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Comunicação

A comunicação é inerente e essencial ao ser humano; através desse processo vai construindo e
organizando a sua identidade através das relações/ trocas comunicativas que estabelece com o outro.
Qualquer que seja a linguagem ou o processo de comunicação utilizados pelo homem (variam de
época para época e nas diferentes culturas), estes são a expressão das suas competências e dão resposta às
suas necessidades (físicas, socioemocionais, cognitivas…). O processo de comunicação desenrola-se sempre
em contextos relacionais e culturais específicos.
Seja qual for o modo como nos dirigimos ao outro, veiculamos sempre, através do que dizemos e do
modo como dizemos, uma mensagem.
Quando nos deslocamos pela rua, evitamos, regra geral, dar encontrões às pessoas, mas utilizamos um sistema
de comunicação radar que nos permite desviar das pessoas o suficiente para não colidirmos com elas.
A nossa comunicação pode ser silenciosa e de tal modo automática que podemos não estar conscientes de que
estamos a comunicar.
Por isso, NÃO PODEMOS NÃO COMUNICAR porque ESTAMOS SEMPRE A COMUNICAR mesmo
que disso não tenhamos consciência.

Elementos da comunicação
Para que se estabeleça a comunicação é necessário a existência dos seguintes elementos
- O EMISSOR-o que emite ou transmite a mensagem, é o ponto de partida de qualquer mensagem.
Há que fazer uma pequena distinção entre emissor e fonte da comunicação. A fonte é a origem da
comunicação, o que possui as ideias, intenções e necessidade de se comunicar. Porém, pode não ser a fonte a
omitir a mensagem.

O locutor da televisão que lê as notícias é o emissor das mensagens, mas isso não significa que seja ele a
fonte, que tenha sido ele a escrevê-las.
O emissor deve ser capaz de perceber quando e como pode entrar em comunicação com o outro; deve ser
capaz de transmitir uma mensagem que seja inteligível para o recetor.

Técnicas e estratégias que o emissor deve ter para reforçar a qualidade da comunicação:
1. Perceber se o momento é adequado para que o recetor receba a mensagem
2. Eliminar qualquer ruído, do ambiente ou outro, que possa interferir na baixa de qualidade da
comunicação.
3. Utilizar palavras simples, tendo a garantia de que são compreensíveis para o recetor
4. Utilizar frases curtas.
5. Confirmar sempre a receção da mensagem à medida que a for transmitindo; para isso pode fazer
perguntas de controlo e confirmar através das respostas/feedback se a mensagem foi compreendida.
6. Evidenciar sempre uma atitude positiva e disponibilidade no processo de comunicação.
7. Dar a entender ao recetor que confia na sua capacidade de captar e compreender a informação

O RECETOR- é aquele a quem se dirige a mensagem. Deve estar sintonizado com o emissor para entender a
mensagem. Ele será tanto mais receptivo quanto maior for a sua abertura ao outro. Não só é importante que ele
compreenda a mensagem mas também que a capte, e a aceite.

A MENSAGEM- é o conteúdo da comunicação. E o conjunto de sinais com significado. A seleção e o arranjo


desses sinais segundo determinadas regras chama-se modificação.
O emissor codifica a mensagem e o recetor interpreta a mensagem, dá-lhe significado, decodificando-a.

O CANAL- é todo o suporte que serve de veículo a uma mensagem. O canal mais vulgar é o ar. Existem outros
canais, tais como: a carta, o livro, o telefone, a rádio, a televisão, a internet, entre outros.

O CONTEXTO- refere-se à especificidade da situação onde a comunicação ocorre. O ideal é que a


comunicação aconteça num contexto adequado sem ruídos. A outra valência do contexto diz respeito à
dimensão psicológica do emissor e do recetor. Os dois devem estar predispostos e abertos ao próprio processo
de comunicação. O contexto refere-se também às variáveis ambientais de onde decorre o processo de
comunicação.

O CÓDIGO- é o conjunto de signos e regras de combinação desses signos, utilizados na transmissão de uma
mensagem. A comunicação só será efetiva se o recetor souber descodificar a mensagem (exemplo: o idioma).
O FEEDBACK- é a reação a um estímulo, efeito retroativo ou informação que o emissor obtém do recetor à sua
mensagem e que serve para avaliar os resultados da transmissão da mensagem.

As funções da comunicação:
função de informação- as pessoas sentem a necessidade de obter conhecimentos e também de os
transmitir. É necessário difundir os conhecimentos para que seja possível formular opiniões e juízos acerca da
realidade que nos rodeia e que vai evoluindo.
função de persuasão e motivação- na relação interpessoal é vulgar querer-se que os outros ajam tal
como se quer que ajam ou pensem de determinada maneira. Esta função está, de certo modo, ligada ao
controlo social e à necessidade de ajustar as atitudes e comportamentos, entre os membros de determinado
grupo social.
função educativa- todo o ser, quando nasce, fica integrado numa sociedade, que está interessada em
veicular, ao novo ser, a sua herança social e cultural. Esta vai-lhe sendo comunicada e ele experimenta-a, ao
longo da sua existência, estando sujeita a controlo e vigilância, pelos transmissores.

função de socialização- esta função, bastante ligada à anterior, permite a integração dos sujeitos nos
grupos. Permite a troca e a difusão de informações, assim como dos dados da experiência. Através desta
função, o sujeito aprende a vivência das regras e das normas da sociedade, fazendo-as suas.
função de distração- esta função varia com as culturas e será tanto mais diversificada e utilizada
quanto mais elevada for a qualidade de vida dos grupos.

