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3.

3
Modelos de periodização
3.3.1
Origens e racional da periodização
Origens e racional da periodização (1)
• A obtenção de resultados de alto nível não se faz sem submeter o organismo a elevadas
cargas de treino. Porém, se o esforço de sobrecarga do organismo for feito sem um
planeamento adequado, os resultados do treino podem traduzir-se por processos de
sobretreino, os quais podem inviabilizar a obtenção dos resultados desportivos desejados.
• A organização cíclica (ou periodizada) dos estímulos de treino tem como objectivo evitar os
processos de fadiga extrema, proporcionar a recuperação das capacidades dos
desportistas e adoptar estratégias e conteúdos de preparação orientados para a obtenção
dos melhores resultados.
• Por isso, a periodização é entendida como um instrumento fundamental no processo de
planeamento do treino e na gestão do rendimento.
Origens e racional da periodização (2)

• Parte importante do racional da periodização do treino encontra fundamento na


Síndrome Geral de Adaptação (SGA) de Hans Selye, que procura explicar as respostas
biológicas ao stress.

• O modelo de Selye propõe-nos que um stress sobre o organismo pode resultar numa
adaptação, através da qual o organismo se torna mais tolerante ou resistente a esse
tipo de stress.
Origens e racional da periodização (3)

• Para que isso aconteça é necessário que ocorra um período de recuperação (A). Quando uma carga de
treino é administrada de forma contínua o organismo começa a desenvolver os mecanismos de adaptação,
mas, se a carga não for interrompida, isto é, se o stress não for removido, o organismo entra em
sobretreino, podendo chegar à exaustão (B).

• De modo diverso, se os processos de recuperação (repouso, alimentação...) decorrerem de forma


adequada, a estrutura estimulada pela carga melhora o seu nível de organização estrutural anterior e,
desta forma, também a sua capacidade funcional até um nível de adaptação superior (exaltação ou
supercompensação) (C) (McGregor, 2013). Este processo é também conhecido como Ciclo de Auto-
renovação da Matéria Viva.
Figura 9: Ilustração da teoria sobre o SGA de Selye (McGregor 2013).
A – Treino habitual, que resulta numa adaptação positiva;
B – Sobretreino, que resulta numa adaptação negativa;
C – Supercompensação que resulta numa adaptação superior à do treino
habitual.
Figura: O ciclo de supercompensação, mostrando a evolução
da capacidade de trabalho após uma carga simples (2). (In:
Issurin, 2010a, 192)
Origens e racional da periodização (6)

• Com base no conceito de supercompensação, Lev Matveev propôs a organização de um conjunto de


sessões de treino em presença de fadiga, isto é, em condições em que a recuperação não se
desenvolveu ainda de forma completa.

• Desta forma, o efeito de supercompensação poderia ser induzido, não no final de uma sessão de treino,
mas no final de um ciclo de treino específico, promovendo-se níveis de adaptação superiores (Figura).

• Esta ideia constitui o fundamento da criação de pequenos ciclos de treino, os chamados microciclos
(Issurin, 2010a).
Figura: Variante do efeito acumulado de várias unidades de treino
(I, II, III – Microciclos) (Matveyev, 1977, 70)
Origens e racional da periodização (8)

• O racional da periodização não se esgota, porém, na SGA de Selye e no conceito de supercompensação.

• Os princípios metodológicos do sistema de treino atual, entre os quais os da periodização, foram desenvolvidos
pelos treinadores russos no início dos anos 1950, quando a ex-URSS preparava a sua primeira participação
olímpica nos J.O. Helsínquia (Verchoshanski, 1999).

• A experiência prática então adquirida foi organizada e publicada sob a forma de uma “Teoria da Periodização” e os
especialistas do treino começaram a ganhar consciência de que era impossível manter níveis de rendimento
elevado durante toda uma época desportiva e, por esta razão, a concentrar os seus esforços sobre as competições
mais importantes (Issurin, 2010a; Bakken, 2013).
Origens e racional da periodização (9)

• Internacionalmente, o nome mais associado aos esforços de construção de uma teoria da periodização é Lev P.
Matveev, o primeiro a fazer uma organização e sistematização de conceitos, fundamentos teóricos e de modelos
empíricos que deram origem ao que se chama hoje a Teoria da Periodização do Treino (Issurin, 2010a, 2014).

