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RESUMO
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TRF2. Graduado pela Universidade Católica de Brasília – DF.
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
1 INTRODUÇÃO
Neste texto, é realizada uma reflexão da decisão do STF no julgamento das ADI‟s
7.066, 7.078 e 7.070, aos quais versam sobre a aplicabilidade do principio da
anterioridade tributária anual e nonagesimal ante a LC n° 190/2022, que regulamentou o
DIFAL ICMS. Neste julgamento fora decidido duas questões jurídicas, a primeira
relacionada a observância da anterioridade anual e nonagesimal na aplicação da Lei
Complementar 190/2022, como também a constitucionalidade do prazo de noventa dias,
previsto na citada lei, para que os Estados e Distrito Federal comecem a cobrar o
Difal/ICMS. Diante da decisão do órgão julgador em 29/11/2023, abriu se uma celeuma
quanto a validação da constitucionalidade da aparente anterioridade nonagesimal, sem a
conjugação com a anterioridade anual; além da validação constitucional da aplicação da
anterioridade anual das leis estaduais, não acompanhada da anterioridade nonagesimal.
Pelo que este trabalho vem a questionar se tal inovação é possível ou trata se de decisão
em total consonância com o ordenamento?
O contexto jurídico atual é marcado por certa insegurança, haja vista que decisões,
inclusive na esfera tributária, passaram a ser emitidas com natureza política, deixando
de lado, por vezes, o rigor técnico e a boa técnica, para que interesses estatais,
corporativos e fazendários tenham proeminência. Assim, será buscado evidências
através dos fundamentos da decisão colegiada vencedora, votos divergentes e
posicionamentos anteriores da Corte Suprema, quanto a natureza da decisão do caso em
concreto. A natureza deste trabalho é aplicada, sendo uma pesquisa exploratória, pelo
que como procedimento técnico se lastreia na pesquisa bibliográfica e documental.
Assim sendo, iremos buscar evidenciar que tal decisão tem natureza técnica, estando
alinhada as decisões anteriores do egrégio tribunal, não havendo inovação ou
modificação do atual posicionamento, permanecendo em obediência aos principios
constitucionais tributários.
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2 DOS PRINCÍPIOS
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Se duas regras entram em conflito, uma delas não pode ser válida. A decisão
de saber qual delas é válida e qual deve ser abandonada ou reformulada, deve
ser tomada recorrendo-se a considerações que estão além das próprias regras.
Um sistema jurídico pode regular esses conflitos através de outras regras, que
dão precedência à regra promulgada pela autoridade superior, à regra
promulgada mais recentemente, à regra mais específica ou outra coisa desse
gênero […]
É importante salientar que para Dworkin não existe o conceito de normas tal
qual existente no sistema jurídico brasileiro, visto que o mesmo faz parte da tradição
Common Low (Anglo-Saxônica), tendo entre esses a equivalência de conceitos entre
norma e regra. Em relação ao conceito de princípios nesta teoria, leciona Streck (2009,
p.495):
As proposições de Dworkin, nos levam a entender que os juízes são obrigados a aplicar
os princípios nos casos concretos, de forma a qual não os aplicando, estarão incorrendo
em erro (DWORKIN, 2002). Desta maneira, os juízes não recorrem aos princípios
apenas diante de lacunas do ordenamento jurídico, mas a todo instante, visto que os
princípios são extraídos de uma convivência intersubjetiva que emana dos vínculos
existentes na moralidade política da comunidade. Observa se que os princípios não
podem ser aplicados isoladamente, por serem um todo integrado, a qual se conjugam ao
direito positivo dentro da estrutura do sistema. Pelo exposto, observamos a
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Vou explicar isso melhor: para Dworkin (1986), nem toda norma, pelo
simples fato de ser válida, é aplicável a todo e qualquer caso,
independentemente da compreensão que se tenha desse caso. Adequabilidade
é pertinência da decisão possível ao caso. Ou seja, ainda que numa disputa
argumentativa sejam construídas concepções concorrentes sobre como um
caso deva ser em princípio decidido (a tal fase interpretativa, como diria
Dworkin (1986), embora até mesmo o reconhecimento de decisões judiciais
anteriores e mesmo normas legais numa fase pré-interpretativa já é
interpretar), exige-se uma coerência de princípio – como exigência de
integridade –, ou seja, reconstruir a história institucional na sua melhor luz.
