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Leitura e
Leitura e produção de texto
e Leitura Leitura e
produção de texto

produção
de texto de texto
Leitura e
U2 produção
de texto
leitura
Linguagem Verbal Falada e Escrita Leitura e Produção de Texto | UNISUAM

Linguagem
Verbal Falada
e Escrita
Objetivo do estudo
- Distinguir língua e linguagem.
- Identificar as variedades linguísticas: geográficas e socioculturais.
- Dissertar sobre a norma considerada padrão na sociedade.
- Dissertar sobre adequação vocabular e contexto.
- Diferenciar língua falada de língua escrita.
- Explicar o que é linguagem formal e linguagem informal.
- Identificar recursos de expressividade da fala e da escrita.

INTRODUÇÃO:
Você acha que a língua falada e a língua escrita são equivalentes? Sim? Não?

Provavelmente, você deve ter dito que cada uma dessas modalidades tem a sua especificidade. A língua falada é mais natural,
já que aprendemos a falar imitando o que ouvimos.

Já a língua escrita só é aprendida depois que dominamos a língua falada. Esta não é uma simples transcrição do que falamos;
está mais subordinada às normas gramaticais. Assim, requer mais atenção e conhecimento de quem fala. Por ser escrita,
permanece por mais tempo, ao passo que a língua falada é mais efêmera, passageira. Algumas vezes é possível encontrar
na modalidade escrita recursos da língua falada.

São essas questões que iremos discutir aqui, na segunda unidade da nossa disciplina. Veremos a diferença entre língua e
linguagem, língua falada e língua escrita. Estudaremos o que é variação linguística, a norma considerada padrão em nossa
sociedade e a adequação vocabular de acordo com o contexto dos falantes.

Prontos para estudar? Vamos lá!

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2 T1
Língua e Linguagem

Você sabia que a leitura pode ser um instrumento de


transformação do sujeito e da sociedade? Leia o texto abaixo
para entender essa relação.

Linguagem e língua
(texto adaptado)

Na origem de toda a atividade comunicativa do ser


humano está a linguagem, que é a capacidade de se
comunicar por meio de uma língua. Língua é um sistema
de signos convencionais usados pelos membros de uma
mesma comunidade. Em outras palavras: um grupo social

Estudar a língua convenciona e utiliza um conjunto organizado de elementos


representativos. (...)

portuguesa é tornar- Individualmente, cada pessoa pode utilizar a língua de seu

se apto a utilizá-la com grupo social de uma maneira particular, personalizada,


desenvolvendo assim a fala. Observe: você, ao falar ou
eficiência na produção e escrever, dá preferência a determinadas palavras ou
construções, seja por hábito, seja por opção consciente. Esse
interpretação dos textos seu modo particular de empregar a língua portuguesa é a
sua fala. (...) Por mais original e criativa que seja, no entanto,
sua fala deve estar contida no conjunto mais amplo que é
a língua portuguesa; caso contrário, você estará deixando
de empregar a nossa língua e não será mais compreendido
pelos membros da nossa comunidade. Note, pois, que língua
é um conceito amplo e elástico, capaz de abarcar todas as
manifestações individuais, todas as falas.

Estudar a língua portuguesa é tornar-se apto a utilizá-la com


eficiência na produção e interpretação dos textos com que se
organiza nossa vida social. Por meio desse estudo, amplia-se
o exercício de nossa sociabilidade — e, consequentemente,
de nossa cidadania, que passa a ser mais lúcida. Ampliam-se
também as possibilidades de fruição dos textos, seja pelo
simples prazer de saber produzi-los de forma bem feita, seja
pela leitura mais sensível e inteligente dos textos literários.
Conhecer bem a língua em que se vive e pensa é investir
no ser humano que você é.

(INFANTE, Ulisses. Do Texto ao Texto: curso prático de


redação e leitura. São Paulo: Scipione, 1998, p.28/29.)

exercício
Que tal praticar sobre língua e linguagem? Realize o exercício seguinte.

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1) O texto abaixo se trata de uma charge. Correlacione-o ao texto anterior e produza um


parágrafo sobre a questão da importância da educação para o exercício pleno da cidadania:

http://blogaodojoao.files.wordpress.
com/2009/10/e591d98c-affc-4fa8-abf5-
39a991ad535d_desenho15.jpg

Língua e Identidade

Além de ser um meio de interação social, a língua também é uma forma de identidade cultural
e grupal.

Falar a mesma língua de outra pessoa geralmente equivale a ter com elas muitas coisas
em comum: referências culturais, esportivas, musicais, hábitos alimentares, etc. A língua é,
portanto, um elemento importante na definição da identidade de um povo ou de um grupo
social.

Mas não é só isso. Além de nossa identidade social, a língua revela também muito do que
somos individualmente. Ela mostra nossa agressividade, afetividade, formalidade, gentileza,
educação etc.

A tira abaixo é um exemplo de como a língua cria uma identidade grupal. Observe as diferenças
existentes entre as falas dos personagens.

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Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-Ys2kqKV1Tdk/UIbZpc___XI/AAAAAAAANkA/
Tira 1 AwVXIZI9fS8/s1600/E.2012.06.08Monica.jpg
1

Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-Jopwpz02lkk/Uy4TYoQbZXI/AAAAAAAB6b4/
FeFpBd5RXI0/s1600/844640998.jpg
Tira 2
2

Agora, depois de ler as duas tiras acima e refletir sobre elas, responda as questões que se
seguem:

1) Na primeira tira, Chico Bento e a mãe falam um português bastante peculiar, que busca
refletir o linguajar de certas regiões do Brasil. Retire das falas das personagens exemplos
desse falar diferenciado.

