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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA


CENTRO DE EDUCAÇÃO (CEDUC)
DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES (DLA)
COMPONENTE CURRICULAR: LÍNGUA PORTUGUESA VI
PROF. RINALDO J. A. BRANDÃO

NOÇÕES ELEMENTARES DE FONÉTICA ARTICULATÓRIA

A Fonética Articulatória é definida como o estudo dos


sons da fala na perspectiva de suas características
fisiológicas e articulatórias. Para se entender os
mecanismos de articulação desses sons, precisa-se
inicialmente conhecer os diferentes órgãos responsáveis pela
realização dos sons das línguas naturais, ou melhor, o
aparelho fonador humano
A fonética histórica estuda a evolução dos fonemas no
tempo e no espaço.
Fonema é o som; letra é a representação gráfica desse
som. Em vista disso há fonemas grafados com mais de uma
letra (o “rr” em carro), assim com uma só letra pode
representar mais de um fonema (o “x”, em táxi - /tacsi/).
Fonador quer dizer aquele que produz voz.
A fala é o resultado da articulação desse som.
A voz pode ser definida como o som produzido a partir
da vibração das pregas vocais. Não confunda voz com fala.
Os órgãos que utilizamos para produzir os sons da fala
não têm como função principal a articulação dos sons. Eles
servem primeiramente para respirar, mastigar, engolir,
cheirar. A partir desses atos, já se pode ter ideia de quais
são os órgãos envolvidos na fala. O conjunto desses órgãos é
chamado de aparelho fonador. Vejamos uma ilustração do
aparato que é utilizado para a fala na Fig. 1.
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Pela Fig. 1, vemos o aparelho fonador dividido nas


regiões subglótica e supraglótica. Essa divisão acontece a
partir da glote, em função de ser acima dela que se
encontram as cavidades responsáveis pelas ressonâncias
vocais. A glote é o espaço entre as pregas vocais
localizadas na laringe (ver Fig. 2).

Fig. 2

Abaixo da glote, encontram-se a traqueia, dois pulmões e


o diafragma, responsáveis pelo suprimento da fonte de
energia que gera os sons da fala. O diafragma constitui-se
em uma estrutura em forma de abóbada que separa a cavidade
torácica da abdominal. Acima do diafragma, estão dois
pulmões que acompanham os movimentos da caixa torácica.
Quando ela se expande, os pulmões fazem o mesmo, enchendo-se
3

de ar — a inspiração. No movimento contrário, de saída de ar


— a expiração — o ar pulmonar nunca é totalmente expelido.
Sua capacidade pulmonar em silêncio ou repouso varia de 40 a
60%. A traqueia é um tubo de estrutura fibrocartilaginosa
que vai da cavidade torácica à laringe.
Acima da glote, localizam-se as cavidades faríngea, oral
e nasal. A cavidade faríngea é constituída da faringe, que é
dividida em três porções: nasofaringe, orofaringe,
laringofaringe. Essa cavidade pode ter seu tamanho
modificado a partir do levantamento ou abaixamento da
laringe. A cavidade oral é composta pela boca, na qual estão
localizados a língua, o palato duro e mole (ou véu
palatino), a úvula, os alvéolos, os dentes e os lábios. Na
cavidade nasal, encontram-se as narinas.

Fig. 03

Os sons do PORTUGUÊS e de grande parte das línguas


naturais são produzidos com fluxo de ar egressivo, ou seja,
nós emitimos os sons do português quando o ar se dirige para
fora dos pulmões. Para que haja a fala, primeiro é preciso
que o ar entre nos pulmões (inspiração). Para que ocorra a
inspiração, é necessário que o volume dos pulmões aumente.
Esse aumento de volume faz com que a pressão do ar dentro
dos pulmões diminua, ficando menor do que a pressão
atmosférica, o que permite a entrada do fluxo de ar vindo
das cavidades superiores. O movimento de deslocamento do ar
é de regiões de alta pressão para regiões de baixa pressão.
Em seguida, a pressão do ar passa a ser igual à da pressão
atmosférica e o fluxo de ar para. Quando o volume dos
pulmões diminui, na fase de expulsão do ar, há um aumento da
pressão de ar dentro dos pulmões. Assim, a pressão
atmosférica torna-se menor do que a pressão pulmonar e o ar
se desloca para fora dos pulmões, ocorrendo a expiração. É
nesse momento que a fala geralmente ocorre. Esse controle da
4

