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Metodologia

do Treinamento
Treinamento Físico: Aspectos Históricos e Conceitos Gerais

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Cesar Miguel Momesso dos Santos

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Treinamento Físico: Aspectos
Históricos e Conceitos Gerais

• Introdução ao Treinamento Físico;


• Evolução do Treinamento Físico;
• Princípios do Treinamento Físico;
• Alguns Conceitos sobre Componentes do Treinamento Físico.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Compreender os conceitos sobre o treinamento físico;
• Conhecer a evolução histórica do treinamento físico;
• Analisar a aplicabilidade dos princípios do treinamento;
• Refletir sobre os conceitos básicos do treinamento físico.
UNIDADE Treinamento Físico: Aspectos
Históricos e Conceitos Gerais

Introdução ao Treinamento Físico


A história do treinamento esportivo se mistura com a história das Olimpíadas, pois
foi iniciada na Grécia Antiga, por volta de 776 antes de Cristo (a.C.), quando os gregos
instituíram uma festa em homenagem aos deuses no templo construído em Olímpia,
batizada de Jogos Olímpicos (DUARTE, 1996). Na edição seguinte dessa festa, os
participantes se prepararam para os Jogos, gerando a representação do esporte como
espetáculo que determinaria o homem mais “fantástico” do mundo, criando o lema
olímpico citius, altius, fortis – mais rápido, mais alto, mais forte –; sendo impulsionada,
a partir de então, a criação de métodos de treinamento esportivo com a finalidade de
aumentar o desempenho físico dos atletas.

O treinamento esportivo é um processo complexo de ações voltadas ao desenvolvimento


planejado de determinadas condições de desempenho esportivo e à sua apresentação
em situações esportivas de prova, especialmente na competição esportiva (DIETRICH
et al., 2008).

Podemos considerar que o ato de treinar pode ser aplicado a diferentes finalidades
voltadas à melhoria do rendimento esportivo do atleta ou da aptidão física global do não
atleta. Dentro deste conceito, compreenderemos a evolução do processo de treinamento
físico ao longo do tempo.

Evolução do Treinamento Físico


Existem indícios para a busca da melhora de rendimento das capacidades físicas desde
a Pré-História, de forma empírica, com foco voltado à sobrevivência, tais como questões
de fuga de predadores naturais. Seguindo por relatos na Grécia Antiga, era motivada
por questões de estética corporal, além de preparação para as guerras (ANDRADE;
ROCHA; CALDAS, 1978; HERNANDES JR., 2002).

Nesse momento alguns questionamentos surgiram, tais como seriam os melhores


exercícios físicos, tipos de exercício e as características para promover as adaptações
necessárias para o aumento das capacidades físicas. Com esses questionamentos pode-
mos dividir em fases a evolução da metodologia do treinamento, de modo que em ordem
cronológica temos seis épocas bem distintas:

Empirismo Improvisação Sistematização Pré-científico Científico Tecnológico

Figura 1 – Processo de evolução da metodologia do treinamento

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Vejamos cada etapa como o período:
• Do empirismo: representou a preparação física das antigas civilizações até o surgi-
mento do Renascimento (século XV). Esse período foi marcado pelas experiências
subjetivas de cada indivíduo que buscava realizar os seus treinamentos, sendo muito
presente a imitação de atividades realizadas por pessoas com as melhores capaci-
dades físicas, com treinamentos conduzidos de forma global;
• Da improvisação: originou-se na primeira Olimpíada da Era Moderna, em Atenas
(1896). Nesse período surgiu a necessidade de organizar e estruturar o treinamento
associando os resultados obtidos com o estímulo aplicado. Foram marcas desse
momento histórico os primeiros conceitos de pausas entre os estímulos;
• Da sistematização: localiza-se entre 1896 e 1936, marcando o início das estruturas
da teoria do treinamento, em um modelo que passou a alternar o treino de
distâncias curtas com intensidade forte e intervalos longos para recuperação; ou seja,
compreendendo a alternância entre corridas rápidas e lentas, utilizando o descanso
ativo e controlando o tempo de treinamento, dando-se em ambientes abertos
(ANDRADE; ROCHA; CALDAS, 1978; TUBINO, 1979; HERNANDES JR., 2002);
• Pré-científico: localizado entre 1930 e 1950, introduziu os métodos científicos,
buscando controlar as variáveis do treinamento e registrar os resultados das altera-
ções fisiológicas atingidas com os modelos de treinos aplicados; assim, vários estu-
dos foram feitos a respeito das variáveis envolvidas no desempenho físico. A partir
desse avanço foi iniciada a teorização dos princípios do treinamento com a forma-
ção do princípio da especificidade e dos estudos relacionados à estrutura e organi-
zação do treino realizado, a periodização do treinamento, bem como o método de
treino realizado a partir da individualidade biológica do atleta;
• Científico: caracterizado entre 1950 e 1972, impulsionou a evolução do treina-
mento, surgindo os estudos em laboratórios de investigação do esforço físico. Com
esse avanço foi possível planejar o treino de acordo com a etapa de treinamento,
ou seja, como treinos específicos para período que antecipa a competição, treina-
mento de maratona, competições nacionais, treinamento em terrenos variados,
condições climáticas diversas e situações nutricionais distintas;
• Tecnológico: a partir de 1972, aumentando o uso da informática para o diagnós-
tico morfológico, funcional e psicológico, como auxílio para otimizar a planificação
do treino, na prescrição do exercício, assim como o uso de vídeo na correção
do gesto esportivo. Nesse momento apareceram diferentes filosofias orientando
direções da preparação dos atletas, tornando possível analisar as funções e estru-
turas de cada atleta e com isso desenvolver melhor dieta ou decidir a prescrição
de exercícios que deve complementar o treino. É atribuído ao uso da tecnologia a
possibilidade de planificar o treino para aperfeiçoar, organizar e monitorar a pres-
crição do exercício e o efeito de carga interna (respostas fisiológicas do organismo)
gerada pela carga externa aplicada (carga planejada pelo técnico a fim de objetivar
os resultados esperados a partir do treinamento).

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Históricos e Conceitos Gerais

Princípios do Treinamento Físico


A prescrição do treinamento físico deve sempre levar em consideração alguns aspec-
tos, tais como características individuais de quem está submetido ao treinamento (condi-
ção de saúde, características antropométricas, disponibilidade de tempo, alimentação e
repouso), recursos disponíveis (infraestrutura para o treinamento) e objetivos (desejados
versus possíveis).

Faz-se necessário definirmos alguns termos, tais como atividade física e exercício
físico, que comumente são utilizados como sinônimos, mas que representam manifesta-
ções diferentes, entretanto, com características semelhantes:

Figura 2 – Diferença entre atividade física e exercício físico


Fonte: Adaptada de Getty Images

A) Atividade física: Qualquer ação corporal que resulte em gasto de energia acima
do valor basal. B) Exercício físico: Representa uma ação corporal, entretanto, com
aspectos tais como volume, intensidade, duração e repouso bem definidos e previa-
mente estabelecidos.
Um programa de treinamento deve objetivar aprimorar o desempenho físico através
do desenvolvimento das fontes de energia adequadas, promovendo adaptações fisiológi-
cas que gerem aumento das estruturas musculares e melhora dos padrões de habilidades
neuromusculares. O organismo humano é responsivo às situações de estresse, indepen-
dentemente do tipo de estresse que seja submetido, a saber:
• Físico;
• Bioquímico; e
• Mental.

Igualmente denominado exercício físico como condição de estresse, que pode ter
magnitudes diferentes de acordo com as características que compõem esse exercício,
gerando o que chamamos de reações agudas e reações crônicas.

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Figura 3 – Diferença entre reação aguda e reação crônica ao estresse
Fonte: Adaptada de Getty Images

A) Reação aguda: Alterações orgânicas e funcionais que ocorrem durante e após o


esforço, e retornam a condições basais. B) Reação crônica: Alterações orgânicas e
funcionais das condições basais, devido à melhora de sistemas e órgãos, dependentes
da soma frequente de reações agudas.
Estresse é considerado como uma forma de romper a homeostase, gerando um esta-
do de equilíbrio instável entre as diversas variáveis do meio interno, tais como tempera-
tura, pressão arterial, potencial Hidrogeniônico (pH).

