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RESENHA

Por
Kátia Gally Calabrez

SUNDBERG, Johan; Ciência da Voz – Fatos sobre a Voz na Fala e no Canto. São
Paulo: Universidade de São Paulo, 2015. ISBN 978-85-314-1510-4.
O autor SUNDBERG, é professor emérito de acústica musical no Instituto Real de
Tecnologia (em sueco, Kungliga Tekniska Hogskola, KTH), em Estocolmo, Suécia, e
doutor honoris na Universidade de York, Reino Unido, e na Universidade Nacional e
Capodistriana de Atenas, Grécia. Publicou muitos artigos e livros como autor ou
organizador e foi editor e coeditor de inúmeros anais de eventos científicos. Possui
extensa experiência como cantor solista e de coral. Atualmente é membro da Academia
Real de Música da Suécia.
Este livro apresenta informações cientificamente embasadas sobre a produção e a
percepção da voz. Em uma linguagem clara e acessível, trata das relações entre a
fisiologia, a acústica e a percepção da voz humana, destacando o papel expressivo que
ela tem nos diversos estilos de canto. Apresenta uma abordagem bastante prática das
condições físicas, sociais e psicológicas que influenciam a fala, o canto e a saúde vocal.
Integrando teoria e prática.
Cantar envolve a movimentação coordenada dos lábios, língua, mandíbula, entre
outras estruturas, enquanto uma corrente de ar flui pela laringe e pelo trato vocal (espaço
constituído pelas cavidades faríngea e oral); dessa maneira produzimos sons com
características bastante específicas. O conceito de voz, está associado às pregas vocais
em vibração e ao efeito do trato vocal sobre o som laríngeo, os quais fazem parte do
sistema fonador; seu funcionamento resulta de uma interação entre o sistema respiratório,
a laringe, a faringe e as cavidades oral e nasal; com ele podemos produzir uma grande
variedade de sons. Além das dimensões do sistema fonador, também as propriedades
das pregas vocais, como o seu aprimoramento, sua espessura e rigidez, seus modos de
vibração, são de importância crucial para a determinação da qualidade única da voz de
um indivíduo. O desafio da educação vocal consiste, justamente em eliminar hábitos
vocais inadequados e desenvolver ao máximo as possibilidades do sistema fonador para
que ele funcione com eficiência nas mais diversas situações do uso da voz. Voz são os
sons gerados pelo sistema fonador quando as pregas vocais estiverem em vibração ou,
mais precisamente, pelo fluxo de ar pulmonar que é primeiramente modificado pelas
pregas vocais em vibração e depois pelo trato vocal, e por vezes também pela cavidade
nasal; a voz significa o mesmo que o som vocal. As propriedades da voz dependem em
parte das características morfológicas do sistema fonador e em parte, do modo como é
utilizado.
O sistema fonador é composto por três partes: o sistema respiratório, as pregas
vocais e as cavidades de ressonância (que incluem o trato vocal, a cavidade nasal e
outras cavidades da face). Os pulmões constituem uma estrutura esponjosa envolvida por
uma bolsa (pleura), situada dentro da caixa torácica; as pequenas células no interior
dessa estrutura, os alvéolos, encontram-se conectadas a tubos muito finos (bronquíolos),
os quais conectam-se aos brônquios, que se ligam à traqueia, que se conecta pela
extremidade superior à laringe (cavidade em forma de tubo), onde se situam as pregas
vocais. As pregas vocais são constituídas por músculos revestidos por mucosa e
possuem a forma de dobras ou pregas; o espaço entre elas chama-se glote; suas
extremidades anteriores estão fixadas na superfície interna de a cartilagem tireóidea; e
suas extremidades posteriores nas cartilagens aritenóideas. As cartilagens aritenóideas
podem movimentar-se muito rapidamente; seus complexos movimentos de rotação e
deslizamento são essenciais para o afastamento e aproximação das pregas vocais (o
afastamento das pregas vocais com a consequente abertura da glote chama-se abdução;
o movimento de aproximação das pregas com o fechamento da glote, chama-se adução).
Abdução e adução são os movimentos que nos possibilitam transitar entre fonemas
surdos e devem ser rapidamente aduzidas para a produção de fonemas sonoros. As
pregas vocais devem estar abduzidas para produzir fonemas surdos e ser rapidamente
aduzidas para produzir fonemas sonoros. A poucos milímetros acima das pregas vocais,
encontram-se as pregas vestibulares (outro par de pregas revestidos por mucosa),
conhecidas como bandas ventriculares ou falsas pregas. Entre as pregas vocais e as
vestibulares, encontra-se o ventrículo da laringe. A laringe se assemelha a um tubo curto,
sua parte posterior é formada pela região posterior da cartilagem cricóidea, pelas
cartilagens aritenóideas e por músculos que conectam essas cartilagens; já a parede
anterior é formada pela região anterior da cartilagem cricóidea, pela cartilagem tireóidea e
pela região inferior da epiglote. A laringe se prolonga em um tubo consideravelmente mais
largo e longo, chamado faringe. A parte inferior da faringe, também chamada de parte
laríngea da faringe, se conecta também ao esôfago; sempre que engolimos, a passagem
entre a faringe e a laringe se fecha; na manobra de fechamento da laringe, a epiglote
desempenha um papel muito importante: ela se desloca para trás e para baixo, e se
posiciona de maneira a funcionar como uma tampa sobre a laringe. Posteriormente, a
faringe faz limite com a coluna vertebral; anteriormente, com a laringe, epiglote e língua.
As paredes laterais da faringe são constituídas por músculos constritores (superior, médio
e inferior) que podem comprimi-la. A língua consiste em um conjunto de diferentes
músculos, muitos dos quais com origem no osso hioide; onde encontram-se suspensas a
cartilagem tireóidea e toda a laringe. O corpo da língua se estende até a ponta superior da
epiglote, de modo a formar uma cavidade entre essas estruturas. O véu palatino (palato
mole) constitui a parede superior da parte oral da faringe e funciona como um portão de
entrada para a cavidade nasal. O palato duro constitui um prolongamento rígido do véu
palatino na direção anterior. As cavidades faríngea e oral, que compõe o trato vocal,
funcionam como caixas de ressonância do sistema fonador. A cavidade nasal e outras
cavidades funcionam como ressoadores sonoros. A cavidade nasal é dividida em dois
compartimentos, cada um deles apresentando um orifício anterior (a narina). Nas paredes
da cavidade nasal existem canais estreitos que a conectam a ouras cavidades da face.
