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CURSO: PÓS PSICOPEDAGOGIA


DISCIPLINA: LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO
SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Cachoeira Grande -Ma


2024

Material elaborado pela Professora Msc. Zilma Chaves de Assunção.


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CAPÍTULO I - A LINGUAGEM, A LÍNGUA E A FALA.

A Linguística é a ciência que se preocupa com o estudo da língua como fato


social. É ela que se encarrega de perscrutar as alterações (ou adaptações) que os
falantes fazem nos mecanismos da língua, nas inúmeras interações sociais de que
participam. A Linguística interessa a língua como linguagem, e a fala como
operacionalização da língua.
Assim, os estudos linguísticos ocorrem sobre os mecanismos da língua, sobre
as estruturas (fonológicas, morfológicas, sintáticas, semânticas) que, ao mesmo
tempo em que sustentam e mantêm a língua, dão a ela o caráter de código
organizado.
Neste manual, particularmente, interessa-nos recorrer aos princípios da
Linguística em função de sua preocupação com o que ocorre na articulação da língua
e na crítica que faz ao tradicionalismo gramatical. Convém, então, expor as definições
de língua, linguagem, fala e de gramática para posteriormente associarmos o que
propõe a Linguística ao que se observa nos cursos de graduação no que tange à
língua portuguesa no contexto da comunicação que o ambiente de ensino e
aprendizagem exige. Feito isso, poderemos propor intervenções pedagógicas para
um trabalho didático mais preciso e de resultados mais concretos.

1. 1. Linguagem
Qualquer manifestação compreensível de ideias e/ou sentimentos constitui
linguagem. Há linguagem em todas as relações humanas, configurando-se como
verbal, musical, gestual, etc. Os animais irracionais usam linguagem como resultado
do instinto, das percepções sensoriais. O homem é o único capaz de produzir
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linguagem como atividade psíquica, racional, como atividade consciente, sugestiva.


resultados é todo sistema de sinais que dê a seres conscientes a possibilidade
Para o professor Antenor Nascentes, linguagem é todo sistema de sinais que
dê a seres conscientes a possibilidade de ter relações entre si.
De acordo com Mattoso Câmara, linguagem é a “faculdade que tem o homem
de exprimir seus estados mentais por meio de um sistema de sons vocais chamado
língua. Pela atividade da linguagem, ou FALA, faz-se a comunicação”. (MATTOSO
CÂMARA, 1977)
É apropriado afirmar ainda que linguagem é a faculdade que os indivíduos
possuem para expressar seus estados mentais através de um código chamado língua,
que é ao mesmo tempo representativo do mundo interior e do mundo exterior. Por
linguagem entendemos todo sistema de comunicação que utiliza signos organizados
de modo particular. Usar a linguagem é natural do ser humano.
Como instrumento e consequência das interações sociais, é através dela que
se processam as trocas de experiências, que são definidas as cooperações entre os
indivíduos, o que, por extensão, viabiliza a vida em sociedade.
Na relação de ensino, é fundamental o uso de uma linguagem objetiva, uma
vez que esta pode ocorrer em níveis específicos, que dependem fundamentalmente
da situação que se esteja vivendo, do contexto das interações sociais. A linguagem
coloquial, por exemplo, é aquela realizada de forma espontânea, sem a preocupação
com o rigor formal estabelecido pela gramática; busca a adequação à situação em
que se processa e à condição do receptor; é regida por um certo dinamismo que
caracteriza o nível dos diálogos. Para o uso da língua como linguagem coloquial, há
recursos disponíveis que agilizam a compreensão, como gestos, expressões faciais,
entonação.
A língua como linguagem Culta ou Padrão (para alguns estudiosos, a
coloquial), por sua vez, é aquela que se molda ao longo das experiências
acadêmicas. Não dispõe de recursos extralinguísticos. Seu pod a predominância de
linguagem coloquial em função da própria natureza do texto ou da situação em que
esteja inserido.
A linguagem Culta ou Padrão pode se apresentar como formal ou oficial e
artística ou literária. Na linguagem Culta, formal, as orientações oficiais da língua
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devem ser seguidas, prezando-se pelo uso da palavra com seu significado único, não
sugestivo em função da necessidade de comunicar.
Na linguagem Culta artística ou literária, a finalidade é essencialmente
poética, procura expressar o belo, sugerindo mais do que determinando, usando a
palavra em seu sentido figurado, sem a intenção de definir a mensagem. O resultado
dessa experiência de produção textual usando a linguagem culta é certo
encantamento por parte do leitor, proveniente de certa introspecção por parte do
redator, que produz arte tendo como matéria prima a palavra, a expressão
plurissignificativa, isto é, o vocábulo cheio de significados.
O mundo está, pois, repleto de linguagens. Os seres humanos, a cada dia,
otimizam suas relações criando novas formas de comunicar-se. O diálogo entre o
homem e seus pares parece intensificar-se através das imagens, dos gestos, dos
inúmeros sinais espalhados pelas ruas, praças, vias, rádios, tvs e pelas mídias
modernas.
Todo profissional que trabalha com o ensino deve ter informação sobre essas
maneiras de expressar-se a fim de converter esses princípios em instrumentos para o
bom desempenho de seu trabalho.
Richer (2000, p.19) diz que “as teorias de aquisição da linguagem estão ligadas
a três maneiras diferentes de explicar o conhecimento humano. Podem, então, ser
divididas em três grupos”:
O primeiro grupo, situam-se as teorias que defendem a experiência
como fonte básica de conhecimento. Todas as ideias vêm da
experiência com o mundo material, e a mente só as organiza. O mundo
exterior e suas conexões não dependem da mente para serem o que
são. Esta posição teórica, também conhecida por alguns como
Associacismo é, aqui, denominada Behaviorismo.
No segundo grupo, encontramos teorias que atribuem à mente o papel
mais importante no conhecimento.
As ideias são inatas, e a experiência pouco importante. O rótulo para
esta posição teórica é Inatismo.
No terceiro grupo, estão as teorias que evitam separar mente e
experiência. Para tanto, há duas soluções importantes, que não se
excluem. Uma é admitir que a mente só pode conhecer uma realidade
social. Ou seja, só posso ver a realidade com os olhos do meu grupo
(“visão comum”). Outra é constatar que conhecemos objetos
“representados”[...]
Por exemplo, o rosto de uma pessoa determina aquele que sai na foto
[...] A experiência “molda” indiretamente a consciência.

