Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES – CCHLA


DEPARTAMENTO DE LÍNGUA PORTUGUESA E LINGUÍSTICA - DLPL
LICENCIATURA EM LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA
DISCIPLINA: FONÉTICA E FONOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

LARISSA SOUTO
LINDEMBERG CHIANCA
SAFIRA SANTANA

CONSOANTES EM POSIÇÃO DE CODA:


NASAL (NASALIDADE FONOLÓGICA E NASALIDADE FONÉTICA) E
LATERAL (PROCESSO VARIÁVEL)

JOÃO PESSOA - PB
Setembro de 2019
LARISSA SOUTO
LINDEMBERG CHIANCA
SAFIRA SANTANA

CONSOANTES EM POSIÇÃO DE CODA:


NASAL (NASALIDADE FONOLÓGICA E NASALIDADE FONÉTICA) E
LATERAL (PROCESSO VARIÁVEL)

Trabalho apresentado como requisito para a


obtenção da terceira nota na disciplina de
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa.

Professora:Drª Juliene Lopes Ribeiro Pedrosa


Semestre: 2019.1
Turno: noturno

JOAO PESSOA – PB
Setembro de 2019
1. Introdução

A história da sílaba começou a ser escrita desde a Escola de Praga, passando


pelo estruturalismo americano, até a moderna teoria gerativa. Muitas teorias foram
levantadas, outras derrubadas, até chegarmos aos níveis de entendimento que temos
atualmente. É perceptível que a natureza da coda é considerada uma questão empírica, e
que tais percepções estão relacionadas com a sonoridade e com as mudanças pelas quais
a língua passa.
Seara (2011) vai defender que a posição pós-vocálica pode ser ocupada por
apenas uma ou duas consoantes. Afirma-se aqui a existência da coda simples com um
segmento e a coda complexa com dois. Esses segmentos fonéticos que ocorrem em coda
silábica são normalmente representados por arquifonemas em função de variação.
Diante disso, tentaremos demonstrar os diversos caminhos existentes na fonética
e na fonologia com o foco na consoante nasal em posição de coda junto às duas
vertentes da nasalidade fonológica e fonética. Também explicitaremos a consoante
lateral e o seu processo variável. Nossa fundamentação teórica será embasada
principalmente nos estudos do linguista Joaquim Mattoso Câmara.
O objetivo deste trabalho consiste em analisar cuidadosamente alguns traços
fonético-fonológicos e relacioná-los às principais explicações da linguística atual.

2. A nasalidade fonética e a Nasalidade fonológica

O estudo da fonética e da fonologia tem se amplificado muito durante os últimos


anos. As definições dessas duas correntes do campo da linguística são divergentes,
entretanto, Seara (2011) afirma que elas se relacionam na investigação dos sons da fala
produzidos pelo ser humano. Por um lado, a fonética considera alguns pontos para
concretizar o estudo da fala: os órgãos que compõem o aparelho fonador, os sons
gerados por eles e o processamento da onda sonora com a atribuição de sentido ao que
foi ouvido. Já em relação ao estudo da fonologia:

É consenso que a fala tem como principal objetivo o aporte de


significado, mas, para isso, deve se constituir em uma atividade
sistematicamente organizada. O estudo dessa organização, que é dependente
de cada língua, é considerada Fonologia. Assim, a Fonologia pode ser vista
como a organização da fala focalizando línguas específicas. (SEARA et all,
2011, p. 12)

