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PEDAGOGIA

Curso de Graduação Online | UNISUAM

Leitura e

UNIDADE 3
Produção de Textos
Modos de Organização Textual:Tipologia Textual Básica Leitura e Produção de Textos | UNISUAM

Modos
de Organização
Textual:Tipologia
Textual Básica
Objetivo do estudo
- Reconhecer os diferentes processos de elaboração de textos: narração, descrição e
dissertação, bem como as características e os elementos presentes em cada um.
- Identificar as feições do texto dissertativo: exposição e argumentação
- Reconhecer os modos de desenvolvimento da dissertação.
- Descrever as manifestações da tipologia textual em diferentes gêneros.
- Dissertar sobre a interpenetrabilidade dos diferentes modos de organização.

INTRODUÇÃO:
Dependendo do tipo de texto que se queira produzir, o desenvolvimento dos parágrafos precisará
atender a algumas características específicas. Há três tipos básicos de textos, amplamente
utilizados em nosso dia a dia. Em linhas gerais, são eles:

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NARRAÇÃO: quando se deseja contar (ou relatar) um fato que tenha ocorrido;

DESCRIÇÃO: quando se deseja mostrar os detalhes (ou características) que se referem a


um lugar, objeto ou pessoa;

DISSERTAÇÃO: quando se deseja apresentar uma noção, opinião ou ideia (dissertação


expositiva); ou quando se deseja defender um ponto de vista e tentar convencer outra pessoa
(dissertação argumentativa).

Narrar, descrever e dissertar são, portanto, os três processos fundamentais de redação que
fazem parte da comunicação do dia a dia e, por isso, são muito utilizados na prática da escrita.
Veremos, nesta Unidade, como isto se dá em termos práticos, através de variados exemplos.

Que tal começarmos?

Processos de Elaboração do Texto


Narrar, descrever e Para começarmos o nosso estudo, imagine a seguinte
situação:
dissertar são, portanto, Na rua onde você mora, realiza-se semanalmente uma feira.
os três processos Você decide escrever sobre isso. Dependendo do enfoque
que você queira dar ao seu texto, o processo de elaboração
fundamentais de redação vai ter de ser diferente.

Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/
SaoPaulo/foto/0,,35281167-EX,00.jpg

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a) Se você quer mostrar ao leitor como é a feira (isto é, o que existe nela, que produtos são
vendidos, como são as barracas, etc.), vai ter de recorrer à descrição;

b) Se você quer contar ao leitor algum fato que tenha acontecido na feira (vamos supor, um
assalto, um desentendimento entre fregueses, etc.), terá de recorrer à narração;

c) Mas se você decidir analisar a presença da feira em sua rua de modo mais profundo e
escrever sobre a importância da feira para sua comunidade (proporcionar o encontro entre
os vizinhos, a aquisição de alimentos mais frescos e em conta etc.), neste caso, teremos de
recorrer à dissertação expositiva, para que você possa expor suas ideias;

d) Por fim, pode-se ainda abordar este tema sob outro enfoque. Digamos que você deseja
provar a superioridade da feira, enquanto atividade econômica, em relação às redes de
supermercados, por exemplo. Neste caso, vai recorrer à dissertação argumentativa, com o
intuito de convencer o leitor de sua opinião.

Há mais algumas características, sobre os quatro tipos de


textos, que podemos destacar:

- Descrever é caracterizar. Ao descrever, você explica


com suas palavras o que percebeu de um fato ou objeto,
buscando passar para o leitor, o mais fielmente possível,
a visão que você teve do elemento que busca descrever.
Portanto, o texto descritivo costuma fazer uso constante da
adjetivação, para enriquecer os detalhes e ajudar a compor
os cenários e/ou personagens;
atenção - Narrar é contar. Ao narrar, você conta um fato acontecido,
com quem aconteceu, onde, quando, como, por que etc. Por
É difícil que um texto apresente apenas um destes
processos de construção em sua elaboração. O dar ênfase às ações ocorridas, na narração é constante o
mais comum é que eles coexistam, isto é, que um uso de verbos, notadamente os de ação;
texto apresente dois ou mais destes processos
simultaneamente. - Dissertar de forma expositiva é dar sua opinião sobre um
fato ou tema. Neste caso, o autor deve procurar desenvolver
uma ideia central, explicando seus pontos de vista, propondo
novos aspectos ao tema central, até chegar ao seu principal
objetivo, ou seja, concluir de modo claro e coerente seu
pensamento;

- Dissertar de forma argumentativa é defender um ponto


de vista, buscando convencer o leitor a assumi-lo também.
É nesse aspecto de sedução do leitor que consiste a
diferença básica entre textos dissertativos expositivos e
argumentativos. Bons exemplos de textos dissertativos
argumentativos são os discursos políticos, em que se busca
aliciar o leitor ou ouvinte para que assuma determinada
posição ideológica.

Vamos, agora, ver separadamente cada uma dessas


tipologias textuais básicas.

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O Texto Narrativo: características e elementos

Vamos ler o texto seguinte e perceber como ele se estrutura, quais são seus principais
elementos e características.

INFERNO NACIONAL

A historinha abaixo transcrita surgiu no folclore de Belo Horizonte e foi contada lá, numa
versão política. Não é o nosso caso. Vai contada aqui no seu mais puro estilo folclórico,
sem maiores rodeios.

Diz que uma vez um camarada que abotoou o paletó. Em vida o falecido foi muito
dado à falcatrua, chegou a ser candidato a vereador pelo PTB, foi diretor de instituto de
previdência, foi amigo do Tenório, enfim... ao morrer nem conversou: foi direto ao Inferno.
Em chegando lá, pediu audiência a Satanás e perguntou:

- Qual é o lance aqui?

Satanás explicou que o inferno estava dividido em diversos departamentos, cada um


administrado por um país, mas o falecido não precisava ficar no departamento administrado
pelo seu país de origem. Podia ficar no departamento do país quer escolhesse. Ele agradeceu
muito e disse a Satanás que ia dar uma voltinha para escolher o seu departamento.

Está claro que saiu do gabinete do Diabo e foi logo para o departamento dos Estados
Unidos, achando que lá devia ser mais organizado o inferninho que lhe caberia para toda a
eternidade. Entrou no departamento dos Estados Unidos e perguntou como era o regime ali.

- Quinhentas chibatadas pela manhã, depois passar duas horas num forno de duzentos
graus. Na parte da tarde: ficar numa geladeira de cem graus abaixo de zero até as três horas,
e voltar ao forno de duzentos graus.