• Estes modelos e conceitos, nos seus aspectos básicos, continuam a merecer nos nossos dias aceitação entre os
treinadores (Issurin, 2010a; 2014; McGregor, 2013), embora com nuances próprias para cada desporto e para os
diferentes níveis de enquadramento da prática.

• Não obstante, a teoria clássica da periodização tem vindo a ser modificada desde a sua introdução nos anos 1960, e a
integrar novas ideias apresentadas por diferentes especialistas e pelo próprio Matveev.
Lev P. Matveyev
INEF Madrid 1977
Lev P. Matveiev
Vigot, Paris 1983
Origens e racional da periodização (12)

• Estas, todavia, não se eximem a uma crítica por parte de alguns especialistas (Yuri Verchoshanski ou Tudor
Bompa) da teoria e da prática do treino, que vêem nos contributos da teoria clássica e nas alterações
entretanto introduzidas propostas desajustadas à prática e sem a necessária consistência teórica.

• De facto, nos últimos 50 anos, não apenas a organização e as condições da prática no desporto de alto nível
mudaram de uma forma muito significativa (desenvolvimento do desporto como indústria, valorização dos
espetáculos desportivos, profissionalização do desporto levando a exigências cada vez maiores sobre o
rendimento dos atletas e a sua manutenção durante períodos de tempo, mesmo para além do que seria
razoável), como a Ciência do Desporto foi acumulando novos conhecimentos que vieram alterar o nosso
entendimento sobre o planeamento e a periodização do treino.
3.3.2
A teoria clássica da periodização
A teoria clássica da periodização (1)

• Na teoria clássica da periodização, Matveev apoia-se na ideia de que a forma desportiva: (1) É adquirida por
fases; (2) Pode ser mantida apenas durante um certo período de tempo; e (3) Deve ser perdida temporariamente.

• Como se torna necessário que a forma não seja atingida num momento qualquer da época, mas num momento
pré-determinado (durante as competições principais), o processo de treino deve ser dirigido de modo a que ela
venha a acontecer no momento planeado.

• Daqui decorre, como já vimos, a organização de um ciclo de treino com 3 períodos: o Período Preparatório, o
Período de Competições, e o Período de Transição.
Figura: Variante típica da dinâmica do volume e da intensidade das cargas no ciclo
anual de treino (Matveyev, 1977, 76)
I e Ia: grandes ondas; II e IIa: ondas médias; III (colunas) : microciclos.
A teoria clássica da periodização (3)

• Para a compreensão das leis objectivas de desenvolvimento da forma é, todavia, importante


perceber que os períodos de treino não derivam apenas do facto que os atletas não podem
conservar sempre a forma, mas também do facto que a variação periódica da estrutura e dos
conteúdos de treino é uma condição objectiva do desenvolvimento da preparação (Martin et al.,
1997).

• Com efeito, Matveev entende que cada fase da preparação deve ser consagrada a conteúdos e a
uma estrutura do treino bem determinados e que as exigências da carga e a escolha de conteúdos
em cada uma dessas fases formam uma relação indissociável (Fig. 10).
Figura 10: Em cima: tendências da
dinâmica da carga (volume e
intensidade) num macrociclo de treino.
Em baixo: conteúdos de treino na
preparação geral (a seco) e específica
(na piscina) (Lewin 1974, 150. In:
Martin et al., 1997, 249).
A teoria clássica da periodização (5)
• Na fig. 10, a intensidade da carga aumenta linearmente até ao início do PC e atinge o seu máximo neste período. O
volume, por sua vez, aumenta de forma rápida até ao meio do PP, mas com o aumento da intensidade diminui de
novo.

• A intensidade é o primeiro factor de controlo a influir sobre o momento da “forma”. Se a intensidade atinge o seu
máximo depressa, é de esperar que também o rendimento seja conseguido depressa e que não possa permanecer
estável durante muito tempo. Por outro lado, no final do PP e no início do PC só é possível treinar com intensidade
elevada se anteriormente tiver sido feito um grande volume de treino (Martin et al., 1997).

