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Olá!
Você está na unidade Do pluralismo jurídico e da crise do direito moderno. Conheça aqui as novas
perspectivas de análise da ciência do Direito, como o pluralismo jurídico e o direito alternativo. Descubra
também os novos conceitos relacionados a estes estudos, como o pluralismo jurídico cultural, o pluralismo
Compreenda, ainda, a crise pela qual o Direito moderno está passando, assim como a crise do modelo estatal de
monopólio do direito, do direito interno e da dogmática jurídica e também do direito central e direito periférico.
Bons estudos!
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1. Pluralismo jurídico e direito alternativo
O pluralismo jurídico trata de uma perspectiva voltada para o exterior do ordenamento jurídico. Falar de
pluralismo jurídico pressupõe variedade de ordenamentos e como eles se relacionam entre si. Fala-se, então, de
uma quebra da concepção de monismo jurídico que trazia uma ideologia universalista do direito (BOBBIO,
1995).
Algumas correntes de pensamento jurídico anteriores já trabalhavam sobre o assunto. O historicismo, por
exemplo, defendia a existência de pluralidade de ordenamentos por acreditar que o direito emana da consciência
popular e, por este motivo, os múltiplos ordenamentos podem ser explicados conforme as diferenças entre
nações e povos. Trata-se de uma ideia de pluralismo entrelaçada à noção de Estado, portanto.
Posteriormente, o positivismo jurídico também trouxe a concepção de pluralismo, mas sob a ótica do poder
soberano, ao invés da consciência popular. Assim, segundo o positivismo, cada poder soberano gera um direito.
Nesse sentido, “onde existe um poder soberano existe um Direito e, todo poder soberano sendo por definição
independente de qualquer outro poder soberano, cada Direito constitui ordenamento autônomo” (BOBBIO,
1995, p. 162).
Bobbio (1995), aliás, define os pensamentos mencionados como a primeira fase do pluralismo jurídico, que ele
chama de fase nacional ou estatal. Após este período, adveio a chamada fase institucional, que defende não
Nesta fase, tem-se uma ideia de que deve haver um ordenamento jurídico para cada instituição, que nada mais é
do que um grupo social organizado. Aqui, portanto, existem ordenamentos estatais e não-estatais, conforme
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o da Igreja Católica;
c ) ordenamentos ao lado do Estado, como o da Igreja Católica, segundo outras concepções, ou,
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d) ordenamentos contra o Estado, como as associações de malandros, as seitas secretas, etc.
Assim, ao se observar estas várias teorias, evidencia-se a quebra da ideia universal do Direito. Todavia, o
universalismo como objetivo continua existindo em certas tendências globais, como é o caso da criação das
Nações Unidas. A ideia de um direito supra estatal, então, existe no mundo jurídico contemporâneo (BOBBIO,
1995).
Existem vários tipos de relacionamento que os ordenamentos podem estabelecer entre si. Um deles seriam as
Relacionamentos típicos de coordenação são aqueles que têm lugar entre Estados soberanos e dão
origem àquele particular regime jurídico, próprio do relacionamento entre entes que estão no
mesmo plano, que é o regime pactuário, ou seja, o regime no qual as regras de coexistência são o
produto de uma autolimitação recíproca. Relacionamentos típicos de subordinação são, por outro
partidos, igrejas, etc.), que têm estatutos próprios, cuja validade deriva do reconhecimento do Estado
Quanto à extensão em comum que os ordenamentos podem apresentar, tem-se a relação de:
Significa que possuem o mesmo âmbito de validade. Por exemplo, ordenamentos de países distintos se excluem
É ainda possível falar sobre a relação entre ordenamentos sob a perspectiva de como um ordenamento se
Indiferença
É a completa aceitação da licitude do ordenamento alienígena.
Recusa
É o inverso e considera que o outro ordenamento é inteiro proibido.
Absorção
É quando ocorre reenvio ou recepção de normas entre ordenamentos.
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“Um ordenamento considera obrigatório ou proibido aquilo que noutro ordenamento também é
Ainda, ao tratar de pluralismo jurídico e de direito alternativo, é preciso considerar o Direito como permeado
por outras áreas de conhecimento, como a sociologia e a antropologia, por exemplo. Isso porque acredita-se que
a análise do Direito, apenas do ponto de vista do ordenamento estatal e focado na dogmática e formalismo, não é
capaz de compreender a complexidade social na qual se inscreve a juridicidade (VILLAS BÔAS FILHO, 2018).