pressão nos pulmões é atingido pelas crianças entre 6 e 7


meses de idade, quando elas começam os seus primeiros
balbucios.

Na produção da fala, a expiração dura em média de 4 a 20


segundos, sendo significativamente mais longa do que a
inspiração. Na respiração em silêncio, a fase expiratória é
relativamente constante com duração média de cerca de 2
segundos. Na respiração normal, o ar passa livremente pelas
cavidades supralaríngeas. Na fala, ocorrem resistências ao
fluxo de ar vindas das constrições na laringe (pela vibração
das pregas vocais, ver Fig. 2 E 4 ) e nas cavidades acima da
laringe.

Fig. 04
Ocorre ainda que, quando falamos, as pregas vocais podem
estar aproximadas
(fechadas), bloqueando o ar Para ter uma ideia
que sai dos pulmões. Com melhor do que são sons
esse bloqueio, a pressão surdos e sonoros, com
abaixo das pregas aumenta, uma das mãos espalmada
fazendo com que elas se sobre o pescoço, logo
separem. O ar passa e a abaixo do queixo,
pressão diminui, fechando- produza o som [f]. Você
as novamente. O ar é, não sentirá nada em sua
então, solto em curtas
lufadas de ar. É o chamado
ciclo vibratório (ver Fig.
4). Quando há vibração das
pregas, são produzidos os
sons chamados vozeados ou
sonoros. As pregas vocais
podem, ainda, estar afastadas parcialmente, com o ar
passando sem restrições pela laringe, produzindo os sons
chamados de não-vozeados ou surdos.
Outro movimento necessário à classificação dos sons da
fala é o do véu do palato (a chamada campainha). Quando está
levantado, ele bloqueia o ar para as cavidades nasais e os
sons produzidos são chamados de orais. No entanto, quando um
som da fala é produzido com o véu do palato abaixado,
permitindo a saída do ar também pelas narinas, têm-se os
chamados sons nasais.
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Segmentos Fonéticos Não será fora de


propósito comparar o
A divisão tradicional aparelho fonador com um
entre vogais e consoantes instrumento musical de
em nível de articulação sopro. Os pulmões
deve ser entendida a exercem o papel de fole
partir da liberação do ou reservatório de ar;
fluxo de ar dos pulmões. as cordas vocais
Nas vogais, não há nenhum
impedimento a essa
passagem de ar, ou seja,
os segmentos vocálicos
são produzidos com o
fluxo de ar passando
livremente ou
praticamente sem obstáculos (obstruções ou constrições) no
trato vocal. Já as consoantes são articuladas a partir de
alguma obstrução no trato oral, seja ela parcial ou total.
Uma outra diferença entre esses dois tipos de sons é que as
vogais são vozeadas, isto é, são produzidas com a vibração
das pregas vocais, enquanto as consoantes podem ou não ser
produzidas com vibração das pregas vocais. Assim podem ser
vozeados ou não-vozeados. Em termos de classificação
fonética, as vogais são analisadas por meio dos seguintes
parâmetros: altura, avanço/recuo da língua e arredondamento
dos lábios. Já, para as consoantes, utilizam-se as
características de ponto articulatório (lugar de
articulação), modo articulatório e sonoridade.
Classificam-se os fonemas, de um modo geral, em vogais e
consoantes. O que distingue principalmente estas duas séries
de fonemas é o grau de abertura, isto é, o espaço bucal
compreendido entre os maxilares, ou entre a língua e o
palato, no momento de sua emissão. Na articulação das
vogais, verifica-se que o espaço bucal é maior, na das
consoantes, ao contrário, os órgãos da boca se aproximam,
diminuindo o espaço bucal, ou mesmo, eliminando-o. Desse
estreitamento ou oclusão resulta o ruído que se observa na
articulação das consoantes.

