (2) as Concepções acima do Direito positivo/ lei escrita.
legalidade, dignidade humana, etc.; principialistas do Direito
3º: atribuição ao poder jurisdicional de poderes de
Robert Alexy (1945 - ): os princípios jurídicos são razões correção ou afastamento de normas editadas pelo
legais não-autoritárias para a ação. poder legislativo.
Conclusão: os princípios jurídicos são critérios supralegais
de juridicidade, que se situam acima da lei. Daí, a
diferenciação entre a lei e o Direito. A lei (Direito
legislado) seria sim, expressão de valores e princípios
Os princípios jurídicos implicítos e
a necessidade da interpretação
3.4. Princípios Jurídicos e Método Como as Concepções Principailistas do Direito promovem
jurídica (Hermenêutica Jurídica).
Jurídico (Implicações dos Princípios a criação Judicial do Direito?
Jurídicos para a Metodologia Jurídica). A interpretação jurídica não é “uma
Os princípios jurídicos são meros “pontos de partida”
mera operação de determinação do
1ª: as concepções principialistas do aplicados de modo contingente e, como tal, exigem que se
conteúdo semântico (significado) dos
Direito admitem um conceito e preencha as lacunas na lei com base na própria lei, através da
enunciados jurídicos (a interpretação
validade do Direito além do Direito ponderação das razões associadas aos casos em julgamento.
jurídica como mera exegese de textos
Positivo no qual Direito se reduz à Lei, A MJ, diz Lamego, deve “oferecer ctritérios que estreitem e
legais)”, mas um conjunto de
pois a Juridicidade supra-legal nega controlem a livre apreciação ou discricionaridade”.
directrizes sobre os padrões
esta equação (Direito = Lei); argumentativos sobre o Direito, Lei e
Os princípios jurídicos contribuem ainda para a criação
judicial do Direito, porque são tópicos (topoi), i.e., pontos de suas aplicações.
2ª: Implicam também reconhecer os
Princípios Jurídicos como fontes do vista plausíveis tendentes a fundamentar as decisões judiciais.
A interpretação jurídica é um tema
Direito, a par da Jurisprudência e dos São instrumentos da lógica da argumentação e da ponderação.
nuclear da Metodologia Jurídica, pois
valores, costumes, bom senso, etc; tem a ver com a interpretação da lei e
Os princípios jurídicos exprimem uma concepção prudencial
(jurisprudentia) e tópica do Direito. A Jurisprudência é, neste aplicação do Direito como sublinha
3ª: implicam a lógica da Castanheira Neves em O Actual
argumentação e da ponderação como sentido, uma fonte do Direito e da Metodologia Jurídica (MJ),
quando admite princípios supra-legais acima da lei escrita Problema Metodológico da
superação da Subsunção do Interpretação Jurídica
formalismo e legalismo (Direito legislado).
Natureza Prática da Interpretação Jurídica
A problemática da realização do direito como parte do acto metodológico/momento
metodológiconormativo dessa realização: “O problema da interpretação jurídica está, com
efeito, a sofrer uma radical mudança de perspectiva no actual contexto metodológico.
Deixou de conceber-se tão-só e estritamente como interpretação da lei, para se pensar
como actus da realização do direito. E, isto significa, por um lado, que a realização do
direito não se identifica já com a interpretação da lei, nem nela se esgota; por outro lado,
que não será em função da interpretação da lei, tomada abstractamente ou em si, que
havemos de compreender a realização do direito – em termos de se dizer que esta será o que
for aquela – antes é pela problemática autónoma e específica de realização do direito, e
como seu momento metodológico-normativo, que se haverá de entender o que persista
dizer-se interpretação da lei. Como o que o próprio conceito de interpretação jurídica se
altera: de interpretação da lei converte-se em interpretação do direito, de novo a
interpretatio legis se confronta com a interpretatio iuris (...) O direito deixou de ser uma
mera aplicação das normas legais e manifesta-se como acto judicativamente decisório
através do qual, pela mediação embora do critério jurídico possivelmente oferecido por
essas normas, mas com ampla actividade normativamente constitutiva, se cumprem em
concreto as intenções axiológicas e normativas do direito, enquanto tal. Dir-se-á que o
pensamento jurídico recuperou o concreto, que vai na essencial vocação do direito, depois
de que o positivismo legalista, com o seu normativismo analítico-dedutivo, o levara a
refugiar-se no alienante abstracto”. in NEVES, António Castanheira (2003). O Actual Problema
Metodológico da Interpretação Jurídica – I. Coimbra: Coimbra Editora, pp. 11-12.

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