2) Embora o jeito de falar de Chico Bento e sua mãe seja diferente do usual, eles se entendem
sem problemas. Em sua opinião, a que isto se deve?

3) Na segunda tira, percebe-se que Chico e sua professora não falam da mesma maneira.
Em sua opinião, a que se devem tais diferenças?

possíveis respostas!!!
1) Ocê, contá, pruque, cas, drumindo, i, sabé, finar.

2) É um caso típico de identidade grupal, ou seja, por estar inserido no grupo de sua comunidade imediata (mãe, pai,
vizinhos), Chico Bento falará como eles, tanto entenderá quanto será entendido sem problemas. Em outros contextos
linguísticos, porém, a fala de Chico Bento causaria estranheza.

3) Na segunda tira, o que fica claro é que Chico e a professora não pertencem ao mesmo grupo linguístico. Como habitante
da região urbana (provavelmente) e possuidora de maior grau de escolaridade (senão, não seria a professora), ela fala de
acordo com as normas do chamado “português padrão”, ou seja, aquele ensinado nas escolas. Já Chico Bento, caracterizado
como um personagem da região rural, tem sua fala aproximada a de um estilo caipira.

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T2
Variedades Linguísticas
Empregada por tão grande quantidade de indivíduos, em situações tão diferentes e a todo
momento, é de se esperar que a língua não se apresente estática. Ou seja, condicionantes
sociais, regionais e as diversas situações em que se realiza determinam a ocorrência de
variações em uma língua.

Dino Preti, um conhecido professor e linguista brasileiro, subordina o estudo das variedades
linguísticas a dois amplos campos:

Variedades geográficas:
1. Falares regionais ou dialetos
2. Linguagem urbana x linguagem rural

Variedades socioculturais:
1. Variedades devidas ao falante
1.1 Dialetos sociais
1.2 Grau de escolaridade, profissão, idade, sexo, etc.

2. Variedades devidas à situação:


2.1 Níveis de fala ou registros (formal/coloquial)
2.2 Tema, ambiente, intimidade ou não entre os falantes, estado emocional do falante.

Vamos conhecer melhor essas variedades?!

2.2.1 Variedades Geográficas


Leia o anúncio publicitário que se segue:

Fonte: http://dc222.4shared.com/doc/i6bLUJ_O/preview_html_1f7a554c.jpg

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Se você leu o anúncio com atenção, deve ter percebido que, no canto inferior esquerdo,
está escrito: “Este verão, visite os parques de Lisboa”. Agora, ficou mais fácil entender a
mensagem, não é? Ele está escrito em português de Portugal e faz um trocadilho entre
“bichas” (filas), marca típica da sociedade urbana e burocratizada, e “bichos”, símbolo de
natureza e vida natural.

É claro que este texto soa estranho ao falante da língua portuguesa que mora no Brasil. Para
nós, as pessoas formam filas (e não bichas) quando aguardam sua vez de serem atendidas
em um banco, em uma bilheteria de cinema etc.

Pode-se perceber facilmente que a maneira como o português é empregado no Brasil e em


Portugal não é exatamente a mesma. Na verdade, são oito os países que têm o português
como língua oficial, ou seja: Portugal (na Europa), Brasil (na América do Sul), Angola,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe (na África) e Timor Leste
(no Sudeste Asiático). E, é claro, há diferenças, em termos de pronúncia e vocabulário, no
português falado em cada um deles.

Mas não é apenas entre diferentes países que falam a


aprofundando mesma língua que é possível perceber diferenças no modo
de falar. Dentro do mesmo país, isto acontece. O Brasil é
um país de dimensões continentais e mesmo assim ainda
Se você quiser conhecer melhor a CPLP, ou seja, possui uma língua única.
a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa,
acesse o endereço
O português do Brasil apresenta diferenças entre as suas
- http://www.cplp.org/ regiões geográficas e até numa mesma região. Tomemos
como exemplo o Sudeste: os falares de Minas Gerais e do
Você vai descobrir que fazemos parte de uma Rio de Janeiro apresentam suas peculiaridades e distinções,
comunidade com milhões de falantes ao redor do o que, às vezes, é até motivo para textos humorísticos, como
mundo e compartilhamos de uma história e cultura
este que se segue:
riquíssimas!

Fonte: http://lidiscute.blogspot.com.
br/2010/12/o-falar-dos-mineiros-
um-patrimonio.html

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Do mesmo modo, as regiões urbanas e as regiões rurais também possuem vocabulário


e pronúncia diferentes, bem como expressões típicas. Portanto, há variações na língua
condicionadas a aspectos geográficos. Mas é bom ressaltar que nenhuma dessas formas
linguísticas é melhor ou pior do que a outra. Cada uma delas representa uma faceta diferente
de nossa variedade e riqueza cultural.

Além de contribuir para uma grande diversidade nos hábitos culturais, religiosos, políticos e
artísticos, a influência de várias culturas deixou na língua portuguesa marcas que acentuam a
riqueza de vocabulário e de pronúncia. Estas diferenças na nossa língua são consequências
das marcas deixadas por outros idiomas que entraram na formação do português brasileiro.
Entre esses idiomas estão os indígenas e africanos, além dos europeus, como o francês e
o italiano.

A influência desses elementos, presentes com maior ou


em algumas regiões se diz menor intensidade em cada região do país, aliada ao
desenvolvimento histórico peculiar de cada lugar, fez com
sei não, em outras não sei que surgissem regionalismos, isto é, expressões típicas de
determinada região.

