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FONOLOGIA DO
PORTUGUÊS
Introdução
A classificação dos fonemas pode ser feita a partir de critérios articulatórios
que estão relacionados aos movimentos dos órgãos fonoarticulatórios
durante a produção da fala. Portanto, consoantes e vogais apresentam
diferentes mecanismos de produção que nos permitem diferenciá-los
do ponto de vista descritivo e dos pontos de vista auditivo e acústico.
Neste capítulo, você verá a classificação dos segmentos a partir do
ponto de vista articulatório, uma classificação que é de base estritamente
fonética e, portanto, leva em consideração aspectos da produção sonora.
Verá também uma descrição dos sons a partir dos pressupostos da Teoria
dos Traços Distintivos, uma abordagem que leva em conta fundamentos
fonéticos e fonológicos.
No nível fonético, os traços são caracterizados como escalas físicas que
descrevem aspectos do evento da fala e podem ser tomados indepen-
dentemente. No nível fonológico, os traços são marcadores classificatórios
abstratos, que identificam os itens lexicais da língua.
2 Classificação dos fonemas: vogal, consoante, semivogal
Segmentos consonantais
Massini-Clagliari e Cagliari (2012) comentam que as consoantes são sons que
apresentam contatos ou constrições no aparelho fonador, que são facilmente
analisáveis. Por essa razão, são classificadas tradicionalmente em termos de
modo e lugar de articulação, e quanto à vibração ou não das pregas vocais,
além das características do mecanismo aerodinâmico envolvido.
A partir da posição do articulador ativo em relação ao articulador passivo
(ocorrendo ou não o contato entre eles), pode-se definir o lugar de articulação
dos segmentos consonantais de acordo com categorias de agrupamento sonoro
(SILVA, 2003).
Em função dos lugares de articulação, um segmento fonético pode ser
(SOUZA; SANTOS, 2016):
Bilabial: ao falar “pata”, “bata”, “mata”, o primeiro som de cada uma dessas
palavras é produzido pela obstrução do ar pelos dois lábios. Os sons bilabiais
são produzidos pelo fechamento ou estreitamento do espaço entre os lábios.
Labiodental: há sons produzidos pela obstrução parcial da corrente de ar
entre o lábio inferior e os dentes superiores. Exemplo: os primeiros sons das
palavras “faca”, “vaca”.
Dental: são os sons produzidos com a ponta da língua contra a parte de
trás dos dentes superiores ou com a ponta da língua entre os dentes. É o caso
do primeiro som do “the” (inglês).
Alveolar: ao dizer “Nasa” e “Lara”, os dois primeiros sons consonantais
são produzidos com a ponta ou a lâmina da língua contra a arcada alveolar.
Palatoalveolar: são sons também conhecidos como pós-alveolares ou
alveolopalatais, pois são produzidos com a lâmina da língua contra a parte
anterior do palato duro, logo após os alvéolos. São exemplos de sons palato-
alveolares os primeiros sons de “chave”, “jaca”. Também são palatoalveolares
os primeiros sons de “tia” e “dia” do dialeto carioca.
Retroflexa: são os sons produzidos pela ponta da língua levantada e voltada
para trás, de modo que a parte de baixo da língua (sub-lâmina) fique voltada
em direção ao palato duro. É exemplo de som retroflexo o “r” caipira em
“par, por exemplo.
Palatal: ao falar “calha” e “sanha”, o segundo som consonantal de ambas
as palavras é produzido com o centro da língua contra o palato duro.
Velar: ao dizer “cata”, “gata”, o primeiro som é produzido pelo dorso da
língua contra o véu palatino. É exemplo de som velar o som nasal em “angu”.
Classificação dos fonemas: vogal, consoante, semivogal 3
Uvular: sons uvulares são produzidos pelo dorso da língua contra o véu
palatino e a úvula. Por exemplo, o “orra” (de “orra, meu”) produzido por
alguns dialetos paulistas.
Faringal: sons produzidos pela raiz da língua contra a parede posterior da
faringe. Um exemplo de som faringal é aquele som grave produzido quando a
pessoa “limpa a garganta”. Os sons faringais não são tão comuns nas línguas.
Um exemplo de língua que os utiliza árabe (SOUZA; SANTOS, 2016).
Segmentos vocálicos
Na produção dos sons vocálicos, os articuladores orais encontram-se abertos,
o que faz com que a corrente de ar, ao passar pela cavidade oral, não encontre
6 Classificação dos fonemas: vogal, consoante, semivogal
alta;
média-alta;
média-baixa;
baixa.
alta = fechada
baixa = aberta (e os termos intermediários também são correspondentes)
(SILVA, 2003).
[i] - abacaxi;
[e] - beleza;
[ɛ] - belo;
[a] - batata;
[ɔ] - bola;
[o] - bolo;
[u] - urubu.
Glides
Glides ou semivogais são elementos que compartilham características de vogais
e consoantes. São produzidos com uma abertura oral menor que a das vogais,
mas maior que a das consoantes (por isso, são chamados de semivogais ou
semiconsoantes). Um glide sempre será realizado junto a alguma vogal, confi-
gurando um ditongo. Existe, porém, muita divergência entre os pesquisadores
acerca do status desses elementos no português brasileiro (ROBERTO, 2016).
Classificação dos fonemas: vogal, consoante, semivogal 9
Quadro fonêmico
A partir de um quadro fonético (que foi elaborado a partir dos segmentos
consonantais e vocálicos encontrados em dada língua), pode-se chegar a um
quadro fonêmico. No quadro fonêmico, apenas os fonemas de uma língua
estão presentes. À medida que são identificados os fonemas e alofones de uma
língua em questão, preenche-se a tabela fonêmica (SILVA, 2003). O quadro
fonêmico que representa o sistema consonantal do português brasileiro pode
ser observado no Quadro 3.
Os sons consonantais, por sua vez, são os sons produzidos com uma obs-
trução radical da região mediossagital do trato vocal, ou seja, na cavidade
oral; não consonantais são os sons produzidos sem tal obstrução. Têm o traço
[+ consonantal]: plosivas, fricativas, africadas, líquidas, nasais (CHOMSKY;
HALLE, 1968 apud MATZENAUER, 2014).
Existem outros traços que devem ser levados em conta na classificação
dos sons por meio de traços distintivos, como os traços de cavidade, traços
relacionados ao corpo da língua, traços de modo de articulação, traços de
aberturas secundárias e traços de fonte. Para fins introdutórios, este capítulo
irá se limitar à descrição apenas dos traços de classes principais explicitados
anteriormente. Pode-se observar os traços que compõem os diferentes seg-
mentos na matriz apresentada no Quadro 5.