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PORTUGUÊS JURÍDICO

COMUNICAÇÃO, LINGUAGEM E VARIEDADES


LINGUÍSTICAS
Marília Rodrigues Mazzola

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Olá!
Você está na unidade Comunicação, linguagem e variedades linguísticas. Conheça aqui os processos de

comunicação e o conceito de linguagem e língua e entenda ainda acerca dos código e sistemas de linguagem.

Aprenda sobre as variedades linguísticas e verifique a diferença da linguagem para a linguagem jurídica.

Compreenda, por fim, os níveis de linguagem e aprofunde seus conhecimentos das maneiras de expressão

relacionadas à área do Direito, ao estudar os jargões jurídicos, os brocardos, e algumas expressões jurídicas

relevantes para a profissão.

Bons estudos!

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1. Comunicação, sentido e sujeitos
Comunicar-se é algo inerente à humanidade. Através da fala, das letras, símbolos e sinais, é possível transmitir

informações, necessidades, emoções e dados. Cansian e Porrua (2011, p. 145) já diziam que “a palavra

comunicação vem do latim comunicativo, derivado de comunicare, cujo significado seria tornar comum,

partilhar, repartir”. O próprio dicionário vai além: verbo comunicar, ao pé da eltra, significa tornar comum,

transmitir, fazer saber, corresponder-se ou falar (MICHAELIS, 1198).

A comunicação, portanto, é uma ponte, algo que liga as pessoas, que faz com que elas se relacionem.

Por isso, pode-se dizer que a comunicação é um processo social, que produz e partilha sentido entre as pessoas,

por meio de formas e símbolos, que se materializam, como é o caso, por exemplo, da linguagem.

Nesse sentido, toda a comunicação tem por objetivo compartilhar um significado (por parte do emissor) e

compreendê-lo (por parte do receptor). Isso indica um importante elemento do ato de comunicar: é necessário

que sempre haja, ao menos, uma duplicidade de sujeitos. Nada impede, no entanto, que também ocorra

multiplicidade de indivíduos, o que é muito comum em discursos, palestras ou outras formas de comunicação

que abrange um maior número de pessoas, por exemplo.

Figura 1 - Processos de comunicação e seus sujeitos


Fonte: Phil Date, Shutterstock (2020).

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Assista aí

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#PraCegoVer: A imagem traz duas pessoas conversando, um homem e uma mulher.

Por isso, “comunicar é uma relação de interlocução, de interação, de diálogo, de conversa, de negociação, enfim,

de crítica” (Bessa, 2006, p. 18).

A comunicação se dá nos mais diversos ambientes: formais (como um ofício judicial, por exemplo), informais

(uma conversa entre amigos), digitais (uma troca de likes nas redes sociais), entre outros. Além de se

relacionarem diretamente entre elas, as pessoas também se relacionam com instituições sociais e entidades em

geral, como, por exemplo, governos e empresas (Bessa, 2006). Através dessas comunicações é possível atingir

objetivos, como o governo conscientizar a população acerca da necessidade de vacinação, por exemplo, ou uma

empresa realizar seu marketing.

Por isso, para que efetivamente exista um ato de comunicação, é preciso o envolvimento de todas as partes, mas

sempre dentro do limite e da possibilidade de cada um. É isso que permitirá uma comunicação eficiente.

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1.1 Processos de comunicação

A partir do momento que a comunicação existe, há certos processos para que ela aconteça de maneira perfeita: o

meio de comunicação, a comunicação interpessoal, a indireta ou mediada, a direta ou imediata, a institucional e a

comunicação de massa.

O termo meio de comunicação, por exemplo, diz respeito à forma, ou ao jeito que o conteúdo será transmitido ao

longo do processo. Já a comunicação interpessoal é aquela na qual duas pessoas informam e são informadas. É

um processo para a busca de informações, que usa a linguagem (que pode ser falada, escrita, gestual, etc.) e

também um meio (físico, como uma carta, um telefone, livro, etc) para que a troca de informações possa ser feita.

Assim, são características importantes da comunicação interpessoal a:

Informalidade

A forma imediata ou mediada

O domínio privado (pois ocorrer entre dois indivíduos e não envolve instituições, por exemplo)

A participação de pessoas específicas

Já a comunicação indireta e mediada é feita entre pessoas que não se escutam ou enxergam diretamente. É uma

comunicação para pessoas que estão distantes umas das outras, e, por isso, precisam de um meio para realizar a

comunicação e transportar suas vozes e gestos, como uma chamada de vídeo ou de voz, por exemplo. Os meios

usados, portanto, podem ser diversos, como um telefone, um computador, etc., mas o que importa é que ele será

o mediador para que a conversa entre essas pessoas ocorra.

Por outro lado, a comunicação direta e imediata é aquela que ocorre cara a cara, entre pessoas. Nesse

processo, elas se relacionam, principalmente, por meio da fala e de gestos.

A comunicação institucional, por sua vez, também ocorre entre pessoas, mas que representam um papel

institucional, por meio de cargos e funções. Nesse processo há sempre a utilização dos meios de comunicação

(como o diário oficial ou um pronunciamento oficial na televisão, por exemplo) que farão essa mediação (por

meio de mídias), entre a instituição e o público com que ela se relaciona e também entre instituições. Portanto,

trata-se de uma comunicação formal, de domínio privado e público, a depender da instituição.

