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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO

CONTÍNUA DO PROFESSOR ALFABETIZADOR NO PROCESSO DE ENSINO


APRENDIZAGEM

ADÃO, Ana Lúcia de Souza


RU 1242113
BLASZKOWSKI, Eliane

RESUMO

Na história da educação brasileira, os conceitos e as práticas pedagógicas relacionadas à


alfabetização e ao letramento passaram por diversas transformações. Acredita-se que esse fato
seja decorrente dos diferentes contextos socioeconômicos, culturais e políticos que têm
permeado o processo de escolarização no Brasil. Neste trabalho buscou-se conhecer melhor
esse percurso da alfabetização e letramento no Brasil, analisando sob os aspectos das políticas
públicas de alfabetização, dos conceitos e idéias sobre os processos de alfabetização e
letramento e por fim procurou-se refletir sobre a postura e a formação do professor
alfabetizador nos anos iniciais do ensino fundamental, e em como a formação permanente
deste profissional pode influenciar na construção de práticas pedagógicas inovadoras, e
auxiliar no processo de ensino-aprendizagem

Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Formação Continuada. Professor


alfabetizador.

1 INTRODUÇÃO

A problemática envolvendo a formação de professores alfabetizadores está em crescente


destaque no meio educacional. Discussões a respeito de inovações nas práticas pedagógicas
vêm sendo alvo em debates sobre educação, apontando diversas reflexões sobre as práticas e
fatores que contribuem com o processo de ensino aprendizagem.
Na sociedade contemporânea, acumulam-se incontáveis mudanças, transformações de
caráter científico, social, econômico e, sobretudo tecnológico, e devido a tais alterações, a
nova realidade escolar exige um pensar diferenciado - um repensar - sobre a formação do
profissional alfabetizador.
Sabendo desta nova realidade, é inegável a necessidade de se formar professores
alfabetizadores responsáveis e comprometidos com o desenvolvimento cognitivo das crianças.
Sendo que é extremamente relevante a formação continuada destes profissionais, e que
tenham a oportunidade de se tornarem educadores reflexivos e questionadores de sua própria
prática pedagógica diária.
Segundo Valle (2011, p.15), “é primordial ao professor repensar suas atitudes e
concepções teóricas de forma a conseguir ser, de fato, um educador que possa fazer a
diferença no mundo de hoje”.
É justamente nesse sujeito – o professor alfabetizador – que está focado esse trabalho,
em verificar qual a importância da formação deste profissional, e como essa formação de
forma contínua, pode influenciar na construção de práticas pedagógicas inovadoras, eficazes e
coerentes, alcançando êxito na alfabetização e letramento de crianças nos anos iniciais do
ensino fundamental.
A questão da alfabetização e letramento nos estimula a pesquisar e refletir como se dá,
e de que maneira acontecem esses processos na escola, sendo estes, indispensáveis para que
os trabalhos, principalmente nos anos iniciais do ensino fundamental, sejam significativos
para todos os sujeitos que nela atuam.
Nesse âmbito, a alfabetização deve ser considerada, de forma mais ampla do que
apenas uma técnica que objetiva ensinar a ler e escrever. Paulo Freire (1967, p. 111) afirma
que, “a alfabetização é mais do que simples domínio mecânico de técnicas de escrever e ler. É
o domínio dessas técnicas, em termos conscientes. É entender o que se lê e escrever o que se
entende.”
Ao conceituar alfabetização, Freire estabeleceu em paralelo o conceito de letramento,
uma vez que ele já observava a alfabetização dentro de um contexto onde a leitura e a escrita
tenham sentido não só na escola, mas em outros espaços sociais.
Desta maneira, os processos de alfabetizar e letrar são interdependentes, e quando bem
conectados dentro do planejamento de um professor, podem trazer uma aprendizagem mais
significativa e eficaz na vida dessas crianças.

Serão apresentados neste artigo, vários aspectos para discussão dessa importante
temática. Iniciaremos com um breve relato do percurso da história de
alfabetização bem como seus principais métodos, desde os tempos da Colonização,
perpassando ao Brasil Império até chegarmos aos dias recentes. Seguido por uma análise das
políticas públicas voltadas à alfabetização e letramento no país, exposição dos conceitos de
alfabetização e letramento, para então, finalizar o texto com uma reflexão sobre a postura e a
formação do professor alfabetizador nos anos iniciais do ensino fundamental. Passemos,
então, ao relato sobre os elementos citados acima.

