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Treinamento Físico: Aspectos Históricos e Conceitos Gerais
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Treinamento Físico: Aspectos
Históricos e Conceitos Gerais
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Compreender os conceitos sobre o treinamento físico;
• Conhecer a evolução histórica do treinamento físico;
• Analisar a aplicabilidade dos princípios do treinamento;
• Refletir sobre os conceitos básicos do treinamento físico.
UNIDADE Treinamento Físico: Aspectos
Históricos e Conceitos Gerais
Podemos considerar que o ato de treinar pode ser aplicado a diferentes finalidades
voltadas à melhoria do rendimento esportivo do atleta ou da aptidão física global do não
atleta. Dentro deste conceito, compreenderemos a evolução do processo de treinamento
físico ao longo do tempo.
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Vejamos cada etapa como o período:
• Do empirismo: representou a preparação física das antigas civilizações até o surgi-
mento do Renascimento (século XV). Esse período foi marcado pelas experiências
subjetivas de cada indivíduo que buscava realizar os seus treinamentos, sendo muito
presente a imitação de atividades realizadas por pessoas com as melhores capaci-
dades físicas, com treinamentos conduzidos de forma global;
• Da improvisação: originou-se na primeira Olimpíada da Era Moderna, em Atenas
(1896). Nesse período surgiu a necessidade de organizar e estruturar o treinamento
associando os resultados obtidos com o estímulo aplicado. Foram marcas desse
momento histórico os primeiros conceitos de pausas entre os estímulos;
• Da sistematização: localiza-se entre 1896 e 1936, marcando o início das estruturas
da teoria do treinamento, em um modelo que passou a alternar o treino de
distâncias curtas com intensidade forte e intervalos longos para recuperação; ou seja,
compreendendo a alternância entre corridas rápidas e lentas, utilizando o descanso
ativo e controlando o tempo de treinamento, dando-se em ambientes abertos
(ANDRADE; ROCHA; CALDAS, 1978; TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002);
• Pré-científico: localizado entre 1930 e 1950, introduziu os métodos científicos,
buscando controlar as variáveis do treinamento e registrar os resultados das altera-
ções fisiológicas atingidas com os modelos de treinos aplicados; assim, vários estu-
dos foram feitos a respeito das variáveis envolvidas no desempenho físico. A partir
desse avanço foi iniciada a teorização dos princípios do treinamento com a forma-
ção do princípio da especificidade e dos estudos relacionados à estrutura e organi-
zação do treino realizado, a periodização do treinamento, bem como o método de
treino realizado a partir da individualidade biológica do atleta;
• Científico: caracterizado entre 1950 e 1972, impulsionou a evolução do treina-
mento, surgindo os estudos em laboratórios de investigação do esforço físico. Com
esse avanço foi possível planejar o treino de acordo com a etapa de treinamento,
ou seja, como treinos específicos para período que antecipa a competição, treina-
mento de maratona, competições nacionais, treinamento em terrenos variados,
condições climáticas diversas e situações nutricionais distintas;
• Tecnológico: a partir de 1972, aumentando o uso da informática para o diagnós-
tico morfológico, funcional e psicológico, como auxílio para otimizar a planificação
do treino, na prescrição do exercício, assim como o uso de vídeo na correção
do gesto esportivo. Nesse momento apareceram diferentes filosofias orientando
direções da preparação dos atletas, tornando possível analisar as funções e estru-
turas de cada atleta e com isso desenvolver melhor dieta ou decidir a prescrição
de exercícios que deve complementar o treino. É atribuído ao uso da tecnologia a
possibilidade de planificar o treino para aperfeiçoar, organizar e monitorar a pres-
crição do exercício e o efeito de carga interna (respostas fisiológicas do organismo)
gerada pela carga externa aplicada (carga planejada pelo técnico a fim de objetivar
os resultados esperados a partir do treinamento).
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Faz-se necessário definirmos alguns termos, tais como atividade física e exercício
físico, que comumente são utilizados como sinônimos, mas que representam manifesta-
ções diferentes, entretanto, com características semelhantes:
A) Atividade física: Qualquer ação corporal que resulte em gasto de energia acima
do valor basal. B) Exercício físico: Representa uma ação corporal, entretanto, com
aspectos tais como volume, intensidade, duração e repouso bem definidos e previa-
mente estabelecidos.
Um programa de treinamento deve objetivar aprimorar o desempenho físico através
do desenvolvimento das fontes de energia adequadas, promovendo adaptações fisiológi-
cas que gerem aumento das estruturas musculares e melhora dos padrões de habilidades
neuromusculares. O organismo humano é responsivo às situações de estresse, indepen-
dentemente do tipo de estresse que seja submetido, a saber:
• Físico;
• Bioquímico; e
• Mental.
Igualmente denominado exercício físico como condição de estresse, que pode ter
magnitudes diferentes de acordo com as características que compõem esse exercício,
gerando o que chamamos de reações agudas e reações crônicas.
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Figura 3 – Diferença entre reação aguda e reação crônica ao estresse
Fonte: Adaptada de Getty Images
A homeostase pode ser rompida por fatores internos, geralmente oriundos do córtex
cerebral; ou externos, tais como calor, frio, situações inusitadas, provocando emoções e
variação da pressão, esforço físico, traumatismo etc.