Duas dessas cavidades se situam dentro do osso maxilar, acima dos dentes pré-molares
superiores (seios maxilares); outras cavidades se situam no osso frontal (testa), logo
acima da altura dos supercílios (seios frontais). Todo esse aparato está associado a uma
capacidade extremamente especializada de controlar a produção de uma grande
variedade de sons vocais. O som vocal pode variar dentro de amplos limites. Uma grande
quantidade de músculos pode modificar a forma e as dimensões do trato vocal, e assim
também as características das pregas vocais, o que determina diferentes configurações
do trato vocal e diferentes modos de vibrações das pregas.
O sistema respiratório tem a finalidade de comprimir o ar nos pulmões, gerando
uma corrente de ar que pressionará as pregas vocais e o espaço glótico e por fim escoará
pelo trato vocal. A fonação significa a produção do som pela vibração das pregas vocais.
O fluxo de ar que atravessa a glote durante a fonação e que provoca a vibração das
pregas vocais produz um som, a fonte glótica, que então se erradia pelo trato vocal, que
por sua vez, transforma as características acústicas da fonte glótica, enfatizando
diferenças entre seus parciais, essa transformação é determinada pela configuração do
trato vocal, e esta por sua vez, pela articulação (configuração do trato vocal), e é
determinada pela atuação coordenada de várias estruturas fonoarticulatórias ou
articuladores (lábios, mandíbula, língua, palato mole, faringe e laringe).
O sistema respiratório funciona como um compressor de ar (instrumento utilizado
para comprimir o ar – reduzindo seu volume), produz pressão de ar. A função de
compressor é do sistema respiratório e sua atividade é a respiração (pressão de ar); e os
principais componentes envolvidos são o diafragma, os músculos abdominais e os
músculos intercostais internos e externos.
As pregas vocais funcionam como um oscilador (tudo aquilo que produz um sinal),
converte o fluxo de ar pulmonar em um fluxo de ar pulsante, chamado de fonte glótica. A
função de oscilador (fonte) é das pregas vocais (fonte glótica) e sua atividade é a fonação;
e os principais componentes envolvidos são as forças aerodinâmicas e os músculos da
laringe.
O trato vocal, como um filtro (funciona como uma espécie de peneira; impede que
elementos nele introduzidos sejam liberados com a mesma facilidade, amortecendo ou
mesmo bloqueando a passagem de alguns deles), funciona como um ressoador que filtra
a fonte glótica, produzindo vogais ou consoantes sonoras e/ou modificando a qualidade
da voz. A função de ressoador (filtro) é do trato vocal (faringe e cavidades orais – Som
Vocal) e sua atividade é a articulação (fala/canto); e os principais componentes envolvidos
são os articuladores.
O oscilador vocal constitui um gerador/sinal acústico; e é composto de variações
minúsculas de pressão de ar, muito sutis e rápidas. Essas variações são geradas pela
vibração das pregas vocais; quando um fluxo de ar atravessa a glote, as pregas vocais
podem iniciar a vibração e, assim, gerar uma alternância rítmica entre a passagem e a
interrupção do fluxo de ar. A onda de pressão que emerge da glote se propaga pelo trato
vocal, causando uma súbita queda de pressão no nível glótico. A cada novo pulso de ar
subsequente, um novo aumento da pressão na região supraglótica é gerado, e o processo
se repete seguidamente. Assim, por meio da abertura e do fechamento alternados da
glote, as pregas vocais em vibração produzem um sinal acústico que consiste em
variações da pressão do ar. Enquanto as pregas vocais mantiverem os movimentos de
abertura e de fechamento da glote em intervalos regulares, ou periódicos, um som com
uma frequência definida será produzido. Mas as pregas vocais não são o único oscilador
existente no sistema fonador. Sons podem ser gerados também por outras regiões do
trato, tal qual ocorre no caso dos fonemas surdos. A função do trato vocal no processo de
produção da voz, todo sistema que possua elementos de massa e elasticidade, que
permita oscilações mecânicas, funciona como um ressoador. O trato vocal, constitui um
tubo preenchido com ar, com elementos de massa e elasticidade; assim, as ondas de
compressão e descompressão de ar do som glótico ali introduzidas se propagarão e se
refletirão repetidamente, por isso conclui-se que o trato vocal funciona como um
ressoador. Um som introduzido em um ressoador não se extingue imediatamente, mas
com maior ou menor rapidez (o ressoador faz o som ressoar). Um ressoador tem como
característica essencial a possibilidade de favorecer a transmissão de certas frequências
em detrimento de outras.
Como o ressoador é o trato vocal, falamos em frequências de formantes; cada um
dos formantes constitui uma das ressonâncias do trato vocal: o primeiro formante
correspondendo à ressonância de frequência mais baixa, o segundo, à ressonância
imediatamente superior, e assim por diante. Um som com frequência diferente daquelas
dos formantes sofre uma perda de intensidade ao ser transferido pelo trato vocal e,
quando irradiado pelos lábios, apresenta menor intensidade do que se estivesse em
ressonância com o trato. Podemos, assim, afirmar que a transmissão do som é mais
eficaz para frequências coincidentes ou próximas às dos formantes. O trato vocal
apresenta um grande número de formantes, e os mais relevantes são os quatro e cinco
que são os mais para a determinação da qualidade da vogal e da voz. Os dois primeiros
são determinantes para a produção das vogais e os seguintes para a determinação da
qualidade única da voz do indivíduo.
