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DESPORTO 1 G
José Carlos Lima // André Xavier de Carvalho // Bruno Avelar Rosa IPDJ_2021_V1.0
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CONCEITOS-CHAVE
l Ética l Deveres
l Valor l Compromisso
l Espírito desportivo l Exemplo
l Código de ética
1.
ÉTICA E VALORES 1.1 A ética como sistema de valores
no contexto desportivo
NO DESPORTO
O objetivo desta subunidade é o de discutir A ética não só indica o caminho correto do nosso agir, que orienta, daí a importância em abordar esta temática na
a relação da ética com o desporto, obser- como também o que se deve fazer para ser feliz. A necessida- formação do treinador, ajudando o treinador a responder a
vando as particularidades que tornam o de de abordar o tema da ética em contexto desportivo e, de algumas questões nucleares: “Como devo agir? Como com-
desporto um contexto de particular inte- forma particular, na ótica do treinador revela-se fundamental portar-me? O que devo dizer?”. Até porque o treinador ao
resse para o processo de desenvolvimento pois estamos no campo do comportamento moral deste responder a estas questões tem uma finalidade ética: procurar
de cidadania entre todos aqueles que o agente desportivo e seus respetivos impactos. uma “vida boa”, nas palavras de Paul Ricoeur, ou de “viver bem”,
praticam ou que com ele contactam. segundo Aristóteles. Ora, para o treinador ter uma “vida boa”
Neste sentido, a dimensão do dever no treinador é não é outra coisa que uma vida realizada ao serviço dos
nuclear, já a sua ação não só o compromete a ele, como toca
todos aqueles que dependem dele, em especial os atletas que
seus atletas, orientando o seu agir de acordo com valores e
princípios socialmente relevantes. 4
dirige. Ou seja, o seu agir tem consequências sobre aqueles
No desempenho das suas funções de treinador deverá treino. Todos estes valores terão de ter como base a INTEGRI- dor competente. Nesse sentido, importa esclarecer conceitos
sentir que a sua vida “vale a pena”, ajudando todos aqueles DADE. Este valor ético é o alicerce de todos os outros valores, e âmbitos que se vêm tornando, cada vez mais, parte do léxico
que treina a desenvolverem os seus talentos, proporcio- e o treinador, pelo desempenho que tem, terá de ser exemplo dos treinadores e dos contextos em que intervêm.
nando-lhe recursos, e um contexto desportivo e humano para os seus atletas, sendo sempre verdadeiro, trabalhador,
favoráveis para crescerem na prática desportiva como atle- competente, amigo e transparente. Porque se não for o caso, o O termo ética deriva do grego ethos que significa fun-
tas e cidadãos responsáveis. A ética ajuda o treinador a atuar seu comportamento ético não tem fundamento nem eficácia. damento, carácter, alicerce, costume, hábito. É uma área da
de forma correta e justa. Para tal, o treinador terá de ter por filosofia que estuda o comportamento humano, e analisa
base um conjunto de valores – um sistema – que o irão ajudar Nem sempre a temática da ética foi valorizada na forma- a aplicação dos valores que devem orientar o indivíduo e a
a cumprir a sua missão de treinador. Valores como respeito, ção de treinadores, inicialmente muito focado no desenvol- sociedade. Valores esses que vão determinar se a conduta
justiça, superação, trabalho, disciplina, esforço, verdade, saber vimento das competências técnicas e metodológicos destes ou o agir humano é correto ou incorreto. A ética tem como
ouvir, fair play, entre tantos outros no mesmo azimute, são agentes. Contudo, atualmente, a ética é considerada uma finalidade ajudar a pessoa a ser feliz, a ter uma “vida boa”, com
valores que o treinador terá de exercitar e potenciar no seu matéria fulcral no processo de desenvolvimento do treina- sentido e orientada para a realização do eu e do bem comum.
Existem diferentes correntes éticas, ou seja, diversas Ética das virtudes. Ética normativa ou do dever. Ética utilitarista.
formas de dar resposta a um problema, questão ou dilema Defendida por Aristóteles (384-322 Defendida por Emanuel Kant (1724- Defendida por John Stuart Mill (1806-
ético. Com efeito, o seguir de uma corrente ética em concreto, a.C.) na sua obra Ética a Nicómaco, 1804), refere que se deve agir “de 1873), afirma que se deve atuar de for-
não é garante de que as respostas procuradas são mais certas assenta mais na pessoa e menos tal forma que a tua norma se torne ma a maximizar o bem e a minimizar
ou mais erradas, mas contribui para que as decisões que estão na ação, sublinhando o carácter da universal”. Isto é, caso a ação seja o mal.
associadas a estas respostas sejam mais coerentes. As corren- pessoa, e as virtudes que esta deve aceite por todos então está-se a agir
tes fundamentais da ética são a “ética deontológica”, inspirada ter para agir de forma correta. de forma correta. Exemplo: um atleta deve ser substi-
em Kant, a “ética utilitarista”, inspirada em John Stuart Mill, e a tuído de forma a maximizar o rendi-
“ética das virtudes”, inspirada em Aristóteles. Exemplo: o treinador para ser ético Exemplo: um atleta foi mal-educado mento da equipa, mesmo sabendo
terá de ser virtuoso, isto é, nas suas de- durante o treino, sendo colocado de que se está a “sacrificar” um elemento.
cisões terão de constar virtudes, como castigo. Se a grande maioria dos trei-
a verdade, ponderação, respeito... nadores, perante esta situação, tomar
a mesma decisão, então a mesma po-
deria ser considerada como correta. 6
“Temos paz de espírito quando aquilo que queremos é ao mesmo tempo o que
podemos e o que devemos.“
(Mário Sergio Cortella)
?