Essa variedade linguística pode se manifestar na construção sintática – por exemplo, em


algumas regiões se diz sei não, em outras não sei -, mas a grande maioria dos regionalismos
ocorre no vocabulário.

Assim, um mesmo objeto pode ser nomeado por palavras, diversas, conforme a região. Por
exemplo: no Rio Grande do Sul, a pipa ou papagaio se chama pandorga; o semáforo pode
ser designado por farol em São Paulo, e sinal no Rio de Janeiro.

2.2.2 Variedades Socioculturais


As variedades socioculturais podem ser em relação ao falante ou à situação.

Variedades devidas ao falante

a) Grupos culturais

Uma pessoa que conhece a língua que emprega apenas “de ouvido”, que não teve a
oportunidade de tomar conhecimento das regras internas que a compõem, domina essa
língua de cujas realizações participa de forma diversa de uma pessoa que tem contato com
esse código linguístico por meio de livros, periódicos, dicionários ou ainda por intermédio da
convivência com pessoas de boa formação intelectual.

atençâo
Não se quer dizer que um fale melhor ou pior que o outro.
Deseja-se apenas registrar o fato de que a formação escolar de
um indivíduo, por exemplo, suas atividades profissionais, seu
nível cultural podem determinar um domínio diferente da língua.
Cada classe social – econômica, mas, sobretudo, culturalmente
falando – emprega a língua de uma maneira especial.

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b) O jargão (uma variação social)

Observe os diversos grupos profissionais: cada um deles faz uso de um determinado


vocabulário e expressões que são típicos do seu trabalho. O jargão – essa linguagem técnica
que alguns profissionais dominam – é empregado por um grupo restrito e muitas vezes é
inacessível a outros falantes da língua.

Se pensarmos, por exemplo, na linguagem da economia, da informática... Quantos de nós


estamos preparados para entendê-las?

Exemplos de jargão:

Medicina Informática

“Apresenta uma “A mochila vem com


massa cística um mouse ótico USB
indeterminada e com scrolling de
septos espessos quatro direções e
irregulares conexão Plug&Play”.
mas com realce
mensurável.”

Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-
bC3vDE3CvQo/TqRPMwldJQI/
AAAAAAAAAH4/53kiE1yBId8/s1600/
comportamento1.gif

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c) Gíria

A gíria é uma das variedades que uma língua pode apresentar. Quase sempre é criada
por um grupo social, como os dos fãs de rap, de funk, de heavy metal, o dos surfistas, dos
skatistas, dos grafiteiros, dos bikers etc.

Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-3KKufredbIo/T8wOoo7D7XI/AAAAAAAAAEk/JGW1C6_Eyrc/s400/charge-portugueis.jpg

II) Variedades devidas à situação

Fonte: http://dc222.4shared.com/doc/i6bLUJ_O/preview_html_3d6df560.jpg

O humor da tira é determinado pelo “excesso de informalidade” por parte do namorado que
acaba de ser apresentado aos pais da garota. Como uma norma de boa educação, espera-se
que a pessoa estranha seja gentil, dirija-se aos donos da casa com respeito e manifeste alguma
cerimônia, com um pedido de licença. Cabe à pessoa visitada dispensar as formalidades e
fazer com que o estranho se sinta bem.

Nesse caso, observe que o namorado nem mesmo cumprimenta a garota e se dirige aos
pais dela com tanta grosseria que Hagar toma uma posição “defensiva”, ameaçando o rapaz
com um machado. A ilustração nos mostra o emprego de uma linguagem pouco adequada
à situação que envolve as personagens.

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Analisando nossa própria maneira de falar, cada um de nós é capaz de perceber que
dominamos várias “línguas”, ou seja, temos várias maneiras de “registrar” a língua.

A cada momento fazemos uso de um desses registros. Dependendo da situação em que


os encontremos, procuramos adequar nossa linguagem, falando de modo mais ou menos

T3
formal, fazendo ou não uso de gírias e assim por diante.

A Norma considerada Padrão em nossa Sociedade


Falamos genericamente sobre variações da linguagem, mas seria conveniente destacar ao
menos duas delas, que todos nós, de uma maneira ou de outra, compartilhamos: a linguagem
coloquial (ou norma popular) e a norma culta (também chamada de norma padrão).

a) Linguagem coloquial ou norma popular


Excetuadas diferenças É a linguagem que empregamos em nosso cotidiano,
de pronúncia e pequenas em situações sem formalidade, com interlocutores que
consideramos “iguais” a nós no que diz respeito ao domínio
diferenças de vocabulário, da língua. Na linguagem coloquial, não há preocupação no

a norma padrão sobrepõe-se tocante a um falar “certo” ou “errado”, uma vez que não nos
sentimos pressionados pela necessidade de usar regras

aos falares regionais, e é a e damos prioridade à expressividade, à transmissão da


informação por si.

mesma, em toda a extensão “Os princípios da norma popular compõem uma verdadeira

do país. gramática popular e implicam uma simplificação considerável


da gramática culta, num uso muito grande de elementos
afetivos, numa pronúncia menos cuidada, num abundante
vocabulário gírio e outros elementos afetivos da língua e, em geral, revelam uma menor dose
de reflexão na escolha das formas linguísticas pelo usuário”. (Dino Preti)

b) A variação de maior prestígio: A norma culta ou norma padrão

Se há tantas variações de uma língua, qual delas é a ensinada na escola? Por que essa e
não as demais? “Quem” faz essa escolha?

Essas perguntas apenas refletem um fato: de todas as variações, uma tem mais prestígio
que as demais e acaba por ser escolhida como padrão a todos os falantes.

