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Texto

Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar a estrutura de um texto.


„„ Definir um texto e seus elementos.
„„ Reconhecer o texto em diferentes situações comunicativas.

Introdução
Escrever é uma atividade fundamental. Afinal, nos dias de hoje, quem não
envia mensagens por e-mail, escreve relatórios, desenvolve apresentações,
redige currículos para oportunidades de emprego ou redações para vestibular,
por exemplo? Escrever nunca esteve tão em alta como nos tempos atuais.
Contudo, a arte de escrever pressupõe conhecimento teórico e reflexão.
Neste capítulo, você vai estudar a estrutura textual, ver quais são os
elementos que compõem um texto e refletir sobre o texto em situações
comunicativas. Além disso, você vai se familiarizar com elementos como
contexto, sujeito, gênero textual e gênero discursivo.

Estrutura textual
A palavra “texto” deriva do termo latino textum e significa “tecido”. Ou seja,
quando o autor escreve, ele tece ideias, com o uso da palavra. Ele também
busca evitar falhas e desalinhamentos para que sua intenção de comunicação
tenha sentido completo. Logo, o texto pode ter zero ou mais palavras, pois
seu tamanho é variável. Ele pode ser oral ou escrito, verbal ou não verbal;
pode ter linguagem culta ou coloquial; pode ser um símbolo ou uma imagem,
etc. Além disso, existem vários tipos de textos: literários, técnicos, oficiais,
empresariais, jornalísticos, filosóficos, didáticos, etc.
Entretanto, em todos os tipos, deve-se apresentar um sentido completo
para formar uma unidade clara. Tal unidade pode ser obtida com o uso de dois
recursos textuais: clareza e concisão. Para além disso, existe uma estrutura
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básica comum a todos os tipos de texto. Ou seja, todo texto possui uma estru-
tura básica que o mantém organizado de forma que possa ser compreendido
e imediatamente reconhecido como um texto. Essa estrutura está dividida
em: introdução, desenvolvimento e conclusão. Ela pode ser escrita ou não.
A primeira parte do texto, a introdução, apresenta para o leitor o assunto
que será abordado. Nessa etapa, é importante apresentar um panorama da
temática do texto, de forma a expor brevemente as ideias que serão desen-
volvidas nos parágrafos seguintes. Esse é um momento de encantamento do
leitor. O assunto deve ser abordado de tal forma que desperte o interesse do
leitor para que ele prossiga para as próximas linhas: é um convite à leitura.
A introdução é variável, ou seja, está relacionada com o gênero textual.
Em textos de informação, por exemplo, pode não ultrapassar cinco linhas.
Entretanto, em textos acadêmicos, como dissertações e teses, isso é diferente:
a introdução é mais extensa e apresenta a complexidade do texto, detalhando
o que será tratado em cada capítulo do trabalho. Em textos jornalísticos,
a introdução tem caráter mais direto. Como explicam Squarisi e Salvador
(2015), é necessário ir direto ao assunto, começando pelo mais importante, a
partir do uso de uma frase que seja atraente, ou seja, que desperte o interesse
do leitor e o estimule a prosseguir a leitura. Como o público-alvo de quem
escreve engloba diferentes pessoas, o desafio é atingir o máximo de sujeitos
possível. Para isso, o autor deve usar linguagem clara, informações precisas
e estilo atraente.
Isso não quer dizer que em textos acadêmicos, por exemplo, a introdução
não tenha caráter atraente; pelo contrário, também deve manter fluidez, coesão
e coerência. O objetivo é tecer e apresentar as ideias de tal forma que o leitor
tenha desejo de descobrir o que há nas próximas linhas: o que a pesquisa
apresenta para avanço do conhecimento. Dessa forma, cada gênero textual
tem as suas peculiaridades, mas todos têm questões em comum. Entre elas,
você pode considerar a elaboração de uma introdução que apresente as ideias
gerais dos textos, mas com um ponto de vista coerente com a argumentação.
Considere, por exemplo, um texto informativo do Ministério da Saúde
cujo objetivo é informar a população sobre algo importante relacionado com
a prevenção de uma doença. Esse texto também deve ser chamativo em sua
introdução, não é? A linguagem deve ser pensada e empregada para que o
público-alvo seja atingido pela informação. Pense em uma campanha de vaci-
nação: você já reparou nos elementos textuais utilizados para atrair a atenção
dos receptores, incentivando-os a se mobilizar e a buscar um posto de saúde
para fazer a vacina? Isso mesmo, cada gênero mantém as suas especificidades,
mas alguns aspectos são comuns.
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A segunda etapa da estrutura do texto é o desenvolvimento. Nele, o assunto