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A longa citação dá uma ideia da dimensão do assunto. Compreender como os


seres humanos lidam com tão importante instrumento que é a linguagem é mais que
relevante, é vital para que a Educação se processe como formadora de caracteres
ajustados a um modo de vida tolerante com as diferenças, com as diferentes maneiras
de ver o mundo, não com a ignorância, com o preconceito ou com qualquer forma de
dominação.
O tema linguagem tem forte relação com um processo lúdico de representações
e intenções.
A linguagem realiza-se e, consequentemente, torna-se efetiva ao incidir sobre
o outro, sobre o destinatário, sobre o que ouve, o que vê, o que sente. Nesse jogo, o
contexto, o ambiente em que se realiza é fundamental. As interações entre quem diz
e quem “ouvem”, entre locutor e interlocutor funda-se sobre a significação; o universo
em que essas interações ocorrem vai contribuir para que haja efetivamente
compreensão.
Então, o exercício da linguagem requer interação, pressupõe troca, uma
estrutura social, um ambiente, um contexto, as pessoas e as ideias que elas têm de
seu derredor. Não é algo fechado, concluído. Faz-se e torna-se a ser feita,
influenciando os sujeitos envolvidos no processo, num jogo de representações e
significações.
Essas significações alteram-se à medida que as situações de comunicação
vão-se alternando.
As expressões usadas na linguagem verbal, por exemplo “ganham”
significações novas se usadas em contextos diferentes. Baktin (1986) diz que a
linguagem apresenta duas faces:

Na realidade, toda palavra comporta “duas faces”. Ela é determinada


tanto pelo fato de que procede “de” alguém, como pelo fato de que se
dirige “para” alguém. Ela constitui justamente o “produto da interação
do locutor e do ouvinte”.
Toda palavra serve de expressão a “um” em relação ao “outro”.
Através da palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última
análise, em relação à coletividade (...) A palavra é o território comum
do locutor e do interlocutor. (p.113)

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Existe, evidentemente, uma relação entre linguagem e saber. Bem como entre
linguagem e poder.
No que tange ao saber, ela produz saber, é construída pelo saber e proporciona
condições para que o saber seja reproduzido. Sem nenhum rodeio, linguagem é
poder. Domine-se a linguagem dos vários estratos sociais, entenda-se como se
comunicar com o outro, quem quer que seja esse outro, e haverá uma força
influenciadora sobre esse outro.
Em sala de aula, a linguagem será estabelecida sob a regência do professor.
Considerando que qualquer instrumento de/para comunicação constitui linguagem, o
professor definirá quais instrumentos usará a fim de viabilizar o contato com a turma.
Aliás, esse é o objetivo dessas orientações teóricas: ampliar a capacidade de
comunicação do professor, aguçar sua sensibilidade para compreender seus alunos,
ajudando-os em suas descobertas, ajudando-os na construção do conhecimento.
Exercícios são linguagens, pois dizem o que se quer da turma; a disposição das
carteiras em sala é linguagem, pois diz quem ensina e quem aprende, revelam que
para o processo ocorra a contento deve haver hierarquia; o tom de voz do professor
é linguagem, diz se o professor é dado ao diálogo ou se é ditador; se orienta as
descobertas ou pressiona nocivamente.
O olhar dos alunos é linguagem, pois diz de seus temores e anseios; suas
dificuldades de aprendizagem são linguagens, revelam suas dificuldades de
adaptação quer na vida acadêmica quer na social. Ao professor deve interessar a
construção de um agrupamento de linguagens que efetivamente otimize o processo
de ensino e aprendizagem. E isso não é difícil de ocorrer, basta certa aproximação da
turma, entender que ensinar é aproximar-se respeitosamente dos que desejam
aprender.
Nosso tempo é também conhecido como o do advento das mídias. Mídias são
canais; lugares nos quais se veiculam mensagens. O televisor, o computador, os
automóveis, os chamados outdoors, enfim, absolutamente tudo que se torne um
veículo de comunicação torna-se mídia. As inúmeras mídias exigem linguagens
adequadas. A televisão, por exemplo, ao lidar com as imagens exige uma relativa
sincronia entre estas e os textos. Tal adequação deve ser imperativa nas relações de
aprendizagem.
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1. 2. Língua
A língua é um código estruturado, um conjunto organizado de relações adotado
para permitir o exercício da linguagem entre os homens. “É o sistema de expressão
falada particular de tal ou qual comunidade humana” ou, em outros termos, “é todo o
sistema de sons vocais por que se processa numa dada comunidade humana o uso
da linguagem” (MATTOSO CÂMARA apud Proença Filho, 1994, p. 14).
Alguns teóricos, ao proporem suas definições para língua, explicitam a tênue
marca que separa a língua como terminologia da linguagem, cujas definições vimos
anteriormente. Para Celso Cunha, a língua é um sistema gramatical pertencente a um
grupo de indivíduos. Para Saussure, é a linguagem menos a fala, a parte social da
linguagem. Proença Filho (1994, p.14 e 15) argumenta que a língua pode ser
entendida como a realização de uma linguagem, um sistema de signos que permite
configurar e traduzir a multiplicidade de vivências caracterizadoras do modo de ser de
cada um no mundo.
Vive em permanente mutação, acompanha as mudanças da sociedade que a
elege como instrumento primeiro de comunicação. Envolve uma dimensão social. De
acordo com suas próprias palavras:
[...] A língua é um sistema de signos, ou seja, um conjunto
organizado de elementos representativos. Como tal, é regida por
princípios organizatórios específicos e marcados por alto índice de
complexidade: envolve dimensões fônicas, morfológicas, sintáticas e
semânticas que, além das relações intrínsecas, peculiares a cada
uma, são também caracterizados por um significativo inter-
relacionamento.
A rigor, a língua, mais do que um sistema, é um conjunto de
subsistemas que a integram.

