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SOCIOLOGIA JURÍDICA

• O Direito é um fenômeno social, logo não


equivale a uma lei estatal, ele é produto da
sociedade e ao mesmo tempo regula a
sociedade, informando como ela deve ser
estruturada.
• Encarar o Direito sob esse prisma significa
considerá-lo como algo não acabado que
somente tem sentido num processo contínuo
de construção/desconstrução.
SOCIOLOGIA JURÍDICA

• O Direito interage de forma complexa com vários


aspectos e instituições sociais (idéias religiosas,
relação de forças entre grupos sociais, valores e
padrões sociais majoritários, desigualdades entre
outros). É exatamente por isso que a análise do
chamado mundo jurídico não pode alienar-se às
considerações de outras ciências. A ciência jurídica,
apesar de possuir especificidades, forçosamente
dialoga com as demais ciências sociais.
SOCIOLOGIA JURÍDICA

• As maneiras pelas quais o Direito é formulado,


percebido aplicado e representado produzem
consequências sociais, econômicas e políticas as mais
diversas.
• Os chamados “operadores do Direito” pertencem, de
forma e em posições distintas à sociedade e possuem,
portanto, diferentes visões acerca da realidade.
• Nesse sentido, trabalham com o Direito interpretando e
fazendo certas leituras da realidade.
SOCIOLOGIA JURÍDICA
• A responsabilidade desses profissionais não se restringe a
um exercício teórico abstrato de aplicação de normas.
• O aparato de administração judicial- o Judiciário- que, em
tese, distribui “justiça” e “soluciona conflitos” não se
confunde, automaticamente, com a própria ação de
justiça. Isso significa dizer que a solução de um conflito
chamada de justa apenas porque foi a solução produzida
por um tribunal, só pode ser assim qualificada segundo
critérios formais ou procedimentais que não esgotam
necessariamente, outros critérios existentes que podem
pôr à prova a “justiça” daquela decisão específica.
SOCIOLOGIA JURÍDICA
• Para se alcançar uma justiça que seja aceitável,
coerente e ampla, faz-se necessária uma
percepção que contemple múltiplas dimensões do
Direito. É preciso pois encarar o Direito como algo
multidimensional, fruto de uma pluralidade de
fatores que interagem.
• Para se ter uma visão refinada do Direito, é preciso
portanto, entender ao menos, os traços principais
da sociedade e a correlação de forças existentes.
SOCILOGIA JURÍDICA
• No caso da sociedade brasileira precisa-se levar em
conta que trata-se de uma sociedade
• “relacional”. Isto porque existem identidades sociais
precisas em teias de relações sociais nascidas da
família, da vizinhança, do apadrinhamento, da
amizade, do local de origem, da torcida de futebol...
dependendo da posição que cada um possui nessas
teias terá mais ou menos privilégios ou prejuízos
decorrentes da aplicação da lei.
SOCIOLOGIA JURÍDICA
• A vida dos brasileiros é muito mais orientada
pelos papéis que cada um ocupa e pelas suas
características, do que pela identidade geral
fabricada pelas leis. Isso leva a um choque entre a
pretendida impessoalidade das leis e as
características pessoais dos indivíduos.
• Isto significa dizer que no Brasil, as posições que
alguém possui e ocupa, talvez valham mais do que
os direitos legais formais, que esse alguém possui
SOCIOLOGIA JURÍDICA
• Os portugueses aqui elaboravam leis que
visavam unicamente a garantia dos seus
interesses como metrópole a até hoje, há uma
significativa dissociação entre o ordenamento
jurídico oficial e a “justiça” informal praticada
por parte da população.
• Fica claro que o modelo de legalidade precisa
incorporar certas fontes não estatais de regras,
ou ao menos não fechar os olhos para elas.
SOCIOLOGIA JURÍDICA
• O modelo de legalidade estritamente formal,
afastado da espontaneidade de uma obra em
construção e, em muitos casos, longe das
necessidades fundamentais das pessoas leva ao
desenvolvimento de sentimentos contrários às
instituições e às leis.
• Parece importante, portanto, uma abordagem que
provoque o reencontro do sistema legal com as
realidades sociais, uma vez que estes não estão de
fato separados.
ESCOLAS JURÍDICAS
• JUSNATURALISMO- o Jusnaturalismo
juntamente com o juspositivismo constituem
um dos principais paradigmas explicativos do
Direito.
• O Jusnaturalismo pode ser entendido tanto
como uma doutrina relacionada às fontes de
Direito quanto como uma ideologia relativa ao
conteúdo do Direito.
ESCOLAS JURÍDICAS
• Como doutrina, ela pode ser monista ou dualista.
Monista, quando afirma que existe um único
direito que é o natural e dualista quando admite
um direito positivo que está abaixo ou ao lado do
direito natural, devendo está adequado a ele.
• Com relação ao conteúdo, o Jusnaturalismo
associa o direito a uma noção de “justo”. A ênfase
das variadas tendências jusnaturalistas recai sobre
o direito natural.
ESCOLAS JURÍDICAS
• O JUSNATURALISMO ACABA POR SER UMA
EXPRESSÃO DA PREDOMINÂNCIA DO DIREITO
NATURAL SOBRE O DIREITO POSTO.
• Existem três grandes vertentes do direito
natural, cada uma predominando em uma
época,a primeira de caráter TEOLÓGICO
(envolve a obediência à Divindade);
• A segunda vertente, admite que o direito
natural advém da NATUREZA DO COSMO;
ESCOLAS JURÍDICAS
• A terceira vertente está fundada na RAZÃO. O
direito seria então uma demonstração racional
de preceitos obteníveis através do exercício
metódico da inteligência.
• O direto natural é um modelo de direito que
se crê universal, válido para todas as épocas e
lugares.
ESCOLAS JURÍDICAS
• ESCOLA HISTÓRICA- surgida e difundida na Alemanha entre o
fim do século XVIII e o início do XIX a escola não aceita o direito
natural.
• Para os que defendem essa perspectiva o direito antes de
qualquer coisa, precisa analisar a realidade histórica de cada
povo. As bases dessa corrente foram lançadas pelo jurista
alemão Gustavo Hugo. O autor analisou o direito de Roma e o
common law da Inglaterra, tendo concluído que os mesmos se
formaram independentes dos legisladores. Concluiu o
estudioso que, o direito como a linguagem, tende a se
constituir naturalmente, impulsionado pelas necessidades dos
povos.
ESCOLAS JURÍDICAS
• Segundo Bobbio, a ideia de Hugo é que o direito posto pelo Estado, não
significa necessariamente, direito posto pelo legislador como sustenta o
positivismo jurídico.
• Outro importante defensor dessa escola foi Friedrich Carl von Savigny que
propõe que a noção de direito esteja associada a elementos da história de
uma sociedade e, ao mesmo tempo, aberta às leis da evolução dessa mesma
sociedade.
• Com isso combateu as pretensões de codificação ou a construção de uma
ordem jurídica fundada em deduções racionais lógicas.
• Os dois autores separam os conceitos de LEGISLAÇÃO E DIREITO.
• O direito envolve tendências, faculdades particulares, consciência e costumes
de um povo. Já a legislação pode não estar em consonância com o povo.

