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Tipologia Textual para

Concursos

A tipologia textual, também chamada de tipos textuais,


costuma estar presente nos conteúdos programáticos de todas
as esferas, portanto, nas seleções públicas federais, estaduais
e municipais. Dessa forma, independente da área da vaga
pleiteada, há grandes chances de os candidatos se depararem
com o tema.

Apesar de ser predominante na prova de redação, saiba que,


frequentemente esse conteúdo também aparece nas provas de
Língua Portuguesa. Ou seja, é um motivo a mais para estudar e
ter completo domínio da área.

Neste artigo procuramos esclarecer as principais dúvidas sobre


os tipos de texto que são mais cobrados, as principais
características de cada um, além de dicas valiosas para se dar
bem quando tipologia textual para concursos aparecer em sua
prova.

O que é tipologia textual

Essa é a pergunta mais frequente entre as pessoas que se


deparam com o termo. Entretanto, apesar da estranheza do
nome, é muito provável que em algum momento você tenha
feito algum trabalho nesse sentido, inclusive nas redações
cobradas na escola.

Tipologia textual nada mais é do que a classificação de um


texto, levando em consideração regras específicas, tais como a
forma, o conteúdo e a estrutura. De forma sintética, é possível
dizer que é a forma como o texto se apresenta.

Em relação a quantidade exata de tipos existentes, há várias


divergências entre os autores. Para tratar do assunto de forma
mais didática, optamos por escolher entre os mais cobrados nos
editais de concurso público, que são quatro:

 Narração

 Dissertação

 Injunção

 Descrição

Engana-se quem pensa que por serem apenas quatro tipos o


tema é simples. Cada um desses tipos conta com subdivisões, o
que rende inúmeras possibilidades e formas de cobranças nas
provas. Conheça alguns detalhes sobre eles logo a seguir.

Existe diferença entre tipologia textual e gênero


textual?

Antes de detalhar cada um dos tipos textuais é necessário fazer


algumas considerações sobre as duas classificações, já que por
terem nomes parecidos são frequentes as confusões entre
ambas.

Deve-se frisar que sim, há muitas diferenças entre os dois


termos. Apesar de as duas estarem entrelaçadas às produções
que fazemos no decorrer de toda a vida, elas guardam algumas
singularidades.
Enquanto a tipologia textual refere-se às regras específicas
citadas acima, o gênero textual leva em consideração critérios
como a finalidade do texto, situação da comunicação e o papel
dos interlocutores, independente se o texto é oral ou escrito.

Para citar alguns exemplos desse último, é possível destacar:


notícia, artigo de opinião, romance, carta, conto e ainda, os
orais, tais como piadas, palestras e seminários.

Um gênero textual costuma ter as características de um tipo


textual específico. Uma receita (gênero textual) tem as
particularidades da injunção (tipologia textual). Outro exemplo:
a crônica (gênero textual) pode ser escrito como uma narrativa
(tipologia textual).

Narração

Um dos tipos textuais mais antigos, de modo muito simples, a


narração se caracteriza pelo relato de histórias que envolvem
acontecimentos e personagens. Sempre lembrando que, para
um texto ser considerado narrativo, é preciso que ele obedeça a
algumas regras.

A história contada pode ser real, ou não, mas é necessário que


ela esteja situada no tempo e no espaço (onde? quando?),
personagens (quem vive/ viveu a história? com quem?) e enredo
(como? o que?).

Além disso, outros elementos cruciais são o foco narrativo,


presença do clímax ou ponto alto da história, desfecho ou
conclusão, entre outros.
Didaticamente, na hora de elaborar um texto dessa natureza, é
possível contar com uma estrutura básica, que garante que
todos os elementos principais estejam presentes na redação.
Uma das principais características da narrativa é a presença da
sequência.
Como fazer uma boa narrativa? Essa resposta leva em
consideração uma série de fatores, mas um dos pontos
principais é construção ou relato de uma sequência capaz de
envolver o leitor do princípio ao fim. Veja como é feita a
estrutura da sequência de uma narrativa.
Introdução: em uma redação, compreende os primeiros
parágrafos da narrativa. É a parte em que o leitor será
contextualizado. Ou seja, vai conhecer o tempo e espaço em
que a história se passa, além dos personagens.
Conflito: após a contextualização, para dar sequência à
história, é necessário inserir uma complicação. É ela que vai
prender o leitor à história, fazendo com que o clímax seja
extremamente aguardado. Geralmente está nos parágrafos do
meio.
Clímax: é considerado o ponto mais alto, o ápice da narrativa. É
quando acontece a situação que gera a maior tensão no leitor,
responsável por deixá-lo ansioso em relação ao desfecho.
Conclusão: dado o clímax a história se encaminha para a
resolução do problema. Resolvida a situação, a história chega
ao fim.