O ensino dessas duas áreas elenca variados campos: o ensino da língua,


fonoaudiologia, alfabetização, fonética forense, tecnologias da fala e o campo da
tradução e, por isso, o seu crescimento é constantemente ampliado.
Além do campo abrangente da fonética e da fonologia, deve-se ressaltar também
a vasta variação linguística existente no Brasil e o processo de formação e influência
que formulou o português brasileiro.
O ensino da fala no Brasil possui inúmeras vertentes que explanam os variados
conteúdos da fonética e da fonologia. Os estudos das vogais são ampliados com as
definições de posicionamento da língua, arredondamento dos lábios e altura da língua.
Já o estudo das consoantes englobam o (des)vozeamento, os pontos e modos de
articulação que correlacionados às noções de alofones e arquifonemas justificam os
processos fonológicos de neutralização e de variação, por exemplo. Enfim, os estudos
da fonética e da fonologia culminam uma cadeia com significados divergentes que
indicam os vários caminhos possíveis na língua.
O estudo da fonologia, como antes afirmado, é responsável pela explicação dos
variados processos linguísticos existentes no português brasileiro. Um desses variantes é
a nasalidade.
Sabe-se que no PB as consoantes M, N e Ñ têm o seu modo de articulação
definido na nasalidade1. Câmara Jr (2009) afirma que existem dois tipos de nasalidade
no português brasileiro: a nasalidade fonológica e a nasalidade fonética. A nasalidade
fonética consiste em uma função não distintiva que é formulada pelo processo de
assimilação da consoante nasal da sílaba seguinte. Entretanto, apesar da língua
portuguesa ser a única do grupo das línguas românicas a emitir um som nasal em suas
vogais orais, isso não as classifica como vogais nasais, e sim vogais nasalizadas:

O único argumento contra a existência fonética da consoante nasal e


a consequência da presença fonológica de um arquifonema nasal /N/, a rigor,
é que na vogal nasal portuguesa nós «sentimos» a nasalidade que envolve a
vogal e «não sentimos» o elemento consonântico pós-vocálicos
imediatamente seguinte. É um argumento de ordem psicológica e não de
ordem estrutural. Ora, a linguística moderna, e dentro dela a fonêmica ou
fonologia, põe de lado essa espécie de fundamentação, que faz apelo ao
«sentimento» do falante. (p.58)

Nas palavras “identidade” e “igreja” percebe-se em certas regiões a adição do


arquifonema |N| na primeira sílaba após a vogal durante a fala de uma pessoa. No
resultado final da transcrição, percebemos os traços de nasalidade que ocorrem em
posição de coda pós-vocálica sem alteração de sentido. Observa-se, portanto, a sua
transcrição abaixo:

identidade > i.den.ti.da.de > in.den.ti.dade


igreja > i.gre.ja > in.gre.ja

Da mesma forma, nas palavras “campo” e “canto” percebemos que a nasalização


das vogais “a” ocorre em função das consoantes nasais “m” e “n” em posição de coda.
Nestes exemplos, não há metaplasmos que acrescentam ou excluem fonemas durante a
fala e também não ocorre alteração de sentido do arquifonema |N|, sendo assim, também
se configura como nasalidade fonética.

1
Segundo Chrystal (1980, p. 179) a nasalidade consiste em: “som oral, consonântico ou
vocálico, a que é adicionada uma ressonância, devido ao abaixamento do palato mole. Os sons tornam-se
nasalizados, geralmente, por influência de segmentos nasais adjacentes”.
Não se pode afirmar que as vogais anteriormente expostas são nasais, e sim,
vogais orais que em decorrência dos aspectos socioculturais, morfológicos ou
fenômenos extralinguísticos resultam em segmentos nasalizados.
A nasalidade fonológica ocorre quando a sílaba tem a rima formada por vogais
seguintes de consoante nasal em posição de coda. Neste caso, afirma-se que as vogais
são propriamente nasais. Os casos de nasalidade fonológica ocorrem em todo o
português brasileiro, configura-se, portanto, um processo sem variações. CÂMARA JR
(2009) justifica: “A vogal dita ‘nasal’ é, fonologicamente, uma estrutura VN, como em
[∪λε )νδα], ou seja, uma sílaba travada por consoante nasal, não havendo possibilidade
de ocorrência de sândi externo.” (p. 36).
Nas palavras caminha (diminutivo de cama) e caminha (verbo caminhar)
percebemos que em algumas regiões do Brasil há o traço de nasalidade no primeiro “a”
do diminutivo de cama, enquanto que na segunda palavra ocorre a oralização da mesma
vogal. Ocorre nas duas palavras alteração de sentindo, e, portanto, se definem como
palavras com nasalidade fonológica.