Essa norma padrão culta ou, simplesmente, norma culta, é a variação linguística a que se
atribui, em determinado contexto social, maior prestígio; é considerado o modelo – daí a
designação de padrão, de norma – segundo o qual se avaliam as demais variações linguísticas.

É a variação falada pelas classes sociais privilegiadas, particularmente em situações de


maior formalidade, usada nos meios de comunicação de massa (jornais, revistas, noticiários
de televisão, etc.) que visem um público-alvo de certo poder aquisitivo e cultural, ensinada
na escola e codificada nas gramáticas escolares.

É ainda, fundamentalmente, a variação linguística usada quando se escreve textos de caráter


profissional e pedida em concursos.

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Fonte: https://s3.amazonaws.com/qcon-assets-production/images/provas/25664/Imagem%20068.jpg

Agora que já discutimos sobre variações linguísticas, é hora de mostrar que você compreendeu
bem o assunto. Realize os exercícios a seguir!

exercício
TEXTO 1

Vamos ler a receita a seguir, de um prato muito popular em certo estado do país...

http://cache-assets.flogao.com.br/s16/08/09/05/170/23783420.jpg

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Existem muitas brincadeiras a respeito do modo como falam certos grupos de pessoas de
vários Estados Brasileiros. A receita lida é um exemplo, pois imita com certo exagero a fala
de mineiros de certas regiões e, para isso, deixa de seguir as regras da língua escrita.

Na verdade, percebemos certas características da fala no texto, como repetições e recursos


expressivos, como no caso da expressão “bemmm finimm”, escrita propositalmente dessa
forma para acentuar que o repolho dever ser picado de fato em fatias muito finas.

Depois de ler com atenção a receita, responda as questões que se


seguem:

1) A língua empregada na receita é diferente daquela utilizada pelos jornais, revistas e livros.
Apesar disso, é possível compreender a receita? Justifique sua resposta.

2) Se esta receita fosse publicada em uma revista de culinária, por exemplo, não poderia
estar escrita do modo como está. Reescreva a receita de acordo com as normas da língua
escrita padrão, para que ela possa ser publicada em uma revista de circulação nacional.

possíveis respostas!!!
1) Embora esteja escrita imitando um tipo de variação linguística, no caso um regionalismo, a receita ainda está escrita na
língua portuguesa falada no Brasil, reconhecível mesmo em palavras como “repoi” (repolho) ou “moi” (molho), por exemplo.
Um falante brasileiro não tem dificuldades em perceber a brincadeira com o falar mineiro e entender o texto. Mas falantes
de português de outros países não teriam e mesma facilidade em entendê-la, principalmente pelo desconhecimento do
que chamamos carinhosamente de “mineirês”.

2) Receita reescrita:

MOLHO DE REPOLHO AO ALHO E ÓLEO

Ingredientes:
5 dentes de alho
3 colheres de óleo
1 repolho
1 colher (sopa) de massa de tomate
Sal a gosto

Modo de fazer:
Descasque, pique e soque o alho com o sal. Esquente o óleo e refogue o alho, juntando o repolho picado bem fino. Refogue
mais um pouco e acrescente a massa de tomate, mexendo bem. Sirva quente.

TEXTO 2

Leia este anúncio:

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Veja Acervo Digital, Edição 18/12/2002, p.60 / 61

O anúncio tem a finalidade de promover um aparelho de som de determinada marca. Para


isso, simula a situação de uma pessoa que faz um pedido a Papai Noel.

1) Como você imagina que seja o locutor desse texto, ou seja, a pessoa que escreveu essa
carta a Papai Noel? Por quê?

2) Identifique palavras ou expressões que façam parte da gíria dos adolescentes.

3) Para convencer Papai Noel a lhe dar o aparelho de som, o locutor usa um argumento, isto
é, uma justificativa ou explicação. Qual é esse argumento?

4) Pense agora na situação de produção do anúncio. Ele foi publicado às vésperas do Natal
em uma revista de circulação nacional, lida geralmente por pessoas adultas, da classe
média, com bom poder aquisitivo. Os textos dessa revista são predominantemente escritos
na variedade padrão.
a. Na verdade, quem são os leitores que o anúncio tem em vista: os adolescentes ou os pais
dos adolescentes?

b. Considerando-se a intencionalidade do anúncio, por que, então, o texto faz uso de uma
variedade linguística não padrão?

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possíveis respostas!!!
1) Pela forma como o texto foi escrito, leva o leitor a crer que o locutor seja um adolescente (devido às gírias e ao modo
como se dirige a Papai Noel, por exemplo), provavelmente paulista (tá ligado, mano), tem bom grau de escolaridade (não
há erros gramaticais em seu texto), bom domínio da tecnologia (descreve as características do equipamento que deseja
ganhar) e é metido a conquistador (o argumento que ele usa para tentar convencer Papai Noel é o de levar garotas para
seu quarto, com o pretexto de “ouvir um som da hora”).

2) Belê, tô muito a fim, tô a finzaço, tá ligado, mina, troca umas ideias, quebra essa pra mim, mano.

3) Como foi dito acima, o argumento que ele usa é que, como o equipamento de som, pode convidar garotas para “ouvir
um som da hora” com ele no quarto.

4) a. Na verdade, o público-alvo deste anúncio, até pelo tipo de leitor da revista em questão, são os pais dos adolescentes,
inclusive porque são os que têm poder aquisitivo para adquirir o equipamento em questão. / b. O uso desse tipo de
linguagem no anúncio visou uma identificação do produto com os adolescentes, que são quem normalmente curtem mais
novidades eletrônicas. É como se ele dissesse aos pais: “Se vocês estão procurando um bom presente de Natal para seu
filho, este produto fala a língua dele!” É sempre bom lembrar que o texto publicitário é um dos mais elaborados, em termos
de funcionalidade da mensagem. Ou seja, ele é extremamente bem planejado, tanto para atingir o público-alvo, quanto
para passar a mensagem que deseja, que em geral é seduzir o leitor, levando-o a adquirir algum produto.