• O segundo factor de direção e controlo é a escolha dos conteúdos, que devem vir inseridos no processo de treino em
cada momento segundo uma sequência lógica, pois tanto a composição e estruturação dos conteúdos, quanto a
natureza dos objectivos são diferenciadas em cada período de treino (Martin et al., 1997).
Figura: Unidade (relação orgânica) da FE e da FG na preparação dos desportistas.
Proporção entre os meios de preparação geral e os meios de preparação especial ao
longo do ciclo anual de treino (Matveyev, 1977, 66).

Branco: PG; Tracejado: PE; Colunas: desvios possíveis nessas percentagens em função
da natureza dos desportos.
A teoria clássica da periodização (7)
• Durante o PP (ou de preparação fundamental), o objectivo é criar os pressupostos condicionais e técnico-tácticos para o
desenvolvimento de cargas de treino e de prestações desportivas elevadas no PC. Habitualmente vem dividido em duas
etapas: EPG e EPE.

• Durante o PC (ou de competições principais), o objectivo é atingir níveis de rendimento elevados, através do recurso a
exercícios específicos e de competição com cargas de elevada intensidade.

• O PT é uma fase de recuperação ativa, cujo objectivo é promover uma diminuição temporária do rendimento e favorecer
a recuperação das capacidades dos atletas, diminuídas pelas cargas acumuladas ao longo da época. Em média dura 2
a 4 semanas e é caracterizado por: diminuição da carga, não realização de competições, conservação relativa do estado
de treino com formas não específicas de treino, utilização sistemática de medidas de apoio ao treino (Martin et al., 1997).
A teoria clássica da periodização (8)

• Em função da frequência das competições e da diversidade de calendários (ciclos simples, duplos


ou triplos de competições) que as federações desportivas estabelecem para os quadros
competitivos, podemos organizar vários tipos de periodização:
• Uma periodização simples, com um só período de competições e um pico de rendimento durante 3-
10 semanas por ano, como, por exemplo nos desportos individuais (Fig. 11);
• Uma periodização dupla ou tripla, com dois ou mais picos (por exemplo, nos desportos de combate);
• Uma periodização de tipo complexo, com um bloco competitivo de vários meses (por exemplo, nos
JDC) (Fig. 12) (Grosser et al., 1989; Martin et al., 1997).
Figura 11: Periodização anual com um pico de rendimento
(Grosser et al., 1989, 71).
Figura 12: Periodização anual no futebol de alto rendimento de rendimento,
com dois picos de rendimento e dois períodos de competição de vários
meses cada um. (Bauer, s.d. In: Grosser et al., 1989, 71).
A teoria clássica da periodização (11)

Principais críticas feitas à periodização tradicional (Silva, 1995):


(1)A não existência de condições para continuar a aumentar de forma constante os volumes de treino;
(2)Os prejuízos para a estrutura motora da técnica desportiva que resultam da aplicação de exercícios
de grande volume e baixa intensidade;
(3)A falta de transferência positiva dos efeitos dos exercícios de natureza geral para as necessidades
específicas do desporto em atletas de alto nível;
(4)O nível geral de treino nos atletas de alto nível ser já muito elevado, em resultado dos muitos anos de
preparação, pelo que não faz sentido equacionar estratégias orientadas para a melhoria contínua do
nível geral de preparação.
A teoria clássica da periodização (12)

• Em resultado das críticas, têm surgido novas experiências cujas conclusões apoiam os esforços de
reformulação ou aperfeiçoamento das teorias de Matveev.

• Entre as propostas apresentadas incluem-se (Silva, 1995):


• (i) A redução do tempo dedicado aos exercícios de natureza geral em benefício do dedicado aos exercícios
específicos e competitivos;
• (ii) O alargamento do período de pré-disposição (forma) do atleta para a realização de resultados de nível
elevado;
• (iii) O aumento do número de participações em competição;
• (iv) Um esforço de optimização dos efeitos positivos das cargas de treino.
A teoria clássica da periodização (13)

• Estas novas formas de abordagem à estruturação do treino, estiveram na origem da formulação de


novos modelos de periodização.

