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FACULDADE EVANGÉLICA DE SÃO PAULO

DEPARTAMENTO DE TEOLOGIA
LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO

FONEMAS E GRAFEMAS II

Para representar estes 34 fonemas, a língua portuguesa utiliza-se do alfabeto latino,


ou seja, o alfabeto que foi criado para a escrita do latim, língua usada pelos romanos e de onde
vem o português, alfabeto que possui 26 letras. Letra é um sinal criado para representar os
fonemas. Apesar de adotar o alfabeto latino, a língua portuguesa usa três destas letras, K, W e Y,
somente para grafar palavras de origem estrangeira, sendo que elas só voltaram a fazer parte de
nosso alfabeto após o acordo ortográfico de 1990, que passou a ter validade em 2008 e que se
tornou obrigatório em 2016.
Percebe-se, portanto, que temos uma defasagem, visto que temos 34 fonemas e 26
letras, sendo que, destas letras, três delas são utilizadas apenas para transcrição de palavras
estrangeiras, enquanto que uma delas, o H, não corresponde a qualquer fonema, sendo uma letra
que se apresenta como um resquício do antigo sistema ortográfico chamado etimológico, ou seja,
que levava em conta exclusivamente a origem da palavra para a sua grafia, sistema que foi
substituído pelo sistema fonográfico, ainda que não puro, em 1911 em Portugal e adotado pelo
Brasil em 1945.
Em virtude disso, temos a presença dos dígrafos, ou seja, duas letras que
representam apenas um fonema, a saber: “rr”, “ss”, “ch”, “qu”, “gu”, “lh”. Alguns também
consideram como dígrafos “an”, “am”, “en”, “em”, “im”, “in”, “om”, “on”, “um” e “un”, mas, na
verdade, não se pode dizer que tais conjuntos sejam dígrafos, diante da diferença de pronúncia
com as vogais nasais correspondentes.
A letra X, por outro lado, representa três fonemas: /z/ - exame; / ʃ/ - xadrez; /s/ -
máximo, sendo que, sozinha, representa dois fonemas de uma só vez, a saber /ks/, como na palavra
“táxi”.
Daí a dificuldade em se saber escrever em língua portuguesa, o que exige, por parte
do escritor, muita leitura, já que não nos desvencilhamos totalmente do sistema etimológico, tendo
sido adotado um sistema fonográfico imperfeito e ante a discrepância entre fonemas e grafemas (o
que normalmente ocorre em qualquer língua, talvez com exceção do russo, onde o alfabeto cirílico
corresponde aos mesmos fonemas utilizados naquele idioma), torna mais difícil a precisão
ortográfica.
Além dos dígrafos e de certa especificidade de algumas letras, para que se procure
ter uma representação mais fiel da fala pela escrita, até porque o português se utiliza do sistema
fonográfico de escrita, além das letras, utiliza-se de outros “grafemas”, ou seja, “sinais de escrita”, a
saber, os sinais diacríticos e os sinais de pontuação.
Os sinais diacríticos ou notações léxicas são sinais que são postos juntamente com as
letras a fim de aperfeiçoar a representação dos fonemas pelas letras. Assim, por exemplo, o
“cedilha” (˛) é colocado na letra C, toda vez que ela, seguida de A, O ou U, estiver representando o
fonema /s/ e não o fonema /k/. De igual modo, o til (~) é utilizado sempre que a letra A e O
estiverem representando vogais nasais.
Os sinais de pontuação, por sua vez, trazem para a escrita a emoção que é própria da
língua falada mas que se perde na redução a sinais, buscando, de alguma forma, resgatar as
alterações emocionais existentes entre as pessoas durante a fala. Assim, por exemplo, o ponto de
exclamação (!) demonstra a admiração, a alteração emocional de quem fala ou, ainda, as
reticências (…), a interrupção do raciocínio.

De qualquer maneira, é essencial sabermos fazer a análise fonético-


gráfica de uma palavra na língua. Vejamos um exemplo:

caixa /kaj ʃa/

5 fonemas: /k/, /a/, /j/, / ʃ//, /a/.


2 vogais: /a/, /a/
2 consoantes; /k/, / ʃ//
1 semivogal/ /j/

5 grafemas; c, a. i, x, a (se não considerar o pingo como um sinal)


ou 6 grafemas: c, a, ı, . , x, a (se considerar o pingo como um sinal)
5 letras: c, a, i (ou ı), x, a.
1 sinal diacrítico: . (se considerar o pingo como um sinal)

Obs: Há discussão se o pingo é um sinal à parte ou faz parte do “ı”.

