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Na origem de toda a atividade comunicativa do ser humano, está a linguagem, que é a capacidade
de se comunicar por meio de uma língua. Língua é um sistema de signos convencionais usados
pelos membros de uma mesma comunidade. Em outras palavras: um grupo social convenciona e
utiliza um conjunto organizado de elementos representativos.

Um signo lingúístico é um elemento representativo que apresenta dois aspectos: um significante e


um significado, unidos num todo indissolúvel. Ao ouvir a palavra árvore, você reconhece os sons
que a formam. Esses sons se identificam com a lembrança deles que esta presente em sua
memória. Essa lembrança constitui uma verdadeira imagem sonora, armazenada em seu cérebro -
é o significante do signo árvore. Ao ouvir essa palavra, você logo pensa num "vegetal lenhoso cujo
caule, chamado tronco, só se ramifica bem acima do nível do solo, ao contrário do arbusto, que
exibe ramos desde junto ao solo". Esse conceito, que não se refere a um vegetal particular, mas
engloba uma ampla gama de vegetais, é o significado do signo árvore - e também se encontra
armazenado em seu cérebro.

Ao empregar os signos que formam a nossa língua, você deve obedecer a certas regras de
organização que a própria língua lhe oferece. Assim, por exemplo, é perfeitamente possível
antepor-se ao signo árvore o signo uma, formando a seqüência "uma árvore". Já a sequência "um
árvore" contraria uma regra de organização da língua portuguesa, o que faz com que a rejeitemos.
Perceba, pois, que os signos que constituem a língua obedecem a padrões determinados de
organização. O conhecimento de uma língua engloba não apenas a identificação de seus signos,
mas também o uso adequado de suas regras combinatórias.

Como a língua é um patrimônio social, tanto os signos como as formas de combiná-los são
conhecidos e acatados pelos membros da comunidade que a emprega. Individualmente, cada
pessoa pode utilizar a língua de seu grupo social de uma maneira particular, personalizada,
desenvolvendo assim a fala (não confunda com o ato de falar; ao escrever de forma pessoal e
única você também manifesta a sua fala, no sentido científico do termo). Por mais original e criativa
que seja, no entanto, sua fala deve estar contida no conjunto mais amplo que é a língua
portuguesa; caso contrário, você estará deixando de empregar a nossa língua e não será mais
compreendido pelos membros da nossa comunidade.

Estudar a língua portuguesa é tornar-se apto a utilizá-la com eficiência na produção e interpretação
dos textos com que se organiza nossa vida social. Por meio desses estudos, amplia-se o exercício
de nossa sociabilidade - e, consequentemente, de nossa cidadania, que passa a ser mais lúcida.
Ampliam-se também as possibilidades de fruição dos textos, seja pelo simples prazer de saber
produzi-los de forma bem-feita, seja pela leitura mais sensível e inteligente dos textos literários.
Conhecer bem a língua em que se vive e pensa é investir no ser humano que você é.
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Língua: UNIDADE E VARIEDADE.

Vários fatores podem originar variações linguísticas:

a) geográficos - há variações entre as formas que a língua portuguesa assume nas diferentes
regiões em que é falada. Basta pensar nas evidentes diferenças entre o modo de falar de um
lisboeta e de um carioca, por exemplo, ou na expressão de um gaúcho em contraste com a de um
mineiro. Essas variações regionais constituem os falares e os dialetos.

b) sociais - o português empregado pelas pessoas que têm acesso à escola e aos meios de
instrução difere do português empregado pelas pessoas privadas de escolaridade. Algumas
classes sociais, assim, dominam uma forma de língua que goza de prestígio, enquanto outras são
vitimas de preconceito por empregarem formas de língua menos prestigiadas. Cria-se, dessa
maneira, uma modalidade de língua - a norma culta -, que deve ser adquirida durante a vida
escolar e cujo domínio é solicitado como forma de ascensão profissional e social. O idioma é,
portanto, um instrumento de dominação e discriminação social. Também são socialmente
condicionadas certas formas de língua que alguns grupos desenvolvem a fim de evitar a
compreensão por parte daqueles que não fazem parte do grupo.

O emprego dessas formas de língua proporciona o reconhecimento facil dos integrantes de uma
comunidade restrita, seja um grupo de estudantes, seja uma quadrilha de contrabandistas. Assim
se formam as gírias, variantes lingüísticas sujeitas a contínuas transformações.

c) profissionais - o exercício de algumas atividades requer o domínio de certas formas de língua


chamadas línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, essas variantes têm seu uso
praticamente restrito ao intercâmbio técnico de engenheiros, médicos, químicos, lingüistas e outros
especialistas.

d) situacionais - em diferentes situações comunicativas, um mesmo indivíduo emprega diferentes


formas de língua. Basta pensar nas atitudes que assumimos em situações formais (por exemplo,
um discurso numa solenidade de formatura e em situações informais (uma conversa descontraída
com amigos, por exemplo). A fala e a escrita também implicam profundas diferenças na elaboração
de mensagens. A tal ponto chegam essas variações, que acabam surgindo dois códigos distintos,
cada qual com suas especificidades: a língua falada e a língua escrita.

A língua literária : Quando o uso da língua abandona as necessidades estritamente práticas do


cotidiano comunicativo e passa a incorporar preocupações estéticas, surge a língua literária. Nesse
caso, a escolha e a combinação dos elementos lingüísticos, subordinam-se a atividades criadoras
e imaginativas. Código e mensagens adquirem uma importância elevada, deslocando o centro de
interesse para aquilo que a língua é em detrimento daquilo para que ela serve. Isso ocorre, por
exemplo, nos seguintes versos de Fernando Pessoa:

"O mito é o nada que é tudo.


O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo."

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