que foi apresentado na introdução deve ser retomado e detalhado. Evidentemente,
o grau de desenvolvimento depende do gênero textual. Se você considerar os
mesmos exemplos anteriores (texto jornalístico e dissertações), vai perceber que
há desenvolvimento nos dois, mas com características singulares. A dissertação
apresenta referencial teórico, dados de pesquisa e análise desses dados. Por sua
vez, o texto jornalístico pode também apresentar esses elementos, mas de uma
forma direta, com menos complexidade. Um texto impresso em jornal, por
exemplo, tem limite de caracteres, o que também ocorre com a dissertação,
mas o número de caracteres nesta é significativamente maior. Logo, existe
desenvolvimento em todo texto. Em um poema, por exemplo, também há de-
senvolvimento, mas o contexto, o sujeito com quem se dialoga (ou os sujeitos)
e o meio de comunicação influenciam diretamente as formas de apresentação.
Por fim, a estrutura do texto termina com a conclusão. Após a exposição do
ponto de vista, no desenvolvimento, que pode apresentar ponto e contraponto, o
autor apresenta a conclusão do seu pensamento. O tipo de conclusão varia conforme
o gênero textual. Por exemplo, em textos acadêmicos, a conclusão informa se as
hipóteses de pesquisa foram confirmadas ou refutadas e indica possíveis estudos
futuros. Em um conto, por exemplo, a conclusão é o momento de finalização da
história, o desfecho. De forma genérica, na conclusão, finaliza-se o pensamento,
responde-se à pergunta da introdução e se propõe a solução para a problemática.
A divisão mais básica do texto, como você viu, inclui introdução, desen-
volvimento e conclusão. Mas isso não significa que o texto deva ser composto
apenas de três parágrafos; de forma alguma. Ele pode ter somente um parágrafo
e apresentar esses elementos da mesma forma. Uma tese pode ter 200 páginas,
mas a lógica de estruturação vai ser mantida.
De acordo com Antunes (2010, p. 30), “[...] todo enunciado com função
comunicativa apresenta características da textualidade ou uma conformidade
textual [...]”. Ou seja, em qualquer língua, as situações de interação, sejam quais
forem, estão marcadas pela textualidade como forma de manifestação. Ou
seja, há presença de algum gênero textual. Para a autora, isso permite que se
conclua que “nenhuma ação na língua acontece fora da textualidade”. Existe
comunicação, logo existe uma formal textual.
Isso indica que é errôneo dizer que se aprendem as palavras antes, depois
as frases e por último o texto. Afinal, todos os eventos de comunicação, desde
as primeiras tentativas de fala da criança, podem ser compreendidos como
parte de um todo denominado “texto”, em que há presença de textualidade.
Para Antunes (2010, p. 30), isso é uma questão de “[...] assumir a textualidade
como o princípio que manifesta e regula as atividades da linguagem [...]”.
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De acordo com Antunes (2010), um dos fundamentos para se compreender o que é o


texto é a noção de textualidade. Ela consiste na característica estrutural das atividades
sociocomunicativas (e, portanto, também linguísticas) executadas entre os parceiros
de comunicação.

Os elementos que compõem um texto, citados nos parágrafos preceden-


tes, estão presentes nos diferentes gêneros textuais, moldando-se de acordo
com o contexto de realização do texto. Entretanto, em todas as ocorrências,
pressupõem-se as noções de textualidade e de acontecimento comunicativo.