2. A INFLUÊNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA EM PROFESSORES


ALFABETIZADORES DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL.

2.1 UM BREVE RELATO DO PERCURSO DA ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL

Articular sobre o processo da história da alfabetização e letramento no Brasil, nos leva


a um período de contínuas transformações no ato de ensinar as crianças a ler e escrever, nos
remetendo principalmente aos métodos utilizados no decorrer do tempo para garantir a
inserção destas a cultura letrada.

Segundo os autores Leal, Albuquerque e Morais (2010, p.15):

“[...] ao longo da nossa história, diversas mudanças na concepção de alfabetização


foram efetivadas, o que é bastante compreensível, dada a natureza cultural dos
conhecimentos (sobre o funcionamento do alfabeto, sobre os textos em que é usado)
e das práticas em que exercitamos tais conhecimentos”.

No período de colonização brasileira, as práticas de alfabetização se pautavam na


catequização dos índios pelos jesuítas, através do ensino da leitura. Os materiais didáticos
para alfabetizar eram poucos, e na sua maioria eram religiosos, tais como: catecismos, livros
de cânticos religiosos e de doutrinas da igreja.
Leal, Albuquerque e Morais (2010, p.15) destacam algumas práticas de alfabetização
no período colonial.

“No período de colonização brasileira, por exemplo, as práticas de alfabetização


se relacionavam a catequização dos índios, ao ensino da
leitura, visando à inserção dos primeiros habitantes de nossa terra nos rituais da
igreja católica. Como material didático, os jesuítas utilizavam alguns materiais
escritos, como as gramáticas da língua tupi e os catecismos e doutrina. A
alfabetização consistia apenas no ensino da leitura, realizado, principalmente,
através da oralização dos textos presentes nesses materiais e de sua memorização por
parte dos alunos”.

E eram com esses materiais –religiosos - que se instruíam ao aprendizado da leitura e


escrita do sujeito, as chamadas “aulas régias”.
No século XIX, é estabelecida a escola como obrigatória no Brasil, nessa época da
escolarização como sendo obrigatória, surgem os debates sobre a questão dos métodos para
ensinar as crianças a ler e escrever. A autora Mortatti (2006) destaca em sua obra “a história
dos métodos de alfabetização”, quatros momentos sobre os métodos da alfabetização. Sendo
eles: o método sintético, método analítico, seguido por uma disputa pelos métodos: sintético
X analítico e por fim, a abordagem construtivista.
No método sintético, ou a metodização do ensino da leitura, a aprendizagem acontece
de forma dividida começando das vogais, depois as sílabas até a formação de palavras soltas,
para então formar frases e textos. Logo, era necessário aprender essencialmente todas as
letras, sílabas, fonemas, e também memorizá-las para então ler qualquer palavra.
De acordo com Mortatti (2006, p.5), foi neste período que surgiram as primeiras
cartilhas no país.
“As primeiras cartilhas brasileiras, produzidas no final do século XIX, sobretudo
por professores fluminenses e paulistas a partir de sua experiência didática,
baseavam-se nos métodos de marcha sintética (de soletração, fônico e de silabação)
e circularam em várias províncias/estados do país e por muitas décadas”.

Já no método analítico – A institucionalização do método analítico: período de 1890


até aproximadamente 1920. Tornou-se obrigatório a sua utilização nas escolas paulistas, no
qual o ensino se iniciava pelo todo, e só após passava-se para as partes menores, dessa forma,
as cartilhas produzidas nesse período passam a ser de método da palavração, no qual
apresentava que o ensino da leitura deveria ser iniciado pelo “todo”, e depois prosseguir à
análise de suas partes constitutivas. iniciando com uma palavra chave, partindo para as sílabas
e letras.
Mortatti (2006, p.7) destaca que:
“O método analítico, sob forte influência da pedagogia norte-americana, baseava-
se em princípios didáticos derivados de uma nova concepção de caráter
biopsicofisiológico — da criança, cuja forma de apreensão do mundo era entendida
como sincrética. A despeito das disputas sobre as diferentes formas de processuação
do método analítico, o ponto em comum entre seus defensores consistia na
necessidade de se adaptar o ensino da leitura a essa nova concepção de criança.”