A homeostase pode ser rompida por fatores internos, geralmente oriundos do córtex
cerebral; ou externos, tais como calor, frio, situações inusitadas, provocando emoções e
variação da pressão, esforço físico, traumatismo etc.

Sempre que a homeostase é perturbada, o organismo dispara um mecanismo com-


pensatório que procura restabelecer o equilíbrio; quer dizer, todo estímulo provocará
reação no organismo, acarretando uma resposta dependente da magnitude em que a
homeostasia foi rompida.

É importante que ao planejarmos o estresse que imporemos sobre os nossos atle-


tas/alunos, sejam levadas em consideração algumas diretrizes/orientações, conhecidas
como princípios do treinamento físico, devendo ser considerados os seguintes eixos
norteadores, chamados de princípios:
• Individualidade biológica;
• Adaptação;
• Sobrecarga;
• Continuidade;
• Interdependência volume-intensidade;
• Treinabilidade;
• Especificidade;
• Reversibilidade; e
• Variabilidade.

É necessário que o professor-treinador compreenda esses princípios para aplicá-los


de forma a respeitar os diferentes tempos de desenvolvimento que os alunos apresentam
para determinada característica/atividade, ou mesmo compreender a lentidão na melhora
do desempenho.

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Históricos e Conceitos Gerais

• Individualidade biológica: refere-se à variabilidade existente dentro da mesma


espécie, fazendo com que não existam pessoas iguais. Por isso, individualizar os
estímulos de treinamento apresentaria resultados melhores por obedecer às ca-
racterísticas e necessidades individuais dos praticantes de esporte. Isso permite o
entendimento de como pessoas de características semelhantes podem ter respostas
diferenciadas frente a um mesmo tipo de treinamento. Pode-se, inclusive, chegar a
desempenhos similares por meio de atividades totalmente distintas.
Pessoas diferentes responderão de forma distinta ao mesmo estímulo de treino.
Assim, não existe uma forma de treino ideal e que produza resultados ótimos para
todos. Esse conhecimento deve englobar os vários fatores que afetam a organização
do programa individual de treino, dentre os quais destacamos a hereditariedade,
idade biológica e idade de treino;

Figura 4 – Desempenho físico dependente das características genéticas do indivíduo


Fonte: Adaptada de Getty Images

• Adaptação: este princípio tem garantido a sobrevivência de várias espécies em dife-


rentes ambientes ao longo do tempo, onde se faz necessário um processo para que
se consiga chegar ao resultado. Sendo a exigência externa promovida pelo exercício,
promovem ajustes fisiológicos, que são modificações que dependem das variáveis
que compõem o exercício, tais como volume e intensidade. Essa composição pode
ameaçar a estabilidade da homeostase basicamente em três níveis distintos:
» Excitação: corresponde a uma reação de alarme; fase associada a dores e queda
momentânea no rendimento;
» Resistência: corresponde à adaptação; fase associada à acomodação da carga
(adaptação) ao estímulo com elevação da performance;
» Exaustão: corresponde ao surgimento de danos temporários ou permanentes; fase
associada à queda de rendimento, com risco de lesões temporárias ou permanentes.
Essas características foram inicialmente definidas por Hans Seyle como síndrome da
adaptação geral, gerando o que chamamos atualmente de supercompensação (Fi-
gura 5); representada quando o estímulo rompe a homeostase, dá início ao processo
de restauração biológica realizado pelo organismo que, conforme a magnitude do
estímulo, promove a adaptação fisiológica a fim de colocá-lo em um nível superior de
rendimento – sendo imprescindível compreender que o treino não termina quando
encerra a sessão (e sim quando o organismo se restaura);

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Supercompensação
(Síndrome da Adaptação Geral)

Condicionamento
Melhora no
Condicionamento

Estímulo Supercompensação Depende da


quantidade da
Nível de recuperação e
alimentação Tempo
conhecimento
Depende da Ocorre quando
inicial intensidade e
Período de recuperação
(24-72h)
não há
volume do estímulos
treino frequentes

