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Linguagem e Oralidade

Resumo
❖ Concepções de Linguagem.

O conhecimento da linguagem e da oralidade possibilitará a você


uma reflexão a respeito das práticas de linguagem no cotidiano,
nas interações face a face, por intermédio das diferentes mídias e
nas práticas recorrentes na escola, seja pela relação
professor/aluno, professor/instância de governança da educação
ou professor/pais/família e comunidade. Assim, você
conseguirá organizar práticas sociais de oralidade e reconhecer
suas especificidades culturais e linguísticas por meio de
diferentes mídias e suportes digitais.
As relações entre a oralidade e a escrita, “oposição” existente entre
elas quanto a influência que a escrita sofre da oralidade. Uma das
pretensões desta seção é desenvolver em você a capacidade de
compreender a interface leitura/escrita a partir de momentos de
expressão de sentimentos, ideias e criatividade para uma prática
social interativa, bem como de construir caminhos teórico-práticos
no processo de ensino e aprendizagem da oralidade, considerando
diferentes mídias e suportes digitais para o desenvolvimento de
habilidades orais de forma integral. Por isso, é aqui que você
identificará como as chamadas novas mídias (redes
sociais, blogs, podcasts, canais de vídeo e plataformas de EAD)
utilizam os recursos orais, verbais e visuais a partir de diferentes
gêneros discursivos em suas composições.
A BNCC apresenta dez competências gerais da educação básica e,
entre elas, a competência quatro: “Utilizar diferentes linguagens –
verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal,
visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens
artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar
informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes
contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo”
(BRASIL, 2017, p. 9).
Para atingir essa competência, professores precisam ter acesso às
diferentes concepções de linguagem e entender que a linguagem
constrói a identidade. Os alunos, por sua vez, precisam entender
que a linguagem é um ato que acontece no social, dentro de
contextos específicos, a partir do uso dos mais variados gêneros
textuais.

O conhecimento das variedades linguísticas nos leva a entender


que há diferentes modos de se falar e, com isso, combater o
preconceito linguístico instalado em nossa sociedade.

Atualmente, com o advento das novas mídias digitais, você já deve


ter percebido que a linguagem toma as mais variadas formas:
orais, escritas, imagéticas, em vídeos, mensagens de texto, áudios,
memes, gifs. Diante dessa diversidade textual, o que é linguagem
para você? Como podemos definir linguagem?

Uma das definições para linguagem é entendê-la enquanto


representação do pensamento, mas considerá-la assim é
pressupor que conseguimos traduzir em palavras aquilo que
pensamos e que conseguimos organizar, por meio da fala ou da
escrita, o que está em nosso campo das ideias.

Outra definição, talvez a mais comum, é a linguagem como


instrumento de comunicação. Pensar a linguagem enquanto
instrumento é levar em conta que comunicar é a função primeira
da linguagem, e se há comunicação, é porque há um emissor e um
receptor que se revezam nesse processo. Como lidar, então, com
os mal-entendidos causados pela linguagem em tantas situações
de comunicação?

Nessa abordagem, a linguagem não se restringe a representar


aquilo que pensamos e não é vista apenas como um instrumento
do qual nos utilizamos para nos comunicar e passar uma
mensagem com dada intenção. Considerar a linguagem enquanto
interação é saber que a linguagem é ação, realiza coisas, produz
efeitos sobre nós, sobre os outros e sobre o mundo.
Todas essas concepções perpassam, de alguma maneira, a
construção da identidade, que será um dos pontos aqui discutidos.
A linguagem tem relação direta com a identidade, e aqui
refletiremos sobre como essa relação acontece.

Outra definição, talvez a mais comum, é a linguagem como


instrumento de comunicação. Pensar a linguagem enquanto
instrumento é levar em conta que comunicar é a função primeira
da linguagem, e se há comunicação, é porque há um emissor e um
receptor que se revezam nesse processo. Como lidar, então, com
os mal-entendidos causados pela linguagem em tantas situações
de comunicação? Essa também é outra reflexão que
desenvolveremos nesta seção.

Essas diferentes concepções de linguagem nos ajudam a entender o


modo como a linguagem está em nós, como construímos o
nosso dizer e como as “escolhas” linguísticas que fazemos em
prol dos sentidos que desejamos atingir revelam muito sobre
nós mesmos, identificando-nos.
▪ LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DE
PENSAMENTO.
A primeira concepção que vamos apresentar é a que considera
a linguagem como expressão do pensamento. Travaglia (2001)
afirma que adotar essa concepção é adotar também a ideia de
que as pessoas não se expressam bem porque não pensam
bem. Se você considera que a expressão se constrói no
interior da mente e sua exteriorização é apenas uma tradução,
você se embasa na linguagem como representação do
pensamento.

Aceitar que a linguagem representa o pensamento, segundo o


autor, é aceitar que a organização do pensamento de maneira
lógica garante-nos a exteriorização desse pensamento de forma
também organizada e adequada. Geraldi (2002) outro
pesquisador da linguagem e do ensino, segue com seus estudos
na mesma direção e complementa que essa concepção é a que
sustenta os estudos tradicionais, que reforçam a relação da
impossibilidade de se expressar com o não pensar.