No entanto, diversos entendimentos foram surgindo, sendo que, esses entendimentos,


dependiam do que os defensores deste método consideravam como o “todo”: podia ser a
palavra, a frase, ou o texto na época chamado de “historieta".
No terceiro momento – alfabetização sob medida: período de 1920 até
aproximadamente 1970. O ensino da leitura e escrita continuou com a utilização do método
analítico, porém, com determinado tempo, esse método passou a ser discutido por diversos
professores, os quais passaram a utilizar os dois métodos: o sintético e o analítico no processo
da alfabetização.
Leal, Albuquerque e Morais (2010, p.17) destacam que:

“Durante muitas décadas do século XX, quando aqueles métodos ainda reinavam, o
senso comum tratava como alfabetizado o indivíduo que soubesse assinar o seu
nome, em oposição ao analfabeto que, por não conseguir fazer tal assinatura era
proibido de votar nas eleições. [...].”

Desse modo, esse momento ficou marcado pela disputa entre os defensores dos
métodos sintéticos e analíticos, ou métodos mistos.
E por fim passamos ao quarto momento: a alfabetização: construtivismo e a
desmetodização - que teve início por volta de 1980 e estamos vivenciando nos dias atuais, o
qual não se usava para alfabetizar, mais um novo conceito de alfabetização surgiu a partir dos
estudos feitos por Emília Ferreiro (1999) e seus colaboradores.
[...] introduziu-se no Brasil o pensamento construtivista sobre alfabetização,
resultante das pesquisas sobre a psicogênese da língua escrita desenvolvidas pela
pesquisadora argentina Emília Ferreiro e colaboradores. Deslocando o eixo das
discussões dos métodos de ensino para o processo de aprendizagem da criança
(sujeito cognoscente), o construtivismo se apresenta não como um método novo,
mas como uma revolução conceitual, demandando, dentre outros aspectos,
abandonarem-se as teorias e práticas tradicionais, desmetodizar-se o processo de
alfabetização e se questionar a necessidade das cartilhas. (MORTATTI, 2006, p.10)

A abordagem construtivista parte da idéia que a criança deve ser independente na


construção de sua própria aprendizagem, sem o uso de cartilhas,
nem decorar, ou fazer repetições mecânicas, ela precisa aprender sozinha, e o professor
tem a função de apenas mediar o processo ensino-aprendizagem.

Assim com afirma Fossile (2010):

“O Construtivismo afirma que o conhecimento é resultado da construção pessoal do


aluno; o professor é um importante mediador do processo ensino-aprendizagem. A
aprendizagem não pode ser entendida como resultado do desenvolvimento do aluno,
mas sim como o próprio desenvolvimento do aluno.”

Já Soares nos relata sobre uma desinvenção na alfabetização no Brasil, (2003 a e


2003b):
“Entendemos que ocorreu, no Brasil a partir da década de 80 um processo de
desinvenção da alfabetização. Com a chegada da novas perspectivas teóricas
(psicogênese da escrita, na psicologia, teoria de enunciação e do discurso, na
linguística), que punham em xeque os velhos métodos de alfabetização, muitos
educadores passaram não só a questionar e negar o uso de tais métodos, o que nos
parece muito acertado, mas apostar numa alfabetização sem metodologia, sem um
plano de atividades intencionalmente concebidas para ensinar a escrita alfabética.”

Para aprimorarmos o entendimento da história da alfabetização no Brasil, faz-se


necessário conhecer as principais políticas públicas para a educação, em específico as
políticas criadas e voltadas ao campo da alfabetização e letramento, e em como estas auxiliam
para a construção de um país mais justo e igualitário.

2.2 AS PRINCIPAIS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ALFABETIZAÇÃO E


LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Para Teixeira (2002, p. 2) políticas públicas:

“[...] são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e


procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre
atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas,
sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de
financiamentos) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de
recursos públicos.”

