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LINGUAGEM, COMUNICAÇÃO E DIVERSIDADE

CULTURAL: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE


NA ERA DIGITAL.

RESUMO: Este artigo apresenta uma breve reflexão sobre a ligação entre linguagem, cultura e
educação. Sabemos que há uma grande importância da oralidade e da escrita na formação de
cidadãos pensantes e agentes de sua própria história, por isso buscamos compreender e criticar as
formas de linguagem oral e escrita que, muitas vezes, são realizadas por profissionais de
educação, em especial, os de língua portuguesa, de forma a não valorizar a cultura trazida pelo
aluno, além de gerar preconceitos e exclusão social. Mesmos havendo diferença entre a forma de
falar e escrever sabemos que isso não é motivo de exclusão e é também a partir dessa concepção
que esse trabalho vem refletir. Nesta reflexão mostro também que mudar o sistema educacional
vigente é uma necessidade urgente e um processo complexo. Urgente por já não se admitir mais a
exclusão e os preconceitos veiculados no âmago das escolas; complexo por envolver mudanças
não só no sistema educacional, mas principalmente nos seres humanos envolvidos direta e
indiretamente em seus propósitos. Mudar um sistema é uma tarefa razoavelmente difícil; mudar
o ser humano, apesar de possível e viável, uma ambigüidade; mudar o mundo, quiçá, uma utopia,
mas utopias existem e acreditar nelas é alimentar um sonho eternamente, num sentido intenso e
retilíneo, no intuito de torná-los grandes o bastante para se converterem em realidade.

PALAVRAS-CHAVE: linguagem, comunicação, cultura.

ABSTRACT: This article presents a brief reflection about the connection among language,
culture and education. We know that there is a great importance of the oralidade and of the
writing in the formation of citizens pensantes and agents of its own history, that we looked
for to understand and to criticize the forms of oral language and writing that, a lot of times,
they are accomplished by education professionals, especially, the Portuguese-speaking, in way to
not to value the culture brought by the student, besides generating prejudices and social
exclusion. Same having difference among the form of to speak and to write knows that that is
not exclusion reason and it is also starting from that conception that that work comes to
contemplate. In this reflection we also showed that to change the effective educational system
it is an urgent need and a complex process. Urgent for no longer to admit more the exclusion and
the prejudices transmitted in the pulp of the schools; complex for involving changes not only in
the educational system, but mainly in the direct involved human beings and indirectly in its
purposes. To change a system is reasonably a task difficult; to change the human being, in spite
of possible and viable, an ambiguity; to change the world, maybe, an utopia, but utopias exist
and to believe in them is eternally alimentary a dream, in an intense sense and retilíneo, in the
intuito of turning them big enough for if they convert in reality.

KEYWORD: language, Communication, culture.


I - Introdução

Iremos compreender que a linguagem é ideológica, social, histórica e cultural e


que está vinculada à vida do ser humano. Essa vinculação envolve o indivíduo dentro e
fora da escola. Mas é fato que a linguagem se diferencia dependendo do contexto onde
se vive. Os vários contextos onde se constrói e se desenvolve a linguagem têm sido alvo
de estudos diversificados, entre eles estão os aspectos sócio-histórico-culturais. Por isso,
entendemos que é na linguagem, como uma ação humana, que está inserida toda uma
história adquirida através das experiências vivenciadas pelo indivíduo. Este aspecto se
apresenta como uma rede de significados que revela o indivíduo no mundo.
Entendemos que a identidade do indivíduo é construída a partir da cultura. Nesse
sentido, esse aspecto é importante para a construção da concepção de mundo dos seres
humanos. Assim, na escola, os professores e os alunos constroem essa concepção de
mundo a partir do contexto sócio-histórico-cultural em que vivem.
Assim, este artigo tem por objetivo fazer uma reflexão sobre a linguagem,a
cultura e a educação, levando em consideração as concepções já existentes. Essa reflexão
surge a partir da necessidade de relacionarmos a linguagem humana com a educação,
levando em consideração também a cultura, através do qual tanto a linguagem quanto a
educação é transformada.

