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SUMÁRIO:

CAPÍTULO I ........................................................................................................... 3
1. CIÊNCIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO................................................... 3
1.1 Introdução ................................................................................................... 3
1.2. Conceitos e Definições .............................................................................. 3
CAPÍTULO II .......................................................................................................... 6
2. PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO DESPORTIVO ............................................. 6
2.1. O que são os princípios do treinamento?.............................................. 6
2.2 Divisão dos princípios do treinamento desportivo (PTD) ....................... 7
2.2.1 Os princípios pedagógicos ...................................................................... 7
2.2.1.1 Princípio da participação ativa e consciente do treino ...................... 8
2.2.2.2 Princípio da transferência ................................................................. 9
2.2.2.3 Princípio da periodização ...............................................................13
2.2.2.4 Princípio da adequação ..................................................................15
2.2.2 Os princípios biológicos .........................................................................16
2.2.2.1 Princípio de unidade funcional .........................................................17
2.2.2.2 - Individualidade biológica ...............................................................17
2.2.2.3 - Princípio da adaptação ..................................................................20
2.2.2.4 - Princípio da multilateralidade ........................................................22
2.2.2.5 - Princípio da especificidade ............................................................24
2.2.2.6 - Princípio da sobrecarga (aumento progressivo do esforço) ..........28
2.2.2.7 - Princípio da continuidade ..............................................................31
2.2.2.8 - Princípio da progressão.................................................................33
2.2.2.9 - Princípio da reversibilidade ...........................................................35
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................38
BIBLIOGRAFIA: ...................................................................................................39
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CAPÍTULO I

1. CIÊNCIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO

1.1 Introdução

Quando se fala em treinamento, muitas ideias surgem naturalmente em


relação ao tipo de atividade ou exercício utilizado na condição de exercer uma certa
adaptação ao organismo através de ações dirigidas. No contexto mundial, muitos
autores definem Treinamento e/ou Treinamento Desportivo de acordo com seu
envolvimento no mundo desportivo ou simplesmente na prática regular de uma
atividade motora.

1.2. Conceitos e Definições

Para Matveiev (1983), um dos mais conceituados estudiosos do mundo da


prática desportiva, treinamento “é a forma fundamental de preparação, baseada em
exercícios sistemáticos, representando um processo organizado pedagogicamente
com o objetivo de direcionar a evolução do desportista” (Matveiev, 1983).

Bompa (1983), procura definir o Treinamento “como uma atividade desportiva


sistemática de longa duração, graduada de forma progressiva a nível individual,
cujo o objetivo é preparar as funções humanas, psicológicas e fisiológicas para
poder superar as tarefas mais exigentes”.

Até mesmo o Dicionário de Ciências do Esporte (1992), dá uma definição


para treinamento como “uma ação sistemática de treinamento implica na existência
de um plano em que se define igualmente os objetivos parciais, os conteúdos e os
métodos de treinamento, cuja realização deve desenvolver mediante controle dos
mesmos”.
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Treinamento Desportivo é:

“A forma fundamental de preparação, baseada em


exercícios sistemáticos, representando um processo organizado
pedagogicamente com o objetivo de direcionar a evolução do
desportista” (Matveiev, 1983).

Diversos autores apresentam conceitos e definições de Treinamento


Desportivo de acordo com suas áreas de conhecimento e formas de entender o
processo de organização, planejamento e controle das variáveis intervenientes no
processo de treinamento (Quadro 01).

Quadro 01 - Conceitos e Definições do Treinamento Desportivo:

AUTORES Conceitos e Definições

ANDRIVER et al. Treinamento é o conjunto de procedimentos tendentes a


(França) conduzir um ser humano ao máximo de suas possibilidades

BAYER O Treinamento Desportivo é um meio encaminhado a


(Alemanha) exercitar e coordenar as funções fisiológicas dos diferentes
grupos musculares do organismo.

CARLYLE O Treinamento deve ser tão científico e organizado quanto


(Austrália) se pode. Sobretudo, devemos ter uma ideia clara do que se
propõe, para pôr em prova o que se treina, e quando queremos
lograr a melhor performance.

GRANELL & O treinamento desportivo constitui o elemento essencial por


CERVERA meio do qual se pode interpretar e entender o avanço e o
(Espanha) desenvolvimento do desporto moderno.
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FAUCONIER O Treinamento é o conjunto de atividades às quais se


(Bélgica) entrega um indivíduo a fim de desenvolver progressivamente
suas qualidades, tanto mental como físicas, aplicando-se
articularmente aquelas que o caracterizam.

GIRALDES Treinamento é o conjunto de atividades que tendem a


(Argentina) desenvolver as qualidades mentais e físicas com o objetivo de
alcançar o máximo de rendimento individual.

HEGEDUS O Treinamento Desportivo constitui uma preparação


(Uruguai) sistemática do organismo, respeitando processos de
adaptações psicobiológicas e que visam obter um alto
rendimento.

HOLLMAN Treinamento é a soma de solicitações corporais repetidas,


(Alemanha) executadas em espaços de tempo determinados, destinadas a
aumentar o rendimento, as quais levam a modificações
morfológicas e funcionais do organismo.

MATVÉIEV Treinamento Desportivo, como fenômeno pedagógico, é


(Rússia) processo especializado da Educação Física orientada,
objetivando alcançar elevados resultados desportivos. A
preparação desportiva compreende o aproveitamento de todo o
conjunto de meios que asseguram a obtenção e a elevação da
predisposição para alcançar resultados desportivos.
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CAPÍTULO II

2. PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO DESPORTIVO

2.1. O que são os princípios do treinamento?

Os princípios do treino são indicações sobre a forma de agir no treinamento


desportivo e representam não tanto diretivas concretas para aplicação prática, mas,
bases para uma orientação geral, guiando a ação do treinador e dos atletas no
estabelecimento dos seus programas operativos.

São diretrizes, normas ou orientações gerais baseadas nas ciências


biológicas, psicológicas e pedagógicas que servem para aperfeiçoar o processo do
treinamento. Eles se referem a todas as áreas do treino, determinando seu
conteúdo, métodos e organização.

Segundo Verkhoshansky (1988), estas regras e diretrizes dirigem o processo


global de formação sistemática e são conhecidos como princípios do treino. Eles
interagem entre si e garantem a aplicação correta do processo de treinamento.