ESPÍRITO DESPORTIVO, OLIMPISMO E FAIR PLAY
O espírito desportivo/fair play significa não só respeitar as re- ser cada vez melhor. Para Pierre Coubertin, pai dos Jogos Olímpi- ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////
gras do jogo mas, essencialmente, honrar e valorizar o jogo com cos da era moderna, o Olimpismo é uma filosofia de vida, onde
atitudes morais dignas e que vão para além do cumprimento o corpo e o espírito se devem completar, apoiados na cultura e l Devo ou não chamar a atenção a determinado atleta?
das regras, como sejam as atitudes de lealdade, de justiça e educação. Os Jogos Olímpicos representam, assim, um projeto l Posso repreender ou louvar aquela atitude?
de respeito. Veja por exemplo a tendência normativa para a educativo e civilizacional assente em valores universais que l Será oportuno castigar aquele atleta?
inexistência de regras que obriguem a ajudar ou cumprimentar procura unir as pessoas em redor dos seus valores consubstan- l Incentivo o meu atleta a simular uma falta?
um adversário, mas se tal ocorrer – e deve ocorrer! – considera-se ciados pelo Espírito Olímpico e na base do lema Citius, Altius, l Dou anuência para que o meu atleta se dope?
ser uma demonstração de fair play. Fortius (i.e., mais rápido, mais alto, mais forte). l Pela minha atitude, estou a discriminar aquele atleta?
l O tom de voz, e a minha postura, são as melhores?
Por seu turno, mas de forma complementar e até, em certa ALGUMAS PROBLEMÁTICAS DA ÉTICA NO DESPORTO l Que exemplo estou a dar?
medida, fundadora do espírito desportivo/fair play, o Olimpismo Todos os dias o treinador é confrontado com desafios/ l Estou a ser exigente ou complacente com a minha equipa?
defende um conjunto de princípios e de valores que se con- problemas/dilemas morais e éticos, no treino ou no jogo ou l O que devo fazer?
substanciam no chamado Espírito Olímpico que tem por base mesmo no quotidiano, e para os quais terá de dar resposta.
três grandes valores: EXCELÊNCIA, AMIZADE e RESPEITO. Esta Nestas circunstâncias, a ética tem como função ajudar o ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////
dimensão troncal valorativa do Olimpismo é reveladora da sua treinador a responder a esses desafios ou problemáticas.
essência: o mais importante é participar, criar relações e procurar Questões como, por exemplo:
A ética ajuda a responder a estas questões através da apli- Racismo. No desporto, não raras vezes, a dimensão emo- anos, ainda existe um longo caminho a percorrer para que
cação de um sistema de valores. Com efeito, são os valores tiva pode dificultar a perceção desta problemática, pelo se observe uma igualdade efetiva. As mulheres continuam
(por exemplo, os já mencionados respeito, compreensão, que frequentemente se desculpabilizam comportamentos sub-representadas na prática desportiva e nas instituições
exigência, prudência,...) que se utilizam ou aplicam que e expressões racistas como se fizessem parte do processo. desportivas, existem desigualdades nos rendimentos e
irão determinar a qualidade da resposta. Numa ação moral O racismo acontece quando, por preconceito, se discrimi- prémios desportivos, na cobertura dos média e no acesso a
– ética de situação – é necessário ter em conta a norma da na outra etnia que não a nossa. O treinador terá de estar instalações e recursos. A fotografia traçada recentemente a
ação, o contexto, a intenção do agente, e as consequências atento a este fenómeno para não permitir este tipo de nível da Europa e em Portugal (Conselho de Europa, 2019)
desta ação. Entre as diferentes problemáticas com que o comportamentos no seio da sua equipa. Ele próprio deve- revela que o desporto continua a ser um setor dominado
treinador se pode deparar e que, reconhecidamente, existem rá ter cuidado nas expressões que utiliza, ter em atenção pelos homens: no desporto federado as mulheres cons-
no desporto mas também encontram no desporto um foco o contexto social em que treina, para que o seu exemplo tituem cerca de 30% dos praticantes, nas direções das
de solução, encontram-se as seguintes (as quais são apresen- não seja um fator de segregação, mas sim de agregação. federações nacionais apenas 14% são mulheres dirigentes,
tadas partindo da perspetiva e contexto de intervenção do e unicamente 9% dos treinadores filiados são mulheres.