É possível compreender as políticas públicas como um conjunto de medidas e


procedimentos que traduzem a orientação política do Estado, os quais têm como
objetivo regular as atividades governamentais e as tarefas de interesse público. Elas são
elaboradas e implantadas e envolvem o investimento dos recursos públicos que o estado
administra.
Os mais recentes rumos da política de alfabetização no país começaram a ser
desenhados a partir da segunda metade dos anos 90, quando foi aprovada a atual Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9.394/1996. Nesta lei ficou resolvido que
cada cidade, estado e a União, a partir daquele momento deveria matricular todas as crianças a
partir dos sete anos de idade e, optativo, a partir dos seis anos no ensino fundamental.
Uma década depois acontece uma alteração da redação dos artigos 29, 30, 32 e 87
da LDB/1996, pela Lei nº 11.274 de 2006, onde o governo federal altera a duração de nove
anos para o ensino fundamental, com matrícula, agora obrigatória, abrangendo a faixa etária
de seis anos.
A intenção da alteração desta Lei (BRASIL, 2007a, p. 14) é, “[...] Oferecer maiores
oportunidades de aprendizagem no período da escolarização obrigatória e assegurar que,
ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos, alcançando
maior nível de escolaridade.”
Nesse mesmo período, também foi aprovado o Decreto nº 6.094/2007 que fala
sobre a implementação do “Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação”, onde a
União juntamente com os municípios e estados, através de programas e ações de assistência
técnica e financeira, determina no seu artigo 2º: I
- estabelecer foco na aprendizagem; II - alfabetizar as crianças até, no máximo, os oito anos
de idade; III - acompanhar cada aluno da rede individualmente, mediante registro da sua
freqüência e do seu desempenho em avaliações (BRASIL, 2007b)
Dessa forma, o documento que orienta sobre o ensino fundamental de nove anos
(BRASIL, 2007a) tem intenção de diminuir os índices de fracasso escolar, pela garantia de
que todas as crianças tenham um tempo ampliado de convívio escolar,
Na seqüência foi aprovado o Parecer CNE/CEB nº 4/2008, que orienta a organização
dos três anos iniciais do ensino fundamental. Onde é reafirmado a criação de um novo ensino
fundamental com matrícula obrigatória aos seis anos a ser adotado por todos os sistemas de
ensino até o ano de 2010, confirmando que
estes 3 anos, é um período dedicado especificamente à alfabetização e ao letramento.
Já em 2010, com a aprovação da Resolução CNE/CBE nº 7/2010, que reorganiza e
fixa novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de Nove Anos, a
serem observadas na organização curricular dos sistemas de ensino e de suas unidades
escolares, com destaque ao ciclo de alfabetização. Esta Resolução define em seu artigo 30,
“Os três anos iniciais do Ensino Fundamental devem assegurar: I – a alfabetização e o
letramento; III – a continuidade da aprendizagem, tendo em conta a complexidade do
processo de alfabetização” (BRASIL, 2010a, p.08).
Entre as determinações consta a indicação que os sistemas educacionais devem
oferecer os meios necessários e suficientes para que nenhuma criança seja retida por
insuficiência de aprendizagem, especialmente nos três primeiros anos, que devem ser
concebidos como um bloco pedagógico não passível de interrupção.
Assim, os programas e as ações destinados ao incremento da alfabetização já
consideram as metas acima citadas, conforme evidenciado pela Portaria nº 867, de 4 de julho
de 2012 que instituiu o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), como
também suas ações e diretrizes gerais. Encontra-se no artigo 1º, que o Ministério da Educação
e os sistemas de ensino reafirmam e ampliam o compromisso previsto no Decreto nº
6.094/2007, de alfabetizar as crianças até, no máximo, os oito anos de idade, ao final do
terceiro ano do ensino fundamental, aferindo os resultados por exame periódico específico,
que passa a abranger:
I - a alfabetização em língua portuguesa e em matemática;
II - a realização de avaliações anuais universais, pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, para os concluintes do 3º ano do ensino
fundamental;
III - o apoio gerencial dos estados, aos municípios que tenham aderido às ações do
Pacto, para sua efetiva implementação (BRASIL, 2012a, p.01).
Documentos orientadores do governo federal (BRASIL, 2006 e 2007) ressaltam que
essa organização de ensino deve estimular o envolvimento mais precoce das crianças das
camadas desfavorecidas com a cultura escolar e com a língua escrita e seus usos, a fim de
contribuir para a redução do fracasso na
alfabetização (BATISTA, 2006) já que a leitura e a escrita são habilidades indispensáveis para
a construção de conhecimentos, tanto na escola como fora dela, e o sucesso do aluno nesse
processo é determinante no percurso de sua vida escolar e no prosseguimento dos seus estudos
Todas essas ações do governo que buscar mudar o quadro da alfabetização no país só
serão válidas se puderem promover impactos na sala de aula, como questionam Silva e
Cafiero (2010, p. 9): “[...] até que ponto os resultados das avaliações em larga escala têm
impactado positivamente as práticas de alfabetização?”.
De maneira a quebrar com a visão de que quanto maior o acesso menor a qualidade,
percebe-se que as políticas educacionais têm produzido uma série de expectativas em relação
à alfabetização em esfera escolar, políticas que apresentam metas a serem alcançadas, através
das várias ações e programas voltadas para a alfabetização.