E afinal de contas, se é uma história, alguém precisa contá-la,


não é mesmo? É aí que entra a figura primordial do narrador,
conforme a classificação detalhada a seguir:
Narrador personagem: chamamos de narrador personagem
aquele que participa da história, quase sempre narrando em
primeira pessoa. Dessa forma, os fatos e acontecimentos são
colocados no texto a partir de sua própria visão e contato com
universo em que a história se passa.
Narrador observador: o próprio nome o define. Ao contrário do
personagem, este apenas observa a história. Por isso, as
narrações em terceiras pessoas são as mais frequentes. Ele
tem uma visão mais restrita e não é capaz de alcançar todos os
acontecimentos, tampouco pensamentos, emoções e tudo
aquilo que se passa no interior dos personagens.
Narrador onisciente: a principal característica no narrador
onisciente é que ele sabe tudo que se passa na história,
incluindo pensamentos e emoções dos personagens. É um tipo
de narrativa rica em detalhes, onde, inclusive, fatos
simultâneos em locais distintos são narrados. Ele pode ser
neutro, ou seja, não dá sua opinião no decorrer do texto, ou
seletivo, quando defende um lado da história.
Narração dialogal: também chamada de conversacional, essa
subdivisão do tipo narrativo é caracterizada principalmente pelo
domínio de diálogos e conversas. Ou seja, a história é contada a
partir de uma conversa.
Predição: a principal característica da narração preditiva é que
a história é narrada com base nas previsões do que irá
acontecer. Da mesma forma que as demais, há personagens,
acontecimentos e desfecho.

Exemplo de narração
Agora que já tratamos detalhadamente da estrutura da
narração, vamos a um exemplo em que é possível observar as
principais características da estrutura: introdução, conflito,
clímax e desfecho.

Tragédia Brasileira – Manuel Bandeira


“Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.

Conheceu Maria Elvira na Lapa prostituída com sífilis, dermite


nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de
miséria.

Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no


Estácio, pagou médico, dentista, manicura… dava tudo quanto
ela queria.

Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo


um namorado.

Misael não queria escândalo. Podia dar urna surra, um tiro, urna
facada. Não fez nada disso: mudou de casa.

Viveram três anos assim.

Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava


de casa.

Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General


Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês
de Sapucaí, Niterói, encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio,
Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos…
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de
sentidos e inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi
encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.”

Dissertação

Um dos tipos textuais mais recorrentes nos concursos públicos,


a dissertação tem como finalidade expor ideias, debater,
discutir um assunto, explicar, analisar e provar. Portanto,
apresenta a defesa de um ponto de vista ou de uma opinião por
meio da apresentação detalhada deles.

Dissertar, nada mais é do que expor os conhecimentos sobre


um determinado assunto, ou ainda, defender um ponto de vista
por meio da argumentação, usando as chamadas estruturas
lógicas para fazer a sustentação dos pontos.

Assim como na categoria anterior, há subdivisões dentro do


próprio tipo textual. Neste caso, a ramificação acontece entre
dissertação expositiva e dissertação argumentativa, conforme
detalhamento a seguir.

Dissertação expositiva

Também conhecida simplesmente como exposição, nela, os as


ideias e fatos são colocados no texto apenas para que o leitor
tome conhecimento sobre eles, sem a intenção de realizar o
convencimento do mesmo. Seu principal objetivo é informar e
explicar sobre determinado assunto.

Dissertação argumentativa
Extremamente cobradas em concursos e processos seletivos,
como o próprio nome indica, o uso de argumentos é
predominante, com a finalidade de convencer o leitor sobre
algo.
É dividida em três partes imprescindíveis:
 Introdução: apresenta a tese do autor ou seu ponto
de vista para o leitor.
 Desenvolvimento: os argumentos que sustentam a
tese do autor são elencados de forma lógica,
defendendo aquilo que foi apresentado no início.
 Conclusão: sintetiza tudo que foi tratado
anteriormente, apresentando de forma crítica, formas
de intervenção na questão discutida.