2.1 A variação da consoante lateral pós-vocálica

Há uma outra variante da linguística que aqui queremos elucidar: a variação da


consoante lateral pós-vocálica. No PB as variações do alofone /l/ resultam em diversas
variantes. Entretanto, ocorre o predomínio da lateral velarizada [l] apenas na região sul
e o da lateral vocalizada [w] em todo o território brasileiro. Essa variação apresenta:

[...] o contraste entre /l/ e /w/ depois de vogal não deve ir ao ponto de se
articular o /l/ exatamente como o /l/ antes de vogal. Salvo no extremo sul do
país, essa pronúncia indiferenciada soa anômala, e dá a impressão de haver
um ligeiro /i/ depois do /l/ de maneira que uma palavra como cal quase se
confunde com cale ou mel com mele (CÂMARA JR., 1977, p. 31).

O apagamento da lateral em posição de coda decorrente da vocalização do /l/ e


transformação em /w/ altera a configuração da sílaba. Com isso, a formulação de
ditongos no PB torna-se efetivamente comum, implicando na redução de sílabas
travadas.
Além da lateral velarizada e vocalizada, há ainda a permuta do fonema /l/ pelo
/r/. Esse fenômeno da rotacização2 pode ser percebido em algumas cidades brasileiras
que muitas vezes possuem habitantes que comumente pronunciam “probrema”,
“brusa” ou “bicicreta”.
Evidencia-se aqui alguns fatores que não podem ser inibidos de suas
responsabilidades, tais como: a constante evolução da língua, a influências de outras
línguas no português brasileiro e também os fatores extralinguísticos – sociais, culturais
e geográficos – que contribuem maciçamente com as variações do nosso português.
3. Considerações finais
2
O rotacismo é conhecidamente um fenômeno típico do falar rural quando encontrado na
transformação de l intervocálico ou em posição final de sílaba em r. (BOTELHO e LEITE, 2005. p. 7
apud in THURLER, 2018, p. 54.)
Neste trabalho, nos propomos a demonstrar os caminhos e traços presentes na
fonética e na fonologia, evidenciando, a partir dos estudos linguísticos de Joaquim
Mattoso Câmara, a consoante nasal em posição de coda e a variação da consoante
lateral pós-vocálica.
Acerca da nasalidade, Câmara Jr (2009) afirma que existem dois tipos no
português brasileiro: a nasalidade fonética e a nasalidade fonológica. A nasalidade
fonética consiste em uma função não distintiva que é formulada pelo processo de
assimilação da consoante nasal da sílaba seguinte. A nasalidade fonológica ocorre
quando a sílaba tem a rima formada por vogais seguintes de consoante nasal em posição
de coda.
Com relação a variação da consoante lateral pós-vocálica, ela ocorre por fatores
como a constante evolução da língua, a influência de outras línguas no português
brasileiro e as condições extralinguísticas – sociais, culturais e geográficas.
A relevância dos estudos fonéticos e fonológicos consiste, principalmente, na
ampla variação linguística existente no Brasil e nos mais variados campos que essas
áreas abrangem, sendo os principais deles o ensino da língua, a fonoaudiologia e a
alfabetização. Por isso, a inclusão dessas variações no ensino da Língua Portuguesa
permite que o aluno se aproprie da língua e a contemple em sua totalidade.

REFERÊNCIAS
CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. Manual de expressão oral e escrita. Petrópolis:
Vozes, 1977.

CÂMARA, Joaquim Mattoso. Estrutura da Língua Portuguesa. 30ª ed. Petrópolis:


Vozes, 1999.

CRYSTAL, D. Dicionário de Lingüística e Fonética. Tradução Maria C. P. Dias. Rio


de Janeiro: Jorge Zahar, 1980.

SEARA, Izabel; NUNES, Vanessa; LAZZAROTTO, Cristiane. Fonética e Fonologia


do Português Brasileiro. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011.

THURLER, Jaqueline. Aspectos fonéticos da variação linguística - identitária das


comunidades rurais do 3º Distrito de Nova Friburgo-RJ. Feira de Santana: a cor das
letras. v. 19, n. Especial, p. 40-63, março de 2018

Você também pode gostar