2.3 CONCEITOS E IDÉIAS DOS PROCESSOS DE ALFABETIZAÇÃO E


LETRAMENTO

Os conceitos de alfabetização, desde tempos remotos, baseavam-se no simples ato de


aprender a ler e escrever. Este fato fez com que o ensino, principalmente nas escolas públicas,
não fosse de boa qualidade.
E com o passar do tempo fez-se necessário, inúmeras mudanças não apenas por parte
da escola, mas principalmente nas práticas pedagógicas aplicadas em sala de aula, sendo
imprescindível que os professores mudassem suas práxis, com fundamentos teóricos mais
relevantes e sempre no intuito de refletir e aprimorar suas práticas pedagógicas diárias.
Na compreensão da professora Magda Soares (2003, p.91),
“(...) Em síntese: alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades
de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja, o domínio da tecnologia
– do conjunto de técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita.”

A alfabetização deveria ser como uma conexão das habilidades capazes de promover
ao indivíduo uma cultura de liberdade, e que a mesma fosse também praticada pelos próprios
sujeitos.
Segundo o autor e professor Paulo Freire (1989, p.24),

“A alfabetização [...] enquanto ato político e ato de conhecimento, comprometida com o processo de
aprendizagem da escrita e da leitura da palavra, simultaneamente com a
―leitura e a ―reescrita da realidade, e a pós alfabetização, enquanto continuidade
aprofundada do mesmo ato de conhecimento iniciado na alfabetização, de um lado,
são expressões da reconstrução nacional em marcha; de outro, práticas a
impulsionadoras da reconstrução.”

É possível perceber que houve mudanças na alfabetização, tanto com relação a sua
definição, quanto no modo como ela é conduzida, levando em consideração os materiais
didáticos, a mudança de técnicas de memorização, os métodos empregados, além é claro dos
fatores sociais, econômicos e políticos.
A professora e escritora Silvia Collelo (2004, p.27), afirma:

“O processo de construção da escrita é muito mais complexo do que supunham os educadores que ingenuamente
insistiam em ensinar abecedários, as famílias silábicas e a associação de letras para a
composição de palavras, sentenças e textos. A capacidade de ler e escrever não
depende exclusivamente da habilidade do sujeito em “somar pedaços de escrita”,
mas, antes disso, de compreender como funciona a estrutura da língua e o modo
como é usada em nossa sociedade.”

Nesse sentido, a alfabetização para a autora está além de uma simples distorção da
visão do entendimento do processo de alfabetização. Ela deve promover ao educando meios
em que possam incluir mais conhecimentos que sirvam como práticas em seu dia a dia e que
sejam capazes de culminar em competências e habilidades de uso da língua enquanto ser
social.
Já para Emilia Ferreiro (1999, p. 24) o processo de alfabetização é concebido
socialmente e transforma-se à medida que sofre influência do meio:

“O desenvolvimento da alfabetização ocorre, sem dúvida, em ambiente social. Mas as práticas sociais, assim
como as informações sociais, não são recebidas passivamente pelas crianças.
Quando tentam compreender, elas necessariamente transformam o conteúdo
recebido. Além do mais, a fim de registrarem a informação, elas a transformam
[...].”

