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Área integração_2°

Módulo 3

O conceito de comunicação

O que é a comunicação?
Desde que nascemos, comunicamos com aqueles que nos rodeiam. Comunicar é uma
condição essencial à vida e à organização social.
A comunicação é uma necessidade vital de todos os indivíduos e de todas as sociedades,
uma vez que os seres humanos são seres sociais, vivem em comunidade e, por
conseguinte, precisam de se relacionar e comunicar. A comunicação é um alicerce da vida
social, possibilitando a existência e o desenvolvimento de relações humanas.

Comunicação é uma daquelas atividades humanas que todos reconhecem, mas que
poucos sabem definir satisfatoriamente. Comunicação é falarmos uns com os outros, é a
televisão, é divulgar informação, é o nosso penteado, é a crítica literária: a lista é
interminável.
Eis um dos problemas com que os académicos se deparam: poderemos aplicar
corretamente a expressão "objeto de estudo" a algo tão diverso e multifacetado como é,
realmente, a comunicação humana? Haverá alguma esperança de se relacionar a
expressão facial, digamos, com a crítica literária? Será que, inclusivamente, valerá a pena
tentar esse exercício?

A comunicação e a construção do indivíduo

A comunicação permite que os indivíduos se relacionem e partilhem informação e


emoções. Desse processo, resulta uma comunidade mais coesa. Na realidade humana, a
comunicação desempenha um papel tão decisivo que podemos mesmo dizer que sem
comunicação não existiria sociedade.
Comunicamos permanentemente: por palavras, gestos, expressões, pelo modo como nos
vestimos…
Comunicar é algo que nos define enquanto espécie, pois a comunicação está presente
em todas as atividades humanas.
Comunicar é uma atividade quotidiana. Desde que acordamos que estamos sempre a
comunicar, seja por palavras, gestos ou comportamentos. A forma como nos vestimos,
olhamos, falamos ou calamos são atos comunicativos. Para além da comunicação
voluntária, aquela que decidimos empreender, existe também a comunicação involuntária,
como, por exemplo, quando ruborescemos face a uma situação constrangedora.

Apesar de a comunicação verbal assumir a forma privilegiada no intercâmbio


comunicativo nas nossas sociedades, ela não esgota as formas de comunicação humana.
A comunicação não verbal, que congrega um conjunto de gestos e expressões faciais e
corporais, é também uma forma de comunicação. A aparência física, o vestuário, as
expressões corporal e facial complementam, completam ou invalidam a comunicação
pretendida. Muitas vezes complementar à comunicação verbal, pode ela própria ser a
forma de comunicação principal.
A língua gestual é a forma de comunicação utilizada pelas pessoas surdas e por todas
aquelas que comunicam com surdos. É produzida a partir dos movimentos das mãos, do
corpo e por expressões faciais, sendo a sua receção visual. Esta língua possui uma
gramática e vocabulário próprios.

Comunicação e cultura

Que relação existe entre comunicação e cultura?


Comunicar é um ato eminentemente cultural. Desde que nascemos, aprendemos regras
de comunicação que irão influenciar a nossa integração e interação sociais. É através do
processo de socialização que partilhamos vivências e experiências e interiorizamos as
regras e os códigos comunicativos próprios da sociedade, cultura e grupo social a que
pertencemos.
Durante a socialização, os indivíduos aprendem normas e comportamentos que lhes
permitem comunicar com os outros. É, pois, através da comunicação que o indivíduo se
integra e interage socialmente.
Assim, para além das características pessoais, o meio social e cultural, tanto do emissor
quanto do recetor do processo comunicativo, é decisivo. As crenças, costumes, tradições
e valores culturais, religiosos e morais influenciam o tipo de comportamento comunicativo
e a capacidade de compreensão da mensagem.
Elementos do ato comunicativo
Os elementos nucleares do ato comunicativo são o emissor, o recetor ("seres humanos")
e a mensagem ("informações"). Em qualquer ato comunicativo, encontramos alguém que
procura transmitir a outrem uma dada informação. E necessária a intervenção de, pelo
menos, dois indivíduos: um que emita e outro que receba. Nenhum ato comunicativo seria
possível na ausência de um qualquer desses elementos.
Além desses três elementos nucleares, é costume considerar outros três: o código, o
canal e o contexto:

 para que o emissor e o recetor comuniquem, é necessário que esteja disponível um


canal de comunicação;

 a informação a transmitir tem de estar "traduzida" num código conhecido quer pelo
emissor, quer pelo recetor;

 todo o ato comunicativo se realiza num determinado contexto e é por ele


determinado.

Conceitos

Código de comunicação - conjunto de normas e sinais organizados segundo


determinadas regras que regulam a possibilidade de construção de mensagens.
Denotação - significado literal de uma palavra ou expressão, sem valor subjetivo, não
provocando qualquer tipo de emoção no recetor.
Conotação - significado que uma palavra ou expressão adquire, em função do contexto e
intenção com que é usada.

O processo de interiorização de regras de comunicação permite que o sujeito se adapte a


várias situações comunicativas, recorrendo a códigos diferentes, consoante as
circunstâncias.
Os códigos de comunicação podem ser verbais ou não-verbais e adaptam-se aos
diferentes grupos em que o indivíduo está inserido. Ao longo da sua vida, os seres
humanos utilizam, entre si, uma multiplicidade de códigos de comunicação, como, por
exemplo, códigos visuais, sonoros, táteis, entre outros.
No processo de comunicação, para que a mensagem seja transmitida com sucesso, é
necessário que tanto o emissor quanto o recetor conheçam o código utilizado.
A língua portuguesa, tal como as outras línguas, funciona como um código de
comunicação suportado por regras que permitem estabelecer uma relação comunicativa
entre emissor e recetor.
Para que a mensagem seja compreendida, é necessário prestar atenção ao uso que
fazemos das palavras, pois estas podem ser usadas com sentido denotativo, ou seja,
literal, ou com sentido conotativo, ou seja, figurado.
Os códigos de comunicação, verbais e não verbais, variam de cultura para cultura, mas
também de indivíduo para indivíduo, já que resultam da combinação da classe social,
formação académica, religião professada, estilo de vida, origem nacional/étnica de cada
pessoa, entre outros fatores.

Elementos do processo de comunicação

A comunicação é um processo complexo que tem como objetivo a transmissão de uma


mensagem. Durante o processo comunicativo, a mensagem parte de um emissor e chega
a um recetor, o qual, por sua vez, estimulado, reage, tornando-se também emissor ao
emitir feedback (retorno) a mensagem inicial, através de um código comum a ambos os
intervenientes. Neste processo interativo de ação e reação, torna-se indispensável a
existência de um canal, através do qual se estabelece a ligação entre os polos
comunicativos.
Todo o processo comunicativo tem de estar devidamente contextualizado no ambiente
histórico, social e cultural em que ocorre, bem como atender às contingências situacionais
que darão significado às palavras de uma língua ou aos gestos de uma linguagem
(sentidos denotativo e conotativo) para ser eficaz.
Para haver comunicação é, pois, necessária o garantir presença dos seguintes elementos:

 Emissor/Orador: emite e codifica a mensagem.


 Recetor: recebe e descodifica a mensagem.
 Mensagem: conjunto de informações transmitidas pelo emissor e recetor.
 Código: conjunto de signos, sinais e regras que formam a mensagem e que são
usados na transmissão e na reação da mensagem.
 Canal: meio pelo qual circula a mensagem.
 Contexto: conjunto de variáveis que rodeiam e influenciam o processo.
 Feedback: informação de retorno que é transmitida em resposta à mensagem
original.
 Ruído: conjunto de fenómenos que ocorrem ao nível do canal e dificultam ou
prejudicam a comunicação.