Involução
Exaustão pós
treino

Figura 5 – Relação do processo de sobrecarga, efeito do estímulo recuperação


• Sobrecarga: o organismo humano é “acostumado” à demanda física imposta em
nossas atividades diárias. Com a finalidade de estimular a adaptação fisiológica,
faz-se necessário que a carga imposta durante o treino seja desafiadora o suficiente
para romper a homeostase, entretanto, com cautela, para que não cause danos
(lesões que promovam incapacidade).
Assim, a carga de treino (volume/intensidade) administrada deve pressupor que o
organismo tenha a oportunidade de se recuperar do estresse físico gerado, neces-
sitando de equilíbrio entre a carga aplicada (estresse) e o tempo de recuperação, a
fim de garantir que o processo de adaptação ocorra;

Sobrecarga
Aumento de Carga

Aumento de Carga Adaptação

Carga Adaptação

Figura 6 – Aplicação de sobrecarga de treinamento


• Continuidade: um dos principais vilões que atuam contra o processo de adaptação
fisiológica decorrente do treinamento é a baixa adesão a este, que pode ocorrer
por diferentes motivos, tais como baixa frequência, por questão de prioridades,
por incompatibilidade da carga de treino oferecida, que exigirá longo período para
recuperação, fazendo com que o indivíduo leve significativo tempo para retornar às
atividades – e ao retornar, o processo adaptativo gerado pela sequência de treinos
realizados até o momento terá sido desfeito (a isto, consideramos como perda da
continuidade dos treinos, muito comum em casos de lesão);
• Interdependência volume-intensidade: este princípio leva em consideração que
existe uma relação adequada entre volume e intensidade de exercício, com um
comportamento inverso, ou seja, quanto mais uma variável aumentar, mais a outra
terá que reduzir.

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Históricos e Conceitos Gerais

Em termos gerais, podemos definir o volume, muitas vezes caracterizado como


quantidade e/ou duração do treino – por exemplo, tempo, distância percorrida,
número de repetições ou frequência semanal –, de modo que quanto maior forem
esses componentes no treinamento, menor será a presença da variável intensidade
– por exemplo, velocidade, watts, quilos –, representada por unidade de tempo.
Ademais, devemos levar em consideração que ambas as características reduzidas
não resultaram em estímulos suficientes para promover adaptações fisiológicas
positivas em nosso organismo. Por outro lado, ambos os componentes elevados
podem acarretar maiores chances de o treinamento provocar lesão no praticante;

Volume

Intensidade

Figura 7
• Treinabilidade: o fato de o indivíduo estar envolvido por um longo período em
regimes de treinamento, leva-o a atingir níveis mais elevados da sua capacidade
de adaptação fisiológica, de modo que quanto mais treinado estiver, menor será a
magnitude de melhora em suas capacidades físicas;
• Especificidade: concentra-se no fato de o exercício ser direcionado à adaptação
fisiológica, necessitando ser realizado da forma mais similar possível ao formato em
que tal capacidade será exigida, devendo-se levar em consideração, então, o sistema
energético dominante, os segmentos corporais, a coordenação intra e intermuscular;
• Reversibilidade: as adaptações crônicas positivas conquistadas durante o período
em que foi oferecido o estímulo de treinamento físico serão mantidas apenas en-
quanto for gerado estímulo mínimo para a sua manutenção. No momento em que,
por qualquer motivo, os estímulos sobre aqueles sistemas pararem de ser exigidos,
serão considerados pelo organismo como estímulos readaptados à nova situação,
gerando ajustes fisiológicos negativos, ou o que podemos denominar reversão das
adaptações fisiológicas crônicas positivas;
• Variabilidade: a alternância das sessões de treinamento entre intensas, moderadas
e leves se faz necessária para que o organismo se mantenha ativo em identificar
o estímulo do treinamento e promover as adaptações fisiológicas necessárias, pois
realizar sucessivas sessões de treinamento sem garantir essa variabilidade induzirá a
um processo de estagnação de desempenho; afinal, considera-se que quanto maior
for a diversificação dos estímulos promovidos pelo treinamento físico, maiores se-
rão as possibilidades de se incrementar o desempenho físico.