II Linguagem Humana: do que se trata?

O teórico Mikhail Bakhtin (1995) vê a linguagem numa dimensão sócio-


histórica. Sendo a dimensão expressiva da linguagem também estudada pelo autor.
Ele valoriza o homem como um sujeito que produz sentido, além de nos levar a
reflexão sobre a importância e potencialidade da linguagem.

Bakhtin é visto como um teórico que ironiza a linguagem formal como forma de
expressão. Este autor busca uma interação entre o homem e a língua, e se utiliza dos
sentimentos, da criatividade, da história, da expressão, da palavra para a compreensão do
signo imaginário e simbólico. Nesse sentido, Kramer (1993, p. 103) aponta que “a
linguagem é produção humana acontecida na história; produção que - construída nas
interações sociais, nos diálogos vivos - permite pensar as demais ações e a si própria,
constituindo a consciência”.
Bakhtin (1995) compreendeu também a linguagem no aspecto ideológico e social.
Nesse sentido, entende-se que a linguagem representa conceitos de comunicação, idéias,
significados e pensamentos. Na prática educativa, essa linguagem pode ir além das
capacidades faladas e escritas, podendo ser representadas por brincadeiras, gestos etc. É
importante salientar que os universos discursivos atrelados às múltiplas linguagens
permitem o desenvolvimento de práticas multidisciplinares, proporcionando um cenário
de compreensão de uma dimensão pluralista e interativa. “A linguagem é um fenômeno
plural” (TEIXEIRA, 1996, p. 184), e a função interativa da linguagem dá-se por meio do
aspecto histórico-social. Ela é transformadora no sentido de constituir a relação entre
homem e realidade natural e social.
Percebe-se que a linguagem está ligada à questão social, não podendo esta ser
dissociada da sociedade, pois ambas se formam concomitantemente. Segundo
Orlandi (2001, p. 19), “o sujeito não se apropria da linguagem num movimento
individual. A forma dessa apropriação é social. Nela está refletido o modo como o
sujeito o fez, ou seja, sua interpretação pela ideologia”.
Segundo Borba (2003, p. 45) “a linguagem humana é apenas uma aptidão ou
capacidade que se manifesta por meio de conjuntos organizados e que se chama língua e
de que as comunidades se servem para a interação social”. Mas essa linguagem que se
manifesta através da língua tem seus empregos, pode ser verbal ou não verbal. A
linguagem verbal é estudada pela lingüística, onde se destaca o teórico Saussure. Essa
passou a ser uma área de estudo muito focada pelos filósofos e não demorou a
Saussure se destacar e passar a ser conhecido como o pai da lingüística moderna
(ORLANDI, 2003). Saussurre definiu a língua como objeto específico dessa ciência.
Na época (final do século XIX) esse fato chamou a atenção da sociedade, pois
desvendou-se que a língua recobria vários objetos, entre eles, de que é um meio de
comunicação, é um fato histórico-cultural e um sistema de signos. Em seus estudos ele
fez uma importante distinção entre a língua e a fala.
A lingüística é estudada sob o aspecto da fala e da escrita. Conforme Cagliari
(2002, p. 52) “é preciso ter sempre em mente o que pertence à fala e o que pertence à
escrita”. Normalmente, faz-se confusão quanto a maneira de falar e de escrever, mas
temos que ter emmente que são duas realidades diferentes. Muitas vezes, fala-se de
uma forma, escreve-se de outra. Entendemos que existe diferença entre a fala e a escrita
e isso varia de sociedade para sociedade.
Para Borba (2003, p. 46):

A fala, resultado da necessidade de comunicação ou de interação social, é


momentânea. Por ser realização individual da língua, torna-se fluente e
vária, pois muda de individuo para indivíduo, de situação para situação.
Altera-se facilmente pela influência de fatores diversos ligados ao falante
ou às circunstancias em que se produz. No primeiro caso, depende de
estados anímicos (emoção, irritação, aflição, pressa etc.) ou até das
variações de estatuto social por ascensão, educação, migração etc. No
segundo caso, depende de tudo o que acontece em redor do indivíduo
quando está falando: ambiente fechado ou aberto, presença de muitas
pessoas, ruídos diversos etc.