1. Segmentos Vocálicos

Vogais são sons produzidos com o ar saindo dos pulmões


(fluxo de ar egressivo). Os sons vocálicos se diferenciam
dos consonantais pela inexistência de obstrução à saída de
ar no trato vocal. Eles devem ser produzidos de modo que o
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estreitamento gerado pelo movimento dos articuladores não


produza fricção. Sua emissão é realizada com a vibração das
pregas vocais, sendo por isso considerados sons vozeados ou
sonoros. As vogais podem ser ainda classificadas como orais
e nasais. Na produção das orais, o véu do palato fecha a
passagem à cavidade nasal, fazendo com que o ar saia somente
pelo trato oral. Nas vogais nasais, o véu palatino encontra-
se abaixado, permitindo que o ar passe também pelas
cavidades ressoadoras nasais.
As vogais são fonemas produzidos pela corrente de ar que,
expelida do pulmão, com mais ou menos força, põe em vibração
as cordas vocálicas e chega ao exterior sem encontrar
obstáculos no seu caminho, apenas diversamente modificada
pelas diversas posições da boca.
a. Séries ascendente e descendente: as vogais são
apenas modificações de um fonema fundamental, o /a/, que
pode ser modificado de forma ilimitada. Tais modificações
nas línguas indo-européias reduzem-se a duas séries
principais, uma ascendente (ou anterior), formada pelo /e/ e
/i/, outra descendente (ou posterior), constituída pelo /o/
e /u/.
Partindo do som fundamental, /a/, que se pronuncia com
a boca entreaberta e a língua na posição de quem respira em
silêncio, chega-se, por modificações graduais, à restantes
vogais. Para a emissão de qualquer outro som vocálico, a
língua, ou avança gradualmente para a metade anterior da
boca, aproximando-se do palato, ou recua para a sua parte
posterior, subindo em direção ao véu palatino. No primeiro
caso, produz-se a vogal /i/; no segundo /u/. Os sons /e/ e
/o/ resultam da posição média que a língua toma entre /a/ e
/i/, e entre /a/ e /u/.
b. Abertura da boca: a diversidade das vogais importa
sempre grau de abertura diferente da boca. Assim, diz-se que
o /a/, relativamente às outras vogais, é a mais aberta,
porque é no momento da emissão desta vogal que o espaço
bucal é maior; o /i/ e o /u/, as mais fechadas, em razão de,
no momento de sua articulação, ser menor o espaço bucal; o
/e/ e /o/, as médias, porque a sua articulação se dá no
momento em que é médio o espaço bucal, relativamente aos em
que se verifica a articulação das vogais extremas a-i e a-u.
c. Ponto de articulação: denomina-se ponto de
articulação o lugar ou a zona onde se dá o contato ou a
aproximação dos órgãos que concorrem para a produção do som.
Uma vez que entre as vogais há uma série de gradações,
podendo cada uma delas aproximar-se da que fica atrás ou
participam da altura da imediata, estendem-se aquelas cinco
vogais a onze, com relação aos órgãos que mais se salientam
na produção do som. Denominam-se as vogais de: guturais (som
modificado pela garganta), palatais ou labiais.
d. Classificação quanto ao timbre: as mesmas vogais
podem apresentar, em razão da diversidade da abertura e do
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ponto de articulação, tonalidades diferentes, o que permite


a sua classificação quanto ao timbre em:
d.1 - abertas: á, é, ó;
d.2 - fechadas: ê, ô;
d.3 - reduzidas: a (mesa), e (padre), o (lado).
e. Classificação dos fonemas vogais quanto ao ponto de
articulação, quanto à tonicidade e quanto ao timbre, segundo
o triângulo de Hellwag:

Fig. 05

Fig. 06
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A observação do triângulo é importante para se perceber


que a passagem de ai > ei é um caso de aproximação de timbre
e que em metaplasmos se chama assimilação; o mesmo se diga
quando entre as posteriores temos a passagem de au > ou.
Exemplos: Iactu > iacto > jacto > jaito > jeito;
Auru > auro > ouro

2. Segmentos Consonantais

Os segmentos consonantais dividem-se em dois grandes


grupos: os denominados segmentos surdos ou não-vozeados,
produzidos sem vibração das pregas vocais, e os chamados
sonoros ou vozeados, produzidos com as pregas vocais em
vibração. Esse parâmetro relacionado à vibração ou não das
pregas vocais é definido como vozeamento.
Ainda se pode dizer que consoantes distinguem-se de
vogais, pois, enquanto estas últimas deixam que a corrente
de ar vinda dos pulmões passe livremente, as primeiras, para
serem articuladas, apresentam uma obstrução ao fluxo de ar
no trato oral. Tal obstrução pode ser total ou parcial. Há
consoantes que apresentam uma obstrução momentânea e total à
passagem do ar pelas cavidades supraglóticas e aquelas em
que há somente um estreitamento do canal bucal. A maneira
como o ar passa pelas cavidades supraglóticas é definida
como modo de articulação. Para a caracterização de
consoantes, deve-se levar em conta também a posição dos
articuladores passivos e ativos quando produzem tais
segmentos. A relação entre esses articuladores é definida
como o lugar ou ponto de articulação. Para que possamos
observar com mais clareza quais são os órgãos envolvidos nos
movimentos para a produção de consoantes, vamos rever, nas
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Fig. 07 e 08, serão apresentados em detalhes os órgãos


ativos e passivos localizados na cavidade oral.

Fig. 08
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2.1 FASES DA PRODUÇÃO DO SOM:

2.1.1 - Sons surdos e sonoros: na expiração, o ar


expelido que vem do pulmão e atravessa a traqueia, ao chegar
à laringe, pode encontrar a glote aberta ou fechada. Na
primeira hipótese, atravessa-a livremente sem determinar
nenhuma vibração nas cordas vocais; na segunda, forçando a
passagem, fá-las-á necessariamente vibrar. O primeiro som
formado denomina-se surdo, o segundo, sonoro.
2.1.2 - Sons orais e nasais: uma vez transposta a
glote, a coluna de ar alcança a faringe, procurando escapar-
se. Se, nesta altura, o véu palatino com a úvula se levanta,
ar encontra saída natural pela boca, e o som assim produzido
se chama oral; se o véu palatino, porém, se abaixa, ele se
escapará parte pela boca e parte pelo nariz, e o som daí
resultante se diz nasal.
2.1.3 - Na produção dos fonemas entram ainda outros
fatores de grande importância: as qualidades físicas dos
sons.
a. Altura ou entonação: decorre do número maior ou
menor de vibrações dentro de uma certa unidade de tempo. Na
emissão de um som agudo, as vibrações das cordas são muito
mais frequentes do que na de um grave. Dependem essas
vibrações do estado de tensão das cordas vocais. Conforme
estas se encontrem mais ou menos tensas, o som se eleva ou
abaixa. O grau de tensão não é o mesmo em todos os
indivíduos. Resulta ele não só da disposição de espírito e
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da vontade de cada um, mas também da constituição da glote.


