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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO


CAMPUS RIBEIRÃO PRETO

UNIVERSIDADE DE DIREITO “LAUDO DE CAMARGO”


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

Nome: Carlos Gustavo Monteiro Cherri Código: 764943

ETAPA: 1º SALA: 9B PERÍODO: Diurno

Ribeirão Preto

2/2020
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Resumo
O presente texto tem a finalidade de esclarecer três problemas em torno do estudo
do Direito. O primeiro deles é a importância dos elementos de coesão, coerênciae
completude em relção à eficácia legislativa. O segundo, se refere à coexistência
entre o direito natural e o direito positivo. O terceiro e último problema trata da
aplicação dos métodos hermenêuticos na sua aplicação aos casos concretos.

Introdução

O estudo do Direito envolve uma série de disciplinas jurídicas, isso é


claro, mas suas relações com as demais esferas do conhecimento oferecem uma
compreensão mais ampla . Entretanto, os maiores problemas decorrem da aplicação
das normas aos casos concretos, já que nem sempre normas previstas no
ordenamento jurídico abrangem determinadas situações que ocorrem na realidade.
Nesse sentido a jurisprudência socorre tais insuficiências e assegura uma direção
segura a seguir.
O presente trabalho tem o objetivo de esclarecer algumas relações sobre
tais aplicações normativas aos casos concretos, seja em relação à eficácia
legislativa apioada nos conceitos de coesão, coerência e completudo, seja no auxílio
proporcionado pelos métodos hermenêuticos, como também pela coexistência do
Direito Natural e o Direito Positivo.
Nesse sentido, a tarefa aqui trata de investigar como a coesão, a
coerência e a completude são compreendidas dentro do ordenamento, tanto pela
derivação das leis inferiores específicas das leis supeiores hierarquicamente na
tentativa de maior abrangência dos casos que permeiam a sociedade, assim como a
combinação de métodos de interpretação atendem de modo mais completo às
exigências do trabalho legislativo e jurisprudencial, somado ao auxílio prestado pelos
princípios do direito natural que orientam o direito positivo quando este não supre
determinadas lacunas no ordenamento vigente.
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1. A pirâmide de Kelsen e a eficácia legislativa do ordenamento jurídico.

Kelsen afirmava que, dentre muitas teorias que se consideravam


científicas, na verdade, nada mais eram do que pseudociências, isto porque, não
tomavam o direito tal como ele é, mas apenas descreviam um modelo jurídico
idealizavo que almejava sua implantação prática. Nesse sentido, tinham bases
ideológicas, e não científcas. Portanto, Kelsen iniciou um processo de purificação da
teoria jurídica, tentando, dessa forma, estabelecer as bases de uma teoria científica,
que ficou conhecida como “Teoria Pura do Direito”.
Na sua investigação e pesquisa, verificou que a validade de uma norma
não decorria de um elemento que estava contido no enunciado normativo, mas na
sua na sua relação com normas que era de natureza diversa. Ao examinar tais
bases que fundamentavam a norma e determinam sua validade no processo de
elaboração, chegou a descoberta de que a validade derivava de um modelo definido
por uma outra norma. Assim, concluiu que o direito era construído a partir de um
escalonamento, visto que as cadeias de validade decorrem da conformidade em
relação a normas hierarquicamente superiores, o que fez ele elaborar a estrutura
que, mais tarde, passou a ser denominada e conhecida por “pirâmide de Kelsen”, na
qual, no topo, se encontram as normas de maior hierarquia, abstração, generalidade
e universalidade, de modo que em cada escalão inferior, ou seja, descendo do topo
em direção à base da pirâmide se constatavam as normas mais específicas e,
consequentemente, de menor grau hierárquico.
A norma superior não determina completamente o conteúdo das normas
inferiores, mas confere competência legislativa a um determinado agente, que deve
complementar o direito dentro dos limites formais e também de conteúdo
estabelecidos pelas normas hierarquicamente superiores. A determinação estrutural
imposta pela pirâmide faz com que a atividade do juiz seja muito próxima à do
legislador, no sentido de que ambos partem de um modelo predefinido e,
delimitando o campo de liberdade para a criação de novas normas.
Considerando o modelo estrutural do ordenamento jurídico brasileiro,
seria possível estabelecer a seguinte analogia: a Constituição federal se encontraria
no topo e demais normas, como as leis complementares, leis ordinárias, decretos,
portarias, ordens de serviço, hierarquizadas entre elas. Essa hierarquização dá
origem a três elementos, a saber, a coesão, a coerência e a completude. Vejamos
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cada um desses aspectos.