SÍLABAS

Estudados os fonemas e grafemas da língua portuguesa, vejamos agora o que


é sílaba, outro conceito fundamental para quem quer se introduzir, como é o nosso objetivo, na
teoria da acentuação gráfica.
Sílaba é o conjunto de fonemas que é enunciado de uma só vez. Ao falarmos
as palavras, nós pronunciamos os fonemas em conjuntos, em grupos, em blocos. Cada um destes
blocos é o que se denomina de sílaba.

Há uma razão física para que se tenha a fala de uma palavra em sílabas.
Vimos que a vogal é um som produzido pelas cordas vocais. Ora, não pode haver a produção de
mais de uma vogal ao mesmo tempo, pois não se pode ter mais de uma vibração na mesma ocasião
e, após uma vibração, para que ela seja ouvida, é preciso que o ar que a provocou seja expelido
pelo falante, de modo que, no momento em que se produz uma vogal, é ela enunciada, para que
outra seja produzida.

Daí, decorre a consequência lógica de que cada sílaba somente pode ter uma
vogal. Saber o número de sílabas de uma palavra, portanto, nada mais é do que saber o número de
vogais que possui a palavra.

Conforme o número de sílabas, as palavras são classificadas nos seguintes


grupos:
a) Monossílabas – São as palavras que possuem apenas uma sílaba, ou seja, apenas uma vogal. Ex:
mau, nó, pé, lhe.
b) Dissílabas – São as palavras que possuem duas sílabas, ou seja, duas vogais. Ex: casa, caixa.
c) Trissílabas – São as palavras que possuem três sílabas, ou seja, três vogais. Ex: macaco, rouxinol.
d) Polissílabas – São as palavras que possuem mais de três sílabas, ou seja, mais de três vogais. Ex:
dedicação, anticonstitucional, onomotopaico.

Esta classificação, embora seja a oficialmente adotada, peca por sua falta de critério
científico. Com efeito, mais apropriada seria a classificação adotada pelo gramático Francisco da
Silveira Bueno (1898-1989) de palavras monossilábicas e palavras polissilábicas, pois estas são
identificadas pela entonação, enquanto aquelas tão somente pelo significado.

A divisão silábica, na escrita, deve obedecer à enunciação da fala, ou seja, devem ser
consideradas como da mesma sílaba as letras que representam os fonemas que são enunciados de
uma só vez, sendo certo que, no caso de dígrafos, não devem eles ser divididos, com exceção do
“rr” e “ss”, que devem ser cindidos na separação de sílabas.
Assim, quando for feita a divisão silábica, devem ser mantidos unidas as letras
que representam os fonemas que são enunciados de uma só vez. Temos, então, os chamados
“encontros”, a saber:
a) Encontro consonantal – São os encontros de letras que representam consoantes e que devem
ser separadas na divisão silábica, já que cada uma das consoantes é enunciada separadamente, já
que a consoante é, na verdade, um obstáculo à livre passagem do ar que fez nascer a vogal, que é o
som produzido pelas cordas vocais, com a evidente exceção daqueles casos em que não há como
deixar uma consoante isolada numa sílaba, pois toda sílaba tem como base uma vogal. Ex; ap-to;
con-ta-to; pte-ro-dác-ti-lo.
b) Encontro vocálico – São os encontros de letras que representam vogais ou semivogais e que
podem ser divididos em três espécies:
b1) ditongo – é o encontro entre uma vogal e uma semivogal em uma mesma sílaba. Quando o
primeiro elemento é uma vogal, diz-se que o ditongo é decrescente, pois se vai do som para o
“suspiro”; quando o primeiro elemento é a semivogal, diz-se que o ditongo é crescente, pois se vai
do “suspiro” para o som. Ex: á-gua (ditongo crescente); fá-ceis (ditongo decrescente). Na divisão
silábica, obviamente, são mantidos unidos.
b2) tritongo – é o encontro de uma vogal com duas semivogais numa mesma sílaba, uma que lhe é
anterior e outra que lhe é posterior e que, por óvio, não é cindido na divisão silábica. Ex; Pa-ra-guai.
b3) hiato – este é o verdadeiro “encontro vocálico”, pois é o encontro de duas vogais e que,
naturalmente, pertencem a sílabas diferentes, cada qual ficando em uma sílaba, já que toda sílaba
tem uma única vogal. Ex: ba-ú; i-di-o-ta; ra-i-nha.