Esta é, por assim dizer, uma análise zetética do Direito, que se opõe ao enfoque dogmático. Não se busca chegar a
uma positivação, ou a uma decisão, mas, sim, a um espaço de análise do fenômeno jurídico, criando indagações
Para melhor compreender o pluralismo jurídico, estudaremos aqui o pluralismo jurídico cultural, pluralismo
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1.1 Pluralismo jurídico cultural
Antes de estudar o pluralismo jurídico cultural propriamente dito, é importante entender o que é cultura.
Segundo Reale (2001), o universo apresenta duas ordens de realidade: a realidade natural (fruto da natureza) e
a realidade cultural (que se relaciona com aquilo que é construído pelo ser humano, que acrescenta elementos à
natureza).
Nesse sentido,
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"cultura" é o conjunto de tudo aquilo que, nos planos material e espiritual, o homem constrói sobre a
base da natureza, quer para modificá-la, quer para modificar-se a si mesmo. É, desse modo, o
conjunto dos utensílios e instrumentos, das obras e serviços, assim como das atitudes espirituais e
formas de comportamento que o homem veio formando e aperfeiçoando, através da história, como
Sendo assim, evidencia-se que o pluralismo jurídico cultural trata de uma análise antropológica do Direito, pelos
olhos da antropologia jurídica, portanto. Aqui, a ideia de pluralismo é estritamente conectada com a noção de
que existem diferentes culturas, o que refletirá no campo do Direito. Em outras palavras,
seguindo a clássica definição de Norbert Rouland, é possível afirmar, em linhas gerais, que a
procurando compreender as lógicas que lhe são subjacentes. Rouland sustenta, também, que essa
refere ao domínio do direito, mediante a comparação das formas de regulação jurídica de todas as
sociedades que possam ser observadas (VILLAS BÔAS FILHO, 2018, p. 12).
A cultura pode ser vista como uma forma de organização normativa. Inicialmente, observa-se os sistemas
costumeiros culturais onde o Direito se constrói por meio de mecanismos sociais como a reciprocidade, as
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Além disso, o pluralismo jurídico cultural também envolve classificações como direito indígena. Trata-se de
uma classificação dada pela sociedade pós-colonizadora, onde os colonizadores europeus tratavam os
regramentos de culturas distintos como alienígena, no sentido de um direito externo ao que estava sendo por
Ao se falar de pluralismo jurídico cultural fala-se também dos sistemas normativos religiosos, pois em algumas
sociedades não é possível separar a religião da cultura local. Algumas normas sociais, quando rastreadas em
relação à origem, encontram respaldo em textos tidos como sagrados. Além disso, tem-se as normas fixadas
Fala-se que normas culturais-religiosas possuem status legal em dois sentidos diversos. Uma porque são postas.
Outra porque são reconhecidas pelo ordenamento jurídico de dada sociedade que incorpora costumes
relacionados a, por exemplo, casamento, divórcio, herança e outras temáticas que invocam valores religiosos em
Também é possível observar o pluralismo jurídico cultural no aspecto dos sistemas normativos de comunidades.
Em certas comunidades locais há tradições e costumes tão arraigados no modo de vida que acabam se tornando
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1.2 Pluralismo jurídico sociológico e direito alternativo
No final do século XX, é possível afirmar que ocorreu uma reaproximação entre o saber sociológico e o saber
jurídico (REALE, 2001). Para os juristas, trata-se de uma compreensão da importância da observação dos fatos
a Sociologia Jurídica se desenvolva como estudo da conduta jurídica, enquanto conduta social, ao passo que a
Ciência do Direito não pode deixar de ser ciência normativa, com a finalidade prática de aferir e garantir as
formas de relacionamento social, sob o prisma de sua licitude ou ilicitude (REALE, 2001, p. 310).
Sob essa ótica, surge o pluralismo jurídico sociológico, que compreende o direito como fruto não apenas do
Estado positivado por não ser capaz de conceber a sociedade em suas variadas dimensões. As sociedades não são
homogêneas e, muitas vezes, abrigam diferentes povos e é sob este viés que o pluralismo jurídico sociológico se
Alguns autores, nesse sentido, afirmam que o pluralismo trata de reconhecer o “direito vivo” em detrimento do
direito estatal e daquele vigente nos tribunais. Isso porque “domina a vida de forma originária e realista, não
precisando impor-se através de fórmulas técnicas e regras fixas” (Wolkmer, 2001, apud Bortolozzi Junior, 2010).