Por fim, a chamada comunicação de massa é feita a partir de meios de comunicação de grande alcance, como a

TV, e, mais atualmente, também a internet. Nesse processo transmitem-se informações de interesse público a

uma grande audiência, mas seguindo uma forma e uma linguagem padrão - em geral, produzida e reproduzida

em linguagens simplificadas (vocabulário comum, por exemplo) e variadas (formas visuais, sonoras e escritas),

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pois a ideia que todas as pessoas, das mais variadas origens e conhecimento, compreendam a mensagem

repassada. A comunicação de massa é, portanto, uma comunicação mediada entre meios de comunicação e uma

massa anônima e, por isso, pode-se dizer que não ocorre entre pessoas, ou entre instituições e público.

Assista aí

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1.2 Comunicação e signos

A comunicação só acontece se as pessoas compreenderem os signos. Ainda assim, muitas pessoas não possuem o

domínio da linguagem, por exemplo, e assim se tornam excluídos de interações importantes. Por isso, a ideia de

unidade de compreensão deve sempre permear a comunicação, pois se assim não for, esta não será eficiente.

Uma boa comunicação permite ao receptor de uma mensagem não só sua compreensão de maneira literal, mas

também uma interpretação transparente, sem ruídos, ou seja, que não seja dúbia. Esse roteiro interpretativo, a

partir da expressão do emissor para o receptor, é denominado semasiológico (de palavra, conceito).

Fique de olho
A semiótica é uma ciência que estuda a produção de sentido com base nas relações entre os
signos. A semiótica é uma teoria geral dos signos e dos processos de significação. O estudo da
semiótica envolve o estudo dos signos em seu uso, isto é, no processo de significação em
linguagens. É uma teoria pragmática dos signos: é uma teoria dos signos quando são usados na
prática comunicativa (BESSA, 2006).

Para que possa decodificar uma mensagem, o seu receptor deve conhecer os símbolos da linguagem que

utilizada. Silva (apud REOLON, 2010) afirma que a codificação da mensagem pela determinação das formas

linguísticas, é uma atividade chamada de onomasiologia (de nome, objeto). O objetivo é encontrar a significação,

e esta é uma etapa importante também para a atividade jurídica.

Veja um exemplo com as etapas desse processo:

a. Quem sou eu, emissor? Dependendo do papel social, a codificação deve direcionar a mensagem e

selecionar o vocabulário, e. g., a linguagem do Promotor de Justiça é diferente da utilizada pelo

advogado de defesa.

b. O que dizer? Estabelecer com concisão, precisão e objetividade as ideias a serem codificadas é

imprescindível no discurso jurídico.

c. Para quem? Não perder de vista a figura do receptor é fundamental. Seria impertinente ao

advogado explicar, pormenorizadamente, um conceito simplista de direito, em sua petição dirigida

ao Juiz, como se lhe fosse possível “ensinar o padrenosso ao vigário”.

d. Qual a finalidade? O emissor nunca pode perder de vista o objeto comunicativo, pois, dependendo

de seu desiderato, irá escolher ideias e palavras para expressá-las.

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e. Qual o meio? Quando o profissional de Direito peticiona, empregando a língua escrita, deve cuidar

esmeradamente da língua-padrão, organizando com precisão lógica seu raciocínio, com postura

diferente daquela utilizada perante um Tribunal do Júri, ocasião em que a linguagem há de colorir e

enfatizar a argumentação (REOLON, 2010, p. 186/187).

Se no processo de comunicação, o objetivo primordial é o significado deve-se sempre ter em conta que o

discurso não pode ser um fator impeditivo para alcançar tal objetivo, de modo que a linguagem deve auxiliar e

não anular tal meta.

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1.3 Níveis de linguagem

Os signos são os meios utilizados pela humanidade para realizar a comunicação. Mas signos não significam nada

sozinhos. Afinal, a comunicação só acontece se as pessoas conseguirem entender algum dos signos. Para que elas

entendam, os signos precisam ser transmitidos em um código que permita interpretá-los.

Acerca dos símbolos, Bechara (2009, p. 16) relata:

Entende-se por signo ou sinal a unidade, concreta ou abstrata, real ou imaginária, que, uma vez

conhecida, leva ao conhecimento de algo diferente dele mesmo: as nuvens negras e densas no céu

manifestam ou são o sinal de chuva iminente; o -s final em livros é o signo ou sinal de pluralizador,

assim como em cantas é o signo de 2.ª pessoa do singular. Por isso mesmo se diz que tais unidades

são simbólicas, já que se entende em geral por símbolo aquilo que, por convenção, manifesta ou leva

ao conhecimento de outra coisa, a qual substitui.

A comunicação só ocorre se os signos forem utilizados em contextos que lhes permitam serem significados.

Como ensina (BESSA, 2006, p. 43), “um contexto imediato é o contexto em que os signos são relacionados uns

aos outros através de regras, formando um código ou uma linguagem”.

