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RESUMO: Este artigo apresenta uma breve reflexão sobre a ligação entre linguagem, cultura e
educação. Sabemos que há uma grande importância da oralidade e da escrita na formação de
cidadãos pensantes e agentes de sua própria história, por isso buscamos compreender e criticar as
formas de linguagem oral e escrita que, muitas vezes, são realizadas por profissionais de
educação, em especial, os de língua portuguesa, de forma a não valorizar a cultura trazida pelo
aluno, além de gerar preconceitos e exclusão social. Mesmos havendo diferença entre a forma de
falar e escrever sabemos que isso não é motivo de exclusão e é também a partir dessa concepção
que esse trabalho vem refletir. Nesta reflexão mostro também que mudar o sistema educacional
vigente é uma necessidade urgente e um processo complexo. Urgente por já não se admitir mais a
exclusão e os preconceitos veiculados no âmago das escolas; complexo por envolver mudanças
não só no sistema educacional, mas principalmente nos seres humanos envolvidos direta e
indiretamente em seus propósitos. Mudar um sistema é uma tarefa razoavelmente difícil; mudar
o ser humano, apesar de possível e viável, uma ambigüidade; mudar o mundo, quiçá, uma utopia,
mas utopias existem e acreditar nelas é alimentar um sonho eternamente, num sentido intenso e
retilíneo, no intuito de torná-los grandes o bastante para se converterem em realidade.
ABSTRACT: This article presents a brief reflection about the connection among language,
culture and education. We know that there is a great importance of the oralidade and of the
writing in the formation of citizens pensantes and agents of its own history, that we looked
for to understand and to criticize the forms of oral language and writing that, a lot of times,
they are accomplished by education professionals, especially, the Portuguese-speaking, in way to
not to value the culture brought by the student, besides generating prejudices and social
exclusion. Same having difference among the form of to speak and to write knows that that is
not exclusion reason and it is also starting from that conception that that work comes to
contemplate. In this reflection we also showed that to change the effective educational system
it is an urgent need and a complex process. Urgent for no longer to admit more the exclusion and
the prejudices transmitted in the pulp of the schools; complex for involving changes not only in
the educational system, but mainly in the direct involved human beings and indirectly in its
purposes. To change a system is reasonably a task difficult; to change the human being, in spite
of possible and viable, an ambiguity; to change the world, maybe, an utopia, but utopias exist
and to believe in them is eternally alimentary a dream, in an intense sense and retilíneo, in the
intuito of turning them big enough for if they convert in reality.
Bakhtin é visto como um teórico que ironiza a linguagem formal como forma de
expressão. Este autor busca uma interação entre o homem e a língua, e se utiliza dos
sentimentos, da criatividade, da história, da expressão, da palavra para a compreensão do
signo imaginário e simbólico. Nesse sentido, Kramer (1993, p. 103) aponta que “a
linguagem é produção humana acontecida na história; produção que - construída nas
interações sociais, nos diálogos vivos - permite pensar as demais ações e a si própria,
constituindo a consciência”.
Bakhtin (1995) compreendeu também a linguagem no aspecto ideológico e social.
Nesse sentido, entende-se que a linguagem representa conceitos de comunicação, idéias,
significados e pensamentos. Na prática educativa, essa linguagem pode ir além das
capacidades faladas e escritas, podendo ser representadas por brincadeiras, gestos etc. É
importante salientar que os universos discursivos atrelados às múltiplas linguagens
permitem o desenvolvimento de práticas multidisciplinares, proporcionando um cenário
de compreensão de uma dimensão pluralista e interativa. “A linguagem é um fenômeno
plural” (TEIXEIRA, 1996, p. 184), e a função interativa da linguagem dá-se por meio do
aspecto histórico-social. Ela é transformadora no sentido de constituir a relação entre
homem e realidade natural e social.
Percebe-se que a linguagem está ligada à questão social, não podendo esta ser
dissociada da sociedade, pois ambas se formam concomitantemente. Segundo
Orlandi (2001, p. 19), “o sujeito não se apropria da linguagem num movimento
individual. A forma dessa apropriação é social. Nela está refletido o modo como o
sujeito o fez, ou seja, sua interpretação pela ideologia”.