Resumo dos princípios de treino


• As cargas de treino promovem adaptações fisiológicas e morfológicas no cor-
po humano;

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• A administração da intensidade adequada de carga de treino, de acordo com a con-
dição do indivíduo, resulta em supercompensação;
• Estímulos adequados e gerados durante o treinamento físico dão origem aos pro-
cessos de supercompensação – de modo que quando ocorrem de forma constante,
originam a melhoria do desempenho físico;
• Com estímulos de cargas sempre iguais e/ou se forem aplicadas com longos inter-
valos entre si, impossibilitam a melhoria de desempenho físico;
• O excesso de treinamento, ou quando as cargas são demasiadamente grandes, ou
ainda quando ocorrem com curtos intervalos entre si, impedindo que o organismo
se recupere do estímulo realizado, impossibilitará a melhoria de desempenho físico;
• Para ser transferível às modalidades esportivas, o modelo de aplicação do estímulo
deve ter coerência com a exigência do esporte;
• Quanto mais treinado for um indivíduo, mais difícil será aumentar o seu desempe-
nho físico;
• Os estímulos devem ser modificados para se evitar a estagnação do desempe-
nho físico;
• As mudanças fisiológicas e funcionais que resultam em melhoria do desempenho
físico adquirido com o treinamento retornam aos níveis iniciais após a sua interrupção.

Alguns Conceitos sobre Componentes


do Treinamento Físico
As características básicas do treinamento físico correspondem a se tratar de pro-
cesso repetitivo e sistemático, formado por exercícios progressivos, com o objetivo de
aperfeiçoar o desempenho físico. Assim, podemos compreender o treinamento físico
como um processo organizado e sistemático de aperfeiçoamento físico, modulando as
características morfológicas e funcionais, impactando diretamente a execução de ações
motoras – sejam esportivas ou não (BARBANTI; TRICOLI; UGRINOWITSCH, 2004).
Embora o histórico do treinamento discutido ilustre uma preocupação já antiga com
o treinamento físico voltado ao desempenho, há poucas décadas a Ciência do esporte
experimentou uma evolução significativa em seu conhecimento. Compreendida como
Ciência do Esporte, trata-se de área multidisciplinar direcionada ao estudo da compre-
ensão e do aperfeiçoamento do desempenho físico-esportivo humano (BISHOP, 2008).
Com a Ciência do Esporte sendo responsável pela contribuição do aperfeiçoamento
dos programas de treinamento físico-esportivo, permitindo melhora na qualidade do
treinamento proposto. Podemos, então, dividir didaticamente os estudos relacionados
ao treinamento físico-esportivo em quatro grandes áreas:
• Avaliação do treinamento;
• Controle do treinamento;
• Modelos de organização da carga de treinamento; e
• Desenvolvimento das capacidades motoras.

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Históricos e Conceitos Gerais

Compreender a relevância de cada uma dessas áreas para a otimização do rendimento


físico-esportivo é crucial para o profissional, pois as características do esporte moderno
tanto em relação às cargas de treinamento, quanto à quantidade de competições por tem-
porada, favorecem a predisposição de lesões e estados de excesso de treinamento nos
atletas, ocasionando um quadro onde o rendimento esportivo é negativamente afetado.

Avaliação do Treinamento
A avaliação do desempenho físico é fundamental na seleção dos processos de treina-
mento empregados ao longo de uma temporada (KISS; BÖHME, 2003). Sendo assim,
para que a avaliação seja efetiva é necessário compreender que o diagnóstico de todas
as capacidades envolvidas na modalidade esportiva em foco é de fundamental impor-
tância e, se possível, em condições que simulem a prática da atividade (CURRELL;
JEUKENDRUP, 2008).

Entre as capacidades envolvidas em diferentes modalidades esportivas, ressaltamos


as seguintes: força e potência aeróbia, que independentemente do esporte serão respon-
sáveis direta ou indiretamente para a melhora do desempenho esportivo, podendo ser
a sua contribuição em maior ou menor magnitude, não desconsiderando a importância
das demais capacidades.