Torna-se, pois, como se percebe, essencial que se faça a análise fonético-


gráfica da palavra para que se possa realizar a sua correta divisão silábica.

Para que não haja qualquer dúvida quanto à divisão de sílabas, faremos aqui
a divisão silábica da maior palavra da língua portuguesa. Trata-se da palavra
“pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico”, que é o nome que recebe o portador de uma
enfermidade pulmonar causada pela inalação de cinzas vulcânicas. Ei-la:

pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico

Análise fonético-gráfica

Estrutura fonética:
45 fonemas: /pnewmoultʁamikʁoskɔpikosilikovulkɐnokoniɔtiko/
20 vogais: /e/, /o/, /u/, /a/, /i/, /o/, /ɔ/, /i/, /o/, /i/, /i/, /o/, /u/, /ɐ/, /o/, /o/, /i/, /ɔ/, /i/, /o/.
24 consoantes: /p/, /n/, /m/, /l/, /t/, /ʁ/, /m/, /k/, /ʁ/, /s/, /k/, p/, /k/, /s/, /l/, /k/, /v/, /l/, k/, /n/,
/k/, /n/, /t/, /k/.
1 semivogal: /w/.

Estrutura gráfica
47 grafemas (não se considerando o pingo)
ou 54 grafemas (considerando-se o pingo)
46 letras
1 sinal diacrítico: ´ (não se considerando o pingo)
ou 7 sinais diacríticos: 6 pingos e ´. (considerando-se o pingo)

Divisão silábica:
pneu-mo-ul-tra-mi-cros-co-pi-cos-si-li-co-vul-ca-no-co-ni-ó-ti-co.

20 sílabas.
Palavra polissílaba.

Conforme já dissemos, há uma diferença essencial entre as palavras


monossilábicas e as palavras polissilábicas. As primeiras são identificadas pelo significado,
enquanto que as últimas, pela entonação. Que é a entonação? É o modo como o som vocal é
emitido, a maneira como as palavras são faladas.

As palavras com mais de uma sílaba são identificadas pela forma como
os sons vocais são emitidos, ou seja, as sílabas são enunciadas de tal maneira que as pessoas
percebem que elas pertencem a uma mesma palavra.

Na língua portuguesa, as palavras com mais de uma sílaba são


enunciadas de tal maneira que uma sílaba é pronunciada de forma mais forte que as demais,
fazendo com que entendamos que se trata de uma só palavra. Esta sílaba mais forte é chamada de
“silaba tônica” e, na língua portuguesa, a sílaba tônica será sempre uma das três últimas sílabas da
palavra.
Quando a palavra é longa ou até derivada de outra palavra, costuma
haver sílabas um pouco mais fortes que as demais mas mais fraca que esta sílaba mais forte. São as
chamadas sílabas subtônicas, que são como que pausas na pronúncia da palavra, palavra que é
identificada pela presença da sílaba tônica que, por óbvio, é única em cada palavra.

As demais sílabas da palavra são chamadas átonas.

Por isso mesmo, segundo a sílaba tônica, as palavras polissilábicas (ou


seja, todas as palavras menos as monossílabas, na classificação de Francisco da Silveira Bueno)
podem ser classificadas em três grupos, a saber:
a) Oxítonas – São as palavras em que a sílaba tônica é a última. Ex: tatu, urubu, Constituição.
b) Paroxítonas – São as palavras em que a sílaba tônica é a penúltima. Ex: jaca, macaco, Amaleque.
c) Proparoxítonas – Sãs as palavras em que a sílaba tônica é a antepenúltima. Ex: árvore,
pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico.

A maior parte das palavras da língua portuguesa é paroxítona, o


português é uma língua paroxítona, o que deve ser, desde já, salientado, pois isto é importante
para a teoria da acentuação gráfica.

A sílaba tônica, sendo pronunciada com maior força, permite o


reconhecimento das palavras polissilábicas, de forma que é importante, na escrita, que tal
identificação se transcreva e eis a razão de ser da acentuação gráfica.

Já as palavras monossilábicas são identificadas pelo significado, vez


que, por terem apenas uma sílaba, não pode haver entonação.

Por isso, as palavras monossílabas podem ser divididas em dois


grupos:
a) Monossílabas átonas – São as palavras que não possuem significado próprio, mas que são
identificadas pelo contexto em que se encontram. Ex: o, lhe, me.
b) Monossílabas tônicas – São as palavras que possuem significado próprio, independentemente
do contexto em que se encontram. Ex: pé, só, eu.

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