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Quando surge a Sociologia? A sociologia surgiu, na primeira metade do século XIX, sob o
impacto da Revolução Industrial e da Revolução Francesa. As transformações econômicas,
políticas e culturais suscitadas por esses acontecimentos criaram a impressão generalizada
de que a Europa vivia o alvorecer de uma nova sociedade. O papel decisivo da “dupla
revolução” foi amplificado pelo debate intelectual da época. A discussão girava em torno
do caráter exemplar desses eventos, com as opiniões divididas na avaliação de que se
tratava ou não de desdobramentos irreversíveis da história. As divergências na atribuição
de significado à “nova sociedade” consolidaram três correntes intelectuais e políticas:
conservadores, liberais e radicais.
A sociologia nasce, portanto, como uma reflexão acerca dos contornos da nova
configuração histórica – daí sua preocupação permanente em distinguir e contrapor a
sociedade moderna às sociedades tradicionais. E num ambiente marcado pela competição
entre as visões de mundo do conservadorismo, do liberalismo e do socialismo – daí seu
esforço constante para se distinguir dessas correntes, apresentando-se como uma
alternativa, científica ou mesmo crítica, em relação a tais modelos explicativos.
A ambição intelectual da sociologia, a tentativa de compreender, em um registro científico,
a origem, o caráter e os desdobramentos dessa nova sociedade, levou-a a se apresentar
como uma espécie de contraponto em relação às demais disciplinas das “ciências
humanas”. Assim, desde o início, a sociologia procurou diferenciar-se da economia, da
história, da geografia, da filosofia, da psicologia etc. O esforço para construir uma
identidade própria por meio da superação das disciplinas rivais não se deu apenas pela
absorção de temáticas alheias, recuperadas como partes específicas do saber sociológico,
se prendeu, sobretudo, à pretensão de atingir um padrão de cientificidade na explicação da
vida social equivalente àquele alcançado pelas ciências naturais.
A sociologia concebe-se, assim, não apenas como a disciplina central no campo das
“ciências humanas”, mas como um saber comparável, em termos de explicação e previsão,
às próprias ciências naturais. Essa posição, no entanto, será contrabalançada,
paulatinamente, pela compreensão de que as determinações das possibilidades futuras da
sociedade não podem ser preditas a partir dos modelos do passado, o que levou a
sociologia a situar-se, muitas vezes, como uma perspectiva crítica perante as relações
sociais vigentes.
Nas últimas décadas do século XVIII surgiram, na Europa, dois fenômenos decisivos para a
configuração do mundo moderno: a concentração da produção de bens na “fábrica”, base
do sistema econômico fabril, e a comunidade política de “cidadãos”, livres e com direitos
iguais, vinculados ao Estado-nação.