ASSIMILE

Na concepção de linguagem como forma de expressão do


pensamento, o sujeito é o senhor absoluto do seu dizer e precisa
seguir à risca as regras da gramática normativa. A escrita é o
modelo para o bem falar, e exercícios de repetição ajudariam
nesse processo.

Perceba o quanto é arriscado você considerar a linguagem como


expressão do pensamento. Partilhar dessa concepção é atribuir
aos que “se expressam mal” um problema no seu próprio pensar,
de modo que toda a responsabilidade sobre os dizeres recai
naquele que diz, como se fosse um ato monológico, individual, que
não é afetado pelo outro nem pela situação, explica-nos Travaglia
(2001). Aqui, a produção do texto não tem relação alguma com o
contexto em que ele é apresentado tampouco para quem ele é
dirigido.
Para esses autores, o ensino tradicional que se sustenta
na chamada gramática normativa, que traz as normas do
bem falar e do bem escrever atreladas às normas do bem
pensar, constrói-se a partir dessa concepção de
linguagem.

▪ LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE


COMUNICAÇÃO

Outra maneira de se conceber a linguagem é pensá-la como


instrumento de comunicação. Você já deve ter visto em
etapas anteriores da sua educação – seja para estudar as
chamadas funções de linguagem ou a teoria da comunicação
– o esquema de comunicação desenvolvido pelo linguista
russo Roman Jakobson, que trazia como partes constituintes
da comunicação um receptor e um emissor, que transmite
determinada mensagem por um canal específico, numa
dada língua, sobre um referente qualquer. Esse esquema
estrutural é o grande norteador dessa concepção que
estamos apresentando.

Geraldi (2002a) defende que essa concepção considera a


língua como um código, organizado por regras, a fim de que
o emissor transmita uma mensagem ao receptor tendo como
objetivo a comunicação. Perceba que, se há uma transmissão
de informações, as regras precisam ser preestabelecidas,
seguidas à risca, para que a comunicação se efetive. Por isso,
complementa Travaglia (2001), esse código, que é a língua,
deve ser conhecido pelos falantes, deve ser utilizado de
maneira semelhante, pois se trata de um ato social.

Se para você a linguagem é instrumento de


comunicação, então você considera a língua de forma
isolada, sem levar em conta os interlocutores e a
situação de uso, desconsiderando o falante no
processo de produção da linguagem e separando o
homem do contexto social (TRAVAGLIA, 2001).

ASSIMILE
A concepção de linguagem como instrumento de comunicação
considera que a linguagem serve apenas para transmitir
mensagens, sem levar em conta o contexto de sua produção,
obedecendo a um esquema prévio de comunicação: alguém que
fala algo, numa dada língua, para alguém que decodifica.

Quem considera que a linguagem não apenas verbaliza as nossas


ideias nem apenas exterioriza o pensamento, e que o falante faz
mais que usar a língua na produção da linguagem, transmitindo
informações, pode identificar-se com a terceira concepção. Você
entenderá, na terceira concepção, como a prática de linguagem é
complexa, é ação, é o lugar da interação humana.

▪ LINGUAGUEM COMO INTERAÇÃO


Nessa concepção, a linguagem é forma de interação, e nós
praticamos ações que são possíveis somente pela linguagem:
firmamos compromissos e vínculos que, sem a fala, não se
concretizam, reforça Geraldi (2002a). A linguagem é, então,
lugar de interação humana, complementa, ainda, Travaglia
(2001), e produz efeitos de sentidos entre os locutores. Várias
são as ciências da linguagem que sustentam seus estudos
nessa concepção, entre elas, a linguística textual, a análise da
conversação, a análise do discurso e a semântica
argumentativa.
ASSIMILE

Na concepção de linguagem como forma de interação, a linguagem


é interação humana no social. A linguagem é ação, e o contexto e a
situação são levados em conta na produção de sentidos. O modo
como a linguagem é articulada na fala ou na escrita produz
sentidos sobre quem escreve, é fruto da identificação do sujeito
com a língua. Não conseguimos desprender a linguagem de quem
a utiliza.

Outro autor que também compartilha desse posicionamento é


Maurizio Gnerre (2009); ele reafirma que a linguagem não serve
apenas para veicular informações, mas que essa é apenas uma
função entre outras.

REFLITA
Você acha que práticas pedagógicas pautadas na concepção de
linguagem como forma de interação, que não coloca a gramática
normativa como ponto máximo de aprendizagem, conseguem
promover um conhecimento da língua que dê conta das
manifestações da linguagem no social?

Há, nas reflexões postas por esse autor, um ponto bastante


importante: o poder da linguagem! “A começar do nível mais
elementar de relações com o poder, a linguagem constitui o arame
farpado mais poderoso para bloquear o acesso ao poder”
(GNERRE, 2009, p. 22). Essa afirmação clássica em seu livro
Linguagem, escrita e poder, que será referência também em outras
unidades deste livro, nos dá respaldo para dizer que a relação dos
falantes com a linguagem não é mecânica, tampouco gratuita. As
pessoas falam pelos mais variados propósitos, para serem ouvidas,
exercer influência, e sempre haverá uma relação de “poder dizer”
nos atos linguísticos.

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