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→ Um escritor com maior conhecimento explícito é um escritor mais bem preparado. A escrita é uma
técnica e uma arte como qualquer outra.
Uma reflexão acerca destas propriedades poderá influenciar as nossas opções ao nível da
escolha linguística (seleção lexical, seleção de estruturas sintáticas) e da construção textual
(organização e estruturação da informação).
→ Diferentes tipos de texto implicam diferentes processos de escrita, incluindo diferentes escolhas de
estruturas.
Observação:
Todos os indivíduos (excluindo situações patológicas), desde que haja imersão linguística,
adquirem e usam uma língua oral. Fazem-no espontânea ou inconscientemente: é um
processo natural por defeito.
↓
A oralidade é o modo primário da língua.
“É a oralidade, e não a escrita, que nos fornece toda a informação necessária para a
execução da descrição gramatical.” (Duarte 2000:379) → Concorda?
O conhecimento da escrita não resulta unicamente do desenvolvimento do indivíduo e da
sua inserção numa comunidade, mas implica um ensino formal.
↓
A escrita é um modo secundário da língua.
“(…) só uma parte diminuta das línguas faladas do Mundo tem
representação escrita (muitas só a têm muito recentemente); todas
as línguas foram faladas muito antes de serem escritas; todos os
seres humanos (não afetados por patologia específica) possuem a
capacidade de falar a sua língua materna, mas só uma parte da
humanidade – a que foi sujeita à experiência cultural da
escolarização – tem acesso à leitura e à escrita.” (Silva et al. 2011:
11. Destaque meu.)
Resultando exclusivamente de um processo de aprendizagem propositada e explícita, a
competência escrita pode ser melhorada através do treino e do desenvolvimento de uma
consciência explícita
do funcionamento da língua
e
das especificidades que caracterizam esse modo de uso da língua em diferentes
contextos
Um escritor com conhecimento explícito, com intenção e com domínio formal da técnica é
um escritor mais eficiente. Tal como em outro qualquer ofício, tal como em qualquer outra
arte ou ciência.
2. Natureza regulamentável da escrita
A língua oral muda naturalmente (em termos sincrónicos e em termos diacrónicos) por
intervenção espontânea dos próprios falantes, o que permite um grau elevado de variação
linguística (sincrónica e diacrónica) e a torna dinâmica.
As convenções ortográficas são fixadas e alteradas por legislação, sendo impostas aos
falantes e usadas da mesma forma por todos eles.
↓
A escrita restringe o máximo possível a variação sincrónica.
Por pressupor a utilização de convenções ortográficas comuns, a escrita:
Ex:
<casas pretas>
[ʃ]
<casas brancas>
[ʒ]
<casas azuis>
[z]
● implica memorização das formas gráficas
Apesar de o alfabeto latino ter uma natureza fonética, a relação entre grafemas e sons
não é biunívoca, o que faz com que a escrita não represente fielmente a oralidade:
Ex.:
Ex.:
Note-se, no entanto, que o discurso oral tem as suas especificidades e deve ser
avaliado como tal. Por exemplo, os aspetos referidos resultam, muitas vezes, de
estratégias usadas pelos falantes e cumprem certas funções pragmáticas ou
cognitivas.
Por exemplo:
Embora seja difícil encontrar fenómenos gramaticais exclusivos de uma das modalidades da
língua, é possível chegar a algumas generalizações:
● A língua escrita apresenta, normalmente, uma maior variação lexical do que a língua
oral, recorrendo mais frequentemente a vocabulário erudito ou culto.
O Pedro perdeu o comboio, mas não chegou atrasado à aula e não vai ter de pedir
apontamentos aos colegas.
O Pedro perdeu o comboio. Não chegou atrasado à aula, não vai ter de pedir
apontamentos aos colegas.
O Pedro perdeu o comboio (mandou-me mensagem). Não chegou atrasado à aula, não
vai ter de pedir apontamentos aos colegas.