Pode ter a ver com diversas instâncias operativas (planificação, realização,


controle e avaliação do treinamento) e são válidos no treino em geral e nos vários
campos aplicativos. Constituem valores normativos resultantes do senso comum e
de ideias difusas na sociedade. Assumem-se também como hipóteses operativas,
proveniente das leis das ciências que envolvem o treinamento desportivo e das
experiências práticas do treino.

Dependendo da literatura, há diferentes tipos de princípios de treinamento.


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2.2 Divisão dos princípios do treinamento desportivo (PTD)

Navarro (2002), divide os princípios de formação em dois grupos: princípios


com base na existência de uma concepção pedagógica e os princípios
fundamentados em uma base biológica .

Segundo Gomes (1999), na literatura especializada, ao expor os princípios


para orientação exata da atividade do técnico desportivo, comumente menciona-
se, em primeiro lugar, os princípios pedagógicos gerais, com os didáticos incluídos,
os quais se configuram na esfera da pedagogia geral.

2.2.1 Os princípios pedagógicos

Os princípios pedagógicos foram destacados por vários autores do antigo


leste Europeu, como Harre (1987), Matveev (1986) e Ozolín (1983), que
enfatizavam a importância do ensino e da aprendizagem durante o processo de
treinamento. Perante o papel determinante do treinador como pedagogo, existem
vários autores que estabelecem a relação entre os PTD e os princípios pedagógicos
(Manno, 1991, Ozolin, 1983). Nesse sentido, capacidades condicionais são
desenvolvidas e as habilidades motoras são adquiridas através de uma abordagem
metodológica que se adapta ao desportista através da comunicação, instruções e
orientações mais adequadas didáticamente, estes autores consideram essencial a
criação de um bom processo pedagógico (Manno, 1991). Portanto, é possível
identificar dentro da relação pedagógica do ensino, alguns princípios que irão
favorecer a eficâcia da atividade do treinador e, consequetemente, a formação do
atleta.
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“O desenvolvimento global da personalidade é


prioritário em relação ao da prestação esportiva”
(Cunha, 2016)

2.2.1.1 Princípio da participação ativa e consciente do treino

É o princípio que se refere ao comportamento do atleta. Afirma que o atleta


precisa entender a extensão e o objetivo do treinamento, as suas obrigações
durante as longas fases e ciclos do treinamento e o seu papel criativo e
independente. Ele precisa se conscientizar que o resultado depende da sua
participação e esforço.

Treinador Atleta

Figura 01: Relação treinador x atleta.

É fundamental que o atleta tenha a consciência do que ele está fazendo


nos treinamentos “o que se treina”, de “como se se treina”, ou seja, como fazer, e,
“para que”, onde entenderá a determinação dos objetivos.

Harre (1987), propõe ao treinador alguns objetivos em relação ao princípio:

 Determinar para o atleta um objetivo de rendimento a ser atingido;


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 Oferecer ao atleta conhecimento estrito à tarefa de treinamento;


 Formular exigências que requeiram reflexão, iniciativa e responsabilidade por
parte do atleta;
 Educar o atleta para que seja capaz de se avaliar;
 Confiar responsabilidades de condição pedagógica a atletas apropriados;
 Capacitar o atleta para efetuar um controle consciente de sua própria sequência
de movimentos;
 Possuir um registro próprio de controle dos resultados e compara-los com os
anteriormente realizados e com o realizado na realidade.

2.2.2.2 Princípio da transferência

Magil (1984) define o princípio da transferência da aprendizagem como a


influência de uma atividade prática anterior na aprendizagem de uma nova
habilidade. Se contextualizarmos o significado da transferência dentro do esporte,
podemos dizer que:

O princípio da transferência é a influência de um tipo de ação motora


(exercício) no desempenho de outra ação motora diferente.

Por exemplo, o princípio da transferência é aquele pelo qual um exercício de


agachamento pode influenciar o desempenho da corrida, no salto ou na pedalada
em uma bicicleta.

Tipos de transferência

Podemos distinguir três tipos de transferência, dependendo do efeito que o


treinamento tem em outra ação subsequente:
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Transferência positiva: é aquela que ocorre quando uma tarefa melhora o


desempenho em outra tarefa. Por exemplo, foi demonstrado que o treinamento de
força máxima ou exercícios de agachamento com cargas moderadas têm um efeito
positivo no desempenho do sprint.

Transferência negativa: Ao realizar um exercício, este dificulta ou piora o


desempenho do próximo. Se colocássemos Usain Bolt para treinar 2 horas por dia
de bicicleta, provavelmente o efeito que ele teria em sua velocidade seria bastante
prejudicado.

Transferência neutra: Uma tarefa não tem efeito sobre a outra. Como exemplo,
podemos colocar a realização de uma rosca de bíceps na habilidade de pular.
Obviamente, não melhora ou piora porque não tem absolutamente nada a ver com
isso.

Quando ocorre a transferência?

A transferência entre exercícios ocorre quando eles têm algum tipo de


relacionamento. Está relacionado ao “princípio da especificidade” que veremos logo
mais.

Portanto, as maiores transferências positivas ocorrerão quando os dois


exercícios, tanto o que treinamos como o que pretendemos melhorar o
desempenho, mantiverem um relacionamento do seguinte tipo:

Metabólico: Exercícios completamente diferentes, como natação e canoagem ou


corrida e esqui cross-country, podem ter transferências positivas se os realizarmos
em intensidades metabólicas semelhantes (sistemas energéticos).

Tipo de contração muscular: Também pode-se encontrar a transferência para um


determinado exercício através da realização de outros que utilizam as mesmas
fibras musculares envolvidas, por conseguinte, o tipo de fibras envolvidas e o tipo
e a velocidade de contração (excêntrico, isométrica, ciclo de alongamento-
encurtamento rápido).
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Exemplo: Treinar a força explosiva no Supino Reto pode melhorar a força no


arremesso de peso.

Gesto: Embora um exercício não produza uma sobrecarga ou adaptação muscular


ou metabólica, também pode haver uma boa transferência. Por exemplo, quando
um nadador trabalha a técnica do gesto motor fora d´água, ou quando um atleta
trabalha o gesto sem o implemento (peso, dardo, espada), há um aprendizado do
sistema nervoso que pode então melhorar o gesto geral nas condições específicas
do esporte.

Diante disso, podemos deduzir que quanto mais especificidade um


exercício tiver, mais transferência ele terá para o desempenho esportivo.

Como aplicar este princípio?

Uma vez explicado, o conceito de transferência é o mais importante: como


garantir que cada exercício e cada treinamento que programamos tenha uma
influência positiva no desempenho de nossos atletas.

O que fazer?