Barreiras à comunicação:
Com frequência, a comunicação processa-se deficientemente ou não se realiza.
Todos nós, já várias vezes, fomos confrontados com mal-entendidos tendo dado significados bastante
diferentes daqueles que nos pretendiam transmitir.
Ouvimos o que o outro não disse, ou os outros percebem o que não dissemos.
Como se explica esta deficiência na comunicação?
À medida que cada um de nós se foi desenvolvendo, elaborámos toda uma aprendizagem individual,
significativa, que fez de nós um ser diferente do outro.
Cada um de nós adquiriu uma peculiar forma de pensar, sentir e de reagir às mais diversas situações. Cada um
de nós desenvolveu sentimentos, atitudes e expectativas diferentes, relativamente às coisas e às pessoas. Cada
um de nós possui um sistema de crenças e de valores e uma visão do mundo, diferentes.

Algumas barreiras à comunicação


As barreiras à comunicação podem ser de dois tipos:
A: Barreiras Externas
B: Barreiras Internas.

As barreiras externas podem ser:


1. A distância entre o emissor e o recetor.
2. Separações, tais como balcões ou vidros.
3. Ruídos.
4. Temperatura e iluminação do espaço onde se comunica também pode constituir uma barreira à eficácia
da comunicação, sie prejudicar o bem-estar dos interlocutores
5. As novas tecnologias, nomeadamente o uso de equipamentos como telemóveis, tablets, computador,
etc, quando se interage com os outros.
As barreiras internas podem ser:
1. Falar uma linguagem que não é entendida pelo interlocutor
Para que a comunicação seja eficaz, é necessário que o código utilizado pelo emissor seja decodificado pelo
recetor. Só assim é possível captar o significado da mensagem e entrar em relação através da comunicação. A
não compreensão do código impede a comunicação.

2. Empregar palavras ambíguas


As palavras, enquanto signos, têm o significado exato que Ihe quisermos dar. A dinâmica da linguagem permite
atribuir a mesma palavra significados diferentes, em função da cultura ou do grupo social onde ela é
pronunciada ou, simplesmente, em função do contexto verbal (tom de voz etc.) em que é pronunciada
O significado de determinada mensagem nem sempre permanece muito claro porque, embebida de
ambiguidade, a linguagem não permite expressar ou compreender corretamente o que se diz ou pensa.

3. Problemas da nossa estrutura pessoal que nos façam ter medo de falar de determinado assunto ou de
falar com determinada pessoa
Quando tememos alguém, porque a nossa experiência anterior com esse alguém se apresentou prejudicial e
negativa, evitamos enfrentá-lo, ou tendemos a interpretar qualquer mensagem ou pedido de comunicação sua
como perigosa para o nosso eu.
Quando determinada situação nos afetou de forma negativa, tendemos, por uma questão de integridade
psicológica, a evitar falar desse assunto

4. Referir ideias ou evocar sentimentos não adaptados ao objetivo da comunicação.


Quando se tem determinado conteúdo a comunicar, não devemos falar de assuntos que pouco ou nada têm a
ver com esse mesmo objetivo ou expressar sentimentos que não se ajustam à situação.
Não é muito comum e aceite, por exemplo, rir e contar anedotas, quando se está num velório…

5. Os valores o as crenças das pessoas assim como a sua visão do mundo


Nem toda a gente pensa do mesmo modo acerca dos mesmos assuntos ou situações. Cada um tem os seus
próprios valores, que foi construído no evoluir do seu crescimento, assim como as suas próprias crenças, que
resultaram do conjunto da sua experiência vivida e comunicada pelos outros.

A divergência de crenças e valores não facilita a comunicação Interpessoal.

Quando duas pessoas que se encontram têm crenças muito diferentes, à partida, não manifestam grande
disponibilidade para a comunicação, podendo mesmo envolver-se numa discussão estéril e improdutiva.
Um católico praticante não está recetivo a um pastor de outra religião que lhe queira comunicar determinadas
crenças ou visões do mundo

6. Papéis sociais desempenhados


O facto de se saber que determinada pessoa, que deseja falar connosco, tem elevado estatuto social poderá
inibir a comunicação.
Por outro lado, se somos abordados por um pedinte nós temos, de imediato, a abertura para comunicar com ele
dado que, em princípio, poucas são as referências comuns e, também, porque o seu papel na sociedade não é
dignificante.

7. Estado de cansaço ou doença


Um indivíduo que está cansado ou doente tem dificuldade em comunicar, quer como recetor quer como emissor.
O cansaço e a doença limitam a receção ou a emissão da comunicação.

Quando a comunicação é mal interpretada ou não se realiza entre as pessoas, existe uma “barreira” no
processo:
- a mensagem comunicada é recebida apenas em parte
- a mensagem é distorcida ou mal interpretada
- a mensagem não é captada e a comunicação é interrompida
O nível de influência das barreiras sob o processo de comunicação varia de acordo com as relações
interpessoais existentes entre as pessoas envolvidas na comunicação. São exemplos de barreiras de
comunicação:
a) A hostilidade, que pode surgir em função de dificuldades e apatia nas relações interpessoais;
b) Os estereótipos, que muitas vezes são criados por preconceitos relacionados com a aparência física
ou padrões preestabelecidos;
c) O comportamento defensivo ou agressivo por parte do emissor e do recetor;
d) A distração, principalmente por falta de concentração tanto do recetor como do emissor;
e) A inibição, gerada, por vezes, pelo facto do poder e do status das pessoas que estão em comunicação
serem diferenciados.