Essa significação ocorrerá no uso sociocultural entre os signos usados para um emissor dizer algo a um

destinatário. É essa sistematização que dá significado aos diversos traços materiais existentes, permitindo que os

dados que foram elaborados, armazenados e expressos sejam efetivamente compreendidos. Por isso, pode-se

dizer que códigos podem ser abertos ou secretos. Grupos secretos, por exemplo, usam uma linguagem que só

eles conseguem entender, permitindo assim a sua contextualização, tanto para o emissor quanto para o receptor.

A organização das informações por meio de sistemas (ou códigos) é que permite a comunicação. Existem vários

sistemas ou códigos de comunicação entre pessoas (interpessoal): oral, visual, gestual, escrito, etc. Esses códigos

dão ainda suporte material (fazem com que a comunicação chegue ao receptor) à constituição e veiculação de

uma mensagem. Pode-se destacar alguns sistemas de suporte material:

Códigos Têm signos físicos e complexos: desenhos, artes, gestos, etc. Por isso necessitam de um

analógicos suporte material para ser transportado, como por exemplo canais mecânicos.

São números de 0 a 9, mais letras, que transformaram a linguagem, deixando-a binaria. A

mídia eletrônica se utiliza desse sistema para realizar a comunicação (tv, computador,

telefonia, etc). Os signos analógicos são então convertidos, ou seja, traduzidos e

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Códigos interpretados pelos dígitos 0 e 1. Isso além de facilitar, aumenta a capacidade de

digitais armazenar e transmitir informações.

Figura 2 - Códigos de linguagem


Fonte: Ktsdesign, Shutterstock (2020).

#PraCegoVer: A imagem apresenta um exemplo de código de linguagem, o digital.

O acesso ao código influi no processo de comunicação. Como ensina Camargo (2012, p. 42),

a comunicação como fenômeno social de busca de compartilhamento de significados psicológicos

objetiva-se na codificação, veiculação e descodificação das informações existentes inicialmente na

“consciência” do emissor, e posteriormente na “consciência” do receptor.

Por isso, além do suporte material que constitui a codificação, há também em seu domínio a necessidade de

saber decodificar e compreender. Isso significa que não é só uma pessoa se deparar com um código que irá

garantir a mesma o devido acesso ao significado contido na mensagem. Devem ter os indivíduos acesso ao

código utilizado e conhecimento do mesmo para que o processo de comunicação seja efetivo ao máximo.

Assim, o ato de escrever e de organizar ideias é técnica primordial para um profissional demonstrar expertise de

sua capacidade e transmitir a mensagem aos mais diversos destinatários. Afinal, a inadequação na linguagem

compromete a expressão de um pensamento, de um argumento jurídico e até mesmo da obtenção de uma tutela.

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1.4 Língua

Como visto, a significação é o processo de criar o significado ao ato de comunicação por meio dos signos. Um

signo sem significado não gera a comunicação. E uma das formas de dar significação a um signo é a língua.

A língua é um instrumento da comunicação, podendo ser considerada pela sua parte gráfica e sonora.

As modificações na língua ocorrem nos grupos sociais, que também são responsáveis pela criação e/ou adoção

de signos (letras) sonoros ou escritos que gerarão a língua e permitirão que a comunicação aconteça.

Para Medeiros e Tomasi (apud REOLON, 2010, p.181), língua

é um código que permite a comunicação, um sistema de signos e combinações. Ela tem caráter

abstrato e dispõe de um sistema de sons, e concretiza-se por meio de atos de fala, que são

individuais. Assim, enquanto a língua é um conjunto de potencialidades dos atos de fala, esta (ou

discurso) é um ato de concretização da língua.

A língua é, então, um conjunto de probabilidade linguísticas postas à disposição de um usuário. A fala é uma

forma de uso da língua. É a maneira de cada componente da sociedade em particular empregar a língua de forma

particular, pessoal (Cansian e Porrua, 2011, p. 152). A língua não é “imposta” ao homem; este “dispõe” dela para

manifestar sua liberdade expressiva (Bechara, 2009, p. 17), e só tendo existência em situações concretas de

interação.

Os quatro planos de estruturação da língua, que correspondem a sua funcionalidade, são: a fala, a norma, o

sistema e o tipo linguístico. A fala situa-se no plano da realização, isto é, uma técnica idiomática efetivamente

realizada. (BECHARA, 2009, p. 28).

Já norma, sistema e tipo linguístico se encontram no plano da técnica, da estruturação. A norma estrutura o

saber idiomático, a tradicionalidade. Como diz Bechara (2009), tudo o que se diz “assim, e não de outra maneira”.

Já o sistema e a norma de uma língua funcional refletem a sua estrutura (BECHARA, 2009, p. 28). O sistema

contém os traços distintivos necessários e indispensáveis para que uma unidade da língua (quer no plano da

expressão, quer no plano do conteúdo) não se confunda com outra unidade (BECHARA, 2009, p. 29).

Por fim, o tipo linguístico é o mais alto plano que se pode comprovar da técnica da língua. Trata-se do conjunto

de categorias funcionais e de tipos de procedimentos materiais que configuram um sistema ou diferentes

sistemas (BECHARA, 2009, p. 30).