A coesão estabelece os limites do ordenamento jurídico e conferem a ele
sua forma específica, isto é, a sua validade decorrente da hierarquia. Esse elemento
é importante pois confere unidade, uniformidade e identidade. Em outras palavras, o
rigor lógico é determinado pela coesão, de modo que cada lei hierarquicamente
inferior seria quase uma consequência silogisticamente derivada. No Brasil, por
exemplo, semelhantemente, o controle de constitucionalidade das normas é um
instrumento que defende a coesão do ordenamento jurídico, dividindo-se em duas
espécies de controle, o controle formal, que determina o rito específico do processo
legislativo, assim como o quorum de aprovação para a validade das leis; e o controle
material, ou seja, se as normas inéditas não se desviam do conteúdo determinado
pela Constituição Federal e se estão em conformidade com o respeito às clásulas
pétreas. Caso uma lei seja aprovada e, mais tarde, se denuncie a sua
inconstitucionalidade, entendida aqui como o descompasso em relação à coesão do
ordenamento, a ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) poderá ser postulada,
dentre os legitimados para tal, disciplinado no art. 103 da Constituição federal.
O segundo elemento, a coerência, se refere à consistência do
ordenamento jurídico, isto é, objetivo, a pretensão, a finalidade do direito. De um
modo geral, se trata de resolução de controvérsias entre as normas com o mínimo
de perturbação social. Isso quer dizer que não podem existir duas normas que
ofereçam, ao mesmo tempo, uma solução contraditória. Se isto acontecer, estamos
diante de uma Antinomia, ou seja, de um conflito entre normas, solucionada com a
eliminação de uma das normas contraditórias. No Brasil, não é difícil constatar uma
lei ou alguns de seus dispositivos com as expressões “derrogado” ou “revogado”, o
que significa que, no primeiro caso, a contradição parcial foi solucionada e, no
segundo, a controvérsia total foi eliminada. Portanto, a coerência é obtida a partir da
hierarquia, de modo que a norma hierarquicamente inferior extraia seus elementos
da norma da qual deriva.
O terceiro elemento é a completude. Por mais que existam uma variadade
imensa de leis, elas ainda não abrangem todos os possíveis conflitos que surgem na
sociedade. Mas, mesmo assim, é certo afirmar que existe regra para resolver todos
os conflitos sociais, por exemplo, a criação de norma jurídica sentencial pelo juiz
para suprir a ausência de uma norma jurídica legal. Essas decisões formam o que
se chama de jurisprudência. As decisões reiteradas dos Tribunais também orientam
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as soluções de demandas no Judiciário brasileiro e, em certos casos, é a única fonte


disponível para a fundamentação jurídica. Por isso, é importante não só verificar as
leis que amparam determinado pedido, mas as decisões, a jurisprudência em torno
da matéria, já que muitas delas se encontram pacificadas, consolidadas pelos
Tribunais Superiores. No caso do Superior Tribunal de Justiça, o STJ, a
jurisprudência se consolida em torno de leis infraconstitucionais. No Supremo
Tribunal Federal, o STF, se encontra a consolidação para a solução em torno da
interpretação e complemento de lacunas deixadas pela Constituição Federal
quando, a partir da previsão que ela memsma faz, não a preenche com as leis
complementares ou Emendas Constitucionais, sendo a jurisprudência do STF o
caminho mais seguro para a fundamentação jurídica no que se refere aos
dispositivos constitucionais.