Conceitos

Mensagem - conjunto de informações (conteúdo da mensagem) transmitidas pelo


emissor.
Emissor - aquele que emite e codifica a mensagem para um ou vários recetores.
Recetor - aquele que recebe e descodifica a mensagem emitida pelo emissor.

Como se caracteriza o processo de comunicação?


Para que o processo comunicativo seja eficaz, é necessário que o recetor consiga
descodificar o conteúdo da mensagem transmitida.
O processo de comunicação é atravessado por dois fenómenos:
1. Codificação: processo de conversão da mensagem numa forma simbólica, num código
conhecido. O emissor usa dois tipos de linguagem para se fazer compreender pelo
recetor (descodificador):
 verbal (palavras, sinais, imagens, vídeos,...);
 não verbal (expressões corporal e facial,...)

Para ser compreendida, é muito importante a forma como a mensagem é codificada.


Muitas vezes, a mensagem é repetida de maneiras diversas (redundância), de modo a
incrementar a possibilidade de ser compreendida e compensar a perda de informação
provocada pelo ruído.
2. Descodificação: processo de interpretação e tradução da informação codificada numa
forma compreensível; é a reconversão da mensagem do emissor, o reconhecimento do
signo e a interpretação.
O feedback funciona como o último movimento no processo comunicativo, aumentando a
eficácia da comunicação, através do reforço da compreensão da mensagem, e
melhorando e favorecendo a relação interpessoal por meio do estabelecimento de uma
ligação entre os interlocutores.
Barreiras a uma comunicação eficaz

 Sobrecarga de informação (incapaz de ser ordenada).


 Autoconceito (aceitamos as informações que confirmam as nossas crenças e
rejeitamos as que as contrariam).
 Fonte (acreditamos mais nos portadores de status).
 Localização física (a distância diminui a eficácia comunicacional).

Conceitos

Codificação - operação que consiste na transformação de conceitos em signos ou


códigos.
Redundância - consiste na repetição de elementos numa mensagem com o objetivo de
assegurar e facilitar a sua compreensão.
Descodificação - ação de interpretação ou tradução de um código ou signo para que
possa ser entendido pelo descodificador ou utilizador.
Signo - sinal que marca uma relação convencional, mas não natural nem analógica, com
o elemento que representa (por exemplo: uma bandeira verde na praia indica que se pode
ir nadar).

Lógica e discurso

Certamente que ao observares a imagem e o respetivo balão de pensamento disseste:


Isto não tem lógica! Facilmente percebes que há contradição entre a imagem e o texto
que a acompanha, porque, mesmo sem teres estudado lógica, aprendeste a usá-la no teu
dia-a-dia.
A lógica permite-nos organizar o pensamento, desenvolvendo competências que nos
tornam capazes de detetar contradições. É, por isso, indispensável à construção e
avaliação de argumentos, ajudando-nos a pensar de forma mais rigorosa e coerente.
Atualmente, a lógica divide-se em lógica formal e lógica informal.

 A lógica formal é o estudo dos argumentos válidos. Constitui uma tentativa


sistemática para distinguir os bons dos maus argumentos e o seu objetivo é
tornar explícitas as regras formais através das quais as boas inferências se
podem construir. Neste sentido, a lógica formal nada tem que ver com a verdade
dos factos ou opiniões das quais deriva a conclusão, mas com o modo como se
formam as inferências. Trata-se de distinguir os argumentos válidos dos
argumentos inválidos, compreender por que razão alguns argumentos são
corretos enquanto outros não o são, evitar cometer erros na argumentação e
capacitar-nos para construção de bons argumentos.
 A lógica informal surgiu como um novo desenvolvimento no estudo dos
argumentos, segunda metade do século XX. A sua preocupação fundamental e a
de estabelecer um conjunto de critérios e procedimentos que permitam analisar,
interpretar, avaliar e aperfeiçoar os argumentos expressos em linguagem natural.
A logica informal alarga a investigação do discurso a aspetos da argumentação
excluídos da lógica formal, como sejam o conteúdo das proposições, o contexto
e a força dos argumentos.