treinador e não do desporto no sentido global): Especialização precoce. O treinador deverá planear o seu
treino de acordo com a fase e o desenvolvimento matu-
O treinador deverá ter conhecimento das desigualdades
que persistem e dos obstáculos e resistências à igualdade 10
racional dos seus atletas, respeitando as diversas fases entre os sexos na prática desportiva, procurando reduzir
de crescimento dos mesmos. Do ponto de vista ético, o estereótipos de género e barreiras à participação, criando
treinador deverá respeitar as capacidades do atleta, e ao experiências desportivas inclusivas e equitativas.
mesmo tempo ter em conta os seus limites, procurando
agir sempre no interesse da sua saúde. Por vezes, uma
exigência competitiva desproporcionada pode levar a ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////
um desequilíbrio emocional e físico dos atletas. Ao se
Conheça o toolkit “Howto
PREMS 012915
“queimarem” as etapas do desenvolvimento da criança ou
ALL IN: Towards gender balance in sport
The “ALL IN: towards gender balance in sport” European Union-Council of Europe joint project
TOOLKIT
FRANCE FRANCE
provides support to public authorities and sports organisations when designing and implementing
policies and programmes aimed at tackling gender inequalities in sport and adopting a gender
mainstreaming strategy.
• “All In” u Data collection on gender equality in sport in leadership, coaching, participation, HOW TO MAKE AN IMPACT
Make an Impact on
between countries and sports, and to help design evidence-based policies. GENDER EQUALITY
media / communication and gender-based violence, to monitor the progress, to allow comparisons
GENDER
ON GENDER EQUALITYEQUALITY
IN SPORT
IN SPORT IN SPORT
jovem, está-se, de certa forma, a violentar a dignidade da
• “All In” u Developing concrete materials and activities, to support policy making and driving
changes. In addition to this toolkit, the following have been developed:
3• an online library of practices and resources on gender equality and gender mainstreaming in sport;
All you need to know
3• face-to face-training seminars;
PREMS 088019 – Photos: Benjamin Eagle / International Olympic Committee / Tommy Lisbin / Shutterstock
3• relevant awareness-raising tools (testimonies, video messages on gender equality in sport, etc.).
Gender Equality in
STEPPING UP THE PACE
www.coe.int/sport/ALLIN
Warm thanks go to Engender asbl, in particular Florence Pauly, Katrien Van der Heyden and Nathalie Wuiame,
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84.5 YEARS MEDIAN AGE
51.3% 84.5 YEARS
sport.gender@coe.int
41.2 YEARS
©Council of Europe, September 2019
Sources: Countrymeters 2019
ENG 41.2 YEARS Sources: Countrymeters 2019
Concelho de Europa.
gender equality in sport, have a look at the project website: www.coe.int/sport/ALLIN gender equality in sport, have a look at the project website: www.coe.int/sport/ALLIN
ALL IN: Towards gender balance in sport (Erasmus +) ALL IN: Towards gender balance in sport (Erasmus +)
1. The results are based on 31 national federations of Olympic sports plus the Ministry of Sports and the Olympic Committee. Data are as at 31 December 1. The results are based on 31 national federations of Olympic sports plus the Ministry of Sports and the Olympic Committee. Data are as at 31 December
2018; except the ones about participation in sport, which refer to data as at 31 December 2017. 2018; except the ones about participation in sport, which refer to data as at 31 December 2017.
2. Estimated for 2019 2. Estimated for 2019
Violência. Existem diversos tipos de violência – física, emocio- tacto físico necessário e a partilha de balneários e espaços Bullying. Sendo também uma forma de abuso, o bullying
nal, verbal... – e sempre que esta acontece viola-se o princípio confinados com adultos também expõem mais as crianças e faz referência ao uso sistemático de poder com o objeti-
básico da ética que é o respeito pela pessoa humana. Ao infligir jovens a diversas formas de violência sexual. Por outro lado, vo de humilhar e rebaixar o outro, ferindo a sua dignida-
castigos físicos, ao ser violento verbalmente, chamando nomes, da parte das organizações, e considerando os padrões de de e personalidade, podendo marcar de forma negativa
por exemplo, ou rebaixando o atleta de forma humilhante, o trei- desenvolvimento associados aos processos já solucionados, a criança e, no caso da sua ocorrência em contexto
nador não está a educar, nem a formar. Está a exercer um poder parece haver uma tendência para que as instituições envol- desportivo, contribuir para o abandono da prática. No
baseado numa autoridade que não lhe é conferida, podendo, vidas – ainda que indiretamente – procurem evitar o escân- desporto, e segundo Nery, Neto, Rosado e Smith (2020),
inclusivamente, ser processado criminalmente. dalo preferindo, por isso, silenciar o abuso. Este abuso pode a incidência desta problemática ronda os 10 a 12% (de
//////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// assumir diferentes formas físicas ou verbais, assédio, uso de vitimização). No espaço desportivo, o bullying normal-
pornografia infantil, agressão sexual entre pares, etc., e pare- mente acontece entre colegas de treino, em ambiente de
Conheça a “Violência zero“ , ce ocorrer particularmente por parte de agressores que são balneário e outros locais onde a supervisão de adultos
campanha de sensibilização contra a conhecidos e da confiança das crianças e jovens e das suas é menor. Outra forma de bullying reportada é efetuada
violência no desporto levada a cabo pelo
Governo de Portugal desde 2019.