O falecido ficou besta e tratou de cair fora, em busca de um departamento menos


rigoroso. Esteve no da Rússia, no do Japão, no da França, mas era tudo a mesma coisa.
Foi aí que lhe informaram que tudo era igual: a divisão em departamento era apenas para
facilitar o serviço no Inferno, mas em todo lugar o regime era o mesmo: quinhentas chibatadas
pela manhã, forno de duzentos graus durante o dia e geladeira de cem graus abaixo de
zero, pela tarde.

O falecido já caminhava desconsolado por uma rua infernal, quando viu um


departamento escrito na porta: Brasil. E notou que a fila à entrada era maior do que a dos
outros departamentos. Pensou com suas chaminhas: "Aqui tem peixe por debaixo do angu".
Entrou na fila e começou a chatear o camarada da frente, perguntando por que a fila era
maior e os enfileirados, menos tristes. O camarada da frente fingia que não ouvia, mas ele
tanto insistiu que o outro, com medo de chamarem atenção, disse baixinho:

- Fica na moita, e não espalha não. O forno daqui está quebrado e a geladeira anda
meio enguiçada. Não dá mais de trinta e cinco graus por dia.

- E as quinhentas chibatadas? - perguntou o falecido.

- Ah... O sujeito desse serviço vem aqui de manhã, assina o ponto e cai fora.

(Sérgio Porto - Stanislaw Ponte Preta)

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Para sua informação, trata-se de um texto do cronista


Sérgio Porto, que ficou mais conhecido como Stanislaw
Ponte Preta, pseudônimo que adotou com fins humorísticos.
Crítico inteligente e preciso das mazelas do país, seus textos,
mesmo tendo sido escritos em boa parte nos anos 1960,
permanecem atuais, como é o caso deste.

exemplo
Elementos da Narrativa
Vamos ler o texto que se segue:

O PADEIRO

Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a
porta do apartamento - mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro
de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não
é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões; que suspenderam o trabalho noturno;
acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não
sei bem o quê do governo.

Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto
tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha
deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar
os moradores, avisava gritando:

- Não é ninguém, é o padeiro!

Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?

“Então você não é ninguém?”

Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe
acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra
pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a
pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim
ficara sabendo que não era ninguém. . .

Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis
detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante.
Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada
que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina - e
muitas vezes saía de lá levando na mão um dos primeiro exemplares rodados, o jornal ainda
quentinho da máquina, como pão saído do forno.

Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque
no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar,
ia uma crônica ou artigo com meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta
de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre
todos útil e entre todos alegre: “não é ninguém, é o padeiro!”

E assobiava pelas escadas.

(BRAGA, Rubem. In: Para gostar de ler, Vol. 1, Ática, São Paulo, 1977)

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Como você deve ter observado através da leitura do texto “O padeiro”, os acontecimentos
são contados por alguém: o narrador. Na história, aparecem as personagens envolvidas em
fatos que se desenrolam em certo tempo e em determinado espaço. São esses elementos
que caracterizam a narrativa.

O narrador relata episódios imaginados ou presenciados por ele ou, até mesmo, dos quais
tenha participado. No primeiro caso, temos o chamado narrador em 3ª pessoa, pois ele não
toma parte na narrativa e os verbos aparecem em terceira pessoa, como no caso do primeiro
texto que lemos, Inferno Nacional (“Diz que uma vez um camarada que abotoou o paletó.”).
Se o narrador participa da história, temos o chamado narrador em 1ª pessoa, já que os
verbos aparecem em primeira pessoa, como no texto O padeiro (“Levanto cedo, faço minhas
abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento - mas não
encontro o pão costumeiro.”).

Quando se dispõe a contar uma história, o narrador já tem em mente a ideia-chave, que é
a base da narrativa. Para que a narrativa tenha qualidades, o assunto deve ser relatado de
forma original e despertar no leitor interesse pelo desenrolar da história. A linguagem deve
ser simples, clara, correta. A história deve ser verossímil, ou melhor, deve dar ao leitor a
“impressão” de que pode, de fato, acontecer.

Os principais elementos da narrativa são:

ENREDO: o enredo ou trama é formado pelos fatos que se


desenrolam durante a narrativa. Não é suficiente tirar os fatos
da realidade e passá-los para o papel; é preciso selecioná-
los. Só deve fazer parte da narrativa o que é importante para
o desenvolvimento da história.
Quando se dispõe a contar
uma história, o narrador já PERSONAGENS: os fatos envolvem personagens. É de
acordo com ações, comportamento e características das

tem em mente a ideia-chave, personagens que a história se desenvolve. Por isso elas
são elementos fundamentais da narrativa.

que é a base da narrativa ESPAÇO: os fatos acontecem em um determinado ambiente,


o espaço. Ele pode funcionar como pano de fundo para a
história ou até como expressão do estado de espírito das
personagens, dependendo do tipo de tratamento que o autor
dá à narrativa.

TEMPO: o narrador conta fatos que ocorrem em determinado


intervalo de tempo - elemento que indica quando ocorrem as
ações das personagens. No texto que lemos, estão presentes
duas formas de tempo: a) cronológico - espaço de tempo real
em que a personagem realiza suas ações. Os verbos aparecem

aprofundando no presente: “Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a


chaleira no fogo (...) e abro a porta.”; b) psicológico - é o que
aparece em momentos da narrativa que não correspondem a
Se quiser ler um texto muito interessante sobre a ações efetivas das personagens, mas a lembranças, devaneios,
questão do tempo nas narrativas, acesse: sonhos, etc. Os verbos não aparecem no presente, já que as
ações não estão sendo realizadas naquele momento. Nesse
h t t p : / / w w w. r e c a n t o d a s l e t r a s . c o m . b r /
texto que lemos, quando o narrador se lembra da história do
teorialiteraria/410685
padeiro, os verbos aparecem no pretérito: “E enquanto tomo
café vou me lembrando de um homem modesto que conheci
antigamente. (...) Ele abriu um sorriso largo. Explicou que
aprendera aquilo de ouvido.”