1. Analisar a biomecânica do gesto na perspectiva de:

 Planos e eixos de movimento


 Complexidade do motor
 Amplitudes articulares de movimento
 Músculos envolvidos
 Ritmo de execução
 Velocidade de execução

Desta forma, podemos projetar uma série de exercícios e progressões que


se relacionam com uma ou mais dessas características do movimento específico e,
assim, buscar a transferência positiva.
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2. Analise as demandas metabólicas dos exercícios

É fundamental saber exatamente quais demandas metabólicas da


modalidade esportiva:

 Quais são as vias energéticas predominante;


 Duração, intensidade e intervalos utilizados na modalidade esportiva;

Ex.: Um maratonista realizar parte do treino no elíptico ou na bicicleta na mesma


intensidade do sistema energético utilizado na competição por ele.

3. Analise o atleta

Analise a experiência do atleta, habilidades físicas e forma física do atleta.

Para melhorar o desempenho de um atleta de alto nível, teremos que


procurar exercícios muito específicos e executá-los com a precisão cirúrgica.

Quanto menor o nível e a experiência do atleta, maior a transferência que


os exercícios menos específicos têm e vice-versa.

4. Selecione exercícios e métodos de treinamento

Uma vez que esteja claro sobre o objetivo aplicado, é importante selecionar
exercícios e métodos de treinamento em que há evidências (quer através de
estudos científicos ou a experiência pessoal) que cumprem a função.

5. Criar e inovar

Qualquer estímulo perde seu efeito ao longo do tempo à medida que o


atleta ganha experiência e exaure suas reservas de adaptação.
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É essencial experimentar novos exercícios e métodos que possam criar


novas adaptações.

Porque nem tudo é inventado, nem todos os estudos são verdadeiros, nem
existe um atleta como um outro, é importante papel inovador e criativo do treinador,
que por tentativa e erro pode descobrir novos caminhos para o desenvolvimento de
seus atletas.

2.2.2.3 Princípio da periodização

A essência deste princípio se baseia na organização do treinamento a partir


de períodos e etapas (Forteza, 1997).

A periodização do treinamento desportivo pode ser entendida como uma


divisão organizada do treinamento anual ou semestral das equipes ou dos atletas,
na busca prepara-los para alcançar certos objetivos estabelecidos previamente e
obter um grande resultado competitivo em determinados momentos culminantes da
temporada desportiva, ou seja, obter a Forma Desportiva através da dinâmica das
cargas de treinamento ajustadas a seu ponto máximo nesse momento (Dick, 1988;
Forteza, 1997).

O técnico americano Vern Gambetta diz que "periodização é um conceito, não


um modelo. É uma tentativa sistemática de obter o controle da resposta adaptativa
ao treinamento em preparação para a competição. Lev Pavlovich Matveiev,
considerado o pai da periodização, definiu a periodização como “O processo de
dividir a plano anual em períodos de treinamento menores (ciclos) e assim
assegurar que uma Forma Esportiva ótima ou condição atlética máxima seja
alcançada no período determinado (alto nível de desempenho em um dado
momento) para a principal ou principais competições do ano".

Razões fundamentais para a estruturação do treino em períodos (Forteza &


Ranzola, 1988):
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(1) O atleta não pode manter por muito tempo a forma, por limitações fisiológicas;

(2) As trocas periódicas da estrutura e conteúdo do treinamento são uma condição


necessária para o aperfeiçoamento atlético visando poder alcançar um novo e
superior degrau no desenvolvimento do atleta.

Qual é a utilidade de periodizar o treinamento?

O fato de dividir o treinamento em diferentes momentos (fases) e


estabelecer uma duração e objetivos específicos para cada um deles nos ajuda a:

 Definir picos de desempenho: Podemos concentrar o trabalho no sentido de


obter o estado de forma otimizada nas principais competições;
 Desenvolvimento de diferentes habilidades físicas. Simultaneamente ou
sequencialmente, podemos influenciar cada período em maior ou menor
extensão em um ou outro;
 Distribuição ordenada de conteúdos de treinamento. Selecionar as tarefas e
os meios para desenvolver as capacidades e alcançar os objetivos de cada
período;
 Progressão do Período Básico para o Específico. Modular o grau de
especificidade de cada período;
 Manipular de forma sistemática as variáveis de intensidade, volume e
densidade do treinamento. Desta forma, podemos controlar a carga de
treinamento e as fases alternadas de alta carga com as fases de
recuperação.
 Facilitar o monitoramento do treinamento e a avaliação do desempenho
competitivo. As relações de causa e efeito podem ser estabelecidas entre o
desempenho competitivo e o treinamento anterior.

Os modelos de periodização, podem ser agrupados de acordo com a


adequabilidade, abrangência e aplicabilidade. Conhecer qual a forma de
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periodização mais adequada para cada uso − quer nas diversas situações de
treinamento esportivo, quer nos programas de condicionamento físico para a saúde
− é uma dúvida que assola os treinadores constantemente (MILISTETD et al., 2008;
RAMALHO; MARTINS, 2003).

Um dos aspectos sob os quais os distintos modelos de periodização


existentes podem ser analisados é por meio de sua adequabilidade, que é passível
de ser avaliada por meio de dois indicadores: a estrutura da periodização e a
organização da variação das cargas de treino (figura 02).

Figura 02: gráfico da distribuição da carga de treino em um microciclo.

microciclo
100 90
90 80
80
70 60 60
60
% carga

50
50 40
40
30 20
20
10
0
SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SÁBADO DOMINGO

CARGA ALTA CARGA MÉDIA CARGA BAIXA

2.2.2.4 Princípio da adequação

A necessidade de todos os tipos de tarefas pedagógicas serem adequadas,


em tempo e forma, na idade dos alunos, tem sido uma preocupação permanente
dos pedagogos e constitui um dos princípios básicos da educação.
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Basicamente, os conteúdos educacionais devem ser correlacionados com


os estágios de maturação evolutiva e selecionados de acordo com esse
desenvolvimento.

É essencial que nas sessões de treino com pré-adolescentes e jovens


existam amplas oportunidades de manifestação de criatividade e uma participação
frutífera, que desenvolva a responsabilidade, o prazer de realizar tarefas
cooperativas, a expressão de relações de amizade autêntica e oportunidades de
conhecer o professor e os colegas.

Também com os atletas, existe um ponto ideal de treino em que a solicitação


não pode ser baixa ao ponto de provocar uma desmotivação, nem excessivamente
forte ao ponto de prejudica-lo ou induzi-lo também a uma condição de
desmotivação.

