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Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
Revisão Textual:
Profa. Esp. Vera Lidia de Sá Cicaroni
Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
Sejam bem-vindos à nossa segunda aula de Teoria Geral do Processo que irá tratar de
dois importantes temas: os princípios do direito processual e a norma processual.
Eles são de extrema importância prática no dia a dia do profissional do Direito, razão
pela qual é importante conhecê-los bem a fundo.
Leia o conteúdo teórico, assista à nossa videoaula e participe de todas as atividades,
pois tudo isso contribuirá para que você possa ter uma perfeita compreensão desta Unidade.
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Unidade: Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
Contextualização
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1. O Papel dos Princípios no Sistema Jurídico
Desde logo podemos observar que o significado dessa palavra já ressalta a sua
importância como ponto de partida, como conformador de um dado sistema.
Seguindo essas lições, podemos concluir que é triplo o papel dos princípios.
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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário eletrônico Aurélio versão 5.0. Autoria de Aurélio
Buarque de Holanda Ferreira. Curitiba: Positivo. CD-ROM.
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Unidade: Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
Esse singular papel dos princípios no sistema normativo traz, como natural
consequência, sérios reveses quando da sua inobservância, como ressalta o autor acima
mencionado:
Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer.
A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico
mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave
forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio
atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de
seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e
corrosão de sua estrutura mestra.
Isto porque, com ofendê-lo, abatem-se as vigas que o sustêm e alui-se toda a
estrutura nelas esforçada (MELLO, 2003, pp. 817-818).
O fato de um princípio estar previsto em nossa Carta potencializa seu papel no sistema
normativo, pois “o princípio da supremacia requer que todas as situações jurídicas se
conformem com os princípios e preceitos da Constituição” (SILVA J. A., 2000, p. 48).
Nenhuma interpretação poderá ser havida por boa (e, portanto, por jurídica)
se, direta ou indiretamente, vier a afrontar um princípio jurídico-constitucional.
[...]
O princípio cumpre uma função informadora dentro do Ordenamento jurídico
e, assim, as diversas normas devem ser aplicadas em sintonia com ele
(CARRAZZA, 2004, pp. 37-38).
Alguns, pela irradiação de seus princípios, são de ampla aplicação em todas as áreas
do Direito, podendo ser, v.g., lembrado nesse particular o Princípio da Igualdade, previsto no
caput do artigo 5º da Constituição.
Outros, contudo, apresentam natureza mais específica, sendo que, dentre eles,
podemos observar que algumas dessas garantias “são exclusivamente destinadas ao processo
penal; outras atingem o próprio órgão jurisdicional; outras, ainda, abrangem a distribuição da
justiça, civil e penal, em geral” (GRECO FILHO, Manual de processo penal. 6.ed., 1999, p.
59).
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Unidade: Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
A correta aplicação da lei não pode prescindir de um processo que siga fielmente as
premissas de respeito aos direitos fundamentais dos indivíduos. Assim, “o processo constitui a
primeira e mais fundamental garantia do indivíduo, pois é por meio desse instrumento que se
realiza a proteção efetiva dos direitos fundamentais consagrados pela Constituição” (GOMES
FILHO, 2001, p. 28).
O princípio firma a ideia de que o processo deve guardar perfeita sintonia com o
sistema normativo em que ele está inserido, não podendo ser utilizado como instrumento para
a atuação arbitrária do Estado e nem se afastar, mesmo que ideologicamente, da estrita
obediência dos direitos fundamentais do acusado.
A expressão per legem terrae, termo latino utilizado na Magna Carta, é posteriormente
traduzido para o inglês como law of the land.
“O termo due process of law apareceu em 1354, na Inglaterra, quando Eduardo III,
expediu uma lei denominada Statute of Westminster of the Liberties of London” (SILVA M.
A., Acesso à justiça penal e estado democrático de direito, 2001, p. 16). Com o tempo essa
garantia passou a ter assento na Constituição dos Estados Unidos (1787) e irradiou-se pelas
Cartas de outros países ocidentais.
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Ele também foi incorporado à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
promulgada pelo povo francês por meio da Convenção Nacional, em 1793, com a seguinte
redação:
XIV
Ninguém deve ser julgado e castigado senão quando ouvido ou legalmente
chamado e em virtude de uma lei promulgada anteriormente ao delito. A lei
que castigasse os delitos cometidos antes que ela existisse seria uma tirania: -
O efeito retroativo dado à lei seria um crime.
