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Compreender a diferença entre língua, linguagem e fala de forma a definir a língua como o conjunto de
palavras organizadas através de regras gramaticais específicas;
Identificar o processo de comunicação como um interativo entre sujeitos – emissor e receptor – situados
histórica e culturalmente de forma a diferenciar a comunicação humana como específica estabelecida
através de um conjunto de sinais e respectivas regras de diferentes níveis que servem de instrumentos
de comunicação;
Diferenciar a linguagem oral da escrita como modalidades distintas, cada qual com características
específicas;
Caracterizar a linguagem jurídica em sua particularidade técnica e científica própria com estilo e lógica
que permite não ser apenas informativa, mas expressa termos de distintas significações e sentidos que
se inter-relacionam com vistas à persuasão;
Compreender o vocábulo jurídico como um conjunto de termos que devem ser utilizados de maneira
adequada, usando-se corretamente as figuras de linguagem quando forem necessárias, evitando
ambiguidades e/ou vaguezas de forma a garantir a prestação de um serviço eficaz.
1 INTRODUÇÃO
A linguagem é o instrumento que garante ao ser humano estabelecer diálogo com seu semelhante ao
mesmo tempo que confere sentido à realidade e a seu agir. Através da linguagem nomeamos coisas e
fatos, além de organizarmos nosso pensamento sobre nosso mundo existencial.
Desde a infância, o ser humano se comunica através das distintas formas de linguagem – choro, sons,
olhares e gestos – que é compreendida por nossos familiares. Aos poucos, adquirindo a cultura do meio
em que vivemos, vamos adquirindo a linguagem através dos signos, e assim, é estabelecida a relação
entre um significante e um significado.
Variando os níveis de linguagem, desde a coloquial e informal até a mais sofisticada e culta, podemos
utilizar as modalidades oral e escrita como “recursos” expressivos de acordo com a oportunidade e
necessidade persuasiva.
Embora no cotidiano os termos linguagem, língua e fala sejam utilizados sem rígida distinção são
expressões que não podem ser confundidas. Apesar de serem conceitos relacionados entre si revelam
aspectos diferentes da comunicação humana estudados pela linguística. A linguística é definida como
campo do conhecimento que estuda a linguagem verbal humana que, com base em teorias e estudos
específicos, possibilita compreender as transformações das línguas e seus desdobramentos em distintos
idiomas. Ainda, também tem a preocupação de analisar a estrutura das palavras, expressões e a
particularidade fonética de cada idioma.
A linguística se ocupa de discussões e definições que, em geral, não são preocupações dos “seres
humanos falantes”. Seguramente, poucos se preocupariam em conhecer a origem e evolução da língua
que utilizam, bem como a classe gramatical das palavras e sua função no contexto da oração ou frase.
Isso porque a língua e a linguagem são atividades próprias da natureza humana e qualquer indivíduo
tem a habilidade de compreender sua língua quando em diálogo com outro ser falante “naturalizando”
o processo comunicativo.
Na linguística são encontradas inúmeras distinções entre língua e linguagem, já que essa discussão é
uma constante nessa área do conhecimento e não é uma tarefa fácil.
Desde o início é importante salientar que o termo “linguagem”, como melhor veremos mais adiante, é
relacionado a fenômenos bastante diversos. Além de referir-se a uma capacidade humana, é utilizado
para compor expressões como “linguagem corporal”, “linguagem literária”, “linguagem jurídica”, dentre
outras. Porém, em termos gerais linguagem é definida como instrumento de comunicação e, desde tal
concepção, a língua é entendida como um “código” através do qual se estabelece a comunicação entre
um emissor (aquele que codifica) e um receptor (aquele que decodifica). É o que se conhece como
esquema ou processo comunicativo que envolve diferentes elementos, quais sejam:
Emissor: também chamado de locutor ou remetente. É aquele que emite a mensagem para um ou mais
receptores, o que comunica, que solicita ou que expressa algo.
Receptor: conhecido por interlocutor, destinatário ou ouvinte. É aquele que recebe a mensagem emitida
pelo emissor.
Mensagem: é o conteúdo ou conjunto de informações transmitidas pelo emissor. Pode ser um texto
verbal (uso de palavra oral ou escrita) ou não (corporal, gestos ou sinais).
