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RESENHA

Por
Kátia Gally Calabrez

PECKHAM, Ana; Berklee Canto Popular – Elementos da Técnica Vocal. São Paulo:
Editora Passarim, 2017 (1ª. Edição). ISBN 978-85-68530-03-0.
A autora PECKAM, é cantora, professora de canto e autora de livros. Titular no
Departamento de Voz da Berklee College of Music, seu trabalho como professora e suas
publicações influenciaram a pedagogia do canto popular por todo o mundo. Na Berklee
desenvolve o material para a disciplina Elementos da Técnica Vocal. Realiza Workshops
sobre Teatro Musical. Membro da Associação Norte-Americana de Professores de Canto.
Berklee Canto Popular discute elementos do canto, atendendo às necessidades
específicas dos cantores de música popular. Ele é direcionado a cantores de todos os
níveis que querem melhorar seu vigor, expandir sua extensão, desenvolver uma
sonoridade de maior qualidade e melhorar sua saúde vocal global. É ferramenta ideal
para a construção de um curso de canto para estudantes de quase qualquer faixa etária,
desde o ensino médio até a faculdade e a profissionalização.
Aprender cantar é um processo intelectual e físico.
A voz é um instrumento capaz de uma vasta gama de expressão; usa a energia da
respiração de seus pulmões (gerador) que faz com que suas pregas vocais (oscilador) se
movam. O som produzido pelas pregas vocais é colorido e amplificado pela ressonância
da garganta, boca e cavidade nasal (ressoadores). Os articuladores (boca, dentes, língua,
lábios, bochechas e palato) dão a capacidade única de combinar palavras com música.
A Respiração (gerador). O controle respiratório é uma das técnicas mais
importantes que se aprende no estudo da voz. Afeta na afinação, qualidade sonora, poder
de sustentação, extensão, dinâmica, expressão, flexibilidade, fraseado e interpretação
estilística. É por isso que um bom gerenciamento da respiração costuma ser o primeiro
objetivo no início do estudo da técnica vocal.
A Produção do Som (oscilador). A laringe é composta por cartilagem, ligamentos,
músculos, nervos, e camadas de mucosas. As pregas vocais estão situadas na laringe e
abrangem as cartilagens aritenóideas, o músculo vocalis (tireoaritenóideo), ligamentos e
membranas. A fonação é ativada pelo cérebro com o pensamento de cantar, acionando
os nervos que controlam os músculos que fecham as cartilagens aritenóideas,
aproximando as pregas vocais. Esse fechamento oferece uma resistência à passagem do
ar, e uma vibração é produzida, resultando na nota que cantamos.
Ressonância (amplificação do som vocal). A garganta, a boca e a cavidade nasal
formam o trato vocal. Ao entrar no trato vocal, o som produzido pela vibração das pregas
vocais (a nota fundamental e seus harmônicos) é ressoado, ganhando em amplificação e
em colorido.
Os articuladores (língua, mandíbula, bochechas, dentes, lábios e palato) se
coordenam para produzir os sons. A habilidade de concatenar palavras e música fazem
da voz um instrumento musical único.
Ao inspirar, não estufar os pulmões, pois gera tensão na garganta e mandíbula
antes mesmo de produzir o som. Fazer uma inspiração completa, expandindo a linha da
cintura e a área inferior do abdome, tomando cuidado para não tencionar subindo os
ombros.
O diafragma: é um músculo chato, curvado e em formato de cúpula, que separa a
cavidade abdominal da peitoral. Ele se conecta às costelas inferiores e constitui o
assoalho da caixa torácica. Não é possível controlar conscientemente a movimentação do
diafragma durante o canto, por isso aprendemos a manipula-lo por meio da
movimentação ativa da musculatura abdominal e dos músculos intercostais.
Costelas e pulmões. A caixa torácica é feita de ossos e cartilagem. Durante a
respiração, os músculos intercostais abrem e fecham a caixa torácica, enchendo e
esvaziando os pulmões. Os intercostais externos expandem a caixa torácica durante uma
inspiração profunda, enquanto os intercostais internos promovem a saída do ar durante
uma expiração forçada. Para obter um fluxo constante de ar para as pregas vocais, deve
expandir as costelas e contrair ligeiramente os músculos abdominais. Os músculos
abdominais são poderosos e cobrem toda a região abdominal; são distribuídos
verticalmente e diagonalmente ao longo da barriga. Os músculos abdominais inferiores
relaxam durante a inspiração, trazendo a parede abdominal para fora, e se, contraem
durante a expiração, movendo a parede levemente para dentro. Durante o canto, a caixa
torácica deve ficar aberta enquanto os músculos abdominais se contraem, movendo a
parede abdominal ligeiramente para dentro. Essa dinâmica de movimentação entre tórax
abdômen é chamada de Apoio; que possibilita o diafragma voltar a posição de repouso
mais lentamente, permitindo sustentar frases mais longas e ter melhor controle sobre a
afinação. Deixar a costela cair no início da expiração, o ar escapará rapidamente. Deixar
as costelas e peito arqueados vai causar tensão nos músculos do pescoço e da garganta,
impedindo a laringe de funcionar livremente, fazendo a voz soar apertada e o canto
comprimido.