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O Texto Descritivo: sua estruturação
Vamos ler, juntos, o texto que se segue:

A GUERRA DO FIM DO MUNDO

O homem era tão alto e tão magro que parecia sempre de perfil. Sua pele era escura,
seus ossos proeminentes e seus olhos ardiam como fogo perpétuo. Calçava sandálias de
pastor e a túnica azulão que caía sobre o corpo lembrava o hábito desses missionários que,
de quando em quando, visitavam os povoados do sertão batizando multidões de crianças e
casando os amancebados. Era impossível saber sua idade, sua procedência, sua história,
mas algo havia em seu aspecto tranquilo, em seus costumes frugais, em sua imperturbável
seriedade que, mesmo antes de dar conselhos, atraía pessoas.

(Mario Vargas Llosa – A Guerra do Fim do Mundo)

Notou que o texto A Guerra do Fim do Mundo é uma descrição? Percebemos o mundo pelos
sentidos. Através deles, construímos as imagens que temos de pessoas, coisas, lugares.
Quando queremos transmitir a alguém uma imagem, recorremos de novo a nossos sentidos
para reconstruí-la e depois exterioriza-la por meio da linguagem. Quando utilizamos a
linguagem para expressar a imagem que temos de coisas, cenas ou pessoas, construímos
um texto descritivo.

Como você já viu, na narração ocorre uma sequência de fatos que se desenrolam no tempo de
tal forma que os personagens vão sofrendo transformações à medida que os acontecimentos
sucedem. Na descrição não há essa sucessão de acontecimentos no tempo, de sorte que não
haverá transformações de estado da pessoa, coisa ou ambiente que está sendo descrito, mas
sim a apresentação pura e simples do estado do ser descrito em um determinado momento.

A descrição se caracteriza por ser o retrato de pessoas, objetos ou cenas. Para produzirmos
retrato de um ser, de um objeto ou de uma cena, podemos utilizar a linguagem não verbal,
como no caso das fotos, pinturas e gravuras, ou a linguagem verbal (oral ou escrita). Veja,
abaixo, uma estátua que representa Antônio Conselheiro, a mesma personagem descrita no
texto verbal que lemos:

Fonte: http://www.canudos.ba.gov.br/
prefeitura/guerra-de-canudos.asp

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A utilização de uma dessas linguagens não exclui necessariamente a outra: pense, por
exemplo, nas fotos ou nas ilustrações com legendas, em que a linguagem verbal é utilizada
como complemento da linguagem não verbal. Pense também num anúncio de animal de
estimação perdido em que, ao lado da descrição verbal do animal, também é apresentada,
como complemento àquela informação, a foto dele.

As Sequências Descritivas
O texto que abre o assunto sobre descrição é o início do

importante romance “A guerra do fim do mundo”. Nele o escrito peruano


Mário Vargas Llosa reconta a história da guerra de Canudos.
Romance é um gênero textual que em que predomina as
Dificilmente você encontrará um texto exclusivamente sequências narrativas. Isso não impede, porém, que nele
descritivo (isso ocorre em catálogos, manuais e possamos encontrar sequências textuais de outros tipos.
demais textos instrucionais). O mais comum é haver
trechos descritivos inseridos em textos narrativos
O texto faz um retrato de Antônio Vicente Maciel, o Antônio
ou argumentativos. Em romances, por exemplo,
que são textos narrativos por excelência, você Conselheiro, líder da revolta de Canudos (Bahia, 1897),
pode perceber várias passagens descritivas, tanto assunto tratado em textos dos mais diversos gêneros:
de personagens como de ambientes. romances, filmes, músicas, ensaios, textos didáticos
e históricos. O parágrafo que lemos trata-se, portanto,
de uma sequência descritiva num texto pertencente ao
gênero narrativo.

No texto descritivo, há um predomínio de verbos no pretérito imperfeito e no presente do


indicativo. Como nas sequências descritivas o autor procurava fazer com que aquilo que
se descreve apareça como um quadro vivo à nossa frente no momento em que tomamos
contato com a descrição, o uso desses tempos verbais é fundamental.

No exemplo, usou-se o pretérito imperfeito porque se trata da descrição de um personagem


histórico. O uso desse tempo verbal permite ao autor recuar no tempo, tornando presente
aquilo que é passado. A figura do Conselheiro, alguém que viveu na segunda metade do
século XIX, pelo uso do pretérito imperfeito, surge a nós como uma figura presente.

Veja um exemplo de descrição em que se empregam os verbos no presente do indicativo:

exemplo

http://sanzovo.files.wordpress.
com/2013/10/fernando-de-noronha-pe.jpg

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Noronha não é grande (vinte vezes menor que Ilha Bela, em São Paulo, por exemplo), mas
também não chega a ser uma ilhota de desenho animado. De uma ponta à outra são cerca de
dez quilômetros, que, no entanto, não podem ser percorridos pelas areias das praias porque
a maioria delas não se comunica entre si, nem na maré baixa.

Agora que já estudou sobre os tipos de texto, é hora de mostrar que você compreendeu bem
o assunto. Realize o exercício seguinte!

exercício Oficina de Produção

Escolha uma das propostas seguintes e produza o texto proposto, de acordo com as
características textuais estudadas. Depois, envie-o para que seja avaliado pelo professor
da disciplina.

1ª Proposta:

Elabore uma narrativa sobre uma cena de rua. Seguem alguns tópicos, para ajudar a organizar
as suas ideias. Mas atenção: o texto é seu. Novos tópicos são muito bem-vindos.

• Como é o início da história?

• O tema sugere o espaço da narrativa; determine o lugar da rua;

• Como está o ambiente? Chuvoso, ensolarado, nublado?

• Que personagens participam da trama? O que fazem?

• O cenário exerce alguma influência no comportamento delas? De que forma?

• Observe o tempo da narrativa: utilizando o tempo cronológico, indique quando ocorreu


o fato narrado e a sequência em que se desenvolveram as ações; se possível, insira
um momento em que seja empregado o tempo psicológico.

2ª Proposta:

Escolha um dos tópicos a seguir e desenvolva um texto descritivo claro, coerente, coeso e
correto. Não se esqueça de fornecer o máximo de detalhes possíveis, para tornar seu texto
interessante e variado:

1) Descreva: o bairro onde você mora ou trabalha. Destaque seus principais aspectos
ou peculiaridades, diga como são as pessoas, as casas, o comércio etc. Enfim, procure
traçar um bom retrato do bairro em questão, para que, mesmo quem nunca foi lá, possa
ter uma boa ideia de como é.

2) Descreva: seu melhor amigo (ou amiga). Como a pessoa é, fisicamente? E quanto
ao seu caráter, seu temperamento, suas atitudes, que traços mais se destacam? Fale o
que puder para traçar um retrato fiel da pessoa escolhida.