É indiscutível que no raciocínio da autora, a relação de alfabetização está


particularmente ligada ao processo de práticas sociais da leitura e escrita geralmente ligados
ao letramento.
A professora Magda Soares (2009, p.38) construiu um conceito sobre o letramento,
que hoje é considerado como alicerce para muitos estudos e teóricos:
“letra + mento, estabelecendo os significados dos termos: letra como forma portuguesa da palavra latina littera
e, -mento como sufixo, que indica resultado de uma ação. Portanto, letramento é o
resultado da ação de ―letrar-se, se dermos ao verbo ―letrar-se o sentido de
―tornar-se letrado. Resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de
leitura e escrita, o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo
como consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais.”

Nesse sentido, em outras palavras, o letramento tem como natureza mostrar os


resultados em ações das práticas de letrar-se a partir das atividades sociais de leitura e escrita.
Essas práticas sociais de leitura e escrita devem estar relacionadas ao que a criança tem
de vivência em seu contexto social e histórico, pois toda criança ao chegar à escola traz
consigo uma bagagem cultural significativa.
Tfouni destaca que, (2004, p.10) “o letramento tem por objetivo investigar não
somente quem é alfabetizado, mas também quem não é alfabetizado, e, nesse sentido, desliga-
se de verificar o individual e centraliza-se no social.”
É preciso levar em consideração o contexto em que a criança será inserida neste
processo, já que a escrita é como uma base que permite à criança ingressar na cultura do
mundo letrado, facilitando a sua convivência no dia-a-dia.

2.4 REFLEXÃO SOBRE A POSTURA E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR


ALFABETIZADOR NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

É inegável que, dominar somente de forma mecânica a leitura e a escrita não é o


suficiente, há uma necessidade de associar ao processo da alfabetização, o letramento, na
perspectiva de fazer deste processo, uma aprendizagem significativa aos educandos.
Segundo Freire (2002, p. 69), “para que a educação não fosse uma forma política de
intervenção no mundo era indispensável que o mundo em que ela se desse não fosse humano”.
Podemos assim, enxergar que o ambiente escolar – mais específico a sala de aula - deve ser
notado como um espaço de ampla reflexão e diálogo, e que a partir da interação com os outros
e com o meio no qual vivemos, somos formados sujeitos históricos e sociais – seres humanos.
No ambiente escolar não devem existir um sujeito emissor e um receptor, mas sim
sujeitos que se falam entre si mediados por diferentes usos sociais da linguagem: a verbal, a
não verbal, a fala e a escrita.
Pereira (2012, p. 3) reconhece que:
“O aluno é o sujeito, o agente principal do seu próprio desenvolvimento que na sua interação com o ambiente
formativo busca desenvolver todas as suas aptidões e habilidades. O professor é o
que articula, orienta o processo de aprendizagem e a formação dos alunos assumindo
uma postura de parceiro no trabalho de elaboração do conhecimento.”

Percebemos através da colocação de Pereira, a importante atuação do professor no


processo de alfabetização e letramento. Como um agente mediador da cultura, ele possibilita
ao aluno a apropriação da leitura e da escrita através do bom uso da linguagem, permitindo às
crianças, o ingresso à cultura humana, atuando e interagindo socialmente com os outros.
Contudo, nem sempre a alfabetização foi entendida como uma ação no qual o
indivíduo junta o aprendizado adquirido ao conhecimento de mundo para a transformação de
sua realidade. E para compreendermos a definição de alfabetização e o que compõe o
processo de alfabetizar é preciso refletir acerca do entendimento que se tem de alfabetização.

METODOLOGIA
Para o desenvolvimento desta pesquisa, na qual pretende saber qual a importância da
formação do profissional alfabetizador no processo ensino-aprendizagem será utilizada a
revisão de literatura, que é o método de pesquisa que procura explicar um problema por meio
de referências teóricas publicado em documentos (CERVO e BERVIAN,1983, p. 55).
Conforme a classificação são as seguintes, quanto à natureza é básica, com objetivos
exploratórios, abordagem qualitativa e quanto à procedimentos é bibliográfico. Segundo Gil
(2007, p.44) a pesquisa bibliográfica pode ser desenvolvida a partir de material já elaborado,
constituído por livros e artigos científicos.
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