Por isso o treino tem que:

Nova
Treino Prazer Objetivo triunfo situação
problema

 Ir de pouco p/ muito
 Do fácil p/ o complexo
 Do conhecido p/ o desconhecido

2.2.2 Os princípios biológicos

Nos últimos anos tem sido dado uma importância especial para o aspecto
biológico na teoria do treinamento. A possível razão para essa tendência é a
importância da adaptação biológica e sua notável implicação no desempenho
esportivo. O conjunto de princípios que levam adaptação implícita do organismo
humano a determinados esforços é o que tem sido denominado princípios
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biológicos (Ehlenz, Grosser, Zimmermann, 1990; Harre, 1987; Verkhoshansky,


1988; Zintl, 1991; Manso et al., 1996).

2.2.2.1 Princípio de unidade funcional

É preciso considerar que o organismo funciona como um todo indissolúvel.


Órgãos e sistemas se encontram inter-relacionados (coração, sistema respiratório,
sistema endócrino, etc..), uma falha em algum órgão ou sistema prejudica o
treinamento.

A partir deste ponto de vista, o treinamento do desportista deve ser


abordado a partir de uma perspectiva global, com formas de desenvolvimento
simultâneas e paralelas que atendam as características específicas da modalidade
desportiva, podendo enfatizar mais o tratamento de uma determinada função ou
sistema (Granell e Cervera, 2003). Devemos dar atenção ao desenvolvimento
harmônico dos diferentes sistemas.

Devemos nos atentar que o desenvolvimento em demasia de uma


capacidade física pode induzir ao prejuízo de uma segunda:

Ex: Resistência  Velocidade Força  Resistência

2.2.2.2 - Individualidade biológica

O princípio da individualidade biológica diz que cada organismo reage de


formas diferentes ao mesmo estímulo aplicado, gerando adaptações específicas.
Este princípio é determinado pelas características morfofisiológicas e funcionais do
desportista (Granell e Cervera, 2003). Sabemos que o indivíduo é formado por uma
somatória de características genéticas, e fazem parte deste genótipo o seu
somatotipo, força máxima provável, composição corporal, composição das fibras
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musculares, etc. A este genótipo somamos elementos que chamamos de fenótipo,


que são adicionados ao indivíduo após o nascimento, tais como habilidades
motoras e esportivas, nível intelectual, consumo máximo de oxigênio e limiar
anaeróbio, etc. Isso faz com que cada indivíduo seja único, por mais semelhanças
que existam entre ambos, cada um responde de distintas maneiras ao estímulo do
treinamento. É a associação do genótipo ao fenótipo produzindo pessoas
totalmente diferentes entre si (Dantas, 2007). Mesmo duas pessoas que venham a
nascer como o mesmo genótipo como gêmeos univitelinos, terão experiências
diversas durante suas vidas, ocasionando a formação de indivíduos diferentes
(Weineck, 2003).

O indivíduo deverá ser sempre como a junção do genótipo e do fenótipo,


dando origem ao somatório das especificidades que o formarão. (genótipo +
fenótipo = indivíduo).

“O genótipo é o responsável pelo potencial do atleta. Isso inclui fatores


como composição corporal, biótipo, altura máxima esperada, força
máxima possível e percentual de fibras musculares dos diferentes tipos,
dentre outros. O fenótipo é responsável pelo potencial ou pela evolução
das capacidades envolvidas no genótipo. Neste se inclui tanto o
desenvolvimento da capacidade de adaptação ao esforço e das
habilidades esportivas como também a extensão da capacidade de
aprendizagem do indivíduo.” (Benda & Greco, 2001, p. 34).

Essas diferenças também podem ocorrer em um mesmo indivíduo em


função do período em que as cargas são aplicadas. Com essa afirmação se conclui
que para maximizar os efeitos do treinamento, devem-se ajustar as cargas de treino
de acordo com as respostas morfofuncionais apresentadas após os estímulos.

Para o esporte de alto rendimento, a genética é fator fundamental, uma vez


que é ela quem vai determinar o tipo de fibra muscular, estatura, morfologia e, no
caso dos esportes de alto rendimento, doenças como diabetes, cardiopatias,
hipertensão e alguns tipos de câncer. Com essas informações é possível
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encaminhar o atleta para a modalidade que ele mais se destaca (modalidades de


velocidade, força ou resistência) e obter o máximo de desempenho possível.

Sendo assim, segundo Granell e Cervera (2003), pode-se concluir que na


medida em que a eficiência funcional, a neurodinâmica cerebral, o regime de
repouso e o de trabalho são distintos em cada sujeito, a aplicação dos estímulos
de treinamento deve efetuar-se a partir de uma estrita individualização dos meios
que são empregados.

Elaboração do programa ideal de treino

A elaboração de um programa de levar em considerações alguns fatores


importantes como:
 Costumes;
 Gosto;
 Necessidades;
 Adaptação;
 Meta pré-definida.

Fatores que afetam a resposta individual

Alguns fatores podem influenciar negativamente ou positivamente o alcance


dessas metas:

 Genética;
 Descanso e sono;
 Meio ambiente;
 Maturação;
 Saúde, nutrição;
 Motivação — perfil psicológico;
 Nível de condição.
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2.2.2.3 - Princípio da adaptação

De acordo com Weineck (1999), a adaptação é a lei mais universal e


importante da vida. Adaptações biológicas apresentam-se como mudanças
funcionais e estruturais em quase todos os sistemas. Sob “adaptações biológicas
no esporte”, entendem-se as alterações dos órgãos e sistemas funcionais, que
aparecem em decorrência das atividades psicofísicas e esportivas.

Cada atleta tem um limite individual de adaptação para cada tipo de carga
de trabalho ou de treino, o qual se vai alterando com a idade, de forma que aumenta
até que o sujeito alcance o desenvolvimento máximo e maturação, mas que diminui
com o envelhecimento.

Verkhoshansky (2002) afirma que todos os indivíduos possuem, momento a


momento, uma capacidade diferente de adaptação em correspondência com as
possibilidades de resposta aos estímulos de treino, designando-a por reserva atual
de adaptação.

A amplitude do potencial de desenvolvimento não se mantém constante ao


longo da juventude e do início da idade adulta, e as alterações provocadas pelo
treino realizado em etapas anteriores da vida criam bases de trabalho diferenciadas
de atleta para atleta.