Se o ar pulmonar exercer a devida pressão sobre uma glote suficientemente
fechada, as pregas vocais renderão a entrar em vibração. Esse processo envolve
diversos fatores, entre eles a força de Bernoulli que desempenha um papel bastante
específico na iniciação da vibração das pregas vocais; essa foça ocorre quando algo
impede a passagem livre do ar e força o escoamento dele em camadas com diferentes
velocidades. Nesse escoamento em camadas, as partículas que percorre distâncias
maiores adquirem maior velocidade e, consequentemente, menor pressão. Esse tipo de
situação produz uma subpressão precisamente onde as camadas escoam com maior
velocidade, as paredes do duto pelo qual o ar se desloca tendem a sofrer uma sucção. A
glote é estreita e impede a passagem livre do ar, o que favorece a ocorrência da força de
Bernoulli. Desse modo, ao atravessar a glote, a corrente do ar gera uma subpressão que
succiona as pregas vocais em direção à linha média do espaço glótico. A força de
Bernoulli, representada por uma sucção no nível da glote, tende a causar o fechamento
das pregas vocais em virtude do escoamento de ar. Se a pressão nos pulmões se
mantiver suficientemente elevada e as pregas vocais suficientemente aduzidas, a glote
tenderá a permitir a passagem de um novo pulso de ar sempre que a força de Bernoulli
ceder. Por sua vez, tão logo ocorra uma pequena abertura das pregas vocais e a
liberação da passagem de ar, uma nova pressão negativa (sucção) se estabelecera na
glote, e ela tenderá a se fechar novamente. Essa situação resultará na alternância
continuada entre as posições de abertura e de fechamento da glote, e em consequência,
a fonação ocorrerá. Fenômenos ditos não lineares estão também envolvidos na vibração
das pregas vocais. Tais fenômenos desempenham um papel decisivo na fonação,
particularmente relacionados a chamada diferença de fase no fechamento das pregas
vocais, essa diferença se assemelhe ao de uma onda que se desloca de baixo para cima.
Se as pregas vocais não possibilitassem essa diferença de fase em seu fechamento, os
fonemas sonoros simplesmente não ocorreriam. A força de Bernoulli ocupa um papel
menos relevante na manutenção da vibração das pregas vocais do que na iniciação. A
propriedade de viscosidade da mucosa das pregas vocais também ocupa papel crucial
para o mecanismo de sua vibração. O movimento de adução e as propriedades elásticas
das pregas vocais também são determinantes para a produção da voz, sobretudo na fase
de iniciação da fonação. É evidente que não poderíamos produzir fonação se
estivéssemos à nossa disposição apenas os músculos de adução e de abdução. Os
aspectos físicos relativos à corrente de ar são os mais decisivos para que a fonação
ocorra.
Os músculos são formados por milhares de fibras musculares que são
seletivamente recrutadas para realizar determinado posicionamento e/ou movimentação.
Nesse processo, a atuação de alguns músculos deve se opor a de outros, e isso é
chamado antagonismo muscular. Quando um ou mais músculos se contraem para realizar
a abdução de uma parte do corpo, outros músculos deverão relaxar para ceder esse
movimento. Para o movimento contrário, de adução dessa parte, será necessário que os
músculos antagonistas, antes dos contraídos, relaxem e que os relaxados se contraiam.
As sofisticadas atividades fonatórias também envolvem a atuação coordenada de todo um
conjunto de músculos, de modo a produzir uma grande constelação de configurações
laríngeas. Para que as pregas vocais sejam aduzidas, os músculos cricoaritenóideos
lateral (CAL) e aritenóideo (IA) devem ser contraídos. Eles deslocam a apófise interna das
cartilagens aritenóideas em direção à linha média da glote, aproximando-as e aduzindo as
pregas vocais. Em contrapartida, para que as pregas vocais sejam abduzidas, o músculo
cricoaritenóideo posterior (CAP) deverá ser contraído e os músculos adutores, relaxados;
com isso, a apófise externa da cartilagem aritenóidea é deslocada para trás e para baixo,
e a abdução ocorre. Os músculos adutores podem fechar a glote com firmeza e assim ciar
condições para que a laringe ofereça grande resistência diante de pressões pulmonares
consideravelmente altas.
A frequência do som gerado pelas pregas vocais corresponde à frequência com
que elas vibram. O contorno melódico carrega uma grande quantidade de informações.
Qualquer modificação na frequência de um fonema sonoro corresponde, a uma
modificação na frequência de vibração das pregas vocais (frequência de fonação), que é
medida em hertz (Hz). Frequência de fonação é controlada por dois fatores: a ação da
musculatura que determina o comprimento, a tensão e a massa vibrante das pregas
vocais que é o mais importante; e o outro fator constitui a pressão que o ar dos pulmões
exerce sob a glote, o qual chama-se pressão subglótica (abaixo da glote). O modo como a
pressão subglótica afeta a fonação: o aumento da pressão subglótica produz, como
principal efeito, o aumento da intensidade da fonação e em menor medida, da a
frequência de fonação. Em contrapartida, se quisermos elevar a frequência de fonação
sem elevarmos sua intensidade, devemos ativar a musculatura que controla as
propriedades das pregas vocais, particularmente as relativas a seu comprimento. A
atuação da musculatura laríngea deve propiciar o alongamento gradativo das pregas
vocais até que a frequência de fonação desejada seja atingida. Quanto mais longas,
tensas e finas as pregas, mais alta será a frequência de fonação. A tensão das pregas
vocais pode ser ajustada por meio da modificação da distância entre as cartilagens
tireóidea e aritenóidea; essa modificação é realizada por meio da ação do musculo
cricotireóideo (CT). Quando o CT se contrai, a cartilagem cricóidea se inclina, o que eleva
a sua região anterior e aproxima-a da cartilagem tireóidea; quando a frequência de
fonação aumenta, a distância entre essas cartilagens tende a diminuir. O alongamento
das pregas vocais devido a contração do CT só ocorrerá se as cartilagens aritenóideas,
nas quais as pregas vocais se inserem posteriormente, se mantiverem estáveis. A
rotação e deslocamento das cartilagens aritenóideas para trás também podem causar o
alongamento das pregas vocais serão expostas a uma força de abdução, a qual terá de
ser compensada por uma força de adução, a fim de que a glote se mantenha fechada.
