Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
LETRAMENTO
1
Sumário
INTRODUÇÃO................................................................................................. 3
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 14
1
NOSSA HISTÓRIA
2
INTRODUÇÃO
Segundo Lajolo (2001, p. 66), “na tradição brasileira, literatura infantil e escola
mantiveram sempre relação de dependência mútua”. A escola, incontáveis vezes,
recorreu à literatura infantil, por meio do envolvimento provocado pelas narrativas
e/ou pelo encantamento dos versos, para difundir valores, conceitos, atitudes,
comportamentos. Em contrapartida, a escola é para os livros de literatura infantil um
entreposto, seja por meio de leituras obrigatórias ou de outras atividades
pedagógicas.
Enfim, seja como pretexto para realização de exercícios gramaticais, seja por
meio de modelos de análise literária ou para desenvolver o gosto pela leitura, não há
como secundarizar a relação entre escola e literatura infantil, sobretudo quando nos
propomos a enriquecer seu processo de letramento e alfabetizar as crianças.
3
O conceito de letramento
[...] está diretamente relacionado com a língua escrita e seu lugar, suas funções
e seus usos nas sociedades letradas, ou, mais especificamente, grafocêntricas, isto
é, sociedades organizadas em torno de um sistema de escrita e em que esta,
sobretudo por meio do texto escrito e impresso, assume importância central na vida
das pessoas e em suas relações com os outros e com o mundo em que vivem.
Isso significa que, um adulto pode não saber ler e escrever, mas ser, em certa
medida, letrado. O mesmo pode ocorrer com a criança que ainda não foi alfabetizada,
4
mas que tem oportunidade de folhear livros, de brincar de escrever, de ouvir histórias.
Para Soares (1998, p. 24), “[...] essa criança é ainda “analfabeta”, porque não
aprendeu a ler e a escrever, mas já penetrou no mundo do letramento, já é, de certa
forma, letrada”, como o João – personagem criado por Ruth Rocha – que apesar de
ser ainda não saber ler e escrever, aprendeu por 14745 intermédio das orientações
de sua mãe, que as placas nas esquinas indicam os nomes das ruas e facilitam a
localização das pessoas:
Isto quer dizer que o indivíduo letrado, “[...] é não só aquele que sabe ler e
escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a
escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita”
(SOARES, 1998, p. 39-40).
O conceito de alfabetização
5
fracasso escolar das camadas populares, que se verificava na passagem da 1ª para
a 2ª série do ensino de 1º grau”. Nesse período, críticas contundentes foram dirigidas
aos métodos utilizados para alfabetizar.
6
[...] a alfabetização se desenvolve no contexto de e por meio de práticas sociais
de leitura e de escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este, por sua vez,
só pode desenvolver-se no contexto da e por meio da aprendizagem das relações
fonema-grafema, isto é, em dependência da alfabetização (SOARES, 2004, p. 14).
7
para alfabetizar; dirigir o foco para o processo de construção do sistema de escrita
pela criança, esquecendo que este se constitui de relações convencionais e
arbitrárias entre fonemas e grafemas; crer que o convívio intenso com materiais
escritos fosse suficiente para alfabetizar a criança (SOARES, 2004).
Essa situação gerou uma inusitada forma de fracasso escolar, denunciado por
avaliações externas à escola, como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica (SAEB), o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). Esses sistemas de avaliação
revelaram que há muitos alunos não alfabetizados ou semi-alfabetizados
matriculados em todas as séries do ensino fundamental, inclusive no ensino médio.
Contudo, a autora alerta para os riscos que advém desse movimento. Ele pode
ser um retrocesso se o processo de alfabetização for tratado separado do processo
de letramento. É necessário, então, recuperar a especificidade da alfabetização,
desde que se reconheça a relação de indissociabilidade e interdependência existente
entre ela e o processo de letramento. Isto quer dizer a aprendizagem da escrita deve
ser encaminhada de tal forma que as crianças aprendam a ler e a escrever em
situações que considerem as finalidades dessa linguagem e seu impacto na vida
8
social, como aconteceu com o João que ao sair da escola, procurou nas placas,
letreiros de lojas e outdoors, as letras que a professora havia ensinado.
9
Essa orientação coaduna com as reflexões promovidas por Maia (2007) acerca
da formação de leitores. Para ela “[...] a literatura possibilita à criança uma
apropriação lúdica do real, a convivência com um mundo ficcional, a descoberta do
prazer proporcionado pelo texto literário e a apreensão do potencial lingüístico que
esse texto expressa” (MAIA, 2007, p. 67). Isto quer dizer que a literatura infantil além
de poder transportar o leitor mirim a lugares imaginários e de lhe permitir vivenciar
situações que a vida cotidiana não lhe proporcionaria, estimula o interesse pelo texto
escrito enquanto linguagem capaz de materializar ações e pensamentos humanos.
No dia seguinte, cedo, João foi para o colégio. Quando chegaram na esquina
a mãe de João falou:
- Eu olho o que está escrito na placa: RIO BONITO. (ROCHA, s/d, p. 8).
10
Dentre os muitos eventos de letramento, os atos de narrar e ler histórias se
constituem práticas prazerosas e significativas para as crianças, seja nos lares ou em
instituições educativas. Um dos principais objetivos da leitura ou da narração de
histórias na escola é estabelecer interação entre as crianças e a linguagem escrita,
“de modo a possibilitar uma intimidade prazerosa, uma relação afetiva com a natureza
dessa modalidade de linguagem” (MAIA, 2007, p. 95). Para tanto, o professor deve
assumir o papel de mediador entre a criança e o livro. Para a autora anteriormente
mencionada, ao lermos e narrarmos muitas histórias para as crianças estamos
oferecendo-lhes.
11
mesmo não vivendo na mesma época e no mesmo local de seu autor. Isso significa
que se Ruth Rocha tivesse somente contado para seus filhos a história do menino
que aprendeu a ver, poucas seriam as pessoas que hoje teriam acesso à mesma.
Talvez seus netos. Porém, seus filhos poderiam esquecer alguma parte ou não contar
com fidelidade a história inventada pela mãe. Enfim, a história de João poderia sofrer
alterações ou cair no esquecimento. Ao escrever a história, a autora conferiu
concretude à linguagem. Muitas crianças e adultos, independente do local onde
moram ou da época vivida, poderão conhecer a história por ela inventada, lendo o
seu livro.
12
Por isso, o clima instalado após a leitura deve favorecer o diálogo e permitir
que as crianças façam comentários. Segundo Maia (2007, p. 83), “o diálogo e os
comentários sobre as leituras realizadas são necessários para que haja troca de
informações, confronto de opiniões, comunhão de idéias, exposição de valores e,
consequentemente, desenvolvimento dos sujeitos envolvidos no processo”. O
importante salienta Kleiman (1995), é que o conteúdo desses diálogos estenda-se a
outros contextos, aproximando a história às experiências das crianças e permitindo-
lhes fazer inferências.
13
REFERÊNCIAS
DOHME, Vânia. Técnicas de contar histórias. Petrópolis: Vozes, 2010.
ROCHA, Ruth. O menino que aprendeu a ver. São Paulo: Quinteto Editorial,
s/d.
14
15