Você está na página 1de 5

INTRODUÇÃO À FONÉTICA

No sistema de comunicação verbal entre duas pessoas, o processo parece simples,


transparente, visto que o emissor produz, pela boca, conjuntos de sons (constituindo os signos
linguísticos) e o receptor capta esses códigos pelo ouvido e depois “processa” para perceber os
significados da fala aí expressos. “O estudo desses sons utilizados por todas as línguas humanas
para representar conceitos designa-se Fonética” (Fromkin & Rodman, 1974: 37).
Deste modo, a Fonética é entendida como sendo o estudo dos sons da fala como
fenómenos físicos: sua produção (incluindo a simbolização e a transcrição), sua percepção, sua
transmissão e suas propriedades físicas, sem se interessar pela sua função e pelo significado que
eles podem determinar na palavra. Esta área é considerada como a mais independente da
Linguística por se limitar à produção, percepção, transmissão dos sons, mas sem conceder a
importância aos significados.
O estudo do som como um fenómeno físico subdivide-se em 3 partes, a saber: Fonética
Articulatória, Fonética Acústica e Fonética Auditiva. Weiss (1988), Ngunga (2002), Martins
(1988) e Fromkin & Rodman (1974) referem que, enquanto a Fonética Articulatória estuda a
produção dos sons da fala, assim como os órgãos envolvidos na sua produção (anatomia do
aparelho fonador); a Fonética Acústica vai estudar os mecanismos de transmissão dos sons da
fala, bem como as características físicas dos mesmos; contudo, a Fonética Auditiva estuda a
percepção dos sons da fala, a identificação das suas modificações e dos seus traços fonéticos, tais
como diferença na entoação, duração, acentuação.
Para melhor descreverem os sons da fala, objecto de estudo da Fonética, os linguistas
preocuparam-se em desenhar um diagrama ou aparelho fonador, como veremos a seguir.

O aparelho fonador e suas funções


Ngunga (op. cit.) refere que o aparelho fonador é constituído por um conjunto de órgãos
dos aparelhos digestivo e respiratório. Os órgãos desses aparelhos que são usados na produção
dos sons da fala são: diafragma, pulmões, laringe, cordas vocais, epiglote, faringe, palato, úvula,
abertura rinofaringal, cavidade nasal, língua, arcada alveolar, dentes, lábios e maxilar inferior.
Apresentamos, em seguida, a anatomia do aparelho fonador, extraída de Ngunga
(ibidem), com os órgãos do aparelho fonador marcados:

1
Figura 1: A localização dos órgãos do aparelho fonador

cavidade nasal
palato mole
arcada alveolar palato duro
úvula
lábios cavidade oral faringe

dentes

laringe
língua

cordas vocais

Como se afirmou anteriormente, entre os vários órgãos do aparelho fonador, alguns têm
como função primária servirem ao aparelho digestivo e outros servirem ao aparelho respiratório.
Todavia, têm como função secundária a produção de sons. Todos os sons de que as línguas do
mundo precisam podem ser produzidos com este aparelho fonador, aliás esta é a configuração de
qualquer ser humano normal.
Os órgãos deste aparelho, uns podem-se aproximar a outros e tocarem – neste caso,
produzir-se-ão os sons oclusivos; outros podem aproximar-se e não se tocarem, podendo-se
produzir os sons fricativos. Contudo, eles podem não se aproximar, deixando que o ar saia
livremente, neste caso produzindo-se as vogais. Tendo-se apresentado o aparelho fonador,
vejamos, em seguida, alguns pontos articulatórios.

I - Introdução à Fonética Articulatória


Como definimos anteriormente, a Fonética Articulatória estuda a produção dos sons da
fala, bem como os órgãos que participam na sua produção. A produção dos sons envolve muitos
órgãos fonadores e o mais importante nisso é o fluxo de ar, visto que “as línguas normais
envolvem sons produzidos pelo tracto respiratório superior. Para compreendermos a natureza da

2
linguagem, teremos, antes, de compreender, não só a natureza desses sons, mas também a forma
como esses sons são produzidos. A Fonética Articulatória impõe-se a apresentar um modelo de
descrição” (Fromkin & Rodman, 1974:39). A figura 2, também extraída de Ngunga (2002),
mostra como os sons são articulados:

Figura 2: Pontos de articulação

alveo-palatal
reftroflexo
labiodental
dental
bilabial velar
interdental
uvular
alveolar faringal

glotal glotal
palatal

Os traços fonéticos articulatórios


Diz-se traços fonéticos às características que os sons apresentam. Os sons são
classificados em termos binários, usando os traços (+) ou (-) dessa característica. Na secção que
se segue veremos como essa classificação é feita.

Sons vozeados e não vozeados


O traço voz é uma das características da oposição entre os sons. Por exemplo, na
produção das consoantes obedecem-se os seguintes passos: (i) concentração e colocação em
movimento do ar; (ii) aumento da pressão de ar atrás da obstrução e tensão muscular maior; (iii)
abertura da obstrução e saída do ar com algum tipo de plosão. A obediência destas fases, sem a
especificação do ponto de articulação, modo de articulação, fonte de ar, pode-nos levar a
produção de qualquer consoante no aparelho fonador [p, b, m, t, s, l, d, r, k, g]. Para distinguir os
sons em termos de vozeamento deve-se descrever o estado da glote. Na produção dos sons
vozeados ou não-vozeados “a glote fecha-se totalmente pela junção das cordas vocais e o ar sai
[criando a vibração das mesmas].” (Weiss, 1988:33). Quando as cordas vocais estiverem juntas,
no entanto vibram, aí o som produzido será vozeado e quando estiverem afastadas uma da outra,
elas não vibram e o som produzido é não-vozeado.
O traço vozeamento pode distinguir os sons do mesmo ponto de articulação como, por
exemplo, a distinção entre [p] e [b]. A diferença entre estes dois sons reside no vozeamento, pois
enquanto o primeiro é [-voz], o segundo é [+voz]. Fazendo uma descrição de [p], teríamos:
oclusiva bilabial não-vozeada com ar pulmonar expirado, enquanto [b] oclusiva bilabial vozeada
com ar pulmonar expirado. Como se vê, os dois sons se diferem pelo vozeamento, isto é, têm o
mesmo modo de articulação, ponto de articulação e o mesmo estado da úvula, mas vão diferir-se
apenas no papel ou posição das cordas vocais.

Referência bibliográfica

Fromkin, V. & Rodman, R. 1974. Introdução à Linguagem. California: Holt, Rinehart.

Johnson, Keith. 1997. Acoustic & Auditory Phonetics. Blackwell Publishers.


Kenneth, N. Stevens. 2000. Acoustics Phonetics. London.
Ladefoged, P. 1993. A Course in Phonetics. 3rd Edition. Harcourt Brace Jovanovitch
College Publishers, Inc.
Martins, M. 1988. Ouvir Falar: Introdução à Fonética do Português. Lisboa: Caminho.
Ngunga, A. 2002. Elementos da Gramática da Língua Yao. Maputo: UEM.
Weiss, H. 1988. Fonética Articulatória: Guia de Exercícios. São Paulo: Almedina.

Você também pode gostar