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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
PROFESSORA NANCI EGERT
UNIDADE 1 – ORALIDADE E LÍNGUA ESCRITA
O português são dois...(Carlos Drummond de Andrade)
Oralidade e escrita são duas modalidades de uso da língua, não se admitindo a primazia de uma em
relação à outra. As duas regem-se por sistemas operacionais próprios, independentes, sendo capazes de
expressar os pensamentos de forma sistematizada e coerente. É por meio de ambas que o falante pode utilizar a
língua e estabelecer relações para, segundo o linguista Luiz Antonio Marcuschi, “produzir um efeito de sentido
pretendido em dada situação”1. Ainda segundo o autor, em alguns casos, as duas estabelecem relações bastante
estreitas, e, em outros pode haver um grande distanciamento entre elas.
Fato é que os falantes de determinada língua, a depender do contexto comunicacional, possuem
capacidade de produzir textos, sejam orais – desde que inseridos em um ambiente de falantes – ou escritos --
quando letrados. As duas são aspectos da linguagem verbal.
Os textos orais caracterizam-se por apresentar frases por vezes fragmentadas, reformulações e admitir a
interação simultânea, instantânea, face a face entre os interlocutores em um mesmo espaço físico. Por outro
lado, os escritos, além de não admitirem a resposta imediata, pressupõem um distanciamento entre o autor e seu
leitor.
Acessem https://www.youtube.com/watch?v=tX7cqBreLUY para ouvir Caetano Veloso interpretando
Língua, como exemplo de linguagem verbal oral. A interpretação do cantor, a entonação, o jogo do corpo
traduzem, de forma vívida e expressiva, a mensagem que a letra abaixo transmite.
Língua
(Caetano Veloso)
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Marcuschi, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 10ed. São Paulo: Cortez, 2010, p.9
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Minha pátria é minha língua
Fala Mangueira! Fala!
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I like to spend some time in Mozambique
Arigatô, arigatô!)
https://www.letras.com.br/caetano-veloso/lingua
Os atuais “podcasts” são exemplos de atualização da linguagem oral: usados pela mídia, podem ser
considerados reedições dos antigos noticiários transmitidos pelas rádios.
Em Usos da linguagem2, Francis Vanoye trata de um tema bastante pertinente ao nosso estudo, ao
analisar a expressividade na escrita.
Diz que, para traduzir uma mensagem oral em escrita, lança-se mão da
representação aproximada do que foi pronunciado. O emprego do estilo direto atende a essa exigência. O diálogo escrito
repete um discurso real ou apresentado como real, no caso do romance. Entretanto, as características específicas da
língua falada exigem recurso a certos procedimentos especiais de transcrição. Assim é que a falta de referências à
situação dos interlocutores deve ser contornada por indicações suplementares ( por exemplo, a identidade dos
interlocutores é mencionada no início da mensagem:
Sra. X – Eu...
Sr. Y – Sim, mas...
ou por expressões como disse ele, disse ela, respondeu ele, exclamou ela, etc.).
os acentos de intensidade, as pausas, as mímicas, os gestos serão explicitados ou descritos.
Exemplo: Não!, exclamou ele batendo com os punhos na mesa...
Não! disse com uma voz fraca...
Não!, disse ele após um minuto de silêncio...
Não!, disse ele, empalidecendo... ou ajoelhando-se...
A língua escrita é menos “econômica” do que a língua falada. Ela dispõe, contudo, de outro recurso para transcrever
certas características da língua falada: a pontuação.
A pontuação tem uma função lógica: ela recorta o discurso em grupos de palavras e evita, deste modo, os erros de
interpretação. Nesse sentido, ela é essencial à boa compreensão das mensagens escritas e nunca seria demais insistir
sobre o cuidado que se deve ter em relação a ela, tanto no ato de escrever como na leitura.(...)
Seja como for, os sinais de pontuação, mesmo combinados(!!?...), têm possibilidades expressivas limitadas.(...)é
preciso admitir que, a esse respeito, a língua escrita é mais pobre e menos flexível do que a falada.
(...) Consequências 1: o escrito no falado
A distinção entre língua escrita e língua falada leva a reconsiderar a aprendizagem do português. Trata-se, na
verdade, de aprender duas línguas. Ora, a língua falada é geralmente ensinada, corrigida, retificada, com base na escrita,
o que vem a negar suas características específicas. Apresentam-se, assim, exercícios, escolares ou não, visando à
produção de mensagens mistas ou espúrias [que não seguem os princípios da gramática]—orais na emissão e escritas na
estrutura sintática e lexical. Implicitamente, considera-se inferior a língua falada e faz-se do bom domínio da língua
escrita um critério de superioridade cultural. (...)