A reserva de adaptação marca os limites de progresso próprios de cada


atleta ao longo do processo de preparação. A reserva de adaptação atual está
determinada pelo grau de desenvolvimento que o atleta ou o sistema alcança num
determinado momento concreto da vida do desportista.

À medida que aumenta a capacidade de desempenho, decorrente do efeito


das cargas de treino e da prática competitiva, diminui a reserva potencial de treino,
embora simultaneamente aumente a aptidão para suportar níveis superiores de
carga (acréscimo do fator cargabilidade) sem que isso provoque danos no
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organismo do atleta. Este processo evolutivo desemboca numa situação em que,


para um determinado nível de carga, a fadiga será menor e a recuperação mais
rápida e eficaz, apesar deste passo não constituir garantia de incremento no
desempenho competitivo.

Segundo Weineck (1999), “Capacidade de adaptação” ou “adaptabilidade” é


o nome que se dá à diferente assimilação dos estímulos, frente à mesma qualidade
e quantidade de exercícios ou carga de treinamento. Ela pode ser atribuída à
correlação organismo/ambiente, sob o ponto de vista da predisposição hereditária
e sua expressão (genética).

O processo biológico de desenvolvimento da capacidade desportiva é


representado pela adaptação dos órgãos que determinam o rendimento. O
resultado da adaptação, as modificações do nível funcional das estruturas e dos
sistemas orgânicos dos atletas dependem das circunstâncias do treino de
competição, se ela é espontânea ou programada.

Estes níveis funcionais apresentam sempre um caráter específico, que


depende do perfil concreto da carga e dos movimentos da especialidade
escolhida. Todo o ser humano possui uma capacidade funcional bem definida,
em função dos fatores endógenos e fatores exógenos que permitem estabelecer
e realçar diferenciações interindividuais.

Os fatores endógenos dizem respeito ao conjunto de características que


determinam as aptidões dos seres vivos e condicionam o limite superior de
desenvolvimento de capacidades motoras e funcionais de cada atleta. Estes
foram interpretados como as potencialidades dos atletas.

Os fatores exógenos dizem respeito ao contexto social em que vivem os


atletas e cujas possibilidades de desenvolver as aptidões dependem de um vasto
conjunto de variáveis materiais e sociais. Estas determinam as capacidades dos
atletas.
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A capacidade funcional do homem é uma propriedade fundamental que se


exterioriza pela elevada capacidade de trabalho do organismo e pela faculdade
acrescida de mobilizar todas as suas capacidades de modo a satisfazer as tarefas
da vida diária, assim como as atividades desportivas.

A capacidade funcional máxima foi considerada o somatório de capacidade


funcional real, o que corresponde à possibilidade de resposta que o atleta pode
realmente fazer, enquanto a capacidade funcional de reserva é o que poderá vir
a ser feito.

Pelo treino melhora-se a capacidade máxima total, o que permite ao atleta


transformar, no momento desejado, as suas potencialidades em resultados
desportivas.

Desta forma, os processos de adaptação do organismo ao esforço


constituem na chave fundamental do rendimento esportivo.

2.2.2.4 - Princípio da multilateralidade

Atletas com maior domínio de movimentos apresentam uma maior


variedade de ação motriz e como consequência, desenvolve uma maior capacidade
de assimilar novas técnicas e métodos de treinamento mais complexos, levando
em consideração que uma aprendizagem nasce sobre outros esquemas motores
já adquiridos. Deve ser dada uma atenção especial em relação ao trabalho com
crianças.

O conceito de multilateralidade no treinamento refere-se à necessidade de


construir um programa de treinamento em uma base sólida de preparação geral na
qual eles tentam desenvolver diferentes habilidades físicas.

Desta forma, o indivíduo estará melhor preparado quando for realizar um


treinamento especializado, a fim de praticar uma atividade esportiva específica.
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Mas se nos apressarmos em começar o trabalho específico, não apenas


nos faltaremos um desenvolvimento adequado das capacidades físicas envolvidas,
mas provavelmente haverá riscos em atingir o desempenho desejado.

Por exemplo, embora um corredor de velocidade baseie seu desempenho


no desenvolvimento de potência muscular, técnica esportiva e velocidade de
movimento, entre muitas outras capacidades, também precisa ter níveis mínimos
de resistência aeróbia, embora essa habilidade não influencie diretamente. em sua
capacidade de correr rápido, a fim de melhorar sua capacidade de recuperação
entre as diversas repetições de esforços explosivos.

O problema da especialização de forma precoce:


 Evolução em um determinado ponto;
 Involução em outros órgãos, sistemas ou habilidades;
 Preparação unilateral.

Segundo Hegedus (1988),

“A especialização é um freio ou uma barreira para o sucesso no alto rendimento”

Podemos dividir a multilateralidade em geral e específica:

Multilateralidade Geral
 Quando a criança pratica várias modalidades esportivas na sua
formação.

Multilateralidade Específica
 Quando a criança realiza todas as possibilidades que são oferecidas por
um só esporte. Ex.: jogar em todas as posições no futebol (goleiro,
zagueiro, atacante...).
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O princípio do multilateralidade assume uma importância maior nos


estágios iniciais do treinamento de um atleta, especialmente no caso de atletas
jovens, que, quando estão em uma fase sensível de seu desenvolvimento,
precisam estimular adequadamente todos os seus sistemas orgânicos por meio do
trabalho equilibrado e moderado da condição física geral, de modo que alcancem
seu desenvolvimento máximo sem produzir desequilíbrios que possam ser
irreversíveis para o resto de suas vidas.

Figura 03: Gráfico da ordem de desenvolvimento do treinamento.

2.2.2.5 - Princípio da especificidade

O treinamento deve ser específico, tratando de reproduzir de forma mais


confiável possível às condições reais da competição.

O princípio da especificidade se baseia no aspecto biológico das


modificações funcionais e morfológicas daqueles órgãos e sistemas que
contribuem na parte principal do esforço (afetados pelo esforço).

Depende:
25

 Adaptações fisiológicas específicas;


 Tipo de treinamento para desenvolver determinada capacidade física;
 Formas de avaliação;
 Modelos de treinamento aplicados a modalidades coletivas;
 A especificidade no contexto do macrociclo;
Modalidades coletivas — procedimentos de progressão no elemento técnico.

Quadro 2 - Idade ótima p/ cada etapa de rendimento.