Código: é o conjunto de signos utilizados na mensagem que são comuns tanto para o emissor como para
o receptor.
Canal de comunicação: meio utilizado para a transmissão da mensagem, tais como: televisão, revista,
meios virtuais etc.
Contexto: podendo ser chamado também de referente. É a situação comunicativa que emissor e
receptor estão inseridos.
Ruídos na comunicação: ocorre quando a mensagem não é decodificada de forma correta pelo
interlocutor, causados por diversos fatores, tais como: código utilizado pelo locutor desconhecido pelo
interlocutor; barulho no local; tom de voz do locutor etc.
ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO
3. Canal: É o meio pelo qual a mensagem é transmitida, como voz, texto, imagem, etc.
7. Feedback: A resposta ou reação do receptor à mensagem, que pode ser crucial para a eficácia da
comunicação.
8. Ruído: Qualquer interferência ou obstáculo que possa perturbar a transmissão ou a
compreensão da mensagem.
Estes elementos interagem para facilitar a comunicação eficaz entre as partes envolvidas.
Nesse processo de comunicação há um componente relevante a ser acrescentado: a cultura. Não basta
apenas que o emissor e receptor partilharem o mesmo código para haver uma comunicação eficiente. É
também necessário que pertençam a meios ou tradições culturais semelhantes ou comuns, uma vez que
os códigos linguísticos não são homogêneos para indivíduos que falam a mesma língua, nem tampouco a
mesma competência linguística.
A linguagem é também uma interação entre sujeitos históricos e culturais que utilizam a linguagem para
agirem e transformarem seu meio social. Essa concepção é aceita pelo moderno conceito de linguagem
e é importante na análise do discurso e na argumentação. Nesse sentido, nos explica Mikhail Bakhtin
(2006, p. 72):
[...] para observar o fenômeno da linguagem, é preciso situar os sujeitos – emissor e receptor ao som –,
bem como o próprio som, no meio social. Com efeito, é indispensável que o locutor e o ouvinte
pertençam à mesma comunidade linguística, a uma sociedade organizada. E mais, é indispensável que
estes dois indivíduos estejam integrados na unicidade da situação social imediata, quer dizer, que
tenham relação de pessoa para pessoa sobre terreno bem definido.
Apesar da dificuldade em reduzir os termos linguagem a um único conceito, é possível afirmar que é um
sistema de sinais complexo utilizado pelo ser humano para exprimir e transmitir ideias e pensamentos.
Atualmente, considera-se a linguagem como ação, como atividade que permite a um determinado
grupo social a prática de diversos atos que exige do semelhante reações, comportamentos e vínculos.
Há que se frisar que a comunicação não é exclusiva de seres humanos, existindo também entre os
animais não humanos. Mas embora tendo a capacidade comunicativa através de linguagem própria, os
animais não humanos não desenvolvem a língua. Apesar de ser complexa em algumas espécies, a
comunicação natural dos animais não humanos é muito diferente por utilizar uma linguagem natural
como cheiro, toque, movimento, sinais visuais e faciais. A linguagem são sinais adquiridos
genericamente ou ensinado pela vida em grupo servindo para procriação, afastar inimigos, como forma
de submissão etc. Embora demonstrando possuir raciocínio analítico e capacidade de emitir sons e
pronunciar palavras, não elaboram cultura e, ao que parece, a linguagem é limitada e sem capacidade
de combinar e aprimorar informações.
A linguagem sempre estará presente no processo comunicativo, tornando possível a relação entre os
comunicadores. Tradicionalmente é definida como um sistema de sinais utilizados pelos seres humanos
desde os tempos mais remotos para exprimir e transmitir ideias e pensamentos. Muitas foram as formas
de linguagem utilizadas pelo ser humano ao longo da história, desde sistemas de sinais, como gestos e
gritos até a fala e meios técnicos sofisticados como nos dias de hoje.
1. Linguagem gestual: Acredita-se que a comunicação humana começou com gestos e sinais, que eram
usados para transmitir informações básicas.
2. Desenvolvimento da linguagem falada: A transição para a comunicação vocal é um marco importante
na evolução. Isso permitiu a transmissão de informações mais complexas e abstratas.