Qualquer que seja a opção escolhida, ao elaborar seu texto, não se esqueça de observar
questões como a ortografia, a concordância, o emprego de termos adequados etc. Problemas
nesses aspectos podem comprometer a compreensão de suas ideias.

Use sua imaginação para explorar o tema, sua capacidade de ordenação lógica para desenvolvê-
lo de modo claro e coerente de acordo com as características do tipo básico escolhido, envie
para ser avaliado pelo professor e... boa sorte! O importante é não ter medo de tentar!

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O Texto Dissertativo e suas Diversas Feições:
exposição e argumentação
O texto dissertativo expositivo é uma sequência de ideias e opiniões a respeito de um
determinado assunto. A elaboração de um texto dissertativo expositivo pressupõe espírito
crítico, raciocínio, clareza e objetividade na exposição dos fatos e opiniões.

Outro aspecto importante da dissertação, tanto expositiva quanto argumentativa, diz respeito
aos assuntos propostos que, na maioria das vezes, são muito amplos. Torna-se necessário,
portanto, delimitá-los, antes de abordá-los em um texto dissertativo.

Tomemos como exemplo o assunto “futebol”, que pode ser abordado sob os mais diferentes
aspectos. Seria impossível abranger, num único texto, todas estas possibilidades. Faz-
se imprescindível, portanto, definir o ângulo, ou seja, o tema sob o qual o assunto em
questão será abordado.

• O futebol e a criança
• O futebol e as torcidas organizadas: incitação à violência?
• A paixão do brasileiro pelo futebol
• O futebol de rua: tradição brasileira

...e assim por diante. São inúmeras as possibilidades de abordagem de assuntos amplos.
Caberá ao(s) autor(es) do texto definir que caminhos, que temas serão escolhidos e
abordados.

Vale destacar que tema e assuntos são coisas distintas:

Tema (mais restrito, tem caráter mais específico)

Assunto (mais geral, tem caráter mais abrangente)

Estrutura Básica do Texto Dissertativo (de


qualquer tipo)
Para que um texto dissertativo apresente lógica e coerência, deve ter uma determinada
estrutura. A estrutura-padrão é constituída de:

a) introdução: deve conter a ideia principal a ser desenvolvida.


“Os meios de comunicação Uma vez delimitado o assunto sobre o qual se vai escrever

social constituem, e elaborado um plano para estruturar o texto, é importante


pensar no parágrafo que vai introduzir o tema. Esse

paradoxalmente, meios parágrafo deve, antes de mais nada, chamar a atenção do


leitor para dois itens essenciais: os objetivos e o plano de

de elite e de massa.” desenvolvimento do texto. Vejamos exemplos disso:

(José Marques de Melo). “Os meios de comunicação social constituem, paradoxalmente,


meios de elite e de massa.” (José Marques de Melo).

Observe como o autor, em poucas palavras, chama a atenção para a contradição existente nos
meios de comunicação social e, ao mesmo tempo, nos dá ideia do que pretende desenvolver
(claro, uma discussão em torno dessa contradição).

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“De um tecido rústico para cobrir barracas, surgiu a roupa mais universal do homem. Adotadas
pela juventude, as calças jeans tornaram-se símbolo de uma nova maneira de viver.” (Revista
Superinteressante).

Através deste parágrafo, nota-se claramente que o autor


pretende traçar uma evolução histórica do uso do jeans
VOCÊ SABIA? e demonstrar o porquê de ser a roupa mais universal e
símbolo de um novo estilo de vida. Os objetivos e o plano de
desenvolvimento do texto ficam bem claros nesse parágrafo
Como saber se um texto dissertativo está bem
introdutório.
desenvolvido? Aqui vai um truque, para saber se
um texto dissertativo está bem desenvolvido, com
começo, meio e fim: após ler o texto na íntegra, b) desenvolvimento: exposição de opiniões que vão
releia apenas a introdução e a conclusão. fundamentar a ideia principal;

Se estes dois parágrafos se complementarem, ou


c) conclusão: é a retomada da ideia principal, que deve
seja, se na conclusão estiverem “fechadas” ideias
lançadas na conclusão, é porque o texto está bem aparecer de forma mais convincente, uma vez que já foi
estruturado e com seu sentido completo. fundamentada durante o desenvolvimento. Deve conter
de uma forma resumida o objetivo proposto na introdução,
acrescido da ideia básica empregada no desenvolvimento.

Modos de Desenvolvimento da Dissertação


Conforme vimos anteriormente, a estrutura básica da dissertação compreende uma introdução,
o desenvolvimento do tema e uma conclusão, que retome e dê um “fecho” ao tema do texto.
Este desenvolvimento da dissertação pode ser elaborado de diferentes modos. Vamos ver
os mais comuns:

A) Por Definição

A definição de um dos termos – geralmente o mais importante – do tema do texto serve como
ponto de partida para o desenvolvimento da dissertação. Exemplo:

Um dos mais sérios problemas que o Brasil enfrenta é o da saúde.


Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e emocional, define a
Organização Mundial de Saúde – OMS, órgão vinculado às Nações Unidas. No
caso, saúde é mais do que não estar doente.
(Isto é, abr., 1985)

Observe como, no segundo parágrafo, o termo “saúde” é definido, deixando claro ao leitor
sobre o que o texto realmente vai discorrer. Como o próprio texto diz, o termo “saúde” aqui
está sendo usado em um sentido bem mais amplo que o habitual.

B) Por Comparação

Neste caso, o autor do texto compara seres, fatos, ideias, destacando semelhanças ou
diferenças entre eles.

Comparação por semelhança; exemplo:

Não há nenhuma diferença entre a dama da sociedade e o pajé botocudo. Ambos


anunciam seu “status” social através do volume de sofrimento que infligem à
natureza para se enfeitar.

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Uma dessas damas que se apresentam em público com uma pele de onça, sapatos
de couro de jacaré e bolsa de tartaruga estaria dizendo que, para se vestir naquele
dia, foi necessário um grande sacrifício da natureza. Ou seja, que ela vale muito
mais que um jacaré, uma onça e uma tartaruga juntos. Ela se sente valorizada
tanto quanto o chefe indígena que matou três araras para compor seu exuberante
cocar e cinco caitetus para fazer um colar de dentes.
(Rogério C. de Cerqueira Leite)

A comparação, aqui, se dá entre dois elementos bem inesperados, um pajé botocudo e uma
dama da sociedade. Tais elementos são explicitados no parágrafo de introdução e os pontos
de semelhança entre eles, no desenvolvimento.