Uma língua comum é a falada por uma sociedade, um grupo de pessoas. Por isso, é aquela que demonstra

diversidade na unidade e unidade na diversidade. Na língua comum,

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os falantes dessas diversidades, por motivações de ordem política e cultural, tendem a procurar,

graças a um largo período histórico, um veículo comum de comunicação que manifeste a unidade

que envolve e sedimenta as várias comunidades em questão. Geralmente, nessas condições, se eleva

um dialeto – em geral o que apresenta melhores condições políticas e culturais – como veículo de

expressão e comunicação que paire sobre as variedades regionais e se apresente como espelho da

unidade que deseja refletir o bloco das comunidades irmanadas (BECHARA, 2009, p. 36).

A língua, pensado como produto histórico, carrega junto consigo tradições linguísticas, com amplitudes e limites

que são variáveis. São o que os estudiosos chamam de analogias, divergências fonéticas, gramaticais e léxicas

existentes entre regiões. Por isso é de se entender que uma língua não é um sistema único, e sim um conjunto de

sistemas.

Sobre a língua histórica, elucida Bechara (2009, p. 24) que existem três aspectos que as diferenciam sob o nível

geográfico, sociocultural e de estilo. No espaço geográfico, constitui diferentes dialetos; no nível sociocultural,

constitui diferentes níveis de língua e estratos ou camadas socioculturais. E no estilo ou aspecto expressivo, se

difere em relação a diferentes situações do falar e estilos de língua.

Por isso, pode-se dizer que a língua é um produto cultural, mas também histórico por haver esse reconhecimento

dos falantes (estrangeiros e nativos). Assim, a língua comum passa a receber o nome de língua histórica.

A língua não é uniforme, não tem uma única forma, e também não é homogênea. A sua variação ocorre de acordo

com o contexto, o tempo e o espaço em que se insere e se realiza a comunicação. São os diferentes modos

linguísticos que a deixam diversificada. Os aspectos verbais e não verbais que a constituem, e também os seus

diversos graus de formalismo, permitem determinar o quanto um indivíduo compreende desta língua.

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Figura 3 - A comunicação por meio da língua
Fonte: Lolloj, Shutterstock (2020).

#PraCegoVer: A imagem mostra duas pessoas se comunicando por meio da língua.

O uso da língua envolve inúmeros fatores: profissionais, sociais, espaço geográfico e situação. É por isso que se

encontram variantes da língua de um lugar para o outro, de uma classe social para outra, de um âmbito técnico-

profissional para outro, etc.

Assim, conclui-se que a língua é uma importante ferramenta de comunicação da humanidade.

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2. Linguagem
Se uma pessoa pretende interagir com outra, dizer como se sente, o que pensa e o que sabe, por exemplo, então

os signos terão de ser usados num contexto, que arranjarão os signos por meio de regras de uso compartilhado

por elas. Isso permite desvendar intenções, sentimentos, pensamentos, coisas, acontecimentos, ações, diálogos,

conversas, negociações, etc.

Esse contexto é um código, inventado para que as pessoas possam entender umas às outras, além de se

expressar e representar o mundo (BESSA, 2006, p. 44). Para isso, o ser humano utiliza um recurso, que é a

linguagem. Quando os códigos se combinam, gera-se a linguagem.

Pela linguagem, com ela e nela, o mundo humano é construído simbolicamente. Para Medeiros e Tomasi (apud

REOLON, 2010, p. 181), linguagem

é um sistema de signos utilizados para estabelecer uma comunicação. A linguagem humana seria de

todos os sistemas de signos o mais complexo. Seu aparecimento e desenvolvimento devem-se à

necessidade de comunicação dos seres humanos. Fruto de aprendizagem social e reflexo da cultura

de uma comunidade, o domínio da linguagem é relevante na inserção do indivíduo na sociedade.

Acerca da conceituação teórica de linguagem, pode-se entender a linguagem como uma expressão do

pensamento, de modo que a língua orienta os argumentos dos gramáticos tradicionais, e assim qualquer desvio

da norma culta é tomado como uma falha do pensamento; como um instrumento de comunicação, possuindo a

língua uma função de utilidade, como por exemplo, preparar pessoas para o mercado de trabalho, e por fim,

como uma atividade sócio interativa, no qual a linguagem é vista como um processo dinâmico em que os

interlocutores interagem socialmente, sendo ativos através da linguagem.

A linguagem, que é o ato humano de falar, apresenta cinco dimensões universais: criatividade (ou enérgeia),

materialidade, semanticidade, alteridade e historicidade (BECHARA, 2009). A criatividade envolve a linguagem

como atividade livre e que vai mais além do aprendido, não simplesmente repetindo o que já foi produzido. A

materialidade diz respeito à uma atividade fisiológica e psíquica praticada pelo falante ao produzir signos

fonéticos articulados. A semanticidade, por sua vez, está relacionada ao conteúdo da linguagem, à sua

semântica. Já a alteridade corresponde à relação entre pessoas, quando elas estão umas junto de outras, como

falantes e ouvintes, por exemplo. Por fim, a historicidade se apresenta como a tradição linguística de uma

comunidade histórica, quando a língua está diretamente envolvida com a sua referência histórica.