A língua pode então ser entendida como a realização de uma linguagem


humana: só existe língua se houver seres humanos que a falem. Para o estudo de
língua portuguesa nas graduações, especificamente nos cursos de licenciaturas,
essas definições têm profunda relevância, uma vez que a língua é, antes de tudo, uma
realização humana, uma atividade psíquica que como tal precisa ser tratada. É ela
ainda o instrumento primeiro nas relações de ensino, o algo de que precisam os
professores para se expressarem, para estabelecerem acordos didáticos, para

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veicularem, num primeiro momento, as atividades, as abordagens necessárias para a


construção do conhecimento.
Considerar o contexto em que se processa o estudo da língua é fundamental.
Sem as devidas considerações, há um enorme risco de se mecanizar o processo:
“temos de fazer um grande esforço para não incorrer no erro de estudar a língua com
uma coisa morta, sem levar em consideração as pessoas vivas que a falam.” (BAGNO,
2001, p. 9).
Convém entender que qualquer das ciências depende, para que seja
compreendida plenamente, da capacidade de interpretação do aprendiz, do
investigador. Sem isso, essas ciências correm o risco de se tornarem práticas
desprovidas de significação, práticas sobre as quais o aluno não consiga erguer
relações com o que ocorre efetivamente ao seu redor.
A língua é notadamente dinâmica. Suas estruturas são frequentemente
abaladas em função da rapidez em que se processam as interações humanas.
Embora se devesse prezar por certo rigor formal, constantemente os falantes se
desviam da normatização. E o fazem por, pelo menos, três motivos: pelo simples
desconhecimento do padrão estabelecido entre os membros da comunidade
linguística; pelo contexto das situações de comunicação; pela intenção de atingir a
mente do receptor que, por sua vez, desconhece o padrão estabelecido.
A língua tem a ver com a vida em sociedade. É um tema político por excelência.
Tratá-la na escola como um assunto longe da vida dos indivíduos é promover uma
espécie de alienação, é enclausurar o homem, é confundir-lhe a mente uma vez que
em sua vida fora da academia acostumou-se a usá-la sem aperreios. Daí a
necessidade de uma nova postura como professor que trabalha tendo como
referencial a língua; daí a importância de se produzir (e não apenas reproduzir!) um
conhecimento sobre a língua.

1. 3. Fala
Em uma mesma comunidade, há variações no uso da língua. Essas variações
constituem a fala. Fala é a utilização individual da língua. Não há língua sem fala, não
há fala fora da língua.

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Para Saussure “é a atividade linguística nas múltiplas e infindáveis ocorrências


da vida do indivíduo”. A fala constitui um ato mental do indivíduo, que ao falar, não
cria linguagem, mas, utiliza o material linguístico que a comunidade lhe ministrou, ou
impôs, fazendo as alterações que julgar necessárias.
No Brasil fala-se a língua portuguesa. Essa língua apresenta uma enorme
variedade de realizações ao longo da extensão geográfica do país. De norte a sul, de
leste a oeste a língua é articulada como resultado (como não poderia deixar de ser)
das diferenças culturais, sociais, econômicas etc. dessas regiões ou comunidade
linguísticas. As heranças culturais, os processos de povoação, as relações dos
membros dessas comunidades entre si, tudo influencia o uso da língua como fala.
Observe-se a fala do paraense e a do amazonense: enquanto este, na fala,
simplesmente ignora o /ñ/ (nhê), aquele o pronuncia com ênfase.
O amazonense fala /farîa/ (para farinha), o paraense fala /fariña/, com o /ñ/
(nhê) bem enfatizado. Isso é fala.
No interior, em algumas regiões ouvimos a expressão “a buca da noite” (à boca
da noite, isto é,no início da noite) ou ainda um “sôco de copôaçô” (suco de cupuaçu).
Os falantes do português no interior do estado do Amazonas fazem naturalmente a
troca do fonema /o/ pelo fonema /u/, ou do fonema /u/ pelo fonema /ô/. E isso está
longe de poder ser determinado como certo ou errado. É simplesmente fala. Há
exemplos dessa natureza em todas as regiões do país. O mineiro do interior costuma
suprimir as últimas sílabas das palavras. Ex.: “Sapassado é’sessetembro.” (“Sábado
passado era sete de setembro.”).
A fala é para alguns a prova de que a língua modifica-se constantemente. Nos
seres humanos, a primeira manifestação concreta da língua é a fala, é ela que, muitas
vezes, vai determinar as alterações na língua, as quais a gramática não consegue
acompanhar.