Borba (2003) ainda faz relação da língua e da fala, dizendo que a língua se altera
pela fala, pelo uso individual, que se transforma através dos tempos porque os falantes
inovar a forma de falar. Assim, língua e fala não existem separadamente; uma supõe a
outra. “A relação entre ambas se pertence por ser a língua indispensável para que a fala
produza seus efeitos, e a fala é necessária para que a língua se estabeleça” (p. 47).
Quanto a fala e a escrita elas têm suas diferenças que, muitas vezes, são
exigências de uma determinada sociedade e é reflexo dessa sociedade. A fala e a escrita
também têm sua importância, pois “uma língua vive na fala das pessoas e só aí se realiza
plenamente. A escrita preserva uma língua como um objeto inanimado, fossilizado. A
vida de uma língua está na fala” (CAGLIARI, 2002, p. 52).
Quanto ao uso da escrita em nosso contexto Kato (1999) fala dos contrastes
existentes entre a língua oral e a língua escrita no Brasil e que o povo brasileiro na
linguagem oral “foge” das regras prescritivas gramaticais. Quanto a esse contraste nos
deparamos com duas possíveis explicações: a “heterogeneidade em termos de
desenvolvimento sócio-econômico-educacional”; e, “as regiões urbanas deverão ter
sua estratificação social refletida no seu quadro de uso da língua escrita” (p. 39), o
que leva a uma variação lingüística.

A Língua Portuguesa evoluiu-se ao longo do tempo, diferenciando-se de um


grupo para grupo, tomando para si características próprias. Ao se transformarem com o
tempo as línguas sofrem variações lingüísticas e adquirem novos olhares
sociolingüísticos.
Os dialetos se diferenciam de região para região dependendo da localidade. Num
estudo dialetalógico leva-se me consideração não somente a forma como se fala, mas
também a região geográfica onde o dialeto é explicitado.
Quando se mora em uma comunidade rural e a sua escola se insere nesta
comunidade o que se vê, muitas vezes, é a imposição do dialeto-padrão (de prestígio) aos
os alunos falantes do dialeto rural.
A cultura é fator primordial no desenvolvimento lingüístico do indivíduo, por
isso deve ser respeitada. Ao privilegiar o dialeto-padrão e, muitas vezes, até impor, a escola
pode sim influenciar na mudança do dialeto falado por alunos de comunidade rural, mas
reconhecemos que o respeito a cultura desses deve ser mantido. A escola deve propor o
dialeto-padrão e trabalhar o reconhecimento do aluno quanto a este dialeto,
conscientizando-o que ao buscar uma vida melhor através dos estudos ele irá precisar deste
dialeto de prestígio

III - Linguagem e Cultura

Souza (1995) nos diz que o termo cultura deriva do verbo latino colere, que
significa “cultivar”; “honrar”; “tomar conta”; e “cuidar”. Assim, cultura inclui um
conjunto de conhecimentos, crenças religiosas, arte, moral, direito, costumes que o
homem adquiri não sociedade.
A linguagem não é só sócio-histórica e ideológica, é também cultural, pois recebe
a influência do contexto cultural. Por isso, a “linguagem é, ao mesmo tempo, o principal
produto da cultura, e é o principal instrumento para sua transmissão” (SOARES, 2002, p.
16).

