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RESENHA

Por
Kátia Gally Calabrez

CHAGAS, Marly e PEDRO Rosa; Musicoterapia: desafios entre a modernidade e a


contemporaneidade – como sofrem os híbridos e como se divertem. Rio de Janeiro:
Mausad X: Bapera, 2008. ISBN 978-85-7478-254-6.

As autoras Marly e Rosa, ambas são psicólogas, porém Marly também é musicista
e exerce Musicoterapia.
Este trabalho foi fruto da dissertação de Mestrado realizada no Programa de Pós-
graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social – EICOS/UFRJ, por
Marly Chagas, com a orientação de Rosa Pedro.
A escolha da Musicoterapia se deu pelo fato de ambas serem psicólogas e uma
delas musicoterapeuta, tendo percorrido, desde muito cedo, caminhos múltiplos e
defrontando-se com diversos aspectos da própria disciplinaridade e sentindo os desafios
trazidos por uma dupla inserção profissional.
As autoras propõem que tanto a ciência quanto a arte são constituintes /
constitutivas da civilização ocidental e, portanto, frutos e terrenos igualmente modernos; e
o investigar como se dá a construção destes conhecimentos, enfocar como tal construção
mescla ciência, arte e sociedade, compreender os desafios que enfrenta um saber e
compreender a musicoterapia enredada na atualidade, nos espaços híbridos de natureza
e sociedade.
A musicoterapia é fruto do encontro entre saberes ligados à Arte e à Ciência; surgiu
através de uma interação interdisciplinar e casual. A musicoterapia é definida como: a
utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia, harmonia), por um
musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, em processo destinado a facilitar e
promover comunicação, relacionamento, aprendizado, mobilização, expressão,
organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, a fim de atender às necessidades
físicas, mentais, sociais e cognitivas. A musicoterapia busca desenvolver potenciais e/ou
restaurar funções do indivíduo para que ele ou ela alcance uma melhor organização intra
e/ou interpessoal e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida, através de
prevenção, reabilitação e tratamento.
A musicoterapia obriga as disciplinas puras (música e psicanalise) a somarem seus
esforços, redefinindo o objeto, a criarem uma nova perspectiva musicoterapêutica. A
compreensão contemporânea da música amplia, consideravelmente, os universos
sonoros para a prática clínica da musicoterapia. Na Musicoterapia, os elementos musicais
são utilizados como agentes do tratamento terapêutico. O Ritmo (duração do som), faz
parte da consciência motriz e dinâmica; elemento primário da experiência humana, com
isso as intervenções rítmicas possibilitam modificações corporais. A Melodia é a sucessão
de sons de alturas diferentes, é a expressão do pensamento humano, desenrolando-se na
consciência afetiva; é o elemento afetivo, psicológico, envolvendo emoção e resultando
de construção. A Harmonia é a concentração de acodes segundo os princípios da
tonalidade, sua ação envolve cor e tensão.
A atuação da musicoterapia ajuda os clientes a encontrar significado e satisfação,
as práticas nessa área variam de acordo com a extensão e profundidade do tratamento, o
papel da música e a orientação teórica do terapeuta. Nas sessões, as experiências
musicais propriamente ditas (tocar, cantar, improvisação, recriação, composição, audição
musical) sofrem uma integração progressiva com os aspectos clínicos. As diferentes
experiências musicais tonam-se métodos do trabalho de musicoterapia.
Quando uma pessoa canta/toca no setting musicoterápico, não reproduz
simplesmente a canção, mas se apropria dela. A canção torna-se sua. Passível de
improvisação e recriação; tomando uma nova forma, sendo única. O musicoterapeuta
percebe novos sentidos e novas possibilidades de encaminhamentos musicais. Indicada
para os que necessitam desenvolver habilidades sensório-motoras, aprender
comportamentos adaptados, manter a orientação da realidade, dominar diferentes papeis
comportamentais, identificar-se com sentimentos e ideias de outros, trabalhar
cooperativamente em metas comuns.
A improvisação envolve uma realização musical que deixa margem a interferências
que não estão predeterminadas. É um método ativo, aonde o cliente faz música tocando,
cantando, criando uma melodia, ritmo, ou um som; facilitando ao cliente o contato com os
sentimentos difíceis de serem expressos verbalmente; podendo usar a voz, ou
instrumento musical que escolha, de acordo com sua capacidade; desenvolve a
espontaneidade, a criatividade, a liberdade de expressão, o senso de identidade, as
habilidades interpessoais e a de tomar decisões dentro de limites estabelecidos.
A Recriação implica alguma reprodução musical, ou seja, cantar ou tocar alguma
música; podendo usar a voz ou produzir sons num instrumento, imitar melodias ou ritmos,
aprender a cantar, aprender a usar a notação musical, participar de um canto em
conjunto, ensaiar, ter lições de música, apresentar um som ou uma peça instrumental de
memória, exercitar a interpretação musical ou a composição, executar uma apresentação
musical ou dramática.
Composição; escrever músicas, letras ou peças musicais. Criação de qualquer tipo
de produção musical, tal como vídeo ou programa de auditório, pertencente a esta
modalidade clínica. É recomendada principalmente para os que precisam tomar decisão,
se comprometer, identificar e desenvolver temas, organizar sentimentos e pensamentos
internos, ou ter evidencia tangível de realização pessoal.
A Audição; escutar música ou contar uma música para realizar procedimentos de
relaxamento ou a ação psicomotora; podendo enfocar aspéctos físicos, emocionais,
intelectuais, estéticos ou espirituais da música. Os clientes podem acessar ideias e
pensamentos, bem como expressar sentimentos com as audições musicais, estimula
imagens, fantasias, associações e memórias que contribuem imensamente para o
processo.
O Canto tem uma função clarificadora no mundo psíquico: na voz do outro, o cantor
sob a proteção de uma composição, o cliente consegue expor suas feridas. O canto tem
uma função integradora, através da canção o cliente encontra uma nova organização para
sentidos percebidos na sessão.
A música indica os rumos que a sociedade vai trabalhando. Ciência é uma
construção musical em constante movimento. Com diferentes harmonias, ritmos e
dinâmicas, vários sujeitos são autores de suas próprias linhas melódicas que, junto a
outras tantas linhas melódicas, compõem uma grande Sinfonia, permanentemente
inacabada.

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