A Evolução da Comunicação
O homem começou a sentir a necessidade de se comunicar desde que começou a viver em sociedade,
fosse para alertar sobre alguma coisa ou expressar sua cultura ou sentimento. Ao longo dos tempos, a
comunicação evoluiu paralelamente com o homem até hoje. A evolução da comunicação pode-se dividir
em duas partes: Pré-História e História. Pré-História é toda a forma de civilização anterior à invenção da
escrita. O surgimento da escrita marca o início da História.
Foi quando o homem começa a dominar a natureza, fabricar utensílios, usar trajes para se proteger do
frio, usar o fogo e, dentre outras coisas, desenvolver a linguagem para se comunicar. Nesse processo,
inicia-se o que hoje conhecemos como pinturas rupestres, ou seja, desenhos feitos em cavernas ou
pedras para conseguir se expressar.
O homem passou a viver em grupos maiores, as habitações passaram de cavernas a casas construídas
por ele próprio, os trajes eram feitos por tear, e a comunicação passou a ser expressa através da técnica
de gravar o cotidiano em ossos, pedras e madeiras, assim como apareceu a modelagem em argila.
É assim denominada porque o homem começou a utilizar cobre, ferro e bronze no seu dia a dia; as
civilizações viram centros urbanos e o homem descobre a importância de se desenvolver perto de rios.
Os seus meios de locomoção também se desenvolvem, porém, o meio de comunicação continua o
mesmo. A transição da Pré-história para a História se dá no final da Idade dos Metais, que foi por volta
de 4.000 a.C. Os historiadores aceitam como certo o aparecimento da escrita na Mesopotâmia e no
Egito. Agora, chegamos à História que é assim denominada, pois nessa Era temos arquivos que registram
e datam os acontecimentos. Através dessa época é que temos uma real noção de como o homem vivia e
se comunicava, o que pensava e o que sentia em relação ao mundo ao seu redor. Se o surgimento da
escrita marca o início da história, a invenção da técnica de imprimir ilustrações, símbolos e a própria
escrita promove a possibilidade de tornar a informação acessível a um número cada vez mais crescente
de pessoas, alterando assim, o modo de viver e de pensar de uma sociedade.
É a linguagem atividade ou ação que possibilita a interação entre os membros de um grupo social para a
prática de diversos e distintos atos que exigem reações e/ou comportamentos que estabeleçam vínculos
entre os indivíduos. É constituída por um conjunto de sinais e respectivas regras que estabelecem
combinação entre eles e utilizada como instrumento de comunicação.
Podemos afirmar, em síntese, que linguagem é todo sistema de sinais convencionais através dos quais
os sujeitos interagem uns com outros. São inúmeras as formas de linguagem. Exemplo: linguagem
corporal, linguagem falada, linguagem da informática etc. É importante destacar que de acordo com o
sistema de sinais que se utiliza, a linguagem é classificada em:
Linguagem verbal: é aquela que utiliza as palavras para a comunicação. O termo “verbal” é de origem
latina “verbale”, vem de “verbu” que significa “palavra”. Essa é a maneira mais convencional de
linguagem utilizada por ser momentânea e pode transmitir ideias e pensamentos de qualquer nível de
complexidade. Podemos classificar a linguagem verbal em dois tipos:
◦ Escrita: essa maneira de se comunicar verbalmente é utilizada, em geral, quando o receptor não está
presente na conversa e, na maioria das vezes, a interação não é momentânea.
◦ Oral: diferente da escrita, em sua maioria, apresenta a interação imediata. Ela pode ocorrer
independente do fato de o interlocutor estar no mesmo local, como é o caso de uma conversa por
telefone. Para uma boa comunicação oral é preciso estar atento à naturalidade e à objetividade da
mensagem.
Linguagem não verbal: é aquela que utiliza qualquer outro tipo de sinal como gestos, sons, imagens etc.
Por exemplo: quando alguém, por alguma razão, não tem ou perde a capacidade de fala, utiliza
linguagem não verbal.
Linguagem mista: é quando ocorre uma mescla entre a linguagem verbal e a não verbal, utilizando
simultaneamente palavras e sinais (ou outros códigos) para comunicar uma mensagem ao interlocutor.
Por exemplo: quando chamamos alguém pelo nome ou concordamos com um “sim” ao mesmo tempo
que movimentamos a cabeça com sinal positivo.