Assim, compreende-se um contexto de colapso da lógica formal da legalidade. Assim, o enfoque sociológico do
Direito permite uma análise das estruturas normativas voltadas para sua eficácia social. Tem-se a chamada crise
dos paradigmas dominantes, voltando-se para as aspirações da sociedade civil, criando um novo paradigma de
legalidade. É uma abordagem voltada para o reconhecimento de novos atores sociais, novas representações
os novos sujeitos sociais que entram em cena e a reinvenção de suas necessidades essenciais
convencionais de tutela. A par dos direitos absolutos e específicos de cada época, subsistem direitos
em verdade, são demandas contínuas da própria coletividade e das representações de seus sujeitos
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Assim, ao falar de pluralismo jurídico sociológico tem-se em vista a experiência jurídica. Neste sentido, alguns
autores, como Georges Gurvitch, defendem que o Estado não deve ser visto como a primeira, nem a única fonte
jurídica da sociedade. Portanto, entende-se que o Direito não pode encontrar legitimidade em si mesmo, pois,
A questão do pluralismo jurídico sociológico está diretamente relacionada com a questão de pluralidade de
fontes do Direito. Busca-se, então, “descobrir a fonte das fontes, isto é, as ‘fontes primárias, materiais, dinâmicas,
válidas por si sós e sobre as quais se fundam a autoridade e eficácia das ‘fontes secundárias’, formais, estáticas,
que não passam de procedimentos técnicos de constatação” (Goyard-Fabre, 2002, apud Bortolozzi Junior, 2010).
Em outras palavras, tratar da pluralidade jurídica sob a perspectiva da pluralidade de fontes do Direito
apresentaria maior conexão com a experiência jurídica. Elimina-se o aspecto estático do direito, artificialmente
criado pela noção do direito universalista. Trata-se, assim, do pluralismo como realidade social, pois sempre
haverá uma pluralidade de ordens jurídicas em qualquer espaço geopolítico, ainda que este não seja oficialmente
É justamente no contexto do pluralismo jurídico sociológico que emerge a noção de direito alternativo, onde,
perante a complexidade das relações sociais, reconhece-se a necessidade de maior protagonismo de povos e
comunidades na defesa dos seus direitos, ainda que de forma externa à ordem jurídica preponderante, que é
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1.3 Direito alternativo e uso alternativo do direito
O direito alternativo está estritamente ligado ao pluralismo jurídico. O conceito surgiu na América Latina no final
do século XX e busca o maior protagonismo das pessoas em relação aos limites da atuação estatal como
garantidora de direitos essenciais. Em outras, palavras, trata-se de uma fuga do monopólio das estruturas
estatais, representadas pelo juiz e pelo jurista, no campo de decisões que exigem conhecimento e prática popular
(CAVALCANTI, 2000).
O uso alternativo do direito, por outro lado, não foge do monopólio dos mecanismos estatais. Ele objetiva uma
melhoria da atuação dos juízes e juristas, conscientes de sua elevada função social, sem buscar vias alternativas.
Basicamente, ele pretende a melhoria do uso do próprio direito da maneira como ele se encontra.
O uso alternativo do direito comunica-se com a noção de pluralidade de fontes do direito, por reconhecer o
julgamento segundo a lei. Mas também faz a noção de que a lei não esgota a produção normativa de um
ordenamento, sendo insuficiente para corresponder aos anseios sociais (CAVALCANTI, 2000). Assim, o juiz deve
aplicar a lei, mas também deve resguardar sua atividade criativa jurisdicional que aplica o direito por meio de
os textos normativos não determinam completamente as decisões dos tribunais e somente aos
tribunais cabe interpretar, testar e confirmar ou não a sua consistência. Os problemas jurídicos não
podem ser resolvidos apenas com uma operação dedutiva (geral-particular). Há uma tarefa na
produção jurídica que pertence exclusivamente aos tribunais: a eles cabe interpretar, construir e,
ainda distinguir os casos, para que possam formular as suas decisões, confrontando-as com o Direito
O próprio ordenamento garante esta abertura, como o que acontece, por exemplo, por meio das soluções
Art. 4: Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
Assim, busca-se, por meio do uso alternativo do direito, uma postura mais ativa dos juízes. Sob esta ótica,
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o uso alternativo do direito parte assim desse estudo centrado na Sociologia Jurídica, valendo-se de
concepções realmente válidas do ponto de vista filosófico, pois não se pode negar que a lei não
esgota o Direito. Não se pode deixar de reconhecer a existência de princípios gerais que formam um
Direito supra-legal, daí admitir-se, sem dúvida, a existência de normas jurídicas não-estatais e que
devem servir para uma apreciação crítica da lei diante do caso concreto.