Respiração Costo-abdominal é a respiração mais eficiente para o canto; é a
combinação da respiração costal com o relaxamento dos músculos abdominais inferiores
durante a inspiração. A musculatura abdominal relaxada permite que inspiremos
profundamente, além de minimizar a tensão no pescoço e na garganta durante a
expiração. Os músculos abdominais inferiores se contraem ligeiramente enquanto
expiramos, trabalhando contra o diafragma, que é controlado pelo ato de manter as
costelas abertas. Quando os músculos intercostais, diafragma e músculos abdominais
controlam o trabalho de apoio respiratório, a laringe funciona sem a interferência dos
músculos constritores vizinhos.
A Laringe. Quando respiramos, as pregas vocais se abrem e permitem a passagem
do ar sem resistência. Durante o canto, as pregas vocais fechadas resistem à passagem
do ar que está sendo expelido, o que as faz vibrar. Isso inicia o processo de produção do
som vocal, ou fonação. As pregas vocais estão localizadas na laringe (órgão fonador),
que é composta de músculos intrínsecos (internos) e extrínsecos (externos), cartilagem e
osso. A laringe está no alto da traqueia, um tubo cartilaginoso, pelo qual o ar entra e sai
dos pulmões. A laringe é suspensa no pescoço por uma série de músculos comumente
chamados de músculos de sustentação laríngea, ou musculatura extrínseca da laringe.
Esses músculos são capazes de influenciar o som ao elevar ou abaixar a laringe. A
estrutura externa da laringe compreende três principais partes principais: o osso hioideo,
a cartilagem tireóidea, e a cartilagem cricóidea. O osso hioideo, localizado no alto da
laringe, é o único osso verdadeiro. A protuberância na frente da garganta (pomo de adão)
é a parte frontal da cartilagem tireóidea. A cartilagem cricóidea conecta a laringe à
traqueia, na parte inferior. Acima da laringe fica uma cartilagem em forma de folha
chamada epiglote, que impede que comida e líquido entrem na traqueia em direção aos
pulmões, tampando a laringe quando engolimos.
Quanto a emissão, a melhor maneira de começar o canto é com um ataque
coordenado (isocrômico). Um golpe de glote é um início explosivo do som produzido
quando a pressão de ar é acumulada abaixo de pegas vocais fechadas e subitamente
liberadas, causando um som semelhante a um pequeno estampido. Inicia o som com uma
explosão de pressão subglótica, soando quase como um estalo. É cansativo para as
pregas vocais e por ser cansativo cria descontinuidade entre os sons de uma frase
musical. O ataque soproso, é quando o ar escapa antes da vibração das pregas vocais.
Inicios aspirados ou soprosos são caracterizados por um escape de ar, pode afetar
negativamente a inteligibilidade da voz. O ataque vocal coordenado (isocrônico), inicia a
emissão de uma maneira equilibrada, e a fonação se inicia exatamente junto com a
passagem do fluxo de ar pela laringe, conferindo um início limpo, sem aspereza ou
soprosidade. O ar passa pelas pregas vocais no exato momento em que elas iniciam a
vibração; favorecendo a pronuncia para que as palavras iniciadas em vogal soem claras e
fáceis de entender, além de não ser cansativo para as pregas vocais.
O timbre se refere à qualidade vocal. O oscilador (pregas vocais) produz a nota
fundamental e os harmônicos. O timbre vocal pode ser descrito com termos visuais ou
táteis, como claro, escuro, quente, limpo ou brilhante. Chiaroscuro é um termo italiano que
define o timbre com ambas as características de claro e escuro; por ter corpo e brilho,
esse tipo de emissão é tido como bem equilibrado. A caixa de ressonância da voz
humana contém uma série complexa de espaços cheios de ar na cabeça e pescoço
chamada de trato vocal (tubo definido pelos espaços livres desde as pregas vocais até os
lábios e nariz). O tamanho, forma, abertura e textura de cada cavidade individual afetam a
qualidade do som (timbre). Uma boa ressonância dá sensações proprioceptivas positivas
e ajudará a projetar melhor a voz, proporcionando mais influência no canto.
Os ressonadores. O som da voz é o resultado de muitos fatores, incluindo
influencias familiares, sociais e regionais, além do tamanho e da forma da laringe e do
trato vocal. Cada voz é única!