Elementos textuais
Agora você pode estar se perguntando: que elementos analisar em um texto? Se
um texto é toda ocorrência comunicativa em uma língua, então tudo pode ser
analisado. A questão é que nem todo texto apresenta todos os fatos linguísticos
de determinada língua e toda multiplicidade de aspectos relacionados com
a funcionalidade da interação sociocomunicativa. De acordo com Antunes
(2010), os textos representam o campo natural para a análise de todos os
fenômenos da comunicação humana. Logo, é no texto que se podem observar
os aspectos relacionados com a produção e a recepção da atuação verbal em
determinada língua.
Em um texto, a ambição de analisar tudo pode levar a uma análise super-
ficial. Ou seja, a pretensão de analisar tudo tende à análise de nada, pois um
texto abre muitas possibilidades de interpretação. É preciso um recorte para
haver produtividade na observação dos elementos. Para Antunes (2010), o
mais importante é não reduzir o texto a apenas um campo de exemplificação
de questões gramaticais. Ou seja, o fenômeno a ser observado não deve estar
limitado à construção textual relacionada com recursos apenas de léxico e de
gramática. Pelo contrário, o texto deve ser o centro. O objeto de estudo, de
análise e de descrição é o texto em sua complexidade (estrutura dos parágrafos,
linguagem empregada, objetivo de comunicação, mensagem, ideias secundárias
e fatores externos ao texto, tais como contexto social e histórico). A gramática,
por exemplo, está presente, mas como um componente que é importante e não
pode ser substituído. Sem a gramática, não se tem um texto nos parâmetros
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determinados por ela: regras de concordância, regência, pontuação, etc. Mas


não é apenas isso que deve ser observado na análise de um texto.
Nesse sentido, é possível observar o texto como um todo, ou selecionar par-
tes para serem analisadas. A partir de uma dimensão ampla do texto, é possível
observar no eixo de sua coerência os seguintes elementos (ANTUNES, 2010):

„„ universo de relevância a que remete o texto (real ou fictício);


„„ campo de circulação do discurso (acadêmico-científico, jurídico, jorna-
lístico, político, de informação, informal, literário, entretenimento, etc.);
„„ ideia central;
„„ função comunicativa;
„„ critério de subdivisão da estrutura (parágrafos);
„„ direcionamento argumentativo;
„„ representações de mundo (explícitas ou implícitas);
„„ intertextualidade e hipertextualidade (ou seja, relação com outros textos).

Esses são apenas alguns elementos que exemplificam a construção e a


análise textual. Mas você pode estar se perguntando: o que são esses ele-
mentos? Pense, por exemplo, no universo de relevância a que remete o texto.
Compare um texto biográfico (biografia de uma personagem importante
de determinado país) com um romance de fantasia (como Harry Potter e a
pedra filosofal). Você percebe que o universo de relevância de cada um desses
textos será específico? No primeiro caso, fará referências a lugares existentes,
pessoas reais, situações vivenciadas, contexto histórico e social real de uma
localidade, etc. Agora, no caso do romance de fantasia, é possível encontrar
seres fantásticos, lugares fictícios, tempo diverso, etc. Da mesma forma, o
campo de circulação do discurso possibilita o emprego de palavras e estruturas
diferentes, e a função comunicativa é singular em cada um dos tipos de texto.
Essa primeira proposta, conforme indicado anteriormente, objetiva uma
análise mais ampla dos elementos de composição dos textos. No entanto,
também é possível analisar o texto a partir da centralidade de aspectos mais
pontuais de construção. Nessa segunda estratégia, é possível observar elementos
como expressões referenciais, elipses, concordância verbal e nominal, marcas
de ironia, sinalizações de efeitos de sentido pretendidos, entre tantos outros
elementos mais diretos.
Como você viu até aqui, o texto é algo amplo, complexo e formado por
muitos elementos, o que vai além de sua estrutura básica de composição. Além
disso, o texto está presente em toda situação de comunicação e interação em
determinada língua.
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Leia o artigo de Koch (1999) “O desenvolvimento da linguística textual no Brasil”,


disponível no link a seguir.