Ambos os movimentos são frequentemente utilizados para elevar a frequência de
fonação. A parte lateral do músculo tireoaritenóideo (TA) exerce a função antagônica à do
músculo CT. Ela se segue paralelamente ao assim chamado músculo vocal, que forma o
corpo das pregas vocais; o TA se estende superiormente, constituindo a parte
tireoepiglótica, que, quando contraída, pode comprimir o orifício laríngeo; se estes
músculos estiverem envolvidos na diminuição da frequência de fonação. A frequência de
fonação é controlada pelos músculos da laringe, a intensidade da fonação é controlada
pela pressão subglótica. Se a intenção for a de ´produzir um som com frequência
constante e intensidade crescente, como no caso de um crescendo, a tendência ao
aumento de frequência de fonação, decorrente do aumento da pressão subglótica, deverá
ser necessariamente contrabalanceada.
Todas as vezes que a glote permite a passagem de um pequeno pulso de ar
pulmonar, uma pequena quantidade de ar é injetada no trato vocal. A pressão no nível da
glote então se eleva, uma vez que essa região passa a acomodar repentinamente maior
quantidade de partículas de ar. À medida que essa pressão se propaga por todo o trato, a
pressão na própria glote decai. Uma nova lufada de ar é então injetada pela glote no trato
vocal e a pressão novamente se eleva. O resultado dessa variação da pressão de ar no
trato vocal, sincronizada à vibração das pregas vocais, constitui o som vocal. Algo
decisivo para a determinação das características do som vocal aparentemente ocorre
durante o trajeto do ar entre a glote e os lábios. O trato vocal é um ressoador, sua
capacidade para propagar o som, depende, em grande medida, da frequência do som a
ser transmitido. O trato vocal apresenta quatro ou cinco frequências de ressonância
(formantes) de maior importância. Um som de frequência igual ou próximo da frequência
de um desses formantes será transmitido pelo trato vocal com maior eficiência do que um
som de outra frequência e apresentará amplitude comparativamente maior ao ser
irradiado pelos lábios. A laringe produz não apenas um único tom, mas um conjunto de
tons (uma família de tons simultâneos). O som produzido na laringe pode ser decomposto
a cada momento em um espectro (uma grande quantidade de componentes, cada um
deles com frequências próprias). Esses componentes são chamados de sons parciais,
uma vez que constituem parte de um todo (sinal sonoro). Esse sinal periódico (seus
parciais são harmônicos), relacionados entre si de forma exata e com frequências que
corresponderão aos múltiplos inteiros da fundamental (primeiro harmônico). O segundo
parcial apresenta uma frequência igual ao dobro da frequência fundamental, o terceiro, o
triplo e assim por diante. Os harmônicos acima da fundamental são chamados de
sobretons ou harmônicos superiores. O pitch (altura tonal) constitui o correlativo subjetivo
(psicofísico) da frequência fundamental. A oscilação das pregas vocais lança um conjunto
de parciais no trato vocal, os quais são propagados até a extremidade do trato vocal; que
lida diferentemente com cada um dos seus parciais, dependendo de suas frequências; os
parciais que estiverem mais próximos dos formantes serão transmitidos com maior
eficiência e serão irradiados pelos lábios com maior intensidade do que os parciais mais
distantes dos formates. Os parciais mais intensos do espectro do som vocal determinam
características sonoras que definem a “cor” da vogal produzida e da voz de quem a
produz. As frequências dos formantes são determinadas pelas configurações do trato
vocal; tanto a qualidade fonética quanto a qualidade da voz podem ser consideradas
reflexo sonoro da configuração do trato vocal. As frequências dos formantes exercem
papel decisivo na determinação da qualidade da vogal, vem como da qualidade da voz.
As frequências dos formantes dependem do comprimento e da forma do trato vocal. O
comprimento do trato é definido como a distância entre a glote e a abertura labial, ao
passo que a forma do trato é determinada pela variação da área transversal ao longo do
seu comprimento. A forma do trato vocal pode ser descrita como a distância da glote
(referência) e a abertura labial; e o eixo vertical, a variação da área transversal ao longo
do trato; e a curva obtida é chamada de função de área. O comprimento do trato vocal
depende das características anatômicas e morfológicas de um indivíduo. A influência do
trato vocal sobre os formantes: quanto menor o comprimento do trato, mais altas serão as
frequências dos formantes e vice-versa. As ferramentas que utilizamos para modificar a
função da área do trato vocal são os articuladores (lábios, mandíbula, língua, véu palatino,
laringe e faringe); por melo da ação de seus músculos constritores; modificando
consideravelmente a configuração do trato vocal. O véu palatino pode ser elevado (oclui a
passagem entre o trato e a cavidade nasal) ou abaixado (liberando a passagem). A
laringe não só se eleva ou abaixa mas assume diferentes configurações, associadas a
diversos movimentos que a cartilagem aritenóidea pode realizar; e a faringe pode ser
parcialmente estreitada ou alargada. O movimento de um articulador tende a afetar a
frequência de todos os formantes, em maior ou menor medida, são sensíveis a esses
articuladores: o primeiro formante sensível a abertura mandibular, aumentando a abertura
a frequência eleva e vice-versa. O segundo é sensível a forma do corpo da língua que
pode comprimir parte do trato vocal na altura do palato duro elevando a frequência; se
comprime o véu palatino a frequência diminui. O terceiro formante sensível a posição da
ponta da língua e o espaço entre elas e os incisivos inferiores, se o espaço aumenta a
frequência diminui e vice-versa. A movimentação dos articuladores possibilita a
modificação da frequência dos três primeiros formantes dentro de extensões
razoavelmente amplas. As frequências do quarto e quinto formantes, ainda mais elevados
são mais ainda determinados pelo comprimento do trato vocal do que por alguma posição
especifica dos articuladores. O quarto formate é sensível a configuração do tubo laríngeo,
depende fundamentalmente das dimensões do tubo laríngeo; papel dos parciais altos
para a qualidade vocal. O quinto formante se situa abaixo do quarto e dá a origem de um
formante extra na voz; somado aos demais, ou entre eles; dá ganho na função de
transferência do trato vocal nessa região aumentando consideravelmente. Diferentes
configurações do trato correspondem a diferentes funções de área e a diferentes
combinações de formantes, as quais, por sua vez, definem a qualidade fonética das
diferentes vogais. A diferença da localização dos formantes, são chamadas de coloração,
cobertura, escurecimento; causados pelos ajustes específicos dos dois primeiros
formantes da voz; é o efeito de migração vocal.