Esta apresenta às vezes caracteres físicos especiais. É tal
diferença que permite a classificação das vozes em soprano,
tenor, barítono etc.
b. Intensidade: depende da amplitude das vibrações, que
aumenta ou diminui, segundo a quantidade ou volume de ar
expirado. A diferença de intensidade pode ser claramente
notada quando se proferem sons de idêntica altura e timbre.
Quanto à intensidade, os sons sãos fortes ou fracos.
c. Duração ou quantidade: é o tempo de duração das
vibrações. Qualquer som, para ser perceptível, exige um
mínimo de duração.
d. Timbre: consiste em certos sons secundários ou
acessórios que seguem o principal e aos quais se dá o nome
de harmônicos. É esta qualidade que torna um som
acusticamente distinto de qualquer outro da mesma altura,
intensidade ou quantidade. Os instrumentos musicais têm cada
um o seu timbre especial, o que nos permite distinguir,
ainda de longe, se o som é duma flauta ou de um clarinete.

2.2 - As Consoantes: são fonemas resultantes do


obstáculo oposto pelos órgãos bucais à corrente de ar,
sonorizada ou não pela glote.
Desta forma, os sons consonantais são produzidos pela
corrente expiratória que, atravessando a glote, chega à
boca, onde pode ser interceptado no todo ou em parte pelos
órgãos que lhe estão anexos. Essa circunstância determina a
divisão das consoantes em duas grandes classes:
Nas consoantes oclusivas: a corrente de ar é
totalmente interceptada pelo concurso dos órgãos bucais,
que, ao se afastarem, dão saída franca ao ar. São consoantes
oclusivas: p, b, t, d, k, g.
Nas consoantes constritivas: a corrente de ar só é
parcialmente interceptada pela aproximação dos órgãos da
boca. São consoantes constritivas: f, v, s, z, x, j, l, lh,
m, n, nh, r, rr.
Devido a maneira em que o ar se escapa na articulação
das constritivas, dividem-se estas em:
2.2.1 - Quanto ao modo de articulação (ou modo de
vencer o obstáculo):
a. Fricativas: caracterizadas pela passagem do ar
através de uma fenda estreita no meio da via bucal, o que
produz um ruído comparável ao de uma fricção ou sibilo. Daí
também serem denominadas de sibilantes. São fricativas as
consoantes f, v, s, z, ch, j: fala, vala, selo (passo, céu,
caça, próximo), zelo (rosa, exame), xarope (encher), já
(gelo).
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b. Vibrantes: caracterizadas pelo movimento vibratório


rápido de um órgão elástico (a língua ou o véu palatino),
que provoca breves (uma ou várias) interrupções da passagem
da corrente expiratória. Esse movimento só se verifica na
emissão do r (simples) e rr (múltiplo): caro e carro.
c. Laterais: caracterizadas pela passagem da corrente
expiratória pelos dois lados da cavidade bucal, em virtude
de um obstáculo formado no centro desta pelo contato da
língua com os alvéolos dos dentes ou com o palato. São
laterais as consoantes l e lh: fila, filha.
d. Nasais: são assim chamadas devido a ressonância
especial da passagem do ar pelas fossas nasais, para onde a
corrente expiratória se dirige, ao achar interceptada a sua
saída pela boca e facultado aquele caminho pelo abaixamento
do véu palatino. São consoantes nasais m, n, nh: amo, ano
anho.
3.2.2 - Quanto ao ponto de articulação (ou localização
do obstáculo): são três os órgãos que podem constituir
obstáculo à corrente de ar expelida dos pulmões: os lábios,
os dentes e o palato. Há fonemas, entretanto, em que o
obstáculo é causado, ao mesmo tempo, pelos lábios e dentes.
Segundo os órgãos onde se produz esse impedimento, dispõem-
se as consoantes em seis grupos:
a. labiais (ou bilabiais): formadas pelo contato dos
lábios. São as consoantes p, b, m: pato, bato, mato.
b. labiodentais: formadas pela constrição do ar entre o
lábio inferior e os dentes incisivos superiores. São as
consoantes f, v: faca, vaca.
c. dentais ou linguodentais: formadas pela aproximação
do pré-dorso da língua à face interna dos dentes incisivos
superiores, ou pelo contato desses órgãos. São as consoantes
s, z, t, d: cinco, zinco, tardo, dardo.
d. alveolares: formadas pelo contato da ponta da língua
com os alvéolos dos dentes incisivos superiores. São as
consoantes n, l, r, rr: nada, cala, cara, carro.
e. palatais, formadas pelo contato do dorso da língua
com o palato duro, ou céu da boca. São as consoantes x (ch),
j, lh, nh: acho, ajo, alho, anho.
f. velares, formadas pelo contato da parte posterior da
língua com o palato mole, ou véu palatino. São as
consoantes [k], [g], [R]: calo, galo, ralo.
Observação: O palato, para o efeito da caracterização
das consoantes, deve ser dividido em três zonas: anterior, a
média e a posterior. As consoantes articuladas na zona
anterior são as alveolares; na zona média, as palatais; na
posterior, as velares. É mister atentar para o papel
desempenhado pela língua na articulação desses fonemas, uma
vez que é ela o órgão ativo. As alveolares resultam do
contato da parte apical da língua com o alvéolo superior; as
palatais são produzidas com a elevação da parte média ou
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dorso da língua em direção ao palato médio; as velares com a