O modelo sistémico e a análise da comunicação humana


Considerando a comunicação como um processo social que integra múltiplos modos de
comportamento (a palavra, o gesto, a mímica, o olhar), as mensagens só têm sentido quando compreendidas no
contexto em que ocorrem.
“ Todo o comportamento numa situação interativa tem valor de mensagem, isto é, é comunicação (…)
por isso, por muito que o indivíduo se esforce é lhe impossível não comunicar.” ( Watzlawick, Beaven e Jackson,
1993).
Desta forma não podemos dizer que a comunicação só acontece quando é intencional, consciente ou
bem sucedida, ou seja, quando ocorre compreensão mútua. Todo o comportamento, incluindo o silêncio,
constitui uma forma de comunicar.

Comunicamos o desejo de não comunicar, mas não deixamos de comunicar

A comunicação funcional define-se pela sua capacidade de unir, ligar, de pôr em relação os parceiros
comunicacionais, enquanto a comunicação disfuncional ou patológica é aquela que afasta os parceiros ou cria
entre eles uma barreira de incompreensão e ressentimento.

Axiomas da comunicação humana


Watzlawick e colaboradores identificaram cinco regras básicas da comunicação, habitualmente
designadas como os cinco axiomas da pragmática da comunicação humana

1ºaxioma: É impossível não comunicar. Numa interação todo o comportamento tem valor de mensagem,
afetando o comportamento de outras pessoas à sua volta, que respondem de alguma forma a esses sinais.

2ºaxioma: Toda a comunicação implica e define uma relação, ou seja, o processo de comunicação não se
limita a fornecer informação.
conteúdo- o que é dito
relação- a forma como é dito e é entendido o que foi dito- metacomunicação

3ºaxioma: A natureza de uma relação depende da forma como ambos os parceiros pontuam as sequências de
interação, ou seja, eu respondo tendo em conta a interpretação que fiz da mensagem e, por sua vez, o meu
interlocutor faz o mesmo.
Este conceito, definido por Bateson, diz-nos que quando duas pessoas comunicam impõem um certo tipo de
ordem e sequência causal à comunicação, de acordo com o significado atribuído à informação emitida e
recebida (ex: o marido decide sair todas as noites porque considera que a esposa está constantemente a
“implicar” com ele. Por sua vez, a esposa “implica” com ele porque considera que o marido não gosta de estar
com ela, preferindo estar com os amigos)
4ºaxioma: Os seres humanos comunicam verbalmente (comunicação digital) e não verbalmente
(comunicação analógica).
A comunicação digital refere-se à representação por um nome (é utilizado um sistema simbólico convencional,
arbitrário e com uma sintaxe complexa).
A comunicação analógica é mais ambígua, mas mais rica do ponto de vista afetivo.
A comunicação digital serve para comunicar, sobretudo, a um nível conceptual, enquanto a analógica fornece
informações sobre a relação; contudo, nem sempre a comunicação verbal e não verbal são congruentes…

5ºaxioma: Qualquer troca comunicativa pode ser definida como sendo simétrica ou complementar.

Relação simétrica: é baseada na igualdade e minimização da diferença no que diz respeito, nomeadamente, à
distribuição de poder e ao desempenho de papéis e de funções. A rivalidade simétrica pode exprimir-se assim:
“tudo o que possas fazer, eu farei melhor”.

Relação complementar: é baseada na maximização da diferença, podendo permitir um equilíbrio recíproco.


Normalmente, um dos parceiros tem uma posição one-up e o outro uma posição one- down.

Comunicação disfuncional
A partir da definição dos axiomas da comunicação humana, a Escola de Palo Alto preocupou-se em identificar
os aspetos presentes nesse processo que podem gerar confusão e/ou conflito nas relações humanas.

Caracterização dos aspetos disfuncionais na comunicação.

Apesar do 1º axioma afirmar que “é impossível não comunicar”, todos nós identificamos e vivenciamos situações
em que sentimos que não conseguimos comunicar…Esta constatação significa que a comunicação existente
não é funcional, não permitindo pôr em contacto/unir os intervenientes. Muitas vezes, nestes casos quanto mais
se comunica mais se desenvolvem sentimentos negativos entre os parceiros comunicacionais que, desta forma,
se compreendem cada vez menos e se afastam cada vez mais. Algumas formas de negar o compromisso
comunicativo passam pela rejeição da comunicação ou a sua desqualificação. Neste último caso, utilizam-se
estratégias como a incoerência do discurso, mudanças bruscas de assunto, declarações contraditórias,
interpretações erróneas, frases incompletas, interpretação literal de metáforas, maneirismos na fala…

O parceiro que pretende não comunicar fá-lo de um modo que invalida a sua própria comunicação com o outro.

Exemplos de rejeição da comunicação

Como afirmam Watzlawick, Beavin e Jackson (1993), referidos por Alarcão (2006), estas comunicações
constituem uma arte subtil de nada dizer dizendo alguma coisa.
De acordo com o 2º axioma, que refere que “toda a comunicação implica e define uma relação”, é
possível identificar dois níveis de análise nesse processo: conteúdo e relação. Neste sentido, a comunicação
tem como objetivo confirmar a definição que cada um faz da relação e de si próprio. É esse o papel de muitas
das regras e rituais presentes nos sistemas humanos…
No entanto, as distorções comunicativas são também possíveis a este nível, podendo ocorrer:
- uma confusão, quando os parceiros deixam de fazer a distinção entre conteúdo e relação
- uma rejeição da definição que cada um faz de si próprio e da relação
De acordo com o axioma “todas as trocas comunicativas ou são simétricas ou complementares”, a
disfunção comunicativa pode surgir por distorção de cada um desses modelos. A rigidificação da relação
simétrica conduz à escalada simétrica, em que a competição desenfreada e a rivalidade passam a ser as notas
dominantes na interação. Na complementaridade rígida a fixação imutável das posições conduz a relações do
tipo opressor-oprimido, competente-incompetente, vitimador-vítima, etc.