famílias. Tendo em conta a estimativa de prevalência do abu-
so sexual, o modo de atuação dos agressores e a dificuldade
pelo próprio treinador. Este consiste essencialmente
em práticas de treino abusivas, que se baseiam na falsa 11
da criança ou jovem revelar a situação, é crucial e fundamen- crença que ajudam a “enrijecer” os atletas. Neste sentido,
tal que o treinador possua conhecimentos e competências o treinador terá de estar atento à sua forma de se expres-
//////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// para entender, evitar, prevenir e saber como responder aos sar e aos seus gestos, porque quando expressões como
fatores que aumentam a vulnerabilidade dos jovens atletas “não vales nada” ou outras ocorrem, de forma repetida,
e a ocorrência destas situações, pois está em jogo – nunca é estamos perante um caso de bullying do treinador que
Abuso sexual de crianças e jovens. Esta é uma problemá- demais reforçar! – a dignidade e o bem estar da criança e do em nada beneficia o desenvolvimento do jovem, bem
tica extremamente grave e complexa e que tem vindo a ser jovem, ou seja, do ser humano que os constitui. pelo contrário.
reportada com particular mediatismo nos últimos anos por
diferentes quadrantes da sociedade e do sistema desportivo. //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////
No desporto também acontece, de modo particular, quando Conheça a campanha “Start Projeto português “Desporto
existe tolerância à discriminação, violência física, verbal ou to talk“ desenvolvida pelo sem bullying“ que conta
comportamentos sexuais inadequados por intervenção Conselho de Europa com o com o apoio do Plano Nacional
do treinador sobre os ou as atletas. Prospera dentro de um objetivo de prevenir o abuso de Ética no Desporto (PNED).
ambiente em que o exercício de “poder” e da “autoridade”, sexual de crianças e jovens no
nomeadamente por parte do adulto, provoca medo e desporto.
dependência. A perda de “barreiras naturais” devido ao con- //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////
Sustentabilidade. O desporto é também um contexto O desporto é uma atividade humana global e, como
de grandes eventos, cuja exploração pode pôr em causa tal, tem sido palco para o desenvolvimento das diferentes
Pontos-chave
o equilíbrio dos recursos naturais do planeta. Contudo, e
particularmente desde a publicação da Agenda 21 por parte
problemáticas analisadas, as quais são também transversais às
restantes dimensões da sociedade. Contudo, o desporto assu-
! da subunidade
do Comité Olímpico Internacional em 1992, que diferentes me-se sobretudo como um poderoso contexto e ferramenta
organizações desportivas com diferentes escalas e dimen- de influência da sociedade com vista à promoção dos valores 1. A ética como sistema de princípios e de valores que
sões têm procurado também promover a sustentabilidade éticos que constituem a sua matriz. orientam a ação do treinador.
das suas intervenções. Atualmente, e em linha com a concre-
tização dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável 2. A compreensão e vivência de valores como meio para
2030, propostos pela Organização das Nações Unidas, são a formação do caráter.
inúmeros os documentos que providenciam orientações
para a promoção e desenvolvimento de um desporto mais 3. A importância do espírito desportivo.
sustentável e amigo do planeta.
4. Diversas problemáticas no campo da ética desportiva. 13
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2.
O papel do treinador na promoção
PROMOÇÃO DA ÉTICA O objetivo desta subunidade é potenciar o enquadramento 2.1.
dos treinadores relativamente à sua intervenção pedagógica dos valores humanistas no desporto
NO DESPORTO junto dos praticantes, particularmente os mais jovens, do ponto
de vista da educação para valores e ética desportiva.
e sua deontologia
Partindo de uma abordagem concetual, procura-se fornecer Os treinadores, enquanto agentes centrais no processo
algumas orientações, e diferentes ferramentas de apoio, para que de desenvolvimento desportivo, desempenham um papel de
os treinadores possam, por um lado, ter presente aqueles que são responsabilidade na transmissão de valores éticos a todos os
os seus deveres e responsabilidades, e, por outro, operacionalizar que com eles se relacionam, em particular os atletas, sendo esta
a sua ação no âmbito da educação para a ética através da prática responsabilidade também partilhada pelas instituições às quais
desportiva, melhorando ainda mais a sua intervenção educativa. estes estão vinculados.
15
Mais do que formar atletas, os
treinadores estão igualmente (e acima
de tudo) a formar pessoas, homens e
mulheres, que são os nossos futuros
cidadãos.