Adequação Vocabular e Contexto

Dominar a norma culta de um idioma é requisito mínimo de sucesso para profissionais


de todas as áreas. Engenheiros, médicos, economistas, professores, contabilistas e
administradores que falam e escrevem certo, com lógica e riqueza vocabular, têm mais
chance de chegar ao topo do que profissionais tão qualificados quanto eles, mas sem o
mesmo domínio da palavra.

Nas grandes corporações, os testes de admissão concedem à competência linguística dos


candidatos, muitas vezes, o mesmo peso dado à aptidão para trabalhar em grupo ou ao
conhecimento de matemática. Diversas pesquisas estabelecem correlações entre tamanho
de vocabulário e habilidade de comunicação, de um lado, e ascensão profissional e ganhos
salariais, de outro.

Como diz o linguista britânico David Crystal, a globalização e a revolução tecnológica da


internet estão dando origem a um "novo mundo linguístico". Entre os fenômenos desse novo
mundo estão as subversões da ortografia presentes nos blogs e nas trocas de e-mails, em
uma nova forma de escrever chamada pelos pesquisadores de “ciberlíngua” ou “internetês”.

Mas o uso crescente do internetês nem de longe significa a desvalorização da norma culta.
Paralelamente, cresce a consciência de que as línguas bem faladas, protegidas por normas
cultas, são ferramentas da cultura e também armas da política, além de serem riquezas
econômicas.

Veja, no exemplo seguinte, um exemplo de um texto escrito originalmente em norma culta


(um parágrafo de um livro de Machado de Assis) “traduzido” para o internetês, neste caso,
uma versão do internetês muito usada em chats e blogs. Veja também, mais abaixo, uma
análise das principais características dessa nova forma de linguagem:

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Veja Acervo Digital, Edição 2025, 12 de setembro de 2007

Uma discussão muito frequente nos dias de hoje é se o uso do internetês não levará as novas
gerações a se distanciarem cada vez mais do português padrão. O que você acha sobre isso?

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Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-niv67YrM--A/T-JLKP-6PLI/AAAAAAAAABg/S5Wds2e4Uzo/s1600/chatdemais.png

O gramático Evanildo Bechara defende que, se o aluno tiver contato com diversas formas
linguísticas e, mais importante, tiver consciência do uso adequado de cada uma delas, isto
só o enriquecerá linguisticamente, ou seja, uma das missões do professor seria “transformar
seu aluno num poliglota dentro de sua própria língua”. (BECHARA, Evanildo. Ensino da
Gramática: Opressão? Liberdade? 4 ed. São Paulo: Ática, 1989, p. 14)

Em outras palavras, se a pessoa tiver consciência em que momento precisará fazer uso da
norma padrão (em um concurso público ou um trabalho para a faculdade, por exemplo) e em
que momentos poderá usar uma linguagem menos padrão (mensagem para amigos, bilhete
para alguém da família) ou mesmo o internetês (em um blog, um fórum...), estará tudo bem.
O que não dá é escrever trabalhos acadêmicos em internetês, por exemplo.

T4
Língua Falada e Língua Escrita
Segundo Mary Kato, pesquisadora de Linguística Aplicada da Unicamp (SP), um indivíduo
no processo de escolarização bem-sucedida passaria pelas seguintes etapas em seu
aperfeiçoamento linguístico:

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F1  E1  E2  F2

Em um processo inverso,
A escrita adquirida Nessa etapa da
aqui a fala é que passa a
Língua falada, adquirida mediante processo inicial escolarização, a escrita
sofrer influência da escrita
no meio social em que se de alfabetização escolar. já é, em seus aspectos
convencional. Trata-se da
nasce e vive e com que se Nessa fase, os traços da convencionais, dominada
transferência dos traços
comunica com os demais. língua falada pelo aprendiz pelo aprendiz. Já não há
dessa escrita padronizada
interferem nessa escrita. mais interferência da fala.
para a fala.

No quadro acima, F se refere às etapas de aquisição da fala e E, às da escrita. Na maioria


dos casos, os textos escritos produzidos pelas pessoas de pouca ou fraca escolaridade
situam-se entre as fases E1 e E2, ou seja, elas trazem para a sua escrita traços da variante
falada de seu meio. Com isso, sua escrita fica marcada pela oralidade, ou seja, uma escrita
que se distancia do modelo de escrita padrão.

observe o exemplo que se segue:

No caderno de reclamações do condomínio, o síndico leu a seguinte mensagem:

Seu síndico, eu e outros moradores desse condomínio tivemos conversando e todos são
unânimes pelo fato de que não é possível conviver junto com um pessoal que não sabem
se comportar, eu mesmo já pedi outro dia para eles não fazer barulhos depois de certa hora,
mais eles botam música alta e não tão nem aí. Se eu fosse o senhor multava eles, pois não

desafio
sabem se comportar. Aí eu queria vê se eles continuavam a se comportar assim.