Na avaliação da capacidade de força podemos identificar valores que representam a


atual capacidade e ainda estabelecermos valores para a prescrição do treinamento de for-
ça, além de determinar o efeito e as características de diferentes modelos de treinamento
na produção de potência (LAMAS et al., 2010) e a zona de treinamento na qual a pro-
dução de potência é maximizada (TOJI; SUEI; KANEKO, 1997), inferindo, assim, que
tenham ocorrido adaptações fisiológicas relacionadas ao aumento da força – por exem-
plo, adaptações neurais, aumento do recrutamento de unidades motoras; adaptações
morfológicas, aumento do ângulo de penação e/ou hipertrofia das fibras musculares.

O mesmo ocorre com a capacidade e potência aeróbia onde, a partir da determina-


ção do consumo máximo de oxigênio e dos limiares de transição de metabolismo, pode-
mos identificar zonas de intensidade de treinamento que favoreçam ao desenvolvimento
de adaptações fisiológicas centrais como, por exemplo, o sistema cardiorrespiratório, ou
adaptações periféricas como os sistemas vascular e muscular. Sendo, então, a avaliação
do treinamento fundamental para avaliar se o modelo de treinamento adotado é mais
efetivo para promover adaptações fisiológicas que estão relacionadas ao funcionamento
do metabolismo aeróbio – por exemplo, biogênese mitocondrial, vascularização, mudan-
ça no fenótipo da fibra muscular.

Controle do Treinamento
Após a realização de uma sessão de treinamento físico acontecerá em resposta à
alteração dos parâmetros fisiológicos, decorrentes da dose de carga de treinamento,
definindo-se como estresse fisiológico imposto ao organismo, conhecida também como
carga externa. A aplicação da carga externa promoverá alterações fisiológicas denomi-
nadas cargas internas do treinamento.

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Por muito tempo o controle da carga externa foi o método utilizado na perspectiva
de controlar o treinamento, utilizando-se da anotação de algumas variáveis, tais como:
• Volume – representado por:
» Número de repetições versus sobrecarga utilizada;
» Quilômetros percorridos; e
» Número de estímulos realizados.
• Trabalho realizado – representado por:
» Força produzida versus distância percorrida;
» Tempo sob tensão.

Entre outros, estes eram os únicos indicadores considerados no controle do treina-


mento. Porém, uma grande limitação desse método de controle de treinamento – pela
carga externa – é a presunção de tentar adivinhar como um organismo responderá à
determinada carga externa; dessa forma, esse modelo não consegue representar as res-
postas mecânicas e fisiológicas que serão impostas sobre o organismo.

Assim, surge a proposta de controle do treinamento pela carga interna, que visa
observar, após o treinamento, as alterações promovidas pela carga externa, sendo uti-
lizados diferentes métodos que variam desde a alterações bioquímicas com a produção
de hormônios específicos, tal como o cortisol, passando por alterações metabólicas
(consumo de oxigênio em repouso), fisiológicas (variabilidade da frequência cardíaca),
análise de desempenho físico (como a altura do salto vertical, ou o tempo até a exaustão
em velocidade determinada) até a aplicação de questionários (diários/recordatórios de
treino) e a percepção subjetiva de esforço.

Essa determinação de carga interna se torna de fundamental importância na pres-


crição do treinamento, pois dentro de um regime de treinamento, onde o indivíduo
treina por vários dias seguidos, torna-se lógico que a carga de treino de um dia poderá
promover a interferência na performance do indivíduo no treino seguinte, tornando-o
mais susceptível a lesões caso a carga de treino não seja reajustada para a real condição
daquele dia.

Modelos de Organização da Carga de Treinamento


Com o sucesso de atletas da extinta União Soviética na década de 1950, os modelos
de treinamento propostos por Matveev (2001) passaram a ser referências a diversos treina-
dores ao longo do mundo. A periodização do treinamento preconizava a realização de um
longo período de preparação (geral) antes do período competitivo (preparação específica).

