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Linguagem e Processos
Psicopedagógicos de Aprendizagem
Alfabetização e letramento
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
Objetivos
Antes de iniciar seus estudos neste passo, faça uma breve pesquisa
sobre Alfabetização e Letramento e elabore um quadro simples,
comparando as principais diferenças entre os dois termos. Separe
suas anotações e vamos ao passo 9! Ao final dele, você poderá
fazer um comparativo entre aquilo que anotou antes e o que acres-
centou depois.
9.2
Quando falamos em aquisição e desenvolvimento da linguagem,
em especial da linguagem escrita, estamos falando também em
alfabetização, vocábulo que, de modo geral, refere-se ao ato de
ensinar a ler e a escrever. Porém, por se tratar de um conceito
complexo, que denota – numa acepção mais expandida – estra-
tégias de ensino-aprendizagem, políticas públicas voltadas para
a inclusão das crianças na Educação Infantil, metodologias e
procedimentos diversos etc., a alfabetização é muito mais do que
simplesmente ensinar a criança a ler e a escrever.
9.3
própria fala, e, aos poucos, induz os alunos a interpretarem os
fenômenos fonéticos da fala tendo como modelo a forma escrita
das palavras e não a realidade fonética” (p. 3) Com efeito, essa é
uma realidade que, além de não levar em consideração as habi-
lidades linguísticas que a criança possui antes mesmo de entrar
na escola, desconsidera os avanços da Pedagogia e da Psicope-
dagogia em relação à dinâmica do ensino e da aprendizagem nos
primeiros anos escolares.
9.4
Emilia Ferreiro, estudada no passo anterior,
dedicou-se bastante a pensar os processos de
alfabetização a que as crianças são subme-
tidas. Para a autora (2005), durante muito
tempo a escola apoderou-se da escrita trans-
Emilia
Ferreiro formando-a num objeto puramente escolar,
sem considerar suas funções sociais que vão
além da escola. Nas suas palavras, “a alfabetização não é um
estado ao qual se chega, mas um processo cujo início é, na maioria
dos casos, anterior à escola e que não termina ao finalizar a escola
primária” (p. 47). Refletindo ainda mais profundamente sobre o
processo de alfabetização, a autora (2011) lembra também que
é responsabilidade da pré-escola propiciar à criança a liberdade
de experimentar os sinais escritos, sem a pressão da obrigatorie-
dade de acertar, numa atividade mais lúdica e, consequentemente,
mais produtiva. Evita-se, assim, nas palavras da autora (2002),
a adoção indevida e contraproducente do conceito de fracasso
escolar na dinâmica de alfabetização escolar.
9.5
O termo “letramento” originou-se do vocábulo literacy, palavra de
origem inglesa que, segundo Magda Soares (2004), foi adaptada
ao português por meio de uma tradução direta do termo originário,
denotando “o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e
escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um
indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita” (p.18).
Esse tema foi difundido no Brasil por volta da década de 1980, por
meio da produção da linguista Mary Kato, entre outros pesquisadores,
como Leda Verdiani Tfouni, ngela Kleiman, Magda Soares, Roxane
Rojo e outros. O conceito surge, de modo geral, devido à necessidade
de uma palavra que nomeasse as práticas de leitura e escrita, de
acordo com o contexto social em que vivia o cidadão. Ainda segundo
Magda Soares (2003), “o surgimento do termo literacy (cujo signifi-
cado é o mesmo que alfabetismo), nessa época, representou, certa-
mente, uma mudança histórica nas práticas sociais: novas demandas
sociais pelo uso da leitura e da escrita exigiram uma nova palavra
para designá-las. Ou seja: uma nova realidade social trouxe a neces-
sidade de uma nova palavra” (p. 29).