2. A coexistência entre o Direito positivo e o Direito natural.

A ideia de um Direito Natural, distinto do Direito Positivo, é muito antiga. È


possível encontrar em manifestações remotas da civilização ocidental a respeito do
problema da lei e da justiça, o mesmo ocorrendo na cultura do Oriente. No Ocidente,
se verifica tal noção entre os, como expressão de exigências éticas e racionais,
superiores as do Direito positivo. Não seria absurdo afirmar que as linhas
fundamentais dessa compreensão do Direito Natural ainda perduram em nossa
época. A ideia de Direito Natural aparece no pensamento de Sócrates, passando
pelo pensamento platônico e adquire plenitude sistemática no pensamento de
Aristóteles, ordenando-se segundo estruturas lógicas ajustadas ao real. Seu
conceito de lei natural, como expressão da natureza das coisas, tem uma forma
lógica adequada às constantes da vida prática.
No Período Helenístico, na doutrina dos filósofos estoicos, por exemplo,
não existe qualquer distinção entre lei natural e lei racional. Seguir a natureza é o
primeiro dever do homem, pois equivale a viver segundo a razão. A doutrina estoica
tem, para os juristas, uma significação especial, por ter exercido imensa influência
sobre os juristas romanos, por intermédio especialmente de Panêcio e Posidônio,
que propagaram o estoicismo no mundo romano, no século I a.C. Os princípios de
Zenão e Crisipo, sobre o dever que tem todo ser humano de viver de conformidade
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com a natureza e a razão, princípios esses que correspondiam à índole e às


tendências do povo romano, passaram a informar a sua Jurisprudência. Os estoicos
não faziam diferença entre as leis naturais e as que regem a conduta humana.
No que se refere ao Direito Natural em Roma, merece destaque a obra
de Cícero, que faz a apologia da lei natural, que não precisa ser promulgada pelo
legislador para ter validade.
A experiência histórica demonstra que há determinados valores que, uma
vez trazidos à consciência histórica, se revelam ser constantes éticas inamovíveis
que, embora ainda não percebidas pelo intelecto, já condicionavam e davam sentido
à praxe humana. De todos esses valores o primordial é o da pessoa humana, cujo
significado transcende o processo histórico, através do qual a espécie toma
consciência de sua dignidade ética. São essas constantes ou invariantes axiológicas
que formam o cerne do Direito Natural, delas se originando os princípios gerais de
direito, comuns a todos os ordenamentos jurídicos. Desses princípios resultam
outros, não por mera inferência lógica, mas em virtude de exigências de ordem
prática, na realidade social e histórica, distintas esferas de comportamentos, aos
quais correspondem distintos sistemas de normas.
Dessa maneira, o Direito Natural possui princípios gerais de direito
imediatos e mediatos. Os primeiros expressam, de maneira direta, os valores
essenciais a qualquer forma de convivência ordenada. Já os princípios gerais
mediatos, que decorrem dos primeiros, e que a eles se subordinam, ou representam
exigências jurídicas características de todo um ciclo histórico.
Em contrapartida, certos direitos definidos pelos homens para regular
suas ações na vida em sociedade, tendo em vista a ordem social e a defesa de
direitos e garantias fundamentais, assim como a organização dos poderes e as
funções das instituições formam o que se denomina Direito Positivo de uma época
ou de um Estado. Além do Direito Positivo existem valores, princípios que pertencem
a todos os tempos, não são elaborados pelos homens e emanam de uma vontade
superior porque pertencem à própria natureza humana, tais como o direito de
reproduzir, o direito de constituir família e o direito de viver, recebendo a
denominação de Direito Natural.
O direito positivo é o que está em vigor na sociedade, determinando a
disciplina das condutas, as leis, os regulamentos, as disposições normativas de
todas as espécies, ao passo que direito natural surgiu a partir do momento
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juntamente com o homem. A manifestação jurídica é uma consequência da