Geertz (1989) refere-se à cultura como uma “teia de significados”, extremamente


necessária aos seres humanos. É a partir dessa idéia que entendemos a linguagem como
produtora de sentidos, pois é pela experiência de mundo vivenciada por cada indivíduo
que este vai expressar-se no mundo. A cultura é responsável, por exemplo, por uma
consecução da linguagem impregnada por um determinado contexto social, pois o sujeito
sociocultural se forma nesse contexto com uma história cultural adquirida através das
experiências vivenciadas. Teixeira (1996, p. 183) relata que “os sujeitos sócio-culturais
constituem-se, pois, em suas experiências vividas no mundo, pelas quais se fazem a si
mesmos e à história humana”.
A história da humanidade é feita pela história humana que se constitui de cultura.
O homem como ser cultural traz em sua linguagem uma “bagagem” oriunda da cultura
que o “denuncia”, o identifica.
O homem se realiza pela cultura. “Ela, por assim dizer, embebe o humano e o
define” (SOUZA, 1995, p. 123). A forma de vestir, de falar, de se comportar é
linguagem e é fruto de uma cultura. São formas do homem se expressar. O homem se
comunica através deles.
A linguagem é uma característica humana. Outros animais a têm de forma bem
limitada. A palavra distingue o ser humano que dos outros animais. Pela palavra, o
universo adquire um sentido, e o homem pode vir a conhecê-lo, emprestando-lhe
significações. Portanto, na raiz de todo conhecimento subjaz a palavra e os demais
processos simbólicos empregados pelo homem (DUARTE JÚNIOR, 1988, p. 15 apud
SOUZA, 1995, p. 100).
IV - Linguagem e Comunicação

Nos últimos anos, há uma crescente preocupação por parte dos profissionais e dos
pesquisadores em entender a diversidade humana. A literatura tem discutido as diferentes
possibilidades em relação às habilidades de comunicação entre as pessoas, principalmente
quando: a) a fala não é adquirida na sua totalidade, b) a fala não é adquirida durante o
desenvolvimento infantil, e c) a fala foi adquirida e desenvolvida para representar ideias,
desejos, intenções nas diferentes complexidades, mas, por alguma interferência, a pessoa
pode perdê-la ou tornar-se impossibilitada de utilizá-la com diferentes pessoas.
Quando as pessoas se deparam com crianças, jovens e adultos que não falam, a
interação pode não ocorrer e, com isso, a comunicação não se efetiva. É uma situação que
pode surgir no dia a dia das pessoas, como, por exemplo, no ambiente escolar, quando na
sala de aula há um aluno com deficiência sem oralidade (ausência da fala).
Interação e comunicação fazem parte da rotina escolar. O professor deve estar
atento à rotina de seus alunos para promover situações e atividades nas quais todos possam
participar. Além da importância da interação e comunicação na rotina de sala de aula, o
docente deve estar atento para a função da fala no processo da aprendizagem da leitura e da
escrita, principalmente quando se trabalha com uma língua de natureza alfabética, como no
caso da língua portuguesa. Entender o processo de aquisição de um idioma e da função da
fala faz parte de uma função de complexidade maior, que é a linguagem.
Pesquisadores discutiram a necessidade de o professor entender a aquisição da
linguagem e sua importância para as habilidades de comunicação, interação e aprendizagem
da leitura e da escrita. Deliberato et al., (2014) alertaram que, quando o professor entende a
função da linguagem para o desenvolvimento da comunicação e interação, a sua mediação
poderá ser adequada para as diferentes especificidades dos alunos da sala de aula.
A linguagem é uma função mental superior que nos possibilita captar informações
do meio ambiente por meio dos canais sensoriais e, em seguida, a pessoa pode processar
esses estímulos recebidos nas diferentes regiões cerebrais. Após todo processo de entrada de
informações, há um complexo intercâmbio com outras funções mentais, tais como atenção,
percepção, memória e cognição, que permitem ampliar todo o conteúdo da linguagem de
forma dinâmica (Luria, 1981).
Assim, é por meio da percepção, integração e organização da informação recebida
do meio ambiente que o indivíduo vai organizar seu pensamento mediante um sistema
simbólico, linguístico, de alta complexidade. Esse sistema linguístico tem dependência com
a língua, o idioma, da comunidade à qual pertence o indivíduo. Cada língua tem suas
características: semântica, lexical, sintática, morfológica, fonológica e pragmática. Sendo
assim, a linguagem comporta duas faces: organização de um idioma (língua: processo
mental) e as habilidades de externalizar todo o conteúdo pensado e organizado
mentalmente, por meio da linguagem externa, que pode ser a fala e a escrita (Saussure,
1991).