Alguns linguistas se insurgiram contra esta predominância da escrita. Atualmente, a tendência é distinguir a
aprendizagem oral da escrita. O treinamento nas técnicas de expressão oral assemelha-se à aprendizagem de uma língua
estrangeira(utilização de laboratórios). Tem-se procurado dar a mesma atenção e consagrar o mesmo tempo à pronúncia,
à fluência, à clareza, à expressividade da linguagem oral e à linguagem escrita. Pelo esforço para chegar a um controle
cômodo e correto e a um nível cuidado da linguagem falada, busca-se reduzir o imperialismo(sic) do escrito nessa área.
(...) Consequências 2: o escrito no falado
Como reação a esse imperialismo(sic), alguns linguistas e escritores vêm propondo que se tira partido, na escrita, dos
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1. VANOYE, Francis VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita.
Coordenação da edição brasileira Haquira Osakabe. 12.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p.39-41.
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recursos expressivos da língua falada. Além disso, considerando que a língua falada é a um só tempo mais econômica e
mais viva que a escrita, preconizam uma transformação desta, uma transformação que afetaria especialmente a ortografia
e a sintaxe. (...)
Para revigorar a língua escrita, seria preciso injetar-lhe os elementos vivos da língua falada: o vocabulário da
linguagem popular, uma sintaxe mais expressiva em lugar de uma sintaxe determinada rigidamente ( a ordem das
palavras não mais comandada pelas regras da gramática normativa, e sim pelo desejo de pôr em relevo aquilo que é
importante), a simplificação da ortografia (escrever aquilo que é realmente pronunciado: vô mimbora e não vou-me
embora).
As reformas ortográficas já têm suscitado muitas discussões. Sem negar a necessidade de simplificação, vale de
qualquer modo ressaltar que:
-- não se pode perturbar a estrutura de uma língua de um dia para o outro sem confundir seus usuários e sem
provocar um longo e penoso período de readaptação;
-- a ortografia promove uma certa coesão de mensagens escritas; se por um lado ela é, às vezes, pouco justificável e
inutilmente complicada, por outro, dá forma e clareza ao discurso escrito.
No dia a dia, vale destacar que tanto a língua oral quanto a língua escrita podem ser usadas de maneira
formal ou informal. Por exemplo, discursos de formatura e transmissões radiofônicas em geral são produzidos
em língua oral com alta formalidade. Inversamente, a modalidade escrita pode ser síncrona e informal, como são
as mensagens de whatsapp.
1- Indique uma palavra de uso formal correspondente à palavra ou expressão destacada nas frases a seguir.
a) A notícia o deixou de boca aberta.
b) Ela é chique no máximo.
c) Maria ficou na pista.
d) Vaza daqui, mlk!
e) Ele tira onda!
2- Reconheça os ditados populares a seguir, publicados humoristicamente por Millôr Fernandes em linguagem
formal.
a) O espírito das trevas não é tão destituído de encanto e graças físicas quanto se o representa por meio de
traços e cores.
b) O traje característico que usa não identifica fundamentalmente a pessoa que por fanatismo, misticismo
ou cálculo se isola da sociedade, levando vida austera e desligada das coisas mundanas.
c) Substância inodora e incolor que já se foi não é capaz de comunicar movimento ou ação ao engenho
especial de triturar cereais.
d) Aquele que se deixa prender sentimentalmente por pessoa destituída de dotes físicos, de encanto ou
graça, acha-a extraordinariamente dotada desses mesmos encantos que os outros não veem.
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3 - Indique adjetivos cultos correspondentes às palavras ou expressões destacadas nas frases a seguir.
a) O doente amanheceu com febre.
b) O criminoso continuou sem castigo.
c) O inimigo estava sem armas.
d) A vítima ficou sem ação.
e) É desinfetante sem cheiro.
f) A empresa estava sem dinheiro.
g) O churrasco estava sem gosto.
h) O líder estava sem saúde.
EXATIDÃO DE IDEIAS
Um texto é considerado eficaz quando apresenta exatidão de ideias. Termos genéricos comprometem a
comunicação, limitam o desenvolvimento e pouco significam, ou têm significado muito amplo. Devem ser
eliminados ou substituídos por formas que lhe especifiquem o sentido na oração. Vejamos alguns exemplos:
Vocábulos genéricos: coisa, gente, homem.