A respiração ocupa papel de extrema importância para a função do sistema
fonador, movimentos respiratórios bastante precisos. O sistema respiratório deve fornecer
ao sistema fonador uma sobpressão bem controlada de ar nos pulmões, que constitui a
pressão subglótica; pode ser obtida por meio da contração de alguns dos diferentes
grupos de músculos respiratórios. Uma mesma sobpressão pode ser obtida por meio de
técnicas respiratórias diferentes; além disso, uma mesma técnica pode diferir
consideravelmente de pessoa para pessoa; um cantor pode ou não contrair a parede
abdominal antes de iniciar uma frase musical, dependendo da técnica utilizada; modificar
ou aprimorar o modo como os músculos respiratórios atuam durante o canto constitui um
dos aspectos mais comumente trabalhados no processo de educação vocal. Algumas
técnicas respiratórias podem ser mais ou menos efetivas do que outras, ainda que os
músculos que geram determinada pressão subglótica não afetem diretamente o
funcionamento das pregas vocais. São os músculos da laringe que determinam o
funcionamento das pregas vocais a uma dada pressão subglótica; que desempenha um
papel preponderante sobra a intensidade e a frequência da fonação (propriedades da voz
que devem ser administradas com maestria pelos cantores). É possível que determinadas
estratégias respiratórias confiram ao cantor diferentes graus de excelência técnica no
controle dessas propriedades e isso justificaria a importância da respiração para a
fonação. O modo como a musculatura respiratória controla a pressão subglótica pode
gerar reações que afetariam a musculatura laríngea. Graças a um sistema de reflexos
laríngeos altamente complexo, as pregas vocais são abduzidas durante a inspiração e
aduzidas no início da expiração. A fonte glótica é definitivamente influenciada pela
respiração. Na respiração silente, a quantidade de ar existente nos pulmões (volume
pulmonar) é determinada pelo espaço torácico reservado aos pulmões. Quando
espiramos durante a respiração silente, criamos uma pequena sobrepressão pulmonar
que empurra o ar para o exterior, quando inspiramos, em contrapartida, criamos uma
pequena subpressão pulmonar que suga o ar do ambiente para dentro dos pulmões. Se
impedirmos qualquer entrada ou saída de ar pulmonar, fecharemos a glote; se nenhuma
contração muscular adicional for realizada, a pressão nos pulmões, contraindo a
musculatura expiratória, a pressão nos pulmões se elevara e um fluxo de ar será gerado
caso a glote seja aberta. Assim, se a glote estiver fechada, a pressão nos pulmões será
determinada pelas forças musculares e elásticas que atuam sobre as estruturas que
definem o volume dos pulmões. Mas se a glote estiver parcialmente aberta, a pressão nos
pulmões será determinada não apenas pelas forças musculares e elásticas do pulmão;
mas também, em alguma medida, pela resistência oferecida pela glote à corrente de ar.
Durante a fonação, a sobrepressão nos pulmões é moderada; pressão subglótica se
refere à sobrepressão nos pulmões. Os pulmões tendem sempre a se encolher dentro da
caixa torácica, onde se encontra sustentados. À medida que os pulmões são preenchidos
por ar, as forças elásticas que tendem a expelir esse ar aumentam; as forças expiratórias
passivas aumentam juntamente com o aumento de volume de ar nos pulmões, a medida
que inspiramos. Outra estrutura elástica no sistema respiratório é a caixa torácica; sua
elasticidade é determinada pela ação dos músculos intercostais que podem aumentar ou
diminuir seu volume. Os músculos intercostais externos (expiratórios) e internos
(inspiratórios); ambos usados durante a fonação. Os músculos intercostais internos
comprimem a caixa torácica, produzindo a redução do volume pulmonar. O segundo
grupo muscular cuja ação é determinante para que os movimentos respiratórios ocorram
é constituído pelo diafragma e músculos abdominais. O diafragma é um músculo
inspiratório de extrema importância; suas extremidades se inserem na parte inferior do
contorno da caixa torácica; quando contraído se torna aproximadamente plano; quando
relaxado convexo para cima em forma de cúpula; lateralmente apresenta uma inclinação;
a parte posterior é mais longa que a anterior. Constitui a base da caixa torácica; quando
contraído, essa base aplaina e o volume da caixa aumenta; em consequência, a pressão
nos pulmões diminui e o ar ambiente tende a ser sugado para dentro dos pulmões; o
diafragma funciona como um músculo inspiratório; pois a sua construção provoca uma
sucção de ar para dentro dos pulmões. Para a expiração ocorrer, o músculo ativado são
os abdominais, que são expiratórios; quando o diafragma é contraído, empurra para baixo
o conteúdo da cavidade abdominal, que ao admite ter seu volume diminuído, empurra a
parede abdominal para frente. Quando os músculos da parede abdominal são contraídos,
o conteúdo do abdômen força o diafragma para cima; em consequência, a base da caixa
torácica é empurrada para cima e seu volume diminui. Os movimentos de inspiração e
expiração envolvem a ação coordenada de dois grupos musculares e também forças
elásticas passivas; o resultado dessas ações determina o volume pulmonar e a pressão
subglótica. As forças elásticas passivas dependem do volume pulmonar; à medida que o
a é consumido durante a fonação, o volume pulmonar essas forças elásticas passivas
diminuem gradativamente. Para que pressão subglótica se mantenha constante, as forças
musculares deverão adaptar-se continuamente as variações do volume pulmonar.
