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OFFP – Ficha I - ORTOGRAFIA, FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS

Por Prof. Doutor Nicolau Atanásio, UniR – Niassa (2023)

Os professores pouco exploram as áreas de Ortografia, Fonética e Fonologia, como também os programas
de ensino pouco as consideram, por se ignorar a sua utilidade no ensino do Português em Moçambique.
No entanto, os materiais em Fonética, Fonologia e Ortografia estão devidamente divulgados e úteis,
mesmo que não façam referência sobre o falar e o escrever que caracterizam o Português em
Moçambique.

Por isso, bastará caminhar com MATEUS et al. (1989), (1990) e (2003), bem como CUNHA e CINTRA
(1999) e outros, como Bergstrom e Reis (1998), para resolvermos alguns problemas nestas áreas de
conhecimentos.

3.1. ORTOGRAFIA

3.1.1. Conceito de Ortografia

Para representar na escrita as palavras de uma língua, usam-se sinais gráficos designados LETRAS, cujo
conjunto constitui um alfabeto (Bergstrom e Reis, 1998:9). São letras universais do alfabeto, as
minúsculas: a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n, o p, q, r, s, t, u, w, v, y, x, y, z. As letras maiúsculas são A,
B, C, D, E, F, G, H, I, J, k, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, U, W, V, X, Y, Z.

Em português, usam-se ainda outros sinais adicionais, na escrita: os sinais de acentuação gráfica e os de
pontuação, para além das regras de translineação. O conjunto de normas que estabelece a utilização das
letras do alfabeto denomina-se por ORTOGRAFIA.

3.1.2. Caligrafia

O bom uso das letras do alfabeto na escrita à mão é a CALIGRFIA, definida como “a arte de escrever
bem à mão…arte de fazer boa letra” (Dicionário Universal de Língua Portuguesa, 1999).

As letras minúsculas manuscritas são representadas por a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n, o p, q, r,


s, t, u, v, w, x, y, z. As letras maiúsculas manuscritas são A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, L, KM, N, O, P,
Q, R, S, T, U, V, W, X,Y, Z.

3.1.3. Mitos Coloniais sobre as Letras do Alfabeto Ortográfico

Sabe-se que, há bem pouco tempo, o Português Colonial não admitia, no seu Alfabeto Ortográfico, as
letras k, w e y. O uso tinha sido restrito, considerando-as letras de línguas estrangeiras, ou em
abreviaturas e símbolos usados internacionalmente em matemática.

O Português de Moçambique adopta-as sem nenhum questionamento, sendo que os seus falantes estão
circunstanciados no meio das Línguas Bantu e de outras línguas como o japonês e o mandarim, conforme
Liphola, (1988), Lopes, A. J. (1997) e Katupha, A. (1985).

3.1.4. Caligrafia e Letra Cursiva

De acordo com as normas da caligrafia, a letra maiúscula utiliza-se no início de nomes próprios. Em letra
cursiva, a letra maiúscula é separada das restantes letras de uma palavra.

Nestas normas, as letras minúsculas mantêm-se ligadas umas com as outras, levantando-se a mão, só ao
escrever a letra q, ou após concluída a escrita da palavra, para cortar a letra t e pontuar o j e i, se a palavra
contiver estas letras: abcdefghijlmnopq rstuvxz.

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Ou seja, as palavras que contenham as letras t, i e j, estas serão cortadas ou pontuadas, depois de
completada a escrita da palavra, conforme Bergstrom e Reis (1998).

Um texto manuscrito não deve conter borrões. No caso de engano, devemos utilizar os “correctores
linguísticos”, ou seja, as expressões como “ou seja…, ou melhor…, perdão…salvo…, ressalvo…,
desculpa…,” que melhoram a escrita.

A Ortografia exige de nós a consideração dos encontros vocálicos ou consonantais na decomposição de


palavras em sílabas, ou seja, na translineação. Separam-se os Hiatos e os encontros consonantais não
reais. Não se separam os Ditongos e os encontros consonantais reais.

3.2. FONÉTICA

3.2.1. Objecto de Estudo da Fonética

A FONÉTICA é uma disciplina científica que se ocupa dos sons da fala; do modo como estes são
produzidos, propagados e percebidos (Mateus et al.1990:21) e base da FONOLOGIA (Mateus et
al.1990:297). Estuda a parte física dos sons da fala, independentemente da sua função, “excluído de
qualquer relação entre o complexo fónico e a sua significação linguística” (cf. N Trubetzkoy, in Mateus
et.al. 1989).

Estes sons da fala, que são estudados independentemente da sua função, de que se refere Trubetzkoy são
designados fones. Portanto, o objecto de estudo da Fonética os fones.

São os objectivos da fonética, como disciplina linguística e de acordo com Mateus et al.(1990:24):

a) estabelecer as propriedades articulatórias, acústicas e perceptivas associadas aos contrastes dos sons da
fala das línguas particulares e às diferenças sistemáticas existentes entre as línguas distintas;

b) estabelecer o modo como essas propriedades se relacionam entre si;

c) contribuir para o entendimento da natureza da relação entre as representações linguísticas e as


realizações dos sons da fala.

3.2.2. Ramos da Fonética e Breve História

Há três vertentes da FONÉTICA:

(i) A Fonética Articulatória – o estudo dos mecanismos da articulação dos sons da fala e o
aparelho fonador humano;
(ii) A Fonética Acústica – o estudo das ondas sonoras e o comportamento dos sons da fala na
sua propagação;
(iii) A Fonética Perceptiva – o estudo dos mecanismos da percepção e o aparelho auditivo, de
acordo com a transmissão de uma mensagem de um locutor para um alocutário, num acto de
comunicação oral.