raiz ou parte posterior da língua aplicada ao véu palatino.
Na figura abaixo, estão indicados os pontos de
articulação das várias consoantes:

3.2.3 - Quanto à função das cordas vocais: observa-se,


na emissão das consoantes, que umas fazem vibrar as cordas
vocais, outras não. Disto resulta a divisão em surdas e
sonoras. São consoantes surdas: p, t, k, f, s, x. A estas
correspondem as sonoras: b, d ,g ,v ,z ,j , l, lh, r, rr, m,
n, nh.
3.2.4 - Quanto ao véu palatino: o palato mole pode
intervir de duas maneiras bem distintas na produção do som:
elevar-se, impedindo inteiramente a passagem do ar pelo
nariz, e o som daí resultante chama-se oral; ou abaixar-se,
permitindo que o ar se escape pela boca e parte pelo nariz,
e o som assim formado denomina-se nasal.
O escapamento do ar pelas duas vias (boca e nariz) pode
determinar graus diversos de nasalidade. São consoantes
orais: p, b, t, s, z, etc.; nasais: m, n, nh.

Quadro das consoantes

1. Vozeamento:

As consoantes são classificadas quanto ao vozeamento


como:
 Surdas ou não-vozeadas: produzidas sem a vibração
das pregas vocais: pata, faca.
 Sonoras ou vozeadas: produzidas com a vibração das
pregas vocais: bode, zona.

2. Ponto de Articulação:
Quanto ao ponto de articulação, as consoantes são
classificadas como (CRISTÓFARO SILVA, 2002, adaptado):

 Bilabial: lábio inferior (articulador ativo: móvel)


toca no lábio superior (articulador passivo): mamãe,
papai;
 Labiodental: lábio inferior (articulador ativo) vai em
direção aos dentes incisivos superiores (articulador
passivo): farofa, fava;
 Dental: ápice ou lâmina da língua (articulador ativo)
toca ou vai na direção dos dentes incisivos superiores
(articulador passivo): tato, dados;
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 Alveolar: ápice ou lâmina da língua (articulador ativo)


toca ou vai na direção dos alvéolos (articulador
passivo): tato, dados;
 Alveopalatal: parte anterior da língua (articulador
ativo) toca ou se dirige para a região medial do palato
duro (articulador passivo): chata, tchau, já, xarope;
 Palatal: parte média da língua (articulador ativo) toca
ou se encaminha para a parte final do palato duro
(articulador passivo): ganho, telha;
 Velar: dorso da língua (articulador ativo) toca ou vai
na direção do véu do palato também chamado de palato
mole (articulador passivo): casa, gato e algumas
pronúncias de “r”: rato (dialeto carioca e
florianopolitano);
 Uvular: dorso da língua (articulador ativo) vai em
direção à úvula, como em algumas pronúncias de “r”;
 Glotal: músculos da glote são os articuladores desse
tipo de segmento, que ocorre também na pronúncia de “r”
no dialeto de Belo Horizonte.