Esporte Idade inicial Especialização Alto rendimento

Atletismo 10-12 13-14 18-23


Basquetebol 07-08 10-12 20-25
Ciclismo 14-15 16-17 21-24
G.A. masculina 06-07 12-14 18-24
G.A. feminina 06-07 10-11 14-18
Futebol 10-12 11-13 18-24
Natação 03-07 10-12 16-18
Tênis 06-08 14-15 20-25
Lutas 13-14 15-16 24-28
Fonte: Bompa (2002)

Tipos de especificidade

Podemos considerar várias formas de especificidade. A aplicação deste


princípio baseia-se em fazer com que o treinamento se assemelhe a certos
aspectos da competição, mas essa semelhança pode ser dada de diferentes
perspectivas.

Especificidade metabólica
26

A especificidade metabólica se aplica a sistemas de energia mobilizados


durante o exercício. Como exemplo, podemos pegar um corredor de provas de
fundo cujo a prova exige uma certa porcentagem de VO2max. Para realizar
treinamento com uma certa especificidade metabólica não seria necessário correr,
mas poderia ser uma corrida de bicicleta, elíptica ou aquática, sempre na
intensidade determinada que tenha sido definida como específica.

Especificidade biomecânica

A especificidade biomecânica atua nos sistemas musculoesquelético e


nervoso. Refere-se ao tipo de movimento do exercício, e existem vários fatores que
podemos analisar:

Gesto ou padrão de movimento: As principais melhorias de desempenho ocorrem


nos mesmos movimentos que utilizam os grupos musculares envolvidos, em uma
determinada posição e ângulos de execução.

Exemplo: maiores ganhos na força em um exercício de meio-agachamento ocorrem


fazendo exercícios de meio-agachamento, em detrimento de saltos, cadeira
extensora, Leg Press....

Tipo de contração: Também foi observado que a adaptação é específica para o tipo
de contração que realizamos. Portanto, teremos que determinar que tipos de
contração ocorre em um dado gesto e treinar nesse regime de contração.

Exemplo: o gesto do braço de um arremessador de peso requer uma contração


concêntrica dos músculos motores, com os quais seus maiores ganhos de força
daquele gesto os obterão trabalhando com exercícios que implicam este tipo de
contração.

Velocidade de contração: Além dos anteriores, a velocidade com que um


movimento é executado também é decisiva quando se trata de melhorar uma certa
qualidade ou gesto. No caso da pisada de um saltador de altura, um CAE (ciclo
alongamento-encurtamento) é produzido, o que implica uma contração excêntrica-
27

concêntrica sucessiva e muito rápida. Portanto, seus ganhos mais altos de


desempenho para esse gesto em particular ocorrerão às custas de exercícios que
envolvam esse tipo de contração, como exercícios de saltos múltiplos ou pliometria,
em vez de exercícios de execução de baixa velocidade.

Especificidade contextual

Além da especificidade das próprias tarefas de treinamento, há também


outros fatores externos que determinam o grau de especificidade de um
treinamento. Existem infinitos fatores que devemos tentar reproduzir no
treinamento, para que sejam os mais específicos possíveis. Podemos citar:

 Especificidade das condições ambientais: temperatura, umidade, altitude ...


 Especificidade do material: Superfície de treinamento, implementos,
calçados ...
 Especificidade no ambiente: incerteza espaço-tempo, parceiros, rivais,
elementos desestabilizadores (público, torcida, ruído, etc ...)
 Especificidade psicológica: motivação, concentração, pressão, grau de
ativação, foco de atenção ...

O princípio da especificidade afirma simplesmente que, por essas razões,


o treinamento deve passar de uma fase de treinamento generalizada para uma
específica. Por exemplo, se você é um lançador de peso, pode começar limitando
o treinamento de força e incluir o condicionamento cardiovascular de intensidade
suave (na forma de sprints), passar para explosivo, mas global (por exemplo,
levantamentos olímpicos) e depois treinamento pliométrico. Começar com
exercícios de cargas de baixo impacto até chegar, após um longo período de
preparação (6 a 8 anos), ao treinamento de choque (ou treinamento de alta
intensidade com períodos de pouco descanso entre as séries). Se tentarmos
realizar um treinamento de choque antes das outras fases, corremos o risco de que
28

esse treinamento seja ineficaz e possivelmente perigoso. A especificidade está


diretamente relacionada ao próximo princípio.

2.2.2.6 - Princípio da sobrecarga (aumento progressivo do esforço)

A maior ou menor duração da vida desportiva de um indivíduo depende de


sua capacidade para assimilar esforços desportivos crescentes, e essa capacidade
é adquirida somente se, durante o processo de treinamento, esse indivíduo se
submete a carga de treinamento organizada de acordo com o processo continuo e
permanente de aumento do esforço. Esse é o caminho adequado para produzir um
incremento da mobilização das reservas energéticas, como consequência, uma
intensificação dos processos de supercompensação.

O princípio do aumento progressivo do esforço compreende a necessidade


do que a carga deve ultrapassar uma determinada intensidade para que haja um
aumento de desempenho. A intensidade deste estímulo é variável para cada atleta.

O desenvolvimento de qualquer aptidão física (muscular, aeróbia, etc.) só é


possível a partir de estímulos necessariamente mais forte do que aqueles a que se
está acostumado. O treinamento de uma capacidade física se dá pelo aumento
progressivo do esforço a ela relacionado. E cada sobrecarga utilizada no programa
de treinamento tem data de validade, ou seja, após um determinado período ela
deixa de promover progressos na aptidão física, sendo necessário novamente
provocar novos estímulos. Abaixo do suficiente, o esforço não traz efeito positivo
ao treinamento e pode até reduzir a capacidade funcional do organismo. No
entanto, a constância na sobrecarga pode ser suficiente para a manutenção da
saúde.

Trata-se de um princípio básico do treinamento. Quando aplicamos uma


carga eficaz, nosso organismo se adapta e logo se recupera conseguido um estado
mais elevado, no qual se permite afrontar uma carga ligeiramente superior. A
29

aplicação de várias cargas eficazes faz que se eleve o estado da forma através do
fenômeno conhecido como “supercompensação”.

Características do princípio da sobrecarga.

1º Desgaste:

A fadiga provocada pela aplicação de uma carga conduz a uma diminuição da


capacidade funcional para níveis inferiores ao inicial. Por isso no final de um treino
o praticante encontra-se cansado.

2º Recuperação:

A fadiga atua como um agente estimulador da reação orgânica. Por isso após a
sessão de treino, inicia-se a recuperação do organismo, para a qual são
determinantes a alimentação e o repouso. Quando a sobrecarga para, inicia-se a
recuperação. Recuperação e adaptação levam o atleta a um nível de preparo físico
superior àquele em que começou.