• Estes novos modelos, dentro dos contextos e especificidades que consideraram, apresentaram
resultados positivos e, em alguns casos, até superiores aos da periodização tradicional (Silva, 1995).

• No entanto, carecem de maior diversificação em termos experimentais, antes da sua aplicação a outras
realidades poder ser generalizada.
3.3.3
Os novos modelos de periodização
Os novos modelos de periodização (1)

• Por modelo deve entender-se uma construção teórica que incorpora as características
principais do domínio em estudo, no sentido de melhor o compreender.

• Na periodização do treino, os modelos conhecidos estabelecem predições,


constructos, ou princípios de decisão e de atuação, e têm (quase todos) origem na
teoria clássica da periodização de Matveev (Acero et al., 2013b).
Os novos modelos de periodização (2)

Estrutura de treino pendular de Arosjev (cerca de 1971)


• Propõe uma forte alteração de cargas gerais de treino para cargas específicas nas etapas pré-competitivas
(Grosser et al.,1989), apesar de não pôr em causa o modelo tradicional de Matveev do qual conserva a tradicional
subdivisão em períodos.
• Este modelo (Silva, 1995) visa a realização de vários momentos de forma, ajustando a preparação aos calendários
de competições.
• As cargas gerais vão decrescendo ao longo do PC até desaparecerem, por completo, na altura das competições
mais importantes, enquanto as cargas específicas vão crescendo inversamente, o que confere ao modelo a sua
característica pendular.
• Pêndulos de duração mais reduzida induzem uma capacidade de resposta mais eficaz na altura das competições,
enquanto pêndulos de maior duração asseguram períodos de forma mais prolongados.
Figura 13: Estrutura de
treino pendular de
Arosjev.
Os novos modelos de periodização (4)

Estrutura de treino modular de A. Vorobjev (cerca da década de 1970)

•Utilizada no Halterofilismo, apresenta as seguintes características:


•Aplicação de mudanças bruscas e frequentes no volume e na intensidade;
•Carácter predominante das cargas de natureza específica ao longo de toda a temporada;
•Organização do ciclo anual de cargas em forma de pequenas ondas, uma vez que o treino não deve ser
planeado para induzir uma transferência a longo prazo dos efeitos da carga (efeito retardado de longo prazo).

•Desta forma, constitui o primeiro modelo a estabelecer um certo afastamento em relação às teorias de Matveev
(Silva, 1995, 99).
Os novos modelos de periodização (5)

Estrutura de treino em blocos de Verchoschanski (final anos 1970, princípios 1980)

•Utilizada em desportos que requerem a força rápida (saltos e lançamentos no atletismo) e em desportos dependentes de
condições climáticas durante os ciclos anuais, como o remo (Grosser et al., 1989).
•Propõe a organização do treino em etapas de concentração de cargas unilaterais, formando verdadeiros blocos de treino
específico de condição física e técnica, planeados separadamente e várias vezes durante o ano.
•Como refere Tschiene (1985. In Silva, 1995): “O núcleo característico da subdivisão em períodos é a constituição do
bloco, no qual há uma concentração de cada factor condicional e técnico-táctico que determina a prestação em cada
desporto”.
Os novos modelos de periodização (6)

Para a estruturação do treino em blocos, Verchoschanski teve em consideração os seguintes factores


(Silva, 1995):
• A força está no centro das experiências desenvolvidas;
• O trabalho de força, para ser eficaz, deve ser concentrado, mas essa concentração prejudica as
adaptações no plano da técnica e da velocidade;
• Deve ser aproveitado o efeito retardado da carga para assegurar a continuidade da melhoria da força
rápida, após um trabalho concentrado de força;
• Só a concentração de cargas unilaterais permite elevar o já alto nível de preparação específica
conseguido pelos atletas após muitos anos de treino.
Os novos modelos de periodização (7)