3. Modo de Articulação:

Como já vimos, o modo de articulação está relacionado


ao tipo de obstrução produzida no trato vocal.
 Oclusiva/plosiva: produzida com uma obstrução
total e momentânea do fluxo de ar nas cavidades
supraglóticas, realizada pelos articuladores
(ativo e passivo), daí chamada de oclusiva. Quando
a explosão acústica gerada na liberação da oclusão
é percebida, esse segmento pode ser também chamado
de plosivo. O véu do palato encontra-se levantado,
sendo o fluxo de ar encaminhado apenas para a
cavidade oral: paga, data, acaba. Em [p]aga, o som
[p] é emitido com uma obstrução total nos lábios.
Na palavra [d]a[t]a, os sons [d] e [t] são
produzidos com uma obstrução total na região que
vai dos dentes aos alvéolos. Em a[k]aba, na
realização do som [k], há uma obstrução total
localizada no véu do palato.
 Nasal: produzida com uma obstrução total e
momentânea do fluxo de ar nas cavidades orais. Há,
no entanto, um abaixamento simultâneo do véu do
palato, permitindo a liberação do ar pelas
cavidades nasais. O ar então saindo dos pulmões
ressoa também na cavidade oral antes de ser
expelido somente através das cavidades nasais. São
exemplos de palavras com sons nasais: mano, banho.
Em [m]a[n]o, o som [m] apresenta uma obstrução no
trato oral que ocorre nos lábios; já em [n], a
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obstrução ocorre nos alvéolos. Na palavra ba[ ]o,


a consoante nasal [ ] realiza a obstrução oral no
palato duro.
 Fricativa: produzida com um estreitamento do canal
bucal, ou seja, uma oclusão parcial, realizada
pelos articuladores, fazendo com que a passagem do
fluxo de ar nas cavidades supraglóticas gere um
ruído de fricção. O véu do palato encontra-se
levantado, e o fluxo de ar é encaminhado apenas
para a cavidade oral: fava, saca, azar, chato,
jato. Na palavra [f]a[v]a, as duas consoantes
fricativas [f] e [v] são produzidas com o lábio
inferior se dirigindo para os dentes superiores,
mas sem tocá-los efetivamente, já que a obstrução
é apenas parcial. Em [s]aca e a[z]ar, as
fricativas [s] e [z] são produzidas formando um
estreito canal no meio da língua enquanto se
dirigem aos alvéolos. As consoantes [ ] e [ ]
(presentes nas palavras [ ]ato e [ ]ato,
respectivamente) oferecem uma constrição no trato
na região do palato duro, produzida com a parte
anterior da língua em direção à região pós-
alveolar. Para essas fricativas, podemos
classificá-las como sibilantes (as alveolares [s]
e [z]), ou como chiantes (as pós alveolares [ ] e
[ ]). Temos ainda as fricativas velares [x] e [ ],
uvulares [χ] e [ ] e as fricativas glotais [h] e
[ ], que correspondem aos sons de “r”, como nas
palavras co[x]ta e co[ ]da ou co[h]ta e co[ ]da.
Para as velares, o dorso da língua se dirige à
região do palato mole (velum); e, para as glotais,
nas quais os ligamentos da glote se comportam como
articuladores, a fricção ocorre na laringe. Os “r”
fricativos ocorrem no falar carioca, no de Belo
Horizonte e também no de Florianópolis, quando na
posição final de sílaba. Já, em início de sílaba,
a maioria dos dialetos do português brasileiro
realizam a vibrante múltipla como fricativa.
 Africada: produzida com uma oclusão total e
momentânea do fluxo de ar, seguida de um
estreitamento do canal bucal, gerando um ruído de
fricção, logo após o relaxamento da oclusão. Aqui
também o véu do palato encontra-se levantado, e o
fluxo de ar passa apenas pela cavidade oral: tchau
[‘t aw], tia [‘t i ] e dia [‘d i ] (no dialeto
carioca). Essas consoantes são todas produzidas
com a parte anterior da língua tocando na região
pós-alveolar e depois se afastando, gerando
fricção. As consoantes [t ] e [d ] se diferenciam
apenas pelo vozeamento, sendo a primeira não-
vozeada e a segunda vozeada.
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 Tepe (ou tap): produzida com uma oclusão total e


