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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO

FACULDADE DE DIREITO LAUDO DE CAMARGO


DIREITO

LAUANA PAES 839520

FILOSOFIA DO DIREITO

PÓS-POSITIVISMO E A NOVA INTERPRETAÇÃO


CONSTITUCIONAL

RIBEIRÃO PRETO
2023
1. INTRODUÇÃO

O pós-positivismo é uma abordagem filosófica que questiona as crenças centrais do


positivismo, que defende a objetividade absoluta do conhecimento. Segundo Bhaskar (1975),
no contexto da filosofia das ciências sociais, o pós-positivismo tenta reconhecer a influência
do pesquisador na construção do conhecimento e aceitar a inevitabilidade da interpretação
subjetiva. Além disso, autores como Guba e Lincoln (1994) enfatizam a importância da
pesquisa qualitativa e da compreensão contextual dentro de uma abordagem pós-positivista.
Esta perspectiva reconhece a complexidade do mundo social e a necessidade de considerar
múltiplas perspectivas para obter uma compreensão mais abrangente.
Além disso, a flexibilidade metodológica é uma característica fundamental do
pós-positivismo. Denzin e Lincoln (2005) argumentam que os pesquisadores devem adotar
abordagens mistas, combinando métodos quantitativos e qualitativos, para obter uma
compreensão mais completa dos fenômenos estudados. Essa abordagem visa superar as
limitações percebidas do positivismo, permitindo uma exploração mais aprofundada das
nuances e complexidades do mundo social. Ademais, em contraste com o positivismo
clássico (por exemplo, o normativismo jurídico kelseniano), o surgimento do pós-positivismo
pode ser atribuído a várias razões. O pós-positivismo surgiu, como uma resposta à rigidez do
positivismo, buscando incorporar perspectivas mais amplas e contextualizadas.
Portanto, a crítica à objetividade absoluta do conhecimento, que caracteriza o positivismo,
inspirou o pós-positivismo. Autores como Foucault (1972) questionaram a neutralidade do
observador, argumentando que a interpretação está intrinsecamente ligada ao contexto social
e histórico. O pós-positivismo tenta, portanto, superar as limitações do positivismo,
reconhecendo a subjetividade inerente à construção do conhecimento jurídico e social.

2. DESENVOLVIMENTO

Para dar andamento ao tema, podemos usar o exemplo atual no conceito de normas jurídicas
e sua interpretação, o debate sobre a legislação de proteção de dados. Para tal exemplo se dá
o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) da União Europeia, tendo sido discutida
a interpretação e implementação de normas para assegurar a privacidade dos cidadãos no
meio de rápidas mudanças tecnológicas. As diferenças na aplicação destas normas realçam a
necessidade de considerar não apenas os aspectos jurídicos, mas também as implicações
éticas e sociais, refletindo a influência das perspectivas pós-positivistas no tratamento destas
questões jurídicas.
Autores como Dworkin (1986) e Alexy (2002) enfatizam que no contexto do Estado
Democrático de Direito, a interpretação jurídica vai além da simples aplicação de normas
para incorporar princípios e valores constitucionais, e sim enfatiza a importância de
interpretações de situações jurídicas que levam em conta aspectos sociais, éticos e políticos.
Ou seja, as decisões judiciais passaram a refletir não apenas regras pré-estabelecidas na
norma jurídica, mas também pela busca da justiça e equidade, em concordância com os
princípios básicos da democracia e do Estado de direito.
Entretanto, ao contrário do positivismo, observamos uma mudança no foco da constituição,
com crescente aceitação de princípios e sua normatividade. Escritores contemporâneos como
Robert Alexy (n. 1945) contribuíram para esta mudança ao argumentar que os princípios têm
importância normativa e devem ser levados em conta na interpretação jurídica. Eles não
apenas orientam a interpretação das normas, mas também servem de base para decisões
judiciais, especialmente em casos de lacunas legais. A relação entre o positivismo e o direito
constitucional evoluiu assim à medida que as implicações normativas do princípio foram
reconhecidas e integradas na prática jurídica contemporânea.
Escritores como Ronald Dworkin enfatizaram que o direito não pode ser entendido
simplesmente como um conjunto de regras, mas deve conter princípios morais fundamentais,
ou seja, aproximação entre o direito e a ética ao questionar a estrita separação entre fatos e
valores que caracterizam de modo amplo o positivismo.
Nesta perspectiva, o pós-positivismo reconhece que a tomada de decisões jurídicas envolve
não apenas a aplicação mecânica de normas, mas também a consideração de valores éticos e
morais subjacentes da sociedade moderna e atual. A moralidade influencia a interpretação das
normas jurídicas e orienta os juízes na tomada de decisões que sejam consistentes com os
princípios básicos de justiça e equidade. Dworkin (1986) acreditava que a interpretação
constitucional não deveria limitar-se à aplicação mecânica de regras, mas deveria incorporar
princípios éticos e morais. Ele enfatizou a ideia de integridade jurídica, argumentando que os
tribunais devem buscar interpretações que sejam consistentes com a coerência e os valores
fundamentais da constituição.
Assim sendo, entre o direito e a ética no pós-positivismo é possível identificar que há uma
compreensão mais ampla e integrada do papel do direito na sociedade, reconhecendo a
importância das considerações éticas na formulação e aplicação das normas jurídicas.
NORBERTO BOBBIO (1995, p. 233), em estudo sobre o positivismo jurídico, contrapõe
equívocos com o argumento:

Ora, sustentamos que para poder fazer um balanço do positivismo jurídico,


para poder estabelecer aquilo que dele deve ser conservado e o que deve ser
abandonado ou, como e diz habitualmente quanto às doutrinas, verificar o
que está vivo e o que está morto, é necessário não considerar esse movimento
como um bloco monolítico, mas distinguir nele alguns aspectos
fundamentalmente diferentes.

Diante do exposto nos parágrafos acima, podemos encontrar o caso da atriz Carolina
Dieckmann, brasileira que foi vítima de um caso envolvendo divulgação não autorizada de
suas imagens íntimas na internet. A Lei Carolina Dickman” refere-se à Lei nº 12.737/2012, a
Lei Carolina Dickman, em homenagem à atriz foi promulgada para criminalizar a intrusão de
equipamento informático e a aquisição, transmissão ou divulgação não autorizada de dados e
para criar sanções mais severas para tal conduta. A legislação visa proteger a privacidade e a
segurança das pessoas na era digital, tornando crime hackear dispositivos e divulgar
indevidamente informações pessoais. A Lei traz uma importante atualização ao Código
Penal Brasileiro sobre crimes cibernéticos, ajudando a enfrentar novos desafios relacionados
à tecnologia e à proteção da privacidade.
E mais, encontra-se nas mídias e veículos televisivos, o caso novamente Suzane Von
Ritchtofen, e os irmãos Cravinhos, na qual Christian declarou ter
direito ao esquecimento. Entretanto, a relatora Penna Machado não acatou o pedido e
reforçou que o caso é de interesse público. Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF),
negou o pedido, alegando ser incompatível com a Constituição Federal, e junto com a cúpula
do Poder Judiciário, a liberdade de expressão e informação é primordial para a sociedade.

3. CONCLUSÃO

O pós-positivismo representa uma evolução crítica associada ao positivismo jurídico e


destaca-se pela sua abordagem dinâmica e situada à interpretação jurídica. Autores como
Ronald Dworkin e Robert Alexy influenciaram essa visão, enfatizando a importância dos
princípios e da ética na construção e aplicação das normas jurídicas. A aproximação entre
direito e ética que caracteriza o pós-positivismo reforça o entendimento de que a
interpretação constitucional vai além da simples aplicação de regras para incorporar valores
fundamentais para uma administração mais eficaz da justiça. Esta abordagem, evidenciada
nas decisões judiciais contemporâneas, enfatiza a necessidade de considerar o contexto social
e moral na evolução do direito, proporcionando assim respostas mais flexíveis e adaptáveis
​aos complexos desafios da sociedade atual. Assim dizendo, podemos falar da Constituição
Federal traz em seu artigo 5º, inciso II que: "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei". Ou seja, os entes federativos têm a juridicidade
na elaboração de leis, as quais deverão se basear nos princípios do Poder Legislativo que
vinculam o agir e o deixar de agir.
REFERÊNCIAS

BOBBIO, Norberto. O positivismo jurídico: lições de filosofia do direito. Compilação Nello Morra.
Tradução e Notas: Márcio Pugliesi, Edson Bini, Carlos E. Rodrigues. São Paulo: Ícone, 1995.

Princípio da legalidade e a superação do positivismo jurídico. Disponível em:


<https://www.conjur.com.br/2023-out-07/diario-classe-principio-legalidade-superacao-positivismo-jur
idico/>. Acesso em: 6 dez. 2023.

GEARINI | @VICTORIAGEARINI, V. Direito ao esquecimento: entenda a tese jurídica


solicitada por Cristian Cravinhos. Disponível em:
<https://aventurasnahistoria.uol.com.br/amp/noticias/reportagem/direito-ao-esquecimento-ent
enda-a-tese-juridica-solicitada-por-cristian-cravinhos.phtml>. Acesso em: 6 dez. 2023.

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