Quando necessário as forças musculares deverão compensa as variações da pressão
subglótica associadas aos movimentos respiratórios; os músculos inspiratórios criam
condições para que a pressão subglótica seja reduzida. A força da gravidade puxa o
diafragma para baixo, o que força o movimento dos músculos da parede abdominal para
baixo e para frente. A sobrepressão nos pulmões é transmitida para a cavidade abdominal
por meio do diafragma; se elevarmos a pressão subglótica pela ação dos músculos
intercostais internos; elevaremos a força sobre a parede abdominal. O aumento da
atividade da parede abdominal ocorre de maneira combinada à atividade dos músculos
intercostais internos. Um aumento de frequência de fonação não necessariamente
implique em maior consumo de ar. A intensidade da fonação é determinada
essencialmente pela pressão subglótica, ao passo que a frequência de fonação é
determinada pela musculatura laríngea; o aumento da pressão subglótica tende a elevar a
frequência de fonação; o fluxo de ar, que determina o consumo de ar, depende
inteiramente da pressão subglótica e da resistência glótica; e a resistência glótica
depende da adução na laringe. A pressão subglótica tende a aumentar com a elevação da
frequência de fonação. O sistema respiratório do cantor deve produzir uma pressão
própria especifica para cada uma das notas cantadas. Se falhar em estabelecer a pressão
correspondente ao tom intencionado, desafiará. O cantor deve controlar a pressão na
cavidade oral de maneira mais cuidadosa, minimizando perturbações desnecessárias na
pressão subglótica; e consequentemente na vibração das pregas vocais. A resistência
glótica exerce um efeito pequeno sobre a pressão subglótica. O canto demanda grande
rapidez e precisão da atividade respiratória; se não houver grande habilidade no controle
da pressão subglótica, resultara em grande esforço laríngeo; o modo como e realizada a
inspiração e relevante para a configuração laríngea; e diferentes ajustes laríngeos devem
resultar em diferentes modos de fonação.
Fonte glótica é o nome dado gerado quando as pregas vocais em vibração moldam
o fluxo de ar pulmonar em uma sequência de pulsos de ar; as características da fonte
glótica são muito importantes para determinar a qualidade única da voz de um indivíduo
(timbre vocal); as características da fonte glótica e dos diferentes fatores que a
influenciam. A frequência de fonação corresponde à frequência de vibração das pregas
vocais é controlada principalmente pela musculatura laríngea. A intensidade de fonação
depende da amplitude da fonte glótica, que é controlada pela pressão subglótica
(respiração). O espectro acústico da fonte glótica depende do modo como as pregas
vocais vibram; e este depende da interação entre a pressão subglótica e as propriedades
mecânicas das pregas vocais, determinadas pela ação dos músculos da laringe. As
características da fonte glótica são em parte relacionadas ao registro vocal. Um registro
delimita uma região de frequências em que todos soam de maneira semelhante e são
aparentemente produzidos de maneira similar. Um registro vocal é um evento totalmente
laríngeo (consiste em séries ou regiões de frequências de fonação que podem ser
produzidas com qualidades muito semelhantes) algumas regiões de frequência de
fonação podem ser produzidas com mais de um registro; e a definição de registro deve ter
por base evidências perceptivas, acústicas, fisiológicas e aerodinâmicas. O fato de haver
sobreposição entre regiões de frequência de fonação correspondente aos diferentes
registros vocais torna possível cantar um mesmo tom em diferentes registros.
As propriedades da fonte glótica são determinadas em parte pela pressão
subglótica, controlada pelo sistema respiratório e em parte pelas propriedades das pregas
vocais, que são controladas pela musculatura laríngea. A descrição da fonte glótica deve
considerar três características acústicas fundamentais: frequência de fonação,
intensidade da fonação e espectro acústico. A frequência da fonação é determinada
principalmente pela tensão e pela espessura das pregas vocais (quanto mais alongadas,
maior a tensão nas pregas e mais alta a frequência de fonação; inversamente quanto
mais baixa a frequência de fonação, mais encurtadas, relaxadas e espessadas as pregas
vocais). A variação do comprimento das pregas vocais ocorre em parte devido à ação dos
músculos responsáveis por seu alongamento, e em parte devido aos músculos
responsáveis por seu tencionamento. O CT é responsável pelo alongamento das pregas
vocais, quando se contrai o arco anterior da cartilagem cricóidea é elevado e toda a
cartilagem cricóidea é discretamente inclinada e deslocada para trás. Como as cartilagens
aritenóideas estão “montadas” na lamina posterior da cartilagem cricóidea, também se
desloca para trás quando o CT se contrai. Esse movimento tendera a alongar as pregas
vocais, sobretudo se as cartilagens aritenóideas se mantiverem estabilizadas. Além de
alongadas pelo CT, as pregas vocais podem ser também retesadas pela contração do
musculo vocal, que forma o corpo das pregas vocais. O aumento da frequência de
fonação, associado ao aumento da atividade de ambos os músculos CT e está, ao menos
na fonação produzida em um mesmo registro vocal. O feixe externo do TA participa da
diminuição da frequência de fonação; paralelamente ao musculo vocal, tem sua origem na
face interna da cartilagem tireóidea, próximo de eu ângulo e inserção no processo
muscular da aritenóidea, sua contração causa um estreitamento, ou oclusão do tubo
laríngeo. A intensidade da fonação é controlada pela pressão subglótica. O aumento da
pressão subglótica expõe as pregas vocais a forças mais internas e é natural
modificações na intensidade de fonação envolvam outras atividades musculares da
laringe. O aumento de intensidade de fonação ocorre devido ao aumento da pressão
subglótica; os músculos da laringe compensam esses aumentos. Transições entre
registros podem resultar em quebras de voz; que são as modificações súbitas na
frequência de fonação e na qualidade da voz. Existe uma interdependência entre o
controle da frequência e da intensidade da fonação nos registros vocais. Estabelecer uma
interação mais produtiva entre os músculos, sem que certos músculos sejam
desnecessariamente contraídos. Esse é o único meio pelo qual o cantor pode fazer uso
de uma grande variabilidade fonatória em uma ampla área de fonação, quaisquer que
sejam a frequência e a intensidade utilizadas; um cantor necessita de uma grande gama
de recursos vocais para expressar diferentes nuances musicais e emocionais. A
quantidade de ar presente nos pulmões afeta o funcionamento da musculatura laríngea,
como durante a modificação da frequência de fonação.
Controlar a pressão subglótica com grande maestria e que modificações na
atividade muscular laríngea, que determinam as propriedades da fonte glótica, estão
também associadas a modificações na pressão subglótica. A atividade muscular da
laringe e do sistema respiratório é coordenada durante a fonação. As pregas vocais estão
aduzidas e em vibração durante a fonação e abduzidas, ou afastadas, durante a
respiração silente. A princípio aduzimos as pregas vocais e depois elevamos a pressão
subglótica. Quando a pressão subglótica atinge um nível adequado para a produção da
voz e a fonação se inicia, os músculos adutores e abdutores passam a atuar continua e
dinamicamente, de acordo com as modificações da frequência e da intensidade da
fonação. Se isso não ocorrer, a fonação é interrompida ou modifica de modo inapropriado.
