de Língua Portuguesa IV
Propaganda e Turismo
Outro ponto importante abordado no livro é a análise da linguagem não como uma
investigação policial onde deve-se saber a identidade do autor e verificar suas reais
intenções com o texto. Analisar a linguagem é identificar a ideologia por trás das
palavras, ou seja, ver o que o autor-narrador quis passar com o texto e não o autor-
pessoa. É importante também lembrar-se que não existe conhecimento neutro portanto
um texto ou um discurso é sempre a expressão de um ponto de vista a respeito da
realidade.
José Luiz Fiorin, a partir do quinto capítulo, discorre sobre a utilização da língua e suas
regras para fazer um discurso, ou seja, combinar frases que exprimam nosso
pensamento, enquanto o real alvo da comunicação é a fala, a exteriorização psico-
físico-fisiológica da pessoa. Portanto utilizamos a língua como forma de transmissão de
um pensamento, assim a importância real de um discurso é sua mensagem e não
exatamente sua composição.
Outro fator apresentado no livro são as várias formas de se falar a mesma coisa,
utilizando o sentido figurativo, metáforas, etc. Para entender essas formas de
linguagem, o leitor precisa entrar no submundo das palavras e relacioná-las a um
contexto, muitas vezes é necessário possuir uma bagagem teórica ou cultural para que
se possa compreender o que está escrito naquelas linhas, aí a importância do meio em
que se comunica e saber se direcionar bem ao público, sabendo seu conhecimento e
sua cultura.
Também é apresentada a teoria de Engels, o qual afirma que não existe pensamento
sem linguagem. De fato, o pensamento é baseado nos signos pré-existentes, porém
quantas vezes pensamos em algo e não sabemos que palavra utilizar para expressar
aquele pensamento? A atribuição de um pensamento pré-verbal parece mais clara ao
responder esta questão, pensamos independentemente do signo porém apenas
conseguimos concretizar estes pensamentos com a linguagem, ou seja, com um
pensamento verbal. Neste caso a definição de Shaff é bastante apropriada:
"pensamento e linguagem são dois aspectos de um único processo: o do conhecimento
do mundo, da reflexão sobre esse conhecimento e da comunicação de seus resultados.
Ainda retratando o discurso, o autor cita Bakthin, o qual ao afirmar que o discurso não é
a expressão da consciência e sim a mesma é formada pelo conjunto de discursos
absorvidos pelo indivíduo ao longo dos anos, confirma o fato socioideológico da
consciência. Isso quer dizer que nossa consciência na verdade foi formada ao longo do
tempo, cada discurso que nos agrada contribui posteriormente para a formação da
consciência e assim reproduzimos aquele discurso como se fosse de nossa autoria, o
que de fato acontece porém influenciado por vários pensamentos previamente
absorvidos. Essa tese de que a consciência seja social não necessariamente acaba
com o conceito de individualidade e singularidade da pessoa, mesmo porque esta
individualidade está presente no filtro que fazemos para saber quais discursos serão
aproveitados e na mistura destes vários pensamentos. Além do mais, o discurso é a
reação linguística dos acontecimentos, apenas um reflexo do pensamento de uma
pessoa, portanto o discurso é uma reprodução.
Segundo Fiorin, seria um erro porém atribuir essa socialização também a linguagem já
que cada pessoa expressa um pensamento de um jeito diferente. Prova disto são as
adaptações de livros ao cinema: como a linguagem se adapta de acordo com a pessoa,
o meio e para quem se fala, o roteirista do filme pode até ser o autor do livro porém terá
de usar uma narrativa bastante diferente para que aquela história (que é uma
representação de discursos que formam sua consciência) possa ser filmada. Para isso
a linguagem se desvencilha das palavras e passa a compor as cores, o som, o cenário
e todas as outras composições do filme. O mesmo recurso pode ser utilizado nas
composições textuais com o uso de figuras de linguagem com a aliteração e a
sinestesia, como bem exemplificado no texto com o poema "I-Juca Pirama" de
Gonçalves Dias.
Apesar da real influência do social no discurso, a afirmação "o indivíduo não pensa e
não fala o que quer, mas o que a realidade impões que ele pense e fale" parece
equivocada. Como discursos revolucionários para a época como de Gandhi e Martin
Luther King podem ter sido impostos e não uma análise individual? A análise crítica da
indivíduo existe, porém ela se constitui a partir dos conflitos e das contradições
existentes na realidade.
José Luiz Fiorin conseguiu como poucos apresentar várias teorias que juntas se tornam
algo único, de forma leve e bastante exemplificada seu livro é um grande primeiro
passo para o entendimento e melhor utilização do discurso e suas formas discursivas.
Para finalizar é interessante reproduzir a análise feita sobre o papel da comunicação na
sociedade: "o enunciador, quando comunica algo, visa agir no mundo e influir sobre os
outros". Portanto a forma que se expõe seus pensamentos é crucial para que uma
comunicação seja efetiva e possa atuar na mente das pessoas, é imprescindível a
ponderação do que se comunicar visto o poder devastador da comunicação como um
instrumento de persuasão, e isso é feito magnificamente pelo autor ao longo do texto.