A comunicação paradoxal constitui uma outra forma de comunicação disfuncional e é responsável pela
criação de situações perturbadoras na interação intra e intersistémica.

A mensagem paradoxal pode definir-se como uma mensagem cuja estrutura contém uma tal
contradição que comunica, ao mesmo tempo, dois conteúdos incompatíveis (Marc e Picard, 1984). Essa
contradição ou discordância pode também acontecer entre o nível digital e o nível analógico da comunicação.: “
Sê espontâneo” ou “Deves amar-me”.

O paradoxo advém do facto de se exigir simetria no quadro de uma relação que é definida como
complementar.
As condições que contribuem para que os paradoxos na comunicação sejam perturbadores na
interação são os seguintes:
a) Existir uma forte relação complementar entre os parceiros;
b) A pessoa que está na posição one-down é incapaz de sair do quadro da relação e de resolver o
paradoxo através da metacomunicação.

A metacomunicação, ou seja, a comunicação acerca da comunicação, quer a nível do conteúdo, quer


da relação, é uma estratégia capaz de ultrapassar muitas das confusões e distorções no processo comunicativo,
constituindo uma das condições essenciais para que as interações humanas sejam bem sucedidas. n Contudo,
muitas vezes e por diferentes razões, o recurso a este processo é dificultado:
a) Alguns sistemas têm como regra, implícita ou explícita, que os conflitos devem ser evitados a
“todo o custo” pois eles podem ameaçar o mito do sistema eficaz/feliz/unido. Fernando Rivas
b) b) Há situações em que a existência de assuntos tabu dificulta o comportamento
metacognitivo.
c) c) O medo de que as relações no interior do sistema sejam postas em causa pelo facto de
comunicar-se sobre a sua definição faz com que não se metacomunique sobre ela.

Comunicação não verbal:


Proxémica, Cinésica e Paralinguagem
A comunicação não verbal data dos primórdios da organização social, contudo o interesse pelo seu estudo
científico surgiu, apenas, em meados do século passado.
Podemos defini-la como toda a comunicação que acontece para além das palavras, que apresenta pouco
controlo consciente por parte dos emissores e que pode variar com o padrão cultural em que nos inserimos.

A comunicação não verbal desempenha várias funções na comunicação humana:


- Meio de expressão das emoções;
- Reforço e complemento da comunicação verbal;
- Apresentação do Eu, pois fornece uma imagem de cada ser humano ao mundo que o envolve

1. Proxémica:
A comunicação proxémica organiza-se no jogo de distâncias e proximidades que se estabelecem entre
as pessoas e os espaços. Traduz as formas como nos colocamos e movemos uns em relação aos outros, como
gerimos e ocupamos o espaço envolvente. A distância entre os comunicantes, a orientação do corpo e do rosto,
a forma como se tocam ou se evitam, o modo como dispõem e se posicionam entre os objetos e os espaços,
permite-nos captar comunicações latentes.
A disposição e a gestão dos espaços organizacionais e sociais têm sido amplamente estudadas e os
resultados apontam para a sua influência na promoção de diferentes climas relacionais, dinâmicas de trabalho,
bem estar e relacionamento interpessoal.

1.1. Espaço de organização informal


É o território pessoal em torno de um indivíduo. Este espaço determina a distância entre os indivíduos, ou seja,
compreende as distâncias que observamos no nosso contacto com o Outro. Neste espaço existem quatro
distâncias:
- Distância íntima (15 a 50 cm) – Esta distância é reservada a um número restrito de pessoas, permite
contacto corporal, bem como percepcionar algumas características da outra pessoa, tais como
temperatura corporal, odores, respiração…
- Distância pessoal ( 40 cm a 1,2 m) – É a distância de relacionamento entre amigos e familiares, pois
permite conversar com alguma intimidade. Corresponde, mais ou menos, à distância do comprimento
do braço e funciona como uma pequena esfera invisível mas protetora.
- Distância Social (70 cm a 4 m) – Esta distância é considerada como o limite do poder sobre o outro. Os
pormenores do rosto deixam de ser percetíveis e não é possível existir contacto corporal. É a distância
adequada a contactos pessoais mais formais.
- Distância pública (4 a 9m) - Utiliza-se em situações em que os indivíduos não têm envolvimento
pessoal. É importante saber adequar a utilização do espaço e da distância aos diferentes contextos,
relações, sentimentos e atividades.

2. Cinésica:
A cinésica integra o campo dos movimentos corporais, estendendo-se por cinco áreas de análise: o contacto
visual, os gestos, as expressões faciais, a postura e os movimentos da cabeça.

2.1. Contacto visual – A frequência, a duração e a ocasião de um olhar são fatores que permitem enviar
mensagens sobre o relacionamento entre duas ou mais pessoas. Ao estabelecermos contacto visual com o
outro ele irá, de alguma forma, sentir-se implicado pessoalmente, ao mesmo tempo que podemos terminar ou
interromper uma comunicação ao desviarmos o olhar.
- Manter o contacto visual não significa fixar visualmente o outro de uma forma contínua, uma vez que
esse facto é considerado intrusivo… As investigações têm apontado para que o contacto visual a dois
pode ir de 5 a 15 segundos, enquanto que em grupo o referido contacto deverá ser mantido por 3 a 4
segundos por pessoa, percorrendo todo o grupo.