Em tratados e convenções internacionais, o princípio pode, por exemplo, ser encontrado no:
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Unidade: Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
O princípio, também, pode ser encontrado nos artigos 9.1 e 14.1 do Pacto
Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos:
Artigo 9
1. Todo indivíduo tem direito à liberdade e à segurança da sua pessoa.
Ninguém pode ser objecto de prisão ou detenção arbitrária. Ninguém pode ser
privado da sua liberdade a não ser por motivo e em conformidade com
processos previstos na lei.
[...]
Artigo 14
1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais de justiça. Todas as
pessoas têm direito a que a sua causa seja ouvida equitativa e publicamente
por um tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido pela lei,
que decidirá quer do bem fundado de qualquer acusação em matéria penal
dirigida contra elas, quer das contestações sobre os seus direitos e obrigações
de carácter civil. As audições à porta fechada podem ser determinadas durante
a totalidade ou uma parte do processo, seja no interesse dos bons costumes,
da ordem pública ou da segurança nacional numa sociedade democrática, seja
quando o interesse da vida privada das partes em causa o exija, seja ainda na
medida em que o tribunal o considerar absolutamente necessário, quando, por
motivo das circunstâncias particulares do caso, a publicidade prejudicasse os
interesses da justiça; todavia qualquer sentença pronunciada em matéria penal
ou civil será publicada, salvo se o interesse de menores exigir que se proceda
de outra forma ou se o processo respeita a diferendos matrimoniais ou à tutela
de crianças.
Por sua própria formulação, é certo que esse princípio passou a ser visto como
um gênero que comporta como espécies constituintes outros, tais como o contraditório, a
ampla defesa, a garantia do juiz natural, da motivação, da publicidade dos atos processuais,
os quais, no conjunto, estão orientados para que o processo seja justo e legal.
O Princípio do Devido Processo Legal possui dupla orientação. Em primeiro lugar esse
princípio tem a função de sinalizar para o legislador que a produção legislativa, sobretudo em
matéria processual, seja voltada ao respeito aos direitos fundamentais das partes, inclusive no
que se refere à necessária celeridade dos procedimentos, particularmente após a inserção do
inciso LXXVIII no artigo 5º da Constituição Federal pela Emenda Constitucional nº 45/04.
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5. Princípio da Ampla Defesa e do Contraditório
ARTIGO 8º
[...]
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua
inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o
processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias
mínimas:
[...]
a) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação
formulada;
b) concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados para a
preparação de sua defesa;
c) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por
um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em
particular, com seu defensor;
d) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo
Estado, remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado
não se defender ele próprio nem nomear defensor dentro do prazo
estabelecido pela lei;
e) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no tribunal e de
obter o comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas
que possam lançar luz sobre os fatos.
f) direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se
culpada, e
g) direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior.
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma
natureza.
[...]
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Unidade: Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
Artigo 5º
[...]
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes;
A ampla defesa deve ser entendida como uma garantia que é dada “ao réu de
condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a
esclarecer a verdade ou mesmo de omitir-se ou calar-se, se entender necessário” (MORAES,
2005, p. 93). Para que se efetive, ela acaba por se desdobrar em outros princípios.
Em primeiro lugar, podemos lembrar o direito de o réu ser assistido por defensor com
conhecimentos técnico-jurídicos, mesmo que não tenha recursos suficientes para tal. Nesse
particular, importante é a previsão constante em nossa Constituição, no artigo 5º, inciso
LXXIV .
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Diante de sua formulação, o contraditório tem, como primeiro aspecto, o direito de
informação. A estrutura dialética do processo, em que o confronto das versões da acusação e
da defesa é essencial, acarreta a necessidade de a defesa ser inicialmente informada do exato
conteúdo dos fatos ilícitos atribuídos ao réu bem como das consequências jurídicas a que este
estará sujeito em caso de condenação.
• os fatos que constituem o objeto da acusação são somente aqueles que estão narrados
na peça acusatória;
• eventuais acréscimos ou retificações na descrição fática constante da peça acusatória
devem ser objeto de imediata comunicação ao réu e ao seu defensor, os quais terão
direito à manifestação sobre a mudança ocorrida bem como à produção de novas
provas, conforme o estágio de desenvolvimento do procedimento;
• a mudança na tipificação apresentada na peça acusatória somente pode ocorrer, em
especial, quando acarretar a aplicação de pena mais severa, com a estrita obediência
das regras previamente estabelecidas na legislação processual penal, na qual se
assegure o direito à prévia manifestação da defesa;
• a limitação fática e das consequências jurídicas da conduta que constitui o objeto da
acusação devem limitar o julgamento a ser proferido, de forma que é vedado ao órgão
jurisdicional “referir-se a fatos não relatados na acusação e, portanto, desconhecidos
do imputado” (SILVA M. A., Acesso à justiça penal e estado democrático de direito,
2001, p. 19) - Princípio da Correlação entre Acusação e Sentença.