Comparação por contraste; exemplo:

Não deixa de existir uma situação paradoxal no que diz respeito às cargas horárias
de trabalho para uns e ao desemprego para outros.
De um lado, trabalhadores em serviço oito horas por dia, quarenta e oito horas
por semana e, de outro lado, trabalhadores desempregados por não conseguirem
trabalho. É um dos grandes problemas que estamos enfrentando.
(Renato Requixá)

No caso, o contraste se estabelece entre trabalhadores com excesso de horas trabalhadas e


desempregados. Observe como o uso de termos como “de um lado” e “de outro lado” ajuda
a estabelecer a comparação por contraste.

c) Por Exemplificação

Neste caso, o autor busca comprovar uma afirmativa feita na introdução de seu texto através
da citação de um exemplo que ilustre aquela regra ou princípio.

No texto a seguir, o autor afirma, no parágrafo de introdução, que maus hábitos são
comuns no comportamento do brasileiro, mas que haveria diferentes tipos, desde simples
falta de educação a infrações à lei. Para tornar esta afirmativa mais clara para o leitor, no
desenvolvimento ele faz uso de exemplos concretos. Observe:

Há maus hábitos brasileiros, disfarçados em falta de educação, que, ultrapassando


os limites da etiqueta, ingressam no campo das contravenções. Outros são simples
ilícitos civis. Todos, porém, ligados à ausência de civilização elementar.
Falar alto no cinema, durante a exibição do filme, constitui simples falta de
educação. Fumar, porém, na sala é, além de perigoso, uma ofensa à lei, que muitos
se dão ao luxo de desprezar, pela quase certeza da impunidade. Corresponde a
uma ação correta buzinar, no trânsito, para um aviso relacionado com a segurança.
Buzinar repetidamente, em frente de um hospital ou tentando acordar alguém que
dorme no décimo andar, além de ser coisa de cafajeste, infringe a lei.
(Walter Ceneviva – Folha de São Paulo, 2 fev. 1996)

d) Por Causa e Consequência

Por causa, entende-se o fato que provoca ou justifica o que está expresso na ideia principal.
Por consequência, o fato que decorre daquilo que está exposto na ideia principal.

Leia o texto seguinte. Perceba como a internalização de preconceitos por parte das crianças
é mostrada como consequência de comportamentos preconceituosos que os adultos

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diariamente, mesmo sem sentir, exibem. Tais comportamentos, portanto, são a causa e os
preconceitos, a consequência.

A criança pode formar várias formulações preconceituosas relativas às minorias


étnicas a partir de seu dia-a-dia. Índios, mulheres e negros, por exemplo, são
definidos através de estereótipos lamentáveis, não só através da fala cotidiana
como através dos veículos de comunicação de massas e até dos livros didáticos.
Como escapar, então, às formulações preconceituosas? Quando se comporta mal,
a criança é advertida pelos adultos: “Cuidado que o negrão vem te pegar”. Sobre os
índios, todos “aprendem” que andam nus, caçam com arco e flecha, adoram o sol
e a lua, moram em ocas e não têm religião. O trabalho doméstico, por sua vez, não
é o verdadeiro trabalho. E a frase predileta dos mais velhos, relativa às meninas,
afirma mais ou menos o seguinte: “Você sabe cozinhar, então já pode casar”.
O preconceito, portanto, nos é tão familiar que acabamos, de certa forma,
impossibilitados de identificá-lo e incapacitados para combatê-lo.
(Renato da Silva Queiroz)

e) Por Ordenação Cronológica

Dependendo da natureza do tema que está sendo abordado, pode ser necessário situar os
fatos tratados no tempo. Neste caso, essa ordenação no tempo pode se constituir num recurso
muito valioso, por esclarecer tópicos do tema em questão. Este tipo de desenvolvimento é
básico em textos de caráter histórico. Veja o exemplo que se segue:

Antes do século XIV, os estudos geográficos e astronômicos eram quase um


privilégio árabe e bizantino. É bem verdade que os italianos tiveram acesso a
eles a partir do século XI, mas na Europa ocidental eram bastante desconhecidos.
Apenas no século XIII tais estudos chegaram em quantidade significativa ao
conhecimento dos cristãos ibéricos, graças às traduções de textos árabes pelos
sábios de Toledo. No século XIV, essa cidade, além de Majorca e Barcelona,
desenvolveu as ciências da navegação, chegando a comparar-se com o saber
florentino e genovês. Mas em Portugal, embora se registrem no século XIV alguns
almanaques com tábuas astronômicas e cálculo de latitudes, apenas no século XV
tomariam impulso os estudos náuticos, graças à ação do Infante.

(Antonio Mendes Jr. et alii. Brasil História – Texto e Consulta)

exercício Que tal praticar o que aprendeu até aqui? Faça o exercício seguinte!
Vamos ler o texto que se segue:

PEDOFILIA E TRÁFICO DE MENORES NA INTERNET

A Internet, um dos bens da humanidade que muito contribui para o seu desenvolvimento,
está sendo utilizada pelos pedófilos para realizarem suas fantasias sexuais, trocarem e
comercializarem fotos, filmes, DVD, entre outras coisas. Dos crimes praticados através da
Internet, a pedofilia é - sem sombra de dúvida - o que causa maior repúdio à sociedade.
A pedofilia consiste num distúrbio de conduta sexual, em que o indivíduo adulto sente
desejo compulsivo por crianças ou pré-adolescentes, podendo ter caráter homossexual ou
heterossexual. Na maioria dos casos, os pedófilos são homens, muitas vezes casados, que
se sentem incapazes de obter satisfação sexual com uma pessoa adulta.

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Os números são alarmantes: estima-se que a pedofilia movimente muito dinheiro


(correspondentes a vendas de fotos e vídeos contendo abuso sexual). Em todo o mundo já
foram encontrados mais de 17.000 sites de pedofilia na Web.

A Internet também está sendo usada para traficar crianças e adolescentes a fim de serem
exploradas sexualmente e envolvidas em uma rede de tráfico e prostituição. Muitos dos
"pacotes turísticos" vendidos pela NET têm a criança como principal atração.