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1. 4. Linguagem e Gramática
No contexto deste curso, é importante entender que Gramática constitui a
convenção adotada por falantes de uma mesma comunidade linguística para o uso da
língua. É um tratado que expõe as regras da língua. Interessa-lhe a história, o registro
(Gramática Histórica) e a sistematização de uma língua (Gramática Normativa).
Conforme os aspectos sob os quais pretende investigar os fatos da língua, a
Gramática (Normativa) pode ser dividida em Fonética, Morfologia, Sintaxe, Semântica
e Estilística.
Em se tratando de Fonética, os sons da fala, os fonemas, a pronúncia das
palavras, a emissão e articulação dos fonemas, a acentuação tônica e a figuração
gráfica das palavras constituem o objeto de estudo.
No que tange à Morfologia, é a palavra em sua estrutura, formação e flexões,
que irá figurar como alvo de estudo.
As funções das palavras, suas disposições na oração e suas relações entre si
no enunciado constituem o interesse da Sintaxe.
À Semântica cabe o papel de investigar a significação das palavras.
A Estilística trará essencialmente dos diversos processo expressivos,
valorizando a estética e despertando emoção.

Gramática e língua
Arone Bentes

A gramática não deve ser confundida com a língua: esta é dinâmica e aquela é
estática. A língua ao se realizar na fala, transforma-se durante a azáfama das relações
sociais, nas situações do cotidiano. A gramática, por ser resultado de convenções,
mantém-se imutável até que se decida modificá-la (pois estranha e óbvia que possa
parecer essa declaração).
Os membros de uma comunidade linguística estão acostumados a entender
gramática como sendo o manual da língua, como um compêndio a que se recorre
todas as vezes que se pretende falar “corretamente”, de acordo com o padrão
estabelecido pelos falantes. Embora haja necessidade de uma padronização – e a
gramática constitui a personificação dessa padronização –, existem algumas

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orientações gramaticais que não condizem com o que ocorre na efetiva


operacionalização da língua.
Dessa forma, é extremamente importante para o trabalho docente que cada
professor entenda que a gramática (Normativa) não é a língua. É sim uma sugestão
do que deveria ocorrer na língua.
Pode-se falar em pelo menos duas gramáticas1: a natural, resultado das
interações com o meio logo que se começa a usar a língua, quando criança; e a
artificial ou adquirida, que nos é apresentada nos anos de formação escolar, que
orienta o uso da língua e que estabelece padrões e condutas para a articulação oral
ou escrita da língua.
Ao chegar à escola, a criança fala “fluentemente” sua língua pátria. Ela articula
a língua de acordo com as informações que capta ao longo de suas relações com os
falantes (dessa língua). Assim, conforme Perine (apud BAGNO, 2001 p.124) “nosso
conhecimento da língua é ao mesmo tempo altamente complexo, incrivelmente exato
e extremamente seguro”. Nessa experiência, obviamente, a criança se afasta da
prescrição da Gramática Normativa, contudo, na maioria das vezes consegue atingir
seu maior objetivo que é comunicar.
O professor, então, vai conduzir o estudo da língua. Vai mostrar às crianças
algo encantador que é o funcionamento da língua. Vai explicitar os mecanismos; num
sentido metafórico, vai abrir o capô do veículo e mostrar-lhe o motor, as engrenagens,
os sistemas elétricos e hidráulicos etc. A criança, o jovem ou adulto iletrado irão
perceber que a Gramática (Normativa) jamais deve ser concebida como camisa de
força, mas como elo entre os indivíduos e seus pares. Conforme Perine (apud
BAGNO, 2001, p.124):
[...] qualquer falante de português possui um conhecimento implícito
altamente elaborado da língua, muito embora não seja capaz e
explicitar esse conhecimento.
E [...] esse conhecimento não é fruto de instrução recebida na escola,
mas foi adquirido de maneira tão natural e espontânea quanto nossa
habilidade de andar. Mesmo pessoas que nunca estudaram gramática

1 É a linguística Moderna, sobretudo na vertente gerativo-transformacional que chama a atenção para


a diferença entre a gramática dos falantes e dos estudiosos e teóricos. O linguista americano Noam
Chomsky (1928) pesquisador do MIT, é quem melhor se expressa sobre essa questão.

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chegam a um conhecimento implícito perfeitamente adequado da


língua. São como pessoas que não conhecem a anatomia e a fisiologia
das pernas, mas que andam, dançam, nadam e pedalam sem
problemas. A gramática possui uma função reguladora, jamais deve
servir para determinar o que é certo e o que é errado na articulação da
língua. A língua é uma herança adquirida, não um mero saber
secundário, mecânico.

CAPÍTULO II - OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO E AS FUNÇÕES DA


LINGUAGEM

A convivência entre os indivíduos torna-se viável graças à comunicação. Com


esse importante recurso, as pessoas podem interagir umas com as outras, resolvendo
seus problemas e satisfazendo suas necessidades. Comunicar significa simplesmente
expressar-se e ser compreendido. O ato de comunicação constitui um processo
durante o qual se podem perceber, nitidamente, alguns elementos que, ao atuarem
convenientemente, promovem a compreensão. Conheçamos esses elementos:
1. Emissor – É o elemento que inicia o processo. É ele que vai codificar a
mensagem, seu papel é expressar-se de tal forma que o receptor entenda;
2. Receptor ou recebedor – É quem recebe a mensagem do emissor.
Tecnicamente, decodifica a mensagem.
3. Mensagem – Constitui o teor expresso, é o que o emissor emite e que deverá
ser decodificado pelo receptor.
4. Código – É o instrumento usado para comunicar. Nas situações de
comunicação oral, a língua é o código. No nosso caso, o código usado é a Língua
Portuguesa.
5. Canal – É o elemento que conduz a mensagem ao receptor. No texto escrito,
o canal é a folha de papel.
6. Referente – É o assunto de que trata a mensagem. É também o contexto
em que essa mensagem deve estar inserida.
Esses elementos estão presentes nas situações comunicativas. Tanto
naquelas ocasiões em que a linguagem usada é a Língua Portuguesa, quanto
naquelas em que outras linguagens são usadas.
Na rua, por exemplo, o código é outro, não a língua propriamente dita. Se um
motorista, ao chegar a um cruzamento, vir uma luz vermelha num ponto