Ou seja, um conjunto de particularidades ou de princípios básicos que Issurin (2010a) resume


desta forma:
• Uma elevada concentração de cargas de treino;
• A estimulação de um número reduzido de capacidades dentro de cada bloco;
• Um desenvolvimento sequencial de várias capacidades dentro de um grande ciclo de adaptação
(GCA – 4 a 12 semanas): mesociclo de trabalho: treino de força (grande diminuição indicadores
de força); mesociclo de restituição: (aperfeiçoamento das competências técnicas, exercícios de
velocidade/força rápida; exercícios de treino físico geral).
• O recurso à utilização de blocos especializados de treino dentro de cada etapa.
Os novos modelos de periodização (8)

Periodização em bloco vs. Periodização Clássica

•PC
•Desenvolvimento simultâneo de capacidades motoras e técnica.
•Média (baixa) concentração de cargas de treino
•Foco: períodos de treino
•Background – efeito acumulado das cargas de treino

•PeB
•Desenvolvimento consecutivo de capacidades motoras e técnica
•Elevada concentração de cargas de treino
•Foco: blocos - mesociclos
•Background - efeitos acumulado e residual das cargas de treino

(Issurin, 2010)
Os novos modelos de periodização (9)

• A figura 14 mostra um modelo com dois blocos de força que devem promover um
efeito de treino retardado a longo prazo, ao qual se chega através de uma dupla
periodização.
• No segundo bloco de força o volume da carga é menor e realizado num período
mais breve.
• Por isso, a intensidade global de carga no II PP tem um nível mais elevado.
Figura 14: Modelo de
dupla periodização nos
desportos de força
rápida. Parte superior:
dinâmica do
desenvolvimento das
prestações de Força
Máxima (FM), de Força
Explosiva (FEs) e da
Força Inicial (Fi). Parte
inferior: volume das
cargas de treino de
Técnica (T), de
Velocidade (LR) e da
Condição Geral (PSC)
com dois blocos de força
(a tracejado). I – 1º PP; II
– 1º PC; III – 2º PP; IV –
2º PC (Verchoshanski
1988, 149. In: Martin et
al. 1997, 252).

Fi: Capacidade do sistema neuromuscular acelerar o mais rapidamente possível desde o zero. Componente
da Força Rápida essencial em gestos desportivos nos quais é requerida uma grande velocidade inicial.
Os novos modelos de periodização (11)

Estrutura protótipo (ou treino estrutural) de P. Tschiene (a partir 1977)

•Representa uma carga elevada, distribuída ao longo de todo o ano de forma


ondulada em fases curtas e com algumas partes profilácticas (descansos).
•Na dinâmica da carga, quer o volume, quer a intensidade, devem ser
solicitados a um nível de exigência sempre elevado (nunca abaixo de 80%
do máximo potencial de carga), o que justifica a necessidade de introdução
de um descanso profiláctico antes das competições.
•Este modelo de periodização só pode realizar-se em atletas de alto
rendimento em desportos de força explosiva e, eventualmente, em alguns
jogadores (ténis) e apenas durante 2 a 4 anos seguidos, tendo em conta a
necessidade da regeneração periódica (Grosser et al., 1989).
Os novos modelos de periodização (12)

Características principais deste modelo (Silva, 1995):

•Dinâmica das cargas em forma de pequenas ondas com permanente


alternância entre volume e intensidade;
•Predominância da intensidade em unidades de treino relativamente curtas
onde se destacam as cargas de competição;
•Controlo individual das competições, como procedimento para
desenvolvimento e manutenção da forma, através do incremento da
intensidade específica;
•Introdução do “intervalo profilático”, após as cargas específicas e antes
da competição.
Figura 15: Modelo de treino estrutural de Tschiene (1985, 9. In: Grosser et
al., 1989, 73).
Os novos modelos de periodização (14)

A estrutura individualizada de treino (ou treino individualizado) de Anatoliy


Bondarchuk (cerca de 1984)

O treino do atleta é uma unidade que não pode ser partilhada e cada atleta um
processo singular (individual) de adaptação. A estruturação do treino está, por
isso, fundamentada em alguns princípios básicos (Silva, 1995):