convivência humana. Problemática é a questão em torno da sobreposição de um ao
outro, já que é possível pensar que tais valores atrelados à natureza humana só
alcançam sua efetividade, na medida em que se encontram positivados no
ordenamento jurídico que, por meio das leis e instituições, asseguram a sua
permanência e a sua proteção. Se o direito positivado se sobrepõe, essa
sobreposição deve ser entendida como os recursos e intrumentos necessários para
o conhecimento de todos, ao mesmo tempo que a sua imposição se estende a todos
e o desvio das normas implica em punições, sanções e cobrança dos indivíduos
submetidos a ele na forma de deveres.
No entanto, se a consideração do Direito natural se sobrepõe ao Direito
positivo, isso deve ser comprrendido como um ponto de partida para a
fundamentação e elaboração das normas. Assim, não é difícil afirmar que ambos
coexistem, se complementam e possibilitam a resolução de conflitos, a ordem social,
a resposta diantes dos anseios sociais e a segurança de que o seu descumprimento
não seja ignorada.
Porém, essa atuação conjunta vem se aperfeiçoando e se tranformando
ao longo do tempo, de modo que seria errôneo afirmar que os direitos naturais são
imutáveis, já que seria o mesmo que afirmar que a natureza humana não se altera, o
que representaria um descompasso quando se examina a evolução histórica da
humanidade e as suas necessidades presentes no seu tempo.
De modo semelhante, mesmo que o Direito positivo seja definido com as
normas vigentes em determinado ordenamento, tal vigência é temporária, já que as
leis são alteradas, substituídas e revogadas, o que torna possível constatar que a
vigência só adquire seu sentido quando responde às exigências da sociedade que
ela regula.
Não é raro encontrar decisões jurisprudenciais que não tomam como
referência a norma vigente, isto é, o direito positivo, mas o costume, por exemplo,
costume consolidado por meio de práticas defensoras de certos valores que
estariam impressas num determinado povo, seja por suas convicções morais, seja
pelo exame histórico de suas práticas. O mesmo ocorre com os Princípios
fundamentamentais do direito que, por serem princípios, não derivam do direito
positivo, o que resulta que decorrem do direito natural.
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3. Os métodos hermenêuticos e sua aplicação aos casos concretos.

Os métodos hermenêuticos possibilitam a interpretação, mas tomados


isoladamente, ou seja, partindo de um único método, a interpretação será limitada e,
quando se fala em aplicação sobre o caso concreto muito pouco poderá contribuir
um método espefífico. Isso porque a aplicação vai muito além da exata
compreensão dos textos, e isso traz a compreensão de que a combinação refletida
de cada método seria um caminho, não apenas mais seguro, mas prudente e
adequado desde que se saiba que, nem mesmo este emprego esgotam as
possibilidades.
O intérprete ou aplicador da norma jurídica está colocado diante de certo
número de possibilidades dentro das quais deverá adotar uma posição de acordo
com o seu convencimento e com os objetivos pretendidos.
Dentre os métodos de interpretação jurídica é possível elencar o método
gramatical, o método sistemático, o método histórico, o método teleológico-
axiológico e o método sociológico. Antes de mais nada é importante observar a
característica de cada um deles, quais são as suas contribuições e os limites que
eles alcançam na interpretação hermenêutica.
O método gramatical consiste em uma leitura inicial para captar o seu
conteúdo e observar a sua linguagem. É o método usado para se compreender as
palavras do legislador. Nesse sentido, não é novidade que a interpretação vai além
dos sentido e significados das palavras, por exemplo, em poemas e metáforas as
palavras são usadas com significados diferentes do corriqueiro ou das definições
presentes em dicionários, já que são empregadas em sentido subjetivo, tentando
transmitir os sentimentos do escritor e, por isso, se desviam de uma interpretação
estritamente gramatical para sua devida compreensão. Ora, na interpretação jurídica
não temos os problemas de metáforas e poesias, mas se esse método fosse o mais
fértil, um hermeneuta jurídico deveria apenas conhecer as regras da sua língua e
aplicar a análise sintática, por meio da qual, ortografia, morfologia, e elementos
como classificações de orações esgotariam a interpretação. No entanto, se isso
fosse suficiente, todo jurista e profissional do Direito deveria ser, antes de tudo, um
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profissional de Letras, o que não acontecesse e não é necessário. Porém, o