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estrategicamente localizado, deve parar o veículo que conduz. Isso ocorre porque, o
emissor, no caso o órgão responsável pelo controle do tráfego urbano, emitiu uma
mensagem visual (luz vermelha) para o receptor (motorista) que rapidamente
decodificou a mensagem, entendeu seu referente (pare), através de um canal
(semáforo). O emissor entendeu a mensagem porque tem conhecimento do código
usado que foi o de trânsito. Para que haja comunicação, é necessário que emissor e
receptor dominem, conheçam o mesmo código e estejam no mesmo contexto.
“Há três técnicas de redação: a descrição, a narração e a dissertação. Elas
podem vir misturadas em um mesmo texto, mas, geralmente, uma delas se sobressai.”
(Faulstich). A descrição é uma sequência de aspectos, a narração é uma sequência
de fatos e a dissertação, de ideias.
Dissertar é, portanto, desenvolver um pensamento, um conceito ou dar uma
opinião. Quem disserta procura explicar os fatos, as ideias, apresentando causas,
efeitos, tecendo comentários, comprovando seus argumentos, a fim de convencer o
leitor ou ouvinte. Para tanto, deve ter cuidado na sequência das ideias, na coesão do
texto ou da fala. Observe a sequência de ideias nos textos que se seguem.

Chama o “Aurélio”
Leia:
Certos casos da política, de tão inacreditáveis, acabam virando parte do
anedotário. Ou vice-versa: Algumas piadas traduzem tão bem determinadas
características da cultura política que assumem ares de verdade.
Em uma hipótese se encaixa a correspondência trocada, cerca de 20 anos
atrás, entre o prefeito de Bom Sucesso (MG) e o então secretário estadual do Interior,
Ovídeo de Abreu.
Conta o deputado Elias Murad (PSDB/MG) que Abreu sempre gostou de falar
difícil. Numa certa ocasião, o secretário recebeu a informação de que Bom Sucesso
sofreria um tremor de terra capaz de quebrar copos e trincar pratos. Preocupado,
expediu rapidamente um telegrama ao prefeito: “Movimento sísmico previsto essa
região. Provável epicentro movimento telúrico sua cidade. Obséquio tomar
providências logísticas cabíveis”.

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O secretário esperou ansioso pela resposta. Quatro dias depois chegava o


telegrama do prefeito: “Movimento sísmico debelado. Epicentro preso, incomunicável,
cadeia local. Desculpe demora.
Houve terremoto na cidade”.
[24/11/1992] (Jornal Folha de São Paulo)

Léxico
Vereador em São José da Lage, cidadezinha no norte de Alagoas, Ramiro
Pereira iniciou uma discussão com um colega, em plenário.
Argumento vai, argumento vem, os ânimos se exaltaram, o nível caiu, conta
Cleto Falcão (“Missão Secreta em Igaci”).
Lá pelas tantas, Ramiro disparou:
– V. Exª. é um demagogo!
– E o que é um demagogo? – quis saber o ofendido.
– Sei não. Mas deve ser um cabrinha safado assim da sua marca.
[12/05/1989] (Jornal Folha de São Paulo).

2. 1 - FUNÇÕES DA LINGUAGEM: REFERENCIAL, EMOTIVA E CONATIVA


2.2 - Função referencial ou denotativa:
A função referencial ou informativa, também chamada denotativa ou cognitiva,
privilegia o contexto.
Ela evidencia o assunto, o objeto, os fatos. É a linguagem da comunicação. Faz
referência a um contexto, ou seja, a uma informação sem qualquer envolvimento de
quem recebe. Não há preocupação com o estilo; sua intenção é unicamente informar.
É uma linguagem predominante em textos de jornais, revistas informativas, livros
técnicos e didáticos.
Exemplo:
“Todo brasileiro tem direito à aposentadoria. Mas nem todos têm direitos iguais.
Um milhão e meio de funcionários públicos, aposentados por regimes especiais,
consomem mais recursos do que os quinze milhões de trabalhadores aposentados
pelo INSS.

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Enquanto a média dos benefícios dos aposentados do INSS é de 2,1 salários


mínimos, nos regimes especiais tem gente que ganha mais de 100 salários mínimos”.
(Programa Nacional de Desestatização)

2.3 - Função emotiva ou expressiva:


Quando há ênfase no emissor (1ª pessoa) e na expressão direta de suas
emoções e atitudes, temos a função emotiva, também chamada expressiva ou de
exteriorização psíquica. Ela é linguisticamente representada por interjeições,
adjetivos, sinais de pontuação (tais como exclamação e reticências) e também
agressão verbal (insultos termos de baixo calão), que representa a marca subjetiva
de quem fala.
Exemplos:
“Oh! Como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!”
(Vinicius de Moraes)

“Luís, você é mesmo um burro!”

2.4 - Função conativa ou apelativa:


A função conativa é aquela que busca mobilizar a atenção do receptor,
produzindo um apelo ou uma ordem. Encontra no vocativo e no imperativo sua
expressão gramatical mais autêntica.
Exemplos:
“Seja o que for, seja original, seja guaraná Antárctica!”
“Pelo amor de Deus, me ajude aqui rápido!”
2.5 - FUNÇÕES DA LINGUAGEM: POÉTICA, FÁTICA E METALINGUÍSTICA
Três, inicialmente, eram as funções da linguagem: Referencial, Emotiva e
Conativa. Jacobson reelaborou-as e acrescentou outras três: Poética, Fática e
Metalinguística. Estas seis funções estão intimamente ligadas aos elementos da
comunicação e as usamos em nosso dia-a-dia.