Dois sistemas neurais coordenam a atividade muscular laríngea e respiratória, antes e
durante a fonação: um sistema de controle voluntário e um sistema de controle
automático. O sistema de controle voluntario é utilizado antes do início da fonação; é
responsável pela desativação dos músculos abdutores e pela ativação dos músculos
adutores, também pela elevação da pressão subglótica antes do início da fonação. Essa
atividade pre-fonatória voluntaria inclui o ajuste do comprimento, tensão, massa e posição
das pregas vocais, correspondentes à frequência e intensidade do som intencionado.
Desenvolvemos a habilidade de ajustar os músculos da laringe e músculos respiratórios
de modo a emitir diretamente os sons que desejamos. Já o sistema de controle
automático, responsável pelas respostas reflexas na laringe, é utilizado durante a
produção fonatória. Os tecidos recobrem a laringe contem receptores sensoriais
chamados mecanorreceptores, que detectam tensão muscular, pressão e posições
relativas das cartilagens laríngeas. Esses receptores geram respostas reflexas que
controlam as modificações constantes da atividade muscular laríngea durante o canto.
São três tipos de receptores sensoriais que geram respostas reflexas na laringe:
de tensão (encontram-se presentes nos músculos da laringe e são continuamente
estimulados pelas variações da tensão das pregas vocais durante a fonação. As
respostas reflexas geradas por eles controlam continuamente a ação dos músculos
adutores e abdutores, o que possibilita o ajuste e o tencionamento constantes das pregas
vocais, expostas a diferentes pressões subglóticas); de pressão (encontram-se presentes
na mucosa subglótica e são sensíveis às variações a pressão subglótica. A importância
dos receptores situados na mucosa subglótica para a atividade da musculatura laríngea
durante a fonação. A princípio, o cérebro envia ordens de contração aos músculos da
laringe adutores e músculos respiratórios. O cérebro, aguarda a resposta dos receptores
da mucosa subglótica, o que confirma a execução das referidas ordens e o
estabelecimento de uma pressão adequada. As atividades respiratórias e fonatória se
apresentam intimamente relacionadas. O sistema respiratório contém uma variedade de
outros receptores, como os da musculatura respiratória, que podem ser ativados nos
casos em que os receptores na mucosa subglótica venham a falhar); e de posição
(sinalizam as posições relativas das cartilagens cricóidea, tireóidea e aritenóidea. Na fase
que antecede a fonação, os músculos respiratórios e laríngeos são contraídos
voluntariamente e na medida exata para produzir o som desejado). A fonação se inicia e o
sistema de controle automático é ativado; os receptores desse sistema (de tensão nos
músculos da laringe, de pressão na mucosa subglótica e de posição nas articulações
laríngeas) passam a enviar continuamente informações sobre as condições fonatória ao
cérebro. Com base, nessas informações, o cérebro determina quando e quanto cada um
dos músculos fonatório deverá ser contraído e envia os comandos correspondentes.
O ajuste pré-fonatório, voluntário é determinado pelos músculos da laringe,
respiratórios e articulatórios, músculos da orelha media (reduzem a sensibilidade auditiva
quando a fonação é iniciada). O pré-ajuste fonatório se inicia assim que inspiramos, antes
de início da fonação; a precisão desse ajuste pode ser exercitada, e não regride. As
respostas reflexas que acontecem durante a fonação dependem das informações
fornecidas por um conjunto de receptores: de tensão nos músculos da laringe, de pressão
na mucosa subglótica e de posição nas articulações laríngeas é chamado de memória
muscular (sistema de comando automático da laringe para obter o controle preciso da
frequência de fonação).
O espectro acústico está intimamente relacionado à qualidade de um som; o
espectro da fonte glótica, em particular, é de importância fundamental para a
determinação da qualidade da voz; informa muito pouco como as pregas vocais vibram.
Maneiras diferentes de modos de vibração das pregas vocais determinam diferentes
formas de onda mucosa. O som corresponde a micro variações de pressão no ar (pressão
sonora). O espectro acústico de um som e sua forma de onda correspondente são
relacionados, representam a mesma informação, mas de maneiras diferentes; a fonte
sonora representa o modo como a pressão sonora varia ao longo do tempo, ao passo que
o espectro acústico mostra a frequência e a intensidade dos diferentes parciais em um
determinado instante. Um mesmo espectro pode corresponder a diferentes formas de
onda. As propriedades sonoras da fonte glótica podem ser descritas pela indicação das
frequências e amplitudes de seus parciais em um espectro acústico. A fonte glótica é
gerada quando as pregas vocais recortam e modulam o fluxo de ar pulmonar em um fluxo
de ar pulsante, sendo constituída por uma série de parciais harmônicos com frequências
que formam uma serie harmônica. A capacidade de transmissão do som através do trato
vocal depende das frequências contidas nesse som. Essa capacidade encontra seus
valores máximos nas frequências dos formantes, sendo também bastante influenciada
pela distância entre eles. A capacidade de transmissão do som pelo trato vocal é
representada por uma curva (função de transferência). Uma vez contidas as frequências
dos formantes, podemos em grande medida prever a função de transferência. A filtragem
inversa, consiste na compensação da função de transferência do trato vocal de
determinada vogal por meio de uma série de filtros acoplados. Para isso, a função de
transferência do filtro deverá constituir a função de transferência inversa do formante. Se
considerarmos os formantes como ressonâncias do trato vocal, teremos os filtros inversos
como circuitos antiressonantais. As influencias das outras ressonâncias do trato vocal
também podem ser eliminadas, embora já seja possível obter uma boa estimativa do sinal
original da fonte glótica apenas pela filtragem dos dois primeiros formantes. As
características de espectros glóticos encontrados em diferentes tipos de vozes, diferenças
entre as qualidades vocais se deve as diferenças na fonte glótica. As principais diferenças
entre espectros glóticos de diferentes tipos de vozes se referem à intensidade da
fundamental, que é menos intensa na voz masculina do que na feminina, mens intensa no
registro modal do que no falsete. O espectro da fonte glótica difere de acordo com os
diferentes tipos de vozes. As características da fonte glótica variam em uma mesma voz,
de acordo com a frequência e a intensidade de fonação. Quando a intensidade de
fonação aumenta, a intensidade dos parciais agudos do espectro glótico aumenta mais do
que os parciais graves. As características da fonte glótica variam em função da frequência
de fonação. A medida que a frequência de fonação aumenta, os parciais mais graves
diminuem. Notas agudas envolvem maior pressão subglótica e tendem a ser produzidas
em maior intensidade; com o aumento de intensidade os parciais mais graves perdem a
predominância.