Os países com maior índice de casos de pedofilia são a Tailândia e o Brasil. Há opções
de programas com crianças, escolhendo desde a etnia até a idade e conformação física.
Semelhante ao que ocorre com as mulheres, estas crianças chegam à Tailândia como
escravas sexuais.

No Brasil, cresce a cada dia esta prática de crime que inclui o tráfico interno de crianças - na
grande maioria oriundas de regiões pobres, onde são raptadas ou iludidas com promessas
de adoção ou empregos. Tais crimes tiram da criança o que ela tem de mais valioso, isto é,
sua inocência e sua infância. Exemplos noticiados são vários: recentemente um arquiteto
pedófilo de Taguatinga, DF, foi preso graças a uma mulher que se comunicava com ele pela
internet e fez a denúncia do crime ao Ministério Público.

Exemplos como este são importantes, mas é preciso que haja um trabalho investigativo
rigoroso, que exige uma estrutura grande, com policiais treinados e com conhecimento em
informática, computadores de última geração, para que seja feito o rastreamento e localização
do criminoso da forma mais rápida possível. Também é fundamental a implementação de
políticas públicas que garantam as necessidades básicas das vítimas e de suas famílias,
para que possam ser incluídas na sociedade como cidadãs brasileiras.

A internet é um bem que, se soubermos usar, traz inúmeros benefícios; caso contrário, pode
também trazer a perda de filhos.

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exercício
A partir da leitura do texto “Pedofilia e Tráfico de Menores na Internet”, responda as questões
seguintes.

1) Que elementos caracterizam este texto como dissertativo expositivo? Justifique sua resposta
com base em elementos do próprio texto.

2) Caracterize o recurso de construção do segundo parágrafo do texto.

3) Cite uma passagem do texto, em que o escritor utiliza o recurso da exemplificação.

possíveis respostas
1) O que caracteriza este texto como dissertativo expositivo é o fato de passar informações
ao leitor, ao mesmo tempo e que expõe as opiniões do autor sobre o assunto.

2) Releia com calma o segundo parágrafo do texto, reproduzido abaixo. Repare que ele se
desenvolve pela definição de um dos termos do tema do texto, no caso, pedofilia. Portanto,
é um parágrafo desenvolvido por definição.

A pedofilia consiste num distúrbio de conduta sexual, em que o indivíduo adulto sente
desejo compulsivo por crianças ou pré-adolescentes, podendo ter caráter homossexual ou
heterossexual. Na maioria dos casos, os pedófilos são homens, muitas vezes casados, que
se sentem incapazes de obter satisfação sexual com uma pessoa adulta.

3) O sexto parágrafo, quando é citado o caso do arquiteto de Taguatinga, preso graças à


denúncia de uma mulher ao Ministério Público.

exemplo
Vejamos um exemplo de texto dissertativo expositivo:

A VIOLÊNCIA NO BRASIL

O Brasil é considerado um dos países mais violentos do mundo. O índice de assaltos,


sequestros, extermínios, violência doméstica e contra a mulher é muito alto e contribui para
tal consideração. Suas causas são sempre as mesmas: miséria, pobreza, má distribuição de
renda, desemprego e desejo de vingança.
A repressão usada pela polícia para combater a violência gera conflitos e insegurança na
população que, nutrida pela corrupção das autoridades, não sabe em quem confiar e decide se
defender a próprio punho, perdendo seu referencial de segurança e sua expectativa de vida.
O governo, por sua vez, concentra o poder nas mãos de poucos, deixando de lado as
instituições que representam o povo. A estrutura governamental torna a violência necessária,
em alguns aspectos, para a manutenção da desigualdade social. Não se sabe ao certo
onde a violência se concentra, pois se são presos sofrem torturas, maus tratos, descasos,
perseguições e opressões, fazendo que tenham dentro de si um desejo maior e exagerado
de vingança.
Se a violência se concentra fora dos presídios, é necessário que haja um planejamento de
forma que se utilize uma equipe específica que não é regida pela força, autoridade exagerada
e violenta. Medidas precisam ser tomadas para diminuir tais fatos, mas é preciso que se
atente para a estrutura que vem sendo montada para decidir o futuro das cidades brasileiras.

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Não é necessário um cenário de guerra com armas pesadas no centro das cidades,
mas de pessoal capacitado para combater a violência e os seus causadores. Um importante
passo seria cortar a liberdade excessiva que hoje rege o país, aplicar punições mais severas
aos que infringirem as regras e diminuir a exploração econômica.

Por Gabriela Cabral (Equipe Brasil Escola)


Fonte: http://www.brasilescola.com/sociologia/violencia-no-brasil.htm

exercício
Agora, tente responder as questões seguintes:

1) Qual o assunto principal tratado neste texto? E qual o tema?

2) O que nos leva a crer que este texto é dissertativo expositivo? Justifique sua resposta.

3) Como foi afirmado anteriormente, na conclusão se retoma a tese ou ideia principal exposta
na introdução, fazendo um “fechamento” dessa ideia. Isto ocorre nesse texto? Justifique sua
resposta:

4) Observe o texto misto que se segue. A seu ver, ele também apresenta características de
um texto dissertativo? Justifique sua resposta

O governo, por sua vez, concentra o poder nas


mãos de poucos, deixando de lado as instituições
que representam o povo

Fonte: http://ajcomenta.files.wordpress.
com/2013/02/292584_2601534574097
47_100002452849343_566800_1424
747337_n.jpg?w=363&h=307

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possíveis respostas
1) O assunto (mais geral) é a violência. O tema (mais específico) é a violência no Brasil.

2) Ao longo do texto, o autor expõe sua opinião sobre as causas da violência no Brasil,
passando informações ao leitor e propondo formas de combatê-la. Este aspecto de exposição
de ideias e informações é o que caracteriza como dissertativo expositivo.
3) Sim, lendo-se apenas o parágrafo de introdução e o de conclusão, percebe-se que eles
se complementam. As ideias expostas na introdução são retomadas na conclusão, dando-se
um “fecho”, sob forma de sugestões para o combate à violência.

4) Sim, na medida em que expõe ao leitor as ideias do chargista sobre o tema abordado,
que seriam as causas da violência.

T4
Elementos Constitutivos do Texto Argumentativo

Um dos aspectos importantes a considerar quando se lê um texto deste tipo é que, em


princípio, quem o produz está interessado em convencer o leitor de alguma coisa. Todo texto
argumentativo tem, por trás de si, um produtor que procura persuadir o seu leitor (ou leitores),
usando para tanto vários recursos de natureza lógica e linguística.