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2.1 Tipos de linguagens

A linguagem serve, principalmente, para que possa haver a comunicação. Mas ela pode acontecer com apenas

uma ou com muitas linguagens envolvidas. Entre elas, tem-se a comunicação oral, que usa a fala para transmitir

informações, fazer perguntar, relatos, dar opiniões e influenciar o comportamento de outras pessoas por meio da

persuasão, ordens ou instruções. Já as comunicações escritas também são formas de passar informação,

responder perguntas e relatar fatos, mas por meio da forma escrita (com um código e símbolos gráficos de

representação, que devem ser do conhecimento do receptor, por exemplo.Por fim, a linguagem não-verbal usa

a língua para transmitir informações e negociar atitudes interpessoais, influenciando no comportamento social

do homem (CANSIAN; PORRUA, 2011).

Alguns exemplos de comunicação não-verbal são:

mímicas

olhar

posturas

gestos (conscientes ou inconscientes)

expressão facial

A linguagem, por ser parte do processo de comunicação, é forma de expressão do pensar e, assim, funciona como

ferramenta mediadora das relações sociais. Pode haver combinação das formas de linguagem de forma

independente, ou ainda interdependente, gerando estruturas de linguagem audiovisual, tátil-visual, tátil-auditiva

etc. Segundo Camargo (2012, p. 8 e 9),

Fundamental auditiva: caracteriza-se por possuir apenas códigos sonoros. O acesso às linguagens

com essa estrutura empírica se dá por meio da observação auditiva dos mencionados códigos (único

suporte material).

Auditiva e visual independentes: caracteriza-se pela independência entre os códigos auditivo e

visual que lhe servem de suporte material. Ocorre, por exemplo, quando se projetam e falam-se as

mesmas informações. Por isso, o nível do detalhamento oral determina padrões de qualidade de

acessibilidade às informações veiculadas.

Tátil e auditiva independentes: caracteriza-se pela independência entre os códigos tátil e auditivo

que lhe servem de suporte material.

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Fundamental visual: é constituída por códigos exclusivamente visuais que lhe servem de suporte

material. Em relação ao receptor, o acesso às informações veiculadas fica condicionado à observação

visual.

Figura 4 - Formas de comunicação


Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock (2020).

#PraCegoVer: A imagem mostra diferentes formas de comunicação e estruturas de linguagem.

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2.2 A evolução da linguagem

A complexificação da tecnologia permitiu uma simplificação da linguagem. Hoje, novos símbolos alteraram a

linguagem e a língua. Hashtags, arrobas, emojis são exemplos de signos que alteraram a comunicação humana e

os meios de comunicação.

Nesse interím, os meios de comunicação de massa alcançam e atingem as pessoas para informar, eles tornam

informações acessíveis a todos por meio da padronização de linguagens. (BESSA, 2006, p. 27), utilizando-se de

uma linguagem média e simples para atingir diversos públicos, e assim não os isolá-los. Disso, conclui-se que a

incompreensão da linguagem isola.

Segundo Lima (apud p. 101),

quando definimos a linguagem como meio de comunicação, estamos apenas determinando uma das

múltiplas funções que ela engloba. Essa noção é simplista porque não dá conta da complexidade de

fatores que envolvem o uso da língua, que pode servir tanto para comunicar como para informar,

mas há casos em que a linguagem se torna obscura em que não cumpre a sua função comunicativa.

Na maneira de escrever dos meios jurídicos há todo um cuidado em moldar a linguagem e

ornamentá-la de uma maneira tal que ela passa a ser um código, cuja compreensão está ao alcance

apenas do pequeno grupo que faz parte do universo jurídico.

No campo do direito, a linguagem isolante (que deixa o receptor isolado, por não compreender o que é passado

na mensagem) tem peso ainda maior, pois se torna barreira ao acesso à justiça ao destinatário da mensagem,

ante a impossibilidade do mesmo de compreender o significado trazido no texto. Desta forma, não é garantida

efetividade plena ao direito que faz jus.

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2.3 Níveis de linguagem

Como se pôde perceber até aqui, a eficiência da comunicação depende dos códigos, da língua e da linguagem.

Para que a comunicação seja eficaz, será necessário prestar atenção ao tipo de pessoa que receberá o texto e,

portanto, é preciso estar atento com o uso adequado do nível de lin-guagem.

O falar se realiza individualmente, mas a linguagem é uma atividade humana universal, que leva em conta

tradições de comunidades históricas. Assim, pode-se dizer que existem diferenciações de linguagem em três

planos relativamente autônomos (BECHARA, 2009):

Universal
É a prática universalizada do ato de falar, por parte de todas as pessoas. Não se refere, necessariamente, a uma

língua concreta, mas à capacidade de falar.


Histórico
É o ato de falar por meio de uma língua determinada e a tradição passada por ela ao longo dos tempos.
Individual
É o ato de falar em uma língua determinada e de acordo com uma circunstância determinada (o chamado

discurso, que está ligado a fatores como o falante, o destinatário, o objeto ou tema de que se fala e a situação).