É comum utilizarmos a combinação da linguagem verbal e não verbal, do tipo mista. Nos dias de hoje,
utilizamos mensagens via internet com palavras (mensagem verbal) e com emojis (linguagem não
verbal). Você já notou isso?
A língua é a linguagem que utiliza a palavra como sinal de comunicação, sendo assim, um aspecto de
linguagem. Para Terra (2018, p. 13), em geral, define-se a “língua como um sistema de natureza
gramatical, que pertence a um grupo de indivíduos, formado por um conjunto de sinais (o léxico) e por
um conjunto de regras para a combinação (gramática em sentido amplo)”. A língua é uma construção
social de caráter abstrato que se concretiza através da fala, que é um ato individual de vontade e
inteligência.
Para Ferdinand de Saussure (1972, p. 27) há uma clara distinção entre língua e fala:
[...] esses dois tipos objetos (língua e fala) estão estreitamente ligados e se implicam mutuamente: a
língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta é necessária
para que a língua se estabeleça; historicamente o fato da fala vem sempre antes [...] Existe, pois,
interdependência da língua e da fala; aquela é ao mesmo tempo o instrumento e produto desta. Tudo
isso, porém não impede que sejam duas coisas absolutamente distintas.
A língua, portanto, é uma construção sociocultural que existe independente do comunicador. Ao
nascermos, a língua já está formada e partilhada pelo grupo humano e subsistirá independente de nossa
existência. Em geral, em todas sociedades, a escrita é posterior à língua e não é raro que se faça uso da
língua sem que se saiba utilizar sua escrita.
O que é uma sociedade ágrafa? Sociedade ágrafa é aquela que não desenvolveu por si mesma um
sistema próprio de escritura. Exemplo: os Incas foram uma civilização avançada, mas nunca tiveram uma
escritura; eram ágrafos. Como se registra a história de uma sociedade ágrafa, já que a escrita é uma das
mais conhecidas fontes histórias?
Com a colaboração de outras ciências, como antropologia, arqueologia e paleontologia, novos materiais
passaram a servir de indícios do passado de um povo: imagens, relatos orais, vestígios, artefatos, ossos,
armas, fotografias, músicas, construções e outros objetos. Essas podem ser tão importantes quanto a
escrita no processo de resgate do passado de uma civilização ou comunidade.
Sendo assim, sabendo que as sociedades ágrafas ou que fazem parte da história antiga não possuíam
recursos como fotografias, músicas e outras fontes mais modernas, para estudarmos essas sociedades,
utilizamos as fontes materiais, que são os vestígios materiais. Sinais que o homem deixa pelos lugares
por onde passa, que podem ser vistos em vários sítios arqueológicos abertos à visitação pública ou em
museus especializados. Exemplos: cerâmicas com elementos femininos, pedras talhadas e polidas,
fósseis, ruínas, entre outros.
A língua é o elemento que possibilita a interação entre os indivíduos em um determinado grupo social
que torna os signos realidade através da associação entre significantes sonoros e significados. É um
fenômeno de grande diversidade e complexidade cujas forças que lhe dão dinâmica são inúmeras, tais
como os meios de comunicação em massa.
3 FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Segundo a utilização da linguagem pelo comunicador ou falante, a linguagem possui diferentes funções
que dependem dos elementos utilizados na comunicação, ou seja, do emissor, receptor, mensagem,
código, canal e contexto. As combinações desses elementos determinam o objetivo do ato
comunicativo. De acordo com Petri (2017), as funções da linguagem podem ser classificadas em: função
referencial, função emotiva, função conotativa, função poética e função metalinguística, cada qual
possuindo características bastante particulares. Veja a seguir:
Exemplo: Na linguagem jurídica, tem-se função referencial, por exemplo, em uma qualificação de
parte. Observe a objetividade do texto.