Chamamos procedimentos argumentativos a todos os recursos acionados pelo produtor do


texto com vistas a levar o leitor a crer naquilo que o texto diz e a fazer aquilo que ele propõe.

Vejamos um exemplo de texto argumentativo.


exemplo

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL DE 18 PARA 16 ANOS JÁ!

A atual legislação brasileira só considera imputável legalmente os cidadãos acima de 18


anos. Ou seja, antes desta idade, ele não pode responder legalmente por seus atos, sendo
aplicado, em caso de infração, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que prevê
como pena máxima, independentemente do tipo de crime cometido, três anos de reclusão,
durante os quais seriam aplicadas medidas socioeducativas.

Pode ser que, quando esta lei foi criada, ela estivesse adequada à realidade daquele
momento. Mas a verdade é que, nos dias de hoje, ela se mostra totalmente desatualizada.
Considerar um jovem de 16 anos que rouba, mata e estupra incapaz de responder por seus
atos chega a ser uma afronta à nossa inteligência. O que se vê é a idade cada vez mais
precoce dos que cometem crimes, e cada vez mais hediondos, como foi o caso do menino
João Hélio, em que havia um menor de idade entre os envolvidos.

Aliás o fato de não serem legalmente imputáveis torna os menores de idade presas
fáceis de criminosos, como é o caso dos traficantes, que os seduzem com promessas de
lucro fácil, sabendo que, em caso de prisão, eles não sofrerão os rigores da lei. Há casos
até em que se atribui ao menor a liderança do bando, a fim de livrar os demais integrantes,
maiores de idade, de agravantes na pena a ser cumprida.

18
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Já é hora da sociedade se unir e pedir modificações no código penal. Há muito tempo


que adolescentes de 16 e 17 anos perderam sua ingenuidade e têm capacidade de discernir
o certo do errado. Tanto se reconhece isso que, a partir dos dezesseis anos, se permite a
eles votar no presidente do país. É preciso aumentar o rigor da lei, até para servir como
desestímulo para que esses jovens caiam na vida do crime.

Você reparou como o objetivo do autor do texto “Redução da maioridade penal de 18


para 16 anos já!” é levar você a concordar com ele e também ser a favor da redução da
maioridade penal?

Para tanto, ele faz uso de argumentos, visando ao convencimento, como por exemplo afirmar
que se o adolescente, aos 16 anos, tem maturidade para escolher o presidente do país,
também teria para responder legalmente por seus atos. Ou ainda, que diminuir a maioridade
penal desestimularia esses jovens a caírem na vida do crime.

Fonte: http://www.culturamix.com/wp-content/gallery/a-maioridade-penal-no-brasil-1/a-maioridade-penal-no-brasil-4.jpg

Quem escreve ou lê textos dissertativos argumentativos,


porém, não pode se esquecer de que todo tema polêmico,
que são em geral os abordados em textos argumentativos,
tem sempre dois lados. Ou seja, se há quem argumente a
favor, sempre haverá quem argumente contra, e vice-versa.

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Fonte: http://unisinos.br/blogs/ndh/files/2013/04/angeli-reduc3a7c3a3o-da-maioridade-penal.gif

Veja o texto que se segue, que defende uma posição contrária à do


texto anterior.

REDUÇÃO NÃO É SOLUÇÃO!

Reduzir a maioridade legal de 18 para 16 anos não servirá para nada além de
superlotar ainda mais as nossas penitenciárias. Não se tira ninguém da vida do crime
mandando-o para a prisão. Ao contrário, até se piora as coisas, levando-se em conta que
nossas cadeias são verdadeiras universidades do crime. Mesmo que o jovem tivesse
chances de recuperação, após uma temporada preso, em vez de recuperado, estaria pós-
graduado em crime.
Além disso, reduzir a maioridade indiscriminadamente sujeitaria aos rigores da lei
tanto os menores que cometem crimes hediondos, quanto aqueles que cometem pequenos
delitos ou roubam para matar a fome. Ou seja, aumentaria a injustiça já existente em nosso
sistema legal. Isto sem falar na diferença de tratamento que com certeza ocorreria entre
os menores infratores das camadas pobres da população e aqueles oriundos das classes
médias. É bom lembrar que menores de classe média, atualmente, também aparecem nas
páginas policiais com certa frequência e o fato das famílias poderem contratar bons advogados
certamente fará toda a diferença.
Em vez de simplesmente reduzir a maioridade, seria mais efetivo propor medidas
mais severas de repressão aos menores infratores, para que eles pudessem pagar pelos seus
delitos sim, mas sem inseri-los em nosso sistema carcerário. Além de penas mais severas,
implantar medidas de ressocialização efetiva, e liberá-los para a vida em sociedade apenas
quando comprovada sua ressocialização.

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Diminuir a maioridade legal combaterá o crime já cometido, mas não o prevenirá.


Medidas preventivas são sempre preferíveis a medidas meramente punitivas. Portanto, seria
mais efetivo investir em educação e medidas de ressocialização, visando não combater o
crime por combater, mas reduzir seus índices, para o futuro.

Observe como, novamente, o autor faz uso de argumentos visando ao convencimento do leitor,
desta vez citando fatos como a superlotação das cadeias brasileiras e de que é praticamente
impossível se recuperar alguém já inserido em nosso sistema penitenciário.

exercício
Vamos dar uma paradinha para realizar o exercício?!

Proposta de produção textual

Agora, dê sua própria opinião a respeito do tema tratado nos textos anteriores. A partir da
visão apresentada por cada um dos textos e de suas próprias convicções, elabore um texto
versando sobre este mesmo tema, ou seja, a redução ou não da maioridade penal de 18 para
16 anos. Não se esqueça de elaborar seu texto com cuidado, com parágrafo de introdução,
um ou mais de desenvolvimento e um de conclusão. Lembre-se também de criar um título
para seu texto. Mãos à obra! O importante é não ter medo de tentar!

Manifestações da Tipologia Textual em diferentes

T5 Gêneros

Os textos se classificam também de acordo com o seu gênero. Os gêneros textuais, por sua
vez, estão relacionados à função social e às esferas de circulação a que cada texto está
relacionado, o tipo de leitura que cada um exige.

“Esfera de circulação” é o nome dado ao público-alvo passível de ser atingido por cada tipo
de texto. Uma notícia de jornal tem necessariamente uma esfera de circulação bem maior
(possivelmente milhares de leitores) do que, por exemplo, uma receita médica (restrita, em
geral, ao médico, ao paciente e ao atendente da farmácia).