Enquanto a lógica formal se centra na análise de padrões de inferência válida, a lógica


informal analisa a maneira como as premissas podem sustentar uma conclusão sem, no
entanto, a implicarem necessariamente.

Conceitos

Lógica - ciência geral da inferência. Divide-se hoje em lógica formal e lógica informal.
Lógica formal - ramo da lógica que estuda as formas válidas dos argumentos dedutivos.
Lógica informal - ramo da lógica que se debruça sobre os argumentos não dedutivos e
os aspetos não formais da argumentação (conteúdo, contexto,...).
Argumentação - do latim argumentum, que significa prova, indício, raciocínio lógico. A
argumentação pode ser formal - quando se sustenta em raciocínios dedutivos - ou
informal - quando se sustenta em raciocínios não dedutivos.
Argumento - complexo formado por uma ou mais proposições (premissas), a partir da(s)
qual(ais) se infere (deduz) uma única proposição (conclusão).

Como seres sociais e racionais que somos, recorremos, a todo o momento, à


comunicação, para apresentar, fundamentar e justificar ideias ou convicções e expor as
razões que as sustentam.
Persuadir os outros das nossas razões é uma das funções da argumentação. Argumentar
é, pois, estabelecer relações lógicas de justificação. Corresponde à conclusão premissas,
de onde se extrai uma conclusão.
As premissas são o ponto de partida de um argumento. Devem apoiar racionalmente a
conclusão (ou tese) e visam, no seu conjunto, fornecer os fundamentos para que a
conclusão seja aceite.
Ao conjunto das premissas e da conclusão chamamos argumento (ou raciocínio). A
argumentação é, por conseguinte, um encadeamento lógico de raciocínios (ou
argumentos).
No quotidiano, socorremo-nos constantemente de argumentos, encadeando raciocínios
que nos permitem sustentar uma tese e convencer os outros da sua plausibilidade. A
adesão à tese está diretamente relacionada com a força do argumento, isto é, com o seu
grau de probabilidade.
Para construir e encadear argumentos, precisamos da linguagem. Sem ela não podemos
comunicar, dar sentido e significado às coisas. Usamos a linguagem para nos referirmos à
realidade, através de um conjunto de processos mentais que designamos por
pensamento.

Os instrumentos lógicos do pensamento

Para pensarmos, precisamos não só de princípios lógicos, mas também de instrumentos


que nos permitam fazê-lo. Na comunicação utilizamos instrumentos lógicos e linguísticos:
conceito, juízo e raciocínio.
Os conceitos têm a sua expressão verbal nos termos, que são as palavras com as quais
construímos proposições e expressamos os nossos argumentos.
Cão, gato e mesa são exemplos de conceitos.
Quando relacionamos conceitos, elaboramos juízos, cuja expressão verbal são as
proposições. Por exemplo, ao dizermos Todos os homens são animais, estamos a emitir
um juízo, no qual relacionamos o conceito homem com o conceito animal.
As proposições exprimem pensamentos, declaram algo sobre a realidade e possuem
valor de verdade, isto é, podem ser verdadeiras ou falsas. Só as frases decl rativas são
proposições e só destas podemos dizer que são verdadeiras ou falsas.
À semelhança dos conceitos, também os juízos se relacionam uns com os outros,
formando operações mais complexas, designadas raciocínio. Quando articulamos
juízos/proposições, formamos argumentos, que são a expressão verbal dos raciocínios.
Os argumentos utilizam-se em debates onde há ideias antagónicas em confronto. Um
raciocínio é um processo de inferência, isto é, um processo pelo qual se chega de uma
coisa a outra. É um conjunto de várias proposições, chamadas premissas, e de uma outra
proposição final, chamada conclusão.