A humildade, para quem detém o poder, é uma coisa bem rara.
Melhor: A humildade, para quem detém o poder, é uma virtude bem rara.
Apela-se para gente caridosa a fim de resolver o problema da fome no país.
Melhor: Apela-se para a caridade pública a fim de resolver o problema da fome no país.
No Congresso Nacional ainda existem homens honestos.
Melhor: No Congresso Nacional ainda existem parlamentares honestos.
Pronome demonstrativo isso, quando usado para retomar uma ideia, deve ser substituído por esse(s), essa(s)
acompanhados de palavras expressivas.
Uma questão da prova gerou dúvidas. Isso atrasou a entrega das notas.
Melhor: Uma questão da prova gerou dúvidas. Esse incidente atrasou a entrega das notas.
Por falta de atenção ou vocabulário, é muito comum a repetição de palavras com sons semelhantes na
mesma frase ou parágrafo, resultando em “ecos” ou eufonia. Por exemplo:
Os alunos devem fazer a reflexão do assunto em questão e depois a redação.
Melhor: Os alunos devem refletir sobre o assunto determinado e depois a redação.
Para se obter concisão, deve-se evitar também o uso de verbos auxiliares. É melhor concentrar-se no
verbo principal.
Os diretores haviam concebido um projeto para o salão de esportes.
Melhor: Os diretores conceberam um projeto para o salão de esportes.
O planejamento é composto de várias etapas.
Melhor: O planejamento compõe-se de várias etapas.
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Disponível em: <https://www.educabrasil.com.br/libras-lingua-brasileira-de-sinais/>. Acesso em: 26 de fev. 2020.
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https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Ffloresecoreseamores.blogspot.com%2F2016%2F10%2Fsilencio-no-
hospital.html&psig=AOvVaw02MDQd461hPOT74r3P1IyI&ust=1582832608391000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCJjp3PP87-
cCFQAAAAAdAAAAABAD
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3. Sinais de trânsito
Não é necessário saber ler para entender que o vermelho significa “pare”, que o amarelo “atenção” e o
verde “siga”. Mesmo os daltônicos conseguem entender a mensagem, devido à posição das cores.
4. “Carinhas”
Os conhecidos “emojis” são usados à exaustão para indicar sentimentos e/ou poupar a digitação de
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mensagens na internet.
https://www.gestaoeducacional.com.br/wp-content/uploads/2018/12/linguagem-nao-verbal.jpg
5. Símbolos religiosos
https://symbolismofthings.com/wp-content/uploads/2018/04/simbolos-religiosos-significado-e1523441685363.jpg
6. Tatuagens
A tatuagem é uma prática adotada desde a Antiguidade, quando os escravos eram marcados a ferro quente.
Também os legionários romanos marcavam a ferro quente os povos vencidos e escravizados.
Há também registros de tatuagens usadas como marcação dos iniciados em certos cultos secretos, sem
contar as pinturas de guerra em escoceses, vikings e indígenas brasileiros.
Atualmente as tatuagens podem ser empregadas como sinais de alerta por portadores de alguma
enfermidade, como vemos na imagem abaixo.
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https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fmedicinasa.com.br%2F9-tattoo-week%2F&psig=AOvVaw1OZ_EC1j1LFo3TPhB-
ZQwm&ust=1582831181534000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCPiVj9z37-cCFQAAAAAdAAAAABAE
No entanto, o que se percebe é que, principalmente entre os jovens, as tatuagens não são mais utilizadas
como sinal de reconhecimento ou pertencimento a uma classe ou grupo. Antes são realizadas apenas por gosto
ou para mostrar um estilo.
As partes do corpo mais tatuadas são os braços, o quadril e as costas, sendo que os desenhos mais
frequentes são aqueles em forma de espirais, plantas e flores ( rosa), símbolos ( cruz, caveira) animais (
felinos, pássaros predatórios, cobra) , siglas e rostos ( de mulheres).
https://cdn02.mundodastatuagens.com.br/blog/wp-content/uploads/2014/11/madscar.com_.jpg
7. Charges críticas
https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcR7ST3rI04-ftaggMuZ90cTwg7fuE26lQGhtt9PRKsxyYuQoJdQ
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BIBLIOGRAFIA
1. CARNEIRO, Agostinho Dias. Texto em construção: interpretação de textos. 2 ed. São Paulo:
Moderna, 1996.
2. MARCUSCHI, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 10ed. São
Paulo: Cortez, 2010.
3. VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita.
Coordenação da edição brasileira Haquira Osakabe. 12.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
Internet
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