Para rentabilizar os benefícios da prática desportiva através desportivo. Em traços gerais, a intervenção de um treinador
da intervenção do treinador, é importante que o foco, para pode incidir na prática desportiva como um meio – predo-
além do desempenho desportivo propriamente dito, esteja O desporto constrói cidadania minando os objetivos associados à utilização do desporto
no impacto que o mesmo tem nos indivíduos a nível biológi- e promove o desenvolvimento como ferramenta de desenvolvimento humano – ou como
co, psicológico e social. um fim – com o objetivo de adquirir um determinado de-
humano! sempenho e aumentar a performance de forma a competir
Neste sentido, complementarmente aos benefícios para Esta ideia tem vindo a ser defendida e promovida por e ganhar. Naturalmente, ambas as abordagens são válidas
a saúde que a prática desportiva comporta, já amplamente algumas das mais prestigiadas instituições internacionais, e, mais que isso, podem ser simultâneas e conciliáveis,
divulgados, outro impacto essencial da prática desportiva, como é o caso da Organização das Nações Unidas para a sendo que o importante num contexto de treino despor-
relaciona-se com o seu potencial enquanto ferramenta para o Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) que assumiu este tivo é reforçar a necessidade de que não se descure este
desenvolvimento da cidadania. Com efeito, e como já foi referido, desígnio em 1978 através da adoção da Carta Interna- potencial que o desporto apresenta enquanto meio de
o desporto é também contexto e motor para o desenvolvimen cional da Educação Física, Atividade Física educação. Consubstanciam-se assim as designadas inter-
to de valores pessoais, interpessoais e cívicos, os quais são
essenciais para uma cidadania plena e socialmente consciente
e Desporto. Nesta carta é defendido o potencial educa-
tivo do desporto, hoje também materializado pela UNESCO
venções “PELO desporto” ou “PARA o desporto”, esquema-
tizadas na figura seguinte. 16
por parte das crianças e jovens e futuros adultos. através da criação de um programa de Educação
para Valores através do Desporto.
O CÓDIGO DE ÉTICA
Um código de ética desportiva representa uma estrutura Neste enquadramento, além do cumprimento das orientações Qualquer forma de prática desportiva,
axiológica indicativa do comportamento e conduta que constantes num qualquer código, a assunção e vivência do “espí-
todos os agentes desportivos (e demais envolvidos no fenó- rito desportivo” é essencial para o êxito do processo de educação de caráter competitivo ou não, só faz
meno desportivo) devem adotar, tendo por base a universa- desportiva, revelando-se igualmente benéfico para o indivíduo, as sentido se organizada e vivida com
lidade dos valores e princípios éticos que constituem a matriz organizações desportivas e a sociedade onde se inserem. Com efei-
do desporto e que devem estar associados à sua prática. to, um desporto baseado nos princípios da ética será, para todos
dignidade, respeito e equidade entre
os que nele participam, mais apelativo, motivador, realizador e todos os participantes - forma adequada
Contudo, um código de ética desportiva não é um docu- útil. Assim, especial enfoque deverá ser dado à responsabilidade
de Espírito Desportivo.
mento prescritivo no qual se encerra a ética e se estabelecem de todos os agentes envolvidos na transmissão dos valores do
Código de Ética Desportiva
os seus limites. Neste âmbito, é importante considerar que, à desporto, de forma a possibilitar às crianças e jovens o desenvolvi-
(Plano Nacional de Ética no Desporto, 2014).
imagem do já discutido na subunidade 1, o “espírito despor- mento de um quadro de referência que lhes permita fazer escolhas
tivo” e respetivo fair play superam a existência de qualquer
regulamento, tal como, aliás, é explicitado no próprio Código
responsáveis perante as eventuais pressões criadas em torno das
problemáticas que também afetam o desporto e que foram obser- 17
de Ética Desportiva publicado pelo Conselho da Europa. vadas na subunidade anterior. Em Portugal, dois códigos assumem referência normativa:
l O Código da Ética Desportiva publicado pelo Conselho
violência (tanto física como verbal), contra o assédio e os Nacional de Ética no Desporto em 2014, com o objetivo
abusos sexuais de crianças, jovens e mulheres, contra de representar um instrumento, reconhecido e assumido
a exploração, contra a desigualdade de oportunidades, a nível nacional pelas diferentes organizações e profissio-
contra a comercialização excessiva e contra a corrupção. nais, que contribua para a edificação de um desporto que
se alicerça num conjunto de valores aceites, compreen-
Código da Ética Desportiva (Conselho da Europa, 2001) didos e vivenciados por todos os cidadãos, em particular,
pelos mais jovens. Este código considera três dimensões
fundamentais:
a) A ética desportiva em todas as suas vertentes, mas par- OS DEVERES E COMPROMISSO DO TREINADOR ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////
ticularmente como meio de prevenção dos fenómenos Aos agentes desportivos, onde se incluem os treinadores,
sociais que, por qualquer forma ou grau, atentem contra cabe aceitar, zelar e cumprir todas as regras de natureza ética, Conheça as funções primárias que são
a essência do desporto, tais como: a violência, dopagem, comportando-se com a consciência de que são um exemplo exigidas a um treinador de acordo com
racismo, xenofobia, discriminação social, e todos os atos e uma referência para os praticantes e cidadãos em geral, e a Comissão Europeia no documento
e/ou omissões que desvirtuem a verdade desportiva. sempre com a preocupação de dar a conhecer aos jovens os va- publicado em 2020, “Guidelines
b) A educação pelo desporto, como forma de fomento lores e princípios do desporto (e da vida). Assim, são DEVERES Regarding the Minimum
da prática de múltiplos valores humanos mas também DO TREINADOR: Requirements in Skills and
como forma de defesa dos hábitos de vida saudável, do Competences for Coaches“,
meio-ambiente, dos espaços lúdicos, de lazer e de des- l Estabelecer uma relação exemplar com todos os outros e constate a importância atribuída ao
porto. Nesta dimensão educativa, os agentes desportivos agentes (praticantes, pais, técnicos de arbitragem, adversá- seu papel educativo.