Conceitos
Conceito - representação mental abstrata e geral que se aplica a um conjunto de seres
que partilham propriedades comuns. A sua expressão verbal é o termo.
Juízo - estabelece a relação de conveniência (afirmativo) ou de não conveniência
(negativo) entre conceitos. A sua expressão verbal é a proposição.
Raciocínio - processo da razão que consiste na articulação de juízos.
Um raciocínio relaciona uma ou mais proposições, extraindo delas uma conclusão. A sua
expressão verbal é o argumento.

Presta atenção ao exemplo abaixo apresentado, um exemplo de silogismo,


que é uma forma de raciocínio dedutivo em que, a partir de um antecedente que compara
dois termos com um terceiro, se infere (ou deduz) um consequente. A feito a partir de
duas proposições partir dele é possível verificar que o argumento é composto por três
proposições. Destas, a última deduz-se, necessariamente, a partir das outras duas.

Premissas:

Todos os moluscos são seres invertebrados.

Todos os caracóis são moluscos.

Conclusão:
Logo, todos os caracóis são seres invertebrados.

É necessário ter em atenção que, nos silogismos, nem sempre se tiram conclusões
verdadeiras, mesmo que o raciocínio seja válido.
As premissas de um argumento devem (...) apresentar evidências que corroborem a
conclusão. Apresentar a evidência nas premissas requer duas coisas.
Requer, em primeiro lugar, que as premissas sejam enunciados de facto. Requer, em
seguida, que os factos apresentados sirvam de evidência para a conclusão. (...) Quando
um argumento se apresenta para justificar uma conclusão, duas questões se colocam.
Primeira: as premissas são verdadeiras? Segunda: as premissas estão relacionadas com
a conclusão? (...)
Para a lógica formal só importa a segunda. A lógica formal trata da relação entre as
premissas e a conclusão, deixando de importar-se com a verdade das premissas.
Wesley C. Salmon (1987), Lógico, Guanabara (adaptado).

O que distingue uma frase de uma proposição?

As proposições exprimem pensamentos, declaram algo sobre a realidade e possuem


valor de verdade, isto é, podem ser verdadeiras ou falsas. No entanto, nem todas as
frases declarativas são proposições.
Se dissermos As estudantes morenas são arbustos aromáticos não estamos perante uma
proposição, pois relativamente a esta frase não podemos dizer qual o seu valor de
verdade, isto é, se é verdadeira ou falsa).

Uma proposição é sempre uma frase declarativa.


Uma proposição tem de possuir valor de verdade, isto é, tem de ser verdadeira ou falsa.

Quando articulamos juízos/proposições, formamos argumentos, que são a expressão


verbal dos raciocínios. Um raciocínio é um processo de inferência, isto é, um processo
pelo qual se chega de uma coisa a outra.

Por exemplo:
Todos os canídeos são mamíferos. (premissa)
Todos os cães são canídeos. (premissa)
Logo, todos os cães são mamíferos. (conclusão)

As premissas fundamentam a conclusão.


A conclusão é justificada pelas premissas.

O que distingue um argumento válido de um argumento inválido?

Um argumento é válido quando a sua conclusão decorre necessariamente das suas


premissas:
Se todos os seres humanos, sem exceção, fazem parte do universo dos vertebrados; se
Carla é mulher, então, e necessariamente, Carla será também vertebrada.

Assim, um argumento diz-se válido quando:

A conclusão decorre necessariamente das premissas.


impossível as premissas serem verdadeiras e a conclusão falsa.

Por exemplo:

Todos os felinos são vertebrados. (premissa)


Todos os gatos são felinos. (premissa)
Logo, todos os gatos são vertebrados. (conclusão)

Um argumento diz-se inválido quando a conclusão não decorre necessariamente das


premissas: se todos os alunos que estudam tiram boas notas; se o Paulo tira boas notas;
não podemos afirmar que, necessariamente, o Paulo estuda, o que faz com que este
argumento seja inválido.