3.2.3. Breve História sobre a Origem da Fonética

O desenvolvimento da Fonética regista-se entre os sécs. XVIII e XIX, de acordo com Mateus (1990: 28) e
está associado à preocupação de ordem prática – o ensino de línguas e da maneira correcta de falar.
Desenvolveu-se, em primeiro lugar, a Fonética Articulatória, contribuição do foneticista Meville Bell (pai
do inventor do telefone, Alexander Bell), interessando-se em determinar instruções explícitas para a
execução correcta de manobras articulatórias para os surdos.

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Esta teoria teve continuidade em teorias fonéticas mais modernas, como os sistemas de traços propostos
por Jakobson, Fant e Halle (1963) e por Chomsky e Halle (1968), entre outros, reportados por Mateus et
al. (1990, 227-244).

3.2.4. Categorias e Convenções de Transcrição Fonéticas

Em Fonética, são as principais Categorias as vogais, consoantes, semivogais e as convenções. As


CONVENÇÕES de transcrição em fonética é um conjunto diferentes símbolos utilizados no estudo em
fonética em representação de sons da fala, suas características e valores das componentes fonéticas
(Reveja-as em Mateus et al, 1990: 37; e Mateus,1982).

O conhecimento das convenções fonéticas assemelha-se ao conhecimento das fórmulas matemáticas ou


químicas, parecendo complicado o estudo da fonética. O seu domínio permite a realização de exercícios
complexos. Apresentamos algumas convenções adoptada pelo Grupo de Estudo Dialectológico do Centro
de Linguística da Universidade de Lisboa, que serão as bases de comparação entre o falar do Português
em Moçambique e o Português dito europeu.

  - Colchetes = Transcrição fonética, ou presença de segmentos fonéticos;

/ / - Barras Oblíquas = Transcrição fonológica/ fonémica, ou presença de segmentos fonológicos;

< > - Ângulos = Transcrição grafémica/ ortográfica, ou presença de segmentos grafémicos. Em estudos
mais avançado, os ângulos indicam elementos que se implicam reciprocamente;

‘ - Diacrítico de acentuação = sílaba acentuada;

~ - Diacrítico de nasalização = vogal nasal;

{ } – Chavetas = elementos disjuntivamente ordenados;

( ) – Parênteses = elementos opcionais. Lê-se “eventualmente, o elemento opcional x”;

/ - Uma Barra Oblíqua = indica que se segue o contexto em se integra o elemento transformado e lê-se
“no contexto”, “quando”;

- - Traço nos colchetes = indica o lugar, dentro do contexto, do elemento transformado pela aplicação
de uma regra;

+ - indica uma fronteira de morfema. Mas, quando antecede um dado traço fonético, indica “mais
avanço” (Ex: +ac = mais acentuada, ou simplesmente acentuada, ou tónica);

- - Traço, antecedendo um dado traço fonético, indica “menos avanço” (Ex: -ac = menos acentuada ou
átona);

# - Cardinal - indica uma fronteira de morfema ou palavra

= - Indica uma fronteira de derivado;

˘- Fusão da vogal final da palavra com a inicial da palavra seguinte;

Ø – zero = elementos inexistentes;

0 - índice o “zero”, = o número mínimo de elementos presentes e lê-se: “zero, uma ou mais…” Ex.: Co =
zero, uma ou mais consoantes;

→ - Seta - Indica “passa a”, “ transforma-se em”, “torna-se”;

* - Asterisco = indica uma fronteira incorrecta;

V ou [sil] = Vogal; C ou [-sil] = Consoante; G ou [+-sil] = Glide ou semivogal;

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nas – nasal, rec – recuado; sil – silábico; ac – acentuado; alt – alto; ant – anterior; arr – arredondado; bx -
baixo;

Blb = bilabiais, Lbd = Labiodentais, Lgd =Linguodentais, Alv = Alveolares, Plt = Palatais, Vel = Velares,
Fric = Fricativas, Lat = Laterais, Vibr = Vibrantes; cont = Contínuas, nas = Nasais; voz = Vozeadas, cor =
coronais;

α – “Chua” ou alfa - precede um dado traço fonético e indica a existência de traço que deve ser tomado
simultaneamente positivo e negativo (Ex.: [α rec] = mais ou menos recuado);

β – entre colchetes, é um fonema, da variante do PE; quando precede um dado traço fonético, indica,
traço tomado simultaneamente positivo e negativo (Ex.: [β rec] = mais ou menos recuado).

3.2.5. Formalização, Enunciação e Formalização

Neste estudo, devemos, desde cedo, introduzir e distinguir os conceitos de Enunciação, Formalização e
Formulação. Enuncia-se, quando se nomeia ou se dá o nome a uma certa convenção, formaliza-se, quando
se representa, ou se desenha e formula-se, quando se interpreta ou se lê.

Exemplo

Enunciação da convenção <irmana> → /irmana/ → [ir’mǣ] – Regras da derivação fonológica da palavra


irmã

Formalização da convenção <irmana> → /irmana/ → [ir’mǣ] – Assim mesmo como está <irmana> →
/irmana/ → [ir’mǣ]

Formulação da convenção <irmana> → /irmana/ → [ir’mǣ] – a leitura ou escrita da representação


<irmana> → /irmana/ → [ir’mǣ] - A forma ortográfica irmana passou, ou deu origem à forma fonológica
irmana. e esta passou, deu origem à forma fonética ir’mǣ.