assumem um elevado grau de responsabilidade através rios, entre outros agentes). ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////
do seu exemplo, em particular para com os mais jovens.
c) O fair play/jogo limpo no desporto, com o inerente fo-
l Estimular estes diferentes agentes para a prossecução de
um desporto mais ético e mais educativo. 18
mento do respeito e do cumprimento estrito das regras, l Demonstrar respeito pelos participantes e pelas persona- Uma forma eficaz de se potenciar a concretização destes
bem como da amizade, do respeito mútuo e da correção gens do universo do desporto. O treinador tem a obrigação deveres e responsabilidades é a da formalização, por parte dos
no relacionamento com todos os que se entrecruzem no ética de respeitar todos os que participam nas atividades agentes desportivos, de um compromisso para a prossecução
desporto, nomeadamente com os adversários. desportivas no exercício de funções que lhes são próprias. dos valores que lhe estão associados. Com efeito, um com-
l Representar e expressar de forma EXEMPLAR determina- promisso com a ética desportiva é, por natureza, não apenas
dos valores perante os seus praticantes e restantes agentes. uma mera enunciação geral de princípios de atuação concreta
l Entender a competição como uma manifestação despor- perante o fenómeno desportivo, mas também uma exigência
tiva que é parte do processo e não o seu produto. de conduta que deve nortear o indivíduo ao longo da sua
l Promover e potenciar os benefícios a nível biológico, intervenção no contexto desportivo.
psicológico e social que a prática desportiva acarreta.
Em estreita relação com o Código de Ética Desportiva publi-
cado em 2014, o Plano Nacional de Ética no Desporto publicou
os Compromissos com a Ética que devem ser assumidos pelos
diferentes agentes associados ao fenómeno. No caso dos treina-
dores, o compromisso com a ética implica também diferentes
ações, algumas das quais indicam-se de seguida.
OS VALORES DO TREINADOR
O treinador está a jusante da pessoa que o constitui. Nesse sen-
tido, os valores do treinador serão, invariavelmente, os valores da
pessoa que assume a posição e a função de treinador. Contudo, 19
tal como já mencionado na subunidade anterior, estes valores, e
principalmente a sua aplicação e vivência, são contextualizados ao
âmbito desportivo, às características da atividade desportiva e aos
l Respeitar, por todas as formas e em todos os momentos, l Opor-se à utilização de quaisquer substâncias ou méto- objetivos do processo de ensino-aprendizagem e treino desenvol-
e de modo igual, os praticantes que estejam sob a sua dos proibidos que melhorem artificialmente o desempe- vido. Os valores do treinador representam assim a confluência
alçada, preservando a saúde e a integridade física e nho dos praticantes, nos termos das regras antidopagem entre a matriz desportiva, a intenção educativa e os princípios
mental dos mesmos. aplicáveis, e à utilização de métodos que não estejam em que regem a pessoa do treinador, os quais lhe devem permitir
l Fomentar o desportivismo entre os praticantes, incluindo conformidade com a ética médica ou com dados científi- desenvolver a sua intervenção em plena harmonia e cumprimento
nos próprios treinos. cos consistentes. dos mais nobres valores éticos e humanos.
l Recusar e denunciar a fraude ou manipulação de resulta- l Não empregar métodos de treino, práticas e regras que
dos, defendendo sempre a verdade desportiva. possam prejudicar a saúde e o bem-estar do praticante, Contudo, considerando as já observadas diferentes áreas de
l Fomentar a relação saudável entre todos os colegas de classe. bem como avaliar, e ter em conta as etapas de cresci- intervenção que coabitam no contexto desportivo – “intervenção
l Constituir um modelo ético para todos, sobretudo para os mento e o seu estado de desenvolvimento, procurando PARA o desporto” e “intervenção PELO desporto” – e, sobretudo, a
mais jovens. assegurar uma adequada nutrição, tempos de lazer e de sua articulação, é importante reconhecer a importância do con-
l Fomentar, em todos os escalões etários, os valores éticos recuperação e uma integração do sistema com as ativida- texto e do carácter situacional da aplicação dos valores. Neste
subjacentes ao desporto e à vida. des escolares e sociais. sentido, e na garantia do superior interesse educativo do atleta, o
treinador deve sempre procurar providenciar uma resposta íntegra Conforme já abordado, os valores e a ética, mais do que
“A aquisição de valores e princípios
e honesta, suportada pelo equilíbrio entre a lógica associada indicativos de conduta e referências comportamentais,
ao rigor/exigência/disciplina e o apoio/suporte/compreensão. devem efetivamente ser vividos, e assim compreendidos não se faz por imposição, por ‘decreto’,
É o equilíbrio entre a aplicação destes valores que se revela a e desenvolvidos. Não se pretende assim que os treinadores pela simples leitura de documentos, é
integridade e o sucesso da intervenção do treinador. A ima- “apenas” conheçam as normativas e os referenciais éticos,
gem seguinte procura ilustrar esta perspetiva através da procura mas antes que os ponham em prática e os promovam, pois, algo que se constrói, implicando, por isso,
pelo e equilíbrio entre a ideia de “mão aberta” (que representa a efetivamente, os seus atletas somente os compreenderão o seu ‘ensino’ e a sua prática.“
“suavidade” associada ao apoio/suporte/compreensão) e a ideia se os seus modelos e referências formativas pautarem o seu (Gonçalves, 2003).