A fala ou linguagem oral é a habilidade mais utilizada e esperada no


desenvolvimento da criança, quando se pensa nas habilidades de comunicação no contexto
da modalidade oral. A fala é uma habilidade complexa que necessita de várias outras
funções para que a criança possa se apropriar e transmitir seu pensamento e ideia com
intencionalidade. A fala é a expressão do conteúdo organizado por meio do idioma
aprendido. A criança precisa compartilhar, vivenciar as normas da língua/idioma durante as
situações dialógicas, ou seja, nas diferentes interações, a criança pode e deve compartilhar
com os interlocutores competentes o uso do idioma aprendido.
Comunicação é a capacidade que o ser humano tem de trocar informações
aprendidas e pretendidas com diferentes pessoas. É um processo que envolve um receptor e
um emissor, ou seja, uma pessoa emite uma mensagem, e a outra recebe a mensagem e a
interpreta para responder com coesão e coerência. Durante o processo de comunicação, é
importante o uso de um sistema linguístico compartilhado, ou seja, ambos os parceiros de
comunicação devem utilizar o mesmo idioma para que possam transmitir e compartilhar
uma mensagem. A comunicação humana torna-se possível por meio da compreensão dos
diferentes signos compartilhados pela comunidade, ou seja, a comunicação será efetivada
por meio do uso de um sistema de representação compartilhado no grupo.
A comunicação é mais efetiva quanto maior e melhor o sistema compartilhado
entre os interlocutores: parceiros de comunicação.

V - Aspectos Gerais a respeito da comptência comunocativa

As experiências que as crianças e jovens têm durante seu desenvolvimento são


dependentes da mediação e do suporte oferecido pelo meio de que participam. A família e a
escola fazem parte desse cenário, facilitando e proporcionando acesso ao conhecimento. A
participação das crianças em diferentes situações pode favorecer a ampliação do
vocabulário, assim como propiciar a vivência no contexto cultural com a língua, o idioma
da sua comunidade, como no caso da língua portuguesa.