ESCOLAS JURÍDICAS
• ESCOLA DA EXGESE- teve grande força, durante quase todo
o século XIX, em todos os países que sofreram a
influência da codificação francesa, inclusive o Brasil. Seus
representantes foram Alexandre Duranton, Charles
Aubrey entre outros.
• O termo exgese foi emprestado das tradições religiosas de
interpretação dos livros sagrados. Ela consiste na adoção
de uma perspectiva textual ou formalista do direito, que
prioriza o texto, a forma da lei, buscando uma melhor
interpretação da lei. Seus adeptos negam a existência de
lacunas no ordenamento jurídico.
ESCOLAS JURÍDICAS
• Na escola da Exgese o apego ao texto da lei é
algumas vezes suavizado, na medida em que
se pode modificar o “sentido literal da
palavra”readaptando às exigências da vida
social,em nome da vontade do legislador.
• De um lado busca-se a fidelidade ao texto
mas, também a fidelidade à vontade do
legislador.
ESCOLAS JURÍDICAS
• POSITIVISMO JURÍDICO- Os chamados
positivistas jurídicos são apresentados como
defensores da noção do direito como conjunto
de normas coerentemente ordenadas. As
regras são afastadas das considerações morais.
• Existem várias tendências nesta escola, por
exemplo, John Austin, Has Kelsen e Hebert
Hart são positivistas, mas guardam algumas
diferenças nas suas postulações.
ESCOLAS JURÍDICAS
• Grzegorczyk acredita que o positivismo não é tanto uma
corrente do direito, mas muito mais um componente de
certas teorias do direito; componente cuja intensidade
pode ser variável. Segundo Bobbio, o positivismo
jurídico, é anterior ao positivismo filosófico.
• Na visão de Comte, o positivismo é tudo aquilo que
envolva o real versus a quimera imaginada; o preciso
versus o vago; o útil versus o supérfluo; o relativo versus
o absoluto; a pretensão de certeza em detrimento da
indecisão.
ESCOLAS JURÍDICAS
• Acredita Comte, ser possível descrever
objetivamente a realidade.
• De modo geral, pode-se afirmar que os
positivistas diferenciam a noção de direito da
noção de ciência do direito, dando prioridade
à última. A ênfase positivista está na realidade
normativa ou nas normas consolidadas,
percebidas como válidas
ESCOLAS JURÍDICAS
• ÉMILE DURKHEIM-(1858-1917) é considerado por
muitos como o pai da sociologia jurídica. Sua maior
preocupação foi com a coesão e integração social,
ou seja nos modos pelos quais um conjunto de
pessoas pode chegar a um consenso, vindo a
construir uma sociedade.
• Sua metodologia está perfeitamente consonante
com os padrões científicos de racionalidade da sua
época. É herdeiro de A.Comte em muitas de suas
ideias.
ESCOLAS JURÍDICAS
• O cerne da sua tese passa pela relação entre o
indivíduo e o grupo (formas de interação e
sociabilidade) e pela importância da regulação da
vida social por regras morais. Para o autor, a
explicação dos fenômenos sociais deve ser buscada
no meio social e não nos indivíduos. Para ele o
indivíduo nasce da sociedade. A moral para ele
envolve a noção de “consciência coletiva” que
abarca e regulamenta, com maior ou menor in
intensidade, a vida social.
E.DURKHEIM
• A vida social para o autor, é derivada da
regulamentação da sociabilidade. Sendo assim, na
medida em que exista uma maior regulamentação,
existe uma melhor condição de vida social.
• Nesse perspectiva a anomia, ou falta de regulação
normativa, resulta na desintegração social. Dessa
forma, o direito, a educação e todas as demais
instituições, são fenômenos produzidos na e pela
sociedade.
E.DURKHEIM
• O Direito é visto como: REPRESSIVO e RESTITUTIVO
correspondentes às duas espécies de solidariedade a
MECÂNICA E ORGÂNICA.
• A solidariedade mecânica é própria das sociedades menos
complexas já a solidariedade orgânica predomina nas
sociedades mais complexas (industriais p. ex.).
• Uma vez que o tipo de solidariedade varia segundo o grau de
desenvolvimento da sociedade, a norma moral (coerção
difusa) tende a tornar-se uma norma jurídica.
• Isto significa dizer que as normas jurídicas são aqueles que
possuem relevância moral e social.
DURKHEIM
• Em outras comunidade, onde prevalece a
solidariedade orgânica as sanções restitutivas
caracterizam o direito.
• O autor buscou demonstrar uma “tendência
irremediável” de substituição do direito
repressivo (direito penal) pelo direito
restitutivo (como o direito civil e comercial).
1858-1917-DURKHEIM
• Segundo o autor, o direito consiste na representação
visível da solidariedade social, sendo a expressão
simbólica dos fatos sociais fundamentais.
• O direito é definido então como as regras dotadas
de sanções socialmente organizadas, em oposição à
moral cujas sanções são majoritariamente, difusas.
• Em uma coletividade na qual prevalece a
solidariedade mecânica, o direito terá as sanções
repressivas como um componente majoritário.
KARL MARX -1818-1883
• Marx trabalha a abordagem materialista e
dialética do direito. O autor buscou promover um
diálogo entre teoria e prática. Criou uma filosofia
prática( ou da praxis), visando uma transformação