conhecimento da língua é importante, não só para a leitura como também pela
escrita, desde que se reconheça que esse aspecto é apenas um primeiro passo, a
partir do qual o hermeneuta se capacita para a devida interpretação dos textos
jurídicos.
Por outro lado, o método sistemático pode ser entendido como o
estabelecimento de comparações do dispositivo sujeito à exegese, com outros do
mesmo repositório ou de Leis diversas, mas referentes ao mesmo objeto. A matéria
submetida ao exame, longe de perder a própria individualidade, adquire maior
destaque. Esse método é muito empregado e tem relação direta com a concepção
da “pirâmide de Kelsen”, já que a uniformidade das normas serão estabelecidas a
partir do momento em que são comparadas às normas de hierarquia superior. Além
disso, no Brasil, tal método é o que permite a constatação de dispositivos
inconstitucionais presentes tanto em projetos de emenda à Constituição quanto em
projetos de leis ordinárias, leis complementares, decretos, portarias e resoluções,
assim como em decisões jurisprudenciais. Por isso, o método sistemático é um dos
recursos imprescindíveis para a devida interpretação jurídica aplicada sobre o caso
concreto, porque ele capacita o hermeneuta a verificar a conformidade ou não de
uma norma com o ordenamento no qual se encontra inserida e deriva, assim como
procedimento necessário para a reforma de leis por meio de novas leis que
derrogam e revogam, alteram e acrescentam dispositivos. Por exemplo, a lei nº.
8213/1991 já foi alterada pelas leis 8619/93, 8647/93, 8870/94, 9032/95, 9506/97,
9528/97, 9711/98, 9876/99, 10403/02, 10887/04, 11430/06, 11718//08, 12873/13,
13135/15, 13146/15, 13183/15, 13457/17, 13846/19, assim como pelas leis
complementares nº. 123/06, 150/15 e também pelas medidas provisórias nº. 664/14,
767/17 e 955/20. Tais alterações não decorrem somente da conformidade com as
normas superiores, mas das exigências sociais e políticas referentes ao contexto
hisórico nos quais as alterações ocorrem, por isso o exame histórico também é
importante.
O método histórico se baisa na investigação dos antecedentes da lei, seja
referente ao histórico do processo legislativo, seja às conjunturas socioculturais,
políticas e econômicas subjacentes à elaboração da lei. No elemento histórico se
introduz o estudo da legislação comparada para determinar se as legislações
estrangeiras tiveram influência direta ou indireta sobre a legislação que se deve
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interpretar, por meio de Acordos, Pactos e Tratados celebrados entre nações. Por
exemplo, no Brasil, Tratados Internacionais pactuados que versam sobre direitos
Fundamentais adquirem a qualidade de Emendas Constitucionais, ou seja, passam
a valer como normas constitucionais, são incorporadas como tais e, nesse sentido,
passam a servir de base para a elaboração de novas normas. O emprego desse
método revela que o Direito é dinâmico, e não estático, engessado e imutável, e que
a norma jurídica não fica estática no tempo, já que novas leis podem substituí-la,
complementá-la, alterá-la e também subtrair seus dispositivos. Essas tranformações
não devem ser consideradas motivos de insegurança jurídica, já que as leis existem
não só para o estabeleimento da ordem social, mas também para regular os seus
direitos e responder aos anseios da sociedade.
Por sua vez, o método teleológico-axiológico se concentra na busca da
finalidade das normas jurídicas no esforço de adequá-las aos critérios atuais,
visando o objetivo, a razão de ser da lei, o resultado a que se propõe atingir em sua
atuação prática. Assim como o método sistemático e o método histórico, o método
teleológico têm sua importância na hermenêutica jurídica, mas vale destacar que
sua aplicação deve estar atrelada ao método sistemático, já que uma nova finalidade
não pode se desvincular, no caso do ordenamento brasileiro, da Constituição, pois a
nova norma seria rejeitada pela flagrante inconstitucionalidade. Ao passo que sua
relação com o método histórico se caracteriza pela sua finalidade pretendida de
acordo com o critério atual, entendido como exigência social atual. Nesse sentido, o
método teleológico-axiológico rompe com o regime hermenêutico tradicional, pois
direciona suas preocupações ao novo elemento jurídico, ao mesmo tempo estranho
e superior ao texto legal, isto é o fim a que a norma se dirige. Isso quer dizer que tal
método não se dirige ao que já está positivado, vigente, mas o que virá a ser,
lembrando que esse estado futuro tem suas raízes históricas e delimitações formais
e materiais que determinam o horizonte para o qual a nova norma se direcionará
para a solução de novos problemas e exigências a partir de sua devida adequação
ao ordenamento.
Por último, o método sociológico, dentre os métodos, que tem o objetivo
de adaptar a norma jurídica prescrita às novas condições ou efeitos sociais
inexistentes ao tempo de sua formação. Nesse sentido, tal método é importante no
referente às revisões normativas, mas sempre aliado ao método sistemático,
histórico, teleológico-axiológico, que se complementam e, com o auxílio do método
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gramatical, exponha de maneira clara os dispositivos evitando controvérsias em sua