Entretanto, a proposta do Direito Alternativo não fica só nisso. O que se pretende é dar ao juiz o
Então, sob a lógica da sociologia jurídica e do direito alternativo, fala-se de uma revisão do papel dos juízes na
sociedade. Quanto a este movimento no Brasil, Freitas Filho pontua (2013, p. 75):
formadores de opinião em geral no sentido de que o Judiciário estaria necessitando de uma revisão
de seu papel social, de suas premissas de atuação. Tanto assim que, mesmo internamente, observa-se
um questionamento do judiciário sobre sua função. Exemplo dessa revisão que parte de dentro são
os movimentos de associações e grupos de juízes. Tanto o do Direito Alternativo quanto o dos Juízes
para a Democracia, que são os mais repercutidos, propõem uma revisão do papel do juiz.
O pluralismo jurídico, expresso no direito alternativo, não busca desrespeitar a segurança jurídica e a garantia
dos direitos individuais postos. Pelo contrário. Procura apresentar uma visão dinâmica do Direito, que seja capaz
essa necessária coerência do sistema jurídico não pode exigir que o juiz seja jogado para fora do
processo de criação do Direito, em um rígido sistema de tripartição dos poderes, posto que o próprio
ordenamento traz em seu bojo aberturas explícitas para amparar os julgamentos contra legem no
caso concreto, a fim de garantir observância aos direitos humanos que se constituem princípios
Assim, em ambos os institutos, percebe-se uma tentativa teórica de tornar o Direito permeável à ética, no sentido
de não separar as normas de um ideal de Justiça. Muitas vezes, inclusive, os teóricos destas perspectivas adotam
o pensamento de John Rawls, que defende que apenas a Justiça pode garantir legitimidade às instituições sociais
(CAVALCANTI, 2000).
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No entanto, deve-se ter cuidado com a postura ativa crítica do juiz, para que ela não interfira na sua
imparcialidade, o que poderia comprometer seu papel de julgador. Ainda, deve-se atentar também para não
haver uma mitigação do Poder Legislativo pelo Poder Judiciário, alargando-se excessivamente o papel dos
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2. Direito moderno e crise do direito
Ao falar de crise do direito, fala-se das relações entre indivíduos dentro do Estado e também das relações entre
a crise do Direito não se manifesta, pois, no que concerne à sua elaboração; não denuncia qualquer
estiolamento da força vital do conhecimento jurídico. Essa crise revela, apenas, as contradições da
experiência histórica de que resulta. É uma crise de aplicação do Direito que, se denota fracassos às
vezes decepcionantes no poder do pensamento jurídico para criar, e da regra jurídica para aplicar
A crise no direito é motivada pela ideia de crise do paradigma normativo monista, consolidado pelo positivismo
jurídico e que prega o monopólio estatal do direito. Portanto, tem-se uma crise do modelo estatal de monopólio
do direito, o que, em termos práticos, significa uma abertura para mudanças paradigmáticas. Isso exige, por
exemplo, uma alteração do papel do Estado no decorrer da história, a partir do momento que o Direito moderno
passa a ser confrontado com demandas de um pluralismo social e político, maior participação cidadã e busca
Em outras palavras,
apontam para a possibilidade de mudança e que se revela em disfunções, ou, para usar os dizeres de
Nesse contexto, estuda-se aqui a crise do modelo estatal de monopólio do direito, direito interno, dogmática
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2.1 Crise do modelo estatal de monopólio do direito
A crise do modelo estatal de monopólio do direito deve ser analisada sob o viés do Estado contemporâneo. Isso
porque o Estado contemporâneo não mais consegue corresponder aos desejos da sociedade, que não deve mais
ser compreendida como homogênea e, sim, como plural. Sob este panorama, falar em crise do paradigma
monista corresponde a apontar dificuldades atuais que o direito encontra em confronto com a sociedade, sem
Nesse sentido,
respostas satisfatórias aos anseios da sociedade complexa e desigual em que vivemos. Por outro
lado, embora não se constitua como um novo paradigma para a ciência do Direito, torna-se
importante identifica-la, bem como buscarmos uma melhor compreensão acerca de possíveis
O reconhecimento de uma sociedade plural faz com que haja, concomitantemente, o reconhecimento de que
novas matérias devem ser objeto de regulamentação. Trata-se das consequências da pós-modernidade na área
do Direito.