A carga é mudada de maneira sistemática e lenta para permitir adaptação gradual


do corpo. Em nível orgânico, somente o repouso prolongado e a alimentação
suficiente possibilitarão a reposição total.

3º Supercompensação:

O Organismo não se limita a repor as energias despendidas no treino, mas atinge


um nível de capacidade funcional superior ao inicial, como que se prevenindo
contra outras “agressões” do mesmo tipo.

Para que a carga de treino tenha efeito, os estímulos devem ser


suficientemente fortes, isto é, serem superiores à capacidade do indivíduo num
determinado momento, constituindo-se assim como uma sobrecarga (acima da
30

carga normal). Um treinamento de alta intensidade provocará a depleção das


reservas energéticas orgânicas e o acúmulo de ácido lático e outros substratos.

Estímulo

Fadiga Recuperação Super Destreino


compensação

Figura 02 – Aplicação da carga e adaptação

Ponto de desgaste  nos primeiros anos de treinamento o volume deve aumentar


progressivamente, mas na medida em que o atleta melhora o nível, a importância
do volume vai diminuindo e o fator intensidade deverá ter prioridade.

Referenciais p/ detecção da fadiga:

Podemos observar alterações na capacidade de rendimento do atleta através de


alguns sintomas detectados como:

 Diminuição na capacidade de trabalho;


 Aumento da FC x em relação ao mesmo nível de carga anterior;
 Aumento do consumo de oxigênio (submáximo) para o mesmo nível de carga
anterior;
31

 Aumento da ventilação em condições submáximas em relação a situações


idênticas de carga;
 Diminuição dos níveis de força e coordenação em situações semelhantes de
treino;
 Aumento dos erros técnicos.

Também podemos observar alterações no estado geral do atleta:

 Cansaço geral;
 Insônia; sudorese noturna;
 Perda de apetite; Perda de peso;
 Amenorréia; cefaléias; náuseas;
 Distúrbios gastrointestinais;
 Dores musculares ou tendinosas;
 Diminuição das defesas; Febre;
 Reativação dos herpes.

Para um maior controle e identificação dos problemas relacionados a uma fadiga


crônica, devemos realizar uma avaliação Clínica para detectarmos se ocorrerá:

 Aumento do ácido úrico;


 Aumento do amoníaco basal;
 Elevação da creatinaquinasa;
 Aumento do cortisol basal;
 Diminuição da testosterona livre;
 Aumento do K no sangue;

2.2.2.7 - Princípio da continuidade


32

O treino só produz adaptações se for realizado de uma forma sistemática,


ou seja, se houver uma solicitação repetida ao longo de um período significativo de
tempo. A estabilidade das adaptações de treino depende da quantidade de carga
realizada ao longo de um determinado período de tempo, mas também do tempo
utilizado para obtê-las.

Será determinante, então, que, quanto mais longo for o período de


preparação, mais estáveis serão as aquisições decorrentes do processo de treino.
Daí que não é possível encarar como séria uma atividade desportiva em que não
esteja assegurada uma continuidade da atividade de preparação e competição.

Na realidade, o treino desportivo é um processo que se prolonga por vários


anos e em que os vários elementos que são objetos de intervenção se vão
integrando de modo a produzir o melhor resultado possível. É também um processo
cumulativo em que cada estimulação de treino prevista para uma dada fase se
apoia nas aquisições conseguidas em fases anteriores, através do seu reforço e
desenvolvimento.

A frequência de estímulos, que, na prática, se revela no número de sessões


de treino por semana e no número de semanas de treino anuais depende,
evidentemente, do nível de treino e da idade do atleta. Mesmo para as idades mais
jovens, no entanto, uma frequência inferior a 03 sessões de treino semanais parece
claramente insuficiente e não respeitar, o princípio da continuidade da carga de
treino.

Segundo Gomes (1999), nas condições de treinamento regular realizados


em longo prazo, bastam alguns dias de interrupção do treinamento para que
comece a diminuir grau de treinabilidade, de preparação ou, no mínimo, da
manutenção do nível alcançado. É necessário garantir, na sequência das sessões,
a sucessão ininterrupta de seu efeito, ou seja, não admitir entre elas intervalos que
não permitam a soma (acúmulo) dos efeitos que levem ao desenvolvimento ou
prejudique o efeito do treinamento obtido.
33

Fatores intervenientes:

A continuidade dos treinamentos pode ser interrompida ou prejudicas por


fatores relacionados as lesões, doenças; problemas sociais; falta de uma pré-
temporada adequada; relação carga-recuperação e etc..

2.2.2.8 - Princípio da progressão

O efeito de uma carga de treino não é constante e imutável, ainda que se


trate da sua aplicação ao mesmo indivíduo, ao longo de um período de tempo
relativamente curto.

Com o aumento do estado de treino, as cargas não se revestem de igual


impacto sobre a homeostase e produzem modificações cada vez menos marcadas
sobre o equilíbrio bioquímico do organismo. Os fenômenos de adaptação tornam-
se, assim, cada vez menos visíveis. Sem dúvida que as modificações na estrutura
do treino permitem novos processos de adaptação. As cargas de treino
padronizadas e com pouca variação conduzem inevitavelmente à estagnação do
desenvolvimento das capacidades.

Deste modo, será progressivamente mais difícil envolver a fundo o sujeito


que se prepara com continuidade e será, então, necessário procurar situações de
exercício mais exigentes – no exemplo dado, aumentar a distância de corrida,
aumentar a frequência semanal das sessões, mas também ir aumentando
gradualmente a velocidade a que o indivíduo realiza a s suas tarefas de corrida.

De fato, um estímulo de nível constante e insuficientemente intenso perde


rapidamente o seu efeito de treino – deixa de constituir uma sobrecarga. Tem que
se prever, então, uma evolução dos parâmetros da carga de treino (volume,
intensidade, densidade) que permita a aplicação de estímulos que provoquem a
perturbação do equilíbrio interno no organismo do atleta indutor de novos processos
de adaptação. A obtenção de níveis de desempenho mais elevados pressupõe,
34

então, uma progressão da carga, ou seja, um crescimento progressivo e ajustado


individualmente da dificuldade e da exigência dos exercícios de treino e do modo
como são organizados e postos em sequência numa sessão de treino.

Ao longo do processo de treino, a melhoria das capacidades do atleta impõe uma


constante atualização dos índices externos da carga, de modo manter níveis de
sobrecarga adequados. Com efeito, a dinâmica das adaptações decorrentes do
treino leva a patamares de habituação a níveis de carga (volume e/ou intensidade)
cada vez maiores. Será, então, a própria relação entre índices internos e externos
da carga que irá sofrendo alterações.