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Citação é um dos primeiros atos do processo. Por meio dela, o juiz informa ao réu os motivos pelo qual foi iniciado o
processo, dando-lhe ciência sobre os termos da acusação que contra ele recai.
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Unidade: Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
Esse direito à informação não se esgota com a citação; também ele deverá ser
observado durante todo o processo, sendo que o órgão jurisdicional deverá intimar o réu de
todas as situações e fatos que possam afetar seu direito de defesa.
Não basta, contudo, que o réu seja previamente informado da acusação; é também
necessário que lhe seja concedido um mínimo de tempo para que possa articular sua defesa.
Nesse particular, podemos novamente trazer à colação o disposto na aliena c do inciso 2 do
artigo 8º do Pacto de São José da Costa Rica, que, expressamente, coloca como direito do
acusado a concessão de “tempo e dos meios adequados para a preparação de sua
defesa”.
• deve ser garantido o direito da parte de requerer a produção das provas que sejam do
seu interesse;
• eventuais indeferimentos de requerimentos para a produção de prova devem ser
fundamentados pelo juiz, para que, eventualmente, possa a parte se insurgir contra
essa decisão;
• devem ser garantidos mecanismos para que a parte se oponha à produção ou
utilização de provas que sejam contrárias aos princípios e normas que regem o Devido
Processo Legal, particularmente em respeito ao disposto no inciso LVI do artigo 5º da
Constituição Federal ;
• deve a produção da prova ser acompanhada pelas partes e pelo juiz;
• mesmo quando determinada ex officio pelo juiz, a prova deve ser submetida à
apreciação das partes, as quais têm, também, o direito de participar de sua produção;
• não é dado ao órgão jurisdicional proferir decisão afastada dos fatos discutidos no
processo, com a introdução de elementos que não foram objeto de prova.
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6. Princípio do Juiz Natural
A garantia do juiz natural é um dos princípios que se projetam muito além dos direitos
subjetivos das partes no processo, visto que alcança a própria jurisdição.
Sua formulação pode ser encontrada, como antecedente histórico distante, na Magna
Carta de 1215, visto que, nesta, havia a preocupação de que o processo e o julgamento
ocorressem no local onde estavam seus pares, seguindo as regras processuais de sua terra, em
uma embrionária concepção de competência do órgão jurisdicional.
Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, vamos encontrar essa garantia em seu
artigo 10, com a seguinte redação:
Artigo 10
Todo homem tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública
audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de
seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal
contra ele.
No Pacto de San Jose da Costa Rica, ela está prevista no inciso 1 de seu artigo 8º com
a seguinte formulação:
ARTIGO 8º
1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de
um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e
imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer
acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos
ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra
natureza.
Entre nós, o princípio é, atualmente, previsto nos incisos XXXVII e LIII do artigo 5º da
Constituição Federal, que possuem as seguintes redações:
Artigo 5º
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
[...]
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente;
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Unidade: Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
O juiz natural pode ser definido, em face do nosso sistema jurídico, como sendo “o
órgão previsto implícita ou explicitamente pelo Estatuto Constitucional, como o de
competência genérica para a espécie” (MARQUES, 2000, p. 85).
O estudo das regras de competência mostra que os seus elementos constitutivos são
objetivos, não havendo margem para apreciações discricionárias na escolha do órgão
jurisdicional competente. Essa forma de construção, em que os fatores subjetivos não são
relevantes para a escolha, visa afastar a possibilidade de critérios que possam prejudicar ou
privilegiar o acusado.
Por último, essa garantia também estabelece que “as regras de competência devem ser
instituídas previamente aos fatos e de maneira geral e abstrata de modo a impedir a
interferência autoritária externa” (GRECO FILHO, Tutela constitucional das liberdades, 1989,
p. 109).
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7. Princípio da Publicidade
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Unidade: Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
Artigo 5º
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a
defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;
Artigo 93
IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar
a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;
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Nesse particular, o § 1º do artigo 792 da lei processual penal estabelece regra clara, em
harmonia com os preceitos constitucionais que tratam da matéria, para a publicidade restrita
de audiência, quando o ato “puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de
perturbação da ordem”.
• publicidade geral: “quando os atos podem ser assistidos por qualquer pessoa”
(MIRABETE, 2004, p. 49);
• publicidade especial: “quando um número reduzido de pessoas pode estar presente
a eles” (MIRABETE, 2004, p. 49).
