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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 

FICHAMENTO: BOBBIO, Norberto. Teoria da Norma Jurídica 1. ed. São Paulo:


EDIPRO, 2001 – CAPÍTULO I - O DIREITO COMO REGRA DE CONDUTA. Págs. 23-44

1. UM MUNDO DE NORMAS

Bobbio parte da premissa que a experiência jurídica é também uma


experiência normativa, ou seja, vivemos em um mundo de normas até quando
acreditamos estar livres. Para o autor, a História pode ser imaginada como uma
grande corrente fluvial represada: as barragens são as normas de conduta,
religiosas, sociais, morais e jurídicas que barraram as correntes dos interesses e das
intuições dentro de um certo limite, que possibilitou a formação de sociedades
estáveis, com instituições e ordem, denominadas de "civilização". É certo que existe
uma visão normativa no estudo e compreensão da história humana: nessa visão, a
civilização é caracterizada pelo ordenamentos das regras nas quais as ações das
pessoas que as criaram estão contidas. É notório que fazer um estudo amplo sobre
os sistemas normativos incube em estudar as permissões e negativas relacionadas
às condutas de populações especificas e conseguir diferenciá-la das demais
sociedades com outros ordenamentos normativos.

2. VARIEDADADE E MULTIPLICIDADE DAS NORMAS

As normas jurídicas, que serão estudadas neste livro, são apenas parte da
experiência normativa. Além das normas legais, existem preceitos religiosos, morais,
sociais, normas costumeiras etc. Há as normas sociais que regulam a vida dos
indivíduos na convivência com outras, existem ainda normas que regulam a relação
entre as pessoas e os deuses e até entre as pessoas. Cada pessoa pertence a um
grupo social diferente: igrejas, Estado, famílias, associações com fins econômicos,
culturais, políticos ou de lazer. Cada uma dessas associações é constituída e
desenvolvida por meio de um conjunto de códigos de conduta ordenados. Cada
indivíduo e cada grupo humano especifica os meios mais adequados ao prescrever
os objetivos a serem alcançados, ou os meios que considera mais adequados para
atingir esses objetivos.
Todas essas regras são muito diferentes em termos de finalidade, conteúdo,
tipo de obrigações assumidas, âmbito de validade e a quem são direcionadas.
Contudo, todas elas têm um elemento característico em comum: são proposições
cujo propósito é influenciar o comportamento de indivíduos e grupos, e direcionar o
comportamento de indivíduos e grupos para certos objetivos ao invés de outros. Não
é possível enumerar todas as normas que nos cercam em simples atos, como enviar
uma carta, por exemplo, pois em cada ação estão envolvidos muitos grupos
normativos, como o jurídico, o social, o moral etc.

3. O DIREITO É INSTITUIÇÃO?

Há várias teorias referentes as normas e de acordo com o pensamento de


Bobbio existe duas teorias que são distintas da normativa: a teoria do direito como
instituição e a teoria do direito como relação. A primeira se refere a teoria normativa
do Direito onde o direito como instituição a sobrepõe, nessa teoria o conceito de
sociedade se amplifica, pois não há sociedade sem que haja a manifestação de
fenômeno jurídico, além disso, o direito deve ser visto como por ordem social, que
serve para evitar a desordem e fazê-lo de forma a organizar, estruturar e unificar
uma sociedade. Isso tornaria então, a sociedade ordenada e organizada.

Para Romano, os elementos que constituem o direito são: a sociedade, a


ordem e a organização. O dois primeiros elementos supracitados são importantes,
mas é o terceiro elemento, o organizativo, que é substancial para a existência do
direito. Isso significa que a lei nasceu quando um grupo social passou de uma fase
inorgânica para uma fase orgânica e de uma fase inorgânica ou desorganizada para
uma fase organizada. Por exemplo, classe social é certamente uma forma de grupo
humano, mas não tem organização própria, não tem direito de se expressar e não é
uma instituição. Ao contrário, uma associação de delinquentes é uma instituição que
se expressa em uma organização e cria seus próprios direitos. A transição da fase
inorgânica para a fase orgânica também é chamada de institucionalização.
Entretanto, o autor expressa que, em contraste com a teoria de Romano, pode-se
admitir que o direito pressupõe a sociedade, ou um resultado da vida social, mas
não se pode admitir que toda sociedade seja jurídica.