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2.6 - Função Poética


Na função poética, a mensagem é posta em destaque. O emissor tem um
cuidado especial na escolha das palavras, realçando sons que sugerem significados
diversos, para expressar ou enfatizar a sua mensagem.
Exemplos:
“A cor do meu batuque tem o toque e tem o som da minha voz...”
(Chico da Silva)
“Eu quero das matas o valor do silêncio
e o canto dos bichos pra ser um caminho
de paz e oração...”
(Celdo Braga e Eliberto Barroncas)

2.7 - Função Metalinguística


A linguagem tem função metalinguística quando discorre sobre seu próprio
conteúdo. É a linguagem falando da própria linguagem. O dicionário é metalinguístico
por excelência, pois é a linguagem explicando a própria linguagem. Quando um filme
fala sobre a história da pintura, também temos metalinguagem, uma linguagem
explicando outra linguagem.
Exemplo:
“Amor. [Do lat. Amore] s.m. 1. Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de
outrem, ou de alguma coisa: amor ao próximo; amor ao patrimônio artístico de sua
terra. 2. Sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro ser ou a uma coisa;
devoção, culto, adoração...”
(FERREIRA, Aurélio, Buarque de Holanda. Novo Dicionário
da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000)

CAPÍTULO III - A LÍNGUA PORTUGUESA E A GRAMÁTICA

Primeiro as línguas – Surgem primeiro as línguas, depois vêm os


sistematizadores, ou seja, os organizadores das gramáticas. Estas, portanto,

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normatizam baseando-se nos falares ou nos documentos escritos, literários ou não,


da língua que ora surge.
Língua e gramática – Língua e gramática não são a mesma coisa, como
normalmente pensamos. A língua é viva, nasce e morre. A gramática é aquela que
tenta domar a língua para que esta não se deixe crescer desordenadamente.
Origem da língua – A nossa língua portuguesa, oriunda da mistura dos falares
celtiberos; da língua latina principalmente, quer da camada culta, quer da camada
popular; de alguns termos nórdicos e de grande contribuição da língua árabe e das
línguas surgidas nas terras brasileiras, começa a ser falada em torno do século IX, e
os primeiros documentos escritos são encontrados no fim do século XII. A primeira
gramática da língua portuguesa surge em 1536 (século XVI). Isso prova a existência
de uma língua viva sem a prisão gramatical.
Função da gramática – A gramática, no entanto, não pode ser, simplesmente,
condenada. Ela torna-se necessária a fim de que a língua, código oficial de um país e
falada pelo povo, seja normatizada para que todos se entendam.
Valor das normas – As sociedades criam seus códigos, e as pessoas que
nelas vivem tentam compreender e, na medida do possível, seguem essas normas.
Assim, nós, usuários da língua portuguesa, ao nos escolarizarmos, aprendemos os
fundamentos básicos da gramática normativa para bem nos expressarmos, falando
ou escrevendo.
Modificações – Não devemos, portanto, colocar os valores gramaticais acima
dos valores da língua.
Esta, por ser viva, modifica-se; a gramática, polícia desta língua atuante, tenta
freá-la para que a mesma não se desvirtue.
Influência das regras – É comum ouvirmos algumas pessoas dizerem que
detestam português.
Notamos que estes seres se referem às normas gramaticais. As regras são
desprezadas por causa do abuso da nomenclatura exigida por alguns professores que
não entendem o verdadeiro valor do ensino da língua pátria. Ensinar a bem usar a
língua portuguesa não significa encher a cabeça dos educandos de regras que nem
sempre são apreendidas pelos mesmos.

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A nossa gramática, segundo a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB –


1957), divide-se em:
a) Fonética.
b) Morfologia.
c) Sintaxe.
Além dessas, as gramáticas normativas podem trazer outros
componentes:
a) Semântica – Trabalha a significação dos vocábulos.
b) Estilística – Trata da polissemia da linguagem.
c) Fonética- Trata dos sons vocálicos e consonantais, dos encontros
vocálicos, dos encontros consonantais e dos dígrafos. Estuda a sílaba, a tonicidade,
a ortoepia – ou ortoepia – (pronúncia correta dos fonemas), a prosódia (correta
entoação dos vocábulos) e a ortografia.
Morfologia – Trabalha com as palavras. Apresenta a estrutura dos vocábulos,
a formação destes, as flexões (masculino, feminino, singular, plural) e a classificação
das dez categorias gramaticais.
Sintaxe – Tida como socializadora das palavras no contexto frasal, apresenta-
nos a concordância (nominal e verbal), a regência (nominal e verbal), o uso do acento
indicador da crase e a colocação dos pronomes oblíquos átonos em relação ao verbo.
Além desses aspectos trabalha com a análise sintática, isto é, a análise dos
elementos componentes de uma frase.
A gramática, segundo definição de Silveira Bueno, “é, pois, a ciência que
codifica e sistematiza as regras do idioma, baseando-se na observação dos fatos da
linguagem viva do país.” (Silveira Bueno, 1968, p. 16)

CAPÍTULO IV - O LER E O ESCREVER


4. 1 - O Ler
Ler é decifrar o significado de cada símbolo linguístico, ou seja, significado das
palavras. Os signos valem de acordo com o contexto da frase onde estão inseridos.
Ao lermos jornais, revistas ou livros, estamos, normalmente, em busca de informação
ou distração. Esses textos produzidos pela humanidade, ao longo de sua história, se

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nos apresentam em forma de prosa (página cheia) ou de poema (verso) e podem ser
informativos ou literários.