Segundo Borba (2003, p. 45) “a linguagem humana é apenas uma aptidão ou
capacidade que se manifesta por meio de conjuntos organizados e que se chama língua e
de que as comunidades se servem para a interação social”. Mas essa linguagem que se
manifesta através da língua tem seus empregos, pode ser verbal ou não verbal. A
linguagem verbal é estudada pela lingüística, onde se destaca o teórico Saussure. Essa
passou a ser uma área de estudo muito focada pelos filósofos e não demorou a
Saussure se destacar e passar a ser conhecido como o pai da lingüística moderna
(ORLANDI, 2003). Saussurre definiu a língua como objeto específico dessa ciência.
Na época (final do século XIX) esse fato chamou a atenção da sociedade, pois
desvendou-se que a língua recobria vários objetos, entre eles, de que é um meio de
comunicação, é um fato histórico-cultural e um sistema de signos. Em seus estudos ele
fez uma importante distinção entre a língua e a fala.
A lingüística é estudada sob o aspecto da fala e da escrita. Conforme Cagliari
(2002, p. 52) “é preciso ter sempre em mente o que pertence à fala e o que pertence à
escrita”. Normalmente, faz-se confusão quanto a maneira de falar e de escrever, mas
temos que ter emmente que são duas realidades diferentes. Muitas vezes, fala-se de
uma forma, escreve-se de outra. Entendemos que existe diferença entre a fala e a escrita
e isso varia de sociedade para sociedade.
Para Borba (2003, p. 46):
Borba (2003) ainda faz relação da língua e da fala, dizendo que a língua se altera
pela fala, pelo uso individual, que se transforma através dos tempos porque os falantes
inovar a forma de falar. Assim, língua e fala não existem separadamente; uma supõe a
outra. “A relação entre ambas se pertence por ser a língua indispensável para que a fala
produza seus efeitos, e a fala é necessária para que a língua se estabeleça” (p. 47).
Quanto a fala e a escrita elas têm suas diferenças que, muitas vezes, são
exigências de uma determinada sociedade e é reflexo dessa sociedade. A fala e a escrita
também têm sua importância, pois “uma língua vive na fala das pessoas e só aí se realiza
plenamente. A escrita preserva uma língua como um objeto inanimado, fossilizado. A
vida de uma língua está na fala” (CAGLIARI, 2002, p. 52).
Quanto ao uso da escrita em nosso contexto Kato (1999) fala dos contrastes
existentes entre a língua oral e a língua escrita no Brasil e que o povo brasileiro na
linguagem oral “foge” das regras prescritivas gramaticais. Quanto a esse contraste nos
deparamos com duas possíveis explicações: a “heterogeneidade em termos de
desenvolvimento sócio-econômico-educacional”; e, “as regiões urbanas deverão ter
sua estratificação social refletida no seu quadro de uso da língua escrita” (p. 39), o
que leva a uma variação lingüística.
Souza (1995) nos diz que o termo cultura deriva do verbo latino colere, que
significa “cultivar”; “honrar”; “tomar conta”; e “cuidar”. Assim, cultura inclui um
conjunto de conhecimentos, crenças religiosas, arte, moral, direito, costumes que o
homem adquiri não sociedade.
A linguagem não é só sócio-histórica e ideológica, é também cultural, pois recebe
a influência do contexto cultural. Por isso, a “linguagem é, ao mesmo tempo, o principal
produto da cultura, e é o principal instrumento para sua transmissão” (SOARES, 2002, p.
16).
Nos últimos anos, há uma crescente preocupação por parte dos profissionais e dos
pesquisadores em entender a diversidade humana. A literatura tem discutido as diferentes
possibilidades em relação às habilidades de comunicação entre as pessoas, principalmente
quando: a) a fala não é adquirida na sua totalidade, b) a fala não é adquirida durante o
desenvolvimento infantil, e c) a fala foi adquirida e desenvolvida para representar ideias,
desejos, intenções nas diferentes complexidades, mas, por alguma interferência, a pessoa
pode perdê-la ou tornar-se impossibilitada de utilizá-la com diferentes pessoas.
Quando as pessoas se deparam com crianças, jovens e adultos que não falam, a
interação pode não ocorrer e, com isso, a comunicação não se efetiva. É uma situação que
pode surgir no dia a dia das pessoas, como, por exemplo, no ambiente escolar, quando na
sala de aula há um aluno com deficiência sem oralidade (ausência da fala).