TRABALHO UM

1. Como é que se distinguem os conceitos letra, fone e fonema?


2. Qual é a norma definida pela ortografia no uso da letra cursiva?
3. Distinga a Ortografia da Caligrafia.
4. Defina Fonética como ciência.
5. Quais são os seus objectivos, como disciplina?
6. Quando e como aparece a fonética como ciência?
7. Aponte, descrevendo os ramos da fonética.
8. Mencione as principais categorias fonéticas.
9. Distinga os conceitos enunciação, formalização e formulação.
10. Enuncie e formule a seguinte formalização: V→[+ac]/ [-] (G) C0V C0#

3.2.6. Transcrições gramaticais

TRANSCRIÇÃO é um instrumento criado e utilizado pelos linguistas para captar ou registar os factos,
em particular, os sons da fala, observados em enunciados, de forma consistente e sistemática. É uma
representação simbólica que pretende captar os aspectos fónicos possíveis da realização de um enunciado.

A análise linguística encontra formas para representar fonética e fonológica e graficamente as unidades
linguísticas. Trata-se das transcrições fonéticas, fonémicas e grafémica e as convenções que se
consubstanciam nos alfabetos fonético, fonémico e grafémico.

Há três tipos de transcrições e duas modalidades a saber:

(i) TRANSCRIÇÃO FONÉTICA ([ ]), a representação das unidades da fala, sem ter em conta a sua
função na comunicação, sendo uma abstracção da realidade, tendo em conta o nível de superfície e o
conhecimento da língua, fones ou segmentos fonéticos.

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(ii) TRANSCRIÇÃO FONÉMICA OU FONOLÓGICA (/ /), a representação de unidades distintivas de
som com a função linguística, fonemas ou segmentos fonológicos.

(iii) TRANSCRIÇÃO GRAFÉMICA OU ORTOGRÁFICA (< >), a da escrita corrente de textos, das
letras, grafemas ou sinais gráficos. Usa as letras do alfabeto ortográfico.

As modalidades das transcrições fonéticas são:

• Larga – correspondência à pronúncia pausada do som da fala, o uso do símbolo fonético,


representação de uma fala pausada. Na Transcrição fonética larga, cada sílaba, ou vogal conserva o seu
acento tónico.

• Estreita – correspondência à pronúncia rápida, onde há influência de sons sobre outros


adjacentes. Na Transcrição fonética estreita - a palavra, sintagma ou frase tem apenas um acento tónico e
com alterações de fones de acordo com o contexto.

3.2.7. O Alfabeto Fonético do Português

A representação dos sons da fala faz-se com a utilização de um alfabeto (Mateus et al., 1990:37). O
Alfabeto Fonético Internacional (AFI) é constituído por Vogais, Semivogais (orais e nasais) e
Consoantes.

• As vogais (sons vocálicos) do português do PE são fonemas produzidos sem qualquer obstrução
da corrente de ar, sendo +cont, e com o vozeamento. Basicamente, 9 orais: [i] de vi; [e] de vê; de [ε] de
pé; [ə] de de; [æ] para; [a] de pá; [u] de tu; [o] de avô; [ↄ] de pó, avó e 5 nasais, derivadas de [i], [e],
[æ], [o] e [u], respectivamente: [ĩ] de sim; [ẽ] de pente; [ǣ] de banco; [ǔ] de fundo; e [õ] de ponto.

• As semivogais (sons semivocálicos) do PE são duas [j] e [w], que se associam às vogais [a, æ, ε,
e, ↄ, o], formando um ditongo. Estas duas podem ser nasalizadas, respectivamente: [j] de foi; [ĵ] de põe;
[w] de dou; e [ѿ] de mão.

• As consoantes (sons consonânticos) do PE como do PM são quaisquer sons da fala produzidas


com alguma obstrução da corrente do ar na cavidade bucal.

São 24 consoantes, designadamente:

[p] pá [t] tu [∫] chave


[b] boneca [d] dou [ʧ] chave (dial.)
[m] mala [n] não [З] gelo, já
[β] vaca (dial.) [ʎ] falha
[s] sol [ɲ] ninho
[f] futebol [z] casa
[v] vela [l] .lama [k] casa
[ł] mal, alto [g] gato
[r] caro [R] rato, carro
[ɍ] carta
[ȓ] carro (dial.)

O Português falado em Moçambique (PM) tende a realizar:

• 5 vogais orais: [i], [ε], [a], [ↄ] e [u]; e suas correspondentes nasais: [ĩ], [ẽ], [ǣ], [õ] e [ǔ].

• 2 semivogais orais: [j] [w]; e suas nasais correspondentes: [ĵ] e [ѿ], sempre associadas às vogais
para formarem uma sílaba, ou se pronunciarem de uma única voz, formando um ditongo: [æj], [æw]/;
[ǣĵ], [ǣѿ].

• 18 Consoantes orais [p], [b], [t], [d], [k], [g], [f], [v], [s], [z], [∫], [З], [l], [ł], [ʎ], [r], [ɍ] e [R] e 3
consoantes nasais: [m], [n], [ɲ], menos 3, em relação ao PE. No entanto, certas consoantes podem
encontrar realizações diferenciadas em diferentes falantes, sendo influenciados pelas línguas regionais. As

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consoantes [f], [v], [s], [z], [∫], [З] são fricativas, por deixares uma fricção na sua articulação. Destas [f],
[v] são fricativas labiodentais, por intervirem os lábios e dentes superiores; [s], [z], fricativas
linguodentais, assobio no encontro da ponta da língua nos alvéolos superiores; e [∫], [З], fricativas
palatais, um chiar da coroa da língua no palato duro. A primeira consoante fricativa palatal [∫] pode ter a
realização ortográfica em <ch> (fechadura), em <x> (caixa), em <s> (festa) ou em <z> (fez, giz). A
segunda [З], em <j> (feijão), <g> (gelo) ou em <s> (desde). Isto pode trazer dificuldades na ortografia,
sobretudo em crianças em idade escolar.