•O atleta, como unidade indivisível, reagindo e atuando como uma totalidade;


•A supressão completa dos exercícios gerais de treino, utilizados apenas em
trabalhos de recuperação, dada a transferência duvidosa dos efeitos do treino
geral para os movimentos específicos de um desporto;
•A evolução das características da preparação na transição entre os períodos
de treino deve ser feita em função da mudança do conjunto dos exercícios e não
tanto da dinâmica da carga, cuja intensidade se deve manter elevada (e sem
grandes variações no volume de treino) ao longo de toda a temporada.
Os novos modelos de periodização (15)

Isto significa que na organização da prática (Grosser et al., 1989):


•(i) o treino tem de ser muito individualizado e ter em consideração os
diferentes “tipos de reação”, no que se refere aos tempos de adaptação
(fases preparatórias), ou resposta às cargas, até chegar aos níveis de
rendimento ótimos, que são diferentes em cada atleta;
•(ii) a técnica, a condição física e os outros factores que influenciam o
rendimento não se devem treinar de forma isolada, mas de forma
complexa, ou, pelo menos, de forma interrelacionada e em estreita
combinação com o gesto competitivo.
•O ciclo de treino é composto de três períodos, correspondentes às três
fases da forma: desenvolvimento, conservação e perda, os quais se
podem repetir mais de uma vez no ano (Fig. 16) e ter durações variadas
em função das características individuais (Silva, 1995).
Figura 16: O modelo de Bondarchuk (Bompa, 1999, 198).
Os novos modelos de periodização (17)

A estrutura do treino em desportos com longo período de competições


de Tudor Bompa (cerca de 1983)
•Parte do pressuposto de que a forma desportiva se pode expressar em
níveis de rendimento diferenciados, e utiliza esta ideia como fundamento
para a estruturação de modelos de periodização em desportos com um
longo período de competições, como é o caso dos jogos desportivos
colectivos (Silva, 1995).
•Segundo Bompa (1999), existem três estados de treino diferenciados que
caracterizam o rendimento desportivo, os quais devem ser atingidos ao
longo de uma temporada desportiva: forma geral: nível de rendimento
geral elevado, caracterizado por grande desenvolvimento das capacidades
motoras específicas de cada desporto; alta forma: nível de rendimento
caracterizado por uma rápida adaptação às cargas de treino e por
processos de recuperação igualmente rápidos; e forma ótima: traduzindo
níveis de rendimento máximos.
Os novos modelos de periodização (18)

Principais características do modo de estruturação do treino:

(i) Redução dos exercícios de natureza geral, com elevadas


concentrações no volume das cargas especializadas;
(ii) Definição de modelos estruturais de treino em função das
características e das exigências de cada modalidade, com a dinâmica
da carga a assumir características particulares: No PP as cargas de
treino sofrem aumentos diferenciados no volume e na intensidade em
função da modalidade considerada; No PC as cargas tendem a uma
estabilização relativa, em termos de grandes ondas, para sofrerem
alterações frequentes de volume e intensidade a nível das micro-
estruturas do treino (Silva, 1995).
Os novos modelos de periodização (19)

A periodização táctica tem sido associada a Victor Frade e às


experiências que desenvolveu no âmbito do acompanhamento de equipas
de alto rendimento em Futebol.

•A ideia principal por detrás da PT é que o Futebol tem de ser treinado


/aprendido no respeito pela sua estrutura lógica, que contempla quatro
momentos do jogo: Organização defensiva, organização ofensiva,
transição defesa-ataque, e transição ataque-defesa (Bordonau &
Villanueva, 2012).
Os novos modelos de periodização (20)

• Ou seja, todo e qualquer exercício de treino deve integrar pelo menos


um destes quatro momentos, e toda e qualquer ação de jogo envolve
uma decisão tática, uma ação ou gesto técnico cuja realização exige
uma dimensão fisiológica e é dirigida pela vontade (Oliveira, 2004).