Há uma linguagem específica a ser utilizada em cada tipo de situação. Assim, existem três níveis de linguagem:

culto, popular e comum. A linguagem coloquial ou comum é o uso do idioma de maneira espontânea, sem

preocupação com normas gramaticais, com gírias, figuras de linguagem, construções incompletas, falhas, etc. A

linguagem formal ou culta é de um vocabulário mais rico e culto, contendo até mesmo certo preciosismo. A

gramatica é corretamente aplicada, e por isso é muito vista nos meios profissionais, universitários, diplomáticos,

científicos. A linguagem técnica é especifica, por possuir termos e estrutura própria de uma determinada área,

como por exemplo o vocabulário especifico de determinada profissão (a linguagem jurídica é uma linguagem

técnica). A linguagem popular é “uma variante espontânea e descontraída, cujo objetivo é a comunicação clara

e eficaz” (Medeiros e Tomasi (apud REOLON, 2010, p. 183).

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3. Comunicação jurídica
A comunicação jurídica, diferentemente de um texto para uma rede social ou um livro de literatura, tem como

objetivo primordial esclarecer um ponto jurídico, fornecer uma resposta clara e objetiva a um problema, através

daquilo que é transmitido. Por isso deve ser feita através de um texto eficaz.

Para Sytia e Fabris, citados por Reolon (2010, p. 184),

devido à dependência que há entre o Direito e a linguagem, a eficácia deste decorre do

aperfeiçoamento da estrutura linguística. Os vocábulos técnicos e a linguagem precisa exercem a

função de contribuir para a compreensão do Direito e para a eficácia do ato da comunicação jurídica.

Além da comunicação escrita, tão necessária ao operador do Direito, o processo de comunicação interpessoal

também tem grande importância. Na comunicação entre um advogado e seu cliente, por exemplo, o primeiro

contato, ou entrevista, pode ser considerado o ato comunicacional mais importante, pois ele determinará a

formação de todo o percurso a ser seguido no mundo jurídico:

Do entendimento que o advogado tiver dos dados fornecidos (ou não) de seu cliente dependerá o

sucesso (ou não) da pretensão do cliente diante do sistema judiciário. Daí a importância da

qualidade da comunicação entre o advogado e seu cliente. Comunicação esta que, além de ser

eficiente, deve ser eficaz também (REOLON, 2010, p. 188).

Por isso, compreender os processos de comunicação auxilia no desenvolvimento de um jurista melhor, mais

preparado para suas atribuições. Saber como usar a comunicação com diversos receptores, como o cliente,

empresas, outros advogados, juízes e até instituições governamentais, ajudam na solução dos problemas que lhe

são colocados todos os dias na vida profissional.

Assista aí

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3.1 Linguagem jurídica

A linguagem jurídica é uma linguagem técnica. É por meio dela que o conhecimento jurídico é trazido à tona, pois

ela é a sua devida expressão. Por isso, como ensina Petri (apud Setti, 200, p. 2), “há uma linguagem do Direito

porque o Direito dá um sentido particular a certos termos”.

É o caso, por exemplo, de:

Termos que possuem o mesmo significado na língua corrente e na jurídica, como por exemplo as palavras

critério e argumento.

Termos que possuem um significado na língua corrente e outro mais específico para a linguagem jurídica. O caso

mais típico é sentença, que, em um sentido, significa frase e oração e, no outro, a decisão do juiz.

Termos que possuem mais de um significado na linguagem jurídica. É o caso da prescrição, que pode significar

tanto determinação como também decurso de prazo.

Termos que só possuem significado no Direito e não existem na linguagem corrente, como acórdão, que significa

decisão de órgão colegiado.

Termos latinos que são comumente usados no Direito, como caput e data venia

O que se percebe, portanto, é que a linguagem jurídica permite a definição de certos conceitos inerentes ao

Direito, e, por isso, irá se valer de determinadas fórmulas para transmitir certas informações técnicas de maneira

concisa e objetiva.

O problema é a existência de alguns ruídos na transmissão das mensagens jurídicas, pois nem todos os

destinatários conseguem entender seu significado. Quem não tem formação na área, portanto, nem sempre

consegue compreender o que acontece com o seu caso, mesmo sendo titular do direito em questão. Collaço (apud

SETTI, 200, p. 4) chega a mencionar,

Os textos das sentenças, pareceres, liminares e despachos são recheados de palavras de difícil

compreensão e não são raras as ocasiões nas quais, depois de audiências e decisões, o cidadão,

perplexo, não tem a menor ideia sobre o destino que lhe foi reservado: culpado ou inocente?

Vitorioso ou vencido? O juridiquês afasta a população do Poder Judiciário (...) Afinal, ninguém

valoriza o que não conhece.

A Constituição Federal, por exemplo, assegura em seu art. 5º, inciso XXXV, que “a lei não excluirá da apreciação

do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988). Porém, nem todo cidadão consegue compreender

que o acesso à Justiça está garantido a todos.

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Para que esse objetivo seja alcançado, é necessário que os brasileiros consigam acessar e compreender o sistema

jurídico. E, para isso, é preciso garantir a comunicação. Se o direito é feito para todos, a linguagem do direito

deve acompanhar tal raciocínio e, assim, manter um padrão que permita a compreensão pelo maior número de

indivíduos possível.

Assim, ganha cada vez mais importância os esforços para tornar a linguagem jurídica mais compreensível e

deixá-la mais democrática, especialmente ao considerar que o público-alvo das leis são aqueles que a necessitam.