A faringe e a boca: a faringe em geral chamada de “garganta” consiste na parte de
trás da cavidade nasal (nasofaringe), boca (orofaringe) e a laringe (laringofaringe). A
nasofaringe é a passagem do fundo da cavidade nasal até a garganta. A orofaringe é o
fundo de sua garganta, que enxergamos ao abrir a boca; e a laringofaringe é a entrada do
esôfago. A faringe a boca são flexíveis e juntas formam a sua maior cavidade de
ressonância. Podemos alterar a qualidade do som mudando o tamanho e a forma da
cavidade oral usando a mandíbula, bochechas, lábios e língua. A faringe também afeta o
som porque é muscular e flexível. O peito não é um ressonador eficiente porque contém
muitos órgãos; e a composição dos seus tecidos faz absorver o som. Acredita-se que as
vibrações que se sente ao cantar em uma tessitura ou volume grave são vibrações
proprioceptivas na realidade se originam na laringofaringe. A laringe. Logo acima das
pregas vocais existe duas pequenas pregas chamadas de falsas pregas vocais ou pregas
vestibulares. Entre as pregas verdadeiras e as falsas há um espaço chamado de
ventrículo que é tido como ressonador pequeno, mas importante. A cavidade nasal produz
uma sensação de vibração distinta quando a voz produzida livremente. Acredita-se que as
vibrações sentidas na cavidade nasal são na realidade sensações proprioceptivas
originadas na nasofaringe. É útil poder cantar com várias cores. Aprender a otimizar sua
ressonância permitirá descobrir o brilho do som. Uma voz ressonante ressoa afinada. A
habilidade de acertar das notas é afetada pela ressonância. Uma nota que não ressoa é
pobre em harmônicos agudos, fazendo com que a afinação soe baixa.

Registros vocais e suas mixagens. Um registro vocal é uma série de notas que
possuem qualidade sonora similar e são produzidas com as mesmas ações musculares
do mecanismo vocal. Mixar ou misturar registros é um método de treinar a voz para
coordenar as transições de registro ao longo da extensão de maneira suave, sem
mudanças óbvias na sonoridade; e pode ser alcançada ao se trabalhar com uma
combinação de apoio respiratório e exercícios de extensão que empregam a articulação
legato entre as notas. Nos Registros vocais duas ações musculares principais são
responsáveis pela atividade das pregas vocais; que são a contração dos músculos
tireoaritenóideos e a dos músculos cricotireóideos. Os músculos tireoaritenóideos (TA)
são responsáveis por encurtar e espessar as pregas vocais e o resultado sonoro é
conhecido como voz de peito. Os músculos cricotireoideos (CT) são responsáveis por
alongar e afilar as pregas vocais e o resultado sonoro é conhecido como voz de cabeça
para mulher e falsete para o homem. As pregas vocais estão continuamente mudando de
configuração por conta da altura, intensidade e ressonância. A transição entre os registros
é por vezes chamada de passagem. Os cantores também se referem a essas áreas como
“quebras” da voz. Para evitar as quebras, o ideal é obter a mistura com o
desenvolvimento da coordenação muscular, e com o ajuste da forma das vogais para que
a voz continue clara e projetada.
Voz mista, voz média ou mix são termos tradicionalmente usados para denotar um
uso coordenado tanto dos músculos tireoaritenoideos quanto dos músculos
cricotireóideos. Mesmo que ambos os músculos estejam ativos, a voz mista tem sempre a
dominância do TA.
Yodeling é o exagero nas mudanças de registro para criar quebras abruptas de
registro, consiste numa rápida e evidente mudança entre uma voz com predominância de
TA (peito) para uma com predominância CT (cabeça ou falsete).
Belting é um estilo de canto com predominância do TA e que soa forte, encorpada
e dinâmica, porém o CT precisam permanecer ativos para prevenir o espaçamento
excessivo das pregas vocais, o que produziria uma configuração pesada demais, capaz
de provocar tensão.
Músculos específicos são os principais responsáveis por determinadas
sonoridades: dominância de TA: peito, belt e mix. Dominância de CT: cabeça. Registro
de flauta e falsete.
Diretrizes para o belting: para ser habilidoso parece tranquilo na garganta como se
tivesse muito pouco ar escapando, fácil de mudar para outras notas, ressoando na
máscara. Soa encorpado, mas não tenso ou gritado, claro e projetado, como se o som
fosse fácil de produzir. Parece relaxado na boa, mandíbula e garganta; conectado com a
emoção da canção e cheio de energia.
Todos os elementos básicos de produção sonora estão interligados; e entender o
processo do canto tem como objetivo dominar esses mecanismos para cantar com
liberdade e qualidade.

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