No que tange a natureza deontológica dos princípios esta é definida por Streck (2012,
p):
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jamais deverá decidir arbitrariamente, mas sim amparado pelos princípios jurídicos, aos
quais são normas jurídicas, o que, portanto, conduz a uma racionalidade.
Nesse diapasão, assim afirma Tomaz de Oliveira (2007, p.179):
Quando se tem um caso difícil – entendido como aquele nos quais as regras
não conseguem regular de forma subsuntiva – deve-se primeiro descobrir
quais princípios se encontram em conflito. Isso é importante. Apenas quando
não há respostas nas regras ou, para usar a terminologia alexyana, nos
mandados de definição, é que se recorre a um argumento de princípio, ou
mandados de otimização. Com a otimização implica que um princípio deve
ser cumprido na maior medida possível respeitadas as condições reais e
jurídicas, toda vez que estiver em jogo uma questão de princípio, dirá Alexy,
sempre haverá a necessidade de se ponderar.
Para Alexy (2008b, p.87) “tanto regras quanto princípios são normas, por que
ambos dizem o que deve ser”, ficando assim claro a natureza deontológica dos
princípios. No entanto, para o mesmo existe a equivalência estrutural entre princípios e
valores, o que acaba esvaindo a própria diferenciação conceitual que o mesmo houvera
realizado. Estruturalmente, princípio e valor seriam idênticos, na medida em que
ambos expressam critérios prima facie aplicáveis na avaliação de uma situação
concreta (DANCY, 2003). Nesta visão, tanto os conceitos deontológicos e axiológicos
estabelecem normas (ALEXY, 2002). Abre se então a noção de que normas possuem
uma natureza deontológica (regras e princípios), mas também possuem uma natureza
axiológica (valores e critérios de valoração).
Na conceituação de Alexy (2008b, p. 90), os princípios são normas que
“ordenam que algo deva ser realizado na maior medida possível, para dentro das
possibilidades jurídicas e fáticas existentes”. Nesta esteira, os princípios são
denominados mandados de otimização, podendo ser satisfeitos em diferentes graus,
diferentemente das normas, as quais devem ser aplicadas a maneira do tudo ou nada.
Desta maneira, fica claro que a diferença entre regras e princípios é qualitativa, posição
também defendida por Dworkin, contrapondo-se a ideia de que a diferença está no grau
das mesmas. “Nota-se, pois, que a distinção reside na própria estrutura dos comandos
normativos e não somente na sua extensão ou generalidade das proposições de dever-
ser” (BUSTAMANTE, 2002, p. 3). Toda norma é ou uma regra ou um princípio
(ALEXY, 2014, p. 91).
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implantado pela EC 42/2003, artigo 150, III, pela qual exige o cumprimento do prazo de
90 dias nas hipóteses de instituição ou aumento de tributos.
"Art. 155....................................................................................
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"Art. 99. Para efeito do disposto no inciso VII do § 2º do art. 155, no caso de
operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final não
contribuinte localizado em outro Estado, o imposto correspondente à
diferença entre a alíquota interna e a interestadual será partilhado entre os
Estados de origem e de destino, na seguinte proporção:
I - para o ano de 2015: 20% (vinte por cento) para o Estado de destino e 80%
(oitenta por cento) para o Estado de origem;
II - para o ano de 2016: 40% (quarenta por cento) para o Estado de destino e
60% (sessenta por cento) para o Estado de origem;
III - para o ano de 2017: 60% (sessenta por cento) para o Estado de destino e
40% (quarenta por cento) para o Estado de origem;
IV - para o ano de 2018: 80% (oitenta por cento) para o Estado de destino e
20% (vinte por cento) para o Estado de origem;
V - a partir do ano de 2019: 100% (cem por cento) para o Estado de destino."
Por esta razão fora editada a lei complementar n° 190/2022, visando a estabelecer
normas de regulamentação para a cobrança do Difal/ICMS, tendo sua entrada em vigor
na data de sua publicação (05/01/2022). Tal lei previu em seu corpo a aplicação da regra
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c) (revogada);
"Art. 12.
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"Art. 13.
X - nas hipóteses dos incisos XIV e XVI docaputdo art. 12 desta Lei
Complementar, o valor da operação ou o preço do serviço, para o cálculo do
imposto devido ao Estado de origem e ao de destino.