Fique de olho
Você sabia que a Constituição Federal fala sobre português jurídico? Veja o que diz o parágrafo
único do art. 59: “Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e
consolidação das leis” (BRASIL, 1988). Assim surgiu a Lei Complementar 95/1998, vinculada
ao diretamente dispositivo constitucional e que trata justamente da elaboração, redação,
alteração e a consolidação das leis. No art. 11, a norma traz orientações para que a redação seja
feita com clareza, precisão e ordem lógica.

Assista aí

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3.2 Variedades linguísticas

A fala está em constante mudança. Os padrões de comportamento de uma comunidade se refletem na fala e se

atualizam, podendo-se observar padrões de comportamento linguísticos diversos. Essas formas em variação

recebem o nome de variantes linguísticas.

Existem várias formas em que ocorrem as variedades da língua, mesmo havendo um sistema de organização por

trás da heterogeneidade da língua falada:

• Variedade histórica (temporal)

Quando a língua muda com o passar do tempo, como é o caso das gírias, por exemplo

• Variedade geográfica (regional ou espacial)

Quando a língua varia de acordo com a região do país onde é falada e a linguagem pode encontrar

vocabulários distintos.

• Variedade sociocultural

Quando a linguagem varia de acordo com o nível econômico e com o grau de escolaridade da pessoa.

• Variedade etária

Quando a linguagem de um jovem tende a ser diferente da utilizada por uma pessoa mais velha.

• Variedade contextual

Quando a linguagem muda conforme o contexto onde está inserida, como é o caso da maneira de falar

com um amigo e com o chefe, por exemplo.

Toda profissão possui uma linguagem própria, com características próprias, inerentes ao seu exercício.

Passa-se agora a explorar as variedades linguísticas inerentes ao Direito, auxiliares na sua criação, aplicação e

interpretação.

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3.3 Jargão jurídico

Jargão é uma linguagem viciada que revela um conhecimento imperfeito de uma língua. Pode ser ainda

conceituado como qualquer linguagem incompreensível.

Outra definição para jargão é uma terminologia técnica, comum a um determinado grupo ou a uma determinada

atividade e que costuma ser utilizada em grupos profissionais ou socioculturais. Neste sentido, é como se o

jargão criasse uma “língua” própria, distinta da língua comum, a qual só terão acessos certos indivíduos,

possuidores dos conhecimentos técnicos que permitam a compreensão de seu significado. Seriam, então, "gírias"

específicas, usadas de maneira específica e restrita por profissionais de um mesmo meio, quase como um código

secreto que somente aqueles que compreendem seu significa conseguirão interpretar: enfermeiros, profissionais

do futebol, profissionais de informática, etc. É o que acontece, também, com os juristas. Peticionar, contestar,

apelar, arrazoar, inquirir, persuadir, provar, tergiversar, julgar, absolver ou condenar são exemplos de jargão

jurídicos (CARVALHO, 2019).

Tanto é assim que juridiquês é o termo usado para debochar do uso excessivo de jargões jurídicos no mundo do

Direito. É quando o excesso de tecnicismo se torna prejudicial e impede uma comunicação efetiva. Neste sentido,

pode-se afirmar que

é caracterizado pelo uso de gírias e jargões que tornam robusto, do ponto de vista jurídico, o texto

apresentado. Pode-se defini-lo ainda como um desvio no linguajar jurídico, na forma do preciosismo

e no uso em excesso e desnecessário dos termos formais na construção textual jurídica, observados

atualmente nos pronomes de tratamento dirigido aos Magistrados e até mesmo entre os advogados,

no curso processual (CAETANO et al, 2015, p. 100).

O juridiquês dever ser evitado em razão da quebra do processo de comunicação e do sistema de linguagem.

Como já visto nesta unidade, ele ainda fere direitos dos cidadãos, pois não permite que o cidadão comum

compreenda o significado da mensagem emitida.

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3.4 Brocardos jurídicos

A doutrina clássica entende como brocardo a “denominação dada aos adágios ou aforismos jurídicos” (PLACIDO

e SILVA, 1996, p. 339).

Trata-se, então, de uma sentença breve e doutrinária, sendo enunciados em latim que trazem conceitos

universalmente aceitos (como por exemplo, modus dicendi, ou modo de dizer). Os brocardos “resumem toda

uma experiência jurídica, assim como os provérbios resumem a sabedoria popular” (Acquaviva, 2004, p. 254).

Eles podem, então, trazer definições técnico-jurídicas, afirmações, regras de interpretação, conselhos de caráter

ético ou moral, verdades jurídicas, princípios gerais do direito, etc. Importante frisar que não tem qualquer força

obrigatória (o comando que trazem, não deve ser necessariamente aplicado pelo operador de direito), servindo

apenas como orientação.

Veja alguns exemplos de famosos brocardos jurídicos e que são utilizados até hoje em inúmeros documentos

jurídicos:

na dúvida, a favor do réu

restrinja-se o odioso, amplie-se o favorável

onde a lei não distingue, não pode o intérprete distinguir

quem pode o mais, pode o menos

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3.5 Expressões jurídicas

O Direito possui algumas expressões advindas do Direito Romano, em latim, que são integrantes do vocábulo

jurídico até hoje e muito utilizadas em documentos da área. Por isso, é tão importante para os profissionais

terem conhecimento destas expressões, o que acaba por se incorporar à rotina e ao vocabulário deles.