4. O PLURALISMO JURIDICO
Foi a partir dessa teoria de institucionalização do direito que este parou de ser
visto apenas como parte do Estado, mas, principalmente como fenômeno da
sociedade e sendo extremamente necessário para a diferenciação básica do que é
ou não uma sociedade jurídica. O pluralismo jurídico já vem há muito tempo, na
época medieval por exemplo, existiam vários ordenamentos jurídicos que ou se
integravam ou se distanciavam, feudos, corporações, Igreja, Estados, comunas,
família e muitos outros que formavam ordenamentos diferentes naquela época para
uma mesma sociedade, enquanto que nas sociedades modernas houve uma
unificação jurídica, emanando a experiência jurídica apenas pelo Estado de forma
centralizada, e é por causa desse processo que até hoje o direito é mais visto como
estatal.

5. OBSERVAÇÕES CRÍTICAS

Fazendo observações acerca das teorias, Bobbio afirma que há como vê-la
de forma cientifica ou ideologicamente, neste último caso, a teoria se propõe a
provar valores que sejam ideais e ações, já cientificamente procura compreender
uma realidade especifica e conseguir explicá-la. Toda teoria pode ser vista das duas
formas, porém aqui o autor se detém a falar sobre a teoria da institucionalização de
forma cientifica para melhor entendimento do fenômeno jurídico. É simples, os
institucionalistas usam a palavra direito de forma mais ampla, e os outros, mais
restritas; não tem certo ou errado apenas questão de oportunidade, assim a teoria
da instituição não exclui, ao contrário, inclui a teoria normativa do direito, a qual não
sai dessa polêmica vencida, mas, talvez, reforçada.

6. O DIREITO É RELAÇÃO INTERSUBJETIVA?

A teoria de que a relação intersubjetiva seja uma característica da experiência


jurídica já é bem conhecida, porém, o institucionalismo também a crítica, pois para
eles, para existir direito é preciso que haja uma relação entre indivíduos de forma
mais vasta e complexa e que precise de uma organização permanente da atividade
que esses indivíduos estão praticando. Para eles a teoria de relação subjetiva seria
muito individualista já que eles defendem o direito sendo o produto da sociedade
complexa.

7. EXAME DE UMA TEORIA


Atualmente existe uma teoria sobre o direito como relação jurídica que é a
Teoria Geral do Direito, onde essa relação é universal e intersubjetiva de forma a
considerar os comportamentos positivos, negativos, complementares etc. Essa é a
opinião de Levi, porém Bobbio acredita que existe muito por trás disso, pois não
acredita que o direito seja uma pretensão ideal de um relacionamento subjetivo, sem
que haja relações do direito objetivo.

8. OBSERVAÇÕES CRÍTICAS

Bobbio afirma que a relação jurídica é formada por dois sujeitos, um que tem
uma obrigação e o outro que tem o direito, ou seja, uma relação de direito-dever e
remete assim a duas regras de conduta, onde a primeira dá poder, a outra, um
dever. A relação jurídica é, então, aquela que se diferencia de todos os outros tipos
de relação por poder ser manipulada por uma regra jurídica. O que acaba
caracterizando uma relação jurídica não é o conteúdo, mas a forma, ou seja, não
pode determinar se uma relação é jurídica com base em interesses, mas deve-se
ser determinada só com base de ser ou não regulada por uma norma jurídica.

Bobbio conclui esse capítulo afirmando que as três teorias não se excluem,
na verdade se integram, cada uma afirmando enfaticamente a visão que se propõe a
estudar dentro da experiência jurídica, mas lembrando que dos três, o mais
fundamental é o normativo, pois é este, a condição necessária e suficiente para
formação de uma ordem jurídica.

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