A equalização sonora (similaridade na fonte glótica independentemente da
intensidade e da frequência de fonação) se faz necessária; uma fonte glótica bem
controlada, independentemente da frequência ou intensidade da fonação. A forma de
onda sonora mostra variações de fluxo de ar ou da pressão de ar, de acordo com a
grandeza representada e reflete o modo como o ar atravessa a glote; contém informações
primarias a respeito da voz, demonstra aspectos da vibração das pregas vocais e da fonte
glótica. Entre os extremos de fonação tensa e fonação sussurrada existe uma quantidade
infinita de modos de fonação. Existe uma relação entre a intensidade da fundamental na
fonte glótica e seu respectivo modo fonatório. A amplitude do pulso não depende de não
apenas da força de adução, mas da pressão subglótica e aérea glótica. O som irradiado
pela boca não depende apenas da fonte glótica, mas também da função de transferência
(da localização dos formantes e da distância entre estes e cada um dos parciais). Buscar
modifica minimamente as propriedades da fonte glótica mesmo em diferentes
intensidades de fonação, compensando determinados efeitos de pressão subglótica por
meio de modificações na força de adução. O espectro glótico determina a qualidade
vocal. Um formante é uma ressonância no trato vocal que se manifesta por meio de
reflexões sonoras; as variações da pressão sonora produzidas na laringe poderão sofrer
reflexão na região dos lábios, ou em outras regiões do trato vocal e retornar a glote. Para
que as pregas vocais iniciem vibração, é necessário que exista uma diferença entre a
pressões ao longo da glote, a pressão abaixo da glote deve ser consideravelmente maior
do que a acima dela. As ondas sonoras refletidas poderão afetar de maneira inesperada
essa relação entre as pressões e interferir na vibração das pregas vocais. Além das
características acústicas do trato vocal que podem afetar a fonte glótica, as ressonâncias
fonatória no sistema subglótica (tubo traqueal) também. A fonação e a articulação não
funcionam de maneira isolada; as modificações na fonte glótica são acompanhadas por
modificações nos ajustes articulatórios. Diversos músculos laríngeos atuam no ajuste do
grau de adução das pregas vocais. Os efeitos da tração da traqueia e da posição vertical
da laringe, podem ser compensados por esses músculos.
Articulação é o termo que designa o conjunto de ajustes do trato vocal que moldam
a fonte glótica. É realizada por estruturas chamadas articuladores (lábios, língua,
mandíbula, véu palatino, faringe e laringe). Um dado conjunto de ajustes resultara em
uma determinada função aérea que correspondera a uma configuração específica do trato
vocal. A função aérea determina a capacidade do trato vocal de transmitir sons de
diferentes frequências, a qual pode ser expressa por meio da função de transferência. As
frequências transmitidas com maior eficiência pelo trato vocal são as frequências de
formantes. Os parciais da fonte glótica que estiverem mais próximos aos formantes serão
irradiados pelos lábios com intensidade maior do que os dos demais. Uma determinada
combinação de frequências de formantes correspondera a uma única função de
transferência. A função de frequência aliada a outros fatores contribui para a
determinação do contorno do espectro sonoro. Quando os formantes se aproximam uns
dos outros eles se ajudam mutuamente. A movimentação de determinado articulador
ocorre de maneira simultânea à de outro articulador. Planejamos nossos movimentos
articulatórios com base no som resultante. As movimentações dos articuladores
obedecem a padrões específicos. Ajustar o trato vocal de modo a combinar diferentes
frequências de formantes para a articulação de um mesmo som.
A dimensão de timbre (qualidade vocal) depende essencialmente das
características espectrais (amplitude de seus parciais e da distância entre eles). Essa
elevação espectral é chamada de formante do cantor (ressonância, voz de cabeça, ring
voice). A frequência media do formante do cantor, varia de acordo com a classificação
vocal. O formante do cantor é um agrupamento de formantes vizinhos; e os 3,4e5
provocam ganho considerável na função de transferência para frequências especificas do
espectro sonoro. Quanto mais próximos, maior a amplitude dos parciais e maior a
amplitude do formante. A cobertura vocal está atrelada a expansão da faringe e o
abaixamento da laringe. O formante do cantor funciona como uma espécie de uniforme
sonoro para emissões em diferentes frequências de fonação, a voz soando de forma mais
homogênea. Elevar a intensidade da fonação exige um aumento considerável da pressão
subglótica; e alguns músculos laringes firmemente contraídos; e adaptações articulatórias
possibilitam o aumento do nível sonoro com pequeno esforço muscular. O som da nossa
voz chega ao nossos ouvidos pela via óssea além da aérea. Quando produzimos a voz,
sentimos vibrações no nariz, crânio, garganta e peito. Uma fonação fluida corresponde a
um modo de fonação produzida com tensão mínima e sem escape de ar.
As pregas vocais são constituídas por tecidos musculares e dependem de uma
circulação sanguínea para assegurar suas propriedades mecânicas e funções; e é
beneficiada pelo aquecimento vocal. Massagear as pregas vocais resulta na lubrificação,
resultando em uma fonação com pouco esforço e baixo consumo de ar.
Alterações caracterizadas pela presença de lesões nos tecidos da laringe (edema
de reinke, nódulos, úlceras de contato, granulomas, leucoplácias, pólipos) são chamadas
de disfonias orgânicas. As alterações caracterizadas pelas ausências de lesões visíveis
na laringe, mas decorrentes do uso inapropriado ou abusivo da voz são chamadas de
disfuonias funcionais (fadiga vocal, calos, fendas).

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