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Reflexões sobre a relação entre o indivíduo e a sociedade.

“Todos sabem o que se pretende dizer quando se usa a palavra “sociedade”, ou


pelo menos todos pensam saber. A palavra é passada de uma pessoa para outra como
uma moeda cujo valor fosse conhecido e cujo conteúdo já não precisasse ser testado.
Quando uma pessoa diz “sociedade” e outra a escuta, elas se entendem sem
dificuldade. Mas será que realmente nos entendemos?
A sociedade, como sabemos, somos todos nós; é uma porção de pessoas juntas.
Mas uma porção de pessoas juntas na Índia e na China formam um tipo de sociedade
diferente da encontrada na América ou na Grã-Bretanha; a sociedade composta por
muitas pessoas individuais na Europa do século XII era diferente da encontrada nos
séculos XVI ou XX. E, embora todas essas sociedades certamente tenham consistido e
consistam em nada além de muitos indivíduos, é claro que a mudança de uma forma de
vida em comum para outra não foi planejada por nenhum desses indivíduos. (...).
(...) Que tipo de formação é esse, esta “sociedade” que compomos em conjunto,
que não foi pretendida ou planejada por nenhum de nós, nem tampouco por todos nós
juntos? Ela só existe porque existe um grande número de pessoas, só continua a
funcionar porque muitas pessoas, isoladamente, querem e fazem certas coisas, e no
entanto sua estrutura e suas grandes transformações históricas independem,
claramente, das intenções de qualquer pessoa em particular.
Examinando as respostas que hoje se oferecem a essas questões e a outras
similares, defrontamo-nos, em termos gerais, com dois campos opostos. Parte das
pessoas aborda as formações sócio-históricas como se tivessem sido concebidas,
planejadas e criadas, tal como agora se apresentam ao observador retrospectivo, por
diversos indivíduos ou organismos. Alguns indivíduos, dentro desse campo geral, talvez
tenham certo nível de consciência de que esse tipo de resposta realmente não é
satisfatório. É que, por mais que distorçam suas idéias de modo a fazê-las
corresponderem aos fatos, o modelo conceitual a que estão presos continua a ser o da
criação racional e deliberada de uma obra — como um prédio ou uma máquina — por
pessoas individuais. (...)
(...) Já o campo oposto despreza essa maneira de abordar as formações
históricas e sociais. Para seus integrantes, o indivíduo não desempenha papel algum.
Seus modelos conceituais são primordialmente extraídos das ciências naturais; em
particular, da biologia. Mas nesse caso, como tantas vezes acontece, os modos
científicos de pensamento misturam-se, fácil e imperceptivelmente, com os modos
religiosos e metafísicos, formando uma perfeita unidade. A sociedade é concebida, por
exemplo, como uma entidade orgânica supra-individual que avança inelutavelmente
para a morte, atravessando etapas de juventude, maturidade e velhice.(...)”

(ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.)

Operários, Tarsila do Amaral, 1933.

Com base no trecho acima de Norbert Elias e nas discussões em sala escreva uma
redação com no mínimo 10 linhas sobre a relação entre o indivíduo e a sociedade.
Abaixo estão algumas perguntas para orientar sua escrita e reflexão:

1. O que é sociedade?
2. Qual é o papel do indivíduo na sociedade?
3. Como a sociedade se apresenta diante do indivíduo?
4. Quais as principais teses dos clássicos (Durkheim, Marx e Weber) sobre a relação
Indivíduo-Sociedade?
5. Como a sociedade influencia o indivíduo e vice-versa?

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