Procure identificar as interferências da fala no texto acima, ou seja, momentos em que ele
escreve como se estivesse falando. Depois, reescreva o trecho, observando as normas da
escrita padrão.

resposta:
Senhor síndico:
Estive conversando com outros moradores deste condomínio e todos concordam que não
é possível conviver com pessoas que não sabem se comportar. Eu mesmo já solicitei, em
outra ocasião, que não fizerem barulho depois de certa hora, mas eles ouvem música em
alto volume, sem se importarem com os demais condôminos. Solicitamos que seja avaliada
a possibilidade de ser aplicado algum tipo de multa, por perturbação da ordem. Acreditamos
que isto inibiria tal comportamento inadequado.

Observe o anúncio publicitário a seguir. De propósito, ele mistura formas da língua escrita,
dentro da norma padrão, e formas da língua falada, fora do padrão, como forma de atingir
maior expressividade e aceitação por parte do leitor:

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Observe que, na segunda frase do anúncio, é usada a forma “a gente”, que tem uso apenas
popular e notadamente na forma falada. Se fosse escrita na norma padrão, a frase teria de
ser “Não sabemos se rimos ou se choramos”, até porque o sujeito da primeira frase é “nós”.

Até agora, falamos da diferença essencial entre a língua escrita e a língua falada. Dessa
diferença se originam outras, igualmente importantes e, em alguns casos, tão significativas
que se podem mesmo falar na existência de dois códigos distintos: o código falado e o código
escrito, cada um com suas regras próprias de funcionamento.

A língua falada se concretiza por meio da emissão dos sons da língua, os fonemas. Na
escrita, utilizam-se as letras, que não mantêm uma correspondência exata com os fonemas:
há letras que representam fonemas diferentes (a letra x, por exemplo, em exame, xadrez e
sintaxe); há fonemas representados por mais de uma letra (/x/ em chave, por exemplo); há
até casos em que a letra não representa nenhum fonema (h em hoje). Fatos como esses
fazem com que a ortografia se torne às vezes mais complexa; ora, é obvio que essa questão
afeta diretamente o manejo da língua escrita, tendo reduzida influência sobre o código falado.

O código oral conta com elementos de expressividade que o código escrito não consegue
reproduzir com muita eficiência. Destacamos a acentuação e a entonação, capazes
de modificar completamente o significado de certas frases e que só são parcialmente
recuperáveis por certas construções da língua escrita. Há, por exemplo, várias formas de
falar a palavra sim, podendo-se até atribuir-lhe significação oposta à usual. Na escrita, o que
se pode fazer são construções do tipo:

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“Sim”, disse ela, alvoroçada.


“Sim...”, respondeu uma voz debilitada.
“Sim?”, irrompeu, indignado.
“Sim!”, observou ele, com profunda ironia.

Além de fonemas, letras, ortografia, acentuação e entonação, a língua escrita utiliza a


pontuação para sugerir certas características da língua falada. Não se deve esquecer,
entretanto, que a pontuação tem antes de tudo uma função organizadora dos enunciados,
permitindo-nos dispô-los dentro de certa lógica. Essa função antecede uma eventual tentativa
de reproduzir de forma escrita a melodia própria da língua falada.

Uma pontuação inadequada pode gerar incoerência no texto, como no seguinte exemplo:

João toma banho quente e sua mãe diz ele quero banho frio.

Observe a diferença:

João toma banho quente e sua (transpira). – Mãe – diz ele – quero
banho frio.
Da mesma forma, o uso da pontuação pode interferir inclusive com o sentido da frase. Compare
as duas orações que se seguem;

Eu telefonei para meu filho que mora em Mauá.

A pessoa em questão tem vários filhos e telefonou especificamente para o que mora em
Mauá. A segunda oração restringe o sentido da primeira.

Eu telefonei para meu filho, que mora em Mauá.

Neste caso, a pessoa só tem esse filho e, por acaso, ele mora em Mauá. Em vez de restringir o
sentido da primeira oração, a segunda apenas acrescenta um dado adicional, uma explicação
complementar.

Voltando à questão da língua falada e da língua escrita, o uso de algumas estruturas


gramaticais é bastante diferente nos dois códigos. Enquanto a língua falada utiliza
exclamações e onomatopeias e produz frases muitas vezes inacabadas ou com rupturas
de construção, a língua escrita desenvolve frases mais logicamente construídas, evitando a
repetição de termos, comum durante a fala.

Em síntese, temos:

Modalidade falada Modalidade escrita


Palavra sonora Palavra gráfica

Recursos: signos acústicos e extralinguísticos, Pobreza de recursos não linguísticos; uso de


gestos, entorno físico e psíquico letras, sinais de pontuação

Requer a presença dos interlocutores. Ganha Comunicação unilateral. Ganha em


em vivacidade permanência

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É espontânea e imediata. Uso de palavras- É mais precisa e elaborada. Ausência de


curinga, de frases feitas cacoetes linguísticos e vulgarismos

A expressividade permite prescindir de certas Mais correção na elaboração das frases.


regras Evita a improvisação

É mais sintética. A redundância é um recurso


É repetitiva e redundante
estilístico

A informação é permeada de subjetividade e É mais objetiva. É possível esquecer o


influenciada pela presença do interlocutor interlocutor

O contexto extralinguístico tem menos


O contexto extralinguístico é importante
influência

T5 Recursos de Expressividade da Fala e da Escrita


Há pelo menos dois níveis de língua falada: a culta ou padrão e a coloquial ou popular. A
linguagem coloquial também aparece nas gírias, na linguagem familiar, na linguagem vulgar
e nos regionalismos ou dialetos. Essas variações são explicadas por vários fatores:

• Diversidade de situações em que se encontra o falante: uma solenidade ou uma


festa entre amigos;

• Grau de instrução do falante e também do ouvinte;

• Grupo a que pertence o falante. Este é um fator determinante na formação da gíria;

• Localização geográfica: há muitas diferenças entre o falar de um nordestino e o de


um gaúcho, por exemplo. Estas diferenças constituem os regionalismos e os dialetos.