"Art. 20-A. Nas hipóteses dos incisos XIV e XVI docaputdo art. 12 desta Lei
Complementar, o crédito relativo às operações e prestações anteriores deve
ser deduzido apenas do débito correspondente ao imposto devido à unidade
federada de origem."
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Foram impetradas as ADI‟s 7.066, 7.070 e 7.078 no STF versando sobre o prazo para a
cobrança do DIFAL do ICMS, propostas pela ABIMAQ e Governadores de Alagoas e
Ceará, suscitando a dirimição do prazo de exigibilidade ainda em 2022 do DIFAL, ante
os principios da anterioridade anual e nonagesimal.
No que tange aos interesses envolvidos, havia de um lado a Fazenda Pública desejosa de
arrecadar o tributo ainda em 2022, do outro lado os contribuintes, na maioria empresas,
que desejavam adimplir somente em 2023, pelo que dado ao andamento do processo e
pendência de decisão, haveria a necessidade de pagamento retroativo, o que imporia
uma cifra bilhonária, principalmente ao setor do comércio.
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No julgamento das ADI‟s acima citadas, o STF julgou pelo seu tribunal pleno no dia
29/11/2023, tendo como relator o Ministro Alexandre de Moraes, pelo que foram
decididas duas questões jurídicas:
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Outro ponto tratado em seu voto e de extrema importância diz respeito às leis estaduais
que implantaram a cobrança da aliquota, sendo esta uma norma geral de direito
tributário, haja vista regular um relação entre “sujeitos não diretamente vinculados”.
Portanto, estas estariam submetidas ao principio da anterioridade.
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Diante dos fatos e considerações jurídicas apresentadas ficou evidente que a decisão do
STF no caso em questão teve um viés técnico. Diante do voto do Ministro Alexandre de
Moraes percebeu se que o STF não alterou o seu entendimento anterior, assentado no
julgamento relativo a EC 87/2015, haja vista que continua se afirmando que trata se de
nova relação jurídica tributária, no entanto, apenas mudou se o entendimento quando a
não se tratar de aumento ou instituição de tributo. Tal mudança se deu em detrimento da
abordagem do regime anterior ao da emenda, pelo que assentou se que apenas houve
mera técnica fiscal visando distribuição de recursos, visto já haver previsão anterior a
EC.
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5 CONCLUSÃO
Foi analisado o conceito de principios dentro do direito, tendo sido averiguado que o
mesmo evolui na medida dos fatos ocorridos na história, pelo que o principio da
anterioridade fora positivado na constituição federal visando dar segurança jurídica ao
cidadão, para que este não seja surpreendido onerosamente na seara tributária.
Observamos que a decisão tomada pelo STF teve natureza técnica, haja vista os
argumentos muito bem embasados na boa técnica jurídica, aos quais envolveram a
averiguação do regimento anterior ao advento da EC do ICMS-DIFAL e a busca pela
intenção do legislador ao positivar a expressa menção a aplicação do principio da
anterioridade anual e nonagesimal.
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REFERÊNCIAS
AFONSO DA SILVA, Luís Virgílio. Nota do tradutor. ALEXY, Robert. Teoria dos
direitos fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, p.
8-13, 2008.
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Trad. Luís Virgílio Afonso da
Silva. São Paulo: Malheiros Editores, 2008.
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CIRNE, LIMA, Ruy. Princípios de Direito Administrativo.7 ed. São Paulo. Malheiros,
2007.
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DANCY, Jonathan. An ethic of prima facie duties. In: SINGER, Peter (Org.).A
companion to ethics.Oxford:Blackwell, 1993.
DWORKIN, 2002, p.49 – Levando os Direitos a Sério. São Paulo: Martins Fontes,
2007.
DWORKIN, 2007, p. 42-43 ; Levando os direitos a sério. Trad. de Nelson Boeira. 2. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2007.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de, Curso de Direito Administrativo. 12ª ed. – São
Paulo : Malheiros, 2000, p. 747/748.
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REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1986. p 60.
STRECK, Lenio Luiz. O que é isso – decido conforme minha consciência? Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2010.
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Direito, Vale dos Sinos, nº2, v.4, p.185-192, jul./dez. 2012. Disponível em: Acesso em:
22 de Maio, 2017.
STRECK, Luis Lênio. Ativismo judicial não é bom para a democracia. São Paulo, 2009.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/. Acesso em: 03 mai. 2020.
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VOTO, Edson Fachin. Voto divergente nas ADIs 7.066, 7.070 e 7.078. STF.
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