2.2. Gestos
Podemos caracterizar os gestos em cinco categorias: gestos simbólicos, gestos ilustrativos, gestos indicadores
de estado emocional e, por fim, gestos reguladores.
a) Os gestos simbólicos ou emblemas são sinais emitidos intencionalmente e possuem um significado
específico capaz de ser traduzido por palavras (ex: gesto do adeus, apontar…).
b) Os gestos ilustrativos são os movimentos que a maioria dos indivíduos utiliza no decurso da
comunicação verbal e que ilustram o que vai dizendo.
c) Os gestos indicadores de aspetos emocionais são todos aqueles que transmitem emoções que vão
desde à alegria, tristeza, ansiedade, ira…
d) Os gestos reguladores têm como objetivo manter o fluxo da conversação, indicando a quem fala se o
interlocutor está interessado ou não, se deseja falar ou interromper a comunicação.

2.3. Expressões Faciais: O canal privilegiado para expressar as emoções é o rosto. Todos nós assumimos
uma série de máscaras faciais que utilizamos consoante aquilo que queremos transmitir e de acordo com
aspetos mais específicos da nossa forma de ser/estar.

2.4. Postura: Esta dimensão designa o modo de nos movimentarmos e de colocar o nosso corpo no espaço.

3. Paralinguagem: A paralinguagem é um conceito que se aplica às modalidades da voz (altura, intensidade,


ritmo...) que fornecem informações sobre o estado afetivo do emissor e, ainda, a outras emissões vocais como o
riso, o bocejo, o grito…

Estilos de comunicação
Assertividade
O conceito de assertividade tem sido objeto de estudo nos últimos 40 anos, sobretudo nos Estados
Unidos, sendo definido como a expressão afirmativa de nós próprios.

Competência na defesa e reconhecimento dos nossos direitos e necessidades de uma forma positiva e
adequada.

Permite afirmarmo-nos perante os outros mas de forma a não colidir com os seus direitos e
necessidades.

O conceito de assertividade desenvolveu-se em contextos sociais e económicos específicos,


associados à cultura anglo-saxónica de forte tradição democrática, e à defesa dos direitos humanos (Castro,
2005). Foi adquirindo importância e visibilidade num período de afirmação dos direitos humanos universais e de
defesa da afirmação das minorias.
A assertividade surge associada à afirmação da individualização crescente, da importância do valor pessoal e do
direito a uma expressão saudável e vigorosa da identidade → Afirmação individual de uma forma consciente e
responsável.

Em Portugal, só após o início de uma vivência democrática, e das transformações sociais e


económicas entretanto ocorridas, começámos a consciencializar e a aprender a colocar em prática uma
comunicação de tipo assertivo.
Contudo, mesmo atualmente, há muitos indivíduos que revelam hábitos comportamentais na sua
relação com os outros e no seu estilo de comunicação que estão longe de revelar assertividade: Por ex. sentem
dificuldade em receber ou dar um elogio; são incapazes de dizer “não”.

É fundamental aprender a ter consciência das nossas competências e dificuldades. Devemos
afirmar o direito à autoestima, sem grandiosidades narcísicas mas com um realismo construtivo.
Competências associadas à assertividade:
➔ Auto-afirmação;
➔ Auto-conhecimento;
➔ Auto-consciência das potencialidades e dificuldades;
➔ Capacidade de expressar opiniões e sentimentos positivos;
➔ Capacidade de expressar opiniões e sentimentos negativos.
➔ Empatia

Passividade
O comportamento passivo caracteriza-se pelo receio de enfrentar os outros, a incapacidade de afirmar o ponto
de vista individual, de fazer valer os seus direitos, seja no seio da família, no emprego ou nos diferentes
contextos sociais.

Este estilo interativo resulta de uma disfunção comportamental que torna os indivíduos passivos,
anulando a afirmação de si próprios e das suas necessidades.

Contudo, este tipo de comportamento pode variar de acordo com os diferentes contextos ou tipos de relação:
Podemos ser mais passivos no emprego e menos no contexto familiar.

Agressividade ◦
As pessoas com um estilo interativo agressivo comportam-se como se o Outro não existisse, tendo
apenas como meta atingir os seus objetivos.

Estes indivíduos expressam as suas necessidades, preferências, opiniões e sentimentos sem ter em
consideração o Outro. Comunicam, habitualmente, de forma hostil, exigente, ameaçadora ou punitiva.

Há contextos sociais e relacionais que podem inibir a expressão da agressividade, podendo conduzir a
situações de desequilíbrio: a agressividade pode ser mascarada, dando lugar ao cinismo, sarcasmo, ou
desviada para outros objetos. Por ex., não se manifesta perante um líder mas é descarregada na família ou nos
pares.

Manipulação
O estilo interativo manipulativo corresponde a um tipo de comportamento em que o indivíduo expressa
as suas necessidades, opiniões e sentimentos de uma forma indireta ou implícita, usando
frequentemente mensagens mistas em que há contradições no conteúdo ou entre o conteúdo e a
comunicação não verbal.
Alguns exemplos deste estilo interativo: ameaças e promessas “veladas”, comentários vagos, deixando no “ar”
uma sugestão…

A manipulação é uma forma de comunicação agressiva indireta, pois as relações interpessoais têm como
objetivo a satisfação das suas necessidades, desejos e ambições.