4. 2 - O Escrever segundo Clarice


Para a romancista e contista Clarice Lispector, o ato de “escrever é uma
maldição”. Porém “é uma maldição que salva”. Quando questionada sobre o “como se
escreve?”, responde: “Sei que a resposta, por mais que intrigue, é a única:
escrevendo”.

CAPÍTULO V - A NARRAÇÃO
Uma palavra que pode facilmente identificar o texto narrativo é a palavra ação.
As narrativas são de natureza dinâmica. Narrar é reproduzir com detalhes fatos reais
ou inventados numa sequência que verdadeiramente interesse ao leitor.
O texto narrativo é caracterizado pela ação de personagens, que atuam regidas
por uma lógica que envolve:
a) as personagens e suas respectivas ações;
b) a atuação do narrador;
c) a cadência dos acontecimentos, que é o enredo;
d) o tempo em que ocorrem essas ações;
e) os espaços, que são os lugares em que as ações ocorrem.
É importante salientar que o texto narrativo é resultado dessa inter-relação de
personagens, espaço, tempo, ação e narrador. Esse conjunto proporciona ao texto o
significado de que precisa para existir e para, consequentemente, atrair o leitor.

5. 1. Elementos do texto narrativo


Os elementos do texto narrativo são aqui apresentados tendo como base uma
narrativa de enredo linear, aquela com início, meio e fim. Há, evidentemente,
narrativas complexas em que o tempo e o espaço, por exemplo, não estão claramente
determinados.
Personagens – Elementos que atuam no texto.
Podem ser:

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a) Protagonistas (seres que o ocupam o primeiro lugar na história).


b) Antagonistas (opostos dos protagonistas; geralmente agem a fim de anular
as ações dos protagonistas).
c) adjuvantes ou coadjuvantes (personagens que auxiliam tanto
protagonistas quanto antagonistas).
Nos textos narrativos, os papéis de protagonista, antagonista ou coadjuvante
podem ser desempenhados por grupos ou por apenas um indivíduo;
Tempo – Momento em que as ações se desenvolvem. Deve ser muito bem
determinado no texto.
Espaço/ambiente – Lugar em que as ações se desenvolvem. Deve estar
determinado no texto.
Enredo – A cadência em que se desenvolvem as ações. Há enredos lineares
(com início, meio e fim) e enredos não-lineares. (os que quebram essa cadência. A
obra Memórias póstumas de Brás Cubas, do genial Machado de Assis, quebra essa
estrutura ao iniciar-se pelo fim da história. O personagem principal morre, e, do túmulo,
narra sua história.).
Narrador – Ser que conta a história. Pode participar da história como
personagem (narrador-personagem) ou ficar “de fora” narrando o que se passa.
O narrador eventualmente tem o poder de conhecer o pensamento das
personagens (narrador onisciente); geralmente pode estar em todos os lugares ao
mesmo tempo (narrador onipresente).

5. 2. Divisão do texto narrativo


Novamente, vamos tomar por base o texto de enredo linear.
Tecnicamente, o texto narrativo é dividido em:
Apresentação – Um momento em que o redator apresenta os personagens,
situando no tempo e no espaço as ações que começam a se delinear.
Nessa parte, o redator faz a descrição física e psicológica das personagens,
descreve o ambiente e localiza o tempo em que se desenrolará o enredo.
Também nessa parte, pode-se perceber se o narrador participa da história ou
se apenas conta, sem participar, o que se desenvolve.

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Complicação – Constitui a quebra de uma certa harmonia existente entre


personagens, ações, tempo e ambiente. Nas histórias infantis, percebe-se claramente
esse momento, por meio de algumas expressões usadas, como: “Tudo ia bem,
quando de repente...”; “Até que um dia...”, etc.
Clímax – É o ponto culminante da narrativa. É o momento para o qual parecem
ter convergido todas as ações. É quando as personagens se encontram para a
decisão final, quando os motivos são revelados, as intenções conhecidas. O clímax é
a ocasião mais “atraente” do texto; quase sempre, antecede a última parte da
narrativa.
Desfecho – É a parte final. As forças alcançam repouso. Uma nova harmonia
é apresentada, uma vez que as personagens, o tempo, e o ambiente alteraram-se
durante o processo.

5. 3. A produção do texto
Como foi dito anteriormente, a palavra ação pode resumir as definições para o
texto narrativo.
Dessa forma, depreende-se que os verbos de ação devem prevalecer no texto.
O texto narrativo torna-se interessante porque nele o autor pode – e deve – “mostrar”
os acontecimentos. O leitor sente-se, assim, envolvido de tal forma com o texto, que
passa a “conviver” com as personagens e “sentir” o que elas sentem ao viver as
experiências narradas.
Vejamos algumas sugestões gramaticais para a construção desse tipo de texto.
A apresentação é caracterizada, pelo uso de verbos que indicam estado ou
qualidade (ser, estar, parecer, etc). Como nesta parte também se apresenta o tempo
e o ambiente, convém usar algumas expressões que deem ideia de tempo e de
espaço, como preposições, advérbios, adjetivos.

CAPÍTULO VI - A DESCRIÇÃO
Descrever é mostrar com palavras aquilo que se viu, sentiu, observou ou
imaginou.
Para descrever, o emissor capta a realidade através de seus sentidos e,
utilizando os recursos da linguagem, transmite-a de tal maneira que o receptor é
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capaz de identificá-la. Dessa forma, ocupam lugar de destaque na frase o


substantivo e o adjetivo, uma vez que o ser, o objeto ou o ambiente são os
aspectos mais importantes, ao lado de suas caracterizações.
Descrever não é copiar friamente, mas é dar vida àquilo que está sendo descrito
e enriquecê-lo com as emoções do emissor. A descrição é estática, e os verbos de
ação e movimentos são secundários.
Devem-se valorizar os processos verbais não-significativos, ou seja, os verbos
de ligação.
A linguagem descritiva deve, enfim, traduzir o ver, o sentir, o ouvir, o cheirar, o
degustar.