3.2.8. O Aparelho fonador humano

O um Aparelho Fonador Humano é um conjunto de órgãos do organismo humanos que, em conjunto,


permitem a produção do ar ou respiração, a produção do som ou fonação e articulação dos sonas da fala
ou fones. Por esta definição entende-se que o aparelho fonador humano é composto por três subsistemas
subglotal, glotal ou laríngeo e supraglotal.

O Subsistema Subglotal ou Cavidade Torácica ocupa-se da respiração ou produção do ar ou fluxo do ar.


O diafragma, os pulmões, brônquios e bronquíolos, alvéolos e a traqueia são or órgãos biológicos que
compõem o sistema torácico.

O Subsistema Glotal, ou a laringe tem a função de fonação ou produção dos sons da fala. No sistema
encontram-se umas pregas de membranas musculosas, denominadas cordas vocais. Estas, quando, na
passagem do ar, mais vibram produzem sons mais vozeados, e, quando menos vibram, produzem sons
menos vozeados.

O Subsistema Supraglotal é composto por véu palatino ou úvula, palato duro, alvéolos, dentes, lábios e a
língua, tendo como função a de articulação ou a diferenciação dos sons da fala, ou dos diversos fones.

De notar que, na articulação de um dado fone, intervêm em simultâneo todos os subsistemas do Aparelho
Fonador.

TRABALHO DOIS

Responda no seu caderno da disciplina às seguintes questões

1. O que é uma transcrição em fonética?

2. O que distingue a transcrição larga da transcrição estreita?

3. Quais são as principais categorias fonéticas?

4. Dizer “sons da fala”, ou “alfabeto fonético” é diferente que dizer “letras da escrita” ou “alfabeto
ortográfico”?

5. O alfabeto fonético do português utiliza o alfabeto ortográfico? Justifique.

6. O português é de escrita fonética na sua totalidade? Apresente os casos.

7. Faça a transcrição fonética das palavras ortográficas <construindo>.

8. Faça transcrições fonéticas largas e estreitas de <As aulas fecharam por coronavírus-19>.

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3.2.9. A Noção de Traços e Parâmetros Classificatórios

3-2.9.1. A Noção do Traço Distintivo

Segundo Mateus (1990:227) a teoria acústica da articulação dos sons da fala conduz a importantes
progressos na compreensão da natureza do fenómeno da fala humana e está na base da primeira proposta
do conceito fonema, como um conjunto de traços fonéticos inerente a um fone, definido na base de vários
parâmetros classificatórios.

Na sua definição, traços fonéticos são segmentos mínimos, capazes de descrever as principais oposições
fonológicas que ocorrem nos fones, determinadas pelas capacidades humanas de articulação e de
percepção da fala.

Os segmentos sonoros que ocorrem nas diferentes línguas do mundo organizam-se em classes
caracterizadas pela partilha de uma ou mais propriedades (ou traços distintivos) associadas às capacidades
de geração do fluxo do ar, de modulação desses fluxos pela criação de fontes sonoras e de filtragem
dessas fontes pelo tracto vocal.

A teoria dos traços distintivos nasceu na escola de Praga e assenta-se na existência de propriedades
pertinentes de sons. É a Trubetzkoy (1939) que se deve a primeira definição de fonema como um
conjunto de traços distintivos como parte integrante da teoria das oposições fonológicas. Traço fonético é
uma unidade mínima distintiva de um fone, este como um conjunto de traços de traços distintivos (cf
Mateus et al., 1990).

O conjunto de traços distintivos é universal e é condicionado aos mecanismos de articulação e de


percepção dos sons da fala. Esse conjunto é finito e cada língua utiliza apenas um subconjunto desses
traços com uma função distintiva e possui conjunto de regras que os agrupam em sequências. As
propriedades distintivas não são meramente classificatórias, mas constituem as unidades linguísticas
mínimas de tal modo que cada traço distintivo descreve um contraste linguisticamente significativo. De
modo geral, as oposições de segmentos são binárias num traço fonético.

Em suma, um traço fonético é uma unidade mínima distintiva, marcado pela oposição mais ou menos,
fornecido por um dado parâmetro.

3.2.9.2. A Noção de Parâmetros Classificatórios

Um parâmetro classificatório é sempre um ponto de partida, uma baliza, um critério, um limite usado para
se fazer uma descrição, de objectos, acções, fenómenos, neste caso, fones.

A linguística conhece o sistema de traços distintivos de Jakobson, Fant e Halle (1963) e o de Chomsky e
Halle (1968) que agrupam os traços dos sons da fala, tendo em conta os parâmetros de classes, ou de
fonte, modo de articulação, ponto de articulação, papel cavidade bucal e nasal, região de articulação,
elevação da língua ou grau de abertura da boca, posição da língua, posição dos lábios (cf. Mateus et al.
1990) e demais, nesta caracterização.

• Classes, ou de fonte distribui os fones em Vogais, Consoantes e Semivogais.