Expressões em latim

1- Data venia: significa “com a devida licença”. É uma maneira respeitosa de se iniciar uma argumentação que

irá contrariar opinião de outra pessoa.

2- Venire contra factum proprium: significa a vedação de comportamento contraditório, para preservar a boa-

fé objetiva.

3- A quo: refere-se ao Juízo de origem, ou ao Juiz ou Tribunal que proferiu uma decisão que está sendo recorrida,

ou ao termo inicial de um prazo.

4- Ad quem: refere-se ao Juiz ou Tribunal para o qual um processo está sendo encaminhada, ou para um Juiz ou

Tribunal que julgará recurso, ou ao termo final de um prazo.

5- Bis in idem: do latim bis, “repetição”, e in idem, “sobre o mesmo”. Caracteriza a repetição de uma sanção

sobre um mesmo fato.

6 - Inaudita altera pars: quando um ato jurídico é realizado sem que a outra parte seja ouvida.

7- In re ipsa: dano presumido, que dispensa comprovação.

8 - Iter criminis: caminho percorrido pelo autor até a execução do crime.

9 - Juris tantum: presunção de veracidade de fato, mas que admite prova em contrário.

10 - Juris et de jure: presunção que não admite prova em contrário.

11- Lato sensu: em sentido amplo de uma palavra/expressão.

12 - Stricto sensu: sentido restrito de uma palavra/expressão.

13 - Pacta sunt servanda: os pactos/contratos devem ser respeitados.

Expressões em português

Existem ainda palavras e expressões em português que também fazem parte do cotidiano do operador jurídico e

cuja familiaridade também se faz necessária:

1 - Acórdão: decisão final proferida por tribunal superior, de maneira conjunta, colegiada.

2 - Memorial: documento contendo as alegações finais de uma parte no processo, para convencer o julgador.

3 - Fazer carga: o ato de retirar um processo do órgão judicial, pelo reprsentante legal de uma das partes para

praticar um ato ou requerer o que for de direito.

4 - Impetrar: solicitar alguma providência judicial

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5 - Peça judicial: são as manifestações processuais, tais como a petição inicial, contestação e recursos,etc.

6 - Trânsito em julgado: designa a decisão ou acórdão que não pode mais ser recorrido.

7 - Réu: é à pessoa chamada para responder uma ação, que vai constar no polo passivo.

8 - Exordial: termo usado para falar da peça (petição) inicial de um processo.

9 - Alçada: limite de competência de um juízo ou tribunal para conhecer ou julgar demandas, conforme o valor

da ação.

10 - Decisão interlocutória: decisão por meio da qual o juiz resolve uma questão incidental da ação.

11 - Despacho: ato praticado pelo juiz para dar andamento ao processo, mas que não trata do mérito da causa.

12 - Preparo: é o pagamento das despesas de um recurso.

13 - Deserção: não pagamento do preparo recursal, gerando sanção à parte.

O que se verifica aqui é a forma de pensar a evolução da linguagem jurídica, levando em consideração a

necessidade de desuso de variedade linguísticas que, na verdade, tornam a linguagem isolante. Uma vez que o

cidadão comum, por diversas vezes, não compreende a mensagem transmitida por não ser familiarizado com tal

codificação técnica, cria-se um abismo entre ele e o emissor.

Isso tem peso ainda maior no cotidiano jurídico, pois se torna barreira ao acesso à justiça ao destinatário da

mensagem, ante a impossibilidade do mesmo de compreender o significado trazido no texto.

é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• aprender sobre os processos de comunicação;
• compreender as diferenças entre língua, linguagem e código, e a especificidade da linguagem jurídica;
• conhecer alguns jargões jurídicos;
• analisar os brocardos jurídicos;
• verificar algumas expressões jurídicas;
• compreender os diversos níveis de linguagem.

Referências
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2004.

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2019.

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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br

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CAETANO, J. M. P.; CABRAL, H. B.; LUQUETTI, E. C. F. A (in)compreensão da linguagem jurídica e seus efeitos na

celeridade processual. Litterata: Revista do Centro de Estudos Hélio Simões, v. 3 n. 1, 2013. Ilheus: Universidade

Estadual de Santa Cruz, 2013. Disponível em: <http://periodicos.uesc.br/index.php/litterata/article/view/819>.

Acesso em 5 dez. 2019.

CAMARGO, E. P. A comunicação e os contextos comunicativos como categorias de análise. São Paulo:

Editora UNESP, 2012. pp. 39-55. Disponível em: <http://books.scielo.org/id/zq8t6/pdf/camargo-

9788539303533-05.pdf>. Acesso em: 3 dez. 2019.

CARVALHO, B. Termos jurídicos: 27 expressões que você precisa reconhecer. Saraiva Aprova, São Paulo, s./d.

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MICHAELIS. Moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998.

PAIVA, M. Português jurídico. 10ª ed. Brasília: Educere, 2015. Disponível em: <https://bdjur.tjdft.jus.br/xmlui

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dez. 2019.

REOLON, S. M. A linguagem jurídica e a comunicação entre o advogado e seu cliente na atualidade. Direito &

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SILVA, P. Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1996.

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