Argyle (1976), em seus estudos, argumentou que a linguagem emerge na interação


social, e os “componentes linguísticos” tornam-se importantes para a transmissão e a
coordenação do pensamento individual e para o desenvolvimento e a transmissão de cultura.
Segundo o autor, para duas pessoas se comunicarem por meio da linguagem, é necessário
que elas usem as palavras da mesma forma, convencionadas pela língua vinculada à sua
cultura: “A língua real aprendida é aquela que se desenvolveu, durante um longo período de
desenvolvimento cultural, na cultura da criança” (Argyle, 1976, p. 77).
A aquisição e o domínio da língua portuguesa fazem parte de um processo de
experiências vividas no meio cultural, no qual a criança passa, de agente passivo, à medida
que absorve o que escuta, a agente ativo, construindo suas ideias, intenções e desejos. A
partir dessa construção e elaboração interna, organizada por meio das regras do idioma, a
criança expressa uma ideia com conteúdo e estrutura que pode ser compreendida por um
adulto ou por uma outra criança em pleno desenvolvimento.
A troca de experiências entre as crianças com os diferentes interlocutores, mediada
e assistida nas situações dialógicas, propicia o acesso destes ao conhecimento e permite às
crianças e aos jovens o constante uso do idioma da comunidade em que vive. Quanto mais a
criança participa das situações dialógicas, mais ela compartilha experiências em relação ao
seu idioma e suas regras: semântica, fonológica, sintática, morfológica e pragmática.
À medida que o desenvolvimento da criança acontece, diferentes habilidades são
conquistadas e novas competências são adquiridas. Toda criança tem capacidade de
aprender novas habilidades, mas elas dependem da mediação oferecida no meio ambiente
que participam. O incentivo e o reforço oferecidos por diferentes pessoas podem
proporcionar às crianças avanços nas aquisições das diferentes competências para o
desenvolvimento global e da linguagem.
A ampliação do vocabulário e o entendimento em relação ao uso da língua
portuguesa acontece na relação com o outro, ou seja, durante as situações dialógicas: é no
momento em que a criança recebe a informação do outro (receptor) que ela pode elaborar e
expressar uma resposta com intenção (emissor). Nesse movimento que ocorre durante a
interação com o outro, há troca de informações, ou seja, existe a comunicação e a criança
aprende a usar um sistema linguístico que representa seus sentidos, suas intenções. Quanto
mais experiências e oportunidades a criança vivenciar durante os primeiros anos de vida
com diferentes interlocutores, mais competências serão adquiridas em relação às
habilidades de comunicação e expressão.

VI - Construção da Identidade

Importante aspecto de contribuição ao estudo da (re)interpretação do sujeito e sua


individualidade consiste no fenômeno da globalização pós-moderna, na qual temáticas e
territórios conectam-se a partir de recursos como a internet, na qual distâncias e fronteiras
são relativizadas. Ultrapassando fronteiras geográficas, uma vez que as noções de território,
conforme vistas no capítulo primeiro, são redimensionadas e reconceituadas – sobretudo
com o advento das tecnologias –, pode-se integrar e conectar as mais diversas comunidades.
Destarte, Landowski salienta, acerca das representações sociais e das construções
identitárias que realiza cada sujeito,
que ao se deixar levar no dia-a-dia pelas senhas intelectuais,
linguísticas, vestimentares e outras, do lugar e do momento, ao seguir o
movimento ambiente, ao louvar todos em coro os mesmos ídolos da estação
ou ao cantar os mesmos slogans1 , cada um se reconhece a cada instante a si
mesmo, em uníssono com o outro, seu vizinho, seu semelhante: como se,
num mundo onde nada que vale em matéria de gosto ou de opinião tem o
direito de durar, fosse preciso para permanecer socialmente em seu lugar
mudar, por assim dizer, de pele a cada primavera. (LANDOWSKI, 2002, p.
93).

Consequentemente, os sujeitos envolvidos nesse contexto de globalização passam a


deter a possibilidade de partilhar e de compartilhar um número maior de experiências e
pontos de vista, em tempos relativizados, uma vez que o correio é substituído ou divide
funções com correios eletrônicos, os quais, em apenas um simples apertar de botões,
chegam a seus destinatários em questão de segundos.
VII Conclusão

