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AS IMPLICAÇÕES DA ESCRITA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Maria Edna Reinaldo de Oliveira Fernandes1


Núbia Mendes Paiva da Fonsêca2

RESUMO: Este artigo apresenta um breve estudo sobre a importância da escrita na


aprendizagem escolar e na formação de cidadãos pensantes e agentes de sua
própria história. Considerando que a escrita está presente em todas as situações do
nosso cotidiano, onde desde pequeno a criança tem contato com a língua escrita.
Fizemos um resgate da origem e evolução da escrita vivida pela história da
humanidade no decorrer dos séculos e como se concretiza na aprendizagem das
crianças quanto ao processo da escrita. A história da escrita traz a evolução pela
qual os alunos passam para desenvolver a sua própria escrita. Também nos leva a
compreender a psicogênese da língua escrita que permite perceber como a criança
pensa a escrita e sua hipóteses nos níveis pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e
alfabético bem como o caminho percorrido pela criança na aquisição da escrita
alfabética. Para as crianças se apropriarem desse sistema, ela necessita que sejam
oferecidos mecanismos favoráveis à aprendizagem tais como atividades apropriadas
a cada nível e intervenções pedagógicas que permitam a consciência fonológica.

Palavras chaves: Língua Escrita. Aprendizagem. Criança.

ABSTRACT
This article presents a brief study on the importance of writing in school learning and
training of thinking citizens and agents of their own history. Whereas writing is
present in all situations of our daily lives, from childhood where the child has contact
with the written language. We made a rescue of the origin and evolution of writing the
history of mankind over the centuries and how it operates in the children's learning of
the writing process. The history of writing shows the evolution in which students are
to develop their own writing. It also leads us to understand the psychogenesis of
written language that allows us to understand how the child thinks the writing and its
assumptions in pre - syllabic, syllabic, syllabic -alphabetic and alphabetic well as the
path taken by the child in the acquisition of alphabetic writing. For children to take
ownership of that system, it needs to be offered in favorable mechanisms such as
learning activities appropriate to each level and pedagogical interventions that allow
phonological awareness.

Keys Words: Language Writing. Learning. Child

1
Graduada em Pedagogia-UERN, pós graduação em Psicopedagogia.ednareinaldo10@gmail.com
2
Graduada em Pedagogia-UERN, Pós-graduação em Psicopedagogia.
nubiamendes2012@hotmail.com
1 INTRODUÇÃO

Dentro da Hermenêutica da educação priorizamos pesquisar dentro do eixo


temático a escrita, que deste os primórdios da história humana vem dando a sua
contribuição. A princípio a escrita na Grécia era vista como mitologia “milagre” que
adquirido por alguns privilegiados. De acordo com ARANHA ( ) geralmente a
consciência mítica predomina nas culturas de tradição oral, onde ainda não há
escrita. “É interessante observar que mytrhos significa “palavra”, o que se diz”. A
palavra antes da escrita, ligada a um suporte vivo que pronuncia, repete e fixa o
evento por meio da memória pessoal. Aliás, etimologicamente, epopéia significa “ o
que se exprime pela palavra” e lenda é “o que se conta”, Também afirma que a
escrita era privilégio dos sacerdotes e reis e que na Grécia a escrita surgiu por
influência dos fenícios, porém vinculado aos atos religiosos. Aos poucos foi se
desligando da religião e se popularizando e passando a aparecer como possibilidade
maior de abstração, uma reflexão da palavra que tenderá a modificar a própria
estrutura do pensamento, apesar de ainda continuar um grande número de
analfabetos
O presente trabalho sobre as Implicações da escrita no processo de
ensino-aprendizagem, tem como objetivo mostrar a complexidade do processo de
alfabetização evidenciado há algum tempo pelos estudiosos da área de
alfabetização.
Os estudiosos mais recentes mais recentes na área defendem a ideia de que
a criança necessita ser considerada como um ser social, construtor de seus próprios
conceitos, a partir da interação vivenciada pelo meio onde vive.
Essa abordagem é contrária à realidade existente em nossas escolas,
caracterizada por ações mecanicistas de alfabetização, onde o
ensino-aprendizagem da língua escrita tem se destacado dos seus usos e suas
funções sociais. Isso significa dizer que a escola ainda assume uma postura
mecanicista. Tal ensino não considera que o processo de ensino-aprendizagem da
escrita tem seu início nas interações sociais nas quais as crianças se envolvem em
seu cotidiano, pois tem esquecido que:

“Os seres humanos tem uma história. Sua história não só representa
suas experiências diárias ao longo de sua vida como também
abrange sua inclusão numa família, comunidade e cultura. A
participação nos eventos comuns de alfabetização e imersão
quotidiana em experiências de leitura e escrita por parte da família, da
comunidade e das várias subculturas, nas quais os homens
coexistem constante e continuamente, também é parte da história
humana. (GOODMAN,1995,p.15).

