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FONOLOGIA DO
PORTUGUÊS
Julio Cesar
Cavalcanti
Revisão técnica:
Talita da Silva Campos
Mestre em Linguística
Especialista em Língua Portuguesa
ISBN 978-85-9502-164-8
CDU 81’34
Introdução
O alfabeto e o sistema de escrita ortográfica, conforme o conhecemos
e aprendemos desde muito cedo, permitem que falantes de diferentes
regiões dentro de um mesmo país, ou até mesmo de países diferentes
nos quais se falam a mesma língua, possam se expressar por meio da
modalidade escrita da língua sem grandes confusões de sentido. Essa
uniformização, necessária e inevitável, é a solução mais inteligente con-
cebida pelo homem para facilitar a disseminação da informação e do co-
nhecimento, evitando que o modo como se fala comprometa o conteúdo
veiculado. Você já imaginou como seria se em cada estado brasileiro os
falantes escrevessem exatamente da forma como falam? Certamente a
efetividade da comunicação seria comprometida. Documentos oficiais
perderiam o seu caráter de uniformidade, livros didáticos teriam de sofrer
sérias adequações e até mesmo informações técnicas, como a descrição
de um medicamento (a bula), por exemplo, necessitariam de cuidados
redobrados quando postos à leitura.
A despeito da importância inegável do sistema de escrita orto-
gráfica, existem tarefas para as quais a descrição criteriosa da forma
como um sujeito realiza a produção de um determinado som é
de extrema importância, como no caso da descrição de uma lín-
É bastante comum as pessoas se perguntarem por que usar, para representar os sons
nos estudos de fonética, um alfabeto diferente do alfabeto que usamos para escrever.
A razão é simples: uma vez que a fonética lida com a substância da expressão (o som),
deve-se tentar registrá-la o mais fielmente possível. São várias as motivações para
utilizarmos um alfabeto diferente do alfabeto ortográfico (SOUZA; SANTOS, 2016).
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42 Alfabeto fonético e transcrição fonética
Escrita Transcrição
Símbolo Classificação ortográfica fonética
(Continua)
(Continuação)
Escrita Transcrição
Símbolo Classificação ortográfica fonética
marcar a labialização: pʷ, bʷ, tʷ, dʷ, kʷ, gʷ, fʷ, vʷ, sʷ, zʷ, ʃʷ, ʒʷ,
Xʷ, hʷ, mʷ, nʷ, lʷ, rʷ, etc. (SILVA, 2003).
Palatalização – consiste no levantamento da língua em direção à parte
posterior do palato duro. Ou seja, a língua direciona-se para uma posição
anterior (mais para a frente da cavidade oral) do que normalmente ocorre
quando se articula um determinado segmento consonantal. A consoante que
apresenta a propriedade secundária de palatalização apresenta um efeito
auditivo de sequência de consoante seguida da vogal “i”. A palatalização
geralmente ocorre quando uma consoante é seguida de vogais anteriores
[i], [e], [ɛ] (orais ou nasais). Ocorre mais frequentemente com consoantes
seguidas da vogal [i] como em “aliado, kilo, guia”. Pode ocorrer também em
consoantes seguidas da vogal [e] como em “letra, leva, tento”. Utiliza-se o
símbolo j colocado acima à direita do segmento para marcar a palatalização:
kʲ, gʲ, tʲ, dʲ, lʲ (SILVA, 2003).
Velarização – consiste no levantamento da parte posterior da língua em
direção ao véu palatino concomitantemente à articulação de um determi-
nado segmento consonantal. A consoante lateral [1] apresenta a propriedade
articulatória secundária de velarização em certos dialetos do Sul do Brasil e
do português europeu. O contexto em que a velarização ocorre é quando a
lateral se encontra em final de sílaba: sal, salta. Utiliza-se o símbolo [ɫ] para
transcrever a lateral velarizada nesses contextos (SILVA, 2003).
Dentalização – algumas consoantes em português podem ser articuladas
como dentais ou alveolares. Por exemplo, a pronúncia de “t” em “tapa” pode se
dar com a ponta da língua tocando os dentes (sendo, portanto, uma consoante
dental), ou pode se dar com a ponta da língua tocando os alvéolos (sendo,
portanto, uma consoante alveolar). Consoantes dentais têm como articulador
passivo os dentes incisivos superiores e consoantes alveolares tem como arti-
culador passivo os alvéolos. Pode-se articular um segmento dental ou alveolar
com o ápice ou com a lâmina da língua como articulador ativo. Geralmente,
as consoantes listadas a seguir apresentam a propriedade de dentalização no
dialeto paulista, enquanto, no dialeto mineiro, ocorre uma articulação alveolar
para as mesmas consoantes. Marcamos a dentalização com o símbolo [ ̪ ]
colocado abaixo da consoante em questão: t̪ d̪ s̪ z̪ n̪ ɾ̪ l̪ .