Interação e comunicação fazem parte da rotina escolar. O professor deve estar
atento à rotina de seus alunos para promover situações e atividades nas quais todos possam
participar. Além da importância da interação e comunicação na rotina de sala de aula, o
docente deve estar atento para a função da fala no processo da aprendizagem da leitura e da
escrita, principalmente quando se trabalha com uma língua de natureza alfabética, como no
caso da língua portuguesa. Entender o processo de aquisição de um idioma e da função da
fala faz parte de uma função de complexidade maior, que é a linguagem.
Pesquisadores discutiram a necessidade de o professor entender a aquisição da
linguagem e sua importância para as habilidades de comunicação, interação e aprendizagem
da leitura e da escrita. Deliberato et al., (2014) alertaram que, quando o professor entende a
função da linguagem para o desenvolvimento da comunicação e interação, a sua mediação
poderá ser adequada para as diferentes especificidades dos alunos da sala de aula.
A linguagem é uma função mental superior que nos possibilita captar informações
do meio ambiente por meio dos canais sensoriais e, em seguida, a pessoa pode processar
esses estímulos recebidos nas diferentes regiões cerebrais. Após todo processo de entrada de
informações, há um complexo intercâmbio com outras funções mentais, tais como atenção,
percepção, memória e cognição, que permitem ampliar todo o conteúdo da linguagem de
forma dinâmica (Luria, 1981).
Assim, é por meio da percepção, integração e organização da informação recebida
do meio ambiente que o indivíduo vai organizar seu pensamento mediante um sistema
simbólico, linguístico, de alta complexidade. Esse sistema linguístico tem dependência com
a língua, o idioma, da comunidade à qual pertence o indivíduo. Cada língua tem suas
características: semântica, lexical, sintática, morfológica, fonológica e pragmática. Sendo
assim, a linguagem comporta duas faces: organização de um idioma (língua: processo
mental) e as habilidades de externalizar todo o conteúdo pensado e organizado
mentalmente, por meio da linguagem externa, que pode ser a fala e a escrita (Saussure,
1991).
VI - Construção da Identidade
Sabemos que a escola vem reproduzindo um sistema excludente em seu sistema didático
desde a sua fundação primeira até os dias atuais. Excluem-se negros, índios, mulatos,
até mesmo brancos, todos pobres, pertencentes a uma classe desprivilegiada que sofre
na pele as atrocidades de uma sociedade capitalista pautada no sistema de domínio
daqueles que detém o poder econômico sobre o restante da população. Sabemos também
que a escrita é uma prática social “aristocrática”. Crianças das classes média e alta, por
exemplo, têm acesso a possibilidades e a recursos que as crianças de classe baixa não
possuem: livros; jornais; internet; pais de grau escolar elevado, falantes de um dialeto
de “prestígio” e de uma boa escrita em seu dia-a-dia, o que influencia o interesse dos
seus respectivos filhos. É neste ponto que a escola deveria assumir um papel social que
visa à inclusão de todos os seus alunos, ricos ou pobres, brancos ou negros, na
sociedade e no mundo. Ela deveria se sensibilizar e se responsabilizar pela
democratização das práticas aristocráticas. Falar e escrever bem são, pois, um direito de
todos e é dever da escola possibilitar a realização deste processo aos seus alunos.
É desumano a escola não viabilizar aos seus alunos, em seu ambiente, o acesso a
saberes e práticas que dignifiquem a vida do ser humano enquanto cidadão pensante e
agente da sua própria história . Tudo o que gera preconceitos fora da escola não deve e
não pode jamais gerar dentro dela. É nela que devem ser desfeitos esses preconceitos. A
escola é o espaço de incluir os excluídos pela sociedade e pelo mundo; é o espaço de
gerar sonhos e colaborar para a realização deles.
VIII – Referências
KRAMER, S. Por entre as pedras: arma e sonho na escola. São Paulo: Ática, 1993.
SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 17 ed. São Paulo: Ática,
2002. SOUZA, S.M.R. de. Um outro olhar: filosofia. São Paulo: FTD, 1995.
TEIXEIRA, I. C. Os professores como sujeitos sócio-culturais In: DAYRELL, J. (Org.).
Múltiplos olhares sobre a educação e a cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1996.