João Paulo de Souza Filho, brasileiro, casado, comerciante, portador do documento de identidade RG n°
123.456.78-910, inscrito no CPF sob n° 109.876.543-21, com endereço eletrônico jpsilva@marte.com.br,
domiciliado e residente na Rua: Das Flores n° 67, Bairro Oliveira, São Caetano do Sul, SP. CEP: 89.056-
240, nesta Comarca onde recebe intimações, vem respeitosamente ante Vossa Excelência propor:
FONTE: A autora
Função Emotiva ou Expressiva: essa função traz as emoções do emissor e é também chamada de função
expressiva e tem como objetivo principal transmitir suas emoções, sentimentos e subjetividades por
meio da própria opinião. É o tipo de função que explicita, que evidencia, as opiniões e emoções de quem
escreve a mensagem, por isso é escrito em primeira pessoa e está voltado para o emissor, porque possui
um caráter pessoal. Como exemplos temos: os textos poéticos, as cartas, os diários. Em geral são textos
marcados pelo uso de sinais de pontuação, por exemplo, reticências, ponto de exclamação etc., a fim de
dar ênfase à mensagem transmitida (PETRI, 2017).
“Há crimes, na verdade, de elevada gravidade, que, por si só, justificam a prisão, mesmo sem que se
vislumbre risco ou perspectiva de reiteração criminosa. E, por aqui, todos haverão de concordar que o
delito de que se trata, por sua gravidade e característica chocante, teve incomum repercussão, causou
intensa indignação e gerou na população incontrolável e ansiosa expectativa de uma justa
contraprestação jurisdicional. A prevenção ao crime exige que a comunidade respeite a lei e a Justiça,
delitos havendo, tal como o imputado aos pacientes, cuja gravidade concreta gera abalo tão profundo
naquele sentimento, que para o restabelecimento da confiança no império da lei e da Justiça exige uma
imediata reação. A falta dela mina essa confiança e serve de estímulo à prática de novas infrações, não
sendo razoável, por isso, que acusados por crimes brutais permaneçam livre, sujeitos a uma
consequência remota e incerta, como se nada tivessem feito” (grifo nosso).
Exemplo: Na linguagem jurídica, encontra-se a função apelativa nas alegações finais. Destaca-se, a
seguir, trecho com função apelativa.
FONTE: https://sites.google.com/site/wwwcostalinsadvogadoscombr/a-151.
Função Poética: essa função tem como objetivo enfatizar a mensagem, ressaltando a maneira como ela
é estruturada para dar destaque ao seu significado. Ao escolher a função poética, a preocupação é
muito mais com as rimas, que pode ser tanto em prosa como em verso, com a estrutura e com a
imagem do que com as palavras em si. O texto não é objetivo e transmite pouca informação (PETRI,
2017).
Exemplo: Embora sendo raro no campo jurídico pode-se encontrar peças processuais em forma
de versos, como a sentença prolatada nos Autos do Processo n° 0301112-67.2017.805.0244 (Restituição
de Coisa Apreendida) pela Vara Criminal da Comarca de Senhor do Bonfim (Tribunal de Justiça do Estado
da Bahia).
Não sei quem é o proprietário/ Mas, o possuidor do melhor documento (fls. 62)/ É presumido o
signatário/ Dono daquele instrumento/ Ficando com o direito/ De recebê-la no peito como fiel
depositário/ Não decido por decidir/ Mas, por a lei me permitir (art. 120, § 4°, CPP)/ Colocar em suas
mãos/ Que outrora foi tirada, do povo e dos cidadãos/ Sem piedade e compaixão/ Aquela sanfona velha
que imortalizou Gonzagão/ Nilvado o direito é seu, como fiel depositário/ Visto o seu opositor não ter
provado o contrário/ Até que se finde a contenda/ Delegado me atenda/ Como da outra vez foi buscar/
A bela sanfona do povo, vá agora entregar/ E para finalizar/ Hei por bem declarar/ Que fui competente
para buscar/ Sou também para entregar/ Cumpra-se, sem titubear!
FONTE: https://migalhas.uol.com.br/arquivos/2018/3/art20180326-09.pdf.
Exemplo: No caso jurídico, a metalinguagem é utilizada para definir conceitos jurídicos, por
exemplo, o Conceito de Crime previsto no artigo 1° do Decreto-Lei n° 3.914/1941 (BRASIL, 1941):
QUADRO 5 – FUNÇÃO METALINGUÍSTICA
Considera-se crime a infração penal a que a Lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração
penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou de ambas, alternativa ou
cumulativamente.
4 NÍVEIS DE LINGUAGEM
Você já deve ter percebido que são inúmeras as variações linguísticas de um idioma como resultado de
contínuas e dinâmicas relações comunicativas de um determinado grupo social. O Brasil, por exemplo, é
um país com imensa variedade de línguas. Somos o oitavo país com maior número de línguas em uso,
sendo a maioria das comunidades indígenas. São 190 línguas indígenas que atualmente estão em perigo
de extinção. O Brasil, além dos diferentes sotaques regionais, é um país multilíngue.
