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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES


DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES PÚBLICAS, PUBLICIDADE E TURISMO
LÍNGUA PORTUGUESA IV (LINGUAGEM PUBLICITÁRIA)
PROFª. MARINA NEGRI

Resenha crítica do livro


"Linguagem e Ideologia" de José
Luiz Fiorin

Jean Michel Gallo Soldatelli

Número USP - 6441052

SÃO PAULO, NOVEMBRO/2009


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES

DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES PÚBLICAS, PROPAGANDA E TURISMO

LÍNGUA PORTUGUESA IV (LINGUAGEM PUBLICITÁRIA)

PROF. MARINA NEGRI

Resenha crítica do livro


"Linguagem e Ideologia" de José
Luiz Fiorin

Trabalho referente à disciplina

de Língua Portuguesa IV

do Departamento de Relações Públicas,

Propaganda e Turismo

da Escola de Comunicações e Artes

da Universidade de São Paulo.

Orientado pela professora Marina Negri

Realizado pelo aluno

Jean Michel Gallo Soldatelli.

SÃO PAULO, NOVEMBRO/2009


O livro trata no geral das formações discursivas, suas constituições e influência nas
relações da sociedade. Primeiramente é abordada a linguagem como mediadora entre
homens e natureza e homens e outros homens, a linguagem carrega não só os
significados mas também os signos, ou seja, a cultura e os costumes de cada um.
Como a linguagem carrega a cultura e os costumes de cada um ela é flexível ao uso de
determinadas pessoas ou segmentos sociais, portanto apesar de na maioria das vezes
alguns segmentos sociais usarem de forma errada as regras gramaticais não se pode
considerar erradas suas práticas linguísticas já que conseguem transmitir seus
pensamentos da mesma forma. Se assemelha a condenar como errado um dialeto
geográfico como os muitos resultados da diversidade cultural brasileira.

O autor defende que quem possuí conhecimento linguístico possuí também a


capacidade de "manipular" a massa, exemplificando com os discursos gregos que
eram vistos como poder e evolução em relação àqueles que não possuíam uma boa
retórica. Esta afirmação realmente traduz um hábito da sociedade de venerar o
conhecimento e traduzí-lo como respeito, porém é importante salientar que a
capacidade de domínio linguístico não está ligada ao conhecimento gramatical,
exemplo disto é o presidente Lula, apesar de não possuir um conhecimento
considerável das regras da língua portuguesa consegue mobilizar massas por seu
considerável domínio do discurso.

Outro ponto importante abordado no livro é a análise da linguagem não como uma
investigação policial onde deve-se saber a identidade do autor e verificar suas reais
intenções com o texto. Analisar a linguagem é identificar a ideologia por trás das
palavras, ou seja, ver o que o autor-narrador quis passar com o texto e não o autor-
pessoa. É importante também lembrar-se que não existe conhecimento neutro portanto
um texto ou um discurso é sempre a expressão de um ponto de vista a respeito da
realidade.

José Luiz Fiorin, a partir do quinto capítulo, discorre sobre a utilização da língua e suas
regras para fazer um discurso, ou seja, combinar frases que exprimam nosso
pensamento, enquanto o real alvo da comunicação é a fala, a exteriorização psico-
físico-fisiológica da pessoa. Portanto utilizamos a língua como forma de transmissão de
um pensamento, assim a importância real de um discurso é sua mensagem e não
exatamente sua composição.

Outro fator apresentado no livro são as várias formas de se falar a mesma coisa,
utilizando o sentido figurativo, metáforas, etc. Para entender essas formas de
linguagem, o leitor precisa entrar no submundo das palavras e relacioná-las a um
contexto, muitas vezes é necessário possuir uma bagagem teórica ou cultural para que
se possa compreender o que está escrito naquelas linhas, aí a importância do meio em
que se comunica e saber se direcionar bem ao público, sabendo seu conhecimento e
sua cultura.

Para retratar a presença da ideologia no discurso o autor representa as mudanças


comportamentais e sociais com a associação as mudanças de modo de produção,
ligado assim diretamente a economia. Afirma portanto que a economia/modo de
produção determina as ideias e os comportamentos dos homens. No modo de
produção feudal por exemplo a ideia de igualdade entre os homens não existia, visto
que a escravidão era uma prática comum, uma lei; já no capitalismo, por exemplo, que
defende a igualdade entre os homens, esta prática é inaceitável. Podemos inferir
portanto que a ideologia é portanto uma combinação entre a cultura e as leis com o
modo de produção/econômico vigente. Vale lembrar que a ideologia dominante de uma
sociedade é reflexo da ideologia da classe dominante da mesma.