interpretação. Tais controvérsias, é bem verdade, nem sempre se resolvem, mas a
jurisprudência, por meio das decisões reiteradas, ao seu modo, estabelece
unifomidade em relação às interpretações, assegurando um caminho seguro, mas
às vezes problemático, para entendimento das normas.

Considerações finais

Diante do exposto, não é possível afirmar que o assunto se esgota aqui.


Da mesma maneira que vivemos sob um ordenamento dinâmico e em constante
transformação, muitas questões ainda surgirão, assim como muitos problemas não
puderam receber o exame prestado nesse espaço. No entanto, podemos concluir
seguinte, desde que tal conclusão não seja encarada como uma postura definitiva a
respeito dos temas, mas como uma sistematização dos resultados obtidos.
No caso dos elementos de coesão, tal aspecoto assegura a conformidade
entre as leis de hierarquia inferior em relação às normas superiores, garantindo
uniformidade entre as leis. A coerência tem como finalidade a exclusão de
controvérsias entre normas que apresentam, para um mesmo problema, soluções
contraditórias. A completude se projeta para o futuro, com o objetivo de suprir as
lacunas presentes no ordenamento, sem soluões controversas e mantendo a
uniformidade.
Os princípios do Direito Natural oferecem fundamentos para o Direito
positivo, de modo que ambos se complementam. No caso do primeiro, com os
valores inscritos na natureza humana. No caso do segundo, por meio de
dispositivos, normas e leis que regulam os direitos, a ordem social, os
comportamentos, as instituições e os Poderes. Sua vigência assegura os valores
que defendemos.
A interpretação hermenêutica é o instrumento para o devido entendimento
normativo, que não se reduz apenas aos elementos gramaticais da língua, mas aos
aspctos históricos, sistemáticos e a finalidade de cada lei, tendo em vista a defesa, o
atendimento e as exigências sociais.
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Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI COMPLEMENTAR Nº 09, DE 8 DE MAIO DE 2020

Este projeto de lei esclarece sobre as reduções


das receitas dos profissionais do futebol durante
a COVID-19 e suas sanções, conforme determina
o parágrafo único do art. 59 da Constituição
Federal, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e


eu sanciono a seguinte Lei Complementar:

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1o Os profissionais de futebol devem contribuir financeiramente com parte


de seu salário para as pessoas de baixa renda durante a pandemia do COVID-19.

Parágrafo único. As disposições desta Lei Complementar aplicam-se, ainda, às


medidas provisórias e demais atos normativos referidos no art. 59 da Constituição
Federal, bem como, no que couber, aos decretos e aos demais atos de
regulamentação expedidos por órgãos do Poder Executivo.

Art. 2o A porcentagem que deve ser descontada refere-se ao proporcional a


receita de cada jogador sendo ela, o salário fixo do clube, mais o direito de imagem.
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§ 1o A forma de pagamento poderá ser feita através de cestas básicas e


produtos de gênero alimentícios a famílias.