Portanto, somos parte de um país com uma população de mais de 210 milhões de indivíduos
distribuídos em um território de proporções continentais, com forte influência de povos indígenas e
distintas ramificações estrangeiras de origem africana, europeia e norte-americana, cada qual
contribuindo historicamente para uso e desuso de termos e a criação de expressões linguísticas.
Ao longo do tempo, nossa língua sofreu mudanças constantes. Por exemplo, a palavra “Você”;
antigamente era “Vossa Mercê”, que se transformou sucessivamente em “Vossemecê”, “Vosmecê”,
“Vancê” e, com o passar do tempo, foi sendo modificada, por populações, culturas, povos diferenciados.
Assim, vamos nos dando conta de que é comum nos depararmos com linguajares diversificados de uma
região à outra, o que vai contribuindo de maneira significativa para a complexidade de nosso idioma.
Mas como unificar essa grande variedade linguística? Isso é possível? A escola é o centro de referência
para o ensino da língua vernácula, a língua “pura” sem “estrangeirismos”, a chamada linguagem culta,
sem elementos descaracterizadores, constituída por normas gramaticais. Entretanto, há uma
permanente dicotomia entre a norma culta e o universo linguístico dos indivíduos, em que o
falar/escrever “certo” sobrepõe-se às variantes linguísticas. Há um “falar brasileiro” que é um modo de
se utilizar a língua portuguesa, que é a língua nacional, com enormes variedades linguísticas.
Haveria uma forma “certa” para uso da língua? Para Marcos Bagno (2007), a língua é um enorme
iceberg que flutua no mar do tempo e a gramática normativa é a tentativa de descrever apenas uma
parcela mais visível, que é a chamada “língua culta”. Mas, esta é parcial e não pode ser aplicada a todo
resto da língua, sob o risco de ser reproduzido um tipo de preconceito comum na sociedade brasileira: o
preconceito linguístico.
Superar o preconceito linguístico é um enorme desafio porque são muitos os aspectos comunicativos de
nosso idioma. Desde o espaço físico, no qual interagimos, que é um campo de atividade social de grande
importância quando se refere à atuação linguística que, por natureza, se concretiza no terreno
geográfico onde suas qualidades geológicas e produtivas influenciam significativamente em nossa
maneira de se comunicar, de se comportar, de agir, de viver (SANTOS, 2018). Em região de floresta
densa, por exemplo, a linguagem local/regional será repleta de termos que se referem às
especificidades da natureza local, por exemplo, a palavra “buriti” – do tupi-guarani: mbur = alimento; iti
= árvore alta; = árvore alta de alimento ou de vida.
Ainda, conforme as relações sociais vão se desenvolvendo vão sendo criadas novas palavras e
expressões que condizem com a necessidade de nomear novos bens de consumo e entretenimento. Um
exemplo é o estrangeirismo que atribui valores linguísticos a produtos e bens de serviço através da
língua do país de origem, como é o caso de internet, pendrive, hot-dog, videogame, shampoo etc.
Portanto, as diferenças sociais não podem servir de condição para que os indivíduos sejam considerados
aptos a exercerem a comunicação “certa ou errada”. Na verdade, são adequações e conformidades da
língua estabelecidas que não podem excluir indivíduos, mas contribuir para coesão e coerência em
momento que necessitam de maior ou menor dedicação de atenção.
A escolarização pode levar a pensar que a linguagem correta é a linguagem escrita, que é, por natureza,
lógica, clara, explícita, ao passo que a linguagem falada é mais confusa, incompleta, sem lógica etc. Essa
percepção é equivocada. A fala tem elementos contextuais e pragmáticos que a escrita pode revelar, e,
por outro lado, a escrita tem elementos que a linguagem oral não utiliza.
Utiliza-se a expressão “linguagem culta” para designar uma variedade linguística representada pelas
pessoas de alta escolarização formal e com acesso à cultura letrada. Linguagem de nível culto é aquela
considerada ideologicamente como “certa” e é definida como aquela que o grupo social atribui valor
distinto da linguagem popular que é aquela que se constrói nas múltiplas relações comunicativas entre
os indivíduos de diferentes espaços e vivências sociais. É aquela que tende a ser coloquial e, muitas
vezes, é responsável pelo surgimento de termos comuns como gírias, jargões e figuras de linguagem,
dentre outras manifestações e expressões linguísticas.