Os registros linguísticos poderiam ser assim divididos:

Modalidade escrita Modalidade falada


Oratório
Literário Formal
Formal Coloquial tenso
Informal Coloquial distenso
Pessoal Familiar
Vulgar

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Cada um desses registros é usado em situações específicas, como por exemplo:

1. Na modalidade escrita:
• Literário: usada em obras literárias, em prosa (romances, contos) ou em verso.

• Formal: usada em correspondências profissionais, em textos acadêmicos, documentos, etc.

• Informal: usada em correspondências pessoais, bilhetes para familiares, etc.

• Pessoal: usada em textos aos quais apenas o próprio autor terá acesso, como anotações
pessoais de uma aula, um diário pessoal, etc.

2. Na modalidade falada:
• Oratório: usada em situações específicas, como discursos de ministros do Supremo
Tribunal, pronunciamentos políticos, etc.

• Formal: usada em ocasiões que exigem certo grau de formalidade, como um discurso
de formatura, por exemplo.

• Coloquial tenso: usada em ocasiões em que um certo cuidado com o uso adequado
das palavras é exigido, mas sem chegar ao grau de uso formal, como numa entrevista
de emprego, na apresentação de um relatório ao seu chefe ou na apresentação de um
seminário em sala de aula, por exemplo.

• Coloquial distenso: é a mais empregada em nosso dia a dia, é a linguagem que


empregamos em situações em que estamos à vontade, como nossos amigos, familiares,
colegas de trabalho, etc.

• Familiar: é a que usamos em nosso meio familiar, em nossa comunidade linguística


mais próxima e íntima.

• Vulgar: é a que faz uso de termos chulos, de baixo calão e que só deveria ser empregada
em situações específicas, como quando o juiz anula um gol de seu time aos 45 do
segundo tempo, por exemplo, mas que, hoje em dia, infelizmente, se dissemina pelos
EXemplo

mais diversos ambientes, incluindo aí espaços profissionais e/ou educacionais.

A Língua Falada como Recurso Linguístico

Muitos escritores, para dar maior vivacidade aos seus textos, utilizam características da língua
falada como gírias, expressões populares e incorreções gramaticais. Assim, as modalidades
de língua falada e escrita, possuem especificações quanto à sua produção e emprego. A
oralidade não está somente ligada à fala, e pode ser encontrada (e utilizada) em ou textos
diversos, como recurso construtor de sentido.

Veja o exemplo seguinte. Observe como o texto ganha em vivacidade e autenticidade ao


reproduzir, na forma escrita, a fala do “poeta do sertão”, que se opõe ao “poeta da cidade”:

Cante lá, que eu canto cá (fragmento)


(Patativa de Assaré)

Poeta, cantô de rua,


Que na cidade nasceu,
Cante a cidade que é sua,
Que eu canto o sertão que é meu.
Se aí você teve estudo,
Aqui, Deus me ensinou tudo,

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Sem de livro precisá.


Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mexo aí,
Cante lá, que eu canto cá.

Você teve inducação,


Aprendeu munta ciença,
Mas das coisa do sertão
Não tem boa esperiença.
Nunca fez uma paioça,
Nunca trabaiou na roça,
Não pode conhecê bem,
Pois nesta penosa vida,
Só quem provou da comida
Sabe o gosto que ela tem. (...)

(ASSARÉ, Patativa do. Cante lá, que Eu Canto cá. Rio de Janeiro: Vozes, 1978.)

aprofundando Linguagem Formal e Linguagem Informal

Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Como já vimos quando trabalhamos os registros linguísticos,
Patativa do Assaré (Assaré (CE), 5 de março de a linguagem pode ser mais ou menos formal, dependendo
1909 — Assaré (CE), 8 de julho de 2002), foi um da situação comunicativa e do grau de intimidade entre os
poeta popular, compositor, cantor e improvisador interlocutores.
brasileiro. Se quiser conhecer um pouco mais sobre
sua vida e sua obra, acesse o site:
A linguagem formal é usada em situações formais, seja por
http://www.releituras.com/patativa_menu.asp escrito (correspondência entre empresas, artigos de certos
jornais e revistas, textos científicos, livros didáticos), seja
oralmente (conferência, discurso, reunião de negócios).

Geralmente é empregada quando alguém se dirige a um interlocutor com quem não tem
proximidade: ao fazer uma solicitação a uma autoridade ou comparecer a uma entrevista de
emprego, por exemplo. Além de seguir a variedade padrão, a linguagem formal tem como
características marcantes a polidez e a seleção cuidadosa das palavras.

Empregada em situações informais, como correspondência entre amigos e familiares, a


linguagem informal pressupõe certo grau de intimidade com o interlocutor. Apresenta uma
estrutura mais solta, com construções mais simples; podem-se empregar abreviações,
diminutivos, gírias e, às vezes, construções sintáticas que não seguem a variedade padrão.

É importante lembrar que usar essa linguagem não significa que o emissor não saiba se
comunicar de outra forma quando necessário. A linguagem informal é mais comumente
utilizada na fala do que na escrita; no entanto, há escritos em que ela se faz necessária - por
exemplo, um bilhete para uma situação do dia a dia.

Para terminarmos de forma divertida, um outro caso de uso inadequado de registro da língua.
Consta que se trata de um caso verídico...

Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar a casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu
quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação.
Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com
seus amados patos, disse-lhe:

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Oh, bucéfalo anácrono!