rápida do fluxo de ar nas cavidades orais. O véu
do palato está levantado, impedindo a passagem do
ar pelas cavidades nasais: caro [‘kaՐս, prato
[‘pՐatս]. O som [Ր] apresenta uma oclusão
percebida como uma batida bastante rápida da ponta
da língua nos alvéolos, permitindo uma oclusão
total, mas extremamente breve. Essa consoante
também é conhecida como vibrante simples, por
apresentar apenas essa única batida.
 Vibrante: a ponta da língua ou a úvula provocam
uma série de oclusões totais muito breves,
seguidas por segmentos vocálicos extremamente
curtos. A passagem do ar pelas cavidades nasais
também está bloqueada: roda, carro. A vibrante
alveolar [r] aciona esta série de rápidas oclusões
tocando a ponta da língua nos alvéolos. Já a
vibrante uvular [ ] realiza a sequência de
bloqueios tocando, através da vibração da úvula, o
dorso da língua. Essa consoante também é chamada
de vibrante múltipla em função das múltiplas
batidas, em oposição à vibrante simples, que
apresenta um único bloqueio.
Obs: Os dois sons de “r” que o português
brasileiro distingue são muitas vezes chamados de
vibrante simples (o tepe ou r fraco) que aparece
na palavra caro, e de vibrante múltipla (a
vibrante propriamente dita ou r forte) que aparece
na palavra carro.
 Retroflexa: produzida com o levantamento e
encurvamento da ponta da língua (articulador
ativo) em direção ao palato duro (articulador
passivo), ou melhor, com a elevação do reverso da
ponta da língua em direção ao palato (DUBOIS,
1973). As cavidades nasais estão obstruídas pelo
levantamento do véu palatino não permitindo que o
ar passe através delas. O som retroflexo [ ] pode
ser percebido na pronúncia do “r” no dialeto
caipira ou por um americano produzindo palavras
como: mar [‘ma } e porca [‘p k ].
 Aproximante: articulada com uma constrição que é
maior do que a requerida para uma vogal, mas não
radical o suficiente para produzir turbulência da
corrente de ar. São produzidas com a cavidade
nasal bloqueada pelo véu do
palato, impedindo a passagem
Róticos compreendem uma classe de
de ar pelas narinas. São segmentos que representam os sons de “r”
consideradas aproximantes no sejam eles fricativos, vibrantes, tepes ou
PB um representante dos aproximantes.
róticos com ponto de articulação alveolar [ ] e as
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semivogais [j] e [w]. As aproximantes são


normalmente vozeadas.
 Lateral: produzida com uma oclusão central,
deixando que o ar escape pelas laterais do trato
oral. O véu do palato encontra-se levantado, e o
fluxo de ar passa apenas pela cavidade oral. Nas
palavras: lata, sal, telha, encontramos,
respectivamente, a lateral alveolar vozeada
([l]ata), produzida com uma obstrução realizada
com a ponta da língua no centro dos alvéolos; a
lateral velar (vozeada) (sa[ ]), realizada através
do bloqueio com o dorso da língua na região
central do palato mole (variante velarizada
produzida em algumas regiões do Rio Grande do Sul
em posição final de sílaba) e a lateral palatal
(te[ ]a) (também vozeada), produzida com a parte
anterior da língua tocando no centro do palato
duro.
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