Como se pode ver, tanto nos instrumentos internacionais como nas normas internas
que tratam do assunto, a regra da publicidade plena dos atos processuais somente em
situações específicas pode admitir restrições.
Ainda se pode lembrar, dentro dessa hipótese, a situação cada vez mais comum na
atualidade de estarem encartadas, nos autos, provas que foram produzidas, ainda que na fase
do inquérito policial, com direta interferência estatal na intimidade das pessoas envolvidas.
Nesse particular, podem ser lembradas, v.g., as provas obtidas por meio de interceptação
telefônica ou com quebra do sigilo bancário. Se, em razão dos valores envolvidos, somente
por determinação judicial tais provas podem ser produzidas, não há sentido em, após, se
permitir a sua ampla publicidade.
No que se refere ao interesse social na restrita publicidade dos atos processuais, podem
ser lembradas as situações em que vítimas e testemunhas, em razão de graves ameaças
sofridas no curso do inquérito policial ou do processo, são incluídas em programas de
proteção disciplinados, em especial, pela Lei nº 9.807/99, a qual, dentre outras medidas,
permite “a preservação da identidade, imagem e dados pessoais” (inciso IV do artigo 7º) das
pessoas atingidas pelo processo.
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Unidade: Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
Outra situação que, igualmente, pode ser enquadrada sob a rubrica de publicidade
restrita em razão do interesse social é aquela referente ao sigilo das votações do Júri, que
recebeu expressa proteção no texto constitucional (alínea b do inciso XXXVIII do artigo 5º).
Deve ser realçado que a restrição de publicidade dos atos processuais, mesmo quando
devida, não pode constituir obstáculo para o pleno exercício do contraditório e da ampla
defesa. Nesse particular, podem ser lembradas as disposições do Estatuto da Ordem dos
Advogados do Brasil – Lei nº 8.906/94 – em especial as contidas nos incisos XIV e XV de seu
artigo 7º, que permitem o acesso do defensor aos autos do inquérito ou do processo judicial
quando no exercício de seu munus público.
Outra questão que essa visão da relação do acusado com o processo acarretava era a
de causar a inversão do ônus da prova, já que cabia a ele a prova de sua inocência.
Acrescente-se, ainda, a agravante de que o processo, por ser secreto e não permitir o acesso
do réu aos autos, impossibilitava o completo conhecimento do conteúdo da acusação e das
provas que a embasavam.
Historicamente a primeira severa reação a essa situação veio, no Século XVIII, por
meio do livro Dei delitti e delle pene, de Cesare Bonesana, o Marquês de Becaria, que
apresentou grande repercussão na época por se insurgir contra as ideias norteadoras do
sistema processual penal.
Após a Revolução Francesa de 1789, esse princípio foi um dos que foi incorporado à
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada pela Convenção Nacional em
1793, com a seguinte redação:
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XIII
Sendo todo Homem presumidamente inocente até que tenha sido declarado
culpado, se se julgar indispensável detê-lo, qualquer rigor que não for
necessário para assegurar-se da sua pessoa deve ser severamente reprimido
pela lei.
Em nosso atual texto constitucional, a garantia está grafada no inciso LVII do artigo 5º,
com a seguinte redação:
Artigo 5º
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;
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Unidade: Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
A força implícita nessa garantia e o tratamento que ela recebeu nos pactos
internacionais e em nosso sistema constitucional demonstra que o acusado, muito mais do
que um objeto de investigação, deve ser tratado como titular de direitos e garantias, as quais
são reconhecidas como essenciais para caracterização do Estado Democrático do Direito.
Assim, não se pode permitir que as consequências penais de sua conduta se operem senão
quando a sentença condenatória não mais estiver sujeita a recurso.
Portanto, nas hipóteses em que a prova produzida não for suficiente para demonstrar a
culpa do réu, é de rigor que o órgão jurisdicional o absolva, mesmo que essas mesmas provas
não indiquem a total inocência do acusado. Temos, assim, que “a regra do in dubio pro reo é
uma das manifestações da presunção de inocência, que tem como o ponto mais relevante a
apreciação da prova em julgamento” (SILVA M. A., Processo penal e garantias
constitucionais, 2006, p. 582).
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Por fim, muito embora esse princípio seja sempre lembrado em relação ao seu enfoque
processual penal, ele apresenta também repercussões em outros ramos do Direito, em especial
no que se refere ao dever de indenizar, decorrente da prática de uma sanção penal.
Também deve ser destacado o disposto no artigo 125, inciso I, do Código de Processo Civil.
Isso não impede, contudo, que, em algumas situações, o juiz busque, por meio do
tratamento desigual das partes em litígio, alcançar uma igualdade substancial, de forma a
equilibrar a situação dos sujeitos do processo. Trata-se de aplicar a máxima de buscar tratar
de forma desigual os desiguais.