radical na organização da sociedade, em
benefício prioritário dos mais desfavorecidos.
Marx refuta os economistas clássicos defensores
do liberalismo e do capitalismo criticando,
duramente às suas propostas.
K. MARX
• Para Marx, o direito não pode ser entendido fora da
sociedade que o criou e na qual ele interfere.
• Em uma sociedade desigual, o direito também será desigual
funcionando diferentemente, em função das posições
sociais.
• Nas suas análises, o autor privilegia o real em detrimento do
ideal. Para ele as ideias que se tem das coisas, dependem do
tipo de vida que se leva, ou seja, das condições concretas
materiais em que se vive. Afirma Marx, que não é a
consciência dos homens que determina o seu ser, mas, pelo
contrário, o seu ser social lhe determina a consciência.
K. MARX
• Para Marx a base econômica (estrutura),
determina a superestrutura onde estão o
direito a ideologia a política etc.
• No Brasil, as ideias de Marx tiveram forte
influência no que se veio a chamar de
“movimento de direito alternativo”
MAX WEBER 1864-1920
• O direito moderno ocidental constituiu-se em
um aspecto central na sua análise da
dominação. Apesar de rejeitar a identificação
da noção de direito como o direito estatal ele
não considera o direito de associações
voluntárias, como a causa determinante do
direito estatal.Ele critica a noção de que o
direito se equipara à convenção e ao costume
adotado.
MAX WEBER 1864-1920
• Weber trabalha a chamada sociologia compreensiva,
(que busca compreender os sentidos e as intenções
dos agentes nas ações sociais). É o foco na relação
entre o sistema econômico e o sistema social mais
amplo.
• A posição de Weber pode ser resumida como
repúdio explícito, a qualquer tentativa de explicação
do direito como produto direto das forças
econômicas. O direito é para ele uma esfera
autônoma da realidade social.
MAX WEBER
• Entende o autor que o direito não está
determinado por forças econômicas mas está
relacionado a elas. A função do direito é
concebida em alguns casos, como sendo um
meio de garantir a atividade econômica.
Sendo assim, o ato de comerciar conta com a
probabilidade de que as partes vão cumprir
com os seus compromissos e as instituições
jurídicas vão garantir a transação.
WEBER
• Weber vislumbra o alcance em que a ordem
jurídica encontra-se diretamente subserviente
aos interesses econômicos privados.
A ESCOLA NORTE AMERICANA
• As idéias defendidas por Oliver Wendell Holmes Jr.
e pelos adeptos da “jurisprudência sociológica” e
do realismo jurídico norte americano, surgiram
nos Estados Unidos no final do século XIX e início
do século XX e possibilitaram um questionamento
da prática decisória dos juízes e uma parcial
negação da “doutrina oficial” do common law.
Essas ideias engendraram uma crise no
pensamento jurídico norte- americano.
ESCOLA NORTE AMERICANA
• Os autores que comungam com essa visão não
chegam a formar uma escola, já que existem
muitas divergências internas.
• Fica latente no entanto a incorporação de
certas doutrinas filosóficas e teorias das
ciências sociais. Ele se insurgiram contra
afirmações usuais de que o direito deveria ser
visto de forma insulada, uma vez que
configurava um “sistema autônomo”.
ESCOLA AMERICANA
• Holmes foi juiz da Corte Suprema norte-
americana, por três décadas (1902-1932), e foi
um dos primeiros juristas norte-americanos a
colocar em xeque os paradigmas de
objetividade e “pureza” no processo de
aplicação do direito pelos juízes. Ele realça o
papel ativo e preponderante exercido pela
subjetividade do julgador, mesmo que de
forma inconsciente.
ESCOLA AMERICANA
• Afirma Holmes que o direito é um fenômeno
social e não uma mera produção teórico-
intelectual, não podendo ser visto como
produção máxima da racionalidade de uma
época. Afirmava o pensador que a vida do
direito não foi a lógica; mas a experiência.
• A defesa dogmática do laissez-faire
econômica foi combatida por Holmes.
JURISPRUDÊNCIA SOCIOLÓGICA
• Benjamim Cardozo(1870-1938) e Roscoe Pound –
(1870-1964) são os representantes dessa tendência
. Cardozo foi o substituto de Holmes na Corte
Suprema norte-americana e Pound foi importante
jurista e decano da Law School de Harvard.
• A carreira de Cardozo na Corte Suprema, ocorreu
em paralelo com as inovações advindas com o New
Deal. Nos seus pareceres o mesmo apoiou as
políticas de proteção social.
JURISPRUDÊNCIA SOCIOLÓGICA
• POUND ressalta os interesses sociais, já não mais
priorizando os interesses individuais como no século XIX.
O direito é visto como um motor de transformação social,
entendendo-se , daí, uma das razões da jurisprudência
sociológica ser considerada como uma “escola
funcionalista” do direito.
• Resumindo, a escola jurisprudencial preocupava-se menos
com a descrição das normas oficiais e dos precedentes
( ao contrário das perspectivas normativistas e formalistas)
e mais com fornecer aos julgadores novas formas
ampliadas de trabalhar com essas mesmas normas.
MOVIMENTO REALISTA NORTE-AMERICANO