Como contraponto ao modelo estatal de monopólio do direito tem-se, justamente, o pluralismo jurídico. Por isso,
necessitam do Direito. E, neste sentido, nega-se a existência de apenas uma ordem jurídica, abandonando
Assim, é possível notar que a concentração do poder normativo nas mãos do Estado decorre da essência da
formação dos Estados Modernos, que abandonaram o pluralismo jurídico medieval, característico de sistemas
feudais. Se na Idade Média havia uma diversidade de normas e instituições, como normas provenientes da Igreja
Católica Romana, leis costumeiras germânicas, leis feudais e normas mercantilistas, noutro giro, os Estados
Modernos adotaram a burocratização dos Estados, concentrando o poder normativo nas suas próprias mãos, nos
No entanto, alguns autores defendem que o Direito deve ser entendido como produto espontâneo da sociedade,
adotando-se a terminologia “direito vivo” em contraposição ao “direito estático”, que seria fruto do modelo
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Por fim, observa-se como diversas mudanças paradigmáticas de poder normativo surgem ao longo da história
das sociedades. Assim, atualmente tem-se uma crise no modelo monista, pois este é entendido como insuficiente
para atender as demandas sociais contemporâneas. Ao mesmo tempo, quebra-se a predominância da corrente
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2.2 O direito interno e a dogmática jurídica
A ciência do Direito cuida de diversos aspectos da experiência jurídica, desde as normas positivadas até a
aplicação de leis, fenômenos sociais e relações de convivência. Uma das perspectivas deste estudo é a chamada
dogmática jurídica, que tem como objeto as normas e regras em vigência, focando apenas no direito positivado.
Trata-se de um recorte tão particular da ciência do Direito que alguns autores chegam a defender que a
dogmática não é parte do Direito (REALE, 2001). Para eles, o Direito necessariamente perpassa pela análise de
fatos sociais e princípios, fazendo com que a interpretação e a aplicação das normas fique em segundo plano, de
forma a adaptá-las à realidade. Nesse sentido, a dogmática seria apenas “uma complementação secundária ou
algo de acessório com referência à Ciência Jurídica, à qual tocaria o trabalho mais nobre da descoberta da
Noutro giro, Reale (2001) defende que a dogmática jurídica é, sim, parte da ciência do Direito, correspondendo,
inclusive, ao momento da sua aplicação. Nesta perspectiva, coloca-se a dogmática como um diferencial do direito
em relação às outras áreas de conhecimento, já que ele se preocupa com a aplicação do momento compreensivo,
sendo crucial o momento normativo para isso. Segundo Reale (2001, p. 304),
a pesquisa, no mundo jurídico, visa sempre a um momento de aplicação. O sociólogo poderá estudar
o fenômeno jurídico sem qualquer preocupação de ordem prática, buscando descobrir os nexos
causais ou as constantes que existem entre o fato social e o mundo jurídico. O jurista, porém, como
cientista do Direito, não poderá jamais parar ou suspender a sua pesquisa, no plano meramente
normação.
Toda pesquisa jurídica tem duplo momento: o momento compreensivo, ou seja, da descoberta de
relações constantes ou daquilo que denominamos, de maneira geral, princípios, tipos e leis, e um
momento consecutivo, não facultativo ou contingente, o momento normativo que implica um modelo
Tem-se uma ideia de dogmática que impulsiona o direito como processo de conhecimento, pois é esta que
fornece técnicas necessárias para o direito como ciência. Deve o jurista se voltar para norma positivada do
Segundo Ferraz Júnior (2003), existem dois enfoques principais na ciência do Direito:
Zetético
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É aquele que se preocupa com a parte de análise da realidade e fundamentação do Direito em uma função
especulativa (ou seja, as perguntas). Predomina, desta forma, a função informativa da linguagem. O enfoque
zetético abriga as análises do fenômeno jurídico feitas por outras áreas de conhecimento em comunicação com o
conhecimento técnico. Enquanto a zetética encontra satisfação na mera especulação, a dogmática precisa
encontrar soluções para problemas apresentados, tornando-a um processo finito, que precisa de um resultado
palpável.