de “mão fechada” (que representa a “dureza” associada ao rigor/ comportamento de acordo com os mesmos, ou seja, agindo
exigência/disciplina), a partir das quais se determinam alguns dos sob a égide da “PEDAGOGIA DO EXEMPLO”.
mais importantes valores que o treinador deve defender, praticar e
desenvolver na sua intervenção.
20
INTEGRIDADE
TABELA 2.1 - Recursos e programas institucionais nacionais e internacionais relacionados com a promoção da ética desportiva.
Recursos PNED
ou com apoio
do PNED
Bandeira da Ética Ética no desporto: Linhas Educar para a ética no Juramento pela ética (para Cartão branco (para utilização Módulo LED’s play (do Caravana “Centro de Estágio
(Portugal) orientadoras para treinadores desporto (Flyer para pais) utilização em competições) em competições) programa LED on Values da dos Valores no Desporto”
(Avelar-Rosa, 2014) Fundação Luso-Ilíria para o
Desenvolvimento Humano
Planos e
programas
institucionais
Violência zero Programa de Educação Desporto sem bullying Score Play by the rules True Sport True Sport
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(Portugal) Olímpica (Portugal) (Portugal) (Canadá / Portugal) (Austrália) (Canadá) (EUA)
Olympic Values Education Values education through Positive Coaching Alliance Sport et Citoyenneté Sport and Development Peace and Sport Beyond Sport
Programme (Comité Olímpico sport (UNESCO) (EUA) (França) (Suíça) (Mónaco) (Reino Unido)
Internacional)
Além dos recursos providenciados por diferentes organi- Princípio 1. EXEMPLOS PRÁTICOS
zações e programas um pouco por todo o mundo, importa Manter presentes os objetivos educativos da prática Conforme tem vindo a ser amplamente defendido, a ética
também reconhecer as estratégias pedagógicas e didáticas que desportiva e os valores praticam-se, manifestando-se através dos nossos
podem ser utilizadas pelos treinadores em contexto de treino. Independentemente do contexto de intervenção e as comportamentos, atitudes, reações e decisões. Fundamen-
características e objetivos do grupo e dos atletas, mas conside- tados pela intencionalidade do treinador, os seus valores,
rando as suas particularidades, estruturar sempre a promoção os valores matriciais do desporto e os princípios para uma
APLICAÇÃO DOS VALORES EM CONTEXTO DE TREINO de valores éticos através do desporto como um objetivo essen- intervenção mais ética, são várias as estratégias e ações que
Como vem sendo assinalado, o desenvolvimento de um cial do processo de ensino-aprendizagem e treino. podem ser levadas a cabo em contexto de treino com vista
desporto mais ético não se pode restringir à mera retórica ao desenvolvimento da ética. Entre as infindáveis possibilida-
dos treinadores e restantes agentes desportivos. É essencial Princípio 2. des, destacam-se as seguintes.
que os valores que lhes estão associados e que se preten- Gerir o diálogo e utilizar linguagem que transmita
dem ver desenvolvidos sejam vivenciados, explicitados confiança e compreensão l Utilizar valores (por exemplo: cooperação, superação,
e aplicados, tornando-os ferramenta e objetivo da inter-
venção do treinador em termos pedagógicos e didáticos.
Comunicar de forma simples, eficaz, adaptada à circuns-
tância e perguntando no final se a mensagem foi percebida. l
disciplina, ...) como critério de êxito de tarefas propostas.
Utilizar rituais e manifestações demonstrativas de cordia- 23
Contudo, previamente à devida operacionalização prática, e Procurar explicitar sempre a razão das decisões e o impacto lidade e respeito pelo outro (companheiros e adversários)
com base em Avelar-Rosa (2014), consideram-se três grandes que se espera que as mesmas impliquem no desenvol- e pelo espaço de prática (à imagem do que já se faz nas
princípios que, baseados nos valores que se pretendem vimento das diferentes dimensões dos atletas, onde se artes marciais e desportos de combate).
desenvolver através da prática desportiva, devem reger toda integra, naturalmente, a dimensão ética. l Conceber diferentes responsabilidades na organização
e qualquer intervenção prática do treinador. dos treinos (fazer grupos, arrumar material, assumir a
Princípio 3. tarefa de “capitão” ou de “árbitro”). Todos os praticantes
Estimular, de forma sistemática, a assunção crescente devem passar por todos os papéis, devendo ser também
de responsabilidade e proatividade responsáveis pela gestão deste calendário de tarefas.