Também é apresentada a teoria de Engels, o qual afirma que não existe pensamento
sem linguagem. De fato, o pensamento é baseado nos signos pré-existentes, porém
quantas vezes pensamos em algo e não sabemos que palavra utilizar para expressar
aquele pensamento? A atribuição de um pensamento pré-verbal parece mais clara ao
responder esta questão, pensamos independentemente do signo porém apenas
conseguimos concretizar estes pensamentos com a linguagem, ou seja, com um
pensamento verbal. Neste caso a definição de Shaff é bastante apropriada:
"pensamento e linguagem são dois aspectos de um único processo: o do conhecimento
do mundo, da reflexão sobre esse conhecimento e da comunicação de seus resultados.
Ainda retratando o discurso, o autor cita Bakthin, o qual ao afirmar que o discurso não é
a expressão da consciência e sim a mesma é formada pelo conjunto de discursos
absorvidos pelo indivíduo ao longo dos anos, confirma o fato socioideológico da
consciência. Isso quer dizer que nossa consciência na verdade foi formada ao longo do
tempo, cada discurso que nos agrada contribui posteriormente para a formação da
consciência e assim reproduzimos aquele discurso como se fosse de nossa autoria, o
que de fato acontece porém influenciado por vários pensamentos previamente
absorvidos. Essa tese de que a consciência seja social não necessariamente acaba
com o conceito de individualidade e singularidade da pessoa, mesmo porque esta
individualidade está presente no filtro que fazemos para saber quais discursos serão
aproveitados e na mistura destes vários pensamentos. Além do mais, o discurso é a
reação linguística dos acontecimentos, apenas um reflexo do pensamento de uma
pessoa, portanto o discurso é uma reprodução.

Por essa individualidade da forma de discursar é prescindível discordar dos filósofos


que afirmam que a linguagem cria uma imagem do mundo. Como a linguagem pode
criar uma visão do mundo se ela passa pelo filtro pessoal do indivíduo antes de ser
exteriorizada? A linguagem na verdade pode ser considerada como a visão de mundo
de uma determinada pessoa, que não necessariamente representa uma classe, cultura,
e muito menos a humanidade.

Segundo Fiorin, seria um erro porém atribuir essa socialização também a linguagem já
que cada pessoa expressa um pensamento de um jeito diferente. Prova disto são as
adaptações de livros ao cinema: como a linguagem se adapta de acordo com a pessoa,
o meio e para quem se fala, o roteirista do filme pode até ser o autor do livro porém terá
de usar uma narrativa bastante diferente para que aquela história (que é uma
representação de discursos que formam sua consciência) possa ser filmada. Para isso
a linguagem se desvencilha das palavras e passa a compor as cores, o som, o cenário
e todas as outras composições do filme. O mesmo recurso pode ser utilizado nas
composições textuais com o uso de figuras de linguagem com a aliteração e a
sinestesia, como bem exemplificado no texto com o poema "I-Juca Pirama" de
Gonçalves Dias.
Apesar da real influência do social no discurso, a afirmação "o indivíduo não pensa e
não fala o que quer, mas o que a realidade impões que ele pense e fale" parece
equivocada. Como discursos revolucionários para a época como de Gandhi e Martin
Luther King podem ter sido impostos e não uma análise individual? A análise crítica da
indivíduo existe, porém ela se constitui a partir dos conflitos e das contradições
existentes na realidade.

Próximo do fim do texto o autor aborda a questão da linguagem como parte da


superestrutura e discorre sobre o marrismo e as teorias de Stálin. O marrismo defende
a linguagem como parte da superestrutura afirmando que no início a comunidade
primitiva se comunicava por gestos enquanto os feiticeiros se comunicavam por
grunhidos. Com isso eles se mostravam superiores e assim quanto mais grunhidos
faziam mais admirados eram. Assim a tese defende que a língua teve origem no desejo
de dominação de uma classe social a outra, portanto se uma classe, que era
desenvolvida, não consegue acompanhar o desenvolvimento de outras ela mantém
seus códigos linguísticos pois se distancia da fonte de mudanças, as classes que estão
se desenvolvendo. Porém Marr foi desmentido em vários pontos e hoje sua tese é
tratada com descrença. Já Stálin defende o "marxismo linguístico", ou seja, a língua
não possuí um caráter de classe portanto não é um fenômeno de superestrutura. Esta
discussão é válida para acabarmos com o preconceito existente com línguas mais ou
menos desenvolvidas, porém é inevitável afirmar que a formação do discurso se dá de
forma diferente de uma classe para outra. Mais que isso, os dialetos são provas da
diferenciação dos discursos e da uniformização da língua.

José Luiz Fiorin conseguiu como poucos apresentar várias teorias que juntas se tornam
algo único, de forma leve e bastante exemplificada seu livro é um grande primeiro
passo para o entendimento e melhor utilização do discurso e suas formas discursivas.
Para finalizar é interessante reproduzir a análise feita sobre o papel da comunicação na
sociedade: "o enunciador, quando comunica algo, visa agir no mundo e influir sobre os
outros". Portanto a forma que se expõe seus pensamentos é crucial para que uma
comunicação seja efetiva e possa atuar na mente das pessoas, é imprescindível a
ponderação do que se comunicar visto o poder devastador da comunicação como um
instrumento de persuasão, e isso é feito magnificamente pelo autor ao longo do texto.

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