Não o interpelo pelo valor
intrínseco dos meus bípedes
palmípedes, mas sim pelo ato
vil e sorrateiro

- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco


dos meus bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e
sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação,
levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se isso fazes
por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha
elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei
com minha metafórica bengala bem no alto do teu obtuso
cocuruto, e o farei com tal ímpeto que reduzirei a tua massa
encefálica à quinquagésima potência que o vulgo denomina
Fonte: http://edgarlisboa.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/2013/10/
nada.
Ladr%C3%A3o-de-Patos.jpg
E o ladrão, confuso, diz:
- Dotô, eu levo o deixo os pato?

Gostou? Este texto foi só para descontrair.

Saiba mAIS
Para saber mais sobre variação linguística e sobre as
diferenças entre língua falada e língua escrita, acesse
exercício
o seguinte vídeo:

h t t p : / / w w w. y o u t u b e . c o m / w a t c h ? v = _ Y 1 -
ibJcXW0&feature=related

Que tal dar uma paradinha para praticar? Faça os exercícios seguintes!

Observe a situação retratada nos quadrinhos abaixo e responda a questão que se segue:

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Fonte: HTTP://www.ebah.com.br/content/ABAAAgLP4AJ/enem-2013-portugu-s-1?part=2

1) Analise os registros linguísticos usados pelas personagens da historinha. Você diria que
estão adequados à situação retratada? Justifique sua resposta.

Para ver a possível resposta a essa questão!

Resposta:
Ao que tudo indica, se trata de uma de audiência de uma CPI, em que uma testemunha
responde perguntas feitas por uma autoridade, no caso, um deputado, sobre esquemas de
corrupção política. Daí se justifica a linguagem formal usada nos três primeiros quadrinhos.
Ao ouvir a resposta do depoente implicando-o no processo, porém, o deputado desce o
nível do registro linguístico e cai no que poderíamos considerar como gíria ou até mesmo
linguagem vulgar. O humor do quadrinho reside justamente nessa queda do registro linguístico
no ambiente em questão.

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2) Partindo da leitura do texto abaixo, procure refletir, tendo como base o conceito de registro e
as múltiplas formas de contextualização da língua. A seguir, responda a questão que se segue.

O burocrata
Léo Montenegro

Robelério, o burocrata, caminhava pela Cinelândia, quando ouviu o grito:


- É o bicho! Quem se meter a besta de reagir vai levar com uma bala na ideia!
Robelério levantou o dedo para falar.
- Perdão, mas os senhores não nos comunicaram por memorando que iriam assaltar hoje.
O chefe do bando falava e gesticulava com a arma:
- Tá pensando que nós temos tempo pra palhaçada? Passa logo a grana, senão vai
levar um pombo sem asas nos cornos!
Robelério não perdeu a pose:
- É exatamente sobre isso que eu estava falando. Se tivesse sido comunicado do
assalto, estaria com dinheiro em caixa para atender os senhores. Outrossim, informo que os
senhores deveriam usar um crachá para que possam ser reconhecidos como assaltantes.
Uma velhinha para o Robelério:
- Ih, moço, para de falar difícil com eles, porque vai acabar dando um nó na ideia
deles e vai ser tiro pra todo lado.
Robelério para a velhinha:
- Em resposta a vossa solicitação, informo que não poderei adotar tais providências,
vez que, como se observa, o assalto está desorganizado e fora de seus padrões normais.
Um dos bandidos, para o chefe:
- Esse cara é maluco. Acho melhor não atirar nele, por causa de que é proibido bater
e atirar em maluco.
O chefe nem estava aí:
- Maluco ou não, se ele não parar com essa frescura, eu aperto o gatilho.
Robelério era um pentelho:
- A propósito, vossa senhoria tem nota fiscal dessa arma? Se não tem, fique sabendo
que está infringindo a Lei 38 do Código de Defesa do Consumidor. Isso representa dizer que
sua empresa de assaltos está sujeita a uma multa de 400 UFIR’s.
O chefe do bando desandou a dar pulinhos:
- Vai multar a mãe! Isto é um assalto, não entendeu?
Robelério:
- Desconheço a ação por absoluta falta de comunicação, por memorando, de que
ela seria desenvolvida.
Parou aí, porque o bandido deu-lhe um tiro no braço e se mandou com a quadrilha. Mas
o pior foi quando a ambulância chegou. Robelério não queria ir para o hospital de jeito nenhum:
- Sem um memorando avisando ao estabelecimento hospitalar sobre a minha
chegada, nada feito.
Foi levado à força.

PERGUNTA-SE: Como se processa o humor no texto em questão? Comente.

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Resposta:
O registro linguístico empregado por Robelério, de extrema formalidade, está totalmente
inadequado à situação em questão, ou seja, um assalto à luz do dia, em plena Cinelândia.
A fala de Robelério se revela tão inadequada que os bandidos o consideram maluco e ele
acaba por levar um tiro do chefe do bando.

Conclusão
A linguagem é a capacidade que o ser humano tem de se comunicar com as pessoas. Esta
capacidade é materializada através de um veículo social chamado de língua. Vimos, nesta
Unidade, que há variação entre a língua falada e escrita. A primeira é mais natural, já que
aprendemos a falar imitando o que ouvimos; a segunda, requer mais atenção e conhecimento
de quem fala.

Verificamos, também, que condicionantes sociais, regionais e as diversas situações em


que se realiza determinam a ocorrência de variações em uma língua. A linguagem também
sofre variações. Dependendo da situação comunicativa e do grau de intimidade entre os
interlocutores, ela pode ser mais ou menos formal.

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