Considerações Finais
A assertividade regula a relação connosco próprios e com os outros, em qualquer tipo de situação e de
relação, desde a mais íntima à mais impessoal.
Embora a ideia de que os nossos direitos e necessidades devem ser expressos afirmativamente, respeitando ao
mesmo tempo os direitos dos outros, seja simples e lógica, nem sempre é fácil assumirmos comportamentos
assertivos. Essa competência exige um longo percurso de aprendizagem e de interiorização de valores,
princípios e atitudes.

Ser assertivo “é um jogo complexo que uma vez interiorizado, nos permite ter mais maturidade e confiança em
nós próprios e nas nossas competências”

ASSERTIVIDADE: O QUE É, POR QUE É ÚTIL E COMO SE APRENDE?


Comportamento Assertivo
O comportamento assertivo pode ser definido como aquele que envolve a expressão directa, pela pessoa, das
suas necessidades ou preferências, emoções e opiniões sem que, ao fazê-lo, ela experiencie ansiedade
indevida ou excessiva, e sem ser hostil para o interlocutor. É, por outras palavras, aquele que permite defender
os próprios direitos sem violar os direitos dos outros.

Comportamento não assertivo


Comportamento passivo
É aquele em que a pessoa falha na expressão das suas necessidades ou preferências, emoções e opiniões. Na
medida em que a pessoa que tem este comportamento é a primeira a violar os seus próprios direitos, acaba por
dar ao outro a permissão para, também ele, o fazer.

Comportamento Agressivo
É aquele em que a pessoa expressa as suas necessidades ou preferências, emoções e opiniões, mas de uma
forma que é hostil, exigente, ameaçadora ou punitiva para com o interlocutor. A pessoa que tem este
comportamento defende os seus direitos, mas fá-lo à custa da violação dos do outro.

Comportamento Manipulativo
É aquele em que a pessoa expressa as suas necessidades ou preferências, emoções e opiniões de uma forma
implícita ou indirecta, frequentemente com «mensagens mistas», em que há contradições no conteúdo ou entre
o conteúdo e o comportamento não verbal. É o caso de mensagens cujo objectivo é levar o interlocutor a
adivinhar o que quer dizer ou a sentir-se tão mal ou responsável pela pessoa que fará o que ela quer, ainda que
contra a sua vontade. A pessoa que tem este comportamento procura a satisfação das suas necessidades
violando os direitos dos outros, mas fá-lo de forma indirecta.

A assertividade varia conforme as pessoas e as situações


Um aspecto que é importante ter em conta é que NINGUÉM é 100% assertivo com todas as pessoas e em
todas as situações. Para cada pessoa, a facilidade que tem em comportar-se de forma assertiva depende muito
da pessoa a quem esse comportamento se dirige (pais, professores, amigos, namorado/a, crianças, etc) e da
situação em que se encontra (auto-afirmação, expressão de sentimentos positivos, expressão de sentimentos
negativos, etc). Quando muito, pode-se dizer que a pessoa assertiva é capaz de se comportar com
assertividade com muitas pessoas e em muitas situações.

Como aprendi a comportar-me de forma não assertiva?


A assertividade não é uma característica inata que se tem ou não. O que acontece é que, as aprendizagens que
uma pessoa fez ao longo da vida conduzem a que, no momento actual, ela tenha ou não a capacidade de se
comportar de forma assertiva. Embora seja difícil dizer quais os motivos que fizeram com que, no presente,
determinada pessoa tenha dificuldade em se comportar de forma assertiva com determinadas pessoas e em
determinadas situações, existe um conjunto de fatores que podem ser considerados. Por exemplo:
O que é que ganharia em me comportar de forma mais assertiva?
A assertividade é uma escolha. Da mesma forma que determinada pessoa aprendeu a comporta-se de
forma não assertiva, pode aprender um conjunto de competências que lhe permitam comportar-se com maior
assertividade. Que vantagens tem em fazê-lo?
A resposta a esta questão pode ser dada, em primeiro lugar, pela análise das consequências de cada
tipo de comportamento. É importante não esquecer que os comportamentos que temos não ocorrem num vácuo
– eles repercutem sobre a pessoa que os tem e sobre aquele que os recebe, quer de forma imediata, quer a
longo prazo. O que acontece é que, ainda que os comportamentos não assertivos tenham, a curto-prazo,
algumas consequências positivas para o próprio (que é, aliás, o que explica que se mantenham), as suas
consequências são, num balanço global, negativas; os comportamentos assertivos são, por outro lado, quase
universalmente vantajosos.
Se ainda não estás convencido, tem em atenção o seguinte: a assertividade, depois de aprendida,
poderá vir a ser mais uma ferramenta, de entre o conjunto de que já dispões. Nada te obriga a utilizála, mas
caso ela se venha a revelar necessária, é bom saber que lá está.

Como posso fazê-lo?