Pode-se dizer que a dogmática jurídica possui uma ótica especializada no direito interno, focando-se dos dogmas
que devem ser interpretados como pontos fixos de referência de uma dada comunidade para elaboração
normativa. A dogmática não se ocupa apenas da mera análise textual, preocupando-se também com a
Ferraz Júnior (2003) aponta que, por muitas vezes, alega-se que o enfoque excessivamente normativo da
dogmática jurídica faz com que ela se afaste da realidade social. Todavia, para este autor, a dogmática jurídica
não se exaure nos dogmas, trabalhando também com incertezas, justamente aí havendo a presença da
Deste modo, pode-se dizer que a dogmática jurídica e o enfoque zetético podem ser vistos não como análises
opostas do fenômeno jurídico, mas como conhecimentos complementares. Cada enfoque gera uma visão
diferente do direito, exercendo papeis distintos, mas igualmente relevantes dentro da ciência do Direito.
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2.3 Direito central e direito periférico
Os termos “direito central” e “direito periférico” aparecem comumente em estudos sobre a modernidade
jurídica, que se iniciou no século XVI. Além disso, também há menção sobre eles no âmbito da pós-modernidade,
sob a perspectiva das novas relações oriundas do processo de globalização, que se deu de forma intensa ao final
Wolkmer (2015) trata desta terminologia ao analisar o processo de construção jurídica em países colonizados,
novos agentes na sociedade civil, o que é visível no chamado poder comunitário. Nesse sentido,
reescrever um novo modo de vida, estimula a inserção cultural para outras modalidades de
constituintes por lutas sociais. Então o cenário não estará no Estado, nem no mercado, mas sim na
sociedade civil e na força do poder comunitário, enquanto novo espaço de convivência, de efetivação
Nesse contexto, discute-se o direito periférico como o direito dos agentes sociais excluídos, com um enfoque na
realidade concreta (Wolkmer, 2015). Por sua vez, o direito centralizador se relaciona com um direito que emana
a importância do Estado, enquanto centralizador político perante a ordem normativa moderna, será
ideologia tecno-formal do “centralismo legal”, característica do monismo jurídico estatal clássico tem
sua historicidade ligada à visão racional do mundo, “permanentemente traduzida por processos de
é direito aquilo que provém do Estado e, nesta lógica, o Direito vira sinônimo de “Direito Estatal”
Noutro giro, fala-se também nas chamadas “modernidade central” e “modernidade periférica”. Nesse sentido,
tem-se Estados Democráticos de Direito periférico (países colonizados) e Estados Democráticos de Direito
central (países europeus). Aqui, fala-se de direito central para se referir a países com maior autonomia do povo,
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onde ocorreu a juridificação da sociedade. Por sua vez, fala-se de direito periférico no continente latino-
americano, onde não há uma autonomia do poder público em decorrência de uma incompreensão da sociedade
Sob essa ótica, tem-se o chamado constitucionalismo plurinacional da América Latina, havendo uma quebra de
paradigma em relação ao constitucionalismo europeu. Tem-se um novo constitucionalismo que se contrapõe aos
Estados modernos e seus ordenamentos tradicionais, sob a fundação de que “os Estados nacionais modernos
foram criados a partir da lógica da homogeneização e uniformização, sendo desde a origem Estados que visariam
propõem uma refundação do Estado a partir do reconhecimento explícito das raízes milenares dos
povos indígenas ignorados na primeira fundação republicana. Como parte integrante do Poder
Constituinte, esses povos passam a atuar como agentes políticos com direito a definir seu destino,
Assim, este novo constitucionalismo visa uma maior ênfase da diversidade, que deve ser reconhecida pela norma
máxima do ordenamento jurídico, havendo uma necessidade de representação política dos diversos grupos e
comunidades que compõem as nações latino-americanas, sob uma perspectiva plural de inclusão social nos
2019).
é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• conhecer as novas perspectivas de análise da ciência do Direito, como o pluralismo jurídico e o direito
alternativo;
• descobrir novos conceitos relacionados ao Direito, como o pluralismo jurídico cultural, o pluralismo
jurídico sociológico, o direito alternativo e os usos alternativos do Direito;
• estudar sobre a crise pela qual o Direito moderno está passando.
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Referências
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BORTOLOZZI JÚNIOR, F. Pluralismo jurídico e o paradigma do direito moderno: breves apontamentos. Cadernos
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