CAPÍTULO VII - A DISSERTAÇÃO


“Há três técnicas de redação: a descrição, a narração e a dissertação. Elas
podem vir misturadas em um mesmo texto, mas, geralmente, uma delas se sobressai.”
(Faulstich).
A descrição é uma sequência de aspectos, a narração é uma sequência de
fatos e a dissertação, de ideias.
Dissertar é, portanto, desenvolver um pensamento, um conceito ou dar uma
opinião. Quem disserta procura explicar os fatos, as ideias, apresentando causas,
efeitos, tecendo comentários, comprovando seus argumentos, a fim de convencer o
leitor ou ouvinte. Para tanto, deve ter cuidado na sequência das ideias, na coesão do
texto ou da fala.

CAPÍTULO VIII - A ESTRUTURA DO PARÁGRAFO

Parágrafos são blocos de textos que servem de divisão para melhor explicitar
ao leitor o que se quer transmitir. No papel, eles se caracterizam:
a) Por um ligeiro afastamento da primeira linha da margem esquerda. Sabe-se
que um parágrafo terminou e outro foi iniciado pela mudança de linha e pelo retorno à
margem que se convencionou para o parágrafo.
b) Modernamente, podem-se separar os parágrafos por espaços em branco
entre eles.

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As partes principais do parágrafo padrão são chamadas de:


a) tópico frasal (o enunciado da ideia que o parágrafo irá tratar);
b) desenvolvimento (as frases que irão expressar o pensamento do autor
sobre a ideia enunciada anteriormente);
c) conclusão (o arremate daquela ideia apresentada).

CAPÍTULO IX -
A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA NA ABORDAGEM DA VARIAÇÃO
LINGUÍSTICA
Ao contrário do que muitos predizem o objeto da Psicopedagogia não é a
dificuldade de aprendizagem, mas sim, o processo de aprendizagem. Mas, como este
é um objeto multifacetado, há uma busca contínua de aprofundamento em teorias que
deem conta do ser humano em constante movimento, imerso em um universo de
possibilidades de aprendizagens.
Segundo Weiss (2012, p. 103), “a psicopedagogia busca a melhoria das
relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da
própria aprendizagem de alunos e educadores”. É interessante o diálogo que este
autor consolida com outros como Rubinstein (1992, p. 103), ao dizer que:
[...] num primeiro momento a Psicopedagogia esteve voltada para a
busca e o desenvolvimento de metodologias que melhor atendessem aos
portadores de dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação ou a
remediação e desta forma promover o desaparecimento do sintoma. E, ainda,
a partir do momento em que o foco de atenção passa a ser a compreensão do
processo de aprendizagem e a relação que o aprendiz estabelece com a
mesma [com esta], o objeto da psicopedagogia passa a ser mais abrangente:
a metodologia é apenas um aspecto no processo terapêutico, e o principal
objetivo é a investigação de etiologia da dificuldade de aprendizagem, bem
como a compreensão do processamento da aprendizagem, considerando
todas as variáveis que intervém neste processo.
As declarações dos dois autores citados acima acerca do objeto da
Psicopedagogia conduz-nos a compreensão de que o importante é o estudo da
aprendizagem humana; mas não há um único caminho para esse fim. De acordo com
Freire (2004), somos seres da inquietude, logo, o indivíduo precisa estar sempre em
busca de inovações e melhorias em prol da sua prática e seu comportamento.
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No campo institucional, o psicopedagogo atua de maneira inovadora e


diferenciada na prevenção dos insucessos interpessoais, de aprendizagem, e para
um ambiente harmonioso, visando a melhoria e o sucesso da qualidade das relações
humanas.
Um dos maiores problemas apresentados na comunidade escolar se refere à
questão da aprendizagem humana. Referindo aos aspectos que condizem ao fracasso
escolar, às dificuldades de aprendizagem, aos distúrbios de aprendizagem e de
comportamento.

CAPÍTULO VIII
INTERVENÇÃO EM DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA
Os Psicopedagogos podem, entre outras atividades, orientar os professores a
sistematizar as atividades diárias dos alunos de modo a que estes sejam expostos a
situações de linguagem, tais como: conversações, dramatizações, relatos, reescrita
de textos, reconstruções de seus próprios textos; ambiente participativo no qual o
aluno não tenha receio de fazer perguntas sobre a grafia das palavras, que não vejam
o “erro” como insuficiências suas, mas como oportunidade de aprendizado; momentos
lúdicos com as palavras, diversificando-as quanto ao tipo de letra representativa de
sons diferentes, significados diversos, entre outros aspectos fonéticos, sintáticos e
semânticos; construção de portfólios (glossários) com palavras e seus significados,
com ilustrações feitas por elas para melhor compreensão dos vocábulos

Referências
BAGNO, M.; STUBBS, M.; GAGNÉ, G. Língua Materna: Letramento, variação e ensino. São Paulo:
Parábola Editorial, 2002. BASSO, R. M.; OLIVEIRA, R. P. de.
CÂMARA Jr. J. Mattoso. 1939-1940. "Lições de linguística geral". Revista de Cultura 25: 99-104, 183-
189, 216-222,
FRANCHI, Eglê. A redação na escola: e as crianças eram difíceis. São Paulo, Martins Fontes, 2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2004.
OLIVEIRA, Mari Ângela C. Intervenção Psicopedagógica na Escola. Curitiba: IESDE, 2006. SOARES,
Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 2002. WEISS, Maria Lúcia L.
Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de
Janeiro: Lamparina, 2012.

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