Conhecimento dos próprios direitos
A primeira mudança é interna, e passa por adquirir conhecimento dos direitos que te assistem (e, igualmente, a
cada uma das pessoas que te rodeiam). Uma amostra desses direitos poderá ser a seguinte:
Tem também em conta algumas coisas que podes estar a dizer a ti próprio, e que podem estar a tornar difícil
comportares-te de forma assertiva. Alguns exemplos destes «pensamentos bloqueadores da assertividade» são
os seguintes:

Se algum destes pensamentos reflete uma crença tua, submete-o a uma análise racional. Isto pode ser feito
quer invertendo as perspectivas das pessoas envolvidas (aquilo que vale para ti também vale para os outros?),
quer procurando factos que o sustentem ou desconfirmem (que provas tenho de que isto é verdade?), quer
questionando o seu valor prático (em que é que viver de acordo com este pensamento me tem ajudado até
aqui?). Se o pensamento não sobreviver a esta análise, então, mais vale pô-lo de parte... Em alguns casos,
contudo, a análise sugerida não chega para neutralizar estes pensamentos, e eles continuam a surgir,
bloqueando o comportamento assertivo – nestes casos, considera a possibilidade de interromper este
pensamento e agir (assertivamente) como se este não existisse – esta acção pode parecer um tiro no escuro,
mas os seus resultados vão, frequentemente, demonstrar por si só que, afinal, o pensamento não se justificava.

Aptidões Assertivas
O passo seguinte é o de defender os teus direitos de uma forma que seja eficaz. Isto requer a aquisição e treino
de um conjunto de aptidões. De entre o seguinte conjunto de técnicas, escolhe aquelas que pensas que te serão
mais úteis e adapta-as ao teu estilo pessoal.

O conteúdo verbal da mensagem


O Comportamento Não – Verbal
Cerca de 70% daquilo que o receptor percebe da mensagem é fornecido através do comportamento não verbal
do emissor– a linguagem corporal adequada confirma e sublinha o que se diz, pelo que deve ser concordante
com o conteúdo da mensagem. Inclui aspectos como:

A assertividade não garante a não ocorrência de conflitos entre duas pessoas; o que acontece é que, se duas
pessoas em desacordo comunicam de forma assertiva, é mais provável que reconheçam que existe um
desacordo e tentem chegar a um compromisso ou, simplesmente, decidam manter a sua posição respeitando a
do outro. Em todo o caso, tu só és responsável pelo teu próprio comportamento – se a outra parte do conflito
decidir comportar-se de forma não assertiva, o problema é dela.

O conceito de estereótipo
Estereótipos são opiniões e ideias generalizadas, utilizadas pelas pessoas para pré-definir alguém ou algo
quanto ao seu comportamento, gênero, aparência, religião, cultura, condição social, etc.
Os estereótipos são adquiridos ao longo da nossa vivência e experiências na sociedade, partindo,
principalmente, das ideias do senso comum. Eles também podem variar de grupo para grupo, conforme a
cultura e os costumes.
Os estereótipos funcionam como uma forma de rotular as pessoas ou coisas sem um
conhecimento objetivo sobre o assunto ou sobre a pessoa que está sendo estereotipada. Usamos o
estereótipo para organizar e categorizar a informação sobre as coisas e pessoas, simplificando a nossa visão
sobre o mundo.
Por exemplo, quando alguém afirma que adolescentes são rebeldes e pessoas idosas são
conservadoras, é uma tentativa de padronizar estes dois grupos, sem respeitar a individualidade, história e
personalidade de cada idoso ou adolescente.
O problema é que os estereótipos ignoram os aspectos individuais de quem está sendo
estereotipado, sem ao menos conhecê-lo.
Em muitos casos, alguns estereótipos também podem gerar preconceitos.

Principais tipos de estereótipos e exemplos:


Estereótipo racial e cultural
O estereótipo racial e cultural é aquele que uma pessoa ou um grupo social é sujeito a um julgamento
pela sua raça ou costumes e tradições.
Este tipo de estereótipo é baseado em opiniões generalizadas e sem fundamento sobre determinada
região, costume de um local ou de um povo.
Por exemplo, quando, num filme ou num romance, os delinquentes ou criminosos são descritos como
personagens de raça negra.
Outro exemplo: dizer que pessoas negras têm mais resistência física é um tipo de estereótipo baseado
em crenças sobre uma raça inteira, sem respeitar a individualidade. Este exemplo surge do próprio histórico da
escravidão, onde os negros escravizados realizavam trabalhos pesados no seu dia a dia ou devido a algumas
pessoas negras terem um bom desempenho em alguns desportos. Porém, este tipo de estereótipo julga as
pessoas pela sua cor da pele ou sua cultura, rotulando todo um grupo em um aspeto que não é real para cada
pessoa.

Estereótipo de gênero
Este tipo de estereótipo é aquele que associa e julga os comportamentos de homens e mulheres. Também pode
abordar algumas características psicológicas associadas ao gênero.
Por exemplo, quando alguém afirma que a mulher deve cuidar dos afazeres da casa e dos filhos. Ou
quando alguém diz que homens não choram ou não sabem falar sobre seus sentimentos.
Outros exemplos são acreditar que as mulheres não podem realizar algumas atividades profissionais,
ou que os homens não devem usar determinadas cores de roupa, como o rosa, porque são consideradas
femininas.

Estereótipos socioeconômicos
Esse tipo de estereótipo foca-se nos aspetos financeiros ou na posição social das pessoas, por exemplo:
rotular que as pessoas ricas são fúteis ou indiferentes às questões sociais ou que as pessoas que possuem
cargos baixos em empresas são menos inteligentes.
Este tipo de estereótipo surge a partir de uma construção de hierarquias socioeconômicas. Assim, o rico é visto
como alguém poderoso e indiferente aos outros, e as pessoas pobres como aquelas que não têm acesso à
educação e informação.
Estereótipo religioso - é aquele que se focaliza nas características e comportamentos de
determinadas religiões.
Por exemplo, quando uma pessoa acredita que qualquer muçulmano pertence ao estado islâmico ou é
terrorista, ou que qualquer judeu é rico e avarento.