De acordo com o posicionamento de GOODMAN, não se pode negar a


importância de se trabalhar a partir do reconhecimento de significado dessa história
e faz-se necessário discutir novos encaminhamentos que orientam as práticas
pedagógicas de alfabetização.
É importante conhecer de que forma as ideias da criança sobre a escrita e
seu funcionamento se processam no meio social e como essas ideias são
concebidas na escola.
Nessa perspectiva, esse trabalho foi desenvolvido mediante uma pesquisa
bibliográfica na qual destacamos pontos que defende que o conhecimento é produto
de uma ação efetiva entre o sujeito e objeto, sendo que esse processo de
construção do conhecimento tem seu início antes da escolarização.
Na busca de sistematizar as ideias discutidas pelos diversos autores
estudados e para uma melhor compreensão do tema, o presente trabalho está
organizado da seguinte forma: No primeiro momento, trataremos um pouco da
história da evolução da escrita, além de discorrer sobre a importância deste
conhecimento para os indivíduos poderem atuar de maneira mais consciente na
sociedade em que está inserido. Por isso modificar as formas tradicionais de
encaminhar a escrita na sala de aula, para que o aluno perceber o quanto é
importante em sua vida. No segundo momento, as discussões nos leva a
compreender os estudos sobre a psicogênese da língua escrita que permite
conceber como a criança pensa a escrita e suas hipóteses no nível pré-silábico,
silábico, silábico-alfabético e alfabético, buscando meios para se apropriar do
sistema alfabético de escrita.
Tendo em vista a complexidade do tema, o qual envolve muitos fatores e que
consequentemente não se limita a uma breve discursão, espera-se contribuir com a
reflexão sobre uma problemática tão presente na escola.
2 A ESCRITA: BREVE HISTÓRICO

A história da humanidade revela que a construção do sistema de escrita


surge a partir das necessidades enfrentadas pelos homens no seu cotidiano. Uma
das funções mais antigas da escrita estava vinculada a preservação de informações
referentes à agricultura e o comércio. Mas à medida que as relações sociais
complexificavam-se as exigências relativas às formas de representar as
experiências da vida dos homens, se ampliam ao longo do tempo. De acordo com
REGO (1988, p.9), “de simples instrumentos de preservação de informações
importantes para a subsistência das sociedades primitivas, a língua escrita tornou-se
meio fundamental de acumulação e transmissões de informações e de
conhecimento, desempenhando um papel central nas sociedades letradas”.
Esse processo de transformação pelo qual passou a escrita no que concerne
à sua função, também ocorreu no que diz respeito à sua forma.
De forma esquemática, tomando como referência os estudos de Cagliare
(1997), Rego (1994), entre outros, pode-se fazer a seguinte síntese: inicialmente a
escrita manifestou-se através de uma forma pictográfica, com desenhos ou
pictogramas que não se referiam a um som, mas a uma imagem. A escrita, em
seguida, evoluiu para a forma de representação ideográfica, onde os desenhos
deixam de representar um objeto único e específico do real, perdendo algumas de
suas características mais representativas, passando a assumir formas mais
genéricas, pois passam a referir-se a todos os objetos que possuem significados
semelhantes. Portanto os ideogramas são caracteres que representam uma ideia e
não um objeto. Foram os ideogramas que deram origem às letras, que perderam seu
valor ideográfico e assume gradativamente um valor fonográfico ou uma
representação fonética, centrada em sons da fala. Daí o surgimento dos sistemas
alfabéticos de escrita que estão vinculados a uma língua determinada ou a um
dialeto específico, que fez surgir o sistema ortográfico.
Devemos dizer que a língua escrita representa também um meio de
integração social, sendo sua aquisição resultado da interação do indivíduo com o
seu contexto social.
Percebe-se que a criança pré-escolar possui certo grau de letramento que é
adquirido no grupo ao qual ela pertence, ou seja, a criança convivendo em uma
sociedade caracterizada como avançada nos diversos grau de letramento ao
ingressar na alfabetização já tem feito uma série de descobertas prévias sobre a
língua escrita, o que lhe assegura o êxito no processo da aprendizagem da leitura e
da escrita.
Destarte, Goodman (1995) também afirmam que as crianças chegam a
alfabetização através de suas experiências cotidiana.