9.6
Um dos pressupostos do letramento é a questão da leitura de
mundo, proposta, pioneiramente, pelo educador Paulo Freire, cujo
método de alfabetização é considerado inovador até hoje. Obras
diversas do célebre educador – como Alfabetização: leitura de
mundo, leitura da palavra, Alfabetização e conscientização, A
importância do ato de ler, entre outras – já propunham algumas
ideias próprias do conceito de letramento, como o posicionamento
crítico diante do texto e da escrita, uma das questões fundamen-
tais para o desenvolvimento do aluno, o que, aliás, o vincula defini-
tivamente ao conceito de letramento, já que, em sua teoria, Paulo
Freire defendeu a alfabetização como meio de conscientização e
de apropriação social da leitura e da escrita pelo alfabetizando.
9.7
É autor de obras reconhecidas mundialmente, como
Educação como Prática da Liberdade (1967); Pedagogia do
Oprimido (1968); Pedagogia da Autonomia (1996), entre
outras. É o brasileiro mais homenageado da história, com
pelo menos 35 títulos de Doutor Honoris Causa em diversas
Universidades do mundo.
9.9
De acordo com essa primeira definição geral, o letramento pode
ser compreendido como o uso da leitura e da escrita em práticas
diversas, como a obtenção de informações, a escrita e recepção de
e-mails ou, simplesmente, a realização de qualquer tipo de leitura,
sabendo interpretá-la e relacioná-la ao objetivo pretendido. O que
muitas vezes não nos damos conta – nem a escola! – é que, no
dia a dia, estamos envolvidos direta ou indiretamente com muitas
práticas sociais de leitura e escrita, em contextos diversos, tanto
em casa, na escola ou na igreja quanto no trabalho ou com os
amigos.
9.10
automatizada com a leitura e a escrita, baseada mais na técnica
do que em seu uso consciente e real. A prática de leitura e escrita
na escola deve estar relacionada, sempre que possível, à reflexão
do contexto social do aluno, fazendo com que o estudante se posi-
cione, autonomamente, diante dos desafios da realidade e possua
uma visão crítica sobre o mundo.
9.11
Embora a alfabetização seja uma ativi-
dade necessária e fundamental para a
aquisição da língua escrita, cumpre sempre
lembrar que letrar é mais que alfabetizar:
é algo além de somente decodificar letras
e signos, já que o letramento propõe que
o leitor/escritor tenha senso crítico e auto-
nomia diante do mundo e de suas práticas
sociais, sabendo, sobretudo, interpretar a
realidade discursiva em que está inserido.
Nesse caso, o aluno simplesmente alfabe-
tizado decifra os códigos, enquanto o letrado entende seu signifi-
cado, interpretando-o. Alfabetização e letramento devem, por isso,
caminhar juntos... Para Mortatti (2004), a alfabetização não é
pré-requisito para o letramento, mas ambos estão relacionados
com as práticas de leitura e escrita: o letramento envolve seu uso
social, não se distanciando da prática educativa e de escolari-
zação, mas ocorre em situações diversas dentro ou fora do universo
escolar. Segundo Leda Tfouni (1988):
9.12
Cada indivíduo possui uma competência particular em relação ao
letramento, uma vez que mesmo uma criança de dois anos possui
um “conhecimento de mundo”. A escola, portanto, deve se apro-
priar do nível de letramento de cada aluno e elevá-lo, fazendo
assim com que o aluno desenvolva sua capacidade de expressão e
de intelecção do mundo. Por isso, tanto a alfabetização quanto o
letramento devem ser considerados direito inalienável dos alunos
e dos cidadãos.
9.13
Indicação de Vídeo
Dica Cultural
9.14
REFERÊNCIAS
BRITO, Antonia Edna. “Prática pedagógica alfabetizadora: a aquisição da língua
escrita como processo sociocultural”. Revista Iberoamericana de Educación, Organi-
zación de Estados Iberoamericanos, Madrid, No. 44: 1-9, nov. 2007.
FERREIRO, Emilia. Passado e presente dos verbos ler e escrever. São Paulo, Cortez,
2002.