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Supercompensação
(Síndrome da Adaptação Geral)
Condicionamento
Melhora no
Condicionamento
Involução
Exaustão pós
treino
Sobrecarga
Aumento de Carga
Carga Adaptação
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Volume
Intensidade
Figura 7
• Treinabilidade: o fato de o indivíduo estar envolvido por um longo período em
regimes de treinamento, leva-o a atingir níveis mais elevados da sua capacidade
de adaptação fisiológica, de modo que quanto mais treinado estiver, menor será a
magnitude de melhora em suas capacidades físicas;
• Especificidade: concentra-se no fato de o exercício ser direcionado à adaptação
fisiológica, necessitando ser realizado da forma mais similar possível ao formato em
que tal capacidade será exigida, devendo-se levar em consideração, então, o sistema
energético dominante, os segmentos corporais, a coordenação intra e intermuscular;
• Reversibilidade: as adaptações crônicas positivas conquistadas durante o período
em que foi oferecido o estímulo de treinamento físico serão mantidas apenas en-
quanto for gerado estímulo mínimo para a sua manutenção. No momento em que,
por qualquer motivo, os estímulos sobre aqueles sistemas pararem de ser exigidos,
serão considerados pelo organismo como estímulos readaptados à nova situação,
gerando ajustes fisiológicos negativos, ou o que podemos denominar reversão das
adaptações fisiológicas crônicas positivas;
• Variabilidade: a alternância das sessões de treinamento entre intensas, moderadas
e leves se faz necessária para que o organismo se mantenha ativo em identificar
o estímulo do treinamento e promover as adaptações fisiológicas necessárias, pois
realizar sucessivas sessões de treinamento sem garantir essa variabilidade induzirá a
um processo de estagnação de desempenho; afinal, considera-se que quanto maior
for a diversificação dos estímulos promovidos pelo treinamento físico, maiores se-
rão as possibilidades de se incrementar o desempenho físico.
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• A administração da intensidade adequada de carga de treino, de acordo com a con-
dição do indivíduo, resulta em supercompensação;
• Estímulos adequados e gerados durante o treinamento físico dão origem aos pro-
cessos de supercompensação – de modo que quando ocorrem de forma constante,
originam a melhoria do desempenho físico;
• Com estímulos de cargas sempre iguais e/ou se forem aplicadas com longos inter-
valos entre si, impossibilitam a melhoria de desempenho físico;
• O excesso de treinamento, ou quando as cargas são demasiadamente grandes, ou
ainda quando ocorrem com curtos intervalos entre si, impedindo que o organismo
se recupere do estímulo realizado, impossibilitará a melhoria de desempenho físico;
• Para ser transferível às modalidades esportivas, o modelo de aplicação do estímulo
deve ter coerência com a exigência do esporte;
• Quanto mais treinado for um indivíduo, mais difícil será aumentar o seu desempe-
nho físico;
• Os estímulos devem ser modificados para se evitar a estagnação do desempe-
nho físico;
• As mudanças fisiológicas e funcionais que resultam em melhoria do desempenho
físico adquirido com o treinamento retornam aos níveis iniciais após a sua interrupção.
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Avaliação do Treinamento
A avaliação do desempenho físico é fundamental na seleção dos processos de treina-
mento empregados ao longo de uma temporada (KISS; BÖHME, 2003). Sendo assim,
para que a avaliação seja efetiva é necessário compreender que o diagnóstico de todas
as capacidades envolvidas na modalidade esportiva em foco é de fundamental impor-
tância e, se possível, em condições que simulem a prática da atividade (CURRELL;
JEUKENDRUP, 2008).
Controle do Treinamento
Após a realização de uma sessão de treinamento físico acontecerá em resposta à
alteração dos parâmetros fisiológicos, decorrentes da dose de carga de treinamento,
definindo-se como estresse fisiológico imposto ao organismo, conhecida também como
carga externa. A aplicação da carga externa promoverá alterações fisiológicas denomi-
nadas cargas internas do treinamento.
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Por muito tempo o controle da carga externa foi o método utilizado na perspectiva
de controlar o treinamento, utilizando-se da anotação de algumas variáveis, tais como:
• Volume – representado por:
» Número de repetições versus sobrecarga utilizada;
» Quilômetros percorridos; e
» Número de estímulos realizados.
• Trabalho realizado – representado por:
» Força produzida versus distância percorrida;
» Tempo sob tensão.
Assim, surge a proposta de controle do treinamento pela carga interna, que visa
observar, após o treinamento, as alterações promovidas pela carga externa, sendo uti-
lizados diferentes métodos que variam desde a alterações bioquímicas com a produção
de hormônios específicos, tal como o cortisol, passando por alterações metabólicas
(consumo de oxigênio em repouso), fisiológicas (variabilidade da frequência cardíaca),
análise de desempenho físico (como a altura do salto vertical, ou o tempo até a exaustão
em velocidade determinada) até a aplicação de questionários (diários/recordatórios de
treino) e a percepção subjetiva de esforço.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
História dos Jogos Olímpicos
https://youtu.be/lLkwU1k1858
História do Treinamento Físico no Brasil
https://youtu.be/90vekqx_gT4
Leitura
Treinamento Físico: Considerações Práticas e Científicas
https://bit.ly/3nfRTzv
A Trajetória do Treinamento Desportivo: do Empirismo ao Cientificismo
https://bit.ly/3sML2yA
Visita ao Museu Olímpico de Lausanne, Suíça
https://bit.ly/2QSEjWC
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Históricos e Conceitos Gerais
Referências
ANDRADE, P. J. A.; ROCHA, P. S. O.; CALDAS, P. R. L. Treinamento desportivo.
Brasília, DF: MEC/DDD, 1978.
BISHOP, D. An applied research model for the sport sciences. Sports Medicine,
Auckland, v. 38, n. 3, p. 253-263, 2008.
TOJI, H.; SUEI, K.; KANEKO, M. Effects of combined training loads on relations
among force, velocity, and power development. Canadian Journal of Applied
Physiology, Champaign, v. 22, n. 4, p. 328-336, 1997.
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