• Isto significa que os elementos táticos, técnicos, fisiológicos e


psicológicos nunca são treinados de forma independente e que todas
as sessões de treino são planeadas para desenvolver o modelo de
jogo do treinador, através da repetição sistemática dos princípios
táticos, tendo em vista transformar os padrões de jogo que o treinador
quer em hábitos (Bordonau & Villanueva, 2012).
Os novos modelos de periodização (21)

A PT apoia-se nos seguintes princípios metodológicos e pedagógicos


(Bordonau & Villanueva, 2012):
•(i) Princípio da especificidade, provavelmente o mais importante – os
exercícios de treino devem ser representativos do modelo de jogo e os
jogadores devem entender os objectivos dos exercícios por forma a tornar
operacionais os princípios do jogo;
•(ii) Princípio da realização dos princípios táticos do jogo: cada um dos
exercícios propostos tem de conduzir a situações que os jogadores não
controlem. Se o jogo é não linear, também os exercícios de treino, ainda
que menos complexos, devem ser não-lineares;
•(iii) Princípio da desconstrução e da organização hierárquica dos
princípios do jogo: os princípios do jogo são conceitos complexos,
envolvendo várias variáveis, e a sua desconstrução (em sub-princípios)
ajuda a reduzir a sua complexidade e a torná-los mais compreensíveis
para os jogadores. Como os princípios do jogo não têm todos a mesma
importância é preciso hierarquizá-los;
Os novos modelos de periodização (22)

•(iv) Princípio da alternância horizontal em especificidade: Procura


enfatizar a importância que a periodização tática dá à dimensão física do
treino, contrariamente à ideia de que esta dimensão não é valorizada. As
três sessões principais (de aquisição) de treino semanal alternam a
componente física, dando prioridade à força (1º treino de aquisição), à
resistência (2º treino) e à velocidade (3º treino). Por isso, no microciclo
semanal nunca se treina a mesma componente física treinada no dia
anterior, evitando uma grande quantidade de treino da mesma
componente e dando ao organismo tempo para recuperar. Esta
alternância nas componentes do treino físico é feita horizontalmente (ao
longo da semana) e não entre os exercícios de cada sessão de treino
(verticalmente). Pode então deduzir-se que, no modelo de periodização
tática, o princípio da alternância horizontal em especificidade constitui o
quadro de referência biológico em que o treino e a recuperação
específicos do futebol se apoiam;
Os novos modelos de periodização (23)

•(v) Princípio das práticas condicionadas: quando o objetivo é ensinar ou


aperfeiçoar um (sub-)princípio particular do modelo de jogo, a melhor
forma de o fazer é criar exercícios apropriados, através de “práticas
condicionadas”;

•(vi) Princípio da progressão complexa: este princípio respeita à


organização hierárquica dos princípios e subprincípios do jogo e não tem
nada a ver com o princípio pedagógico da progressão no treino - da
preparação geral para a preparação específica e dos exercícios em
volume para os exercícios em intensidade;
Os novos modelos de periodização (24)

• (vii) Princípio da estabilização do rendimento: este princípio decorre


do longo período de competições típico do futebol. Deste ponto de
vista “estar em forma” é “jogar bem” e jogar bem é realizar as tarefas
em campo em acordo com o modelo de jogo. Por isso, o que interessa
é que a equipa demonstre de forma regular qualidade de jogo (não
obstante pequenas flutuações) para garantir regularidade nos
resultados. A estabilização do nível de rendimento óptimo é
assegurada através do desenvolvimento e manutenção do plano de
treino semanal standard. Por isso, durante toda a época, uma dinâmica
semanal que considere conteúdos de treino, esquemas de
recuperação e o número e duração das sessões de treino permanece
quase invariável;
Os novos modelos de periodização (25)

•(viii) Princípio da fadiga tática e da concentração tática: o


desenvolvimento de uma atitude tática pressupõe pensar e decidir
rapidamente. Por isso, os jogadores devem estar concentrados, do
primeiro ao último minuto do jogo. E quanto mais variáveis o jogador tenha
de analisar durante a execução dos exercícios de treino, tanto mais
exigente será a situação (Frade, 2003, In: Bordonau & Villanueva, 2012).
A intensidade será diferente de dia para dia, uma vez que a complexidade
das sessões de treino varia.

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