LINGUAGEM CULTA E LINGUAGEM COLOQUIAL
A linguagem culta e a linguagem coloquial são duas formas de comunicação que diferem em estilo,
registro e contexto de uso. Aqui estão algumas das principais diferenças entre elas:
**Linguagem Culta:**
2. **Vocabulário:** Utiliza um vocabulário mais amplo e rico, com palavras menos comuns e mais
específicas. Pode incluir termos técnicos e estrangeirismos, dependendo do contexto.
4. **Estilo:** O estilo da linguagem culta é mais elaborado, com frases longas e complexas, e evita
o uso de gírias e expressões coloquiais.
**Linguagem Coloquial:**
2. **Vocabulário:** Usa um vocabulário mais simples e cotidiano, com palavras comuns e gírias
que variam de acordo com a região e a cultura.
4. **Estilo:** O estilo é mais direto e descomplicado, com frases curtas e expressões familiares.
É importante ressaltar que ambas as formas de linguagem têm seu lugar e são apropriadas em
diferentes contextos. A escolha entre linguagem culta e coloquial depende do ambiente e da audiência
com os quais você está se comunicando.
A linguagem comporta duas modalidades distintas e bastante utilizadas: a linguagem oral e a linguagem
escrita. São formas diferentes tanto em “recursos expressivos” como gramaticalmente. Não há dúvida
de que a linguagem falada é o primeiro e mais importante meio de comunicação. Não é sem razão que o
ser humano é considerado um “animal que fala”.
Como adiante veremos, sob o ponto de vista argumentativo, a comunicação oral possui vantagens em
relação à escrita, apesar de algumas desvantagens também. Usando a oralidade é possível mais
agilidade e interação comunicativa, além de outras formas de linguagem, como a corporal, o que
garante mais eficácia da comunicação.
Ao estarmos presencialmente com nosso interlocutor podemos estar mais atentos à reação dos que nos
ouvem e sendo possível “moldar” ou reorientar a linha argumentativa de acordo com a interação com
os receptores. Gestos ou postura corporal podem indicar necessidade de reformular ou reforçar a
argumentação a fim de persuadir o público-alvo.
A linguagem oral ou a “palavra falada” possui relevância e validade no campo jurídico produzindo
efeitos, como veremos. Imagine, por exemplo, uma situação em que ocorreu grave ofensa verbal a
alguém que pleiteia danos morais em juízo. Como produzir prova se não há documento escrito para
produzir o convencimento do magistrado? É possível provar o alegado através de prova testemunhal,
audiovisuais, depoimento pessoal do ofendido etc.
Outro exemplo jurídico em que a oralidade é relevante é o caso do artigo 107 do Código Civil que
afirma: A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei
expressamente a exigir (BRASIL, 2002). Observe que, neste caso, a forma dos negócios jurídicos é livre,
podendo, sem prejuízo de sua validade, ser celebrada verbalmente.
Evidentemente, a escrita representa maior segurança jurídica porque fica o registro de um ato ou um
fato com relevância na vida social e jurídica. Mas, a informalidade da palavra falada permite mais
agilidade nas revisões e possibilidade de persuasão.
1. É mais abrangente uma vez que mesmo pessoas não alfabetizadas, mas que conheçam o
código, são capazes de se comunicar, usando essa modalidade;
2- Faz uso de recursos da linguagem não verbal como gestos, olhares, etc.;
4- Maior interação entre emissor e receptor uma vez que estão “face a face”;
Portanto, no uso da linguagem oral é comum que o emissor utilize recursos que permite ao receptor
sentir-se participante ativo da comunicação. A informalidade, típica da linguagem oral, pelo desapego
gramatical e forma de interação possibilita agilidade na comunicação e, em alguns casos, dependendo
da competência e habilidade do comunicador, maior convencimento.
A linguagem escrita, historicamente, posterior à oral em todas as culturas, estima-se que teve sua
origem na antiga Mesopotâmia, há cerca de 5.000 anos por meio da chamada escrita cuneiforme, dado
a seu formato em forma de “cunha” e também no Egito antigo, por meio dos hieróglifos.