• Modo de Articulação é um parâmetro classificatório que verifica o tratamento do fluxo do ar no


Aparelho Fonador Humano na produção de um fone.

• Ponto de articulação, determina os órgãos do aparelho fonador intervenientes na articulação de


um dado fone, resultando fones bilabiais, labiodentais, linguodentais, alveolares, palatais e velares.

• Papel cavidade bucal e nasal verifica a passagem simultânea ou só pelas narinas do ar na


articulação de um fone dado, resultando fones mais ou menos nasais.

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• Região de articulação, tendo a linha horizontal convencional dos labios ao veu palatino,
verificar a realização dos fones menos recuados, mais anteriores ou menos interiores da boca dos fones
realizados no interior, região mais recuada da boca, resultando os traços menos ou mais recuados.

• Grau de abertura da boca, verificar se os maxilares estão mais ou menos aproximados na


articulação de um dado fone, na linha dentes superiores e o queixo resultado dos traços mais altos, médios
e mais baixos.

• Posição da língua, se a língua esta elevada ou baixa, na linha véu palatino ao queixo, resultando,
também fones mais altos, médios e mais baixos.

• Posição dos lábios, verificar a formação circular ou não dos lábios, na articulação de um
determinado fone, resultando os traços mais ou menos arredondados.

• Intensidade da voz, em palavras ou frases, verifica-se um fone ou grupo a articular-se com mais
ou menos intensidade de voz, resultando fones ou grupo de fones mais ou menos acentuados, ou tónicos
ou átonos. As vogais isoladas são sempre tónicas.

3.2.9.3. Traços Fonéticos de Vogais e Semivogais do Português

De acordo com Mateus (1990:52), na produção de vogais e semivogais, os articuladores mantêm-se


suficientemente afastados, de modo que o fluxo do ar possa passar livremente e quase sem obstáculos.
Quer dizer, as vogais e as semivogais, quanto ao modo de articulação, são todas [+contínuas] ao contrário
das consoantes. A diferença entre os diversos fones decorre da região da sua articulação, da posição em
que se encontram a língua e os lábios.

Quanto ao papel das cordas vocais, as vogais e as semivogais são [+vozeadas].

Para as vogais e semivogais, são seis parâmetros classificatórios que devem ser seguidos, com rigor, na
descrição de fones inseridos numa palavra:

a) O traço de Classe ou de Fonte: [V]/ [+sil] ou [G]/[-sil,-C]

b) A altura da elevação da língua é o grau da abertura da boca/ elevação da língua: [+alt], na


pronúncia de [i], [ə] e [u]; Média ou [-alt, -bx], na pronúncia de [e], [æ] e [o]; e [+bx] na pronúncia de [ε],
[a] e [ↄ];

c) A região da elevação de articulação é definida como a parte que compreende a frente da boca a
do fundo da cavidade bucal; permite denominar os traços [-rec], para [i] e [e] e [ε], ou [+rec], para [ə],
[æ], [a], [ↄ], [o] e [u];

d) Posição dos lábios: os lábios se abrem, sem formarem a saída redonda do ar, sendo [-arr], na
pronúncia de [i], [e], [ε], [ə], [æ], [a], ou os lábios se arredondam, sendo [+arr], na pronúncia de [ↄ], [o] e
[u];

e) Papel das cavidades bucal e nasal, em que o ar tende a sair só pela boca, com os traços [-nas], na
pronúncia de [i], [e], [ε], [ə], [æ], [a], [ↄ], [o] e [u]; ou o ar tende sair tanto pela boca como pelas narinas,
sendo [+nas], na pronúncia das nasais [ĩ], [ẽ], [ǣ], [õ] e [ũ];

f) Intensidade da voz, sendo [+ac], na pronúncia das vogais em posição tónica [i], [e], [ε] [a], [æ],
[ↄ], [o], [u], e as nasais, ou [-ac], na pronúncia das vogais em posição átonas (pretónicas ou postónicas)
[i], [e], [ə] [æ], [o] e [u].

3.2. 9.4. O Triângulo Vocálico no Português de Portugal

Triângulo Vocálico, existente só no Português de Portugal, é uma configuração, uma representação


gráfica, uma fotografia imaginaria, uma imagem, convencionada em forma de um triângulo invertido,
localizando na cavidade bucal, e de forma imaginaria e convencional, os fones.

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Estão configurados, no triângulo vocálico, pela linha imaginária horizontal dos fones articulados nos
lábios até aos fones [u], [k], [g], [R], produzidos quase no véu palatino, gera-se o parâmetro Região de
Articulação, com o traço – recuado: [p], [b, [m] [i], [f], [v], [t],[d], [n], [s], [z], [l], [r] e traço + recuado:
[u] [∫], [З], [ʎ], [ɲ], [k], [g], [R]. Na linha imaginária oblíqua de [i], [e], [ε] e [a], o parâmetro Grau de
Abertura da Boca. Na linha imaginária oblíqua [u], [o], [ↄ] e [a], está o parâmetro Elevação da Língua.

O quadro a seguir representa somente o triângulo das vogais, podendo convenciona-se a realização das
consoantes na linha mais alta do triângulo.

-rec | +rec Região de articulação/Elevação da língua

[i] [ə] [u] +alt

[e] [æ] [o] -alt/-bx

[ε] [ↄ] +bx

[a]

-arr | +arr Posição dos lábios

As [vs, -alt] são 6: todas as [-bx] e as [+bx].

As [vs, -bx] são 6: todas as [-bx] e as [+alt].