Vejamos o quadro abaixo, que lista os principais gêneros ligados a cada tipologia:

gêneros textuais, por sua


vez, estão relacionados à
função social

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Exemplo de gêneros necessariamente


TIPO
vinculados ao tipo em termos de predominância

Não se observou até o momento nenhum gênero


necessariamente descritivo. Como exemplos de textos
Descritivo
descritivos, podemos citar catálogos. Alguns pesquisadores,
porém, defendem que bulas de remédio constituiriam um
(Objetivo desta tipologia: descrever,
gênero textual eminentemente descritivo, já que se destinam
caracterizar)
basicamente a descrever um medicamento, seu princípio
ativo, indicações, posologia e assim por diante.

Dissertativo Expositivo Tese, dissertação de mestrado, artigo acadêmico-científico,


monografia, conferência, palestra, entrevista de especialista,
(Objetivo desta tipologia: transmitir verbete de enciclopédia e de dicionário, resenha, relatório
saberes e informar) científico.

Dissertativo Argumentativo
Editorial de jornal, carta de leitor, carta de reclamação,
(Objetivo desta tipologia: argumentar resenha crítica, ensaio, mensagem religioso-doutrinária,
visando ao convencimento do leitor) textos de orientação comportamental, regulamento.

Contos, contos de fadas, fábulas, apólogos, parábolas,


Narrativo
mitos, lendas, anedotas, piadas, fofoca, caso, biografia,
poema épico, peças de teatro, romances, novelas (literárias,
(Objetivo desta tipologia: narrar e
de TV), crônicas, diário pessoal, testemunho, curriculum
relatar)
vitae, notícias, reportagem, ata

A Interpenetrabilidade dos Diferentes Modos de Organização

É preciso deixar claro que o que define qual tipologia predomina em um texto é o seu objetivo.
Assim, se o objetivo do texto é contar uma história, ele será classificado como narrativo,
mesmo que inclua momentos descritivos. É o caso do texto a seguir.

A EVIDÊNCIA
Millôr Fernandes

Ainda que pasmem os leitores, ainda que não acreditem e passem, doravante, a
chamar este escritor de mentiroso e fátuo, a verdade é que, certo dia que não adianta
precisar, entraram num restaurante de luxo, que não me interessa dizer qual seja, um ratinho
gordo e catita e um enorme tigre de olhar estriado e grandes bigodes ferozes. Entraram

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e, como sucede nas histórias deste tipo, ninguém se espantou, muito menos o garçom
do restaurante. Era apenas mais um par de fregueses. Entrados os dois, ratinho e tigre,
escolheram uma mesa e se sentaram. O garçom andou de lá prá cá e de cá prá lá, como
fazem todos os garçons durante meia hora, na preliminar de atender fregueses mas, afinal,
atendeu-os, já que não lhe restava outra possibilidade, pois, por mais que faça um garçom,
acaba mesmo tendo que atender seus fregueses. Chegou pois o garçom e perguntou ao
ratinho o que desejava comer. Disse o ratinho, numa segurança de conhecedor - "Primeiro
você me traga Roquefort au Blinnis. Depois Couer de Baratta filet roti à la broche pommes
dauphine. Em seguida Medaillon Lagartiche Foie Gras de Strasbourg. E, como sobremesa,
me traga um Parfait de biscuit Estraguèe avec Cerises Jubilée. Café. Beberei, durante o
jantar, um Laffite Porcherrie Rotschild 1934.

— Muito bem - disse o garçom. E, dirigindo-se ao tigre — E o senhor, que vai querer?

— Ele não quer nada — disse o ratinho.

— Nada? — tornou o garçom — Não tem apetite?

— Apetite? Que apetite? — rosnou o ratinho enraivecido — Deixa de ser idiota, seu
idiota! Então você acha que se ele estivesse com fome eu ia andar ao lado dele?

MORAL: É NECESSÁRIO MANTER A LÓGICA MESMO NA FANTASIA.

FERNANDES, Millôr. Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964, p. 89.
Fonte: http://www.releituras.com/i_custodio_millor.asp

Observe que o objetivo do texto é contar uma história ao leitor, o que o leva a ser classificado
como narrativo, quanto a sua tipologia. Com relação ao gênero, se trata de uma fábula, que
é o tipo de texto em geral curto em que os personagens são animais humanizados (isto é,
que apresentam comportamento de seres humanos) e que apresenta sempre algum tipo
de ensinamento ao final.

Mas observe também como há aspectos descritivos nesta narrativa: tanto o rato quanto o
tigre são descritos em suas principais características ao leitor, assim como o restaurante e
o comportamento do garçom. Há até mesmo quem diga que é impossível elaborar uma boa
narrativa sem recorrer a momentos descritivos.

Do mesmo modo, podemos encontrar textos dissertativos


aprofundando que podem incluir pequenas narrativas a título de ilustração
ou exemplo. Mas, se o objetivo do texto for passar
Para saber mais sobre tipologia e gêneros textuais e informações ou convencer o leitor, tipologicamente ele será
fazer uma revisão dos principais tópicos abordados classificado como dissertativo.
neste módulo, acesse o seguinte vídeo:

h t t p : / / w w w . y o u t u b e . c o m /
watch?v=w9oR0TncVSM

Observação: quem aparece dando explicações sobre


a matéria neste vídeo é o professor Pasquale Cipro,
bastante conhecido por seus livros sobre Língua
Portuguesa. Você vai notar que ele chama o texto
dissertativo expositivo de “dissertativo explicativo”,
mas dá na mesma. É apenas uma variação de
denominação.

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Conclusão
Vimos aqui a diferença entre cada uma das tipologias textuais, seus elementos e suas
características. Verificamos, também, que não há texto puramente de uma única tipologia.
O que ocorre em geral é que uma das tipologias predomine e outra ou até mesmo outras
entrem no texto para torná-lo mais claro e completo.

Para encerrar este módulo, uma frase para refletirmos sobre a importância do saber
argumentar, com eficiência e clareza:

Há até mesmo quem


diga que é impossível
elaborar uma boa
narrativa sem
recorrer a momentos
descritivos

Fonte: http://kdfrases.com/frases-imagens/frase-argumentar-e-discutir-mas-principalmente-e-raciocinar-e-deduzir-e-
concluir-a-argumentacao-whitaker-penteado-161889.jpg

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