Só dos argumentos podemos dizer que são válidos ou inválidos.


Das proposições que os compõem só podemos dizer que são verdadeiras ou falsas.

Validade de verdade

Contrariamente às demais ciências, que se preocupam com a verdade ou falsidade dos


seus enunciados, a lógica, porque é uma disciplina formal, considera apenas a validade
dos argumentos, ou seja, a sua forma ou estrutura.
Em lógica, validade e verdade não são sinónimos. A validade é uma propriedade dos
argumentos dedutivos corretamente construídos. A verdade é uma propriedade das
proposições. A validade diz unicamente respeito à forma ou estrutura lógica do argumento.
A verdade, pelo contrário, é uma propriedade exclusivamente relacionada com o conteúdo
das proposições.
Um argumento dedutivo diz-se válido quando, e apenas quando, a conclusão se segue
necessariamente das premissas, isto é, quando é impossível que todas as premissas
sejam verdadeiras e a conclusão falsa. Um argumento diz-se inválido, se a conclusão é
incorretamente extraída das premissas em virtude de algum erro formal.

Das proposições dizemos que são verdadeiras ou falsas.


Dos argumentos afirmamos que são válidos ou inválidos.
A validade refere-se à forma/ estrutura dos argumentos.
A verdade diz respeito ao conteúdo das proposições.

Assim, as proposições que constituem o argumento podem ser verdadeiras ou falsas,


sendo que o valor de verdade pode ser comprovado empiricamente, isto é, recorrendo à
experiência. Quanto ao argumento, ele é válido ou inválido, conforme está correta ou
incorretamente construído.
Quando um argumento é válido e constituído por premissas verdadeiras, dize mos que é
sólido. Um argumento pode ser válido ou inválido e ter premissas com valor de verdade,
distintos.

Argumentação

Com a lógica formal podemos examinar os argumentos dedutivos e estabelecer se são ou


não válidos. Porém, os argumentos dedutivos e a determinação de padrões de inferência
válida não esgotam toda a análise do discurso.
Analisamos a validade formal dos argumentos, ou seja, a sua forma, independentemente
do conteúdo das proposições. Vamos agora focar a nossa atenção no conteúdo das
proposições e naquilo que faz com que sejam aceites (ou rejeitadas) pelos outros.
Na argumentação, o ponto de partida não são verdades estabelecidas, mas premissas
verosímeis, abertas à discussão. A argumentação desenvolve-se, por isso, em torno da
persuasão. O objetivo é suscitar a adesão de um interlocutor ou de um auditório a uma
crença e levá-lo a adotar um comportamento.
Podemos, então, dizer que argumentação une um orador e um auditório. Para que a sua
mensagem seja persuasiva, o orador deve adaptar o discurso ao auditório, tendo em
conta os objetivos visados e as circunstâncias particulares em que este comunica.

Para que serve argumentar?


Pode definir-se argumentação como a ação verbal pela qual se leva uma pessoa e/ou
todo um auditório a aceitar uma determinada tese, valendo-se, para tanto, de recursos
(argumentos) que demonstrem a sua consistência. Esses recursos são as verdades
aceites por uma determinada comunidade, assim como os valores e os procedimentos por
ela considerados corretos. Dessa forma, argumentação é um termo que se refere tanto ao
ato de convencer como ao conjunto de recursos utilizados. Por isso, a argumentação
parte sempre de um objetivo a ser atingido (a adesão à tese apresentada) e lança mão de
um conjunto de estratégias próprias para isso, levando em conta aquilo que faz sentido
para quem lê ou ouve. Daí a importância de se conhecer o leitor ou o ouvinte. A título de
exemplo, o argumento que funciona muito bem para um grupo de estudantes
adolescentes não terá o mesmo efeito sobre uma comunidade de idosos - e vice-versa.
Egon de Oliveira Rangel (2004), O processo avaliatório e o elaboração de
"protocolos de ovaliação, Semtec/MEC (adaptado).