As [vs, -alt; -bx] são 3: apenas [e], [æ] e [o] e as nasais correspondentes.

3.2.9.5. Classificação das Vogais Nasais

-rec +rec Região de articulação/Elevação da língua

[ĩ] [ũ] +alt

[ẽ] [ǣ] [õ] -alt/-bx

-arr +arr Posição dos lábios

As vogais [+bx] não se nasalizam. Encontraremos mais adiante as justificações, nos processos
fonológicos. No entanto, e conforme mostra o quadro, as vogais nasais classificam-se, quanto a região de
articulação como +/-res, +alt, quanto a elevação da língua ou grau de abertura da boca, e +/-arr, quanto a
posição dos lábios.

3.2.9.6. Classificação das Semivogais Nasais e Não - Nasais

-rec +rec Região de articulação/Elevação da língua

[j]/[ĵ] [w]/[ŵ] +alt

-arr +arr Posição dos lábios

Em resumo, as semivogais classificam-se, quanto a região de articulação como +/-res, +alt, quanto a
elevação da língua ou grau de abertura da boca, e +/-arr, quanto a posição dos lábios.

3.2.9.7. Os Traços Fonéticos e Articulatórios das Consoantes do Português

Para as consoantes, distinguem-se tradicionalmente, de acordo com Mateus (1990:47 e 235), cinco
parâmetros classificatórios que devem ser seguidos, com rigor, na descrição de fones inseridos numa
palavra:

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a) O traço de Classe ou de Fonte, o facto de serem produzidas com uma constrição importante ao
longo da linha central do tracto vocal, sendo [C]/[-sil], na pronúncia das 21 consoantes [p], [b], [m], [f],
[v], [t], [d], [n], [s], [z], [l], [ł], [r], [ɍ], [∫], [З], [ʎ], [ɲ], [k], [g], e [R];

b) Modo de articulação: um fechamento completo dos articuladores, impedindo a passagem livres


do fluxo do ar pelo canal bucal traços e explosão [-cont], na pronúncia de [p], [b], [m], [t], [d], [n], [k] e
[g]; e [+cont], passagem do ar menos impedida, na pronúncia de [f], [v], [s], [z], [l], [ł], [r], [ ɍ], [∫], [З],
[ʎ], [ɲ];

c) Ponto de articulação: os dois lábios se juntam na pronúncia de [p], [b], [m] , traço [Blb]; o lábios
inferiores em direcção dentes superiores, traço [lbd], na pronúncia de [f]e [v]; a ponta da língua em
direcção aos dentes superiores, traço [lgd], na pronúncia de [t], [d] e [n]; a ponta da língua em direcção ao
alvéolos, traço [alv], na pronúncia de [s], [z], [l], [ł] [ɍ] e [r]; a coroa em direcção ao palato duro, traço
[plt], na pronúncia de [∫], [З], [ʎ] e [ɲ]; e o dorso da língua em direcção ao véu palatino, traço [vel], na
pronúncia de [k], [g], e [R];

d) Papel das cavidades bucal e nasal, em que o ar tende a sair só pela boca, com os traços [-nas], na
pronúncia de [p], [b], [f], [v], [t], [d], [s], [z], [l], [ł], [r], [ɍ], [∫], [З], [ʎ], [k], [g], e [R]; ou o ar tende sair,
tanto pela boca, como pelas narinas, sendo [+nas], na pronúncia das nasais [m], [n]e [ɲ];

e) Papel das cordas vocais: [+voz]: [b], [d], [g], [v], [z], [З], [m], [n], [ɲ], [l], [ł] [ʎ], [r], [ɍ] e [R] /[-
voz]: [p], [t], [k], [f], [s] e [∫];

f) Zona / região de articulação: traços [+ant] ou [-rec]: as [Blb]: [p], [b], [m];as [Lbd]: [f]e [v]; as
[Lgd]: [t], [d] e [n]; e as [alv]: [s], [z], [l], [ł] [ɍ] e [r]; / [-ant] ou [+rec]: as [plt]: [∫], [З], [ʎ] e [ɲ]; e as
[vel]: [k], [g], e [R];

g) Papel da língua: [-cor]: as [Blb]: [p], [b], [m];as [Lbd]: [f]e [v]; / [+cor]: as [Lbd]: [f]e [v]; as
[Lgd]: [t], [d] e [n]; e as [alv]: [s], [z], [l], [ł] [ɍ] e [r]; e [-ant] ou [+rec]: as [plt]: [∫], [З], [ʎ] e [ɲ]; e as
[vel]: [k], [g], e [R];

De acordo com Mateus (1982:25), os segmentos [-cont] são suficientemente identificados com os traços
[ rec, cor, voz e nas] e os segmentos [+cont], com os traços cumulativos [soan, rec, cor, voz e lat].

3.2.9.8. Classificação das Consoantes

a) Modo [-cont] [+cont]

b) Ponto de articulação blb lbd lgd alv plt vel

c) Região de articulação -rec + rec

(f) d) Cordas e) Cavidades [-nas] [-voz] [p] [t] - [k] Pataco

[+voz] [b] [d] - [g] Bodega

[+nas] [+voz] [m] [n] - [ɲ] Maninho

(g) Fric [-voz] [f] [s] [∫] Faça chá

[+voz] - [v][z] [З] Vaze já

(h) Laterais [+voz] - [l] [ł] [ʎ] Lê-lhe

(i) Vibrantes [+voz] - [r] [ɍ] - [R] re rua!