Sabemos que a escola vem reproduzindo um sistema excludente em seu sistema didático
desde a sua fundação primeira até os dias atuais. Excluem-se negros, índios, mulatos,
até mesmo brancos, todos pobres, pertencentes a uma classe desprivilegiada que sofre
na pele as atrocidades de uma sociedade capitalista pautada no sistema de domínio
daqueles que detém o poder econômico sobre o restante da população. Sabemos também
que a escrita é uma prática social “aristocrática”. Crianças das classes média e alta, por
exemplo, têm acesso a possibilidades e a recursos que as crianças de classe baixa não
possuem: livros; jornais; internet; pais de grau escolar elevado, falantes de um dialeto
de “prestígio” e de uma boa escrita em seu dia-a-dia, o que influencia o interesse dos
seus respectivos filhos. É neste ponto que a escola deveria assumir um papel social que
visa à inclusão de todos os seus alunos, ricos ou pobres, brancos ou negros, na
sociedade e no mundo. Ela deveria se sensibilizar e se responsabilizar pela
democratização das práticas aristocráticas. Falar e escrever bem são, pois, um direito de
todos e é dever da escola possibilitar a realização deste processo aos seus alunos.
É desumano a escola não viabilizar aos seus alunos, em seu ambiente, o acesso a
saberes e práticas que dignifiquem a vida do ser humano enquanto cidadão pensante e
agente da sua própria história . Tudo o que gera preconceitos fora da escola não deve e
não pode jamais gerar dentro dela. É nela que devem ser desfeitos esses preconceitos. A
escola é o espaço de incluir os excluídos pela sociedade e pelo mundo; é o espaço de
gerar sonhos e colaborar para a realização deles.

Entendemos que instaurar um processo “inovador” como o de lançar a leitura, a fala e a


escrita como práticas curriculares no ensino de língua portuguesa, não é uma tarefa fácil
e, tão pouco, cabe única e exclusivamente à escola. É cômodo, pois, lançar a escola à
“fogueira santa” como se ela fosse a única responsável pelo processo educativo. Que
ela tem uma grande parcela de culpa é evidente até aos olhos dos educadores mais
ufanos e céticos. Porém, existem fatores externos às nossas escolas que colaboram para a
sustentação dos pilares elitizantes: a concepção que os pais dos alunos e a própria
sociedade têm do ensino de língua portuguesa; as dificuldades de infra-estrutura das
escolas (escolas públicas em especial); a falta de recursos aos professores para que estes
tenham acesso às novas informações e propostas didáticas emergentes, a falta de
valorização desses profissionais que, na maioria das vezes, se submetem a uma carga
horária desumana, em busca da própria sobrevivência, bem como, as amarras
curriculares com vistas a um ensino utilitário e a ausência de políticas públicas
voltadas para uma educação libertária e transformadora que permite aos agentes
educacionais refletirem a própria prática, em busca da responsabilidade social da
educação.
Mudar um sistema é uma tarefa razoavelmente difícil; mudar o ser humano,
apesar de possível e viável, pode gerar ambigüidades a depender do ponto de vista
adotado (sempre vai haver um bem e um mal); mudar o mundo, quiçá, uma utopia, mas
utopias existem e acreditar nelas é alimentar um sonho eternamente, num sentido intenso
e retilíneo, no intuito de torná-los grandes o bastante para se converterem em realidade.

VIII – Referências

BAKHTIN, M. (VOLOCHÍNOV, V. N). Marxismo e filosofia da linguagem. São


Paulo: Hucitec, 1995.

BORBA, F. da S. Introdução aos estudos lingüísticos. 13 ed. Campinas, SP: Pontes,

2003. CAGLIARI, L. C. Alfabetização & lingüística. São Paulo: Scipione, 2002.

GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989.

KATO, M. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. 7 ed. São Paulo:


Ática, 1999.

KLEIMAN, A. B. Os significados do Letramento: uma perspectiva sobre a prática


social da escrita. 7. ed. Campinas, SP: Mercado de Letras Edições e Livraria Ltda. 2004.

KRAMER, S. Por entre as pedras: arma e sonho na escola. São Paulo: Ática, 1993.

ORLANDI, E. Discurso e leitura. 6 ed. Campinas, SP: Cortez. Editora da Universidade


Estadual de Campinas, 2001.

. O que é Lingüística? São Paulo: Brasiliense, 2003.

SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 17 ed. São Paulo: Ática,

2002. SOUZA, S.M.R. de. Um outro olhar: filosofia. São Paulo: FTD, 1995.
TEIXEIRA, I. C. Os professores como sujeitos sócio-culturais In: DAYRELL, J. (Org.).
Múltiplos olhares sobre a educação e a cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1996.

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