A formação de impressões
O que caracteriza a percepção, sobretudo nas relações interpessoais, é o facto deste processo não se limitar a
coincidir com a identificação de índices objetivos mas ser sempre uma interpretação.

Quando estamos perante um objeto selecionamos alguns dos seus aspetos particulares e em função
deles construímos uma imagem mental/representação desse objeto.
Quando encontramos alguém pela 1ª vez temos também tendência a formar dela uma impressão geral,
contudo existem diferenças entre a formação de uma imagem de um objeto ou de uma pessoa.
- Num primeiro contato com uma pessoa a perceção e a formação de impressões é mútua;
- A formação das impressões tem sempre uma componente avaliativa. Essa avaliação
contempla, normalmente, uma dimensão afetiva (gostar/não gostar), moral (bom/mau) e
instrumental (competente/incompetente).
- Nesse sentido, a percepção do Outro vai influenciar o nosso comportamento relacional e
comunicativo posterior.
A partir das primeiras impressões temos tendência a inferir outros traços ou características – este
processo foi designado por Leyens (1985) como a construção de “teorias implícitas da personalidade”.
A designação “implícitas” não significa que essas teorias sejam inconscientes mas, contudo, quem as
utiliza não utiliza critérios objetivos para as validar, sendo-lhe difícil fundamentar a sua avaliação.
As teorias implícitas constroem-se a partir da experiência vivida e da cultura em que estamos inseridos,
permitindo que algumas delas sejam específicas a cada pessoa, mas outras sejam socialmente partilhadas.
Rosenberg e Sedlack (1972) identificaram duas dimensões centrais na elaboração de teorias sobre as
pessoas: inteligência e sociabilidade, cada uma com um pólo positivo e outro negativo.
Teorias implícitas e estereótipos formam o essencial daquilo que podemos designar como informação
categorial. Evocam, sob a forma de atributos da personalidade, as expectativas que habitualmente temos em
relação a categorias sociais como os ingleses, os introvertidos, os psicólogos ou os árabes…
Este processo de categorização ou classificação inicial tem como objetivo organizar/simplificar a
realidade e regular o processo de interação futura.
A partir desse conhecimento, regulado culturalmente, antecipamos situações e podemos adequar o
nosso comportamento posterior, quer seja para uma entrevista de emprego, para uma reunião social formal ou
para um encontro amoroso…
O processo de categorização tem subjacente a identificação e codificação da informação com que nos
confrontamos no nosso quotidiano.
Com esse objetivo fazemos uso de processos cognitivos que permitem compará-la com outras
informações já conhecidas, inserindo-a, posteriormente, numa determinada categoria.
No processo de categorização das pessoas utilizamos exemplares (conhecimento de pessoas
definidas) ou esquemas (ideia geral e abstrata mas que condensa um protótipo).
A elaboração de categorias tem como função a simplificação, organização e conservação da
informação apreendida através da atribuição de significado.
Asch, um psicólogo gestaltista, tentou perceber se a partir de alguns elementos díspares da
personalidade de um indivíduo fictício as pessoas eram capazes de, sobre ele, construir uma impressão
coerente.
Partiu da hipótese que alguns desses elementos díspares poderiam ter um estatuto especial no sentido
em que contribuíram de uma forma decisiva para a construção da impressão geral – traços centrais.
Este autor percebeu que quando categorizamos uma pessoa utilizamos algumas qualidades centrais
que são decisivas na formação da impressão e outras que consideramos periféricas.
São as características centrais que estão na base da construção de uma imagem unitária do outro.
Asch considerou também que os primeiros traços de que se toma conhecimento imprimiram uma
direção à organização da impressão – efeito de primazia.
Ex: se dissermos que uma pessoa é inteligente, trabalhadora… mas é invejosa, temos tendência a desvalorizar
esta última característica e a considerar que ninguém é perfeito!
Se a primeira característica que conhecemos for “ser invejoso” temos tendência a atribuir-lhe um
conjunto de outras características negativas.

Coerência Avaliativa
Consoante se crie uma 1ª impressão positiva ou negativa de outra pessoa há tendência a percecionar
características que sejam consistentes com a impressão formada: Efeito de Halo.

Índices utilizados na categorização


1- Índices físicos
a. estáticos- características físicas das pessoas (alta, morena, magra… o sexo, a idade, a raça)
mas também a sua maneira de se vestir. Poder-se-á associar a estes índices algumas
categorias de personalidade e, mesmo, categorias sociais. Se a pessoa é gorda poderei
afirmar que é também bem disposta…
b. Índices dinâmicos – os gestos, a postura e as expressões faciais.
2- . Índices verbais – referem-se à linguagem utilizada por uma pessoa. Se a pessoa utiliza uma
linguagem adequada associamos a este índice clareza de pensamento, inteligência…
3- índices comportamentais

A partir desses índices construímos uma entidade social virtual, atribuindo-lhe um determinado papel e
estatuto, inserindo-a numa categoria socioeconómica e cultural.
Por outro lado, temos tendência a reter os índices que consideramos mais pertinentes de acordo com
os contextos em que nos situamos, mas também de acordo com as nossas experiências anteriores, com os
nossos valores e sentido estético.
Em síntese, as diferentes investigações referem a importância das primeiras impressões na regulação
da relação interpessoal futura, concluindo que existe uma tendência para confirmarmos essas impressões.

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