Os exercícios foram estabelecidos no quadro das consoantes servem para o treino da distinção dos fones:

• menos contínuos e contínuos, quanto modo de articulação (a);

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• bilabiais, labiodentais, linguodentais, alveolares, (que são menos recuados) palatais e velares (ao
mesmo tempo mais recuados), quanto ao ponto de articulação e região de articulação (b) e (c);

• vozeados, não vozeados, quanto a posição das cordas vocais (d);

• nasais e não nasais, quanto ao papel das cavidades bucal e nasal (e) e (f);

• fricativos, quanto ao modo de fricção do fone (g);

• laterais, quanto a saída lateral do ar pelos lábios (h); e

• vibrantes, quanto a vibração da lingua (i).

3.2.9.9. Descrições paramétricas

As vogais, semivogais e consoantes do português ou de qualquer língua natural podem ser submetidos a
um tratamento técnico, que reúne, num único dispositivo, todos os traços de um fone, de acordo com os
parâmetros estabelecidos. Tal dispositivo denomina-se descrição paramétrica ou parentética, isto é, nuns
colchetes, incluir todos os traços do fone.

A ordem dos traços, em descrição parentética, não é sempre a mesma. Ela obedece à ordem dos
parâmetros classificatórios, definida por um dado avaliador. Por isso, uma descrição paramétrica é um
dispositivo convencional, na forma vertical ou horizontal, reunindo os traços fonéticos de um fone, de
acordo com uma dada ordem de parâmetros estabelecida.

3.2.9.9.1. Descrições de Vogais e Semivogais

Se prestarmos a devida atenção, os traços fonéticos da descrição das vogais abaixo estão dispostos pela
ordem dos parâmetros fonte, elevação da língua ou grau de abertura da boca, região de articulação,
posição dos lábios e papel das cavidades bucal e nasal.

[i] = [V, +alt, -rec, -arr, -nas]; [ə] = [V, +alt, +rec, -arr, -nas]; [u] = [V, +alt, +rec, +arr, -nas];

[e]=[V,-alt,-bx, -rec, -arr,-nas]; [æ]=[V,-alt, -bx, +rec, -arr -nas]; [o=[V,-alt, -bx,+rec,+arr-nas]

[ε]= [V, +bx, -rec, -arr, -nas]; [ↄ]= [V, +bx, +rec, +arr, -nas] [a]= [V, +bx, +rec, -arr, -nas]

3.2.9.9.2. Descrições das Consoantes

A descrição das consoantes abaixo, estão pela ordem dos parâmetros fonte, modo de articulação, ponto de
articulação, papel das cordas vocais e papel das cavidades bucal e nasal.

[p]= [C, -cont, blb, -voz, -nas]; [b]= [C, -cont, blb, +voz, -nas]; [m]= [C, -cont, blb, +voz, +nas]

[f] = [C, +cont, lbd, -voz, -nas, fr]; [v]= [C, +cont, lbd, +voz, -nas, fr]

[t]= [C, -cont, lgd, -voz, -nas]; [d]= [C, -cont, lgd, +voz, -nas]; [n]= [C, -cont, lgd, +voz, +nas]

[s]= [C, +cont, alv, -voz, -nas, fr]; [z]= [C, +cont, alv, +voz, -nas, fr]

[l]= [C, +cont, alv, +voz, -nas, lt]; [ł] = [C, +cont, vel, -voz, -nas, lt]

[r]= [C,+cont, alv,+voz, -nas, vbr]; [ɍ]= [C,+cont, vel, -voz, -nas, -vbr]

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[∫]=[C, +cont, plt, -voz, -nas, fr]; [З]= [C, +cont, plt, +voz, -nas, fr];

[ʎ]= [C, +cont, plt, +voz, -nas, lt]; [ɲ]= [C, -cont, plt, +voz, +nas]

[k]= [C, -cont, vel, -voz, -nas]; [g]= [C, -cont, vel, +voz, -nas]

[R]=[C,+cont, vel, +voz, -nas, vbr]

A partir das descrições paramétricas, acima feitas, confirma-se a definição de fone/fonema, de Jakobson
(1939), em MARCALO (1992:207), segundo a qual um só fone é “um feixe de propriedades distintivas”.
Estas propriedades são definidas, tendo em conta os vários parâmetros classificatórios, dentro dos
sistemas universalmente concebidos, primeiramente, por Jakobson, Fant e Halle (1963), discutidos
posteriormente por Chomsky e Halle (1968) e apresentados, em sumário, por MATEUS et al. (1990:227-
240).

3.2.10. A Posição de Fones em Palavras do Português

3.2.10.1.As posições das Vogais

As vogais do português podem ocupar na palavra as posições tónicas ou acentuadas e posições átonas, ou
não acentuada, como se pode ler no seguinte quadro de vogais:

As vogais, quanto à posição na sílaba, podem ser: Tónica ou Não tónica ou átona

Pré – tónica ou Pós – tónica

[´i] <fita> [´fit æ] [i]; <virar> [vi´rar]; <sátiro> [´satiru]

[´e] <dedo> [´dedu]; <endereçar> [ẽdere´sar]; <vontade> [võ´tadə]

[´ε] <tela> [´tεlæ]; [ə] <pegada> [pə´gadæ]

[ə] <látego> [´latəgu]; [´æ] <telha> [´tæλα]

[ æ] <bater> [bæ´tεr]; <abra> [´abrα]

[‘a] <talha> [´taλα]; <pazada> [pα´zadα] - <abra>

[´ↄ] <portas> [´pↄrtα∫]; <sozinho> [su´ziγu]; <caminho> [kαmiyu]

[´o] <boa> [´boα]; <dourar> [do´rar] [o] <abro> [´abru]

[´u] <furo> [´furu]; [u] <furar> [fu´rar] [u]

Com se pode constar no quadro acima:

a) Em posição tónica (+ac), podem manifestar-se 8 vogais orais [i], [e], [ε] [a], [æ], [ↄ], [o], [u], e as
5 vogais nasais: [ĩ], [ẽ], [ǣ], [õ] e [ǔ];

b) Em posição pretónica, apresentam-se todas as vogais que se manifestam em posição tónica e


ainda a vogal [ə];

c) Em posição postónica encontram-se apenas [i], [æ], [ə] e [u];

d) A vogal [i] não aparece em posição final dos nomes.