• Não constitui uma escola coesa, mas um


movimento surgido a partir de 1920 e contou com
Karl N.Llewellyn (1893-1962) e Jerome Frank (1889-
1957). O direito é encarado numa perspectiva
militante. Tal como a jurisprudência sociológica, o
REALISMO é fundamentalmente antiformalista . Os
adeptos desse movimento tinham por principal
objetivo desmistificar o processo de aplicação do
direito positivo pelos juizes.
MOVIMENTO REALISTA NORTE-AMERICANO

• Os realistas fazem naufragar a doutrina de que o juiz


deve limitar-se a aplicar as regras preexistentes (os
precedentes ou estatutos) demonstrando que ela é
impossível na prática.
• Ele se debruçaram sobre os motivos reais que
orientavam os comportamentos pessoais, tendo em
vista decisões judiciais. Entendem que o recurso
declarado às regras oficiais, quando da justificativa
da sentença, encobre uma “racionalização”das
decisões tomadas intuitivamente.
MOVIMENTO REALISTA NORTE-AMERICANO

• Alguns realistas chegam a manifestar um ceticismo


com relação a “razão humana” como organizadora
da sociedade e definidora de uma noção de justiça.
• O intuito desse movimento era uma radical revisão
do método de decisão judicial adotado na tradição
clássica.
• Chegou-se a idéia de que no direito, a atenção deve
estar dirigida aos fatos e não mais tanto às
doutrinas.

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