https://qrgo.page.link/Q8bqo

Situações comunicativas
Todo texto é posto no mundo com um objetivo, com uma intenção de comunica-
ção. Portanto, não há texto sem finalidade. É por isso que, quando alguém não
entende o que seu interlocutor lhe disse, pergunta: “O que você quis dizer?”.
Quando se é responsável pela enunciação, é possível questionar os ouvintes:
“Vocês entenderam o que eu disse?”. Isso acontece principalmente quando quem
fala percebe olhares de dúvida e expressões de não entendimento. Considere,
por exemplo, um contexto de sala de aula. O ministrante de determinado curso/
disciplina precisa interagir diversas vezes com o público para verificar se há
consonância, se existe entendimento, se o que está sendo dito está atendendo
ao seu objetivo.
Logo, você percebe que a palavra “dizer” se faz presente? Exatamente: o
dizer antecede o texto e tem a ver com o propósito deste. Para Antunes (2010,
p. 69), “[...] esse propósito, que é parte de qualquer atividade de linguagem
[...]”, pode ser: explicar, expor, convencer, persuadir, defender um ponto de
vista, propor uma ideia, apresentar um fato, etc. A lista é imensa. Inclusive, as
ações não são excludentes. Você pode circular entre elas. Por exemplo, você
pode iniciar com uma informação e depois passar para a defesa de um ponto
de vista; você também pode propor uma ideia e divulgar um fato com base
na apresentação de dados. Ou seja, em diferentes situações comunicativas, o
dizer antecede o texto, mas, após a elaboração da intenção de comunicação,
textos são produzidos.
Em todas as situações, há a necessidade de se entender um texto. Para isso,
supõe-se a habilidade de os sujeitos identificarem o propósito do texto. Em
muitas situações, perceber o que não pertence ao objetivo de comunicação do
texto é a execução da habilidade de identificação. Afinal, assim se eliminam
situações que não fazem parte do propósito de comunicação. Portanto, a adesão
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do interlocutor é necessária para a concordância na situação de comunicação.


Mesmo para que ele proponha um contraponto, precisa entender o objetivo
da comunicação e o ponto de vista explicitado. Para Antunes (2010), esse
fato reforça o posicionamento de que não existe neutralidade nas atividades
de linguagem.
Portanto, toda situação comunicacional tem alguma intenção, esteja ela
explícita ou não. Inclusive, é possível reconhecer quando alguém apresenta
um texto com segundas intenções. Existem elementos verbais e não verbais
que delimitam a situação comunicacional e servem como indicativos para
o reconhecimento da intenção. Para Antunes (2010, p. 69), reconhecer as
intenções é atingir o “[...] cerne da compreensão discursiva [...]”.
Nesse panorama de análise, uma situação comunicativa é entendida como
todo processo que envolve comunicação. Logo, estão envolvidos contexto,
transmissão de informação, emissor, receptor, canal e meio. O contexto é
aquele imediato e envolve a situação em que o discurso está sendo gerado.
Ainda, os gêneros discursivos fazem parte dessa etapa. Quem comunica uti-
liza seu conhecimento cultural e de mundo para empregar, em determinado
contexto, o gênero textual mais adequado a fim de repassar a sua mensagem
e atingir o seu objetivo.
Os textos, portanto, seguem um padrão de organização e de apresentação.
Isso ocorre de tal forma que, quando compartilhados pelos envolvidos nas
situações de comunicação, os textos são rapidamente reconhecidos. Mas será
que apenas palavras constroem textos? Não, pois sinais/sinalizações, lingua-
gem não verbal, entre outros elementos, funcionam como textos, pertencem a
gêneros distintos e, quando reconhecidos, são imediatamente interpretados e
geram reações no receptor. Considere, por exemplo, as cores do semáforo. É
consenso que no vermelho se deve parar e no verde se deve prosseguir. Essa
é uma situação de comunicação, e o seu objetivo é indicar o comportamento
adequado frente ao sinal. Nesse caso, os sujeitos leem, interpretam e agem
sem que nenhuma palavra se faça presente.
Por fim, Antunes (2010) defende que, em decorrência do tipo e do gênero,
os textos seguem padrões regulares de organização. Portanto, toda situação
comunicativa é uma coerção social, e as ações de linguagem estão sujeitas a
modelos estabelecidos linguística e socialmente.
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ANTUNES, I. Análise de textos: fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
SQUARISI, D.; SALVADOR, A. A arte de escrever bem: um guia para jornalistas e profissionais
do texto. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2015.

Leituras recomendadas
FARACO, C. A.; TEZZA, C. Oficina de texto. Rio de Janeiro: Vozes, 2016.
KOCH, I. G. V. O desenvolvimento da lingüística textual no Brasil. Delta, São Paulo, v.
15, n. esp., p. 165-180, 1999.
KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2008.

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