Em curto prazo, a progressão da carga far-se-á através da alteração dos


índices externos da carga, mantendo níveis de stress sobre o organismo elevados
e individualmente ajustados. O médio ou longo prazo procede-se muitas vezes a
alterações nas várias componentes da carga que levam a ênfases diferenciadas
nos vários setores de preparação, constituindo, também, formas de progressão da
carga. É exemplo desta situação o crescimento relativo da intensidade de treino
com o aumento da especialização e da experiência de um atleta.

Fatores intervenientes:
 Rege que o aumento da carga de treino deverá ser de forma gradual, esperando
para que ocorra uma adaptação geral;
 Principais parâmetros de controle: Volume + Intensidade;
 Princípio ondulatório;
 Quando não se segue uma progressão coerente, não se obtém nenhum
benefício e a vida esportiva do atleta será prejudicada;
 Evolução da sobrecarga.

Quadro 3: Plano para a subdivisão temporal do ano de treinamento na estruturação


de vários anos (Manso et al., 1996, adaptado por Vianna,1999)
35

Índice de Formação de Treinamento Sistematização Treinamento


trabalho base de base do treinamento de alto
rendimento
Anos 1 2 3 4 5 6 7 8
Semanas 30 30 30 40 40 40 42 44
Dias 110 150 200 220 200 220 240 250
Sessões 110 150 220 240 260 300 350 430

2.2.2.9 - Princípio da reversibilidade

O princípio da reversibilidade do treino é a redução das adaptações gerais


pela inatividade ou redução do treinamento. Da mesma forma que a atividade física
regular resulta em adaptações fisiológicas determinadas que permitem ganhos nos
desempenhos desportivos, quando se reduz ou interrompe a carga de treino leva a
uma reversão parcial ou completa destas adaptações, comprometendo a
capacidade de desempenho anteriormente atingida.

Durante um período de interrupção das atividades em atletas bem treinados


observam-se alguns efeitos no desempenho, designados por “destreino”, e que
constituem processos de reversão das adaptações orgânicas provocadas pelo
exercício sistemático. Os efeitos mais óbvios são a rápida redução do VO2 máx, do
desempenho aeróbio e do limiar anaeróbio. Isto ocorre devido à dinâmica das
alterações na atividade enzimática e no volume de ejeção (Coyle et al., 1984).

Os efeitos do destreinamento sobre as adaptações adquiridas com a


inatividade física estão diretamente relacionados ao volume de ejeção, o qual vai
sofrendo modificações em função da readaptação da frequência cardíaca e do
volume sistólico (Evangelista & Brum, 1999).
36

Um decréscimo de 12% no volume de ejeção pode ocorrer após 2 a 4


semanas de destreino (Wilmore & Costill, 2001).

Em atletas de elite, a densidade capilar mantém-se elevada durante mais


tempo, até por volta de 12 semanas, e a densidade mitocondrial só estabiliza na 8ª
semana de destreino, mantendo-se, no entanto, acima dos valores pré-treino.

Assim, após 2 meses de interrupção, os atletas de fundo perderão grande


parte mas não a totalidade das suas adaptações funcionais.

A perda das adaptações anaeróbias é mais lenta. No que diz respeito às


enzimas chave do processo glicolítico, foram registradas diferenças mínimas da
sua atividade mesmo após quase 3 meses de destreino. Isso não significa que o
desempenho não sofra reduções significativas, pois este depende de muitas outras
variáveis (Mujika & Padilla, 2000).

É provável que muitos atletas consigam manter o fundamental das suas


adaptações aeróbias durante um período longo de tempo apesar de uma redução
significativa da carga de treino. Para que isso aconteça, será conveniente manter
alguma estabilidade ao nível da intensidade, reduzindo-a não mais de 20%,
preservar uma frequência de treinos semanais ainda importantes (não reduzir mais
de 30%, ou seja, repousar 2 a 3 dias por semana em vez de um) e, deste modo,
reduzir significativamente o volume, até 70-80% do que o atleta vinha fazendo no
período imediatamente anterior.

Em modalidades esportivas em que a força é determinante para o


desempenho, a fase de interrupção de treinamento poderá afetar a força na fase
de competição (Koutedakis, 1995). Há evidências que, ao parar de treinar, os
ganhos da força máxima em um atleta perdem-se com muita rapidez. Depois de 8
dias de inatividade, ocorre uma queda 8% na força máxima. Já com 12 semanas
de descanso, a diminuição alcança até 70% do valor obtido no treinamento.

O princípio da reversibilidade é o princípio do destreinamento. Atletas


frequentemente passam por fases de interrupção do processo de treinamento e de
37

competições por doenças, lesões, férias pós-temporada ou outros fatores, que


podem resultar em uma redução ou diminuição de seu nível habitual de atividade
física. Portanto, é extremamente importante identificar os efeitos e entender os
mecanismos de quaisquer alterações associadas nas capacidades fisiológicas e na
performance atlética.
38

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os princípios fundamentais do treinamento esportivo se aplicam a todas as


disciplinas esportivas. O monitoramento dos princípios fundamentais do
treinamento esportivo maximiza a eficácia dos programas de treinamento.
Podemos resumir os princípios da seguinte forma:

 De acordo com o princípio da sobrecarga, é necessário realizar exercícios


de intensidade e duração superiores aos que normalmente suporta para
obter ganhos de desempenho;
 O princípio da progressão nos diz que se a carga não for aumentada
progressivamente, as condições para o aumento do desempenho do atleta
não serão dadas;
 Atletas precisam de períodos de descanso entre estímulos para que o corpo
recupere o equilíbrio e esteja pronto para o próximo estímulo.;
 As adaptações produto do treinamento são reversíveis e se perdem após
curtos períodos de tempo sem treinamento;
 Os atletas devem treinar nas características específicas de sua modalidade
sem deixar de lado o treinamento geral;
 Os programas de treinamento devem considerar as diferenças entre os
atletas e suas características únicas;
 A periodização do treinamento divide o trabalho em períodos com objetivos
específicos para garantir que os atletas atinjam as competências com o
melhor nível de desempenho;
 Os processos de adaptação durante o treinamento esportivo devem ser
abordados de forma multidisciplinar.

A eficiência no alto desempenho não pode ser concebida sem levar em


conta as Ciências Biológicas e Pedagógicas aplicadas ao treinamento esportivo.
39

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