3.2.10.2.As posições das Semivogais em Ditongos no Português

Glide Palavra Transcrição Glide Palavra Transcrição

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[‘æj] caixa [k’aj∫ æ]; [‘aw] Pauta; [‘æw] Pau; [‘æj] leite; [‘εj] anéis; [‘εw] Véus
[‘ej] - leite; [‘ew] Judeu ; [‘ↄj] caracóis; [‘iw] partiu; [‘oj] bois; [‘uj] azui

3.2.10.3.As posições das Consoantes

[p] [p]ato, pa[p]el [b] [b]ata, be[b]é [m] [m]ala nor[m]a


[f] [f]esta fo[f]inho [v] [v]inho vi[v]er
[t] [t]ia to[t]al [d] [d]ia to[d]os [n] [n]orma, me[n]i[n]o
[s] [s]aco, A[s]ado, a[s]o, [z] [z]inco ca[z]a [l] Lata lei[l]ão
o[s]o
[ł] a[ł]to, ta[ł], pape[ł], [r] [r]a[r]o, Ra[r]o [ɍ] armário, alta[ɍ]
fina[ł]
[ɲ] [ɲ]umbo, ma[ɲ]ã, [∫] [∫]ave fe[∫]ta Gi[∫], [З] [З]iz, [З]iboia, [З]irafa
ma[ɲ]ã festa[∫] De[З]de, Lisboa,
De[З]de, Li[З]boa
[ʎ] [ʎ]ano, [ʎ]e, a[ʎ], a[ʎ]o [k] [k]anto a[k]o[k]orar [g] [g]alo cá[g]ad
[R] [R]ato ca[R]egar,
ca[R]o

Pelo quadro, nota-se que:

. No início de sílaba ou palavra, ocorrem todas as consoantes, menos [ł] e [ɍ];

. Na posição medial, podem estar todas as consoantes;

. Na posição final de sílaba ou palavra, podem apenas [ł] [ɍ], [∫]e [З].

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TRABALHO 4

1. Faça a transcrição paramétrica de duas vogais altas; 2 vogais arr; das consoantes nasais, das
consoantes linguodentais…

2. As semivogais [j], [w] e suas nasais correspondentes podem combinar-se com as vogais tónicas
[a], [æ], [ε], [ↄ], [o], [u] e as vogais nasais? Faça estas combinações.

3. Como se chama as combinações formadas pelas vogais e semivogais?

4. Escreva alguns exemplos de palavras que contenham tais combinações, em transcrição fonética
lata.

5. O que é um hiato?

6. Que vogais podem ocupar a posição postónica? Exemplifique.

7. Dê exemplos de vogais tónicas, inseridas em palavras.

8. Dê exemplos de vogais pretónicas, inseridas em palavras.

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3.2.11. Matriz Fonológica, Princípios Teóricos e o Sistema Fonológico do Português

Uma matriz fonológica é um dispositivo convencionado para acomodar os traços fonéticos para todos ou
alguns fones. Normalmente, é um quadro contem os traços, por parâmetro, pela vertical e, na horizontal,
os fones requeridos pela analise fonética. Os eixos são preenchidos pelos sinais mais (+) ou menos (-),
que caracterizam as oposições ou funções distintivas.

De acordo com Mateus (1982:71), os princípios teóricos a que obedece o estabelecimento dos traços na
matriz fonológica são as seguintes:

(1) Os traços da matriz fonológica são estabelecidos, tendo em conta a observação do método das
oposições distintivas que o sistema fonético e fonológico impõe, ou seja os parâmetros classificatórios;

(2) a matriz fonológica contém os traços necessários e suficientes para que, aplicando sobre eles as
regras fonológicas, se obtenham todos os traços existentes na representação fonética;

(3) os traços fonológicos que se utilizam para a classificação dos segmentos de base (os fonemas)
são correspondentes aos traços fonéticos;

(4) os fenómenos fonológicos gerais (derivações de vogais e consoantes) e os processos de


nasalização e outros evidenciam os traços que são possíveis na actuação das regras fonológicas
formuladas.

TRABALHO 5

1. Distinga traços fonéticos e parâmetros classificatórios.

2. Em que consistem os parâmetros:

• Traços de Classe ou de Fonte?

• Modo de articulação

• Ponto de articulação

• Região de articulação

• Altura de elevação da língua

• Arredondamento dos lábios na saída do ar:

3. Agrupe os sons da fala tendo em conta os seguintes parâmetros:

3.1. Traços de Classe ou de Fonte:

3.2. Modo de articulação:

3.3. Ponto de articulação:

3.4. Região de articulação:

3.5. Altura de elevação da língua:

4. Descreva, parametricamente, o fone [p], tendo os 6 parâmetros estabelecidos acima.

5. O que é uma matriz fonológica.

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