Planear e intervir com o objetivo de que o comporta- l Observar/discutir aberta e explicitamente situações
mento dos atletas seja cada vez mais autónomo, indepen- exemplares (positivas e negativas) ocorrentes nos treinos
dente e confiante, contribuindo assim para a construção e sua respetiva solução.
de indivíduos mais ativos e responsáveis do ponto de vista l Realizar exercícios de “role playing” / ”role changing” esti-
individual, interpessoal e cívico. mulando particularmente as responsabilidades de cada
um no seio da atividade.
No seguimento destes princípios, diversas ações práticas l Recorrer à imagem e à mensagem de grandes atletas que
são passíveis de ser desenvolvidas tal como observado no sejam exemplares e sua promoção como inspiradores.
subponto seguinte.
Entre as diferentes atividades que se podem levar a cabo, O desporto é um contexto pródigo na criação deste 2 O atleta da nossa equipa simula uma falta e o árbitro
existe uma que se considera ter particular interesse educativo tipo de dilemas com este cariz, particularmente quando se assinala falta em nosso benefício. O que fazemos? Acei-
e que se relaciona com a “reflexão conjunta sobre dilemas cruzam questões regulamentares com o espírito desportivo. tamos que simular faltas faz parte do jogo e usufruímos
éticos que promovam a discussão entre os atletas sobre de- A título de exemplo, são expostas algumas dessas possibili- do respetivo benefício? Avisamos o árbitro de que não é
terminadas condutas e situações”. O interesse particular desta dades. falta e afirmamos a nossa recusa do benefício, mantendo
temática relaciona-se com o facto de qualquer decisão ou ação a verdade desportiva como valor superior?
ter na sua base, de forma mais ou menos explícita, um conjunto 1 Num jogo decisivo, e já perto da hora de jogo, o adver-
de valores éticos e morais, princípios, regulamentos, regras, leis sário informa-nos que teve um problema no transporte 3 Na preparação para um torneio importante, o nosso
ou convicções onde é necessário estabelecer uma hierarquiza- e que chegará atrasado (o atraso será superior ao tempo melhor atleta não se treinou devidamente, enquanto
ção de valores. Na maioria das vezes, nenhuma das soluções que regularmente é obrigatório esperar). O que fazemos? outro, bastante menos talentoso, deu tudo o que tinha.
de um dilema é totalmente positiva pelo que se torna neces- Esperamos e jogamos? Não esperamos e ganhamos sem No momento de escolher entre os dois, que decisão to-
sário decidir por aquela opção que é menos prejudicial. jogar? mamos? Escolhemos o que treinou melhor, porque esse é
um valor superior? Escolhemos o mais talentoso porque
nos dá maiores garantias de vitória? 24
A respeito destes dilemas no contexto desportivo, o Pla-
no Nacional de Ética no Desporto realizou a curta-metragem
“Joga Bem” (versão youtube), em cuja história são propostos
e discutidos diferentes dilemas, recomendando-se também
a análise à rúbrica “O que farias se...” e às “Histórias de valores
no desporto – exploração didática de casos práticos”.
FIGURA 3 - O “dilema do comboio” é um famoso dilema ético, onde se estimula a decisão rápida (10 segundos) entre duas possibilidades: 1. Nada fazer e
deixar morrer 5 pessoas. 2. Puxar a alavanca e morrer 1 pessoa.
Pontos-chave
! da subunidade
1. O papel do treinador na promoção de valores huma-
nistas.
2. O código de ética.
4. A importância do exemplo.
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REFERÊNCIAS
Avelar-Rosa, B. (2014). Ética no Ferreira, F. (2015). Manual de Nery, M., Neto, C., Rosado, A. Plano Nacional de Ética no
Desporto: Linhas Orientadoras Boas Práticas no Desporto: Ética & Smith, P. K. (2020). Bullying Desporto (2014). Código de
para Treinadores. Mafra: Ambiental. Mafra: Instituto Luso- in Youth Sports Training: New Ética Desportiva. Lisboa: Instituto
Instituto Luso-Ilírio para o Ilírio para o Desenvolvimento Perspectives and Practical Português do Desporto e
Desenvolvimento Humano. Humano (iLIDH). Strategies. London: Routledge. Juventude, I.P.
Conselho da Europa (2001). Lima, J., & Marcolino, P. (2012). Organização das Nações
Código da Ética Desportiva. Manual Plano Nacional de Ética Unidas para a Educação, a
Rhodes: Conferência dos no Desporto. Plano Nacional de Ciência e a Cultura (2005). Carta
Ministros do Desporto dos
Estados-Membros do Conselho
da Europa.
Ética no Desporto (1ª Ed.). Lisboa:
Instituto Português do Desporto
e Juventude, I.P.
Internacional da Educação Física,
Atividade Física e Desporto. New
York: UNESCO.
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AUTORES
JOSÉ CARLOS LIMA, ANDRÉ XAVIER DE CARVALHO 31
E BRUNO AVELAR ROSA
ÉTICA NO DESPORTO