Conceitos
Persuasão - capacidade de convencer ou influenciar.
Auditório - conjunto de pessoas que o orador quer influenciar com a sua argumentação.
Orador - pessoa que discursa em público.

Mais do que a simples transmissão de mensagens, a argumentação ter como finalidade


provocar a adesão dos outros a nossa tese, promovendo uma alteração de
comportamentos. Marcada por um cariz argumentativo, um dos propósitos da
comunicação é precisamente o de convencer alguém de alguma coisa. A comunicação
pressupõe, por isso, o esforço de persuasão.
Argumentar é:

1. Persuadir e convencer, de modo a provocar a adesão do auditório.


2. Agradar, seduzir ou manipular e justificar as suas ideias para as fazer passar por
verdadeiras, ou porque o são, ou porque se crê que o são.
3. Fazer passar o verosímil, a opinião e o provável como boas razões e influenciar,
sugerindo inferências ou realizando-as para o outro.
4. Sugerir o implícito por meio do explícito.
5. Instituir um sentido figurado, inferir do literal e utilizar, para o efeito, figuras de estilo
e histórias.

Michel Meyer (1986), De la Métophysique à la Rhétorique, Éditions de l'Université de


Bruxelles.
A arte da palavra eficaz ou persuasiva, a retórica, esta, desde sempre, presente em
grande parte da comunicação quotidiana. Depois de uma época áurea na Antiguidade, a
retórica permaneceu adormecida durante séculos, até que, na época contemporânea,
conheceu um revigoramento importante.
Segundo Aristóteles, o sucesso de qualquer argumentação depende de dois tipos de
meios ou instrumentos persuasivos:

 meios não técnicos (recursos já existentes, como as leis, os testemunhos, as


confissões);
 meios técnicos (instrumentos persuasivos criados pelo orador).

Conceitos
Retórica - segundo Aristóteles (384-322 a. C.), é a faculdade de considerar, para cada
questão, o que pode ser adequado para persuadir. A sua natureza intrínseca define-se,
portanto, por relação com a persuasão. Tradicionalmente, significa tanto a arte da
persuasão, como a disciplina que versa sobre essa arte. Inclui procedimentos não
dedutivos e é o objeto de estudo, por excelência, da lógica informal. E, por vezes, também
definida como arte oratória, da palavra ou de bem falar.

Uma das maiores contribuições de Aristóteles para a história da teoria da argumentação


foi, sem dúvida, ter chamado a atenção para o facto de a retórica ligar um orador (quem
fala?) e um auditório (a quem se dirige?) através do discurso (qual o argumento
apresentado?) - ethos, pathos e logos, respetivamente.
Ethos, pathos e logos são, segundo Aristóteles, três meios de persuasão criados e
preparados pelo orador:
Persuade-se pelo ethos (quem argumenta?) quando o discurso procura passar a
mensagem de o orador ser digno de confiança.
Persuade-se pelo pathos (a quem se dirige?) quando o discurso visa as paixões e
emoções do auditório.
Persuade-se pelo logos (qual o argumento apresentado?) quando a persuasão emerge da
forma e do conteúdo do discurso em si mesmo.

Finalmente é necessário sublinhar o papel fundamental que desempenha, em todo o


conjunto, a articulação dos três elementos destacados por Aristóteles como eixos centrais
da retórica, o logos, o pathos e o ethos. O sucesso de qualquer argumentação depende
sempre do modo como o discurso do orador (logos) tem em conta as disposições e
características do auditório (pathos) e consegue interferir com eles, mas também depende
da maneira como o orador revela ou expõe os seus traços de caráter mais pertinentes
(ethos). Não se trata aqui de privilegiar o ethos (...), o pathos (...) ou o logos, mas de
descobrir a sua complementaridade, que consiste numa articulação complexa.
Michel Meyer et ol. (2002), História da Retórica, Temas e Debates.

O que é e para que serve a persuasão?