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Unidade: Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
A previsão desse princípio está no artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal.
Artigo 5º [...]
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos;
Uma vez instalada a relação processual, cabe ao juiz mover o processo fase a fase até
que ocorra o exaurimento da prestação jurisdicional.
Para isso, não podem ser admitidas protelações causadas pelas partes. Uma vez
instalado o processo, em algumas situações, as partes perdem o interesse inicial e passam a
protelar os atos que lhe cabem.
Nessas situações, cabe ao juiz velar para que esse desinteresse não prolongue, de forma
inútil, a relação processual.
Em nossa Constituição Federal esse princípio encontra-se no inciso LXVIII do artigo 5º,
com a seguinte redação:
Artigo 5º [...]
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados
a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade
de sua tramitação.
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9.5 Princípio da Motivação das Decisões Judiciais
Ao proferir uma decisão, o juiz deve se ater às provas do processo, não sendo lícito
embasá-las em outros elementos estranhos.
Assim procedendo o juiz estará indicando, para as partes e para toda a sociedade, a
forma como as decisões são realizadas pelo Poder Judiciário, bem como estará facilitando a
apreciação de eventual recurso.
Artigo 93 [...]
Esse princípio, portanto, garante sempre a possibilidade de revisão dos julgados que
sejam desfavoráveis à parte em litígio.
Ele não está expressamente previsto em nossa Constituição Federal, contudo decorre
da estrutura do Poder Judiciário, visto que, em regra, os órgãos superiores possuem
competência recursal, ou seja, podem receber recursos de decisões proferidas em instâncias
inferiores.
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Unidade: Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
Nos termos do artigo 22, inciso I, da Constituição Federal, compete à União legislar
sobre Direito Processual.
Constituição Federal
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo,
aeronáutico, espacial e do trabalho;
Também deve ser destacada a competência concorrente da União e dos Estados para
legislar sobre “procedimentos em matéria processual” – inciso XI do artigo 24 da Constituição
Federal. Nesse particular, define a doutrina que, aqui, está estabelecida a competência para
tratar de procedimentos administrativos de apoio ao processo.
Deve ser ainda acrescentada a competência dos Estados para elaborar a sua lei de
organização judiciária, que, como indica o seu nome, irá definir quais são os órgãos
judiciais em cada um desses membros da Federação.
• Constituição Federal;
• Leis;
• Tratados e Convenções Internacionais;
• Regimento Interno de Tribunais.
Por fim, os tribunais, para regular diversas situações internas de sua estrutura, editam
regimentos internos, os quais acabam por tratar de algumas questões processuais relacionadas
a processos e recursos de suas competências.
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11. Eficácia da Lei Processual no Espaço
A lei processual está sujeita à regra geral de vigência de leis no tempo, a qual está
prescrita no caput do artigo 2º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, ou seja,
a lei, após entrar em vigor, somente será revogada por outra lei posteriormente editada.
Na sucessão de leis processuais no tempo, ou seja, quando uma lei processual revoga
uma lei processual anterior, devemos aplicar as seguintes regras:
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Unidade: Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
A lei processual segue as mesmas regras e princípios das leis em geral em relação à sua
interpretação e integração, ou seja, aqui deve ter plena aplicação o disposto nos artigos 4º e
5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
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Material Complementar
A doutrina moderna, em diversas áreas do Direito, se vale dos princípios jurídicos para
uma série de estudos.
Em razão da natureza dessas normas, a sua utilização prática é enorme, razão pela qual
é importantes conhece-los com profundida.
Para conhecer ainda mais sobre eles, leia as duas obras abaixo listadas.
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Unidade: Os Princípios do Direito Processual e a Norma Processual
Anotações
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Referências
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. 20. ed. São
Paulo: Malheiros. 2004.
FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 4.ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais. 2005.
GOMES FILHO, Antonio Magalhães. A motivação das decisões penais. São Paulo:
Revista dos Tribunais. 2001.
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 6.ed. São Paulo: Saraiva. 1999.
MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. v.1. 2.ed. atualizada.
Campinas: Millennium. 2000.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 15. ed. São Paulo:
Malheiros. 2003.
MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Atlas. 2005.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 18. ed. São Paulo:
Malheiros, 2000.
SILVA, Marco Antonio Marques da. Acesso à justiça penal e estado democrático de
direito. São Paulo: Juarez de Oliveira. 2001.
TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 19. ed.São Paulo: Malheiros. 2003.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. v. 1. 22ª ed. São Paulo: Saraiva.
2000.
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