Posteriormente, por volta da década de 1980, Verkhoshanky (1986) propôs um novo


método de treinamento baseado em blocos. O seu sistema preconizava a ocorrência de
uma perda de performance momentânea (overreaching) no bloco inicial do treinamento,
que seria recuperada nos blocos posteriores, sendo que quanto maior a queda de rendi-
mento no bloco inicial, maior seria a elevação posterior do desempenho – tais modelos
são conhecidos atualmente como tradicionais.

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Os modelos tradicionais dependem de longo período preparatório, de modo que a


aplicação desse modelo no esporte moderno precisaria de adaptações para se adequar
ao elevado número de competições ao longo do ano; alguns outros têm sido propostos
de forma a se encaixarem melhor na realidade do esporte moderno, denominados mo-
delos contemporâneos, ou até mesmo modelos não periodizados.

Desenvolvimento das Capacidades Motoras


O desempenho físico é dependente da relação entre diferentes capacidades motoras,
muitos estudos são realizados na tentativa de desenvolver métodos e meios de treina-
mento mais adequados para maximizar o desempenho de diversas capacidades motoras.

Assim, identificar as capacidades motoras principais de cada modalidade esportiva


é fundamental para a prescrição do treinamento e distribuição das cargas dentro de
uma periodização.

Levando em consideração as relações muitas vezes antagônicas entre as capacidades


motoras como, por exemplo, força e velocidade, onde desenvolver altos níveis de força
máxima pode afetar a capacidade de velocidade, faz-se necessária a compreensão de
como desenvolver as capacidades motoras e as possíveis relações entre as mesmas, para
garantir a otimização do desempenho esportivo.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
História dos Jogos Olímpicos
https://youtu.be/lLkwU1k1858
História do Treinamento Físico no Brasil
https://youtu.be/90vekqx_gT4

Leitura
Treinamento Físico: Considerações Práticas e Científicas
https://bit.ly/3nfRTzv
A Trajetória do Treinamento Desportivo: do Empirismo ao Cientificismo
https://bit.ly/3sML2yA
Visita ao Museu Olímpico de Lausanne, Suíça
https://bit.ly/2QSEjWC

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Históricos e Conceitos Gerais

Referências
ANDRADE, P. J. A.; ROCHA, P. S. O.; CALDAS, P. R. L. Treinamento desportivo.
Brasília, DF: MEC/DDD, 1978.

BARBANTI, V. J.; TRICOLI, V.; UGRINOWITSCH, C. Relevância do conhecimento


científico na prática do treinamento físico. Revista Paulista de Educação Física, São
Paulo, v. 18, p. 101-109, 2004.

BISHOP, D. An applied research model for the sport sciences. Sports Medicine,
Auckland, v. 38, n. 3, p. 253-263, 2008.

CURRELL, K.; JEUKENDRUP, A. E. Validity, reliability, and sensitivity of measures


of sporting performance. Sports Medicine, Auckland, v. 38, n. 4, p. 297-316, 2008.

DIETRICH, M. et al. Manual e teoria do treinamento esportivo. São Paulo: Phorte,


2008.

HERNANDES JR. B. D. O. Treinamento desportivo. Rio de Janeiro: Sprint, 2002.

KISS, M. A. P. D. M.; BOHME, M. Avaliação de treinamento esportivo In: KISS, M. A.


P. D. M. Esporte e exercício: avaliação e prescrição. São Paulo: Roca, 2003. p. 3-20.

LAMAS, L. et al. Treinamento de potência muscular para membros inferiores: número


ideal de repetições em função da intensidade e densidade da carga. Revista da Educa-
ção Física, Maringá, PR, v. 21, p. 263-270, 2010.

MCBRIDE, J. M. et al. Comparison of methods to quantify volume during resistance


exercise. Journal of Strength and Conditioning Research, Champaign, v. 23, n. 1,
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TOJI, H.; SUEI, K.; KANEKO, M. Effects of combined training loads on relations
among force, velocity, and power development. Canadian Journal of Applied
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TUBINO, M. J. G. Metodologia científica do treinamento desportivo. São Paulo:


Ibrasa, 1979.

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