Construa dois textos, um que represente a língua escrita e outro que represente a
língua oral, que transmitam essencialmente a mesma mensagem com estratégias
lexicais e sintáticas (e outras, se assim o desejar) diferentes.
Ex.:
Existem argumentos científicos que podem ser contrapostos à tese que defende
que a Humanidade tem vindo a causar um período climático de aquecimento
global no planeta Terra.
Acho que dizerem que o aquecimento global é por culpa do ser humano é uma
treta. Quer dizer, não faz sentido nenhum.
7. Frequência de conectores
Certos conectores são típicos do discurso oral, sendo usados, muitas vezes, de forma
repetida.
Ex: então, depois, e, portanto, etc.
Ex:
O Pedro adora os caracóis da Maria.
O Pedro estragou a manga.
Ex:
O Pedro ouviu o barulho da janela.
O Pedro comprou dois ramos de cravos enormes para oferecer aos amigos.
A ambiguidade das expressões pode ser desfeita de duas formas principais: (i) por
elementos contextuais que, estando presentes no texto, assegurem a interpretação
adequada por parte do leitor; (ii) pela alteração da ordem das palavras.
● Ambiguidade referencial:
Ex:
O Pedroi pediu à Mariaj para [-]i/j ligar a televisão.
O Pedroi disse à Mariaj que os seusi/j livros já chegaram.
A Anai foi cedo para a Faculdade. Ao chegar, encontrou a Mariaj e ficaram a conversar.
Acabaram por se atrasar e tiveram de faltar à primeira aula. Elai/j ficou muito
contrariada.
Tal como na ambiguidade lexical, a presença de elementos contextuais é fulcral para que a
possibilidade de mais do que uma interpretação seja anulada.
Mas:
A ambiguidade pode estar intencionalmente presente em certos textos. Ex: textos
humorísticos, textos publicitários
(http://ginasiocoreau.blogspot.pt/2013/11/ambiguidade-em-generos-textuais-do.html=)
(https://www.pinterest.com/dandaracagliari/tirinhas-e-charges/)
Mesmo com ar-condicionado de série, vamos abafar!
(frase publicitária de um anúncio de uma marca de automóveis)
Os sinais de pontuação não têm uma função meramente prosódica. Servem muitas vezes
para marcar a presença de certas construções sintáticas, que estão na origem de
interpretações específicas.
Ex:
Os rapazes irritados saíram da sala.
Os rapazes, irritados, saíram da sala.
Todos os frutos que têm cor vermelha são ricos em substâncias antioxidantes.
*Todos os frutos, que têm cor vermelha, são ricos em substâncias antioxidantes.
Embora a vírgula seja muitas vezes associada a fatores prosódicos (entoação, pausas), os
dados de oralidade mostram que não há equivalência plena entre ruturas prosódicas e
pontos da frase em que devem ser colocadas vírgulas.
Ex:
Quantos pais / não tentam constantemente / cumprir as já velhas teorias / que
defendem o diálogo, / em substituição da sevícia / ou do castigo, / e se angustiam /
quando a mão lhes foge, / pesada, / em direcção aos filhos?/
(Dados de Viana, M. C., L. C. Oliveira & A. I. Mata (2002). Fraseamento Prosódico: uma Experiência de Avaliação. Actas
do XVII Encontro Nacional da APL. Lisboa: APL.)
Assim, o uso adequado dos sinais de pontuação implica o conhecimento de
um conjunto de regras, muitas delas estabelecidas com base em aspetos
sintáticos.
• No entanto, não devem ser encaradas de forma puramente dicotómica. Para além das
situações prototípicas, existem diversos tipos de práticas de produção textual, que se
situam ao longo de um continuum.
Silva, F., F. Viegas, I. M. Duarte & J. Veloso (2011). Oral – Guia de Implementação do
Programa. Ministério da Educação. Direção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento
Curricular.