“Todas as crianças possuem algum conhecimento sobre a alfabetização


como forma cultural e possuem atitudes e crenças sobre a alfabetização,
resultando dos conceitos que elas desenvolvem sobre a alfabetização
conhecem as funções exercidas pela linguagem escrita, assim como sabem
que pode participar em seu uso.”(GOODMAN, 1995, p.118).

Com base no posicionamento de Goodman, quando a criança entra na


escola, já traz habilidades, possibilidades para aprender a escrever. Habilidades
essas adquiridas, pelas crianças, nos primeiros anos de desenvolvimento, onde
assimila técnicas que preparam para a aprendizagem da escrita cultural elaborada.

3 CONTRIBUIÇÃO DA PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA NO PROCESSO DE


APRENDIZAGEM

Para se apropriar do sistema de escrita alfabética a criança aos poucos vai


adquirindo e ampliando suas formas de conhecer e representar os objetos até
chegar à palavra escrita.
A partir dos anos 1980, surgiram novos conceitos e estudos realizados pelas
pesquisadoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky, onde surgiu a concepção de que a
aprendizagem do sistema de escrita não se reduzia ao domínio de correspondência
entre grafema e fonema, a decodificação e a codificação, mas se caracteriza como
um processo ativo por meio do qual a criança construiria e reconstruiria hipóteses
sobre a natureza e o funcionamento da língua escrita, compreendida como um
sistema de representação.
Esse processo de construção da escrita segundo Ferreiro e teberosky, 2007,
nos afirmam que toda criança passa por quatro níveis a serem denominados: nível
1: hipótese pré-silábica; nível 2 nível hipótese silábico; nível 3 hipótese silábica-
alfabética; nível 4 hipótese alfabética onde detalharemos a seguir:
Hipótese pré-silábica- Nesta fase a criança não consegue relacionar as letras
com os sons da língua falada e não compreende que a escrita representa a fala,
sons das palavras ou o objeto a que o nome se refere, por isso utilizam-se de
desenho, símbolos, traços, números e rabiscos para escrever.
Hipótese silábica – A criança já supõe que a escrita representa a tenta
fonetizar a escrita e dar valor sonoro às letras fala, supões que a menor unidade de
língua seja a sílaba e em frase, pode escrever uma letra para cada palavra. A
criança silábica geralmente utiliza as letras do seu nome ou do nome dos familiares
e amigos mais próximos para escrever, utilizam-se também de uma quantidade
mínima para escrever entre 02 e 04 letras . Essa hipótese soluciona por algum
tempo os conflitos com a escrita contudo vão reiniciar para que ocorra a passagem
para a próxima fase quando ocorrem outras situações.
Hipótese silábica-alfabético – Nesta fase a criança mistura a lógica da fase
anterior com a identificação de algumas sílabas e a alfabética domina enfim o valor
das letras e sílabas. A criança começa a ter necessidade de acrescentar mais letras
do que utiliza na hipótese silábica, geralmente um professor que não tem
conhecimento desse assunto considera que o aluno tenha regredido e, no entanto
está bem próximo de entender a escrita convencional. Ela percebe que o que está
escrito nos livros e revistas não é igual a sua escrita, é importante oportunizar ao
aluno o contato com diversos gêneros textuais e contato com o mundo letrado para
avançar dessa hipótese. Chega o momento em que é preciso confrontar a grafia
convencional com a escrita da criança para que facilite a ela a passagem do silábico
para o alfabético.
O que ocorre então é que o nível silábico é um intermediário entre o silábico e
o alfabético onde a criança insatisfeita busca subsídios para igualar sua escrita a do
adulto. A escrita é composta por sílabas completas mais sílabas incompletas.
Hipótese alfabética – A criança compreende que a escrita tem função social,
percebe o valor sonoro de todas ou quase todas as letras: compreende o modo de
construção do código da escrita, omite letras quando mistura as hipótese alfabética
e silábica; não tem problemas de escrita no que se refere a conceito; não é
ortográfica e nem léxica. A criança também apresenta estabilidade na escrita das
palavras e entende que cada letra corresponde aos menores valores sonoros de
sílaba e procura adequar a escrita à fala.
Os níveis estruturais da língua escrita nos proporcionam a compreensão de
como a criança pensa a escrita e quais caminhos percorrem para a sua apropriação:

“Nossa atual visão do processo é radicalmente diferente no lugar de uma


criança que espera passivamente o reforço externo uma resposta produzida
pouco menos que ao acaso, aparece uma criança que procura ativamente
compreendê-la, fórmula hipótese, busca regularidades, coloca à prova suas
antecipações e cria sua própria gramática.” (FERREIRO E TEBEROSKY,
2007.p 24)

O avanço de um nível de escrita para outro ou a forma de pensar a escrita vai


se aprimorando conforme os encaminhamentos e atividades propostas pelo
professor. Desta forma faz-se necessário identificar e registrar em que nível a
criança está, para acompanhar os avanços e fazer as intervenções necessárias a
cada etapa do conhecimento.
Podemos assemelhar essas fases com a evolução da escrita, considerando
que tudo começa a partir do desenho. A criança começa a desenvolver o processo
de escrita através do gravismo e do desenho Quanto a isso SEBER afirma que:

“Se o professor se colocar como simples observador do que a criança


produz graficamente, ela não vai descobrir sozinha muitos dos aspectos
convencionais da língua escrita. Por outro lado o professor também não
deve assumir uma posição radical oposta à de observador, achando que
sem instruções bem programadas e bem dirigidas a criança não aprende
nada.” (2010, p.15).

Percebemos que é primordial a mediação do professor nesse processo onde


deve se proporcionar ao aluno mecanismos de aprendizagem que permitam
avanços na sua aprendizagem, de forma prazerosa levando-o a construir o seu
próprio conhecimento de acordo com o seu ritmo e potencial.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao pesquisarmos sobre a escrita e sua evolução, podemos compreender


melhor a evolução da escrita, o inicio dos primeiros traçados, a sua manifestação
através de uma forma pictográfica, com desenhos ou pictogramas e sua função
social, bem como os caminhos pelos quais a criança percorre para a aquisição do
sistema alfabético. Nos possível perceber a grande contribuição que a psicogênese
da língua escrita trouxe para os educadores, pois ao entender as hipóteses que a
criança constrói para chegar à escrita alfabética, o professor tem mais facilidade de
propor estratégias aos seus alunos para que possam avançar em cada etapa ou
nível de escrita que se encontra.

“É extremamente surpreendente ver como a progressão de hipóteses


sobre a escrita reproduz algumas das etapas-chaves da evolução da
história da mesma na humanidade, apesar de que nossas crianças
estejam expostas a um único sistema de escrita. A linha de
desenvolvimento histórico vai do pictograma estilizado à escrita de
palavras (logografia), à introdução posterior de um princípio de
“fonetização”, que evolui paulatinamente até as escritas silábicas e
depois de uma complexa etapa de transição, culmina no sistema
puramente alfabético dos gregos.” (TEBEROSKY, 2007, p.293)

Podemos contar com a opinião de Soares (2003) que destaca a influência da


psicogênese da língua escrita, cujas pesquisas apontam a necessidade de a criança
aprender a ler e escrever por meio de práticas e materiais reais de leitura e escrita.
A especialista defende que alfabetização e letramento envolvem duas
aprendizagens distintas, mas que devem ocorrer de forma articulada, o que
denomina como alfabetizar letrando. Assim compreendemos que é necessário que
seja oportunizado a criança o contato com o concreto e que a escrita tenha um
significado e que a criança perceba a sua função social para que possa se apropriar
da aprendizagem.

REFERÊNCIAS

ARANHA, M.L......

CAGLIARE, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione, 1997.

FERREIRO, Emília: TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua Escrita. Porto


Alegre: Artes Médicas, 2007.

GOODMAN, Yetta M (org.). Como as crianças constroem a leitura e a escrita;


Perspectivas piagetianas. Porto Alegre. Artes Médicas, 1995.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª Ed. Belo Horizonte.
Autêntica, 2013.

REGO, Lúcia, Lins Browne. A alfabetização numa perspectiva construtivista. In:


Buarque, L.L. e REGO, L.L.B. (orgs.) Alfabetização e Construtivismo: teoria e
prática. Recife: Editora Universitária da UFPE. 1994.

SEBER, Maria da Glória. A Escrita Infantil. São Paulo: Scipione, 2010.

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