Entretanto, uma vez que a maioria das redações de concurso


público estabelece um número máximo de linhas, nem sempre é
fácil colocar todos esses pontos em um texto conciso. Para
solucionar essa dificuldade, os candidatos podem tomar como
base a seguinte estrutura:

 1º Parágrafo – Introdução

 2º Parágrafo – Primeira parte do desenvolvimento

 3º Parágrafo – Segunda parte do desenvolvimento

 4º Parágrafo – Conclusão

Exemplo de dissertação

Para conhecer a estrutura dissertativa na prática, veja como


exemplo um trecho de uma dissertação argumentativa.
“O papel do negro escravo foi decisivo para os começos da
história econômica de um país fundado, como era o caso do
Brasil, sob o signo do parasitismo imperialista. Sem o escravo, a
estrutura econômica do país jamais teria existido. O africano
escravizado construiu as fundações da nova sociedade com a
flexão e a quebra de sua espinha dorsal, quando ao mesmo
tempo seu trabalho significava a própria espinha dorsal daquela
colônia. Ele plantou, alimentou e colheu a riqueza material do
país para o desfrute exclusivo da aristocracia branca; tanto nas
plantações de cana-de-açúcar e café e na mineração, quanto
nas cidades, o africano incorporava as mãos e os pés das
classes dirigentes que não se autodegradavam em ocupações
vis como aquelas do trabalho braçal. A nobilitante ocupação
das classes dirigentes – os latifundiários, os comerciantes, os
sacerdotes católicos – consistia no exercício da intolerância, no
cultivo da ignorância, do preconceito, e na prática das mais
licenciosa luxúria.” (Abdias do Nascimento)

Injunção

Normalmente escrita no modo imperativo, as injunções estão


muito presentes no nosso dia a dia. Em suma, esse tipo textual
é uma prescrição sobre o que deve ser feito e/ou como fazê-lo.
Portanto, tem intenção de controlar a ação do leitor.

Uma vez que a intenção é que o leitor compreenda as


instruções que estão sendo dadas, a linguagem é bem simples,
objetiva e direta. Elas podem ser classificadas em duas
categorias:
Instrucional: apresenta apenas um sugestão, indicação ou um
conselho, sem que sejam colocados como uma ordem.
Prescrição: é quando a orientação dada no texto, de fato, é
uma ordem.

Alguns exemplos comuns do cotidiano são as receitas, tutoriais,


manuais de instrução, prescrições, sugestões, proibições e
outros.

Exemplo de injunção

Veja um exemplo de texto injuntivo instrucional. Repare como


todo os verbos são colocados no imperativo: coloque, leve,
misture, cubra.
“Coloque os líquidos no liquidificador e bata até misturar bem.
Coloque os outros ingredientes, sendo o fermento o último. Leve
para assar em forno médio, numa forma untada e enfarinhada.
Para a cobertura, misture numa panela a manteiga, o
achocolatado, o açúcar e o leite. Leve ao fogo até derreter e a
calda ficar homogênea. Cubra o bolo ainda quente, furadinho
com garfo.” (Receita de bolo de chocolate)

Descrição

O principal objetivo do texto descritivo e dar ao leitor a


possibilidade de criar em sua mente uma “fotografia” daquilo
que está sendo tratado no texto. Ou seja, ele destaca das
características de um lugar, evento, pessoa ou objeto.

Esses detalhes podem incluir uma série de itens, como por


exemplo, cheiro, cor, forma, tamanho, sensações, sentimentos
e demais características do que está sendo descrito.
Para alcançar o propósito e explicar como determinada coisa é,
o autor se coloca na posição de observador, usando
principalmente os cinco sentidos: tato, olfato, paladar, visão e
audição.

Exemplo de descrição

Confira a seguir um trecho da obra Os Maias, de Eça de Queiroz,


em que o tipo textual descritivo foi usado para fazer com que o
leitor consiga concretizar a imagem daquilo que foi detalhado.
“O que surpreendia logo era o pátio, outrora tão lôbrego, nu,
latejado de pedregulhos – agora resplandecente, com um
pavimento quadrilhado de mármores brancos e vermelhos,
plantas decorativas, vasos de Quimper, e dois longos bancos
feudais que Carlos trouxera de Espanha, trabalhados em talha,
solenes como coros de catedral. Em cima, na antecâmara,
revestida como uma tenda de estofos do Oriente, todo o rumor
de passos morria: e ornavam-na divãs cobertos de tapetes
persas, largos pratos mouriscos com reflexos metálicos de
cobre, uma harmonia de tons severos, onde destacava, na
brancura imaculada do mármore, uma figura de rapariga
friorenta, arrepiando-se, rindo, ao meter o pezinho na água.” (Os
Maias, Eça de Queirós)

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