§ 2o Outra forma também poderá ser em forma de remédios, injeções,


respiradores, entre outros itens relacionados a saúde.

§ 3o Será também aceito itens de segurança individual como, máscaras, álcool


em gel 70%, luvas em látex e distribuição de sabonetes.

§ 4o O desconto referente a renda do jogador é lícito de acordo com os


preceitos estabelecidos pelo artigo 503 publicado no ano de 1943 da CLT. Em que
casos de força maior, como o COVID-19, faz-se mister a redução geral dos salários
de forma proporcional não ultrapassando 25%.

Seção I

Da distribuição dos auxílios

Art. 3º A distribuição valorativa ocorrerá nos seguintes casos:

I – a família que receber deve estar em condição econômica menor que um


salário mínimo por pessoa;

II – pessoas que portam limitações que a impeçam de trabalhar;

III – indivíduo sem uma pessoa provedora de suas necessidades básicas.

Art. 4º A distribuição deve ser feita de acordo com as medidas de higiene


tomadas pelo Ministério da Saúde

Art. 5º Os jogadores com receita em torno de cinquenta salários mínimos


devem contribuir com 2% de sua renda.

Art. 6º Os jogadores com receita em torno de cem salários mínimos devem


contribuir com 4% de sua renda.

Art. 7º Os jogadores com receita em torno de quinhentos salários mínimos ou


mais devem contribuir com 8% de sua renda.

Art. 8º É de responsabilidade do clube fazer o desconto e o repasse do dinheiro


às ONG’s durante o período da pandemia.

Parágrafo único. O clube terá um prazo de até quinze dias para o repasse
frente às ONG’s após o valor ser descontado do jogador.

Seção II

Dos técnicos e clubes


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Art. 9º Os técnicos de futebol também devem contribuir seguindo as mesmas


proporções de reduções de salários dos jogadores.

Parágrafo único. Como o momento propiciado pela pandemia foge


completamente do caráter de normalidade do Estado, é necessário que durante
esse período os profissionais futebolistas aceitem essa decisão tomada em lei com o
objetivo de auxiliar as pessoas infectadas pela COVID-19.

Art. 10. Os funcionários do clube que atendam aos requisitos listados no Art. 3º
também poderão receber o auxílio.

Art. 11. Os clubes devem ter uma parceria com as ONG’s destinadas à
assistência social para famílias em vulnerabilidade.

I – As ONG’s ficam responsáveis pelo direcionamento dos recursos providos


pelo clube;

II – As organizações não governamentais devem selecionar as famílias que


atendam a esses requisitos;

III – As entidades sem fins lucrativos devem atender ao quesito do Art. 3º inciso
I da Lei 9790/1999.

CAPÍTULO II

DAS SANÇÕES REFERENTES AO DESCUMPRIMENTO DA LEI

Art. 12. Caso o clube não obedeça a lei será penalizado financeiramente.

I - será multado no dobro do valor que seria repassado às ONG’s.

Art. 13. Dentro de campo os clubes terão as seguintes punições caso não
cumpra a legislação:

I - perda de mando de campo por cinco rodadas na volta dos campeonatos;

II - perda de pontos, ou até mesmo, em casos mais severos, desclassificações


em competições nacionais;

III - impedido de participar de qualquer competição nacional durante um ano.

CAPÍTULO III

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 14. Caso algum termo esteja inadequado dentro do âmbito jurídico, não
cabe ao indivíduo o desacato desta lei.

Art. 15. Esta Lei Complementar entra em vigor a partir da data de sua
14

publicação, valendo até o término da pandemia de acordo com o Ministério da


Saúde.

Brasília, 08 de maio de 2020; 199º da Independência e 132º da República.

Jair Messias Bolsonaro


Davi Alcolumbre

Referências

MASCARO, Alysson Leandro. Filosofia do direito. 4ª. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional. 12ª. ed. São Paulo:

Saraiva, 2017.

Vade Mecum OAB e concursos/obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a

colaboração de Lívia Céspedes e Fabiana Dias da Rocha. 13ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2018.

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