Sem dúvida, a escrita foi um grande marco para o desenvolvimento da humanidade, permitindo, entre
outras coisas, o acúmulo e aprimoramento do conhecimento. Portanto, a escrita não é apenas uma
questão de mero registro de saberes, sentimentos, ideias e culturas, mas representa a possibilidade de
agregar conhecimento, o que permitiu o avanço da ciência.
Com o tempo, esses sistemas evoluíram para escritas mais simplificadas, como o alfabeto fenício, que
consistia em caracteres representando sons consonantais. O alfabeto fenício influenciou o
desenvolvimento de muitos sistemas de escrita, incluindo o grego e o latino.
A evolução da escrita continuou com a invenção da prensa de tipos móveis por Gutenberg no século XV,
que permitiu a produção em massa de livros e documentos. Desde então, a escrita passou por várias
revoluções, como a escrita digital e a disseminação da internet, que transformaram a maneira como
comunicamos e registramos informações.
ESCRITA CUNEIFORME / ESCRITA HIEROGLÍFICA DOS EGÍPCIOS
Por outro lado, a escrita hieroglífica dos egípcios era um sistema de escrita utilizado no Egito Antigo. Ela
era composta por imagens e símbolos, muitos dos quais representavam objetos e conceitos do
cotidiano. Os hieróglifos eram frequentemente inscritos em monumentos e tumbas. Além dos
hieróglifos, os egípcios também utilizavam sistemas de escrita mais simplificados, como o hierático e o
demótico, para fins cotidianos.
Sob o ponto de vista argumentativo, a linguagem escrita possui a vantagem de ser produzida antes de
ser apresentada ao receptor, o que permite planejar com cuidado a produção textual, escolher o nível
de linguagem a ser utilizado e rever antecipadamente antes de sua exposição.
Por outro lado, não há interação imediata com o receptor não havendo a possibilidade de correção ou
esclarecimento caso a mensagem não seja bem compreendida, uma vez que, em regra geral, a leitura do
texto não é feita na presença do escritor.
Assim, a escrita de um texto exige clareza, coerência e coesão na exposição das ideias e enunciados de
forma a afastar obscuridades ou lacunas. Um texto jurídico, por exemplo, exige a verificação cuidadosa
de sua objetividade e compreensão, uma vez que ao ser, as peças processuais são lidas e consideradas
pelo magistrado sem a presença do peticionário.
O inverso também é verdadeiro. Uma decisão judicial também deve ser clara e perfeitamente
compreensível pela parte e seu advogado. Tanto assim é que há como recurso os chamados embargos
de declaração ou embargos declaratórios, que são utilizados em processos judiciais para pedir que o
magistrado esclareça a decisão por ela dada. Tal recurso está previsto no artigo 1022 do Código de
Processo Civil (BRASIL, 2015, s.p.):
Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para:
II- Suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a
requerimento;
Considera-se obscuridade quando a decisão não é feita de maneira clara e objetiva, faltando clareza na
decisão, o que pode fazer com que ela não seja bem compreendida. A contradição se aplica quando a
decisão apresentar pontos que não estejam de acordo entre si ou se a conclusão não for compatível
com a fundamentação legal da sentença. Por outras palavras, quando o que foi dito na sentença não
está de acordo com a lei usada para o caso em apreço. A omissão pode acontecer de duas maneiras. No
primeiro caso, o juiz pode deixar de analisar alguma questão que foi apontada por uma das partes do
processo. No segundo caso, o juiz não decide sobre fatos que ele tem o dever de se decidir.
Portanto, o jurista deve ter muito cuidado na elaboração de um texto, em razão de que, apesar dos
modernos e ágeis meios virtuais de comunicação, no campo jurídico, a maioria dos atos processuais se
realiza por meio da escrita: petições, atas, documentos, certidões, mandados, laudos, despachos,
sentenças, acórdãos etc., apesar de a comunicação oral ser bastante presente na seara jurídica, por
segurança jurídica os atos praticados devem ser devidamente registrados a fim de serem consultados a
qualquer momento.
1- É menos abrangente uma vez que apenas pessoas alfabetizadas podem fazer uso dela;
5- Há a possibilidade de correção;