O discurso argumentativo utiliza a arte de persuadir e convencer para alcançar a adesão


do auditório. Para que se atinja tal objetivo, importa dedicar uma especial atenção à forma
como a argumentação é estruturada, porque ela ter objetivos bem definidos.
A finalidade da argumentação, para o orador, é levar o público a aderir à tese apresentada,
expondo ideias ou opiniões organizadas e fundamentadas sobre um determinado assunto.
Para atingir esse propósito, é necessário ter conhecimento prévio das características do
auditório, no sentido de adaptar o discurso ao seu perfil: o tipo de linguagem a utilizar, os
exemplos a que recorrer, entre outros aspetos inerentes ao ato de comunicar.

Argumentar é fornecer argumentos, ou seja, razões a favor ou contra uma determinada


tese. Uma teoria da argumentação, na sua conceção moderna, vem assim retomar e ao
mesmo tempo renovar a retórica dos gregos e dos romanos, concebida como a arte de
bem falar, ou seja, a arte de falar de modo a persuadir e a convencer (...).
Toda a argumentação visa a adesão do auditório. As razões para admitir ou rejeitar uma
tese podem ser diversas. A verdade ou falsidade desta constituem unicamente um motivo
de adesão ou de rejeição no meio de tantos outros. Uma tese pode ser admitida ou
afastada porque é ou não oportuna, socialmente útil, justa e equilibrada.
Chaim Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca (1987), "Argumentação.
in Enciclopédia Einaudi, vol. 11, IN-CM.

O que é e para que serve a persuasão?


O discurso argumentativo deve fornecer argumentos, ou seja, razões a favor ou contra
uma determinada tese. Estes devem ser suficientemente fortes para conseguirem captar
a atenção e posterior adesão do auditório. A força argumentativa assenta na apresentação
de razões que sustentem e justifiquem uma tese. No domínio da argumentação, os
argumentos têm como objetivo convencer/persuadir os outros de forma racional e fazê-los
aderir a determinada tese, ou, pelo menos, admiti-la.
Nesta perspectiva, a intenção da persuasão é convencer o recetor a aceitar uma
determinada tese, sem que isso implique a intenção de o iludir, enganar ou prejudicar. A
persuasão apresenta argumentos, mas não limita o interlocutor na sua capacidade de os
pensar e avaliar, utilizando as suas competências cognitivas e comportamentais.
A argumentação informal (ou retórica) é, pois, algo radicalmente diferente da
demonstração (lógica formal). Enquanto a demonstração é definida como um processo
lógico-formal de derivação ou de prova, a argumentação informal tem um caráter dialógico:
implica uma resposta por parte do auditório (conjunto de todos aqueles que o orador quer
influenciar com a sua argumentação) e o confronto de pontos de vista. Por esta razão, a
argumentação informal é sempre necessariamente pessoal e situada. A demonstração,
pelo contrário, é um exercício racional, impessoal e isolado do contexto. Ao contrário da
argumentação informal, a demonstração não exige um auditório para ser concretizada ou
construída. É essencialmente cálculo: deduz de um modo constrigente conclusões a partir
de premissas segundo regras puramente formais.

A demonstração designa uma operação mental que estabelece dedutivamente a verdade


de uma proposição; assim, em álgebra e em geometria o desenvolvimento lógico faz-se
por via puramente demonstrativa: trata-se de ligar uma proposição a outras proposições,
organizando-as num conjunto, através de uma relação necessária.
A argumentação define se, pelo contrário, por oposição à demonstração, como um
conjunto de processos oratórios realizados a fim de fazer admitir uma tese. Visa obter a
adesão dos espíritos daqueles a quem se dirige. Enquanto uma demonstração possui em
si mesma evidência e necessidade, a argumentação refere-se ao verosimil e opera tendo
em vista um determinado auditório.
Jacqueline RUss (1992), Les Méthodes en Philosophie, Armond Colin (adaptado).

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